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ECA

RECURSO ESPECIAL - AÇÃO DE ADOÇÃO PERSONALÍSSIMA - INSTÂNCIA ORDINÁRIA


QUE EXTINGUIU O PEDIDO, SEM JULGAMENTO DO MÉRITO, POR CONSIDERAR
INEXISTIR PARENTESCO ENTRE PRETENSOS ADOTANTES E ADOTANDO E BURLA AO
CADASTRO NACIONAL DE ADOÇÃO - O TRIBUNAL A QUO CONFIRMOU A DECISÃO
RECORRIDA E MANTEVE OS ADOTANTES HABILITADOS JUNTO AO CADASTRO - MENOR
COLOCADO EM ESTÁGIO DE CONVIVÊNCIA EM FAMÍLIA SUBSTITUTA NO CURSO DO
PROCEDIMENTO - INSURGÊNCIA DOS PRETENDENTES À ADOÇÃO INTRAFAMILIAR E DO
CASAL TERCEIRO PREJUDICADO (FAMÍLIA SUBSTITUTA).

Cinge-se a controvérsia em aferir a possibilidade de adoção personalíssima


intrafamiliar por parentes colaterais por afinidade, sem desprezar a circunstância da
convivência da criança com a família postulante à adoção.

1. A Constituição Federal de 1988 rompeu com os paradigmas clássicos de família


consagrada pelo casamento e admitiu a existência e a consequente regulação jurídica
de outras modalidades de núcleos familiares (monoparental, informal, afetivo), diante
das garantias de liberdade, pluralidade e fraternidade que permeiam as conformações
familiares, sempre com foco na dignidade da pessoa humana, fundamento basilar de
todo o ordenamento jurídico.

2. O conceito de "família" adotado pelo ECA é amplo, abarcando tanto a família natural
(comunidade formada pelos pais ou qualquer deles e seus descendentes) como a
extensa/ampliada (aquela constituída por parentes próximos com os quais a criança ou
adolescente convive e mantém vínculos de afinidade e afetividade), sendo a affectio
familiae o alicerce jurídico imaterial que pontifica o relacionamento entre os seus
membros, essa constituída pelo afeto e afinidade, que por serem elementos basilares
do Direito das Famílias hodierno devem ser evocados na interpretação jurídica voltada
à proteção e melhor interesse das crianças e adolescentes.

3. Conforme explicitamente estabelecido no artigo 19 do ECA, é direito da criança a


sua criação e educação no seio familiar, em ambiente que garanta seu
desenvolvimento integral e assegure convivência com os seus, sendo a colocação em
família substituta excepcional.

4. O legislador ordinário, ao estabelecer no artigo 50, § 13, inciso II, do ECA que podem
adotar os parentes que possuem afinidade/afetividade para com a criança, não
promoveu qualquer limitação (se aos consanguíneos em linha reta, aos consanguíneos
colaterais ou aos parentes por afinidade), a denotar, por esse aspecto, que a adoção
por parente (consanguíneo, colateral ou por afinidade) é amplamente admitida
quando demonstrado o laço afetivo entre a criança e o pretendente à adoção, bem
como quando atendidos os demais requisitos autorizadores para tanto.

5. Em razão do novo conceito de família - plural e eudemonista - não se pode, sob


pena de desprestigiar todo o sistema de proteção e manutenção no seio familiar
amplo preconizado pelo ECA, restringir o parentesco para aquele especificado na lei
civil, a qual considera o parente até o quarto grau. Isso porque, se a própria Lei nº
8.069/90, lei especial e, portanto, prevalecente em casos dessa jaez, estabelece no §
1º do artigo 42 que "não podem adotar os ascendentes e os irmãos do adotando", a
única outra categoria de parente próximo supostamente considerado pelo ditame
civilista capacitado legalmente à adoção a fim de que o adotando permanecesse
vinculado à sua "família" seriam os tios consanguíneos (irmãos dos pais biológicos), o
que afastaria por completo a possibilidade dos tios colaterais e por afinidade
(cunhados), tios-avós (tios dos pais biológicos), primos em qualquer grau, e outros
tantos "parentes" considerados membros da família ampliada, plural, extensa e,
inclusive, afetiva, muitas vezes sem qualquer grau de parentalidade como são
exemplos os padrinhos e madrinhas, adotarem, o que seria um contrassenso, isto é,
conclusão que iria na contramão de todo o sistema jurídico protetivo de salvaguarda
do menor interesse de crianças e adolescentes.

6. Em hipóteses como a tratada no caso, critérios absolutamente rígidos previstos na


lei não podem preponderar, notadamente quando em foco o interesse pela
prevalência do bem estar, da vida com dignidade do menor, recordando-se, a esse
propósito, que no caso sub judice, além dos pretensos adotantes estarem
devidamente habilitados junto ao Cadastro Nacional de Adoção, são parentes
colaterais por afinidade do menor "(...) tios da mãe biológica do infante, que é filha da
irmã de sua cunhada" e não há sequer notícias, nos autos, de que membros familiares
mais próximos tenham demonstrado interesse no acolhimento familiar dessa criança.

7. Ademais, nos termos da jurisprudência do STJ, a ordem cronológica de preferência


das pessoas previamente cadastradas para adoção não tem um caráter absoluto,
devendo ceder ao princípio do melhor interesse da criança e do adolescente, razão de
ser de todo o sistema de defesa erigido pelo Estatuto da Criança e do Adolescente, que
tem na doutrina da proteção integral sua pedra basilar (HC nº 468.691/SC, Rel.
Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, Quarta Turma, DJe de 11/3/2019).

8. Recurso especial provido para determinar o processamento da ação personalíssima


intrafamiliar.

Agravo interno manejado pelo casal terceiro (família substituta) desprovido.

(REsp n. 1.911.099/SP, relator Ministro Marco Buzzi, Quarta Turma, julgado em


29/6/2021, DJe de 3/8/2021.)
Estupro de criança ou adolescente em
ambiente doméstico deve ser julgado
em vara especializada
A Terceira Seção do Superior Tribunal de Justiça (STJ) decidiu, em embargos de
divergência julgados nesta quarta-feira (26), que, nas comarcas em que não
houver vara especializada em crimes contra criança e adolescente, prevista
no artigo 23 da Lei 13.431/2017, os casos de estupro com vítima menor,
cometidos no ambiente doméstico e familiar, deverão ser processados e julgados
nas varas especializadas em violência doméstica e, somente na ausência destas,
nas varas criminais comuns.

Ao modular os efeitos da decisão, o colegiado definiu que ela se aplicará às ações


penais distribuídas após a publicação do acórdão do julgamento. Quanto às ações
distribuídas até a data de publicação do acórdão (inclusive), tramitarão nas varas
às quais foram distribuídas originalmente ou após determinação definitiva dos
tribunais, sejam varas de violência doméstica ou criminais comuns.

O relator, ministro Sebastião Reis Júnior, afirmou que essa interpretação já havia
sido dada no STJ pela ministra Laurita Vaz, no HC 728.173, sendo dela também a
proposta de modulação dos efeitos, importante para garantir a segurança jurídica
dos processos que estão tramitando.

Decisão pacifica entendimento no STJ

Com o julgamento, a Terceira Seção pacificou divergência existente no tribunal.


Enquanto a Quinta Turma exigia, para reconhecer a competência da vara de
violência doméstica, que a motivação do crime decorresse da condição do gênero
da vítima, a Sexta Turma já vinha compreendendo que o estupro de vulnerável,
quando cometido por pessoa relacionada à ofendida por vínculo doméstico e
familiar, deveria ser julgado na vara especializada em violência doméstica.

Ao acolher os embargos de divergência, o relator apontou que a Lei Maria da Penha


(Lei 11.340/2006) não definiu critério etário para a incidência de suas disposições.
Assim, segundo ele, "a idade da vítima, por si só, não é elemento apto a afastar
a competência da vara especializada para processar os crimes perpetrados contra
vítima mulher, seja criança ou adolescente, em contexto de violência doméstica e
familiar".

O ministro comentou que, com a entrada em vigor da Lei 13.431/2017, foi


autorizada a criação de varas especializadas no julgamento de crimes contra
crianças e adolescentes. O parágrafo 1º do artigo 23, por sua vez, definiu que, não
sendo criadas tais varas, os processos deverão tramitar nas varas ou nos juizados
de violência doméstica, "independentemente de considerações acerca da idade, do
sexo da vítima ou da motivação da violência".

Idade não basta para afastar competência da vara


especializada

O caso julgado pela Terceira Seção trata de estupro cometido pelo pai contra a filha
menor. A Quinta Turma havia decidido fixar a competência no juízo criminal
comum, por entender que, embora o crime tenha sido praticado em ambiente
doméstico e familiar e a vítima fosse a própria filha, a motivação teria sido a pouca
idade da menor, e não qualquer questão de gênero.

Para Sebastião Reis Júnior, no entanto, "não pode ser aceito um fator meramente
etário para afastar a competência da vara especializada e a incidência do
subsistema da Lei 11.340/2006. A referida lei nada mais objetiva do que a proteção
de vítimas contra os abusos cometidos no ambiente doméstico, derivados da
distorção sobre a relação familiar decorrente do pátrio poder, em que se pressupõe
intimidade e afeto, além do fator essencial de ser a vítima mulher, elementos
suficientes para atrair a competência da vara especializada em violência
doméstica".

Na avaliação do ministro, "a violência doméstica e familiar é uma forma específica


da violência de gênero, ou seja, aquela derivada do mau uso de relações de afeto e
de confiança, com deturpação da privacidade, em que o autor da violência se
prevalece da relação doméstica (relação íntima de afeto) e do gênero da vítima
(vulnerabilidade) para a prática de atos de agressão e violência".

Roubo e extorsão

AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. ROUBO E EXTORSÃO


QUALIFICADOS. RECONHECIMENTO DO CONCURSO FORMAL OU DA
CONTINUIDADE DELITIVA. INVIABILIDADE. ESPÉCIES DELITIVAS DISTINTAS.
SÚMULA 83/STJ. REVOLVIMENTO PROBATÓRIO. IMPOSSIBILIDADE.

1. Concluiu o Tribunal de origem pela impossibilidade de reconhecimento do


concurso formal ou da continuidade delitiva entre os delitos de roubo e extorsão,
uma vez que "se tratam de delitos distintos e autônomos, animados por condutas
diversas e faticamente identificáveis, não sendo um o meio para atingir a
consecução do outro, sendo mesmo hipótese de concurso material de infrações
entre eles", entendimento esse que não destoa da jurisprudência desta Corte,
mormente diante do óbice previsto na Súmula nº 7/STJ.
Precedentes desta Corte.

2. Agravo regimental desprovido.

(AgRg no REsp n. 1.997.332/SP, relator Ministro Olindo Menezes (Desembargador


Convocado do TRF 1ª Região), Sexta Turma, julgado em 27/9/2022, DJe de
30/9/2022.)

AGRAVO REGIMENTAL NO HABEAS CORPUS. INTERPOSIÇÃO SUCESSIVA DE DOIS


RECURSOS. UNIRRECORRIBILIDADE. PRECLUSÃO CONSUMATIVA. NÃO
CONHECIMENTO DO SEGUNDO RECURSO.  ROUBO
CIRCUNSTANCIADO. DESCLASSIFICAÇÃO. NECESSIDADE DE REVOLVIMENTO DO
CONTEXTO FÁTICO PROBATÓRIO. VIA ELEITA INADEQUADA. ATENUANTE DA
CONFISSÃO ESPONTÂNEA. RECONHECIMENTO.

1. Interpostos dois agravos regimentais contra a mesma decisão, apenas se


conhece do primeiro recurso, por força dos princípios da unirrecorribilidade e da
preclusão consumativa.

2. As acusadas foram condenadas pela prática dos crimes previstos nos arts. 157, §
2.º, II e VII, e 158, § 3.º, do Código Penal. Suas apelações foram parcialmente
providos para absolvê-las do crime de extorsão, mantendo-se a condenação pelo
delito de roubo circunstanciado, com o afastamento, apenas, da causa de aumento
de pena referente ao emprego de arma branca.

3. A pretendida desclassificação do crime de roubo circunstanciado (art. 157, §2.º,


II e VII, CP), para o delito previsto no art. 345, caput, do Código Penal, não foi
acolhida pelas instâncias ordinárias, em razão de ter sido comprovada a subtração
dos bens, com emprego de violência, consistente em agressões físicas, tendo sido
destacado, no acórdão recorrido, ainda, o fato de que o valor da res furtiva
superava "em muito o valor da suposta dívida";

4. Tendo as instâncias de origem concluído, de forma devidamente fundamentada,


pela existência de elementos concretos de prova que demonstravam a autoria e a
materialidade do delito, acarretando, por consequência, a condenação das
recorrentes pelo delito descrito no art. 157, § 2º, II, do CP, para se desconstituir a
conclusão firmada seria necessário o reexame fático-probatório, inadmissível em
sede de habeas corpus.

5. Nas hipóteses em que o réu admite parte dos fatos a ele imputados, deve ser
reconhecida a atenuante da confissão espontânea, especialmente porque admitida
a subtração dos bens, que constitui uma das elementares do delito de roubo.
Precedentes.  6. Primeiro agravo regimental parcialmente provido para reconhecer
a atenuante da confissão espontânea e redimensionar as penas impostas às
agravantes. Segundo agravo regimental não conhecido.
(AgRg no HC n. 727.462/SC, relator Ministro Olindo Menezes (Desembargador
Convocado do TRF 1ª Região), Sexta Turma, julgado em 9/8/2022, DJe de
15/8/2022.)

Excesso de prazo para denúncia e inexistência de ilegalidade\


constrangimento ilegal

AGRAVO REGIMENTAL EM HABEAS CORPUS. ALEGADA INÉRCIA DA ACUSAÇÃO.


TESE DE EXCESSO DE PRAZO QUE NÃO SE VERIFICA. DENÚNCIA PELOS CRIMES
DE ROUBO, EXTORSÃO, TRÁFICO DE DROGAS ILÍCITAS, ASSOCIAÇÃO PARA O
TRÁFICO, POSSE IRREGULAR DE ARMA DE FOGO DE USO PERMITIDO E
ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA JÁ OFERECIDA E RECEBIDA. RECURSO DA DEFESA
NÃO PROVIDO.

1. Como registrado na decisão impugnada, a qual nesta oportunidade se confirma,


a ilegalidade decorrente da inércia da acusação no oferecimento da denúncia não
resultaria da superação de um determinado marco objetivo, mas de aferição
realizada pelo julgador, à luz dos princípios da razoabilidade e proporcionalidade,
levando em conta as peculiaridades do caso concreto, de modo a evitar retardo
abusivo e injustificado na prestação jurisdicional.

2. Os prazos do art. 46 do CPP são impróprios. Precedentes.

3. No caso destes autos, a instância originária registrou tratar-se de feito complexo,


destacando a diversidade de delitos, incluindo o de organização criminosa, e o fato
de haver três investigados, justificando a relativa demora para o oferecimento da
denúncia.

4. Nesta altura, convém registrar que o cotejo entre a imprescindibilidade do


cárcere e a inércia da acusação está comprometida pela instrução do feito, o qual,
salvo melhor juízo, não está instruído com o decreto de prisão original.

5. Também cumpre registrar que, conforme o andamento do processo de n.


0012378-79.2022.8.06.0064, disponível no site do Tribunal de Justiça do Estado do
Ceará, a denúncia pelos crimes de roubo, extorsão, tráfico de drogas ilícitas,
associação para o tráfico, posse irregular de arma de fogo de uso permitido e
organização criminosa efetivamente já foi oferecida e recebida.

6. Assim, apesar dos argumentos apresentados pela defesa, não há elementos nos
autos que evidenciem a existência de constrangimento ilegal.

7. Agravo regimental não provido.

(AgRg no HC n. 763.203/CE, relator Ministro Reynaldo Soares da Fonseca, Quinta


Turma, julgado em 27/9/2022, DJe de 4/10/2022.)

Prisão
AGRAVO REGIMENTAL NO HABEAS CORPUS. ASSOCIAÇÃO CRIMINOSA, ROUBO
TRIPLAMENTE MAJORADO, EXTORSÃO MEDIANTE SEQUESTRO, LATROCÍNIO
TENTANDO E EXTORSÃO DUPLAMENTE QUALIFICADA. PRISÃO PREVENTIVA. AUSÊNCIA
DE ILEGALIDADE MANIFESTA. IMPRESCINDIBILIDADE DA PRISÃO PREVENTIVA
FUNDAMENTADA. CONDIÇÕES PESSOAIS FAVORÁVEIS. IRRELEVÂNCIA. SUBSTITUIÇÃO
POR PRISÃO DOMICILIAR. NÃO CABIMENTO. CRIME COMETIDO COM VIOLÊNCIA OU
GRAVE AMEAÇA. AGRAVO REGIMENTAL DESPROVIDO.

1. A imprescindibilidade da prisão preventiva justificada no preenchimento dos


requisitos dos arts. 312, 313 e 315 do CPP impede a aplicação das medidas cautelares
alternativas previstas no art. 319 do CPP.

2. As condições pessoais favoráveis do agente não impedem, por si sós, a


manutenção da segregação cautelar devidamente fundamentada em elementos
concretos que evidenciem a necessidade e a razoabilidade da medida extrema.

3. O cometimento de crime com emprego de violência ou grave ameaça a pessoa


impede a concessão do direito à prisão domiciliar prevista no art. 318-A do CPP.

4. Agravo regimental desprovido.

(AgRg no HC n. 738.139/SP, relator Ministro João Otávio de Noronha, Quinta Turma,


julgado em 2/8/2022, DJe de 8/8/2022.)

HABEAS CORPUS. PROCESSUAL PENAL. TRÁFICO E ASSOCIAÇÃO PARA O TRÁFICO


ILÍCITO DE ENTORPECENTES. PRISÃO PREVENTIVA. AUDIÊNCIA DE CUSTÓDIA.
NECESSIDADE DE REALIZAÇÃO. VÍCIO SANADO PELO TRIBUNAL DE ORIGEM. AUSÊNCIA
DE CONSTRANGIMENTO ILEGAL. REQUISITOS DA CUSTÓDIA CAUTELAR.
ENVOLVIMENTO COM ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA VOLTADA À PRÁTICA DE DIVERSOS
CRIMES, COMO TRÁFICO, RECEPTAÇÃO, LAVAGEM DE DINHEIRO E ESTELIONATO.
GRAVIDADE CONCRETA. GARANTIA DA ORDEM PÚBLICA. FUNDAMENTAÇÃO IDÔNEA.
SUPOSTA OFENSA AO PRINCÍPIO DA CONTEMPORANEIDADE. NÃO OCORRÊNCIA.
SUPOSTOS PREDICADOS PESSOAIS FAVORÁVEIS QUE NÃO IMPEDEM A SEGREGAÇÃO.
MEDIDAS CAUTELARES DIVERSAS DA PRISÃO. INSUFICIÊNCIA, NA HIPÓTESE. ORDEM
DENEGADA.

1. Decisão proferida pelo Ministro EDSON FACHIN nos autos da Reclamação n.


29.303/RJ, deferiu o pedido de extensão dos efeitos de liminar anteriormente
concedida para, ad referendum do Plenário do Supremo Tribunal Federal, "determinar
ao Superior Tribunal de Justiça, aos Tribunais de Justiça, aos Tribunais Regionais
Federais, aos Tribunais integrantes da Justiça eleitoral, militar e trabalhista, bem assim
a todos os juízos a eles vinculados que realizem, no prazo de 24 horas, audiência de
custódia em todas as modalidades prisionais, inclusive prisões temporárias,
preventivas e definitivas."
2. No caso, não há constrangimento ilegal, pois o Tribunal de origem determinou a
realização da audiência de custódia, no prazo de 72 (setenta e duas) horas, já tendo
sido realizado o ato. A ausência da audiência de custódia não justifica, por si só, a
revogação da prisão cautelar. Precedentes.

3. Na hipótese, a decretação da custódia cautelar encontra-se suficientemente


fundamentada em razão das circunstâncias do caso que, pelas características
delineadas, retratam, in concreto, a periculosidade do Agente, a indicar a necessidade
da segregação provisória para a garantia da ordem pública, considerando-se
sobretudo, que há indícios de que o Paciente integra organização criminosa "cujos
integrantes praticam roubos, extorsões, tráfico de drogas, tráfico de armas, e lavagem
de dinheiros, cujos principais suspeitos foram identificados e possuem intrínseca
ligação".

4. Aplica-se, na espécie, o entendimento de que "[n]ão há ilegalidade na decisão que


decreta a prisão preventiva com base em elementos concretos aptos a revelar a real
necessidade de se fazer cessar ou diminuir a atuação de suposto integrante de
organização criminosa para assegurar a ordem pública" (RHC 144.284 AgR, Rel.
Ministro EDSON FACHIN, SEGUNDA TURMA, DJe 27/08/2018).

5. A existência de condições pessoais favoráveis - tais como primariedade, bons


antecedentes, ocupação lícita e residência fixa - não tem o condão de, por si só,
desconstituir a custódia antecipada, caso estejam presentes outros requisitos que
autorizem a decretação da medida extrema, como ocorre na hipótese em tela.

6. É inviável a aplicação de medidas cautelares diversas da prisão, pois a gravidade


concreta do delito demonstra serem insuficientes para acautelar a ordem pública.

7. Ordem de habeas corpus denegada, prejudicado o pedido de tutela provisória de fls.


387-391.

(HC n. 719.287/MG, relatora Ministra Laurita Vaz, Sexta Turma, julgado em 28/6/2022,
DJe de 1/7/2022.)

AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO EM HABEAS CORPUS. ROUBO E EXTORSÃO


CIRCUNSTANCIADOS. ART. 312 DO CPP. PERICULUM LIBERTATIS. FUNDAMENTAÇÃO
SUFICIENTE. AGRAVO REGIMENTAL NÃO PROVIDO.

1. A prisão preventiva é compatível com a presunção de não culpabilidade desde que


não assuma o objetivo de antecipação da pena e não decorra, automaticamente, da
natureza abstrata do crime ou do ato processual praticado (art. 313, § 2º, CPP). Além
disso, deve apoiar-se em fundamentos concretos, relativos a fatos novos ou
contemporâneos, dos quais se possa extrair o perigo que a liberdade do investigado ou
réu representa para os meios ou os fins do processo (arts. 312 e 315 do CPP).

2. A segregação provisória do agravante está devidamente fundamentada. O Juiz


destacou a prova da existência do roubo e da extorsão circunstanciados e indícios
suficientes de autoria, com lastro nas investigações e em dados telefônicos que
elucidaram o vínculo entre os agentes. Mencionou, ainda, que os delitos foram
perpetrados com violência, terror psicológico e privação de liberdade da vítima, que
teve as mãos amarradas, foi colocada em porta-malas de veículo e levou um tiro na
perna.

3. A gravidade concreta dos crimes, evidenciada pelo seu modus operandi, é


reveladora do risco de reiteração delitiva, ante a periculosidade do suspeito, que ainda
empreendeu fuga do distrito da culpa.

4. Dadas as apontadas circunstâncias dos fatos e as condições do acusado, que está


em local incerto e não sabido, não se mostra adequada e suficiente a substituição da
prisão preventiva por medidas a ela alternativas.

5. Agravo regimental não provido.

(AgRg no RHC n. 161.529/MG, relator Ministro Rogerio Schietti Cruz, Sexta Turma,
julgado em 17/5/2022, DJe de 19/5/2022.)

Fraude eletrônica

AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. PROCESSUAL


PENAL. ESTELIONATO. FRAUDE ELETRÔNICA COMETIDA 1379 VEZES. CUSTÓDIA
PREVENTIVA. POSTERIOR CONVERSÃO EM PRISÃO DOMICILIAR. ALEGADA
ILEGITIMIDADE DA PRISÃO. GRAVIDADE CONCRETA DA CONDUTA. REPROVÁVEL
MODUS OPERANDI. FUNDADO RISCO DE REITERAÇÃO. FUNDAMENTAÇÃO IDÔNEA.
PERICULUM LIBERTATIS EVIDENCIADO. MEDIDAS CAUTELARES ALTERNATIVAS AO
CÁRCERE INSUFICIENTES, NO CASO. SUPOSTA AUSÊNCIA DE CONTEMPORANEIDADE.
NÃO DEMONSTRADA. ATUAIS MEDIDAS CAUTELARES FIXADAS FIELMENTE
CUMPRIDAS. PRÉ-REQUISITO PARA A MANUTENÇÃO DO BENEFÍCIO DA PRISÃO
DOMICILIAR. EXIGÊNCIA LEGAL. EXISTÊNCIA DE TESE NÃO APRECIADA PELA CORTE A
QUO. SUPRESSÃO DE INSTÂNCIA. AGRAVO DESPROVIDO.

1. O entendimento desta Corte é no sentido de que "a gravidade dos fatos


concretamente considerados, evidenciada por seu modus operandi, justifica a
constrição cautelar. Por idênticos argumentos, a adoção de medidas cautelares
diversas não é adequada na hipótese, diante da gravidade concreta da conduta em
tese perpetrada (art.282, II, do Código de Processo Penal)" (AgRg no HC 704.584/RS,
Rel. Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ, SEXTA TURMA, julgado em 08/03/2022, DJe
16/03/2022),

2. No caso, as instâncias ordinárias evidenciaram, de forma concreta, que a conduta


em apuração extrapolou as circunstâncias inerentes ao tipo penal, na medida em que
o Agravante, em tese, seria responsável por 1.379 (mil, trezentos e setenta e nove)
"desfalques em programas sociais do qual depende boa parte da população brasileira
de baixa renda", causando um prejuízo da ordem de R$ 1.075.105,85 (um milhão, e
setenta e cinco mil, cento e cinco reais e oitenta e cinco centavos).

3. O Superior Tribunal de Justiça, de forma reiterada, registra entendimento no sentido


de que o histórico criminal do agente é fundamento concreto a lastrear a prisão
preventiva, com o intuito de preservar a ordem pública.

4. A custódia cautelar também está respaldada pelo fundado risco de reiteração


delitiva, haja vista que o Agravante já foi preso anteriormente - "durante operação
deflagrada pela PF em Uberaba/MG para combater organização criminosa
especializada em cometer crimes semelhantes pela internet" -, existe outra ação penal
tramitando contra si, além dos "inúmeros episódios de desvios de recursos da CEF
[supostamente promovidos] pelo autor".

5. De acordo com a jurisprudência desta Corte, é inviável a aplicação de medidas


cautelares diversas da prisão, já que a gravidade concreta do delito e a reiteração
delitiva do Réu demonstram serem insuficientes para acautelar a ordem pública.

6. O fiel cumprimento das medidas cautelares impostas nada mais é do que condição
sine qua non à manutenção do benefício da prisão domiciliar humanitária, não
servindo de argumento para defender a tese de inexistência do periculum libertatis,
que já foi reiteradamente certificado pelas instâncias antecedentes.

7. Sob pena de se incorrer em indevida supressão de instância, o Superior Tribunal de


Justiça não pode apreciar a tese de que a manutenção do cárcere cautelar impede o
Agravante de obter o seu sustento, haja vista que a Corte estadual não emitiu
qualquer juízo de valor sobre esse tema.

8. Agravo regimental desprovido.

(AgRg no RHC n. 170.339/RJ, relatora Ministra Laurita Vaz, Sexta Turma, julgado em
4/10/2022, DJe de 10/10/2022.)

AGRAVO REGIMENTAL EM HABEAS CORPUS. LAVAGEM DE DINHEIRO E FURTOS


PRATICADOS POR FRAUDE ELETRÔNICA. WRIT SUBSTITUTIVO DE RECURSO
ORDINÁRIO. PRISÃO PREVENTIVA. NECESSIDADE DE DESARTICULAÇÃO DE GRUPO
CRIMINOSO E PREVENÇÃO DE REITERAÇÃO DELITUOSA. CONTEMPORANEIDADE.
NATUREZA PERMANENTE DO CRIME DE LAVAGEM DE DINHEIRO. EXCESSO DE PRAZO
NÃO DEMONSTRADO. FLAGRANTE ILEGALIDADE NÃO EVIDENCIADA. AGRAVO
REGIMENTAL DESPROVIDO.

1. Não se admite impetração de habeas corpus em substituição a recurso ordinário.

2. Considera-se idônea a fundamentação do decreto prisional assentado na


periculosidade do agente, evidenciada pelo modus operandi, e na necessidade de
interromper atuação de líder de organização criminosa voltada para a prática de
crimes informáticos.

3. O incremento da cibercriminalidade exige a adoção de medidas adequadas para


coibir a reiteração delituosa, tendo em vista o modus operandi adotado por hackers
para prática de furtos eletrônicos e a provável ineficácia das medidas cautelares
diversas da prisão para acautelar o meio social e econômico.

4. Dada a natureza permanente do crime de lavagem de dinheiro, não há falar em


ausência de contemporaneidade.

5. As condições pessoais favoráveis do agente não impedem, por si sós, a manutenção


da segregação cautelar devidamente fundamentada.

6. Para aferição do excesso de prazo para formação da culpa, devem ser sopesados o
tempo de prisão provisória, as peculiaridades da causa, sua complexidade e outros
fatores que eventualmente possam influenciar no curso da ação penal.

7. O art. 80 do Código de Processo Penal faculta ao juiz o desmembramento dos


processos, ainda que conexos os crimes em apuração.

8. Agravo regimental desprovido. Pedido de reconsideração julgado prejudicado.

(AgRg no HC n. 574.573/RJ, relator Ministro João Otávio de Noronha, Quinta Turma,


julgado em 22/6/2021, DJe de 28/6/2021.)

Reconhecimento fotográfico

PENAL E PROCESSUAL PENAL. AGRAVO REGIMENTAL NO HABEAS CORPUS. ROUBO


QUALIFICADO E EXTORSÃO. APELAÇÃO JULGADA HÁ MAIS DE SETE ANOS. PRECLUSÃO
TEMPORAL. PRECEDENTES DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA - STJ E DO SUPREMO
TRIBUNAL FEDERAL - STF. RECONHECIMENTO FOTOGRÁFICO CORROBORADO POR
OUTRAS PROVAS NA FASE JUDICIAL. LEGALIDADE. AGRAVO REGIMENTAL
DESPROVIDO.

1. Conforme consignado na decisão impugnada, o Tribunal de origem julgou a


apelação em exame no dia 9 de fevereiro de 2015 e somente no dia 29 de abril de
2022 foi impetrado o presente habeas corpus, o que impede o seu conhecimento em
decorrência da preclusão da matéria.

2. Com efeito, em respeito à segurança jurídica e lealdade processual, a jurisprudência


do Superior Tribunal de Justiça - STJ tem se orientado no sentido de que as nulidades,
ainda quando denominadas absolutas, devem ser arguidas em momento oportuno,
bem como qualquer outra falha ocorrida no julgamento, sujeitando-se à preclusão
temporal. Precedentes do STJ e do STF.

3. Ademais, é certo que o reconhecimento de pessoa, presencialmente ou por


fotografia, realizado na fase do inquérito policial, apenas é apto, para identificar o réu
e fixar a autoria delitiva, quando observadas as formalidades previstas no art. 226 do
Código de Processo Penal e quando corroborado por outras provas colhidas na fase
judicial, sob o crivo do contraditório e da ampla defesa.

No caso, a autoria delitiva não tem como único elemento de prova o reconhecimento
fotográfico, porque, durante a instrução processual, foram ouvidas a vitima e duas
testemunhas comuns à acusação e defesa, respeitados o contraditório e a ampla
defesa, restando consignado que o réu não compareceu em Juízo para ser interrogado
e na Delegacia, havia ficado em silêncio. Foi declarada sua revelia nos termos do art.
367 do Código de Processo Penal.

4. Vale ressaltar, ainda, que a Corte de origem destacou que "um talão de cheques
subtraído da vítima foi apreendido na residência do réu quando o mesmo era
investigado pela prática de outro roubo, tudo a confirmar sua participação nos
crimes" (fl. 29).

Sendo certo que "a jurisprudência desta Corte é firme no sentido de que é possível a
utilização das provas colhidas durante a fase inquisitiva - reconhecimento fotográfico
- para embasar a condenação, desde que corroboradas por outras provas colhidas
em Juízo - depoimentos e apreensão de parte do produto do roubo na residência do
réu, nos termos do art. 155 do Código de Processo Penal" (AgRg no HC 633.659/SP,
Rel. Ministro NEFI CORDEIRO, SEXTA TURMA, DJe 5/3/2021).

5. Agravo regimental desprovido.

(AgRg no HC n. 738.559/SP, relator Ministro Joel Ilan Paciornik, Quinta Turma, julgado
em 7/6/2022, DJe de 10/6/2022.)

Provas – busca e apreensão, fishing expedition, acesso a celular


AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. TRÁFICO DE
DROGAS, ASSOCIAÇÃO PARA O NARCOTRÁFICO INTERESTADUAL, ORGANIZAÇÃO
CRIMINOSA E POSSE DE ARMAS DE FOGO COM NUMERAÇÃO SUPRIMIDA. NULIDADE
NA EXPEDIÇÃO DE MANDADO DE BUSCA E APREENSÃO REALIZADO NA RESIDÊNCIA DA
CORRÉ. INOCORRÊNCIA. JUSTA CAUSA APTA A AUTORIZAR A MEDIDA INVESTIGATIVA.
INDICAÇÃO DE ENVOLVIMENTO DA CORRÉ EM FACÇÃO CRIMINOSA. DECISÃO
DEVIDAMENTE FUNDAMENTADA. AFASTAMENTO QUE DEMANDA ANÁLISE FÁTICO
PROBATÓRIA. EXTRAÇÃO DE DADOS DE APARELHO CELULAR APREENDIDO
DEVIDAMENTE AUTORIZADO. INEXISTÊNCIA DE NULIDADE. TRANCAMENTO DA AÇÃO
PENAL. INADMISSIBILIDADE. AUSÊNCIA DE FLAGRANTE ILEGALIDADE. RECURSO
DESPROVIDO.

1. Na hipótese, durante as investigações acerca da prática do tráfico de drogas e de


outros crimes correlacionados ocorridos na região, a Autoridade Policial obteve
informações acerca da atuação da corré Aline em determinada fação criminosa, cujo
líder, seu tio, teria sido transferido para Presídio Federal, gerando planos de possíveis
retaliações e ataques a órgãos públicos, razão pela qual representou pela expedição de
mandado de busca e apreensão a ser realizado nos endereços indicados. Diante do
noticiado, o Juízo de primeiro grau autorizou a medida de busca e apreensão na
residência da corré, nos termos do que dispõe o art. 240 do Código de Processo Penal -
CPP, mediante decisão na qual fundamentou a necessidade da medida investigativa,
que foi devidamente delimitada quanto aos endereços objeto da medida, bem como
quanto ao material a ser apreendido. Nesse contexto, diante da indicação de indícios
da participação da corré nos delitos investigados e da demonstração de fundadas
razões aptas a autorizar a medida, não verifico a existência de nulidade na busca e
apreensão devidamente autorizada pelo Juízo, não havendo falar em fishing
expedition na hipótese dos autos. Precedentes.

2. As instâncias ordinárias consignaram a existência de justa causa apta a autorizar a


expedição de mandado de busca e apreensão na residência da corré, demonstrando
seu envolvimento na facção criminosa liderada por seu tio. Nesse contexto, o
afastamento do que ficou consignado e o acolhimento da tese defensiva de que a
medida investigativa teria se baseado apenas em razão de a corré ter parentesco com
o líder da facção criminosa, demandaria análise fático-probatória, providência
inadmissível na via eleita.

3. Durante o cumprimento da medida de busca e apreensão, embora não tivessem


sido encontradas drogas e armas, foram apreendidos cadernos de anotações relativos
à movimentação do narcotráfico, bem como o aparelho celular, do qual o Juízo de
primeiro grau autorizou a extração de dados. Assim não havendo falar em nulidade
quanto ao ponto, tendo em vista que a extração dos dados do aparelho celular
apreendido foi precedida de autorização judicial devidamente fundamentada.
4. O trancamento de ação penal constitui medida excepcional, somente autorizada
quando se verificar de plano, e sem necessidade de análise probatória, a atipicidade da
conduta, a incidência de causas de extinção da punibilidade ou a falta de provas de
materialidade e indícios de autoria, o que não se verificou na hipótese dos autos.

5. Agravo desprovido.

(AgRg no RHC n. 158.643/RS, relator Ministro Joel Ilan Paciornik, Quinta Turma,
julgado em 11/10/2022, DJe de 18/10/2022.)

TRÁFICO

PENAL. AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. TRÁFICO ILÍCITO DE


ENTORPECENTES. ART. 40, III, DA LEI DE DROGAS. CAUSA DE AUMENTO DE PENA DE
NATUREZA OBJETIVA. INCIDÊNCIA. DESNECESSIDADE DE COMPROVADA MERCÂNCIA
DO ILÍCITO NO LOCAL. NOVOS ARGUMENTOS HÁBEIS A DESCONSTITUIR A DECISÃO
IMPUGNADA. INEXISTÊNCIA. AGRAVO REGIMENTAL DESPROVIDO.

I - O cálculo da pena é questão afeta ao livre convencimento do juiz, passível de


revisão por este Tribunal somente nos casos de notória ilegalidade, para resguardar a
observância da adequação, da proporcionalidade e da individualização da pena.

II - A causa de aumento de pena prevista no art. 40, III, da Lei n. 11.343/2006 é


objetiva, bastando para sua incidência que o delito tenha sido comedido nas
dependências ou nas imediações dos estabelecimentos discriminados em tal
preceito, sendo desnecessária a comprovação do dolo do agente em atingir o público
específico dos locais referidos na norma.

III - É assente nesta Corte Superior que o agravo regimental deve trazer novos
argumentos capazes de alterar o entendimento anteriormente firmado, sob pena de
ser mantida a r. decisão vergastada pelos próprios fundamentos. Precedentes.

Agravo regimental desprovido.

(AgRg no REsp n. 1.994.679/PR, relator Ministro Jesuíno Rissato (Desembargador


Convocado do Tjdft), Quinta Turma, julgado em 11/10/2022, DJe de 19/10/2022.)

AGRAVO REGIMENTAL NO HABEAS CORPUS SUBSTITUTIVO DE RECURSO PRÓPRIO.


NÃO CABIMENTO. DECISÃO MONOCRÁTICA. TRÁFICO DE DROGAS. BUSCA PESSOAL E
RESIDENCIAL. PROVAS LÍCITAS. CIRCUNSTÂNCIAS QUE JUSTIFICAM A ADOÇÃO DA
MEDIDA INVASIVA. FUNDADAS RAZÕES DEMONSTRADAS (JUSTA CAUSA).
CONSTRANGIMENTO ILEGAL NÃO EVIDENCIADO. DILAÇÃO PROBATÓRIA.
INVIABILIDADE EM HABEAS CORPUS. AUSÊNCIA DE NOVOS ARGUMENTOS APTOS A
DESCONSTITUIR A DECISÃO AGRAVADA. AGRAVO REGIMENTAL DESPROVIDO.

I - É assente nesta Corte Superior de Justiça que o agravo regimental deve trazer novos
argumentos capazes de alterar o entendimento anteriormente firmado, sob pena de
ser mantida a r. decisão vergastada pelos próprios fundamentos.

II - O paciente estava na condução de motocicleta e, ao avistar os policiais,


empreendeu fuga e foi perseguido. Os policiais constataram que a motocicleta era
objeto de furto e com o paciente encontraram drogas. Posteriormente, ingressaram na
residência e encontraram mais entorpecentes. Esses motivos configuram a exigência
capitulada no art. 204, § 1º, do CPP, a saber, a demonstração de fundadas razões
para a busca domiciliar, não subsistindo os argumentos de ilegalidade da prova ou de
desrespeito ao direito à inviolabilidade de domicílio.

III - Esse entendimento está em consonância com a jurisprudência do STJ de que “o


ingresso regular em domicílio alheio, na linha de inúmeros precedentes dos Tribunais
Superiores, depende, para sua validade e regularidade, da existência de fundadas
razões (justa causa) que sinalizem para a possibilidade de mitigação do direito
fundamental em questão. É dizer, apenas quando o contexto fático anterior à invasão
permitir a conclusão acerca da ocorrência de crime no interior da residência - cuja
urgência em sua cessação demande ação imediata - é que se mostra possível sacrificar
o direito à inviolabilidade do domicílio" (HC n. 598.051/SP, Sexta Turma, Rel. Min.
Rogerio Schietti Cruz, DJe de 15/3/2021).

IV - A orientação acima atende aos pressupostos estabelecidos no Tema n. 280,


submetido pelo STF ao regime de repercussão geral no RE n. 603.616/RO, em que
ficou definido que "a entrada forçada em domicílio sem mandado judicial só é lícita,
mesmo em período noturno, quando amparada em fundadas razões, devidamente
justificadas a posteriori" (RE n. 603.616/RO, Rel. Min. Gilmar Mendes, DJe de
8/10/2010). Portanto, realizado o controle judicial do ato, ainda que posteriormente,
não há falar, de plano, em ilicitude das provas produzidas.

V - Registre-se também que o momento processual da ação penal originária - julgada a


apelação criminal - inviabiliza a análise da tese defensiva em toda a sua extensão, visto
que há nítida necessidade de dilação probatória, situação não permitida no rito
especial do habeas corpus. Nesse sentido, os seguintes precedentes do STJ: HC n.
431.708/MS, Quinta Turma, Rel. Min. Ribeiro Dantas, DJe de 30/5/2018; AgRg no HC n.
681.870/SP, Quinta Turma, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, DJe de 20/9/2021; e
AgRg no RHC n. 146.915/RJ, Sexta Turma, Rel. Min. Olindo Menezes, DJe de
31/8/2021.
VI - A toda evidência, o decisum agravado, ao confirmar o aresto impugnado, rechaçou
as pretensões da defesa por meio de judiciosos argumentos, os quais encontram
amparo na jurisprudência deste Sodalício.

Agravo regimental desprovido.

(AgRg no HC n. 764.556/SP, relator Ministro Jesuíno Rissato (Desembargador


Convocado do Tjdft), Quinta Turma, julgado em 11/10/2022, DJe de 19/10/2022.)

HABEAS CORPUS. PENAL E PROCESSUAL PENAL. TRÁFICO DE DROGAS E ASSOCIAÇÃO


PARA O TRÁFICO. PLEITO DE ABSOLVIÇÃO QUANTO AO CRIME DE TRÁFICO DE
DROGAS. POSSIBILIDADE. MATERIALIDADE DELITIVA NÃO COMPROVADA. AUSÊNCIA
DE APREENSÃO DE DROGAS. DOSIMETRIA DA PENA DO CRIME DE ASSOCIAÇÃO PARA
O TRÁFICO. PRIMEIRA FASE. ART. 42 DA LEI DE DROGAS. EXASPERAÇÃO AFASTADA.
ABRANDAMENTO DO REGIME INICIAL DE CUMPRIMENTO DE PENA E SUBSTITUIÇÃO
DA PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE POR PENAS RESTRITIVAS DE DIREITOS, DE OFÍCIO.
ORDEM DE HABEAS CORPUS CONCEDIDA, INCLUSIVE COM CONCESSÃO DE OFÍCIO.
DETERMINADA A EXTENSÃO DOS EFEITOS DA DECISÃO AOS CORRÉUS, DE OFÍCIO.

1. No presente caso, não houve apreensão de drogas em poder da Paciente ou dos


Corréus. Em que pese o Juízo sentenciante mencione, vagamente, que foram
apreendidas drogas em poder de indivíduos que responderam a outras ações penais,
não foram sequer indicadas as circunstâncias fáticas dessas apreensões (locais, datas,
natureza e quantidade de drogas e supostos envolvidos), nem mesmo declinados
elementos concretos que ligassem os entorpecentes supostamente apreendidos aos
três réus da presente ação penal.

2. Nesse contexto, a sentença condenatória e o acórdão impugnado destoam da


jurisprudência adotada por este Egrégio Tribunal Superior, no sentido de que "[é]
imprescindível para a demonstração da materialidade do crime de tráfico a apreensão
de drogas" (REsp n. 1.865.038/MG, Rel. Ministro NEFI CORDEIRO, SEXTA TURMA, DJe
04/09/2020). De rigor, portanto, a absolvição pelo crime de tráfico de drogas.

3. Tendo em vista que não houve apreensão de drogas no presente feito, não há
fundamentação concreta para o recrudescimento da pena-base da Paciente em
relação ao crime de associação para o tráfico.

4. Por força da nova dosimetria ora realizada, no caso da Paciente, é cabível o regime
inicial aberto, de acordo com o quantum da pena reclusiva final (art. 33, § 2.º, do
Código Penal), e a substituição da pena privativa de liberdade por penas restritivas de
direitos.
5. Ordem de habeas corpus concedida para: a) absolver a Paciente da imputação do
crime de tráfico ilícito de drogas (art. 33, caput, da Lei n. 11.343/2006); b) fixar a pena-
base do crime de associação para o tráfico (art. 35, caput, da Lei n. 11.343/2006) no
mínimo legal, redimensionando a pena final da Acusada para 3 (três) anos de reclusão
e 700 (setecentos) dias-multa, à razão mínima legalmente estabelecida; e c) de ofício,
fixar o regime inicial aberto e substituir a pena privativa de liberdade por duas penas
restritivas de direitos, a serem definidas pelo Juízo das Execuções Criminais.

Determinada, de ofício, a extensão dos efeitos do presente acórdão aos Corréus


ANDERSON e CLÁUDIA, para: a) absolvê-los da imputação do crime de tráfico de
drogas; e b) na primeira fase da dosimetria do crime de associação para o tráfico,
afastar a valoração negativa da natureza e quantidade de drogas, redimensionando
suas penas finais para 5 (cinco) anos e 20 (vinte) dias de reclusão, além de 933
(novecentos e trinta e três) dias-multa, mantidos, em relação estes Acusados, os
demais termos dos éditos condenatórios.

(HC n. 683.894/SE, relatora Ministra Laurita Vaz, Sexta Turma, julgado em 18/10/2022,
DJe de 24/10/2022.)

ADMINISTRATIVO – CONTRATAÇÃO SEM CONCURSO

DIREITO PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO INTERNO EM RESP. AÇÃO CIVIL PÚBLICA.


CONTRATAÇÃO DE AGENTES COMUNITÁRIOS DE SAÚDE E COMBATE A ENDEMIAS SEM
CONCURSO PÚBLICO. DECADÊNCIA RECONHECIDA, DE OFÍCIO, NA ORIGEM. DECISÃO
UNIPESSOAL DESTA CORTE SUPERIOR QUE PROVEU A INSURGÊNCIA DO MPSE, POR
VERIFICAR QUE O ARESTO DO TJSE EMITIU COMPREENSÃO AVESSA AO
ENTENDIMENTO DESTA CORTE SUPERIOR NO TEMA. NÃO INCIDÊNCIA DA PRESCRIÇÃO
E DA DECADÊNCIA NAS DEMANDAS VISANDO A PROTEÇÃO DO PRINCÍPIO
CONSTITUCIONAL DO CONCURSO PÚBLICO. AGRAVO INTERNO DA ENTIDADE SINDICAL
NÃO PROVIDO.

1. Esta Corte Superior tem a diretriz de que, nas hipóteses em que o Ministério Público
busca, em juízo, providências cabíveis para proteger o princípio constitucional do
concurso público, não incidem os institutos da prescrição e decadência, tendo em vista
que o decurso do tempo não tem o condão de convalidar atos de provimento efetivo
em cargos públicos de pessoas que não foram previamente aprovadas em concurso
público, sendo a situação flagrantemente inconstitucional (AgInt no REsp.
1.306.259/RN, Rel. Min GURGEL DE FARIA, Primeira Turma, DJe 15.5.2019; REsp
1.518.267/RN, Relator Min. HERMAN BENJAMIN, Segunda Turma, DJe 20.5.2016).

2. Agravo Interno da Entidade Sindical não provido.

(AgInt no REsp n. 1.854.010/SE, relator Ministro Manoel Erhardt (Desembargador


Convocado do Trf5), Primeira Turma, julgado em 21/3/2022, DJe de 24/3/2022.)
Peculato

INFRAÇÃO DE MEDIDA SANITÁRIA PREVENTIVA. PRINCÍPIO DA ANTERIORIDADE E DA


RESERVA LEGAL. PECULATO-DESVIO E CORRUPÇÃO PASSIVA PRIVILEGIADA.
VACINAÇÃO CONTRA A COVID-19. ATIPICIDADE.

1. A pandemia de covid-19 ensejou grave crise sanitária, econômica e social que levou
à prática de condutas moralmente reprováveis.

2. Não há crime sem prévia previsão legal. A prática de crime exige o enquadramento
típico em conduta previamente definida como crime, vedada a interpretação extensiva
ou analógica.

3. Os crimes de corrupção passiva e ativa configuram uma exceção à teoria monista do


concurso de pessoas, sendo tipos penais autônomos.

4. São atípicas, por falta de previsão legal, a conduta de submeter-se à vacinação


contra covid-19 em local diverso do agendado e/ou com aplicação de imunizante
diverso e a conduta de submeter-se à vacinação contra covid-19 sem a realização de
agendamento.

5. Agravo regimental conhecido e desprovido.

(AgRg no RHC n. 160.947/CE, relator Ministro João Otávio de Noronha, Quinta Turma,
julgado em 27/9/2022, DJe de 30/9/2022.)

AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. INEXIGIBILIDADE DE


LICITAÇÃO FORA DAS HIPÓTESES LEGAIS. ART. 89 DA LEI N. 8.66/93. 1) VIOLAÇÃO AO
ART. 116 DA LEI N. 8.666/93. ÓBICE DA SÚMULA N. 7 DO SUPERIOR TRIBUNAL DE
JUSTIÇA - STJ. 2) VIOLAÇÃO AO ART. 312 DO CÓDIGO PENAL - CP. PECULATO. ÓBICE DA
SÚMULA N. 7 DO STJ. 2.1) CONDIÇÃO DE FUNCIONÁRIO PÚBLICO. NÃO CONSTATADA.
3) AGRAVO REGIMENTAL DESPROVIDO.

1. As instâncias ordinárias rechaçaram a aplicação da lei de licitações ao caso concreto,


seja porque o convênio firmado não dispôs nesse sentido, seja porque a legislação de
regência não impôs obrigatoriedade de aplicação da Lei n. 8.666/93 a convênios da
espécie. De fato, para se concluir que o convênio firmado obrigava a realização de
procedimento licitatório seria necessário o revolvimento fático-probatório, vedado
conforme Súmula n. 7 desta Corte.

2. Também segundo as instâncias ordinárias, a autoria delitiva do corréu que ostentava


a condição de funcionário público não ficou comprovada, pois não identificado seu
proveito pelo desvio nem sua atuação em conluio com o outro corréu. Conclusão
diversa também esbarra no óbice da Súmula n. 7 do STJ.

2.1. A condição de funcionário público foi constatada apenas para um dos corréus,
sendo certo que este foi absolvido, razão pela qual não houve concurso de agentes, o
que afasta também a comunicação da condição de funcionário público ao corréu
condenado e impossibilita a tipificação da conduta a título de peculato.

3. Agravo regimental desprovido.

(AgRg no AREsp n. 1.866.979/SE, relator Ministro Joel Ilan Paciornik, Quinta Turma,
julgado em 27/9/2022, DJe de 30/9/2022.)

Corrupção de menores

PROCESSO PENAL E PENAL. AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO


ESPECIAL. CORRUPÇÃO DE MENORES. ART. 244-B DO ECA. MENORIDADE PENAL.
EXISTÊNCIA DE OUTRO DOCUMENTO HÁBIL. COMPROVAÇÃO. AGRAVO DESPROVIDO.

1. O Superior Tribunal de Justiça firmou entendimento segundo o qual "para efeitos


penais, o reconhecimento da menoridade do réu requer prova por documento hábil"
(Súmula 74/STJ). O documento hábil ao qual se refere a Súmula não se limita à
certidão de nascimento, uma vez que outros documentos, quando dotados de fé
pública, são igualmente hábeis para a comprovação da menoridade.

2. Agravo regimental desprovido.

(AgRg no AREsp n. 2.142.260/GO, relator Ministro Ribeiro Dantas, Quinta Turma,


julgado em 13/9/2022, DJe de 21/9/2022.)

AMBIENTAL

PROCESSUAL CIVIL E AMBIENTAL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA PARA COIBIR A PRÁTICA


RECORRENTE DE POLUIÇÃO SONORA. MINISTÉRIO PÚBLICO. LEGITIMIDADE
RECONHECIDA. DANO MORAL COLETIVA. POLUIÇÃO SONORA. OCORRÊNCIA.
PRECEDENTES. REDUÇÃO DA INDENIZAÇÃO. REEXAME DE FATOS E PROVAS.
INCIDÊNCIA DA SÚMULA 7/STJ.

1. Recurso especial decorrente de ação civil pública em que se discute danos morais
coletivos decorrentes de poluição sonora e irregularidade urbanística provocadas por
funcionamento dos condensadores e geradores colocados no fundo do
estabelecimento das condenadas.

2. Tratando-se de poluição sonora, e não de simples incômodo restrito aos lindeiros de


parede, a atuação do Ministério Público não se dirige à tutela de direitos individuais de
vizinhança, na acepção civilística tradicional, e, sim, à defesa do meio ambiente, da
saúde e da tranqüilidade pública, bens de natureza difusa. O Ministério Público possui
legitimidade para propor Ação Civil Pública com o fito de prevenir ou cessar qualquer
tipo de poluição, inclusive sonora, bem como buscar a reparação pelos danos dela
decorrentes. Nesse sentido: REsp 1.051.306/MG, Rel. Ministro CASTRO MEIRA, Rel. p/
Acórdão Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em 16/10/2008, DJe
10/09/2010.

3. "Tratando-se de poluição sonora, e não de simples incômodo restrito aos lindeiros


de parede, a atuação do Ministério Público não se dirige à tutela de direitos individuais
de vizinhança, na acepção civilística tradicional, e, sim, à defesa do meio ambiente, da
saúde e da tranqüilidade pública, bens de natureza difusa" (REsp 1.051.306/MG, Rel.
Ministro CASTRO MEIRA, Rel. p/ Acórdão Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA
TURMA, julgado em 16/10/2008, DJe 10/09/2010.).

4. "O dano moral coletivo, assim entendido o que é transindividual e atinge uma classe
específica ou não de pessoas, é passível de comprovação pela presença de prejuízo à
imagem e à moral coletiva dos indivíduos enquanto síntese das individualidades
percebidas como segmento, derivado de uma mesma relação jurídica-base. (...) O dano
extrapatrimonial coletivo prescinde da comprovação de dor, de sofrimento e de abalo
psicológico, suscetíveis de apreciação na esfera do indivíduo, mas inaplicável aos
interesses difusos e coletivos". Nesse sentido: REsp 1.410.698/MG, Rel. Ministro
HUMBERTO MARTINS, SEGUNDA TURMA, julgado em 23/06/2015, DJe 30/06/2015;
REsp 1.057.274/RS, Rel. Ministra ELIANA CALMON, SEGUNDA TURMA, julgado em
01/12/2009, DJe 26/02/2010.

5. A Corte local, ao fixar o valor indenizatório em R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais), o


fez com base na análise aprofundada da prova constante dos autos. A pretensão da
ora agravante não se limita à revaloração da prova apreciada do aresto estadual, mas,
sim, ao seu revolvimento por este Tribunal Superior, o que é inviável. Incidência da
Súmula 7 do Superior Tribunal de Justiça.

Nesse sentido: AgRg no AREsp 430.850/SP, Rel. Ministro Herman Benjamin, Segunda
Turma, DJe 07/03/2014.

Agravo regimental improvido.

(AgRg no AREsp n. 737.887/SE, relator Ministro Humberto Martins, Segunda Turma,


julgado em 3/9/2015, DJe de 14/9/2015.)
IMPROBIDADE (LER SOB A ÓTICA DA NOVA LEI)

PROCESSUAL CIVIL. ADMINISTRATIVO. IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. AGRAVO


INTERNO NO RECURSO ESPECIAL. OFENSA A DISPOSITIVOS CONSTITUCIONAIS. EXAME
E INOVAÇÃO DE TESE RECURSAL. IMPOSSIBILIDADE. REEXAME DE MATÉRIA FÁTICO-
PROBATÓRIA. IMPOSSIBILIDADE. SÚMULA 7/STJ. DOSIMETRIA DAS SANÇÕES.
REAVALIAÇÃO. POSSIBILIDADE, NO CASO CONCRETO. ART. 11 DA LIA. AUSÊNCIA DE
ENRIQUECIMENTO ILÍCITO. IRRELEVÂNCIA.

1. Nos termos do art. 105, III, da Constituição da República, o recurso especial é


destinado tão somente à uniformização da interpretação do direito federal, não sendo
a via adequada para a análise de eventual ofensa a dispositivos constitucionais, cuja
competência pertence ao Supremo Tribunal Federal.

2. Caso concreto em que a tese de nulidade processual foi suscitada exclusivamente à


luz de uma suposta violação ao art. 5º, LIV e LV, da Constituição da República, o que
importou o não conhecimento do apelo nobre, nesse ponto.

3. Por caracterizar indevida inovação recursal e, por isso, aviltar a força da preclusão
consumativa, não se mostra possível discutir, apenas ao ensejo do agravo interno, a
tese de afronta aos arts. 236, § 1º, 237 e 552 do CPC/1973, porquanto não ventilada
nas razões do antecedente recurso especial.

4. Tendo a Corte de origem firmado a compreensão no sentido de que o ora agravante


efetivamente praticou os atos de improbidade que lhe foram imputados - fraude à
licitação caracterizada pelo envio de cartas-convites a empresas inexistentes e, ainda,
a realização de pagamento de serviços não executados -, para se alterar tal conclusão,
seria necessário novo exame do acervo fático-probatório constante dos autos,
providência vedada em recurso especial, conforme o óbice previsto na Súmula 7/STJ.

5. É inviável o acolhimento da tese de que a inexistência enriquecimento ilícito rechaça


a configuração do ato de improbidade em tela, porquanto "os atos de improbidade
administrativa descritos no artigo 11 da Lei nº 8.429/92 dispensam a demonstração da
ocorrência de dano para a Administração Pública ou enriquecimento ilícito do agente"
(AgInt no AREsp 271.755/ES, Rel. Ministro BENEDITO GONÇALVES, PRIMEIRA TURMA,
DJe de 22/3/2017).

6. Diante da gravidade da conduta do agravante, o parcial provimento do recurso


especial do Parquet federal para majorar as sanções mostra-se adequado, na medida
em que a ausência de outra condenação além da multa civil importaria em
desatendimento aos vetores da proporcionalidade e da razoabilidade. Da mesma
forma, uma vez verificado que a multa civil havia sido arbitrada em valores excessivos,
mostra-se possível sua redução.

7. Agravo interno parcialmente conhecido e, nessa extensão, não provido.

(AgInt no REsp n. 1.496.544/SE, relator Ministro Sérgio Kukina, Primeira Turma, julgado
em 20/4/2020, DJe de 24/4/2020.)

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