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Licenciatura em Direito
Ano letivo 2020/21
Segundas e Quintas: 842 0253 7775 - 792166
Lisboa
Índice
1. Introdução breve à Unidade Curricular “Direito Constitucional Português”............................4
2. Evolução histórica do Constitucionalismo Português...............................................................4
2.1 O Constitucionalismo Vintista e a Constituição de 1822...................................................4
2.2 O Constitucionalismo Cartista e a Constituição de 1826....................................................5
2.3 O Constitucionalismo Setembrista e a Constituição de 1838.............................................6
2.4 O Constitucionalismo Republicano e a Constituição de 1911............................................6
2.5 O Constitucionalismo Fascizante e a Constituição de 1933...............................................7
2.6 O Constitucionalismo Democrático e a Constituição de 1976............................................9
2.6.1 Transição democrática e partidos políticos.................................................................9
2.6.2 A 1ª Plataforma Constitucional entre o MFA e os partidos políticos..........................9
2.6.3 Os órgãos de soberania de acordo com a 1ª Plataforma Constitucional....................10
2.6.4 O ano de 1975 e a 2ª Plataforma Constitucional.......................................................10
3. Aspetos primordiais da versão original da Constituição de 1976...........................................10
3.1 Princípios fundamentais da versão original da C1976......................................................10
3.2 A organização económica da versão original da C1976...................................................11
3.3 A organização do poder político na versão original da C1976.........................................12
4. As sete revisões constitucionais da Constituição de 1976......................................................14
4.1 A primeira revisão constitucional de 1982.......................................................................14
4.2 A segunda revisão constitucional de 1989.......................................................................15
4.3 A terceira revisão constitucional de 1992.........................................................................15
4.4 A quarta revisão constitucional de 1997...........................................................................15
4.5 A quinta revisão constitucional de 2001...........................................................................15
4.6 A sexta revisão constitucional de 2004............................................................................15
4.7 A sétima revisão constitucional de 2005..........................................................................15
5. Os princípios fundamentais....................................................................................................15
5.1 O princípio do Estado de Direito......................................................................................15
5.1.1 O princípio da dignidade da pessoa humana.............................................................16
5.1.2 O princípio da juridicidade e da constitucionalidade................................................16
5.1.3 O princípio da separação e limitação de poderes......................................................16
5.1.4 O princípio da segurança jurídica e da proteção da confiança...................................17
5.1.5 O princípio da igualdade...........................................................................................17
5.1.6 O princípio da proporcionalidade..............................................................................17
5.2 O princípio do Estado republicano...................................................................................17
5.3 O princípio do Estado laico..............................................................................................17
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5.4 O princípio do Estado democrático..................................................................................18
5.5. O princípio do Estado unitário descentralizado...............................................................18
6. A organização do poder político na versão atual da C1976....................................................18
6.1 Presidente da República...................................................................................................18
6.1.1 A Presidência da República......................................................................................19
6.1.2 O sistema eleitoral....................................................................................................19
6.1.3 O Conselho de Estado...............................................................................................19
6.2 Assembleia da República.................................................................................................20
6.2.1 A composição da Assembleia da República..............................................................20
6.2.2 A Comissão Permanente...........................................................................................21
6.2.3 O sistema eleitoral....................................................................................................21
6.3 Governo da República......................................................................................................21
6.3.1 O Conselho de Ministros..........................................................................................22
6.3.2 O sistema de Governo semipresidencialista..............................................................22
7. O processo legislativo............................................................................................................23
7.1 A competência legislativa da Assembleia da República...................................................23
7.2 A competência legislativa do Governo da República.......................................................23
7.3 A competência legislativa das Assembleias Legislativas Regionais.................................24
7.3.1 A competência legislativa das Assembleias Legislativas Regionais.........................24
7.3.2 Iniciativa estatutária e em matéria eleitoral das Assembleias Legislativas Regionais
...........................................................................................................................................24
7.3.3 Iniciativa legislativa das Assembleias Legislativas Regionais..................................25
7.3.4 Os órgãos de governo próprios e Representantes da República................................25
7.4 O processo legislativo em pormenor................................................................................25
7.5 Atos legislativos...............................................................................................................27
7.5.1 A forma dos atos legislativos....................................................................................27
7.5.2 O valor dos atos legislativos.....................................................................................27
8. A garantia e revisão da Constituição......................................................................................27
8.1 O Tribunal Constitucional................................................................................................28
8.1.1 Os métodos de controlo da fiscalização da constitucionalidade................................28
8.2 Os mecanismos de revisão constitucional........................................................................29
9. Casos práticos.........................................................................................................................30
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1. Introdução breve à Unidade Curricular “Direito Constitucional
Português”
O estudo do Direito prossupõe que situemos sempre os diversos temas através da análise
simultânea de dois aspetos: por um lado, o Direito Comparado para que percebamos qual a
solução jurídica que noutros sistemas é dado para as mesmas questões que estamos a colocar ao
nosso sistema jurídico, e a História do ramo do Direito que estamos a estudar. Sendo assim,
deduz-se que as normas jurídicas não surgem por mero acaso, mas sim, por um lado, devido a
um conjunto de influências externas e, por outro lado, por serem consequentes da própria
evolução social, cultural, histórica, política, económica de cada sociedade em cada momento.
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-» O poder judicial era atribuído aos Juízes.
3) As Cortes eram eleitas por sufrágio, que ao contrário do que previa a C1822, não era
verdadeiramente universal, existindo algumas exceções quanto ao exercício do direito ao voto
(artigo 33º da C1822).
4) Nem todos os cidadãos portugueses podiam ser eleitos (artigo 34º da C1822).
5) A iniciativa direta das leis competia aos representantes da Nação juntos em Cortes (artigo
105º da C1822).
6) Portugal era na época um Estado composto, formando com o Brasil uma união real, ou seja
uma associação de entidades interestaduais que conservam a sua autonomia mas perdem
personalidade jurídico-internacional em favor da união.
- A C1822 teve uma vigência curta devido ao movimento militar absolutista de D. Miguel e de
sua mãe D. Carlota Joaquina, também conhecido como Vilafrancada, o que resultou na
revogação da Constituição até então vigente.
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competência legislativa como a câmara mais alta, está mais próxima do povo, sendo composta
pelos seus representantes, embora, no âmbito da C1826, o sufrágio que levava à sua eleição era
ainda limitado, mas que demonstrava claramente uma intenção democrática. Qualquer Estado
que não tenha estas características, deduz-se que não seja justificativa a existência bicameral de
um órgão legislativo que lhe traga grandes vantagens.
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mas de muito difícil adequação. Não se poderá deixar de mencionar que a vigência desta
Constituição (de 1911 a 1926) foi interrompida pelo golpe sidonista em 1917, instaurando uma
“República Nova” mas que, apesar das grandes esperanças que nutria, não iria ter grandes
resultados, muito devido ao assassinato do Presidente-Rei em 1918.
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-» Exemplos: O direito à vida e à integridade pessoal, apesar de haver tortura, a liberdade de
expressão, apesar de haver censura, etc.
4) A C1933 consagrava a separação de poderes até ao ano de 1959. No ano precedente foram
realizadas eleições presidenciais, no âmbito das quais Humberto Delgado apresentou a sua
candidatura. Essa gerou uma situação de tensão antirregime visto que Humberto Delgado, numa
entrevista, tinha respondido ao jornalista que lhe tinha perguntado o que faria ao Presidente do
Conselho se ganhasse as eleições: “Obviamente demito-o!” Surgiu assim um candidato
presidencial que podia colocar em causa o equilíbrio do regime, reagindo-se desta forma com
uma revisão constitucional para evitar que tal acontecesse. Essa revisão constitucional alterou o
princípio da separação de poderes, passando o Presidente da República a ser eleito pelo regime
em vez de ser eleito pelo povo (alteração dos artigos 72º, n. 1, 81º, n. 1, 82º e 107º da C1933).
5) A C1933, apesar de enunciar que Portugal é uma República (artigo 5º da C1933), recupera
um ideal monárquico, assumindo o Chefe de Estado, ou seja o Presidente da República, os
poderes que eram do Rei na Carta Constitucional de 1826.
6) Existem quatro órgãos de soberania (artigo 71º da C1933):
-» O Chefe de Estado é o Presidente da República, eleito pela Nação (mais tarde eleito pelo
regime) para um mandato de 7 anos. Tem poderes semelhantes aos consagrados ao Rei na Carta
Constitucional de C1826 (artigos 72º, 81º, 106º, n. 1, 107º, 108º, §5 e 111º da C1933) e tem
como órgão de consulta o Conselho de Estado (artigo 83º da C1933).
-» A Assembleia Nacional é o órgão legislativo, cujos membros são eleitos pelos cidadãos
eleitores (artigo 85º da C1933). Nesse artigo pode-se verificar uma remissão para lei especial
no que diz respeito aos requisitos de elegibilidade dos deputados, a organização dos colégios
eleitorais e o processo de eleição, na semelhança do que acontecia com a efetivação das
liberdades individuais dos cidadãos portugueses (§1). Junto desta Câmara existe ainda uma
Câmara Corporativa, o órgão de representação indireta dos cidadãos integrados nas corporações
(artigo 102º da C1933).
-» O Governo é o órgão executivo composto pelo Presidente do Conselho, detentor do poder
no âmbito da C1933, e pelos Ministros (artigo 106º da C1933).
-» Os Tribunais exercem o poder judicial (artigo 115º da C1933). Da C1911, a C1933 iria
tirar a competência atribuída aos tribunais de fiscalizar a constitucionalidade e proibir que eles
apliquem leis que infrinjam a Constituição ou princípios nela consignados (artigo 122º da
C1933).
7) No plano do sistema de governo, a C1933 consagrava um sistema de governo de chanceler,
dado que a concentração de poderes se dava, não no Presidente da República, mas sim no
Presidente do Conselho, detentor das funções executivas e legislativas, e cujos decretos tinham
a mesma força das leis aprovadas pela Assembleia Nacional. Por outro lado, era ele que
substituía o Presidente da República quando este estava impedido de exercer funções.
8) Ao contrário da C1911 que consagrava a responsabilidade dos Ministros perante o Congresso
da República, o responsável político perante a Assembleia Nacional, no âmbito da Constituição
de 1933, era o Presidente do Conselho. Para além disso, verificou-se uma aproximação e
valorização do papel da Igreja, após a Lei da Separação do Estado das Igrejas.
- Foi na vigência da Constituição de 1933 que Portugal participou em diversos conflitos
militares iniciados em 1960 nas então províncias ultramarinas. E é no âmbito desses conflitos
que os militares iriam ganhar protagonismo ao longo da década precedente à revolução de Abril
que acabaria por derrubar o regime ditatorial.
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2.6 O Constitucionalismo Democrático e a Constituição de 1976
Na madrugada de 25 de Abril de 1974, o Movimento das Forças Armadas levam a cabo um
golpe de Estado que visa derrubar o regime ditatorial, substituí-lo por um regime democrático e
acabar com a guerra colonial. Já à noite, os militares comprometem-se na Junta de Salvação
Nacional, que integrava elementos de cada um dos três ramos das Forças Armadas,
nomeadamente o Exército, a Marinha e a Força Aérea e era presidida por António de Spínola, à
realização de eleições para o regresso à democracia em Portugal no prazo de um ano.
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2.6.3 Os órgãos de soberania de acordo com a 1ª Plataforma Constitucional
No âmbito da 1ª Plataforma Constitucional existia a definição de seis órgãos de soberania:
- Presidente da República
- Assembleia da República
- Governo da República
- Assembleia do MFA
- Conselho da Revolução
- Tribunais
Destes seis órgãos, dois serão dos partidos políticos (Assembleia da República e Governo da
República), dois serão dos militares (Assembleia do MFA e Conselho da Revolução), o
Presidente da República será o árbitro que terá o poder moderador no âmbito do sistema político
e os Tribunais que serão politicamente neutros ou nulos.
Preâmbulo
O preâmbulo mantém-se inalterado de 1976 até à atualidade.
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Artigo 2º (Estado democrático e transição para o socialismo)
A República Portuguesa é um Estado democrático, baseado na soberania popular, no respeito e
na garantia dos direitos e liberdades fundamentais e no pluralismo de expressão e organização
política democrática, que tem por objetivo assegurar a transição para o socialismo mediante a
criação de condições para o exercício democrático do poder pelas classes trabalhadoras.
Nestes artigos iniciais é clara, e até assumida, a carga e o projeto político-ideológicos que
foram consagrados para a transição de Portugal rumo ao socialismo/comunismo.
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Constituem direitos das comissões de trabalhadores exercer o controlo de gestão nas empresas.
- Artigo 89º (Setores de propriedade dos meios de produção)
1. Na fase de transição para o socialismo, haverá três sectores de propriedade dos meios de
produção, dos solos e dos recursos naturais, definidos em função da sua titularidade e do modo
social de gestão.
2. O sector público é constituído pelos bens e unidades de produção coletivizados sob os
seguintes modos sociais de gestão:
a) Bens e unidades de produção geridos pelo Estado e por outras pessoas coletivas públicas;
b) Bens e unidades de produção com posse útil e gestão dos coletivos de trabalhadores;
c) Bens comunitários com posse útil e gestão das comunidades locais.
3. O sector cooperativo é constituído pelos bens e unidades de produção possuídos e geridos
pelos cooperadores, em obediência aos princípios cooperativos.
4. O sector privado é constituído pelos bens e unidades de produção não compreendidos nos
números anteriores.
- Artigo 92º, n. 1 (Força jurídica [do Plano])
O Plano tem carácter imperativo para o sector público estadual e é obrigatório, por força de
contratos-programa, para outras atividades de interesse público.
- Artigo 96º (Objetivos da reforma agrária)
A reforma agrária é um dos instrumentos fundamentais para a construção da sociedade
socialista e tem como objetivos […].
- Artigo 105º, n. 1 (Sistema financeiro e fiscal)
O sistema financeiro será estruturado por lei, de forma a garantir a captação e a segurança das
poupanças, bem como a aplicação de meios financeiros necessários à expansão das forças
produtivas, com vista à progressiva e efetiva socialização da economia.
- Artigo 106º, n. 1 (Sistema fiscal)
O sistema fiscal será estruturado por lei, com vista a repartição igualitária da riqueza e dos
rendimentos e à satisfação das necessidades financeiras do Estado.
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exclusivamente por cidadãos eleitos em listas apresentadas por partidos políticos
-» Governo da República: Exerce o poder executivo e é o órgão máximo da Administração
Pública, tendo por função a condução geral da política portuguesa
-» Tribunais: Exerce o poder judicial
-» Conselho da Revolução -» artigos 142º e ss.
Em termos do artigo 114º da versão original da C1976 e do artigo 111º da atual versão do
texto constitucional, os órgãos de soberania estão separados, mas mantêm-se interdependentes,
podendo, por exemplo, o governo legislar, Assembleia demitir o Governo e o Presidente da
República dissolver a Assembleia da República.
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4. As sete revisões constitucionais da Constituição de 1976
Em termos do artigo 286º, a versão original da C1976 estabelecia o seguinte:
“Na II Legislatura, a Assembleia da República tem poderes de revisão constitucional, que se
esgotam com a aprovação da lei de revisão.” Ou seja, em termos do artigo 299º n.1, estabeleceu-
se uma primeira Legislatura que se iniciaria após o período de eleição realizado 30 dias após a
data do decreto de aprovação da Constituição, em dia marcado pelo Presidente da República,
ouvido o Conselho da Revolução e que terminaria, em termos do artigo 299º n. 1, no dia 14 de
Outubro de 1980. Finda a primeira Legislatura, nos termos dos artigos 286º e seguintes, a
Assembleia da República assumiria poderes de revisão constitucional.
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4.2 A segunda revisão constitucional de 1989
- Acréscimo da proteção dos direitos fundamentais dos indivíduos
- Remoção das referências mais vincadas em termos politico-ideológicos (ex. 65º)
- Proteção dos cidadãos relativamente à utilização da informática (20º)
- Remoção da irreversibilidade das nacionalizações ocorridas depois do 25 de Abril, muito
devido à integração de Portugal na, hoje, União Europeia (54º)
- Permissão da realização de referendos nacionais (94º)
5. Os princípios fundamentais
Poder-se-á pensar que os princípios não tenham qualquer relevância em comparação com outras
matérias. Contudo, são eles que estão nas principais decisões do Tribunal Constitucional
Português e dos demais tribunais. Por conseguinte, o conhecimento destes princípios é, pelo
contrário, de uma extrema relevância, podendo-se encontrar ao longo da Constituição.
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-» O princípio da segurança jurídica e proteção da confiança
-» O princípio da igualdade e proporcionalidade
A principal preocupação que se tem quando se refere ao Estado de Direito é a ideia da
necessidade de sujeição do Estado à Ordem Jurídica e ao conjunto de valores e princípios que a
mesma consagra e de limitação da sua ação e poder, necessidade essa que se vai desenvolver
nos seus subprincípios em cima enumerados. Há, no âmbito da CRP, a aceitação de princípios
gerais que se impõe ao próprio Estado e não estão na disponibilidade deste, como é o caso do
artigo 8º, n. 1. Se observarmos, por exemplo, o artigo 1º da Declaração Universal dos
Direitos do Homem de 1948, deparar-se-á que: “Todos os seres humanos nascem livres e
iguais em dignidade e em direitos. Dotados de razão e de consciência, devem agir uns para com
os outros em espírito de fraternidade”. Poder-se-á, por conseguinte, deduzir que este princípio,
consagrado na DUDH, impõe-se ao Estado Português, limitando a sua ação face à pessoa
humana.
Preâmbulo
Artigo 2º da CRP
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5.1.4 O princípio da segurança jurídica e da proteção da confiança
O princípio da segurança jurídica exige que haja clareza e determinabilidade das fontes do
Direito. Ou seja, só há segurança jurídica quando se conhece a Ordem Jurídica e as normas que
são emanadas pelos órgãos competentes para o efeito. Para tal é essencial a publicidade dos atos
no Diário da República, estabelecida no artigo 119º da CRP.
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Artigo 13º, n. 2 da CRP
Artigo 288º, alínea c) da CRP
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6.1.1 A Presidência da República
- O Presidente da República é o Chefe de Estado e o Comandante Supremo das Forças Armadas
e os seus poderes destinam-se a que o mesmo assegure a independência nacional, a unidade do
Estado e o regular funcionamento das instituições democráticas (120º). Para assegurar o regular
funcionamento das instituições democráticas, o Presidente da República, órgão representativo
do Estado Português e do interesse coletivo nacional, tem as devidas competências para poder
dissolver a Assembleia da República (133º, alínea e)) e demitir o Governo (133º, alínea g)),
ouvido o Conselho de Estado.
- O mandato do Presidente da República tem a duração de 5 anos (128º), podendo-se
recandidatar para um segundo mandato, mas não sendo possível a candidatura para um terceiro
mandato (123º). Está em causa o princípio do Estado republicano, mediante o qual se pretende
evitar que os ocupantes de cargos públicos superiores se perpetuem no poder.
- O Presidente da República tem, como já mencionado, o poder moderador, atribuindo-se-lhe
certas competências previstas pela Constituição. Cabe-lhe assim nomear o Primeiro-Ministro,
assim como os restantes membros do Governo sob a proposta do Primeiro-Ministro (133º,
alínea h)). Este tem de informar o Presidente da República sobre os assuntos relativos à
condução política interna e externa do país (201º, n. 1, alínea c)). Cabe também ao Presidente
da República sancionar as leis e os decretos-leis (134º, alínea b) e 136º), podendo ainda suscitar
a ação do Tribunal Constitucional para apreciação sobre a inconstitucionalidade ou não
inconstitucionalidade dos atos legislativos (278º, 281º). Pode também indultar (: perdoar) e
comutar (: atenuar uma pena) as penas, sobre a proposta do Governo (134º, alínea f)). Para além
disso, o Presidente da República não possui responsabilidade política, pois a sua ação não está
sujeita ao controlo de qualquer órgão, nem responsabilidade criminal, a mesma limitando-se aos
crimes praticados no exercício das suas funções quando, por iniciativa da Assembleia da
República, o Supremo Tribunal de Justiça aprecie a sua conduta (130º).
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6.2 Assembleia da República
A Assembleia da República corresponde ao órgão de soberania (110º) representativo de todos
os cidadãos portugueses (147º), integrando um mínimo de 180 e um máximo de 230 deputados
(148º). Compete-lhe promover a acusação do Presidente da República por crimes praticados no
exercício das suas funções (163º, alínea c)), sendo essa acusação apreciada e decidida pelo
Supremo Tribunal de Justiça (130º), aprovar o programa do Governo e aprovar moções de
confiança e moções de censura ao Governo (163º, alíneas d) e e)), o que poderá implicar a
demissão do Governo (192º, 193º, 194º e 195º).
- Os Deputados representam todos os cidadãos nacionais (e não apenas os cidadãos dos círculos
pelos quais foram eleitos) (152º, n. 2). Estão em causa o princípio do Estado unitário
descentralizado e o princípio democrático que implicam que todos os Deputados representam os
interesses da generalidade dos cidadãos, independentemente do sítio em que estes se localizem,
para que não sejam priorizados os interesses dos cidadãos pertencentes aos círculos eleitorais
com maior número de eleitores.
-» A Constituição prevê algumas incompatibilidades e impedimentos no tocante à função de
Deputado (154º), limitando, e cada vez mais, a possibilidade de estes exercerem outras funções.
O conjunto de situações de incompatibilidade e de impedimento com o exercício do mandato de
Deputado à Assembleia da República está elencado nos artigos 20º e 21º do Estatuto dos
Deputados. O grande risco que se coloca no que diz respeito às incompatibilidades e aos
impedimentos da função de Deputado é a possibilidade de se criar uma classe política
profissional, ou seja, um grupo restrito de pessoas que se dedicam à política numa perspetiva
profissional, passando a representar-se a si próprios.
-» Exercício da função de Deputado: Os Deputados têm liberdade individual de voto (155º).
-» Poderes dos Deputados: artigo 156º da Constituição e artigo 4º do Regimento da
Assembleia da República
-» Imunidade dos Deputados: Os Deputados gozam de imunidade, ou seja, não respondem
civil, criminal ou disciplinarmente pelos votos e opiniões que emitirem no exercício das suas
funções (157º da Constituição e 10º e ss. do Estatuto dos Deputados).
-» Direitos e deveres dos Deputados: artigos 158º e 159º
-» Perda e renúncia do mandato: artigo 160º
- Para além dos Deputados, pode-se encontrar no âmbito da organização interna da Assembleia
da República, Grupos Parlamentares que são a forma de organização ou estrutura dos
Deputados eleitos por cada partido ou coligação de partidos (180º). Os Grupos Parlamentares
têm um conjunto de poderes e direitos próprios (180º, n. 2 da Constituição e no artigo 8º do
Regimento da Assembleia da República).
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além disso, existem Comissões Eventuais (p.e. Comissão Eventual para a Revisão
Constitucional) e Comissões Eventuais de Inquérito (p.e. Comissão Eventual de Inquérito
Parlamentar às perdas registadas pelo Novo Banco e imputadas ao Fundo de Resolução).
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6.3.1 O Conselho de Ministros
No âmbito do Governo da Republica poder-se-á encontrar o Conselho de Ministros, com
competências próprias (200º), correspondente a uma estrutura integrante do Governo da
República, na qual estão presentes apenas o Primeiro Ministro e os Ministros, só tendo de estar
presentes os Secretários e Subsecretários de Estado se forem convocados para tal (184º).
Também presente pode estar o Presidente da República, quando o Primeiro-Ministro lho
solicitar (133º, alínea i)).
Para além disso, o Primeiro-Ministro tem, assim como os Ministros, competências próprias
(201º). Enquanto aquele dirige a política geral do Governo, estes executam a política definida
para os seus Ministérios.
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7. O processo legislativo
7.1 A competência legislativa da Assembleia da República
A Assembleia da República é o órgão de soberania que tem, para além da competência de
revisão constitucional, a competência legislativa por excelência. Esta desenvolve-se em três
planos:
O artigo 112º, n. 1 refere três categorias de atos legislativos. O n. 2 refere que as leis e os
decretos-leis têm o mesmo valor, exceto as leis de autorização legislativa, as leis orgânicas e as
leis de base contidas nos n. 2 e 3.
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7.3 A competência legislativa das Assembleias Legislativas Regionais
Para além dos dois órgãos de soberania com competência legislativa previamente analisados,
existe também poder legislativo nas Regiões Autónomas que se traduz na importância de um
estatuto jurídico próprio (225º).
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7.3.3 Iniciativa legislativa das Assembleias Legislativas Regionais
Se uma das duas Assembleias Legislativas Regionais pretender legislar, no âmbito dessa mesma
região, sobre uma das matérias constantes no artigo 165º, n. 1, e que lhe são possíveis de acordo
com o artigo 227º, n. 1, alínea b), terá de elaborar e aprovar uma proposta de lei de autorização
legislativa e o anteprojeto do decreto legislativo regional que pretende ver aprovado (227º, n. 2).
Estes dois documentos dão entrada na Assembleia da República, onde serão sujeitos às
discussões e votações previstas pela Constituição e no final, após a promulgação, referenda
ministerial e publicação, a Assembleia Legislativa Regional ficará autorizada a legislar e
aprovar o seu decreto legislativo regional, tendo por base o respetivo anteprojeto apresentado à
Assembleia da República. No caso de virem a ser rejeitados pela Assembleia da República, a
Assembleia Legislativa Regional não será autorizada a legislar sobre e aprovar o seu decreto
legislativo regional.
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discussão vai culminar na votação na generalidade, onde os Deputados manifestam se aceitam
ou não que se mantenha e desenvolva um processo legislativo nos termos constantes do projeto
ou proposta de lei (168º). Na discussão na especialidade ir-se-á encontrar um grau de detalhe
ou de pormenor, onde será discutida minuciosamente cada disposição integrante do projeto ou
proposta lei. Essa discussão e até a votação na especialidade pode ocorrer em Comissão
competente em razão da matéria, se a Assembleia da República assim o deliberar (168º, n. 3),
sendo que existem matérias relativamente às quais a votação na especialidade deve ocorrer
obrigatoriamente em Plenário (168º, n. 4). Se o projeto de lei ou a proposta de lei for aprovada
na generalidade e na especialidade, com as devidas e eventuais alterações, ocorre uma votação
final global, onde a Assembleia da República em Plenário manifesta definitivamente se é
aquele ou não o seu projeto ou proposta de lei. Esta votação decorre através de uma pluralidade
de votos (116º. n. 3) com as exceções relativamente a atos que só podem ser aprovados se
existir uma aprovação por maioria absoluta dos Deputados em efetividade de funções ou mesmo
através de uma maioria qualificada de 2/3 dos Deputados (168º, n. 5 e 6).
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-» 4) Se o Tribunal Constitucional declarar a constitucionalidade do decreto, o Presidente da
República pode…
-» 5) … promulgá-lo no prazo de 20 dias. -» referenda ministerial
-» 6) … vetá-lo politicamente, devolvendo-o à Assembleia da República em mensagem
fundamentada no prazo de 20 dias para esta apreciá-lo novamente.
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administrar a justiça relativamente a matérias de natureza jurídico-constitucional (221º), sendo
ele responsável pela fiscalização preventiva da constitucionalidade das normas constantes de
decretos da Assembleia da República, de decretos do Governo da República ou de decretos
legislativos regionais que pretendem ser promulgados pelo Presidente da República (278º),
podendo o Tribunal Constitucional ainda atuar depois da publicação da lei (281º) e declarar a
inconstitucionalidade por omissão, ou seja, quando um órgão que estava obrigado a legislar
sobre uma determinada matéria para concretização de preceito constitucional, não o fez (283º).
A declaração da inconstitucionalidade por parte do Tribunal Constitucional tem força
obrigatória geral (281º, 282º).
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suscitada durante o processo, ou quando não apliquem uma norma com fundamento na sua
inconstitucionalidade (280º).
A aprovação de uma lei de revisão constitucional carece sempre de uma maioria qualificada de
2/3 dos Deputados em efetividade de funções (286º, n. 1).
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9. Casos práticos
Caso prático 1:
O Governo da República em 5 de Setembro de 2019 apresentou à Assembleia da República uma
proposta de Lei sobre o Regime dos Referendos. Na qual se integrava a seguinte disposição:
“Os cidadãos eleitores recenseados no território nacional podem ser chamados a pronunciar-
se diretamente, a título vinculativo, através de Referendo, por decisão do Presidente da
República, mediante proposta da Assembleia da República, do Governo ou do Provedor de
Justiça.”
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orgânica, em termos do artigo 166º, n. 2.
5) Também de acordo com o artigo 168º, n. 5, as leis orgânicas, como é o caso da proposta de
lei sobre o Regime dos Referendos, devem ser aprovadas, na votação final global, por maioria
absoluta dos Deputados em efetividade de funções, sendo assim os votos de 3/7 dos Deputados
em efetividade de funções insuficientes para aprovar a proposta de Lei do Governo.
6) Tendo ocorrido a recessão do então decreto da Assembleia da República por parte do
Presidente da República, este tem 8 dias para suscitar a fiscalização preventiva da
constitucionalidade do mesmo junto do Tribunal Constitucional, de acordo com as suas
competências estabelecidas no artigo 134º, alínea g) e em termos do artigo 278º, n. 1 e 3 e do
artigo 281º, n. 2, alínea a). Deste modo, visto que o decreto foi enviado no dia 22 de Janeiro, o
Presidente da República devia ter enviado o decreto para apreciação da respetiva
constitucionalidade até o dia 30 de Janeiro, o que não corresponde com a data efetiva, tendo-se
deste modo atrasado.
7) Tendo em atenção ao número 3 da resolução deste caso prático, o Tribunal Constitucional
devia ter declarado a inconstitucionalidade do decreto da Assembleia da República, devendo o
Presidente da República, desta forma, vetá-lo juridicamente nos termos do artigo 136º, n. 5 e
279º, n. 1.
8) Porém, o Tribunal Constitucional declarou a não inconstitucionalidade do decreto da
Assembleia da República, tendo deste modo, o Presidente da República 20 dias para ou
promulgá-lo ou vetá-lo politicamente de acordo com o artigo 136º, n. 1. Assim, os 30 dias
requeridos pelo Presidente da República para vetar politicamente o decreto em causa são
inconstitucionais.
9) Por outro lado, de acordo com o mesmo artigo mencionado no número 8 da resolução deste
presente caso prático, o Presidente da República, exercendo o seu direito de voto, terá de o fazê-
lo dirigindo o decreto vetado à Assembleia da República para nova apreciação, em conjunto
com uma mensagem fundamentada elucidando as razões por ter sido vetado para que o órgão
representativo dos cidadãos portugueses possa confirmar o seu decreto. Não é o que acontece no
caso prático, donde a “mensagem fundamentada” é somente uma afirmação sem
esclarecimentos por parte do Chefe de Estado.
10) O decreto da Assembleia da República vetado pelo Presidente da República é devolvido à
Assembleia da República para nova apreciação, em termos do artigo 136º, n. 1. Esta deve,
segundo o artigo 136º, n.2, confirmar o seu decreto num prazo de 8 dias a contar da receção do
decreto vetado. Sendo assim, os 10 dias não respeitam o disposto constitucional. Para além
disso, a maioria absoluta dos Deputados em efetividade de funções não é suficiente para
confirmar o decreto, sendo de acordo com o artigo 136º, n. 3 necessária uma maioria qualificada
de 2/3 dos Deputados presentes, desde que esse número for superior à maioria absoluta dos
Deputados em efetividade de funções, dado que se trata, com base nos artigos anteriormente
mencionados, de uma lei orgânica.
11) Exercendo o seu direito previsto no artigo 134º, alínea b), o Presidente da República
promulga o decreto da Assembleia da República, necessitando este ainda de referenda por parte
do Governo, em termos do artigo 140º, n. 1, antes de ser publicado sob a forma de lei no Diário
da República, tendo em conta o artigo 119º, n. 1, alínea c).
Caso prático 2:
No âmbito da Constituição da República Portuguesa, o Governo da República apresentou em 3
de Junho de 2020 uma proposta de Lei, onde pretendia que a Assembleia da República o
autorizasse a legislar sobre o Estatuto das Autarquias Locais. Tal proposta foi aprovada por
unanimidade na generalidade, pelo que se considerou imediatamente aprovada e assim enviada
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após assinatura do Presidente da Assembleia da República ao Presidente da República com o
seguinte texto como Lei de autorização:
“Artigo único: Fica o Governo da República autorizado a alterar o regime jurídico das
Autarquias locais.”
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que foi considerado, após fiscalização preventiva da sua constitucionalidade, inconstitucional
pelo Tribunal Constitucional, não devendo assim cometer a inconstitucionalidade de promulgar
um decreto como lei que não obedece ao princípio da juridicidade e da constitucionalidade,
sendo este deduzido, por exemplo, do artigo 277º, n. 1. Por conseguinte, esta deve ser
expurgada para poder ser promulgada de acordo com o artigo 279º, n. 2.
9) Em termos do artigo 198º, n. 1, alínea b), o Governo da República pode legislar sobre as
matérias de reserva relativa de competência legislativa da Assembleia da República através de
uma lei de autorização legislativa concebida por parte desta, constando a legislação sobre o
regime geral da requisição e expropriação por utilidade pública no artigo 165º, n. 1, alínea e). A
situação em que o Estado Português se encontra no momento de apresentação do decreto por
parte do Governo ao Presidente da República, ou seja, em estado de emergência, não implica
que o Estado deixe de funcionar, tal resultando do artigo 19º.
10) O decreto em questão pode revogar a mencionada lei, uma vez que o decreto-lei e a lei têm
o mesmo valor, em termos do artigo 112º, n. 2.
11) O Presidente da República pode no prazo de 40 dias promulgar, vetar politicamente ou
suscitar a fiscalização preventiva da constitucionalidade do decreto-lei que pretende ser
promulgado, devendo, no caso de decidir vetá-lo politicamente, comunicá-lo ao Governo,
segundo o artigo 136º, n. 4. Sendo assim, não foram cometidas quaisquer
inconstitucionalidades.
Caso prático 3:
Em 1 de setembro de 2020, pretendendo legislar sobre o Regime jurídico da participação das
organizações de moradores no exercício do poder local a aplicar na Região Autónoma da
Madeira, a respetiva Assembleia Legislativa apresentou na Assembleia da República uma
proposta de lei de Autorização legislativa. Esta proposta foi aprovada pela Assembleia da
República sob a forma de resolução e remetida para a Assembleia Legislativa da Região
Autónoma da Madeira, a qual aprovou ao seu abrigo Decreto Legislativo Regional em 15 de
Janeiro de 2021. Neste, fez constar por proposta do deputado regional A de 5 de Janeiro uma
disposição que atribuía aos cidadãos eleitores da região autónoma o direito de iniciativa do
referendo local. Recebendo o correspondente Decreto da Assembleia Legislativa para
promulgação, o Presidente da República suscitou a apreciação preventiva da sua
constitucionalidade, tendo-se o Tribunal Constitucional pronunciado pela inconstitucionalidade
do mesmo. Perante tal decisão a Assembleia Legislativa da Região Autónoma da Madeira
reformulou o seu Decreto, por uma pluralidade de votos.
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