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CURSO CEI
BELO HORIZONTE
2021
Ana Luíza Aguilar de Rezende
BELO HORIZONTE
2021
FOLHA DE APROVAÇÃO
Nota:__________________________________________
Avaliador:_____________________________________
RESUMO
I- PRÓLOGO
II- HABEAS CORPUS Nº 598.051-SP
III- DIREITOS FUNDAMENTAIS E HUMANOS
IV- ORIGEM DO HABEAS CORPUS
V- CONCLUSÃO
VI- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
PRÓLOGO
Para melhor definir o crime, ou para estabelecer uma metodologia para estudo
dele, os pensadores conceituaram tal fenômeno de acordo com o que tinham como teorias
sociais. Dessa forma, as teorias do crime são fortemente influenciadas pelas vertentes
filosóficas de cada época, seja naturalista - influenciada pela ciência-, seja valorativa – a
partir da influência de Kant-, entre outras, o conceito de crime é objeto de estudo.
Tal doutrina não foi suficiente para explicar o fenômeno criminológico, tendo
os próximos doutrinadores criado a teoria finalista, para a qual o crime precisa ser
definido pela finalidade do autor. Várias condutas, na percepção do observador externo,
poderiam ser definidas de diferentes formas, de modo que o elemento subjetivo, a
finalidade do autor, seria imprescindível para definição da conduta.
Esta última teve tamanha aceitação no mundo jurídico que é aceita pela
grande maioria dos doutrinadores, sendo acolhida pelo Código Penal brasileiro. Não
obstante, a teoria social da ação, os funcionalistas (Roxin e Jakobs, por exemplo), o
garantismo e outras doutrinas que se dedicam a esse estudo avançaram sobremaneira o
conceito de crime e o impacto que ele tem na sociedade.
A tal matéria deu-se o nome de criminologia, que tem por fim identificar,
estudar, analisar o fenômeno criminógeno a partir do quadro social ou da comunidade,
desapegando-se da estrita legalidade para questionar, também, a escolha das condutas
definidas como crime.
O que importa afirmar aqui é que esses aspectos, tempo e cuidado que formam
a justificativa de um processo justo, não são os que imperam quando consideramos a ação
de um policial que se vê diante de uma conduta que ele, supostamente, entenda ser
criminosa.
Por vezes, o flagrante delito é muito rápido, no sentido de que não permite
uma maior consideração sobre a conduta, e mesmo assim dá vazão à minoração de direitos
fundamentais, tais como a inviolabilidade do domicílio.
Para análise destes fatos, parte-se do habeas corpus, dos direitos fundamentais
e da doutrina deste remédio constitucional.
HABEAS CORPUS nº 598.051-SP
Pois bem.
Em sábias palavras afirma que: “o homem mais pobre pode em sua cabana
desafiar todas as forças da Coroa. Pode ser frágil, seu telhado pode tremer, o vento pode
soprar por ele, a tempestade pode entrar, a chuva pode entrar, mas o Rei da Inglaterra não
pode entrar!”1.
Após tal brilhante abertura, o voto do Ministro Rogério seguiu com o contexto
do caso que, como afirmado acima, versa sobre a nulidade das provas obtidas a partir da
1
Passagem extraída do HC em discussão, no voto do Ministro Rogério Schietti Cruz, com a seguinte
referência: William Pitt, Earl of Chatham. Speech, March 1763, in Lord Brougham Historical Sketches of
Statesmen in the Time of George III First Series (1845) vol. 1.
2
William Pitt, 1.º Conde de Chatham – Wikipédia, a enciclopédia livre (wikipedia.org)
entrada de policiais na residência de transeunte que, apesar de ostentar atitude suspeita,
não tinha consigo drogas (busca pessoal infrutífera) e franqueou a entrada em sua casa.
Sobre esse tema, aponta algumas recentes notícias de operações policiais, tais
como: a) o ingresso de policiais militares em residência indicada por flagranteada, que
portava cocaína e maconha; local em que apreenderam crack e cocaína com outros dois
indivíduos, mas encontraram a dona da casa dormindo; b) ingresso de policiais militares
em apartamentos sem mandado judicial e a realização de revistas pessoais aleatórias nos
corredores do edifício, inclusive com cães farejadores, a partir de uma denúncia. Um dos
revistados relatou que os policiais bateram em sua porta, colocaram a arma em seu rosto
e perguntaram se poderiam entrar para ver se tinha algo, bem como afirmaram que não
tinha como dizer não; c) varredura de uma casa, onde encontraram crack e dinheiro em
notas miúdas, às 23 h, no domingo, a partir de várias denúncias de traficância e da fuga
de um menor de idade que deixou cair 25 pedras de crack e foi apreendido na posse de
mais crack e dinheiro.
Em qual das duas versões acreditar? Segundo o Ministro, “caberia aos agentes
que atuam em nome do Estado demonstrara, de modo inequívoco, que o consentimento
do morador foi livremente prestado, ou que, na espécie, havia em curso na residência uma
clara situação de comércio espúrio de droga, a autorizar, pois, o ingresso domiciliar
mesmo sem consentimento do morador”. Isso porque na dúvida, privilegia-se o réu, titular
do direito atingido.
Firmou, então, seu entendimento sobre os fatos com nos seguintes termos:
“tenho, assim, que a descoberta a posteriori de uma situação de flagrante decorreu de
ingresso ilícito na moradia do paciente, em violação a norma constitucional que consagra
direito fundamental à inviolabilidade do domicílio, o que torna imprestável, no caso
concreto, a prova ilicitamente obtida e, por conseguinte, todos os atos dela decorrentes e
a própria ação penal, apoiada exclusivamente nessa diligência policial”.
Discorre ainda sobre outro contratualista importante, John Locke, que definiu
eficácia oponível dos direitos naturais em relação aos detentores de poder. Eram direitos
de resistência que, com base em sua teoria do contrato social, eram limitados aos
cidadãos, considerados sujeitos, não objetos do governo. (Ingo Sarlet, 2018, pág. 40)
Segundo Sarlet, John Locke aprimorou a teoria contratualista que, por sua
vez, lançou as bases do jusnaturalismo iluminista do séc. XVII e, por consequência,
culminou no constitucionalismo.
Não nos ateremos nos pormenores destes dois corpos legislativos, mas
importa salientar o que entende Martin Kriele, segundo citação feita por Sarlet, nos
seguintes termos:
O primeiro desses foi Karel Vasak que, “em uma conferência proferida no
Instituto Internacional de Direitos Humanos de Estrasburgo, na França, em 1979”
classificou os direitos fundamentais em três gerações, que se consubstanciam através do
lema da Revolução Francesa de liberdade, igualdade e fraternidade. (Nathalia Masson,
2017, pág. 204).
III – LIBERDADE
HABEAS CORPUS
Tem-se o Habeas Corpus como instrumento jurídico-processual que se presta
a tutela do direito fundamental à liberdade. Dada sua evidente relevância, destina-se parte
do trabalho ao estudo dessa ação mandamental, que é palco de tantas discussões nos
Tribunais Superiores.
POVOS ANTIGOS
“não havia então qualquer remédio jurídico que por suas virtudes
se lhe pudesse atribuir o ser fonte do habeas-corpus. Esse é
posterior à própria Magna Carta, de onde procede, contudo, em
seus princípios de direito público subjetivo. (...) Entre nós, antes
de possuirmos o habeas-corpus, era pelo interdito de libero
homine exhibendo que se alcançava o desagravo, qualquer que
fosse o constrangimento ilegal à liberdade física” (pág. 23).
Importante salientar que, para os ingleses, a violação da liberdade física é
mais perigosa e prejudicial que a violação de outros bens jurídicos, pois a prisão “é arma
menos pública. Ninguém a percebe. (...) É violência silenciosa, secreta, ignorada,
invisível; portanto, mais grave e perigosa do que qualquer outra” (Pontes de Miranda,
pág. 27).
O autor, na 7ª edição, entende pela necessidade de conceituar liberdade física,
dadas as interpretações que tal termo tem adquirido nas doutrinas. Faz nos seguintes
termos:
Diante da revolta popular, Carlos I não teve outra escolha a não ser convocar
o Parlamento e soltar os que se achavam presos por recusa ao pagamento do imposto.
Pontes de Miranda apresenta, como lição, que “as violências servem menos aos governos
que aos oprimidos; e felizes daqueles povos, capazes de reagir, a que se deparam
opressores assaz terríveis para os revoltar e os levar a criar a ordem nova. Durante os
vinte e cinco séculos da civilização ocidental, toda a evolução humana consistiu na
violência do espírito contra a força” (pág. 51).
Mesmo reiterando direitos, a nova lei não era perfeita e não surtiu todos os
efeitos esperados, pois, a título de exemplo, não impediu a privação de liberdade física
por meio de ordem do rei e só abarcava pessoas acusadas de crime, deixando sem proteção
pessoas “detidas por outras acusações ou meros pretextos” (Pontes de Miranda, pág. 72).
Nesse caso foram detidos vários jornalistas, até que souberam ser Wilkes o
autor procurado. Munidos do mandado geral, os encarregados deram ordem de prisão a
Wilkes, que, desobedecendo, foi conduzido e compareceu diante do secretário de Estado.
Enquanto isso, os demais encarregados da busca invadiram a casa de Wilkes, “folhearam
os manuscritos existentes em suas gavetas e levaram todos os seus papéis particulares”
(pág. 68).
De todo modo, em 1766 esses mandados gerais foram condenados pela Casa
do Banco do Rei e declarados ilegais pela Casa das Audiências. Nesse mesmo ano, a
Câmara dos Comuns aprovou uma lei contra os mandados gerais, mas a Casa dos Lordes
foi contrária ao pleito, o que, invariavelmente, não modificou a ilegalidade de tais general
warrants, decidida pelos juízes. (Pontes de Miranda, pág. 71).
Filho, Wagner Marteleto. Dolo e risco no direito penal. Fundamentos e limites para a
normativização. Ed. Marcial Pons. São Paulo. 2020.
Sarlet, Ingo. A eficácia dos Direitos Fundamentais. Ed. Livraria do Advogado. 13ª
Edição, Revista e Atualizada. Porto Alegre, 2018.