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Primeira Aula - TEORIA DO CRIME –

Fonte: direitopenaleprocessualpenal1.jpeg

Direito Penal: Definição:

O Direito Penal é um ramo do Direito Público que regula o poder punitivo


do Estado.

Para José Frederico Marques, “é o conjunto de normas que ligam ao


crime, como fato, a pena como consequência, e disciplinam também as
relações jurídicas daí derivadas, para estabelecer a aplicabilidade das
medidas de segurança e a tutela do direito de liberdade em face do poder
de punir do Estado” 1.
Para Von Liszt, Direito Penal é o conjunto das prescrições
emanadas do Estado que ligam ao crime, como fato, a pena como
consequência2.
Para o autor André Estefan, o Direito Penal é o ramo do Direito que
se encarrega de regular os fatos humanos mais perturbadores da vida
social, definindo-os quanto à sua extensão e consequências, de modo a

1
Apud Bittencourt. Cezar Roberto. Tratado do Direito Penal. Vol I. Saraiva. 2023
2
Tratado de derecho penal, t. 1, p. 1.
assegurar, por meio da aplicação efetiva de suas prescrições, a garantia
da vigência da norma e as expectativas normativas.3
O Direito Penal Brasileiro é regido especialmente pelo Código Penal e pela
legislação especial penal, além de outros dispositivos normativos que também
compõem o acervo penalista brasileiro.

O Código Penal (Decreto-Lei nº 2.848, de 7 De Dezembro de 1940)


foi divido em 2 partes: a Parte Geral e a Parte Especial.

Função do Direito penal

Francesco Carrara diz que a função específica do Direito Penal é a tutela


jurídica.

O Direito Penal visa proteger os bens jurídicos.

Bem é tudo aquilo que pode satisfazer as necessidades humanas.

Todo valor reconhecido pelo Direito torna-se um bem jurídico. Ex: vida,
patrimônio, integridade física, liberdade individual, liberdade sexual e etc.

Os bens jurídicos são ordenados em hierarquia.

O Direito Penal visa a proteger os bens jurídicos mais importantes, os mais


relevantes, intervindo somente nos casos de lesão de bens jurídicos fundamentais
para a vida em sociedade.

Fontes do Direito Penal.

Definição:

Juridicamente, fonte é o lugar do qual provém a norma de direito.

Fonte do Direito Penal é, pois, aquilo de que ele se origina, no dizer de


Magalhães Noronha4

Fonte é o que origina a norma jurídica. É o que se exterioriza o Direito


Penal.

As fontes das normas penais são classificadas da seguinte forma:

3
Direito Penal. Vol 1. Ed Saraiva.2024
4
Direito Penal. Vol 1 São Paulo. Ed Saraiva. 1980
a) quanto ao sujeito que cria a norma (fonte material ou de
produção)
b) quanto ao modo em que esta se manifesta (fonte formal ou de
conhecimento).

As fontes do direito penal dividem-se:

A. Materiais ou de produção: são os órgãos do Estado que podem


produzir as leis penais. No Brasil, como se adota o princípio da legalidade,
apenas admite-se que a União, por meio do Congresso Nacional, crie leis
penais (art. 22, inc. I, da Constituição Federal).

B) Formal ou de conhecimento: são as formas como o direito penal se


expressa dentro da sociedade.

As fontes formais dividem-se:

a) Fonte formal imediata: é a lei, isto é, aprovada pelo Congresso


Nacional e sancionada pelo Presidente da República. É proibida criação de
crimes através de Medida Provisória.

b) Fonte formal mediata: são os costumes, os princípios gerais de direito


e a analogia. São formas de integração da lei e por isso utilizadas quando
existe uma lacuna na lei penal permissiva ou explicativa. Não se admite
que por meio de costumes, princípios gerais de direito e analogia sejam
criados os crimes.

 Costumes: trata-se de um comportamento social reiterado, cujos


membros da comunidade entendem ser obrigatório, mesmo não
estando prescrito em lei.

 Princípios gerais de direito: são normas jurídicas implícitas que


decorrem dos valores que são tutelados pelo ordenamento jurídico.
Ex: aborto dos anencéfalos não é permitido expressamente pelo
Código Penal, mas por meio dos princípios gerais de direito, que
protegem a vida humana digna, é possível autorizá-los, mesmo sem
expressa disposição legal. Os princípios gerais do direito somente
podem ser aplicados às normas penais permissivas e explicativas.
 Analogia: consistente em estender os limites de uma norma penal
permissiva ou explicativa para abranger situação não expressamente
prevista na descrição da aludida norma, mas que lhe é semelhante,
isto é, tem a mesma razão jurídica.

DA LEI OU NORMA PENAL: FONTE FORMAL IMEDIATA:

A lei é a única fonte imediata de conhecimento.

Como diz Mezger, só a lei abre as portas da prisão. Comumente,


usa-se o termo norma para exprimir toda categoria de princípios legais.

Como veremos, a norma penal está contida na lei penal.

Lei e norma são conceitos distintos. A lei corresponde ao enunciado


legislativo e a norma refere-se ao comando normativo implícito na lei.

Assim, por exemplo, no art. 121 do CP, a lei penal é “Matar alguém.
Pena – reclusão, de seis a vinte anos”. A norma penal, por outro lado, é
“não matarás”.

Norma Penal

A norma penal pode ser entendida em sentido estrito ou amplo.


No sentido amplo a norma penal é aquela que define um fato
delituoso, impondo inclusive uma pena, mas também é a que amplia o
sistema penal através de princípios gerais sobre os limites e aplicação de
normas incriminadoras.
No sentido estrito, a norma penal é aquela que descreve uma
conduta ilícita, impondo uma sanção ao agente.
A norma penal descreve uma conduta ilícita e a sanção que é
aplicada a este.
Em toda norma penal incriminadora há o preceito primário e o
preceito secundário.
No preceito primário, entendemos ser o comportamento ilícito,
enquanto o secundário, é a sanção ou penalidade que se associa àquela
conduta.

As normas penais são classificadas em:

1.. normas penais incriminadoras;


2.. normas penais permissivas;
3.. normas penais complementares ou explicativas.

Tanto as normas penais permissivas como as explicativas ou


complementares são denominadas não incriminadoras.

Normas penais incriminadoras: são aquelas que descrevem condutas


puníveis e impõem as respectivas sanções. Ex: artigos 121, “caput” e art
155 Código Penal .

Homicídio simples
Art. 121. Matar alguem:
Pena - reclusão, de seis a vinte anos.

Furto
Art. 155 - Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel:
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.

Normas penais permissivas: são aquelas que apresentam uma causa de


licitude ou a impunibilidade de determinadas condutas, embora estas sejam
típicas em face das normas incriminadoras. Ex: arts. 20 a 27, 28, parágrafo
segundo e artigo 128 todos do Código Penal (que tal ler estes artigos?).
Nesses casos, mesmo que o agente pratique um fato delituoso, o
ordenamento jurídico, permite, dependendo da situação, que ele tome
aquela determinada atitude. Ex: legítima defesa (art 25 do Código Penal)

Aborto necessário:

Art. 128 - Não se pune o aborto praticado por médico:


I - se não há outro meio de salvar a vida da gestante;
Aborto no caso de gravidez resultante de estupro
II - se a gravidez resulta de estupro e o aborto é precedido de
consentimento da gestante ou, quando incapaz, de seu representante legal.
Normas penais complementares ou explicativas: são aquelas que
esclarecem o conteúdo das outras, ou delimitam o âmbito de sua aplicação.
São exemplos de normas exemplificativas os artigos 4° , 5° , 7° , 10 a 12,
33, 327 e outros todos do Código Penal:
Ex:
“Art. 327 - Considera-se funcionário público, para os efeitos penais,
quem, embora transitoriamente ou sem remuneração, exerce cargo, emprego
ou função pública”.

Características das leis penais.

A lei penal pode ser:

Exclusiva: somente ela define infrações e comina penas. Os costumes e os


princípios gerais de direitos não podem criar crimes e impor sanções.
Imperativa: penaliza aquele que descumpre o seu mandamento. Assim, ela
é obrigatória.
Geral: A norma penal atua para todas as pessoas.
Abstrata e impessoal: Não endereça o seu mandamento proibitivo a um
indivíduo em especial, dirigindo-se a fatos futuros. Ela se dirige a todos,
sem distinção.

Norma Penal em Branco.


Foi o autor alemão Karl Binding quem pela primeira vez usou a
expressão “lei em branco” para batizar aquelas leis penais que contêm a
sanctio juris determinada, porém o preceito a que se liga essa consequência
jurídica do crime não é formulado senão como proibição genérica, devendo
ser completado por outra lei (em sentido amplo).

Normas penais em branco são aquelas cuja sanção é determinada,


mas permanece indeterminado o seu conteúdo.
Exemplo: Lei 11.343/06 (Lei de Tóxicos) , pois dependem da
expedição de portarias administrativas, determinando quais as substâncias
que são consideradas como entorpecentes.

Classificação.

As normas penais em branco podem ser:

1. normas penais em branco em sentido lato (geral)


2. normas penais em branco em sentido estrito.

Normas penais em branco em sentido lato : Há homogeneidade de fontes,


pois o complemento da norma é determinado pela mesma fonte formal da
norma incriminadora, ou seja, o órgão que formula o complemento é o
mesmo elaborador da norma penal em branco

Normas penais em branco em sentido estrito : Aqui o complemento está


contido em norma proveniente de outra instância legislativa. Quem elabora
o complemento não é aquele que elaborou a norma penal incompleta.
Ex: Artigo 33 da lei 11.343/06, que define como crime, importar,
exportar, preparar, produzir (...) "substância entorpecente ou que determine
dependência física ou psíquica, sem autorização ou em desacordo com
determinação legal ou regulamentar".

Nos termos do artigo 1º Parágrafo único desta Lei. “Para fins desta
Lei, consideram-se como drogas as substâncias ou os produtos capazes de
causar dependência, assim especificados em lei ou relacionados em listas
atualizadas periodicamente pelo Poder Executivo da União.
Lei penal incompleta

Dá-se o nome de lei penal incompleta, ou lei penal em branco às avessas,


ao fenômeno inverso ao da lei penal em branco, ou seja, àquela lei
determinada no preceito e indeterminada na sanção. A descrição da conduta
típica encontra-se perfeita no preceito primário, ao passo que a sanção não
consta da lei, que faz remissão a outra (ex.: Lei n. 2.889/56, que pune o
crime de genocídio).

Princípios Fundamentais do Direito Penal em Espécie.

Os princípios são normas de primeiro grau diretamente finalísticas, de


natureza principalmente prospectiva e com pretensão de
complementariedade e de parcialidade, cuja aplicação exige uma análise de
correlação entre os efeitos dos comportamentos possíveis para atender ao
estado ideal de coisas.

a. Princípio da legalidade ou da reserva legal.

Previsto no artigo 5° , XXXIX, da Constituição Federal, e no art.


1° do CÓDIGO PENAL. Tais dispositivos assim determinam: "Não há
crime sem lei que o defina; não há pena sem cominação legal."
Assim, através desse princípio verificamos que o crime e a pena
somente podem ser criados por meio de lei.

Verifica-se, ainda, que nosso Código Penal consagra a máxima:


"Nullum crimen, nulla poena sine praevia lege."(não há crime, nem pena
sem lei)

Assim, podemos afirmar que o arbítrio judicial, a analogia, os


costumes e os princípios gerais de direito não podem instituir delitos ou
penas, tarefa essa exclusiva das leis.

b. Princípio da anterioridade da lei.

Os artigos 5° , XXXIX, da CF, e 1° do CÓDIGO PENAL não


trazem somente o princípio da legalidade, mas, também, o princípio da
anterioridade. Entende-se que: "Não há crime sem lei anterior que o defina;
não há pena sem prévia cominação legal."

Assim, para que haja crime e que se possa impor uma determinada
pena, mostra-se necessário que o fato tenha sido cometido depois de a lei
entrar em vigor.

c. Princípio da irretroatividade da lei penal mais severa.

Esse princípio encontra-se previsto no art.5° , XL, da CF, e no


artigo 2° , caput, e parágrafo único do CÓDIGO PENAL. Esses
dispositivos determinam que a lei penal não retroagirá, salvo para
beneficiar o réu.

Assim, podemos dizer que a lei posterior mais severa não poderá
retroagir. Somente lei posterior mais benéfica é retroativa. E mais, a lei
anterior mais benéfica é ultra ativa, uma vez que seus efeitos se projetam
para frente, para o futuro.
d. Princípio da fragmentariedade.

Esse princípio é consequência dos princípios da reserva legal e da


intervenção mínima (necessária).

O direito penal, não protege todos os bens jurídicos. Protege


somente os mais importantes. E mais, dentre os bens protegidos, não os
tutela de todas as lesões. Somente intervém nos casos de maior gravidade,
protegendo um fragmento, uma parte dos interesses jurídicos. Por isso,
afirma-se que o direito penal é fragmentário.

e Princípio da intervenção mínima.

Também conhecido como “ultima ratio”, pressupõe que o Direito


Penal só deve se preocupar com a proteção dos bens mais importantes e
necessários da vida em sociedade.

Procura evitar a definição desnecessária de crimes e a imposição de


penas injustas, desumanas, cruéis, concluiu-se que a criação dos tipos
delituosos deveria sempre obedecer à imprescindibilidade (necessidade).

Assim, o Estado somente poderá intervir, criando crimes e impondo


penas, quando os demais ramos do direito não lograrem (conseguirem)
prevenir a conduta ilícita.

Estabelece que o Direito Penal só deve atuar na defesa dos bens


jurídicos imprescindíveis à coexistência pacífica das pessoas e que não
podem ser eficazmente protegidos de forma menos gravosa.

Desse modo, a lei penal só deverá intervir quando for absolutamente


necessário para a sobrevivência da comunidade.

Deste modo, somente nos casos mais graves, deve haver a


intervenção estatal. Como já dito, é a ultima ratio.

f. Princípio da lesividade ( ou ofensividade).


Só se aplica o direito penal quando a conduta lesionar um bem
jurídico protegido, sendo insuficiente que seja ela imoral ou pecaminosa.

g. Princípio da insignificância.

Este princípio está ligado aos chamados crimes de bagatela (ou delito
de lesão mínima). Segundo este princípio, o direito penal só deve intervir
nos casos de lesão de certa gravidade, reconhecendo a atipicidade do fato
nas hipóteses de perturbações jurídicas mais leves.

h. Princípio da culpabilidade.

Esse princípio determina que não há crime sem culpa ("nullum


crimen sine culpa").

De fato, a pena somente poderá ser imposta ao sujeito que, agindo


com dolo ou culpa, e merecendo juízo de reprovação, cometeu um fato
típico (descrito como crime) e antijurídico (contrário ao ordenamento
jurídico).

Trata-se de um fenômeno individual. O juízo de culpabilidade (de


reprovação), feito pelo juiz, recai sobre o sujeito imputável que, podendo
agir de maneira distinta, diversa, tinha condições de tomar conhecimento
da ilicitude do fato.

O juízo de culpabilidade que serve de fundamento e medida da pena,


repudia a responsabilidade penal objetiva (aplicação de pena sem dolo,
culpa e culpabilidade).

Exige-se, portanto, no direito penal, sempre a demonstração da


culpa.

i Princípio da humanidade.
Esse princípio vem reconhecido em vários dispositivos legais, dentre
eles, os artigos 1° , III, 5° , III, XLVI e XLVII, LIII, LIV, LV, LVI e LVII,
XLVII, XLVIII, XLIX e L, da CF.

Ainda, a Lei de Execuções Penais determina que o preso somente


perderá o direito à liberdade e não os demais.

Qualquer pessoa deve ser tratada com dignidade, com respeito. Até
mesmo aquele que foi condenado.

j. Princípio da proporcionalidade da pena

Determina que a pena não pode ser superior ao grau de


responsabilidade pela prática do ato delituoso. Assim, deve a pena ser
medida pela culpabilidade do autor. Por isso é que se diz que a
culpabilidade é a medida da pena.

k. Princípio da presunção de inocência

Esse princípio resta previsto no artigo 5°, LVII, da Constituição


Federal, que determina:

"Ninguém será considerado culpado até o trânsito em


julgado de sentença penal condenatória."

Assim, não poderá a pena ser executada enquanto não transitar em


julgado a sentença condenatória. Assim, as medidas próprias da fase
executória somente podem ser tomadas se existir sentença penal
condenatória irrecorrível, ou seja, decisão definitiva da qual não exista
mais recursos.

l. Princípio da igualdade.
Segundo tal princípio, todos são iguais perante a lei (art.1° , caput, da
CF). Assim, não pode haver discriminação em razão de cor raça, sexo,
religião, procedência, etnia, dentre outras.

Os iguais devem ser tratados igualmente, enquanto os desiguais têm


que ser tratados desigualmente, na medida de sua desigualdade. Afinal, só
com o tratamento desigual poderão ser tratados de forma justa e isonômica.

m. Princípio do "ne bis in idem".


Nullum crimen sine culpa. A pena só pode ser imposta a quem,
agindo com dolo ou culpa, e merecendo juízo de reprovação, cometeu um
fato típico e antijurídico.
É um fenômeno individual: o juízo de reprovabilidade
(culpabilidade), elaborado pelo juiz, recai sobre o sujeito imputável que,
podendo agir de maneira diversa, tinha condições de alcançar o
conhecimento da ilicitude do fato (potencial consciência da
antijuridicidade).
O juízo de culpabilidade, que serve de fundamento e medida da pena,
repudia a responsabilidade penal objetiva (aplicação de pena sem dolo,
culpa e culpabilidade).

De acordo com esse princípio, não se admite possa alguém ser


punido duas vezes pelo mesmo fato, pela mesma circunstância.

Assim, ninguém pode sofrer duas penas em face de um único e


mesmo crime, nem processado e julgado duas vezes pela mesma conduta.

n. Taxatividade ou da determinação (nullum crimen sine lege scripta et


stricta)

Diz respeito à técnica de elaboração da lei penal, que deve ser


suficientemente clara e precisa na formulação do conteúdo do tipo legal e
no estabelecimento da sanção para que exista real segurança jurídica. Tal
assertiva constitui postulado indeclinável do Estado de direito material -
democrático e social.
O princípio da reserva legal implica a máxima determinação e
taxatividade dos tipos penais, impondo-se ao Poder Legislativo, na
elaboração das leis, que redija tipo penais com a máxima precisão de seus
elementos, bem como ao Judiciário que as interprete restritivamente, de
modo a preservar a efetividade do princípio.

o. Princípio da pessoalidade da pena (da responsabilidade pessoal ou


da intranscendência da pena)

Impede-se a punição por fato alheio, vale dizer, só o autor da


infração penal pode ser apenado (CF, art. 5°, XLV). Havendo falecimento
do condenado, a pena que lhe fora infligida, mesmo que seja de natureza
pecuniária, não poderá ser estendida a ninguém, tendo em vista seu caráter
personalíssimo, quer dizer, somente o autor do delito é que pode submeter-
se às sanções penais a ele aplicadas.

Todavia, se estivermos diante de uma responsabilidade não penal,


como a obrigação de reparar o dano, nada impede que, no caso de morte do
condenado e tendo havido bens para transmitir aos seus sucessores, estes
respondem até as forças da herança. A pena de multa, apesar de ser
considerada agora dívida de valor, não deixou de ter caráter penal e, por
isso, continua obedecendo a este princípio.

p. Princípio da adequação social

Apesar de uma conduta se subsumir ao modelo legal não será tida


como típica se for socialmente adequada ou reconhecida, isto é, se estiver
de acordo da ordem social da vida historicamente condicionada. Outro
aspecto é o de conformidade ao Direito, que prevê uma concordância com
determinações jurídicas de comportamentos já estabelecidos.

ANALOGIA.

A analogia consiste em aplicar a uma hipótese não prevista em lei a


disposição relativa a um caso semelhante.

O legislador, por meio da lei A, regulou o fato B. O julgador precisa


decidir o fato C. Procura e não encontra no direito positivo uma lei
adequada a esse fato. Percebe, porém, que há pontos de semelhança entre o
fato B (regulado) e o fato C (não regulado). Então, mediante a analogia,
aplica ao fato C a lei A.
"A analogia consiste em aplicar a uma hipótese não prevista em lei a
disposição relativa a um caso semelhante." (Damásio E. de Jesus)
É uma forma de auto integração da lei, com objetivo de suprir
lacunas existentes. Não há, na hipótese, uma ampliação do texto da norma,
como ocorre na interpretação extensiva, que já estudamos, mas, sim, a
mesma disposição legal é aplicada a casos semelhantes não previstos.

Analogia não é fonte do Direito Penal, mas uma forma de integração


da lei. Assim, de acordo com o art. 4º da lei de Introdução ao Código Penal,
na presença de uma lacuna de ordenamento jurídico, deve o juiz decidir o
caso de acordo com a analogia, os costumes e os princípios gerais de
direito.

Dessa forma, se aplica quando nos encontramos diante de uma


lacuna, ou seja, uma hipótese não regulada por lei. Assim, uma vez
existente a lacuna, fazendo o uso da analogia, pode-se aplicar disposição
relativa a um caso a outro semelhante.

No entanto, em se tratando do Direito Penal, onde impera o


princípio da anterioridade e da reserva legal, que estabelecem a
obrigatoriedade de Lei anterior (em sentido formal) para que um fato seja
considerado criminoso, a ideia da aplicação de analogia para suprir uma
lacuna na Lei parece um tanto estranha.

Imagine, uma vez que o artigo 1º do Código Penal brasileiro dispõe


que “Não há crime sem lei anterior que o defina. Não há pena sem prévia
cominação legal” como poderíamos aplicar a analogia em hipótese de
lacuna? Assim, é necessária a existência de uma lei específica, que passou
pelo devido processo legislativo constitucional, para a tipificação de uma
conduta como crime. No caso da falta dessa lei, não há crime. Então, se não
existe Lei, não existe crime. Não há espaço para analogia aqui.

Segundo Damásio E. de Jesus (Direito penal: parte geral 23ª. ed.,


São Paulo: Saraiva, 2020, v. I, p. 43), para que seja permitido o recurso à
analogia exige-se a concorrência dos seguintes requisitos:

1. que o fato considerado não tenha sido regulado pelo legislador;


2. que tenha o legislador regulado situação que oferece relação de
coincidência, de identidade com o caso não regulado;

3. que o ponto comum entre as duas situações constitua o ponto determinante


na implantação do princípio referente à situação considerada pelo julgador.

- analogia legal (ou analogia legis); atua quando o caso não previsto é
regulado por um preceito legal que rege um semelhante:

- analogia jurídica (ou analogia juris): ocorre quando de aplica, à espécie


não prevista em lei, um preceito consagrado pela doutrina, pela
jurisprudência ou pelos princípios gerais de direito.

A analogia pode ser:

1. Legal ou “legis”: existe uma norma penal específica que será aplicada
para um caso semelhante.

2. Jurídica ou “juris”: muito embora não existe uma norma penal


específica, há princípios gerais de direito que podem ser estendidos para
casos semelhantes.

3. “In bonam partem”: é a analogia em favor do sujeito ativo para


beneficiá-lo, quer evitando a punição, quer minorando a sanção. É
admitida no direito penal brasileiro.

4. “In malam partem”: é a analogia em desfavor do sujeito ativo. É


utilizada para prejudicá-lo, quer criminalizando um fato, quer aumentando
a pena. Não é admitida em direito penal, que não admite analogia de
normas penais incriminadoras.

No direito penal, só é possível o emprego da analogia “in bonam


partem”
DIREITO PENAL OBJETIVO E SUBJETIVO

DIREITO PENAL OBJETIVO: É o próprio ordenamento jurídico. É o


corpo de normas jurídicas destinado ao combate a criminalidade,
garantindo a defesa da sociedade (definem as infrações penais e
cominam as sanções penais)

DIREITO PENAL SUBJETIVO: É o direito de punir do estado (ius


puniendi), ou seja, o direito do estado de aplicar as normas penais
(proporcionalidade).

DIREITO PENAL COMUM E ESPECIAL

A denominação direito penal comum e direito penal especial é


utilizada para designar, de um lado, o Direito Penal aplicável pela justiça
comum a todas as pessoas, de modo geral, e, de outro, um setor do Direito
Penal que se encontra sob uma jurisdição especial e, por conseguinte,
somente rege a conduta de um grupo determinado de sujeitos.

Direito penal comum: A aplicação incumbe à justiça comum, funda-se no


Código Penal e nas diversas leis penais especiais, como a Lei de Drogas
(Lei n. 11.343/2006), o Estatuto do Desarmamento (Lei n. 10.826/2003), o
Código de Trânsito (Lei n. 9.503/97) etc.

Direito penal especial: A aplicação fica sob responsabilidade da justiça


especializada, em nosso país, ao Direito Penal Militar. Assim, cumpre à
justiça militar aplicar as normas contidas no Código Penal Militar
(Decreto-Lei n. 1.001/69)

DIREITO PENAL SUBSTANTIVO E ADJETIVO

Direito penal substantivo ou material é sinônimo de direito penal


objetivo, ou seja, conjunto de normas (princípios e regras) que se ocupam
da definição das infrações penais e da imposição de suas consequências
(penas ou medidas de segurança).

Direito penal adjetivo ou formal corresponde ao direito processual penal.


INTERPRETAÇÃO DA LEI PENAL.

Segundo Damásio de Jesus, na obra Código Penal Anotado:


"Interpretar é retirar o significado e a extensão de uma norma em
relação à realidade. É a operação lógico-jurídica que visa à descoberta da
vontade da lei, em função de todo o ordenamento e das norma superiores,
afim de aplicá-las aos casos concretos da vida real."
O ato de interpretar é necessariamente feito por um sujeito que,
empregando determinado modo, chega num resultado.

Espécies de interpretação.

a.. Quanto ao sujeito que efetua a interpretação, pode ela ser:

1. autêntica; é aquela realizada pelo próprio legislador, provém


do próprio órgão de que a lei emana. Pode ser contextual ou posterior.
A interpretação contextual é aquela realizada pelo legislador no
próprio texto da lei. Ex é o conceito de funcionário público contido no
art.327 do CP.
Art. 327 - Considera-se funcionário público, para os efeitos penais,
quem, embora transitoriamente ou sem remuneração, exerce cargo, emprego
ou função pública.
§ 1º - Equipara-se a funcionário público quem exerce cargo, emprego
ou função em entidade paraestatal, e quem trabalha para empresa prestadora
de serviço contratada ou conveniada para a execução de atividade típica da
Administração Pública.

2.. doutrinária; É a feita pelos escritores de direito, em seus


comentários.

3.. judicial. É aquela que deriva dos órgãos judiciários (juízes e


Tribunais). Tal interpretação não tem força obrigatória, senão para o caso
concreto.
b.. Quanto aos meios empregados, a interpretação pode ser:

1.. gramatical, literal ou sintática; O interprete considera o sentido


literal das palavras.
2.. lógica ou teleológica: O interprete perquiri a intenção objetivada
na Lei. Por exemplo, o artigo 319-A do Código Penal dizem:
Art. 319-A. Deixar o Diretor de Penitenciária e/ou agente público,
de cumprir seu dever de vedar ao preso o acesso a aparelho telefônico,
de rádio ou similar, que permita a comunicação com outros presos ou
com o ambiente externo.
Pena: detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano

c. Quanto ao resultado.

O intérprete, após empregar os meios estudados, chega a uma


conclusão, a um resultado interpretativo. Esse pode ser declarativo,
extensivo ou restritivo. Pode a interpretação ser classificada em:
1.Interpretação declarativa. Quando a lei reflete exatamente a sua
vontade.
Ex: o inciso II, do Artigo 141, que diz que as penas serão
aumentadas se o fato for cometido na presença de várias pessoas.
Assim, podemos concluir que o número mínimo de pessoas
exigido para a configuração serão necessárias ao menos três pessoas,
porque sempre que a lei se contenta com duas pessoas, o faz expressamente
( como por ex. o artigo 150, parágrafo primeiro, do CP).

2. Interpretação restritiva. Quando a linguagem da lei diz mais do que


o pretendido pela sua vontade e assim dá ensejo à interpretação restritiva,
que restringe o alcance das palavras da lei até o seu real significado. Ex: o
artigo 28, I e II, determina que a emoção, a paixão ou a embriaguez
voluntária ou culposa não excluem a imputabilidade, respondendo o sujeito
pelo crime praticado.

3. Interpretação extensiva: Ocorre quando o texto legal diz menos do que


queria dizer, devendo, pois, ser aplicado. Ex: artigo 235 do CP, que
incrimina a bigamia. Incabível que uma pessoa se casasse duas vezes, mas
fosse permitido casar-se três. Assim, entende-se, através da interpretação
extensiva, que o artigo abrange também a poligamia.

BIBLIOGRAFIA

BITENCOURT, Cezar. Roberto. Tratado de direito penal: parte geral. 30ª ed. São
Paulo: Saraiva,2023 ( e-book)
ESFEFAN, André, Direito Penal. Vol 1. Ed Saraiva.2024
GRECO, Rogério. Curso de Direito penal: parte geral. 23ª . ed. Niterói:
Impetus, 2023 ( e-book)
JESUS, Damásio, D. e André ESTEFAM. Direito Penal 1 - parte geral.
Disponível em: Minha Biblioteca, Editora Saraiva, 2023.
NUCCI, Guilherme Souza, Curso de Direito Penal: Parte Geral - Arts. 1º a 120
do Código Penal (Volume 1), Forense, São Paulo, SP, 2023.

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