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Introdução ao Direito 1

Direito
Conjunto de normas jurídicas de conduta social tendo em vista a paz, a justiça e o bem comum.
As características do Direito são a generalidade e a abstracção.

Classificação das fontes do Direito


Previstas nos artigos 1º a 4º do C.C.
 Lei (norma jurídica que provem dos órgãos estaduais competentes e se impõe a todos os cidadãos)
 Jurisprudência (Conjunto de decisões dos tribunais)
 Doutrina (Livros, conjunto de opiniões de juristas conceituados)
 Costume (pratica reiterada, repetida muitas vezes mas pode não ser habitual)
 Normas corporativas (normas impostas por organismos representativos de cooperações, no
domínio das suas atribuições)
 Equidade (aplicar a lei caso a caso)

Fontes imediatas
 Lei
 Normas corporativas

Fontes mediatas
 Doutrina
 Jurisprudência
 Costume

Costume
O costume, como fonte do Direito, é a prática social constante e reiterada, acompanhada do sentimento ou
convicção da obrigatoriedade desse comportamento por corresponder a uma norma jurídica. Ou seja, as
pessoas que seguem aquele comportamento fazem-no pela convicção de que tal corresponde a uma
norma de conduta, cuja violação gerará a aplicação de uma qualquer sanção. É precisamente esta
convicção da obrigatoriedade jurídica que permite distinguir o costume (em sentido jurídico) dos “meros
usos”.
Trata-se, portanto, de uma regra que, ao contrário da lei, não é ditada por um órgão estatal, com poder
político, mas antes resulta de um uso geral e prolongado e da convicção generalizada de tal prática, nas
relações sociais, é obrigatória.
O costume ainda figura entre as fontes do Direito, dado que o art.º3º do CC determina que “os usos que
não forem contrários aos princípios da boa-fé são juridicamente atendíveis quando a lei o determine”.

Equidade
De acordo com o art.º4º do CC, a equidade também tem valor nas fontes do Direito, é o aplicar a lei caso a
caso, sendo o correcto, o mais próximo possível do justo para as duas partes.
As partes têm de concordar, fonte mediata do Direito.
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Poderes do Estado
 Poder legislativo: do exercício emerge a lei.
 Poder executivo: consubstancia o poder administrativo.
 Poder Judicial: aplicação da lei (tribunais).
Elaboração de uma lei
Conforme alínea c) do art.º 161º da CRP, compete à Assembleia da República elaborar as leis, de
seguida:
1. Iniciativa legislativa: nos termos do nº1 do art.º 167º da CRP, cumpre aos deputados, aos grupos
parlamentares, através de projecto de lei, ao Governo, por via de proposta de lei e, ainda a grupos de
cidadãos eleitores;
2. Discussão e votação: nos termos do art.º 168º da CRP;
3. Promulgação ou veto: nos termos do art.º 136º da CRP, é acto do qual o Presidente da República
declara determinado diploma, passando a valer como lei.
4. Publicação: é o meio de levar a lei ao conhecimento geral dos indivíduos, sendo a partir dai que a
lei tem existência jurídica, nos termos do art.º 119º da CRP, tal como podemos verificar nos termos do art.º
5º do C.C.
Entrada em vigor:
Com a publicação completam-se todos os requisitos para a entrada em vigor da lei, mas entre a
publicação e a data da entrada em vigor da lei há sempre um período de tempo, o qual se designa por
vacatio legis.
Conforme o nº2 do art.º5 do CC, entre a publicação e a vigência da lei decorrerá o tempo que a própria lei
fixar ou, na falta de fixação, o que for determinado em legislação especial. Assim, o art.º 2 da Lei nº 74/98
de 11 de novembro:
Normas jurídicas
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Imperativo de conduta, que coage com os sujeitos a se comportarem da forma por ela esperada e
desejada.
Norma específica: norma fundamental como norma de reconhecimento.
Em sentido amplo (todas as normas jurídicas)
Em sentido restrito (só diplomas da Assembleia da República)
 Imperatividade
Impõe um comportamento: respeito e não ofensa da personalidade física ou moral dos indivíduos. (através
de um comando ou uma ordem)
 Generalidade
Visa uma pluralidade de pessoas: os indivíduos.
 Abstracção
Contempla um conjunto de situações genéricas: qualquer ofensa ilícita ou ameaça de ofensa.
 Coercibilidade
Imposição coactiva de sanções: responsabilidade civil e providências adequadas às circunstâncias do
caso, com o fim de evitar a consumação da ameaça ou atenuar os efeitos da ofensa já cometida. (Pode
recorrer ao uso da força)

A imperatividade é diferente de coercibilidade. Normas jurídicas são imperativas ainda que algumas sejam
permissivas. Mais importante do que a imperatividade de norma é a coercibilidade. Ainda que sejam
diferentes são comuns à norma jurídica.
Outra característica é a alteridade disciplinar, a conduta de vários homens e não isolada.
São também as normas jurídicas gerais e abstractas.
As normas jurídicas dirigem-se ao nosso comportamento externo e por isso não se pode abusar nem
condenar ninguém só pelo pensamento ainda que estes possam ser reprovados.
Concluindo só os objectivos externos a materialização desses pensamentos em actos são a alma do
Direito e da norma Jurídica. Podemos ainda considerar a estalidade, ou seja, todo o Direito está direto ou
indirectamente ligado ao estado sendo que o direito privado e o direito internacional público, não têm esta
característica, devemos ter em consideração as normas internas das associações, sendo normas
específicas para eles.

Direitos indisponíveis
Personalidade jurídica = conjunto de direitos e deveres como pessoa humana
Art.º 66º CC (começo da personalidade)

Interpretação da Lei
Art.º 9º CC
A interpretação da lei consiste em fixar o sentido e o alcance com que ela deve valer, ou seja, consiste na
determinação do sentido exato com que a lei deve ser aplicada.
Técnica da interpretação: Hermenêutica.
Formas de interpretação
Interpretação autêntica e doutrinal
 Autêntica
É a que é feita por lei de valor igual ou superior (na hierarquia das leis) (literal)
 Tribunais (judicial)
Só tem valor vinculativo no processo em si (jurisprudência)
Interpretação subjectivista e objectivista
 Subjectivista
Quando se procura reconstituir o pensamento concreto, real do legislador
 Objectivista
Quando se procura determinar o sentido da lei em si, desligando da pessoa ou pessoas que a fizeram
Interpretação histórica e actualista
 Histórica
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Procura o sentido que a lei tinha quando foi feita
 Actualista
Procura fixar o sentido que a lei tem no momento da sua aplicação

Elementos da interpretação
Elemento Literal: ponto de partida
Elemento Lógico: lógica do sistema
Elemento Teleológico: objectivo da lei (ratio legis)

Interpretação
Interpretação declarativa (menos duvida nos suscita)
 Quando o sentido ou declarado na lei corresponde ao pensamento legislativo.

Interpretação extensiva (obrigados a estender a letra da lei).


 É quando a letra da lei fica aquém do que se pretendia dizer (diz menos).
Interpretação restritiva
 É aquela que o legislador construiu um texto atraiçoando o seu pensamento, que disse mais do que
pretendia dizer.

Interpretação enunciativa
 É aquela que o intérprete deduz uma norma num sentido que na norma está virtualmente contido.

Interpretação ab-rogante/revogatória (não tem a mínima correspondência com a finalidade que se


pretendia)
 Quando a fórmula utilizada pelo legislador não conseguiu aludir com clareza à minimidade que
pretende.

Argumento a contrário
 Quando certa norma é excepcional, conclui-se que a regra geral é contrária.

Lacunas da Lei
Art.º 10º CC
Diferente de interpretação, a integração de lacunas consiste em encontrar uma norma aplicável a um caso
jurídico não previsto nas leis, pois, como resulta do nº1 do art.º8 do CC, os Tribunais não podem abster-se
de julgar invocando a falta de obscuridade da lei.
Na falta da lei, o Tribunal terá de julgar suprindo a falta de norma, ou seja, havendo uma lacuna jurídica,
descobrindo ou criando norma aplicável à situação concreta: é nisto que consiste a integração de lacunas
da lei.
A lacuna jurídica é, portanto, a falta de norma jurídica para regular o caso que necessita de
regulamentação, é uma omissão da lei, pelo que, nos termos do art.º10º do CC, o Tribunal dispõe de
certos métodos de criação da norma (omissa).
O primeiro expediente a que se deve recorrer é à analogia, isto é, deve procurar no ordenamento jurídico
uma norma aplicável a situações análogas, casos em que a razão de decidir no caso omisso e no caso
previsto é a mesma, como resulta do disposto do nº2 do art.º10 do CC.
Isto significa que, não se encontrando na lei uma norma que regule a relação social em causa (omissa),
procura-se no Direito objectivo uma norma que discipline um caso semelhante (embora diferente),
aplicando-a ao caso omisso – é a analogia legis.
O intérprete recorre, assim, aos vários elementos da interpretação lógica para aplicar a norma por
analogia.
Porém, pode acontecer que não haja norma análoga, pelo que a resolução do caso em litígio (desprovido
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de lei) passa pela aplicação de uma “norma que o próprio intérprete criaria, se houvesse de legislar dentro
do espírito do sistema” nº3 do art.º10º do CC.
Significa portanto, que, não se descobrindo casos análogos, a lacuna será suprida com uma norma que o
intérprete criaria se estivesse na posição de legislador a regular o caso omisso, atendendo ao espírito e
coerência do sistema, pois, repita-se, a norma faz parte de um todo: o sistema jurídico.

Normas excepcionais
Art.º11º CC
O art.º 11º o quer proibir, não a interpretação (abrange aqui a própria integração das lacunas, obsta a que
se faça aplicação de uma norma excepcional por analogia e em todos os casos).
Não estamos numa interpretação extensiva nem muito menos numa interpretação declarativa, mas a
extensão da lei por analogia, ou a interpretação extensiva analógica.

Personalidade e capacidade jurídica


Art.º66º CC
Conjunto de direitos e deveres por ser pessoa humana. A personalidade é adquirida no momento do
nascimento completo de vida. Essa personalidade cessa com a morte conforme no disposto do nº1 do art.º
68 do CC.
Coisas
Art.º 204º CC
Coisas imóveis: coisas ligadas ao solo com caracter permanente. Registo e escritura ex. Casa.
Art.º205 CC
Coisas móveis: tudo o resto. Só registo ex. Caravana.

Negócio jurídico
É o facto voluntário lícito, assente numa ou mais declarações de vontade dirigidas à produção de
determinados efeitos jurídicos que o ordenamento jurídico reconhece, de um modo geral, em concordância
com a vontade das partes, por exemplo: casamento, compra e venda, empreitada, etc.
Negócio jurídico bilateral (contrato)
É aquele em que há duas ou mais declarações de vontade, de conteúdo diferente ou até oposto.
Negócio jurídico unilateral (contrato)
São aqueles que geram apenas obrigações para uma das partes, como é o caso da doação.

Modalidades da declaração
Artigo 217º CC
Declaração expressa: Compra no momento.
Declaração tácita: Probabilidade de acontecer a compra.

Anulabilidade
Art.º 287 CC
É a forma de invalidade menos grave do negócio jurídico: esse produz efeitos jurídicos se não for anulado
pelas pessoas com legitimidade para o efeito dentro do prazo estipulado legalmente. Ou seja, o negócio
anulável apesar de falta ou vício de um elemento interno ou formativo, produz efeitos jurídicos e é tratado
como válido, enquanto não for julgada procedente uma acção de anulação.

Nulidade
Art.º 286º CC
É a forma de invalidade mais grave, em que o negócio jurídico não produz efeitos jurídicos desde a origem
e que corresponde à violação de uma norma com caracter imperativo.
A nulidade faculta a destruição do negócio a qualquer interessado.
Exercícios 6

1. A lei 30/2017 de 3 de maio que entrou em vigor a 10 de maio diz no seu art.º 7º do CC
o seguinte:
“São nulos os contratos de compra e venda de armas celebrados com menores de 18
anos”.
No dia 7 de maio de 2017 João comprou uma pistola tendo à data 17 anos e celebrando os
seus 18 anos no dia seguinte.
Bento, pai de João decidiu em 11.05.2017 ir à loja e pedir o dinheiro de volta.
Quid Iuris?
 Em relação ao caso apresentado o pai de João não tinha razão no seu pedido porque a lei 30/2017
de 3 de maio só entrou em vigor no dia 11.05.2017, à data da compra pelo João embora este fosse menor
não havia qualquer acto legislativo que o impedisse de fazer esta compra.

2. Lei 30/2017 estabelecia que um menor de idade comprasse armas, cometia um crime
de prisão 2 a 8 anos, lei 13/2010 cometia um crime de prisão 1 a 7 anos para o mesmo
crime.
Qual a pena do João?
 A pena do João podia ser a considerada mais favorável, sendo a lei mais favorável 13/2010.

3. 1º Ministro pede ao Presidente da República uma lei para o dia seguinte pelo telefone
à noite: os menores com 16 anos conduzirem carros.
 O Presidente da República nunca poderia receber o pedido de lei feita pelo 1º Ministro, nem um
pedido feito por telefone.
Esta proposta nunca poderia entrar em vigor pois carecia de formalidade específica, não tem qualquer valor
legal.
Para uma Lei entrar em vigor tem de passar por uma serie de procedimentos os quais passo a explicar:
Conforme alínea c) do art.º 161º da CRP, compete à Assembleia da República elaborar as leis, de seguida:
1. Iniciativa legislativa: nos termos do nº1 do art.º 167º da CRP, cumpre aos deputados, aos grupos
parlamentares, através de projecto de lei, ao Governo, por via de proposta de lei e, ainda a grupos de
cidadãos eleitores;
2. Discussão e votação: nos termos do art.º 168º da CRP;
3. Promulgação ou veto: nos termos do art.º 136º da CRP, é acto do qual o Presidente da República
declara determinado diploma, passando a valer como lei.
4. Publicação: é o meio de levar a lei ao conhecimento geral dos indivíduos, sendo a partir dai que a lei
tem existência jurídica, nos termos do art.º 119º da CRP, tal como podemos verificar nos termos do art.º 5º
do C.C.
Entrada em vigor:
Com a publicação completam-se todos os requisitos para a entrada em vigor da lei, mas entre a publicação e
a data da entrada em vigor da lei há sempre um período de tempo, o qual se designa por vacatio legis.
Conforme o nº2 do art.º5 do CC, entre a publicação e a vigência da lei decorrerá o tempo que a própria lei
fixar ou, na falta de fixação, o que for determinado em legislação especial. Assim, o art.º 2 da Lei nº 74/98
de 11 de novembro.
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4. Imagine um regulamento da CP que prevê que é proibido pernoitar nas estações de
comboio. Abel, depois de intenso dia de trabalho perdeu o comboio e pelas 23h30
adormeceu enquanto aguardava o próximo comboio para casa. Seria aplicado este
regulamento da CP?
 No meu entender sim, será aplicável este regulamento da CP, pois podemos entender como uma
interpretação enunciativa, sobre a qual se deduz ser, uma norma num sentido que nela está virtualmente
contido.

5. Certa disposição na lei de um diploma legislativo prevê divulgação de ideias, que


não tratem em pé de igualdade todos os candidatos eleitorais. Em face desta disposição, a
comissão nacional de eleições aplicou uma coima a uma rádio local, por esta ter
organizado um debate eleitoral excluindo os outros. Quid Iuris?
 Estamos perante uma interpretação revogatória, pois a fórmula utilizada pelo legislador não
conseguiu aludir com clareza à minimidade que pretende.

6. Admita que na Assembleia da República a generalidade dos deputados aprovou uma


lei no âmbito da proteção à infância a qual contém a seguinte disposição: “As mães
solteiras beneficiarão de uma redução de 50% no seu horário de trabalho nos seis meses
subsequentes ao parto; esta lei deverá entrar em vigor no dia 1 de janeiro de 2019. Esta lei
foi, entretanto, promulgada pelo Presidente da República em 31 de janeiro de 2019, mas
dada a inoperância dos serviços administrativos da I.N.C.M. só em 30 de março de 2019 foi
publicada.
Em 19 de fevereiro Amélia candidata-se ao dito subsídio.
a) Poderá Amelia beneficiar do subsídio? Terá a Seg. Social algum argumento para não
o conceder?

b) Poderá Abel, viúvo, e pai de uma criança de 30 dias obter a mesma redução no
horário de trabalho?

c) A mesma pretensão é manifestada por Bernardo, divorciado, e cuja guarda do filho de


três meses lhe foi confiada.

7. Maria, cidadã inglesa decide vir viver para Portimão e aqui inscreveu-se numa
partida de golfe. Após dois dias de provas, não conseguiu obter os resultados que
pretendia e assim impugnou a classificação geral das provas atribuídas pelo júri. Assim
decidiu intentar no Tribunal de Portimão uma acção para que o Tribunal anulasse os
resultados. O juiz do processo decide não julgar a acção porque alega desconhecer as
regras desportivas da modalidade. Concorda?

8. Por deliberação do Conselho de Ministros em 30 de março de 2019 ficou aprovada


uma lei nos termos da qual os menores de idade, desde que tenham 14 anos podem tirar a
carta de condução e conduzir qualquer veículo. Em 10 de abril de 2019 foi esta lei remetida
à Assembleia da Republica para apreciação a qual foi aprovada em 12 desse mês e dada a
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urgência remetida logo para a publicação para que pudesse entrar em vigor nesse mesmo
dia.
 A lei não pode entrar no próprio dia, logo não é possível. E a proposta de lei tem de ser assinada
pelo Presidente da República e carece de uma série de procedimentos desde a elaboração da mesma, a qual
passo a explicar:
Conforme alínea c) do art.º 161º da CRP, compete à Assembleia da República elaborar as leis, de seguida:
5. Iniciativa legislativa: nos termos do nº1 do art.º 167º da CRP, cumpre aos deputados, aos grupos
parlamentares, através de projecto de lei, ao Governo, por via de proposta de lei e, ainda a grupos de
cidadãos eleitores;
6. Discussão e votação: nos termos do art.º 168º da CRP;
7. Promulgação ou veto: nos termos do art.º 136º da CRP, é acto do qual o Presidente da República
declara determinado diploma, passando a valer como lei.
8. Publicação: é o meio de levar a lei ao conhecimento geral dos indivíduos, sendo a partir dai que a lei
tem existência jurídica, nos termos do art.º 119º da CRP, tal como podemos verificar nos termos do art.º 5º
do C.C.
Entrada em vigor:
Com a publicação completam-se todos os requisitos para a entrada em vigor da lei, mas entre a publicação e
a data da entrada em vigor da lei há sempre um período de tempo, o qual se designa por vacatio legis.
Conforme o nº2 do art.º5 do CC, entre a publicação e a vigência da lei decorrerá o tempo que a própria lei
fixar ou, na falta de fixação, o que for determinado em legislação especial. Assim, o art.º 2 da Lei nº 74/98
de 11 de novembro.

9. A fez um testamento em que deixaria à filha mais nova do seu irmão o relógio de
ouro. A morre em julho de 2018 e em janeiro de 2019 nasce mais uma filha do seu irmão. A
quem se dirige este testamento?
 Pode ser a que já era nascida ou a que viria a nascer depois, mas,

10. Alexandre, residente em Portimão, após ter terminado a licenciatura em Direito,


decidiu frequentar o curso na faculdade de Direito na Lusófona, de preparação para o
ingresso no CEJ tendo que tomou de arrendamento ao Chico um apartamento sito em
Cascais mais propriamente em Alcabideche. No respectivo contrato ficou escrito que
Alexandre arrendaria, o r/c ma, enquanto ele atribui esta expressão “o sentido corrente de
andar terril”, Chico como qualquer pessoa da zona de Cascais conferiu-lhe o significado
de 1º andar.
Poderá Alexandre exigir que o contrato valha em relação ao andar terril, ou terá sido
arrendado realmente o referido 1º andar como entendeu Chico?
 Na hipótese em apreço estamos perante um contrato de arrendamento urbano celebrado de entre
Chico e para com Alexandre. No contrato ficou escrito que Alexandre arrendaria o r/c, ou seja, e salvo
melhor opinião jurídica estamos perante uma declaração negocial expressa feita pelo declarante tal como
determina o nº1 do art.º217º do CC, ora o que está em causa é a interpretação da declaração emitidapara
com o Chico, e para tal no caso concreto teremos que aplicar a interpretação da declaração negocial
elencada pela gemada no art.º236º e seguintes do CC. Verificamos através do nº1 do mesmo artigo que
consagra uma protecção para com o declaratário. Ora o Chico poderia deduzir do comportamento de 9
Alexandre e do texto que constitui um contrato de arrendamento do r/c tal como seria apreendido por um
habitante da zona de Cascais.
Parece-nos não existir uma prevalência do sentido objectivo da declaração negocial, pelo que e enquanto
interprete utilizaremos todo um conjunto de regras e princípios da teoria da hermenêutica nupcial não
necessitando de pesquisar a efectiva vontade do declarante. Assim podemos ter em consideração o elemento
subjectivo na medida em que o Alexandre deveria contar com esta interpretação possível que ainda é feita
na zona de Cascais. A hipótese é omissa sobre o facto de saber que Chico tinha conhecimento do outro
sentido que podia ser atribuído à declaração de Alexandre, pelo que não nos parece que este, Alexandre
tenha razão.
Concluindo que somente foi arrendado o 1º andar tal como era o entendimento do Alexandre e o r/c ainda é
propriedade do senhorio.

11. A editora Portimão enviou uma carta a todos os assinantes do Jornal Alvor a fim de
informa-los que a partir do ano 2020 passaria a ser distribuído com a outra revista Alvor
Tour, pelo que a assinatura anual teria um aumento de 20€. Nesse documento a empresa
comunicara que as renovações das assinaturas teriam o novo preço caso o assinante não
desse uma resposta negativa no prazo de 3 meses à revista, porem todos eles recebera
durante 3 meses o jornal e a revista.
Quid Iuris?
 Os leitores não terão que pagar à editora quaisquer revistas, pois há uma ausência de vontade de
manifestar, nada nos revela um valor jurídico à proposta da editora.
Não estamos perante o uso e não foi convencionado entre as partes nada que nos possa indicar que passado
o prazo de 3 meses haja um consentimento tácil por parte dos destinatários ou seja por parte dos leitores.

12. Aníbal e Jacinta casaram no verão de 2010. Não tendo havido escolha do regime de
bens nos termos do art.º 1717º do CC, em outubro de 2016 Aníbal e Jacinta cortaram
relações e pretendem divorciar-se. Aníbal entende que o regime de bens em causa é o
Regime Geral Comunhão de bens, não se considera vinculado ao art.º1717º do CC uma vez
que o art.º1698º atribui aos cônjuges afixarem os bens em convecção anti nupcial. Jacinta
não concorda com Aníbal e entende que é o regime de comunhão de adquiridos.
Quem tem razão?
 Uma das características das normas jurídicas bem como a sua regra é a imperatividade, sendo que
esta traduz-se numa exigência incondicional de aplicação dessas mesmas regras, pelo que podemos afirmar
que todas as regras são imperativas de uma forma categórica e não hipotética. O autor Oliveira Ascensão
refere que nas regras dispositivas encontramos as regras permissivas, selectivas e interpretativas de um
negócio jurídico. Ora no caso em apreço estamos perante a aplicação da norma dispositiva contida no art.º
1717º do CC e como tal existirá uma norma selectiva quando se aplica na ausência de manifestação de
vontade das partes. Desta forma o art.º 1698º do CC é uma regra primitiva que permite os nubentes fixar o
regime de bens em convecção antinupcial. Não tendo Aníbal e Jacinta utilizado a possibilidade que lhes é
atribuída legalmente fixou-se imperativamente o regime selectivo de comunhão de adquiridos. Assim,
podemos concluir que as normas dispositivas são imperativas tal como todas as normas jurídicas.
13. Sandra tem 17 anos de idade e porquê não é grande apreciadora de arte, decide
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vender o quadro de 1 pintor muito conceituado que lhe tinha sido doado pela sua avó, para
convencer o vendedor de uma galeria de que já era maior de idade exibe-lhe o cartão da
prima homónima de 20 anos. No dia que perfaz 18 anos, Sandra arrepende-se do negócio
por si realizado tomando consciência do irreparável prejuízo patrimonial e sentimental que
tal negócio lhe assentava. Quid Iuris?
 Sandra é menor em virtude de ainda não ter atingido os 18 anos de idade conforme dispõe o
art.º122º do CC. A menoridade é uma das incapacidades de exercício de direito, ou seja, os menores não têm
plena capacidade para actuar no mundo jurídico, estabelecer relações jurídicas e fazer parte de negócios
jurídicos uma vez que não podem agir pessoal e livremente mas apenas através dos representantes legais, em
princípio os progenitores exerçam o poder ou a responsabilidade perante os actos praticados pelos menores
sem os seus representantes são em princípio anuláveis nos termos previstos no art.º 125º do CC, sendo que
poderá o próprio menor em regra anular os negócios por si celebrados a partir do momento em que se torna
maior ou emancipado conforme a alínea b) do n.º 1 do art.º 125º do CC “IN FINE”. No entanto, Sandra
usou um artifício apresentando um CC que não lhe pertence para convencer o vendedor da sua maioridade,
ou seja, parece-nos estar perante um acto doloso, por isso jamais podia invocar a deferida alínea b) do n.º 1
do art.º 125º do CC já que o ter actuado dolosamente vem reduzir essa possibilidade pelo comportamento
malicioso previsto no art.º 126º do CC.

14. Makalele mantinha uma relação amorosa com Zinga sem saber que esta era filha de
D Kurrupto, conhecido traficante de droga da ilha de Tocha. Ao tomar conhecimento da
situação Makelele decidiu afastar-se de Zinga de quem entretanto ficara noivo, temendo
que também esta tivesse tendências criminosas. D. Kurrupto ao ver a sua filha
inconsolável disse ao Makelele : “se não casar com sua filha seria melhor ele caminhar
pelas sombras o resto da vida”. Makelele ficou apavorado e decidiu casar com Zinga. Com
tanta felicidade D. Kurrupto sentiu-se mal durante o casamento e morreu com um osso de
frango atravessado na garganta logo após a cerimónia ter terminado. 7 meses depois
Makelele conhece o amor da sua vida, Chica Pintinha. Makelele requer agora a anulação do
casamento com zinga invocando o disposto art.º 255 e 256º do CC atendendo a que a
cessação de vicio a coacção moral que Makelele foi submetido, Makelele considera que
ainda está dentro do prazo de 1 ano a requerer a anulação do casamento. Zinga entende
que a anulação caducou uma vez que o art.º 1645º do CC estabelece um prazo de 6 meses
após a cessação de vício para instaurar a referida acção de anulação. Makelele acrescenta
ainda o art.º 1645º do CC não se encontra em vigor pelo art.º 287º do CC. Quid Iuris?
 Nesta hipótese a questão que se coloca é a de saber qual a norma que regula os prazos de anulação
do casamento quando esta seja fundada em vícios de vontade. Sabendo que estamos perante uma questão
de coacção moral e que passaram 7 meses desde a cessação do vício em causa, se for aplicado o art.º 1645 do
CC invocado pela Zinga, a acção de anulação caducou, se for aplicável o art.º 287º do CC o Makelele pode
requerer essa anulação. Makelele considera que a nova versão do art.º 287º do CC revogou o art.º 1645º do
CC, porem, temos de considerar que o art.º 1645º do CC se reporta à anulação do casamento especificamente
e o art.º 287º do CC se reporta ao regime geral da anulabilidade pelo que concluímos que o art.º 1645º do CC
contém uma norma especial em relação à norma geral contida no art.º 287 do CC. Ora de acordo com o n.º3
do art.º 7º do CC a lei geral não revoga a lei especial no entanto não é correto dizer que a lei especial
derroga, se com isso se pretender afirmar que a lei especial revoga parcialmente a lei geral. Na realidade, se
a lei especial for objecto de uma revogação simples, a lei geral volta a aplicar-se à sub categoria de citações 11
que estavam abrangidas pela lei especial, isto significa que a lei geral não foi revogada pela lei especial.
Assim podemos concluir que de acordo com o n.º3 do art.º 7º do CC no caso em apreço, aplica-se art.º 1645º
do CC e a acção de anulação do casamento caducou como tal somos de opinião que Zinga tem razão, a lei
especial prevalece sob a lei geral.

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