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Pontifícia Universidade Católica de São Paulo

[Introdução ao Estudo do Direito]


Turma: Direito-MH1

Professora; Maria Celeste C, L. dos Santos

Data: 7/3/2020

Nome: João Pedro Lucci Carvalho

Resenha sobre noções gerais do direito. Respondendo à pergunta: O que é direito?

É possível definir o conceito do Direito de forma definitiva? A resposta é não.


Atualmente, existem várias formas de observar a natureza do direito. Como por
exemplo, a teoria do direito normalizado, de Norberto Bobbio, e a do direito como
Instituição de Santi Romano, publicado em L’Ordinamento Giuridico em 1917.
Enquanto a teoria de Norberto acredita nas normas jurídicas, sociais, culturais, morais e
religiosas como forma de guia e auxílio para o convívio em sociedade, a teoria de
Romano acredita no direito como mecanismo de ordem social, que visa regular o livre
arbítrio e o poder material, a fim de garantir o convívio em sociedade. No entanto,
ambas possuem constatações que poderiam ser facilmente debatidas, contudo de
maneira alguma refutadas de forma conclusiva. Como por exemplo, a afirmação de
Santi, da necessidade de uma sociedade ordenada e organizada para a existência do
direito, até porque a definição de uma sociedade organizada pode ser muito abrangente.
Ou também, a afirmação de Bobbio, que o direito é apenas um conjunto de normas que
garantem o convívio em civilização, mesmo, sem a presença de uma sociedade
organizada e ordenada. Logo, é possível perceber que, mesmo com a identificação com
alguma das teorias, é impossível defendê-la como sendo a única verdadeira.

Como é possível diferenciar a moral do direito? A começar que, a moral é a


interpretação e valores individuais, que podem ou não diferir entre cada indivíduo e seu
descumprimento não resultará em penas graves. E o direito são leis que se aplicam de
acordo com parâmetros jurídicos e seu descumprimento pode acarretar penas graves.
Como por exemplo, matar é errado, com base nos valores morais ensinado a crianças
pela estrutura familiar. Matar, segundo o código penal, pode dar em uma pena mínima
de 6 anos sem levar em conta a moralidade da ação, apenas levando em consideração
possibilitar o convívio em sociedade. E outra diferença que fica evidente através do
exemplo mencionado acima é: o Direito possui o monopólio da força enquanto a moral
não, e é regrada pela constituição que é o direito. Ambos possuem normas e aspectos
comuns, no entanto não podem ser consideradas iguais devido a diferença de poderio e
obrigatoriedade.

A onipresença do direito: Segundo, principalmente, a teoria de Norberto


Bobbio, a teoria do direito normativo, o direito se encontra em todos os setores da
agremiação humana, através de leis, normas e regras, regulando os seres humanos e,
conscientemente ou não, guiando-os durante suas vidas e impedindo-os de seguir certos
caminhos.

Teoria do mínimo ético: A teoria de autoria de Georg Jellinek, consiste em


categorizar o direito como o mínimo de moral obrigatório, para que a vida em sociedade
seja possível. Contudo, é possível perceber que tudo no jurídico é moral, mas nem tudo
que é moral é jurídico.

Teoria de Miguel Reale: Diferentemente de Jellinek, Miguel acredita que


existem campos do direito que não são obrigados pela moral consequentemente, sendo
amorais. O autor cita como exemplo, as normas de trânsito, que visam, unicamente, a
segurança e a fácil locomoção de todos, sem levar em consideração a moralidade da
norma. Também de sua teoria, é possível relacionar com outras teorias semelhantes
como por exemplo, a que direito não é justiça, trabalhando unicamente com prêmios e
punições. Não tendo a ver com o certo e o errado, pois o bem e o mal tem a ver com a
moral (que depende de cada pessoa e seus valores) e não com o direito que é uma norma
geral e regrada.

Coercibilidade do direito: O direito é coercível e a moral não. Isso porque o


direito possui instrumentos jurídicos capacitados para a coação de pessoas a seguir a
alguma forma de norma, enquanto a moral depende de razões e motivos próprios para
existir, e seu descumprimento acarretaria, ao máximo, um peso na consciência. No
entanto, o descumprimento de uma norma jurídica ou de uma lei pode resultar em
consequências mais graves.

Heteronomia do direito: Considerando que o objeto do direito é: manter a ordem


na sociedade, torna-se notório a transpessoalidade do direito, que se encontra acima do
que necessariamente queremos. Em expressões análogas, a heteronomia significa que
não, necessariamente, a vontade do indivíduo vai ser atendida, já que depende de
outrem. No caso do direito, um legislador, ou um deputado ou o próprio Estado.
Contudo, no que se diz a respeito da moral, esta sendo considerada autônoma por
depender exclusivamente de razões e princípios particulares para existir.

Referências bibliográficas:
Estudos de Filosofia do Direito: Tercio Sampaio Ferraz Junior
A Teoria pura do Direito: Norberto Bobbio
PODER JUDICIÁRIO

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

Registro: 2020.0000897977

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Habeas Corpus Criminal nº

2182062-76.2020.8.26.0000, da Comarca de São Paulo, em que é paciente RAFAEL

HENRIQUE SROUR, Impetrantes JOSÉ CARLOS MANCINI JÚNIOR e

ALBERTO ZACHARIAS TORON. ACORDAM, em 12ª Câmara de Direito Criminal


do Tribunal de Justiça de

São Paulo, proferir a seguinte decisão: "CONCEDERAM A ORDEM para

convalidar a liminar e, excepcionalmente, substituir a prisão cautelar do paciente

Rafael Henrique Srour. Contudo, como garantia da aplicação da lei penal, deverá

cumprir as medidas cautelares alternativas previstas no art. 319, incisos I, IV e V do

Código de Processo Penal, bem como sob compromisso de comparecimento a todos

os atos processuais, V.U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este

acórdão.

O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores PAULO

ROSSI (Presidente sem voto), VICO MAÑAS E JOÃO MORENGHI. São Paulo, 27 de
outubro de 2020. AMABLE LOPEZ SOTO

RELATOR

Assinatura Eletrônica

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por AMABLE LOPEZ


SOTO, liberado nos autos em 03/11/2020 às 09:57 .

Para conferir o original, acesse o site


https://esaj.tjsp.jus.br/pastadigital/sg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o
processo 2182062-76.2020.8.26.0000 e código 1311FFBF.

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Habeas Corpus Criminal nº 2182062-76.2020.8.26.0000 20751 s 2

Habeas Corpus: Autos n. 2182062-76.2020.8.26.0000

Comarca: São Paulo Departamento de Inquérito Policial da Barra

Funda DIPO04

Impetrante: Alberto Zacharias Toron e José Carlos Mancini Júnior

Paciente: Rafael Henrique Srour

Voto 20751

Habeas corpus. Tráfico de entorpecentes. Prisão Preventiva.

PLEITO DE APLICAÇÃO DA RECOMENDAÇÃO

62/CNJ. Em que pese a considerável quantidade de

entorpecentes apreendidos 120g de skunk e 20kg de

maconha, o paciente é portador de comorbidade que o inclui

em grupo de risco para contágio de COVID-19, “com

histórico de pneumonia em repetição e portador de vírus

HIV”. Comorbidade devidamente comprovada. Ordem

concedida para, excepcionalmente, convalidar a liminar e

substituir a prisão por medidas cautelares alternativas

previstas no art. 319, incisos I, IV e V, do Código Penal.

Trata-se de habeas corpus impetrado, em

favor de RAFAEL HENRIQUE SROUR, apontando como autoridade

coatora o Juízo de Direito do Departamento de Inquérito Policial da

Barra Funda.

Pleiteia a Defesa a revogação da prisão

preventiva, substituindo-a por medidas cautelares menos aflitivas.

Destaca que o paciente é portador do vírus HIV, “com histórico de

pneumonia em repetição” (conforme atestado a fls. 150). Ademais, o


juízo a quo, ao decretar a segregação, pautou-se na hediondez do delito e

em ação penal suspensa, argumentos insuficientes a justificar a prisão

preventiva.

Postula, em sede liminar, o imediato

relaxamento de sua prisão ou, subsidiariamente, sua alocação em prisão

domiciliar. No mérito, busca a confirmação da ordem.

O pedido liminar foi deferido (fls.

152/154), a autoridade judicial prestou informações (fls. 159/160) e a Este documento é


cópia do original, assinado digitalmente por AMABLE LOPEZ SOTO, liberado nos
autos em 03/11/2020 às 09:57 .

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Habeas Corpus Criminal nº 2182062-76.2020.8.26.0000 20751 s 3

Procuradoria Geral de Justiça opinou por denegar a ordem (fls.

200/207).

É o relatório.

Consta dos autos que, no dia 29 de julho

p.p., policiais civis receberam denúncias da ocorrência de tráfico de

entorpecentes em um imóvel situado na Av. Jurandir, 1035, Planalto

Paulista.

Munidos das informações, dirigiram-se ao

local, estabelecendo campana por alguns minutos, quando avistaram um

veículo Renegade, placas QUR8180 saindo da residência, quando o

abordaram. O condutor se identificou como Rafael Henrique Srour.

Vistoriado referido veículo, foi localizado em seu interior uma porção


com peso líquido de 120g de entorpecente do tipo skank. Logo em seguida, adentraram
juntamente

com Rafael na residência, onde teria sido constatado vasto cultivo de

entorpecentes e, no interior da residência, estavam dois indivíduos que

se identificaram como como Adriano Douglas de Azevedo Sordi, morador no local e


responsável pela casa e Carlos Kos Neto, que seria

um ajudante no plantio. Foram apreendidos na residência entorpecentes,

insumos e utensílios de cultivo de jardinagem, balanças digitais, além de

aproximadamente 20kg de maconha.

Quanto à decisão combatida, denota-se

que o juízo de origem sopesou, ao justificar a necessidade da conversão

da prisão em preventiva, a considerável quantidade de entorpecentes,

insumos e plantações encontrados no imóvel, a indicar a existência de

um tráfico de maior abrangência. No ponto, não se verifica, ilegalidade

no decreto de constrição cautelar, visto que tal argumento é idôneo e

apto a justificar a medida de ultima ratio (fls. 130/134).

Contudo, trouxeram os Impetrantes

declaração médica recente comprovando que o paciente tem histórico de

pneumonia de repetição, além de ser portador de HIV, “o que o coloca

em maior risco frente à presente pandemia” (fls. 150). Diante da

comorbidade devidamente demonstrada, conclui-se que há risco

concreto a sua saúde ao mantê-lo segregado.

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Em situação semelhante e também

considerando o contexto atual, já decidiu o Exmo. Min. Nefi Cordeiro

em recente julgado:

Consta do decreto prisional que o autuado possui maus

antecedentes e admitiu, perante a Autoridade Policial, que há três

meses comercializa drogas, conforme Boletim de Ocorrência à fl.

07. De fato, esta Corte Superior entende que a periculosidade do

acusado, evidenciada na reiteração delitiva, constitui motivação

idônea para o decreto da custódia cautelar, como garantia da

ordem pública. Nesse sentido: HC n. 286854/RS 5ª T. unânime

Rel. Min. Felix Fischer DJe. 1º-10-2014; RHC n. 48002/MG

6ª T. unânime Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura DJe

4/8/2014; RHC n. 44677/MG 5ª T. unânime Rel. Min. Laurita

Vaz DJe 24/6/2014. A crise mundial do Covid-19 trouxe já uma

realidade diferenciada de preocupação com a saúde em nosso país e

faz ver como ainda de maior risco o aprisionamento - a

concentração excessiva, a dificuldade de higiene e as deficiências

de alimentação naturais ao sistemas prisional, acarretam seu

enquadramento como pessoas em condição de risco. O Judiciário

brasileiro permanece atuando, mas com redução de audiências e

suspensão dos prazos, assim prolongando a conclusão dos feitos,

daí gerando também maior risco pela demora das prisões

cautelares. Nesse momento, configurada a dificuldade de rápida

solução ao mérito do processo e o gravíssimo risco à saúde, o

balanceamento dos riscos sociais frente ao cidadão acusado merece

diferenciada compreensão, para restringir a prisão cautelar. Apenas


crimes com violência, praticados por agentes reincidentes ou

claramente incapazes de permitir o regular desenvolvimento do

processo, poderão justificar o aprisionamento. Crimes eventuais e

sem violência, mesmo com justificada motivação legal, não

permitem a geração do grave risco à saúde pela prisão.” (SJT. Rel.

Min. Nefi Cordeiro HC Nº 593730/SP. J. 03 de setembro de 2020).

Além do fato de possuir comorbidade

devidamente demonstrada, em que pese a quantidade de psicotrópico

apreendido, trata-se de paciente primário, com ocupação lícita (fls. 145),

endereço certo (fls. 148), preenchendo, também, os requisitos para a

concessão da liberdade provisória.

Ademais, embora pese a acusação por

tráfico de drogas, o crime não se reveste de violência nem de grave

ameaça a pessoa e não há indicação de que o acusado integre

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Habeas Corpus Criminal nº 2182062-76.2020.8.26.0000 20751 s 5

organização criminosa.

Tudo considerado, atento às

particularidades do caso sob exame, de rigor a concessão da ordem para

conceder ao paciente a prisão domiciliar.

Afinal, “a saúde é direito de todos e dever

do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem


à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal

e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e

recuperação” (Art. 126 da Constituição da República).

De outro lado, também se faz necessário

garantir a aplicação da lei penal, sendo que o quadro revela mais

adequado e proporcional substituir a custódia cautelar pelas medidas

cautelares alternativas ao cárcere consistentes em comparecimento

periódico em juízo, proibição de ausentar-se da Comarca sem

autorização judicial e recolhimento domiciliar no período noturno e nos

dias de folga, sem prejuízo de outras definidas pelo juízo singular.

Ante o exposto, CONCEDERAM A

ORDEM para convalidar a liminar e, excepcionalmente, substituir a

prisão cautelar do paciente Rafael Henrique Srour. Contudo, como

garantia da aplicação da lei penal, deverá cumprir as medidas cautelares

alternativas previstas no art. 319, incisos I, IV e V do Código de

Processo Penal, bem como sob compromisso de comparecimento a todos

os atos processuais.

Amable Lopez Soto

relator

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