Ordenações Afonsinas que, entretanto, não chegaram a ter qualquer aplicação no Brasil. Editadas as Ordenações Manoelinas, Martim Afonso de Souza fora encarregado de formar as bases da organização judiciária na colônia nos moldes da implantada em Portugal.
Entrou em vigor, posteriormente, o Código de D. Sebastião, que
teve curta aplicação.
Em 1603, foram promulgadas as Ordenações Filipinas, são
substituídas em 1832 pelo Código de Processo Criminal do Império. Essa legislação refletia ainda o direito medieval, em que os ricos e poderosos gozavam de privilégios, podendo, com dinheiro, salvar-se das sanções penais.
Na região dominada pela Holanda, instalou-se o direito dos
usos, ordenações e costumes imperiais sobretudo da Holanda. No processo não havia distinção entre fase policial e fase judicial e a acusação contra criminosos partia de funcionários do Estado ou de particulares. Buscava-se a confissão dos réus com insistência, inclusive por meio de fraude e de torturas. A prova testemunhal tinha grande valor, ainda que conseguida mediante tortura ou promessas de recompensa. A tortura, assim, poderia ser a própria sanção, ou meio de obter confissão ou prova testemunhal. As normas jurídicas aplicadas aqui pelos holandeses em nada contribuíram para a formação do processo penal brasileiro.
A Constituição de 1824 foi que deu a organização básica do
Poder Judiciário brasileiro, editando-se em 1832 o Código de Processo Criminal. As denúncias podiam ser oferecidas pelo Promotor Público ou qualquer do povo. Como regra geral, a competência para julgamento era centrada no júri popular, ficando de fora as contravenções e os crimes menos graves.
Com a República e a CF de 1891, os Estados passaram a ter
suas próprias constituições e leis, inclusive as de caráter processual, mas poucos usaram dessa faculdade de legislar.
Com a CF de 1934 foi unificada a legislação processual e
após a CF de 1937 providenciou-se a promulgação do atual CPP (Dec-Lei n. 3.689, de 30.10.41. Foi também promulgado o Decreto-Lei n. 3.931, de 11.12.41 (lei da introdução ao CPP), que tinha por escopo básico adaptar ao novo estatuto processual os processos pendentes.
O referido Código teve como avanços básicos instalar a
instrução contraditória e a completa separação das funções julgadora e acusatória e restringir a competência do Júri.
DIREITO PROCESSUAL PENAL
CONCEITO:
Praticado um fato definido como crime ou
contravenção penal, surge para o Estado o direito de punir (ius puniendi), que se exercita através do processo penal, que é o conjunto de atos cronologicamente concatenados (procedimentos), submetido a princípios e regras jurídicas destinadas a compor as lides de caráter penal. Sua finalidade, pois, é a aplicação concreta do Direito Penal.
O Dir. Proc. Penal, porém, não se limita a esse
objeto. Para que o Estado possa propor a ação penal, deduzindo a pretensão punitiva no processo, são indispensáveis atividades investigatórias consistentes em atos administrativos da Polícia Judiciária (Civil e Federal), o que é feito no inquérito policial.
Além disso, aqueles que praticam os atos de
investigação e os atos do processo, devem estar devidamente legitimados para realizar as atividades que se concretizam no procedimento, e devem ter reguladas as relações que entre si mantêm, com a determinação dos direitos, deveres, ônus e obrigações que daí derivam, constituindo-se o que se denomina de organização judiciária.
Assim, o D.P.P. pode ser conceituado como “o
conjunto de princípios e normas que regulam a aplicação jurisdicional do Dir. Penal, bem como as atividades persecutórias da Polícia Judiciária, e a estruturação dos órgãos da função jurisdicional e respectivos auxiliares”. (José Frederico Marques – Elementos de Dir. processual Penal, SP, Forense). É um ramo do Dir. Público, porque regula uma atividade pública, a atividade estatal jurisdicional. Seus institutos não estão sujeitos à disponibilidade das partes (as partes não podem deles prescindir).
Tem caráter instrumental, ou seja, não é o processo penal um
fim em si mesmo, mas meio para fazer atuar o dir. penal, tornando efetiva a função deste de prevenção e repressão das infrações penais.
FONTES
Fonte é tudo aquilo de onde provém um preceito jurídico.
As fontes do DPP são a lei (única fonte primária, imediata), o
costume, os princípios gerais de direito e a analogia (fontes secundárias, mediatas). (art. 3º CPP e 4º da Lei de Introdução às normas do direito brasileiro).
Doutrina e jurisprudência não são fontes (Mirabete, por
exemplo), mas meras formas de interpretação. (HÁ ALGUMA DIVERGÊNCIA A RESPEITO)
A Lei é a única fonte formal imediata, ou direta, do DPP pois é
por meio dessa regra jurídica que o Estado impõe a sua vontade. É fonte imediata porque contém em si mesma a norma jurídica processual. Utiliza-se aqui lei em sentido amplo, ou seja, toda disposição emanada de qualquer órgão estatal (Executivo, Legislativo, Judiciário).
No processo penal brasileiro, temos em 1º lugar disposições de
processo penal existentes na própria Constituição Federal. Exemplos: incisos I, II e III do art. 102 (competência do STF); incisos I, II e III do art. 105 (competência do STJ); art. 5º, incisos 37 e 38 (XXXVII – não haverá juízo ou tribunal de exceção e XXXVIII – instituição do júri: plenitude de defesa, sigilo das votações, soberania dos veredictos e competência para julgamento dos crimes dolosos contra a vida).
Qto. ao dir. penal comum, há como lei básica o Código de
Processo Penal (Decreto-Lei n.º 3.689, de 3-10-41), bem como suas respectivas alterações e as leis extravagantes, tais como a Lei de Crimes Ambientais (Lei n.º 9.605/98), a Lei Antitóxicos (11.343/06 – art. 33 - tráfico). Qto. às leis processuais das jurisdições especiais temos o Decreto-Lei n.º 1.002, de 21/10/69 (Código de Processo Penal Militar) e a Lei n.º 4.737, de 15/07/65 (Código Eleitoral).
Também são fontes diretas as leis (Códigos) de organização
judiciária, federais e estaduais, que tratam da nomeação, investidura e atribuições dos órgãos jurisdicionais.
Ler art. 1º, I, do CPP:
Tratados: acordos assinados entre países em assuntos de natureza política, incluindo-se os da repressão aos ilícitos penais. (Ex: não proliferação de armas químicas e/ou biológicas, julgamento de crimes de guerra). Convenções: têm natureza privada. Regras de dir. internacional: são princípios induzidos das leis internas dos Estados civilizados ou inferidos de convenções internacionais ou afirmados na doutrina ou proclamados em congressos. Pela CF (art. 84, VIII), compete ao Pres. da República celebrar tratados, convenções e atos internacionais, que estão sujeitos a referendo do Congresso Nacional. O CPP dá a todos estes o mesmo valor da lei, inclusive afastando esta quando os contraria. O costume: trata-se de regra de conduta praticada de modo geral, constante e uniforme, com a consciência de sua obrigatoriedade. Embora não esteja mencionado no art. 3º do CPP (que fala da analogia e dos princípios gerais do direito), é referido no art. 4º da Lei de Introdução às normas do Dir. Brasileiro, para ser usado em especial na lacuna da lei Desde que não afete a liberdade ou qualquer dos interesses dos sujeitos processuais nem contrarie os fins do processo, pode auxiliar na interpretação e mesmo aplicação da norma processual. É o que se tem chamado de “praxe forense”. Ex: substituir, no rito da Lei Antitóxicos, as alegações orais por memoriais (Art. 57 da Lei 11.343/06).
Art. 4º da Lei de Introdução: “Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, os costumes e os princípios gerais de direito”.
Princípios gerais do direito (art. 3º, CPP)
São premissas éticas extraídas da legislação e do
ordenamento jurídico em geral, podendo suprir lacunas e omissões da lei, uma vez adaptados às circunstâncias do caso concreto. Ex: princípios da liberdade (ir e vir), igualdade, etc.
Um princípio geral de direito pode eventualmente tornar-se lei.
Ex: non bis in idem (Não duas vezes no mesmo). Art. 110, § 2º, CPP e 95, V, CPP.
Analogia (art. 3º, CPP)
Processo de integração da norma jurídica escrita por meio
do qual, diante do silêncio da lei sobre determinada situação, se utiliza outro preceito legal que rege situação semelhante. Ex: Admitir recurso em sentido estrito na hipótese de indeferimento de requerimento de prisão temporária ou sua revogação. (Art. 581, V, CPP).
Só pode ser aplicada na lacuna involuntária da lei, sendo
necessário que haja igualdade de valor jurídico e de razão entre ambas as situações.
É regra basilar do Dir. Penal que não se permite analogia in
malam partem (maléfica) ao réu, mas somente in bonam partem (benéfica). Não existe essa proibição da analogia in malam partem no DPP.