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Esquema Resolução Direito Penal II | Fernanda Palma

DIREITO PENAL II

ESQUEMA DE RESOLUÇÃO CASOS PRÁTICOS

AÇÃO

Pode avançar-se, desde já, que a ação representa um comportamento voluntário,


dominado ou dominável pela vontade. Sendo o seu conceito fundamental devido às
diversas funções que Jescheck lhe atribuiu, a função de classificação, sistemática,
processual germanística e de delimitação.

Como nos diz Maria Fernanda Palma a ação tem sido o conceito que exprime o
pressuposto básico da responsabilidade por culpa, condicionando o tipo de
comportamento que em geral pode ser designado como crime.

Escola Clássica Escola Neoclássica Escola Finalista

Adota um conceito naturalista


de ação, exigindo uma
A ação corresponde a um
modificação objetiva do mundo
A ação representa um comportamento ou
exterior, através de um
comportamento processo orientado, pelo
movimento corporal voluntário.
significativo, agente, para a modificação
Não é relevante o conteúdo ou
exigindo-se uma do mundo exterior. A ação
objeto da vontade (não se
negação de valores tem em vista um certo
analisa aqui a dicotomia
através de uma atuação objetivo ou resultado,
dolo/negligência), tal como não
da vontade no mundo sendo um conceito pré-
é relevante saber se a ação era
exterior; jurídico, ontologicamente
destinada à ação produzida.
determinado.
A ação é, no fundo, um dado
empírico observável.

Para Maria Fernanda Palma a conceção finalista é aquela que melhor


exprime a ideia de uma ação responsável, suscetível de ser orientada pelas
normas. Afasta-se da escola neoclássica quando esta rejeita a importância
do conceito de ação, dizendo que o que interessa é a tipicidade, admitindo
apenas a ação típica, o comportamento tal como o legislador descreveu.

B praticou uma ação, quer pela aplicação de um critério naturalístico-causal, adotado


por Karl Engisch, quer por qualquer critério normativo, apresentado por Stratenwerth,
pois empregou energia no sentido de X e criou perigo para bens jurídicos Y

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Atos Reflexos

Exemplos: levantar o pé quando nos dão com um martelo no joelho; abanar o braço após
a picada de uma abelha; uma pessoa apanha uma descarga elétrica e, em consequência,
começa a abanar o corpo e magoa um terceiro.

Descartes é considerado o autor do ato reflexo pois foi ele que identificou os atos reflexos
e defendeu que um estímulo exterior pode provocar uma resposta individual que não vai
envolver o processo cognitivo.

São reações imediatas em que não intervém a consciência, pelo que não são considerados
ações, são atos em que intervêm aspetos periféricos do sistema nervoso, em que o cérebro
apenas superficialmente intervém. O estímulo, sendo suscitado, desencadearia um
reflexo, seria uma reposta automática dos músculos, que afetaria uma parte periférica do
sistema nervoso, apenas a espinal medula, e não o encéfalo.

Trata-se de comportamentos consistentes numa resposta mecânica, automática, a


estímulos sensoriais reação fisiológica, não há uma manifestação da vontade. São assim,
comportamentos compelidos por uma força física irresistível em que está fora de causa
qualquer comportamento voluntário.

Distinguem-se dos atos instintivos, visto que estes são os atos onde existe uma
possibilidade, ainda que remota, de controlo. Há um querer primitivo e uma possibilidade
de inibição pelo agente, sendo que o agente pode “treinar” para não reagir de determinada
forma.

Automatismo

Os automatismos são atos adquiridos pela experiência e pela repetição, correspondem a


um domínio do corpo sobre a vontade, independentemente do grau de previsibilidade da
situação ou do estímulo que suscita o ato. Parece que não são controlados pelo agente e
que o agente é controlado por eles.

Distingue-se do ato reflexo, visto que não é uma atuação sem vontade e biologicamente
comandada, o comportamento tem uma finalidade e são adquiridos e treinados os meios
necessários para a atividade final.

• Automatismo Rotineiro: tive uma experiência de vida que criou a rotina de perante
certa ação ter certa reação;

• Automatismos Instintivos: não são consequência de ter treinado certa reação


àquele estímulo. São quase atos reflexos, só não o são pois é possível evitá-los.

É pacífico na doutrina que tem de haver uma direção mínima do agente conducente àquele
resultado, tem de haver uma aceitação do risco para que se possa falar numa ação.

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As consequências desses atos ainda são parte integrante deles mesmo?

Caso se entenda globalmente, há ação, pois as consequências são ações.

Para Stratenwerth existe uma ação independemente de se poder identificar qualquer


estado de consciência, ou seja, desde que o processo global esteja determinado ou seja
explicável pela experiência, relacionada com a situação e eventualmente acessível a uma
dirigibilidade consciente.

Se seccionarmos, há automatismo, visto que aquela “parte pequena” não se controla.

Para Jakobs considera que só há automatismo se a consciência não permitir interromper,


tendo o automatismo autonomia face à globalidade da ação.

Maria Fernanda Palma tem uma posição intermédia visto que não exclui que os
automatismos podem ser ação (Stratenwerth), mas exclui de classificar como ação um
automatismo em que há tempo para a consciência intervir (Jakobs).

Defende que o critério de relevância como ação dos automatismos só pode assenta na
própria capacidade de prever o motivo externo de ação pelo agente, ou seja, utiliza o
critério da punibilidade e a ideia do tempo de consciência de intervir só pode ser utilizado
num cenário de imprevisibilidade. Tendo o agente representado o facto antes de atuar,
estamos perante uma ação.
Sendo que será sempre necessário uma reconhecibilidade dos atos como elementos do
processo de um comportamento globalmente final.

Roxin toma um conceito abrangente de ação, afirmando que os automatismos são


expressão da personalidade do agente, ou seja, automatismos são sempre ações porque
demonstram sempre personalidade.

Jakobs coloca o critério na evitabilidade individual do resultado, ou seja, há a


possibilidade da intervenção da consciência, sendo globalmente ou individualmente.
Assim, haverá automatismo quando a consciência não intervém. Quando existe a
possibilidade da consciência intervir estamos perante uma ação.

Sonambulismos e Hipnotismo

Nos estados hipnóticos e no sonambulismo a questão da existência de ação reside em


saber se o comportamento comandado pela vontade alheia ou pelo estado de sonâmbulo
ainda não é expressão de uma aceitação da vontade do agente ou da sua não oposição de
resistência.

Relativamente ao hipnotismo, os autores tendem a aceitar que existe ação penalmente


relevante. Há ainda quem não acredite em estados de hipnose, afirmando que há sempre
consciência. Roxin considera que existe no hipnotismo um comportamento penalmente
relevante, uma vez que a prática de certos factos criminosos sob hipnose só seria possível
para pessoas capazes de cometerem esses atos em estado consciente.

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Quanto ao sonambulismo, a doutrina tende a entender que não existe ação penalmente
relevante.
Para Roxin, não há uma manifestação da personalidade, pois o agente está a agir num
mundo que está na sua cabeça, ou seja, não está a interagir com o mundo exterior.
Para Fernanda Palma, inexiste aqui uma vontade do agente.

Inconsciência

Nos casos de embriaguez, em princípio, teremos ação penalmente relevante (a não ser
que se trate de uma embriaguez extremíssima). De acordo com a teoria de Roxin (conceito
pessoal de ação), ainda há, no estado de embriaguez uma manifestação da personalidade.

Actiones Liberae in Causa

Nos casos de sonambulismo, hipnotismo e inconsciência, nomeadamente de embriaguez,


no caso do agente se ter colocado voluntariamente nesse estado para que possa agir, para
que consiga alcançar determinado fim, justifica-se que seja responsabilizado penalmente,
visto que ocorreu uma ação anterior em que decidiu colocar-se nessa situação.

Aqui admite-se que a responsabilidade penal pode assentar em momentos anteriores, pois
na realização dessas condutas persiste ainda uma dimensão da vontade e nelas se espelha
o desenvolvimento corporal e automático, característico da ação humana, de uma
orientação final global da conduta.

Nota: Nos critérios de correção esta análise costuma ser realizada em sede de
culpabilidade, como uma eventual causa de exclusão de culpa e não no momento da
análise da ação penalmente relevante.

Critérios Correção Exame 2020

Culpabilidade: A questão da embriaguez de Bártolo deve ser colocada como um problema


de eventual inimputabilidade. Para que a embriaguez possa ser reconhecida como
relevante para a ponderação da incapacidade de culpa, esta terá de constituir uma
embriaguez que para efeitos do CP: 20º/1 implique uma incapacidade por parte do agente
de avaliar a ilicitude do facto ou de se determinar de acordo com essa avaliação.
O nível de embriaguez de Bártolo não nos permite concluir que ele não tinha capacidade
de motivação pela norma, pois no momento da prática do facto ele teve capacidade de
avaliar a ilicitude do facto e teve capacidade de se determinar de acordo com essa
avaliação. Bártolo seria imputável e ficaria excluída a aplicação do CP: 295º
De igual modo, não temos dados que nos permitam concluir que estamos perante uma
embriaguez preordenada, pelo que não se poderia aplicar o regime da actio liberae in
causa CP: 20º|/4. Bártolo simplesmente deixou-se subjugar por receios que lhe foram
induzidos por António.

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Critérios Correção Exame 2018


“A começou a beber para se descontrair (...) continuou a beber e, já muito afetado pelo
álcool, disparou trémulo na direção de Eduardo».

Neste ponto, pretende-se a análise de uma eventual anomalia psíquica acidental de A


devido à embriaguez. A esse propósito, duas dúvidas se colocam.
Por um lado, saber se, in casu, a embriaguez é suscetível de colocar o agente num estado
de incapacidade de se motivar pela norma e de se mostrar sensível às proibições ou
imposições que resultam da mesma. Por outro lado, saber se o agente se auto-colocou
nesse estado, com o propósito de cometer crimes, à luz do CP: 20º/4.
No que diz respeito à primeira dúvida, em tese, seriam possíveis duas soluções: a
admissibilidade de um elevado grau de embriaguez que enfraqueceria a motivabilidade
de A pelo ilícito e tornaria incontrolável as suas emoções, remetendo para o artigo 295º
ou apenas uma diminuição da capacidade de motivação que não excluiria a capacidade
de determinação pela norma e, logo, afirmaria a imputabilidade do agente.

No que diz respeito à segunda dúvida, a resposta mais adequada parece ser a de excluir a
actio liberae in causa, uma vez que a hipótese não revela qualquer facto que permita
indiciar uma pré-ordenação do agente, antes revela que o agente se deixou dominar por
receios que lhe foram induzidos por terceiro.

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OMISSÃO

Ação e Omissão

A primeira questão que se suscita é aferir, tendo em consideração o tipo-referência X, se


um tal comportamento se consubstancia numa ação ou numa omissão.

Para isso, tem de ser determinado o critério de acordo com o qual se distinguem ações de
omissões, o que se afigura como fundamental dada a limitação, operada pelo artigo CP:
10º/2, da equiparação da omissão à ação constante no Nº 1 do mesmo artigo. Isto, porque,
constituindo o mencionado tipo um crime de resultado (não obstante, em função da lesão
do bem jurídico, constituir um crime de perigo, especificamente, de perigo comum), caso
tenha havido omissão, torna-se necessário averiguar se B violou algum dever de garante,
o associado a uma posição de garante na qual se encontre eventualmente investida.

Na doutrina germânica, naturalisticamente, existe uma ação quando há uma introdução


positiva de energia, por parte do agente, que causalmente determina a produção do
resultado típico.

Segundo Kaufmann, tendo por base o princípio da subsidiariedade, só existe omissão


relevante quando o comportamento não puder ser tido como ação.

De acordo com Figueiredo Dias o critério decisivo de delimitação não deve ser senão um
critério de ilicitude típica e de imputação objetiva. Segue Stratenwerth ao ter como
critério o perigo para o bem jurídico, ou seja, existe uma ação quando ele criou perigo e
ele vem a resultar num resultado típico e existe uma omissão sempre que ele não diminua
o perigo.

Para Maria Fernanda Palma, a definição da ação que importa à teoria da imputação não é
naturalística, já que fundamental é a determinação do quid comportamental exigível para
que a omissão possa ser uma espécie de comportamento penalmente relevante, sendo que
a descoberta desse quid comportamental tem de se centrar na significação dos
comportamentos, tanto numa perspetiva ontológica como social, tendo em consideração,
entre outros aspetos, a evitabilidade pelo agente das consequências.

Neste sentido deve ser convocado o critério proposto por Jakobs que defende uma
indiferenciação entre ação e omissão nas situações em que se ultrapassem os limites gerais
da liberdade no que se refere à configuração exterior do mundo. Neste sentido o que
releva é a definição de deveres de agir ou de evitar resultados danosos que resulta da
responsabilidade inerente à conjugação de liberdades.

A tese de Jakobs não aceitará a equiparação da omissão à ação nos casos em que nem
haja uma competência geral para organização do mundo, da qual se possa derivar a
responsabilidade pelo risco, nem um estatuto especial de que decorra uma específica
competência para a proteção de bens jurídicos.

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Os casos mais difíceis, onde comportamentos ativos podem ser vistos como omissão,
parecem suscetíveis de resolução adequada:

• Comparticipação ativa em delito omissivo


Exemplo: A aconselha B a deixar de prestar o auxílio necessário nos termos do CP: 200º

A posição dominante pune o agente por instigação ou cumplicidade. Kaufmann considera


que se deve ser punido por facto comisso causador do resultado. Roxin discorda.

• Omissio libera in causa


Exemplo: um nadador-salvador embriaga-se até à inconsciência para tornar impossível
acorrer a uma situação de necessidade a que venha a ser chamado.

Nos casos de ingerência nos esforços de terceiros para impedir o resultado, somente
existirá uma omissão através de fazer punível se existissem outros meios de salvação
disponíveis, já que em tal caso a atividade dirigida contra um terceiro apenas poderia
servir para negar auxílio, mas não impediria que outros salvassem a vítima.

Para Figueiredo Dias estes dois casos não parecem levantar problemas, visto que em
qualquer um deles o agente não diminui o perigo que afetava o bem jurídico, assim, apesar
de o seu comportamento incluir atos de dispêndio de energia, seria um caso de omissão.

• Tentativa interrompida de cumprimento de uma imposição legal


Exemplo: o pai de uma criança que está em risco de se afogar vai buscar um bote para
tentar salvá-la, mas ao chegar com o bote à praia interrompe os seus esforços, podendo
tê-los continuado, e a criança afoga-se.

Neste exemplo, a situação consiste na anulação de intenção de salvar pela própria pessoa
que atua, originando uma situação semelhante à que existiria se a pessoa estivesse inativa
desde o princípio. Deste caso deduz-se o princípio geral de que um “fazer” que se
apresenta como desistência da tentativa de cumprir um imperativo, deve subsumir-se no
tipo de crime por omissão, cujo imperativo fracassa pela atuação ativa.

Omitir através de fazer transforma-se numa ação logo que o cumprimento do imperativo
passou de tentativa para consumação, ou seja, logo que o processo causal salvador
alcançou a esfera da vítima e tenha sido interrompido por atuação do agente.

• Interrupção técnica de um tratamento


Exemplo: um médico ou um terceiro desligam a máquina de respiração assistida a que
está ligado um moribundo em situação irreversível.

Tanto Roxin como Figueiredo Dias consideram que aqui o processo salvador ainda não
atingiu a vítima, pelo que deve ser tratado como um caso de omissão

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Crimes de omissão puros e impuros

Crime puro ou próprios Crime impuro ou impróprio

Doutrina Maioritária

Aqueles em que a parte especial refere


expressamente a omissão como forma de Os não especificamente descritos na lei
integração típica, descrevendo os como tais, mas em que a tipicidade
pressupostos fáticos donde deriva o dever resultaria de uma cláusula geral de
jurídico de atuar ou, em todo o caso, equiparação da omissão à ação, como tal
referindo aquele dever e tornando o agente legalmente prevista e punível na parte
garante do seu cumprimento. Crimes em geral no CP: 10º/1 e 2.
que a mera inatividade fundamenta a
ilicitude.

Roxin

Aquelas outras para cuja tipicidade se


torna necessária uma cláusula de
Aquelas omissões típicas que não têm
equiparação à ação correspondente, sem
correspondência num delito de ação, por
que importe que esta cláusula seja
outras palavras, aquelas que relativamente
implícita ou explicita, que ela tenha lugar
às quais o delito correspondente de ação
na Parte Geral ou na Parte Especial a
não existe
propósito de concretos tipos legais de
crime.

Doutrina Tradicional Eduardo Correia

Aqueles cujo tipo objetivo de ilícito se Aqueles outros em que o agente assume a
esgota na não realização da ação imposta posição de garante da não produção de um
pela lei (crime de mera atividade) resultado típico (crime de resultado).

Nestes crimes de omissão, o próprio tipo integra a omissão, descrevendo os pressupostos


fácticos de onde deriva o dever jurídico de atuar. Nestes casos, não é tipicamente
relevante saber se alguém acabou ou não por sofrer danos. Não existe aqui nenhuma
“correspondência” entre a omissão e a ação nem uma posição de garante

Exemplo: CP: 190º/1, 200º/1, 224º, 284º, 367º e 369º/1

Neste caso verificamos que devido ao CP: 10º/2 ocorre uma equiparação da omissão à
ação, sendo designado por crimes de comissão por omissão quando a responsabilidade
resulta da cláusula de equiparação.
CP: 10º/3 Excecionalmente, pode o conteúdo da ilicitude e da culpa da omissão impura
não ser menor que o do delito de ação correspondente tanto nos delitos dolosos, como nos
delitos negligentes de omissão. Apenas se aplica aos crimes impróprios de omissão.

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Eduardo Correia fundamenta esta equiparação com base na ideia de que quando um tipo
de crime proíbe a produção de um resultado tanto lhe interessam as ações que o produzem
como as omissões que o deixam ter lugar.
Figueiredo Dias considera que é contraditório que a mesma norma contenha uma
proibição de ação e uma ordem de ação, assim, o fundamento será que para um
determinado tipo de ilícito o desvalor da ação corresponde a um desvalor da omissão, o
que verifica quando o agente tenha um dever de evitar a realização típica, ou seja, que
tenha um dever de garante, um dever jurídico que pessoalmente o obrigue a evitar esse
resultado.

CP: 10º/2 Apesar de exigir a existência do dever de garante não especifica quando é que
tal ocorre:

Necessita de haver um fundamento jurídico que dê base à


obrigatoriedade da comissão. As fontes possíveis são:
Lei, Contrato, Ingerência (por criar uma situação de perigo
anterior, atropela e ajuda a vítima) e Situação de estreita
Teoria Formal comunidade de vida e de perigo.

Esta teoria pode dizer-se hoje ultrapassada, visto que


acabava por renunciar de modo integral à consideração dos
conteúdos dos deveres que assim se criavam.

Os deveres de garantia fundam-se:


Numa função de guarda de um bem jurídico concreto:
criadora de deveres de proteção e assistência: pais
relativamente a um filho menor ou guardas de um museu
Teoria das Funções relativamente aos quadros de lá.
Numa função de vigilância de uma fonte de perigo:
determinante de deveres de segurança e de controlo:
deveres de um controlador do tráfego aéreo relativamente
à movimentação dos aviões

Corresponde a uma teórica intermédia, que conjuga ambas


as teorias apresentadas, seguida por Figueiredo Dias que
Teoria material-formal
nos apresenta um catálogo fechado de situações em que
existe deveres de garante.

Parte da Teoria de Jakobs sobre a liberdade de


Posição Maria conformação do mundo, porém, restringe os seus
Fernanda Palma resultados a situações em que se deve verificar uma
reconhecida autovinculação implícita da relação social.

Catálogo de deveres de garante definido por Figueiredo Dias:

1. Deveres de proteção e assistência a um bem jurídico carecido de amparo


Existe uma especial relação com o bem jurídico prévia
Existência relações fácticas como uma situação real de dependência: relações país/filhos
(Ac. RC 1-6-1988); Relação avós/netos e irmãos; entre cônjuges

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Assunção de funções de guarda e assistência: no fundo assemelhasse à anterior fonte


contratual, contudo tem por base uma relação de confiança. Inclui: autoridade e
funcionários que tenham por tarefa principal velar por um especial círculo de interesses
e, nessa medida, afastarem perigos para bens jurídicos de terceiros e da coletividade.

Comunidade de Vida e Perigos: necessita de se verificar relações de confiança e de


dependência mútuas existindo um caráter arriscado da atividade.
Maria Fernanda Palma não considera que aqui exista dever de garante

2. Deveres de vigilância e segurança face a uma fonte de perigos


Existe uma relação de proximidade do garante com uma fonte de perigos, estando o
garante vinculado ao controlo e vigilância da fonte de perigos.

Ingerência: cria o perigo que pode afetar terceiros deve cuidar de que ele não venha a
concretizar-se num resultado típico.
O facto prévio consistirá em regra numa ação, mas pode também analisar-se numa
omissão violadora do dever. O resultado típico tem de considerar-se objetivamente
imputável, segundo as regras gerais, ao incumprimento do dever de garante. A criação do
perigo tem de ser objetivamente ilícita, embora não culposa. Não poderia fundar uma
posição de garante se o comportamento prévio se encontrasse justificado.

Tem fundamento no princípio da liberdade e no princípio da igualdade, não se


confundindo com o CP: 200º que consagra o princípio da solidariedade.

Dever de fiscalização de fontes de perigo no âmbito do domínio próprio: a comunidade


deposita confiança sobre quem exerce um poder de disposição sobre um âmbito de
domínio como empresários, donos de veículos, de animais etc.
Este princípio assume especial relevo no âmbito de certa atividade duradoura, sobretudo,
da responsabilidade do produtor ou pelo produto: quem fabrica medicamentos

Dever de garante face à atuação de terceiros: existem situações especiais em que o


terceiro, por vários motivos, ou não é responsável ou tem a sua responsabilidade limitada
ou diminuída. Nestes casos aceita-se que a ordem jurídica ponha o cumprimento de um
dever de vigilância, relativamente ao irresponsável ou responsável limitado, a cargo de
quem exerce sobre ele um poder de domínio e de controlo. Aqui se incluem também as
relações de supra/ infra ordenação de pessoas, embora plenamente responsáveis, que
atuam no seio de um serviço ou de uma atividade organizada.

3. Monopólio (Acidental ou de meios de salvamento)


A posição de garante tem como particularidade o facto de não ser anterior, ou seja, posso
ser responsável por salvar um bem jurídico sem qualquer relação prévia.

Figueiredo Dias defende a existência de posições de monopólio quando o agente é o único


meio de salvamento do bem jurídico, contudo tem de estar preenchidos 3 requisitos:
Domínio fáctico e absoluto da fonte de perigo (possibilidade de intervir e evitar a lesão)
Perigo agudo e iminente para o bem
Ação de salvamento não pode implicar perigo para o agente

Para André Leite o verdadeiro fundamento da existência de uma posição de garante reside
na desproporção entre o bem jurídico em perigo e o esforço exigido.

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Taipa de Carvalho não inclui a situação de monopólio nos deveres de garante.

De acordo com Paulo Pinto de Albuquerque o direito penal não quer censurar do mesmo
modo o estranho que nada faz e o pai que deixa o filho afogar-se. Devemos aplicar
disposto no CP: 200º e não o CP: 10º

Posição de Maria Fernanda Palma quanto aos deveres de garante:

Não necessita de haver um dever jurídico formal, contudo não pode existir uma violação
das expectativas associadas à liberdade de ação, assim, tem de existir do agente uma
reconhecida autovinculação da relação social (apesar de não ter de ser contratual).

O critério de solução procurará o equilíbrio entre uma ideia de presunção legítima da


aceitação de responsabilidade pela proteção de bens jurídicos e uma ideia de
responsabilidade inerente à liberdade de conformação do mundo, rejeitando-se as
consequências mais amplas e mais restritivas da teoria tradicional das posições de garante.

Existem algumas posições que importa precisar

1. Ingerência
Para Maria Fernanda Palma importa distinguir a ingerência a partir de ato ilícito ou lícito

Ingerência a partir de ato ilícito: Corresponde a uma situação de perturbação de


delimitação das esferas de organização da vida de cada pessoa em que o agente assume,
sem lhe ser permitido, o controlo sobre os bens jurídicos alheios, retirando até, à vítima
do primeiro comportamento ilícito, um poder de controlo sobre os seus bens jurídicos.
Não tem sentido aplicar o CP: 200º a estes casos.

Ingerência a partir de ato lícito: É mais duvidosa a possibilidade de delimitar um dever


jurídico. Porém, como ainda há uma ultrapassagem da esfera de risco própria e de
violação, ainda que objetiva, do risco permitido, uma invasão da esfera alheia como
consequência do normal risco permitido (da vida social) pode justificar uma assunção de
responsabilidade pelos bens jurídicos alheios.
Não extravasei a minha espera de liberdade, só haverá nas situações em que o agente,
ainda que o tenha causado de forma lícita, tenha o controlo causal da fonte de perigo.

Fundamental para que se constitua o dever jurídico é a necessidade de compensar as


consequências da intromissão na esfera alheia, da relativa perda de controlo da vítima
sobre os seus bens jurídicos, segundo um princípio de responsabilidade.

2. Monopólio Acidental
É insuscetível de ser fonte do dever jurídico uma posição em que o agente não poderá
contar com o ser investido numa obrigação de evitar resultados nem poderia ter evitado
tal situação. Nesses casos, não existe uma delimitação estável e previsível do âmbito da
responsabilidade do agente em relação aos bens jurídicos alheios.

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IMPUTAÇÃO OBJETIVA

O Direito penal só intervém sobre comportamento humanos, de pessoas singulares ou


coletivas, e para o preenchimento do tipo de ilícito, é necessário verificar se o resulta pode
ser imputado a uma ação. Esta exigência de conexão entre o comportamento e resultado
é o da causalidade. Com o avançar da ciência que é o Direito percebeu-se que a conceção
puramente positivista e casualista não era satisfatória.

1º Degrau | Teoria da Causalidade

o Teoria da Condição ou da Equivalência

Esta teoria surgiu com Glaser e v. Buri, em meados do século XIX.

Aqui verifica-se se a ação foi causa do resultado, ou seja, se se pode verificar uma relação
entre o comportamento humano e o aparecimento do resultado através da pura
causalidade.

Designada por conditio sine qua non, a premissa básica desta teoria é a de que causa de
um resultado é toda a condição sem a qual o resultado não teria tido lugar. Assim, todas
as condições que contribuíram para a produção do resultado têm o mesmo valor, visto
que, o resultado é indivisível e não pode ser considerado sem a totalidade das condições
que o determinaram.

Para apurar quais as condições que deram causa a um certo resultado deveria o juiz
suprimir mentalmente cada uma delas:
• Se eliminarmos mentalmente/hipoteticamente a conduta do agente e o resultado
subsistir não haverá causalidade;
• Se eliminarmos mentalmente/hipoteticamente a conduta do agente e o resultado
não subsistir haverá causalidade e preenchimento do tipo.

Esta teoria foi abandonada visto que, partindo de um pressuposto naturalista, abrange a
mais longínqua condição, levando à existência de um elevado leque de causas para cada
resultado e à errada resolução de diversos casos (expostos adiante).

2º Degrau | Teoria da Causalidade Adequada

Aqui deixamos de ter uma teoria de pura causalidade pelo que se aproxima mais de uma
teoria da imputação, vindo restringir a teoria das condições equivalentes distinguindo
condições juridicamente relevantes e irrelevantes.

Não poderá haver imputação além da capacidade geral do homem de dirigir e dominar os
processos causais, assim, não podem ser relevantes todas as condições, mas sim as que
segundo as máximas da experiência e normalidade do acontecer seriam previsíveis e
idóneas de produzir o resultado.

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CP: 10º É adotada a teoria da causalidade adequada como critério básico da imputação.

O nexo de adequação tem de ser aferido segundo um juízo ex ante, ou seja, um juízo de
prognose póstuma. O juiz deve deslocar-se ao passado e ponderar as consequências que
podiam surgir da ação praticada. Haverá imputação, sempre que uma pessoa média
colocada na posição do agente, antes do crime, consegue compreender que haveria a
previsibilidade daquele resultado.

Uma conduta que é Conditio Sine Qua Non de um resultado é


juridicamente relevante como causa do mesmo resultado, sempre
Fernanda Palma
que, colocada uma pessoa média no lugar do agente, antes da
prática do crime, seja previsível aquele resultado.

Ao juízo de prognose póstuma devem ser levados os


conhecimentos correspondentes às regras da experiência comum,
Figueiredo Dias mas não só́ . Devem ser tidos em conta os especiais conhecimentos
do agente, aqueles que o agente efetivamente detinha, apesar de a
generalidade das pessoas deles não dispor.

No entanto, também já tem sido defendido, no âmbito desta teoria,


que se verifica um nexo de causalidade adequada quando uma
Roxin condição não é a única a contribuir para a produção do resultado,
mas aumenta a possibilidade de ocorrência do mesmo de modo
não irrelevante.

3º Degrau | Teoria do Risco

Atualmente a teoria mais amplamente aceite desprende-se da ideia central de causalidade


entre ação e resultado, visto que parte da função de proteção dos bens jurídicos pelas
normas, prevendo que a conduta concreta tenha que corresponder ao comportamento que
a norma pretende evitar.

Para haver imputação objetiva necessita de se verificar a criação ou aumento de um


risco proibido para o bem jurídico e que esse risco se venha a concretizar num
resultado típico, ou seja que o perigo se encontre no fim de proteção da norma.

A imputação deverá ser excluída quando o agente diminui o perigo que recai sobre o
ofendido e quando o resultado tenha sido produzido por uma ação que não ultrapassou o
limite do risco permitido. Pode acontecer que o agente já esteja em risco mas o agente
pode ser responsabilizado se potenciar esse risco.

Caso este risco criado seja proibido, falta verificar se foi esse risco que materializou o
resultado típico. Saber que perigo acabou por determinar o resultado é questão que só
pode ser respondida ex post, isto é, com conhecimento de todas as circuntancias relevantes
para a verificação efetiva do resultado.

Sofia Cunha FDUL 2021/2022 14


Esquema Resolução Direito Penal II | Fernanda Palma

Casos Problemáticos Típicos

Causalidade Virtual Comportamento lícito alternativo

O que está em causa é o agente ter


O dano ocorreria, já não em consequência de
produzido o resultado numa hipótese
comportamento de terceiro ou causa natural,
em que, se não tivesse atuado, o
mas sim de outro comportamento (de novo:
resultado surgiria em tempo e sob
meramente hipotizado) do próprio agente,
condições tipicamente semelhantes por
transfigurado numa versão em que aparece
força de uma ação de terceiro ou de um
como genericamente permitido.
acontecimento natural.

Comportamentos lícitos alternativos


(Caso de um automobilista que ultrapassa um ciclista sem respeitar a distância imposta,
atropelando-o; mas comprovando-se depois que o ciclista circulava com oscilações, de
modo que seria provável que ele tivesse sido atropelado na mesma ainda quando o
automobilista tivesse respeitado a distância de ultrapassagem imposta.)
(A não desinfeta pelos de cabra e os distribui, eles tinham um vírus e 4 trabalhadoras
morreram, depois mostra-se que a desinfeção não era apta para pôr fim àquele vírus.)

Teoria da causalidade adequada (sim)


Não poderão deixar de imputar-se aqueles resultados à respetiva conduta, por ser normal
e previsível, segundo um juízo de prognose póstuma, que o resultado se produziria

Teoria do risco (não)


Demonstrando-se que o resultado teria tido seguramente lugar, sensivelmente no mesmo
tempo, do mesmo modo e nas mesmas condições, ainda que a ação ilícita não tivesse sido
levada a cabo, parece que a imputação objetiva deve ser negada

No caso de não ser certo que tal iria acontecer e ser apenas provável

O ponto de vista da Doutrina da Conexão de Risco, o que importa é provar a potenciação


do risco e a sua materialização no resultado típico. Para Maria Fernanda Palma quanto a
este ponto, apresentada toda a prova possível, o juiz ficar em dúvida, deve valorá-la a
favor do arguido, excluindo a imputação, visto que caso contrário torna todos os c

Nestes casos, a imputação objetiva deve ser negada, seja porque não se torna possível
comprovar aqui verdadeiramente uma potenciação do risco já autonomamente instalado,
seja porque, como sustenta Roxin, se não pode dizer sequer que o comportamento do
agente criou um risco não permitido: verificando-se que tanto a conduta indevida, como
a conduta lícita “alternativa” produziriam o resultado típico, a imputação deste àquela
traduziu-se na punição da violação de um dever cujo cumprimento teria sido inútil, o que
violaria o princípio da igualdade.

Sofia Cunha FDUL 2021/2022 15


Esquema Resolução Direito Penal II | Fernanda Palma

Causalidade virtual
(Se a vítima vier a morrer na sequência de um disparo de A, embora estivesse condenada
a morrer envenenada, por ter ingerido veneno, pouco tempo depois)

Teoria da conditio sine qua non (não)


Aqui resolve mal, visto que ao suprir o disparo a vítima iria morrer na mesma, pelo que
o disparo não seria causa da morte e não haveria causalidade. Seria dar relevância
(negativa) à causa hipotética ou virtual para excluir a responsabilidade. Ora, esta solução
seria inaceitável porque o resultado seria obtido naturalisticamente pelo comportamento
do agente e não podemos atribuir uma relevância excludente da causalidade a algo que,
no momento, não chegou a acontecer.

Teoria do Risco (sim)


Doutrina maioritária considera que não devemos dar relevância à causa virtual,
justificando-se a imputação objetiva pelo princípio da legalidade. Figueiredo Dias
considera que à luz de uma função de tutela subsidiaria de bens jurídicos continua a ter
sentido não abandonar o bem jurídico à agressão do agente só porque aquele já não pode
ser salvo. O bem jurídico vida por exemplo perderia a sua relevância, visto que iremos
todos morrer um dia.

o Resolução do caso

Estamos perante uma causa hipotética/causa virtual por haver uma causa que não
preenche o resultado, mas que produziria se a pessoa não tivesse morrido, entretanto. A
causa da explosão do avião não funcionar pelo facto de a pessoa ter morrido antes, mas
se ela não tivesse morrido funcionaria de modo que se trata da uma causa hipotética,
enquanto o tiro se trata da causa real.

Dito isto, a possibilidade de considerar objetivamente imputável o resultado ao


comportamento de A poderia encontrar-se inquinada pela circunstância de, a posteriori,
C vir a falecer, já que o avião em que planeava entrar explodiria na sequência de um
ataque. Temos, então, de ver se a responsabilidade jurídico-penal de A poderá ser afastada
por motivos de causa virtual.

A primeira teoria, chamada teoria das condições equivalentes ou teoria da conditio sine
qua non, baseia-se numa ideia de que a causa de um resultado é toda a condição sem a
qual o resultado não teria lugar. Assim, importaria verificar, através de um juízo de
supressão mental da conduta do agente, se o resultado típico continuaria a ocorrer. Assim,
seguindo esta teoria o resultado não seria imputado à conduta de A, porque iria dar-se
relevância à causa virtual para afastar a imputação, isto porquê, porque mesmo tirando a
conduta do agente o resultado dá-se na mesma.

Devido a esta teoria abranger várias condições, ser muito ampla, surge a teoria da
causalidade adequada, que diz que para a valoração jurídica da ilicitude serão relevantes
não todas as condições, mas aquelas que são idóneas (juízo de previsibilidade) a produzir
o resultado. No caso em concreto, qualquer homem médio, colocado na posição do
agente, consideraria previsível, ex ante, que, dando um tiro o resultado seria a morte.

Sofia Cunha FDUL 2021/2022 16


Esquema Resolução Direito Penal II | Fernanda Palma

Para isso, urge sujeitar este caso aos pressupostos da teoria do risco e indagar da criação
de um risco para o bem jurídico, do carácter proibido do risco criado, e da respetiva
concretização no resultado.

Está então dependente de um duplo fator: primeiro, que o agente, com a sua ação, tenha
criado ou aumentado um risco não permitido; segundo, que esse risco tenha conduzido à
produção do resultado concreto. Quando não se verifique uma destas condições a
imputação deve-se ter como excluída.

Quanto ao primeiro requisito, não haverá dúvida que A criou um risco para a vida de C,
tratando-se de um risco proibido que, a final, se concretizou no resultado. De facto, foi o
tiro disparado por A que matou C, e não o dito avião que viria a explodir.

Como se intui, a tutela dos bens jurídicos não pode ser diferente em função de um
qualquer “prazo” que tais interesses possam ter, isso impõe o princípio da igualdade. O
Direito Penal não abandona bens jurídicos à sua sorte. Se assim fosse a vida não valeria
nada, porque um dia vamos todos acabar por morrer. Ademais, se quisermos dissuadir a
comunidade da prática de crimes, importará demonstrar que o agente não se furta à
responsabilidade penal pela circunstância, que não domina, de um bem jurídico estar
irremediavelmente perdido.

Se considerássemos que neste caso não haveria imputação objetiva então todos podiam
matar, porque um dia vamos todos acabar por morrer.

Em casos como o descrito, não se poderá atribui qualquer relevância à causa virtual para
afastar a imputação objetiva do resultado, já que se verifica tanto o desvalor da ação,
quanto o do resultado. Nestes termos, a morte de C é objetivamente imputável a A.

o Exames

Exame 06/07/2020
David convidou amigos para uma festa, onde houve um contágio de covid, uma semana
depois da festa, Eduarda estava com cancro, mas adoeceu após a festa. David estava
farto de viver com a avó, pelo que a trancou no quarto e esperou que morresse, pensando
que a mesma tinha sido contagiada com o novo coronavírus.

Embora o enunciado não o diga expressamente, parece implícito que a avó adoeceu e
morreu em resultado de contágio por ocasião da festa organizada por David. Assim, a
morte é consequência causal do comportamento de David. Para aferir a conexão de risco
proibido, deve, contudo, ponderar-se a relevância da informação obtida ex post, isto é, a
questão de saber se por Eduarda ter pouco tempo de vida, em razão do cancro de que
sofria, se deve recusar a imputação objetiva da sua morte ao comportamento de David.
A resposta terá de ser negativa. Com efeito, a morte de Eduarda nas circunstâncias em
que ocorreu deveu-se ao contágio e à subsequente falta de assistência médica, não
podendo a proximidade do fim da sua vida fundamentar a desproteção deste bem jurídico
durante o tempo em que, efetivamente, o cancro lhe permitiria viver. Estamos, em suma,
perante causa virtual irrelevante.

Sofia Cunha FDUL 2021/2022 17


Esquema Resolução Direito Penal II | Fernanda Palma

Exame 24/07/2020
Bernardo fez mira pela janela de Carlos, e, vendo-o deitado no sofá, atingiu-o na cabeça,
matando Carlos de imediato. Sem que nenhum deles soubesse, Carlos fora envenenado
minutos antes pela filha de 15 anos, Eunice, pelo que iria morrer, ainda que a bala não
o tivesse atingido.

Bernardo cria um risco proibido ao disparar sobre Carlos. Visto que Carlos morre em
consequência do disparo, o risco proibido concretiza-se no resultado.
O envenenamento por Eunice teria provocado a morte, mas, não tendo chegado a atuar,
constitui causa virtual irrelevante para efeitos de (afastamento da) imputação do resultado
ao comportamento de Bernardo.

Exame 27/06/2018
Ao dar a Carolina o medicamento que lhe vem a causar a morte, Frederico cria um risco
proibido que se concretiza no resultado típico falecimento.
O facto de que Carolina teria morrido mesmo que a intervenção realizada tivesse sido a
devida não coloca em causa a conexão do risco. Com efeito, a morte dever-se-ia então a
uma causa (as lesões provocadas pela lixívia) totalmente alheia ao comportamento (lícito)
de Frederico. Assim, as lesões provocadas pela lixívia representam uma causa virtual
irrelevante para efeitos de imputação.

Características especiais da vítima


(Se a vítima ao ser empurrada cai e morre por ter uma fragilidade óssea (apenas por isso)).

Teoria da conditio sine qua non (sim)


Aqui iria haver causalidade, contudo seria um caso de excessividade relativamente aos
fins da responsabilidade penal, esta resposta, porém, é insatisfatória visto ser imprevisível
o seu resultado e, em circunstâncias normais, o mesmo não se verificar.

Causalidade cumulativa
(A e B colocam separadamente venenos no copo de C que, por si só, não eram morais. C
acaba por morrer da conjugação de ambas)

Há mais de uma ação a intervir, sendo que cada uma delas é necessária visto que isolada
é insuficiente para causar o resultado.

Teoria da conditio sine qua non (sim)


Retirando ambas as condutas não teria havido morte, assim como retirando apenas a de
um dos agentes, pelo que haveria causalidade e imputação.

Teoria da causalidade adequada (não)


Não há imputação do resultado aos agentes porque o homem médio colocado na sua
posição não podia prever a morte, já que a dose individual não era suficiente para matar.

Teoria do risco (não)


O agente aumenta o risco, contudo, não há uma conexão entre o risco criado e o resultado
obtido. Não há conexão no sentido em que aquele risco, meia dose, não é passível de criar
aquele resultado, morte por uma dose.

Sofia Cunha FDUL 2021/2022 18


Esquema Resolução Direito Penal II | Fernanda Palma

o Resolução do caso

Está em causa um problema de causas cumulativas, que se dá quando o evento típico é


produto de múltiplas causas, sendo cada uma por si só insuficiente para produzir o
resultado.

Através da teoria da conditio sine qua non, curiosamente, o problema resolve-se bem.
Através do exercício da supressão mental verifica-se que sem a conduta de L, o resultado
não teria acontecido, pelo que este seria considerado como causa necessária e seria
possível a imputação ao comportamento deste. E, por outro lado, igualmente, sem o
comportamento de M o resultado, igualmente, também não teria acontecido. Assim, neste
caso, ambos os comportamentos seriam causa. Cada uma das condições é conditio sine
qua non, pelo que bastava que uma das pessoas não fizesse o que fez para o
comportamento não ocorrer. O comportamento é aquele porque potência a causa de um
ponto de vista naturalístico, ainda que por si só não tenha capacidade para explicar o
resultado e ser imputado. Suprimindo mentalmente uma das condutas o resultado não se
teria verificado pelo que cada uma das condições é conditio sine qua non e, por isso, são
ambas imputáveis.

A teoria da causalidade adequada é, aqui, problemática, porque efetivamente, fazendo


o juízo de prognose póstuma, colocando-nos na posição do agente com os seus
conhecimentos específicos e com os conhecimentos de uma pessoa média, efetivamente,
o resultado não era espectável na medida em que nem a dose colocada seria suficiente
para provocar a morte, nem haveria o conhecimento de que outra pessoa iria colocar uma
outra dose por cima desta, pelo que através desta teoria nem o comportamento de L nem
o comportamento de M seriam causa imputável.

Quanto à teoria do risco, fazendo um juizo ex ante, efetivamente deve ser considerada
que houve uma criação do risco, ou pelo menos ao aumento deste, numa perspetiva de
intensificação. O problema é que o resultado não é controlável pelo agente, considerando
que a concretização deste risco não seria possível sem a atuação do outro agente.
Esta segunda atuação não só era imprevisível e desconhecida como o resultado que dela
adveio não era efetivamente controlável por nenhum dos agentes, pelo que não parece
haver imputação objetiva.

Se houver acordo são punidos como co-autores.


Nos casos em que não combinaram nada previamente, temos de ver se existe o
contexto objetivo de conexão e articulação entre um comportamento e o outro e nestes
casos temos de ver se há ou não imputação do resultado. Neste caso, pela teoria da
conditio nenhuma delas é destrutiva, mas se suprimirmos uma delas o resultado deixa de
existir e seriam ambas conditio, mas ainda assim temos de ver se existe este contexto
objetivo de previsibilidade do comportamento alheio, porque num comportamento em
que não pode de todo conhecer o comportamento do outro.
Se sim pudemos afirmar a imputação objetiva numa logica que cada uma delas
potencia as outras condições, e podemos atribuir o resultado a cada um numa
logica de articulação).
Se não pudermos divisar esse contexto, então não podemos afirmar a imputação
objetiva, quanto muito poderíamos admitir que viesse a ser punido por tentativa
de homicídio, por ter havido criação de risco proibido à quanto às restantes
teorias, a conditio resolve bem.

Sofia Cunha FDUL 2021/2022 19


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o Exames

Exame 14/09/2020

Importa agora considerar a circunstância de D vir a morrer em consequência do disparo


de A e do agravamento do estado de saúde, já anteriormente comprometido devido à
infeção com Covid-19. Com efeito, e uma vez que os dados da hipótese não sugerem que
o ferimento no abdómen fosse fatal, o resultado típico parece ser produto destas duas
causas, sendo aparentemente cada uma por si só insuficiente para produzir a morte de A,
pelo menos nos termos em que esta veio a ocorrer.
Apresentando-se assim um caso de causalidade cumulativa, falta a base causal para o
juízo de imputação. Por outro lado, de acordo com a teoria da causalidade adequada,
afigura-se que à luz do juízo de prognose póstuma proposto por esta teoria, uma pessoa
média, colocada nas circunstâncias de tempo e de lugar de A, que tudo indica que
desconhecia a infeção de D, não poderia prever que o processo causal iniciado com o
disparo da arma de fogo produziria a morte de D devido ao agravamento de uma condição
de saúde anterior. Idêntico desfecho resulta da aplicação ao caso vertente da teoria do
risco, pois que ainda que A tenha criado um risco proibido, não foi esse risco,
isoladamente considerado, que se veio a materializar no resultado, o que impede que a
morte de D lhe seja objetivamente imputada.
Assim, A apenas poderia ser responsabilizada por tentativa de homicídio.

Causas paralelas / causalidade alternativa


(A colocasse uma dose suficiente para matar C num copo, o B colocasse outra no mesmo
copo também ela suficiente e o C morresse)

Na causalidade alternativa existe mais que uma ação a intervir para a concretização do
evento, sendo que cada uma das ações individualmente é capaz de causar o resultado
típico.

Teoria da Condition sine qua non (não)


Neste caso, esta teoria diria que nenhum destes comportamentos seria causa, na medida
em que se fosse retirada a ação de um agente o resultado produzir-se-ia na mesma. Isto é
errado uma vez que quem introduz uma condição suficiente para produzir um resultado
tem de ser responsável por ele.

Teoria do Risco (sim)


Toda a doutrina concorda que nestas situações há imputação objetiva à conduta do agente,
ou seja, os dois agentes seriam punidos pela sua conduta, já que ambos criaram risco e
esse risco se concretizou no resultado. Também há uma relação causal porque se
retirássemos uma das ações, o resultado não se teria verificado nas mesmas circunstâncias
de tempo, modo e lugar. O modo não seria o mesmo, deixaria de morrer por duas doses,
para morrer por uma dose.

o Resolução do caso

O caso descrito constitui uma das hipóteses de causas paralelas/alternativas que,


basicamente, acontece quando há dúvida razoável sobre qual a ação que produziu o

Sofia Cunha FDUL 2021/2022 20


Esquema Resolução Direito Penal II | Fernanda Palma

resultado e se tal resultado não se teria verificado na mesma sem a conduta do agente,
qualquer uma das causas que concorreram para a produção do resultado surgem, ab initio,
como idóneas a produzi-lo.

Aqui, a teoria da conditio sine qua non diria que nenhum destes comportamentos seria
causa, na medida em que se fosse retirada a ação de A a vítima morria na mesma, e o
mesmo para o caso de retirarmos a ação de B. Isto é errado e não pode ser visto desta
forma, cada comportamento era por si suficiente para garantir a morte da vítima, e
portanto, quem introduz uma condição suficiente para produzir um resultado tem de ser
responsável. Ridiculamente, segundo esta teoria afastar-se-ia a causalidade de ambas as
condutas, não sendo a morte de C imputada a nenhum dos agentes, visto que removendo
a conduta de cada um C morreria na mesma por cada um ter colocado uma dose letal.

Cada ação de cada agente é explicação total do resultado, pelo que deve haver imputação.

Nesse sentido, utilizando a teoria da causalidade adequada, temos de ir fazer um juízo


de prognose póstuma feito pelo julgador, no qual um comportamento será causa adequada
sempre que, colocada uma pessoa média no lugar do agente, antes da prática do crime,
seja previsível aquele resultado como consequência do seu comportamento, atendendo
aos conhecimentos de um agente médio e aos conhecimentos específicos do agente do
caso em concreto.
Fazendo-o, facilmente se verifica que quer a conduta de A, quer a conduta de B teria
como resultado expectável a morte de C, independentemente da falta de conhecimento da
ação do outro, pelo que deve haver imputação do resultado ao comportamento de ambos,
separadamente.

Por fim, temos a teoria do risco segundo o qual a imputação objetiva impõe-se em função
da criação ou aumento de um risco proibido para os bens jurídicos, devido à conduta
concreta do agente. Está então dependente de um duplo fator: primeiro, que o agente, com
a sua ação, tenha criado ou aumentado um risco não permitido; segundo, que esse risco
tenha conduzido à produção do resultado concreto. Quando não se verifique uma destas
condições a imputação deve-se ter como excluída.
Dito isto, e quanto à teoria do risco, poderemos afirmar que em relação a ambos os
comportamentos se verificou um aumento/criação de um risco proibido, preenchendo
assim o primeiro requisito. Além disso, houve também a concretização do risco proibido
no resultado típico, visto que C bebeu o chá que continha as duas doses e por causa disso
morreu. Por esse motivo, podemos dizer que há imputação objetiva do resultado (morte)
a ambos.

Interrupção do nexo causal


(vítima morre porque fica ferida e a caminho do hospital tem um acidente de ambulância)

Teoria da conditio sine qua non (sim)


Aqui existe causalidade, visto que se não existisse o ferimento a vítima não iria para a
ambulância e consequentemente não morria, contudo, a morte deve-se a uma
circunstância imprevisível para o agente.

Sofia Cunha FDUL 2021/2022 21


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Teoria da causalidade adequada (depende)


A atuação de terceiro que se integre no processo causal desencadeado pelo agente excluirá
a imputação deste, salvo se essa atuação aparecer como previsível e provável.

Teoria do risco (não)


Quando o comportamento do agente afasta, impede ou faz em todo o caso diminuir as
hipóteses de salvamento de um bem jurídico já em perigo, também aqui há essa
potenciação do risco

o Resolução do caso

Neste caso o comportamento do agente é uma condição necessária para provocar o


resultado, porém, por circunstâncias exógenas ao agente, o resultado veio-se a verificar
por uma outra causa, havendo assim uma interrupção do nexo causal. A hipótese descrita
demonstra nitidamente a melhor adequação a teoria do risco para a resolução dos
problemas de imputação objetiva, quando confrontada com a proposta da teoria da
conditio sine qua non.

A primeira teoria, chamada teoria das condições equivalentes ou teoria da conditio sine
qua non, baseia-se numa ideia de que a causa de um resultado é toda a condição sem a
qual o resultado não teria lugar. Assim, importaria verificar, através de um juízo de
supressão mental da conduta do agente, se o resultado típico continuaria a ocorrer.
De facto, de acordo com a teoria das condições equivalentes, num caso como este haveria
causalidade, já que se A não tivesse atropelado B este não teria dado entrada nas urgências
e, não seria, com toda a probabilidade, vítima do incêndio.

Mas esta teoria abrange demasiados casos, e, efetivamente B veio a morrer num processo
causal diferente do posto em causa pelo seu atropelamento, pelo que não deveria o mesmo
ser imputável ao agente.

Devido a esta teoria abranger várias condições, ser muito ampla, surge a teoria da
causalidade adequada, onde verificaríamos que, ao fazer o tal juízo de prognose
póstuma feito pelo julgador, no qual um comportamento será causa adequada sempre que,
colocada uma pessoa média no lugar do agente, antes da prática do crime, seja previsível
aquele resultado como consequência do seu comportamento.
Atendendo aos conhecimentos de um agente médio e aos conhecimentos específicos do
agente do caso em concreto, verificamos que no caso em questão não se poderia imputar
a morte B a A, na medida em que não seria previsível que esse acidente ocorresse,
ninguém poderia saber que o atropelamento de B levaria à sua morte num incêndio.
Assim, a morte em concreto de B não poderia ser imputada a A.

Por fim, temos a teoria do risco segundo o qual a imputação objetiva impõe-se em função
da criação ou aumento de um risco proibido para os bens jurídicos, devido à conduta
concreta do agente. Está então dependente de um duplo fator: primeiro, que o agente, com
a sua ação, tenha criado ou aumentado um risco não permitido; segundo, que esse risco
tenha conduzido à produção do resultado concreto. Quando não se verifique uma destas
condições a imputação deve-se ter como excluída.

Sofia Cunha FDUL 2021/2022 22


Esquema Resolução Direito Penal II | Fernanda Palma

Ora, podemos verificar o primeiro requisito facilmente, porém, quanto ao segundo,


importa sublinhar que o risco proibido criado por I, no atropelamento, não é aquele que
se revela como causa da morte de J, isto porque J vem a falecer do risco criado pelo
incêndio. Há uma interrupção do nexo de imputação objetiva entre o atropelamento – da
responsabilidade de I – e o incêndio.

Assim, tende-se a afastar-se a imputação objetiva do resultado (morte) à conduta do


agente, visto que esse resultado surge por força de um evento alheio, o incendio. A morte
de J não seria, por isso, objetivamente imputável a I.

Porém, a hipótese não é clara, e se J tiver morrido no incendio, MAS por causa do
atropelamento então aí já há imputação.

Intervenção dolosa de outrem


(agente fere a vítima, mas ela morrer porque outro impede o seu salvamento)

Teoria da conditio sine qua non


Aqui existe causalidade, visto que se não existisse o ferimento a vítima esta não
necessitava de ser salva, contudo, a morte deve-se a uma circunstância imprevisível para
o agente.

CASOS DE OMISSÃO

Pode falar-se em imputação objetiva nos casos de omissão?

Teoria do Risco (aqui tem que se adaptar os pressupostos)


1. Não diminui o risco
2. Existe um dever de diminuir o risco, seja normativo seja reflexo de um dever de garante
3. Foi esse risco que tinha de se diminuir e não diminuiu que se concretizou no resultado.
Roxin, Figueiredo Dias dizem que basta a dúvida (porque senão perder-se-ia o valor da
norma de cuidado, pais com filho doente não levam ao médico porque não sabem se ele
se salvava e não seriam punidos), Fernanda Palma diz que é preciso a certeza (porque
senão viola o in dubio pro reu).

Haverá imputação objetiva nos casos em que se ação esperada tivesse tido lugar o
resultado não se teria produzido seguramente, ou pelo menos, com uma probabilidade
que roça a certeza.

Defende que a solução correta reside em que a imputação do resultado ao


comportamento omissivo deverá ter lugar logo que se comprove que a ação teria
diminuído o perigo que atinge o bem jurídico.

Segundo esta o resultado não será imputável se a diminuição do risco só aparece como
possível segundo uma consideração ex ante, mas já o será se, também segundo uma
consideração ex post, se comprovar que aquele diminuição se teria efetivamente
verificado.

Sofia Cunha FDUL 2021/2022 23


Esquema Resolução Direito Penal II | Fernanda Palma

TENTATIVA

A teoria do risco exige a criação ou aumento de um risco proibido para o bem jurídico e
que esse risco se venha a concretizar num resultado típico. A análise da tentativa deve ser
realizada em sede de imputação objetiva, visto que não se verifica a concretização de um
resultado típico.

1. Resolução criminosa
A mera decisão de realizar um tipo de ilícito não é punível

2. Atos preparatórios
Regra Geral CP: 21º Também a preparação da execução de um tipo de ilícito e os atos
em que se traduza não são puníveis
Exceção CP: 262º, 271º e 274º Os atos neste caso indicam um elevado grau de
probabilidade na realização do tipo ilícito e que a intervenção penal precoce seja
necessária. Em consequência a tentativa do ato preparatório não é punível e este ato não
deve voltar a considerar-se punível como crime autónomo.

3. Tentativa
CP: 22º/1 A tentativa do cometimento de um crime é punível e traduz-se na prática de
atos de execução de um crime que o agente decidiu cometer sem que este se chegue a
consumar.

3. Consumação e Terminação
CP: 22º a 25º Valem para comportamentos que não atingem a consumação.

Consumação Formal: logo que o comportamento doloso preenche a totalidade dos


elementos do tipo objetivo de ilícito
Consumação Material: conclusão dá-se apenas com a realização completa do conteúdo
do ilícito em vista do qual foi erigida a incriminação, desde que o agente tenha atuado
com o dolo de o realizar
Distinção relevante para verificar o momento da consumação do CP: 24º/1 e para a
comparticipação visto que deve ocorrer antes da consumação.

Consumação Antecipada: crimes de perigo, crimes de empreendimento ou de atentado,


crimes de intenção ou de resultado cortado
Crimes de estrutura reiterada: crimes duradouros ou crimes com pluralidade de atos
típicos

Requisito Subjetivo | Decisão de cometer um crime

Para Figueiredo Dias não poderá considerar-se que há tentativa se estamos perante um
caso de negligência, pelo menos inconsciente, visto que a pessoas não decidiu realizá-la.
Apesar de ser possível colocar me perigo bens alheios sem dolo não será casos de tentativa

A doutrina minoritária considera que não pode haver tentativa no caso de dolo eventual,
considerando que a tentativa apenas pode ser imputada no caso de dolo direito. Figueiredo
Dias não aceita esta restrição, pelo que pode ser dolo intencional, necessário ou eventual

Sofia Cunha FDUL 2021/2022 24


Esquema Resolução Direito Penal II | Fernanda Palma

Requisito Objetivo | Prática de atos de execução

Não tendo o legislador aceite a teoria subjetiva ou voluntarista, a qual contenta-se com a
exteriorização da vontade através da prática de atos preparatórios voltados a realização
do tipo, exige-se a prática de atos de execução. Portanto, o mero conteúdo da vontade não
basta, para solucionar a questão do iter criminis, pois esta diz respeito à culpabilidade

Abstraindo as correntes negativistas, a doutrina e a jurisprudência utiliza diversas teorias


para o estabelecimento de uma delimitação entre atos preparatórios e atos de execução,
sendo apontadas como principais teorias aptas a solucionar a questão do início da
execução as seguintes:

Teoria da ação típica determina que temos que olhar caso a caso sendo que o execução
somente ocorreria tipo por tipo, ou seja, exigir-se-ia que o agente realizasse, efetivamente,
de modo concreto, uma parcela da própria conduta típica descrita em abstrato na norma.

Para a teoria subjetiva, a tentativa inicia-se conforme o plano individual do autor.

A teoria objetivo-material ou da unidade natural, inclui na tentativa as ações que, em


virtude de sua vinculação necessária com a ação típica, “aparecem como parte integrante
dela, segundo uma ‘concepção natural’, pelo que, só há ato executivo se estiver em
conexão necessária com a ação típica, isto é, intimamente unido ao descrito na ação
típica”

Finalizando, a teoria da univocidade, defendida por Carrara, postula que os atos


preparatórios seriam equívocos, pois poderiam ser dirigidos tanto para a prática de atos
ilícitos como para a prática de atos lícitos.

As considerações anteriores permitem retirar algumas conclusões e alcançar certas


concretizações em matéria de critérios de distinção entre preparação e tentativa:
1. Nenhuma das fórmulas referenciadas conseguirá traçar, em termos absolutamente
precisos e definitivos, a fronteira que separa atos preparatórios de atos de execução;
2. A distinção cuja concretização se procura há-de ser eminentemente objetiva.

CP: 22º/2 A)
Os que preenchem um elemento constitutivo de um tipo de crime, embora nas alíneas
seguintes estenda essa qualificação a outros atos que não assumem aquela característica.

CP: 22º/2 B)
O significado útil deste preceito é pois o de equiparar aos atos típicos (parciais) previstos
na al. a) todos aqueles que são idóneos- isto é, adequados, segundo os conhecidos termos
da doutrina da adequação, nomeadamente de acordo com um juízo ex ante, de prognose
póstuma- a produzir o resultado típico:
Crimes de mera atividade: idoneidade para integrar a realização do tipo
(CP: 352º Usar serra para cortar grades da prisão)

CP: 22º/2 C)
Para colmatar a lacuna dos atos preparatórios não ficarem excluídos esta alínea inclui os
que, segundo a experiência comum e salvas circunstâncias imprevisíveis, forem de

Sofia Cunha FDUL 2021/2022 25


Esquema Resolução Direito Penal II | Fernanda Palma

natureza a fazer esperar que se lhes sigam atos das espécies indicadas nas alíneas
anteriores

Roxin: 2 critérios concretizadores cumulativos: o da conexão temporal estreita e o da


atuaçao sobre a esfera da vítima ou do tipo.
Figueiredo Dias: exigência cumulativa de uma dupla conexão: de uma conexão de perigo
e de uma conexão típica; ou se preferirmos, de uma conexão de perigo típico.

Não Consumação

Tentativa inacabada ou frustração: agente não chega a praticar todos os atos de


execução que seriam indispensáveis à consumação

Tentativa acabada: agente pratica a totalidade daqueles atos e, todavia, a consumação


não vem a ter lugar

Punibilidade da tentativa

O desvalor da ação tentada e consumada é o mesmo, mas o desvalor do resultado é menor


na tentativa o que justifica as regras especiais de punição

CP: 23º Delimita o âmbito da tentativa punível em punção de 2 critérios:

Em função da pena aplicável ao crime consumado


CP: 23º/1 No caso dos delitos qualificados a pena aplicável é a dos delitos qualificados,
seja no plano da ilícito ou da culpa.
CP: 23º/2 É a mesma pena aplicável ao crime consumado, mas com CP: 73º uma
atenuação especial da pena obrigatória.

Em função da seriedade do ataque à ordem jurídica que a tentativa representa


CP: 23º/3 Só não é punível quando for tentativa impossível ou inidónea, ou seja, quando
for manifesta a ineptidão do meio empregado pelo agente ou a inexistência do objeto
essencial à consumação do crime.

Manifesta: a tentativa não será punida quando for evidente e obvio que os meios não são
aptos, tipo quando um homem está a fazer uma reza para te tentar matar. Será, portanto,
punida quando não for manifesta porque nesses casos abala a confiança comunitária, por
exemplo se for uma arma de brincar, mas parecer mesmo real e a vítima acreditar mesmo.

Agora a questão é saber quando é que se deve considerar que é manifesta.


Para o Figueiredo Dias é quando houver aparência objetiva de perigo aferida de acordo
com um juizo ex ante
Para a Maria Fernanda Palma é quando se verificar um grau de possiblidade de contituir
uma perturbação do ambiente de segurança

Sofia Cunha FDUL 2021/2022 26


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Tentativa impossível Crime Putativo


Quem parte erroneamente, no seu Quem, diferentemente, representa
comportamento, de circunstâncias que, se corretamente todos os elementos
fossem verdadeiras, preencheriam um tipo constitutivos do facto, mas aceita
de crime. erroneamente que eles integram um tipo
de crime.
A tentativa impossível será punível se,
razoavelmente, segundo as circunstâncias O crime putativo não é punível, visto que
do caso e de acordo com um juízo ex ante, faltaria qualquer perigo de violação de um
ela era ainda aparentemente possível ou bem jurídico-penal suscetível de abalar a
não era já manifestamente impossível. confiança da comunidade nas normas
jurídicas de tutela.

A impossibilidade pode provir de o tipo exigir uma especial qualificação do autor e o


agente da tentativa pensar erroneamente- ou por força de um erro de conhecimento, ou
antes de um erro de valoração- que a possui.
(alguém que, não sendo funcionário por força de nulidade do processo de nomeação, mas
supondo-se como tal, preenche com a sua conduta um qualquer crime próprio da categoria
dos funcionários)

Desistência Voluntária da Tentativa

CP: 24º/1 A tentativa deixa de ser punida quando

O agente voluntariamente:
Conceção Psicológica: depende do grau de coação psíquica exercida sobre a
liberdade de decisão do agente. Voluntária se decidiu livremente. Involuntária se desistiu
devido à pressão psíquica originada pelas circunstâncias da atuação (medo ser preso)
Conceção Normativa: depende do merecimento da isenção da pena face ao
fundamento jurídico-próprio.Será necessário para a voluntariedade que ela tenha tido
origem numa “inversão” da posição interna do agente determinante de um seu verdadeiro
“regresso à legalidade”.
Figueiredo Dias: a desistência é voluntária sempre que seja reconduzível a uma
motivação autónoma ou ato-imposta: o que pressupõe que o agente seja ainda senhor da
sua decisão e não seja submetido a uma pressão desrazoável da situação exógena sobre o
cumprimento das suas intenções próprias, numa palavra, que tenha atuado por impulso
próprio.

1. Desistir de prosseguir a execução do crime à Tentativa Inacabada


Ocorre quando agente tenha renunciado à prática de atos que, no momento da renúncia,
ele ainda considerava necessários para a consumação.

Requisito Objetivo: necessário que o agente deixe de prosseguir a execução e que a


consumação não sobrevenha
Requisito Subjetivo: ponto de vista do agente de que se abandonar a execução a
consumação não terá lugar.

Sofia Cunha FDUL 2021/2022 27


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Desistência Parcial: na fase de execução, renuncia voluntariamente à consumação de


uma circunstância qualificadora, mas consuma, não obstante, o delito fundamental
(Leva a arma para o roubo, mas não dispara apenas rouba)

Desistência nos crimes agravados pelo resultado: A doutrina maioritária aceita o relevo
da desistência nestes casos. Se, pois, o perigo típico, ligado à conduta tentada, já se
atualizou no evento agravante, não parece em princípio adequado e justo privilegiar o
comportamento unitário com a relevância da desistência (cuja “voluntariedade” deverá,
de resto, ser questionável); em situações deste teor, porém, parece justificar-se a quebra
da aludida unidade e, se tal se tornar viável no caso, conceder ao agente a atenuação
especial própria do crime fundamental apenas tentado.
(A leva uma arma para disparar para o chão se a vítima de roubo resistir, a vítima resiste
e por negligencia dispara e mata B, acabando por abandonar sem roubar)

2. Impedir a consumação à Tentativa Acabada


Existe uma nova cadeia causal dirigida a impedir a consumação do facto, ou seja, tem o
agente de voluntariamente impedir a consumação através de uma atividade própria,
eventualmente com o auxílio de terceiros, por exemplo, de um procurador, de um médico.

Tentativa Fracassada: Acontece quando não impede porque acha que não se irá
consumar sendo irrelevante a desistência

3. Mesmo havendo consumação (formal), impedir a verificação do resultado não


compreendido no tipo de crime (consumação material)
Dá-se um alargamento do privilégio da desistência a casos após a consumação formal
mas ainda não se deu a consumação material visto que não se deu o resultado atípico.

CP: 24º/2 No caso de não ter sido a atuação de agente que levou à não consumação ou
não verificação do resultado, mas sim de um terceiro, o desistente pode ainda assim não
ser punido caso se tenha empenhado para evitar.

Esforços: Não basta que não queira que aconteça, necessita de existir uma nova cadeia
de comportamentos com dispêndio de energia tendo o objetivo de salvar o bem jurídico.

Sérios: agente intenta levar a cabo tudo aquilo que subjetivamente pensa que teria de
fazer ou pode fazer para evitar a consumação. Equivale à ideia de melhor contribuição
possível da parte do agente

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AUTORIA

A lei penal portuguesa prevê vários modos de participação no crime, qualificando-os ora
de autoria a que se costuma chamar de participação principal ora de cumplicidade,
também denominada de participação secundária.

Agentes do crime são CP: 26º os autores e CP: 27º os cúmplices

Autoria Imediata
“quem executar o facto, por sim mesmo”

Para Roxin o autor preenche na sua pessoa a totalidade dos elementos objetivos e
subjetivos do ilícito típico e detêm por isso o domínio da ação.

Autoria Mediata
“quem executar o facto (...) por intermédio de outrem”

Existe sempre nesta figura um “homem-de-trás” ou da “retaguarda” e um homem-da-


frente, o executor, intermediário ou instrumento.

Princípio da auto-responsabilidade determina que só será autoria mediata quando o


executor não seja plenamente responsável, quando tenha atuado sob influência, numa
posição subordinada. A pessoa da frente está numa situação em que não pode ser
responsabilizado por esse facto a título de dolo e quando essa situação foi criada ou
aproveitada por uma outra pessoa para a levar a praticar o facto, então essa pessoa de trás
é autora mediata desse facto.

É irrelevante o meio que o autor mediato usa para, através do executor material, conseguir
os seus intentos, podendo ser por coação ou por CP: 16º/2 erro.

Autor Mediato: Falta-lhe o domínio da ação, é utilizado como instrumento não tendo
capacidade para avaliar a sua conduta, pelo que age sem culpa.

Atua tipicamente
Por não praticar uma ação sendo utilizado apenas o seu corpo (encontrão)
Por ser a própria vítima, podendo o homem de trás ser considerado autor ou ficando
impune por cumplicidade.
Por atuar sem dolo do tipo: apesar da sua ação preencher o tipo objetivo não preenche o
tipo subjetivo por lhe falta o dolo, visto que está em erro dobre a factualidade típica
dolosamente causado pelo homem-de-trás. No caso de atuar com negligência consciente
Figueiredo Dias considera que é responsável

Atua licitamente
(Juiz pede a polícia a detenção de C sabendo que não há motivos) Aqui o Homem de trás
tem o domínio do facto pelo que se pode afirmar a autoria mediata

Sofia Cunha FDUL 2021/2022 29


Esquema Resolução Direito Penal II | Fernanda Palma

No caso do homem de trás criar uma situação de legítima defesa para que o homem da
frente pratique um ato jusfificado será responsabilizado visto que cria dolosamente uma
situação de coação que só pode ser eliminada através da lesão de um dos bens jurídicos
naquela co-envolvidos. No caso de ocorrer erro sobre os pressupostos de legitima defesa
não se exclui o dolo do tipo mas exclui o dolo da culpa, bastando para se retirar ao homem
da frente a responsabilidade.

Atua sem culpa


Por falta de imputabilidade: estão quebradas as conexões objetivas de sentido entre o
agente e o facto, portanto, o homem-da-frente não possui domínio do facto, mesmo nos
casos em que possa defender-se que ele atuou com dolo do tipo.
Por atuar sem consciência do ilícito: o homem-da-frente agiu com falta de consciência do
ilícito não censurável, devido a um erro de valoração, intencionalmente criada pelo
primeiro que detém o domínio
Por atuar em estado de necessidade desculpante: se o homem-da-frente age ao abrigo do
Estado de Necessidade desculpante, então, não pode ser punido criminalmente, já que
sem culpa, não há pena.

Erro sobre o sentido concreto da ação

São casos em que o homem-da-frente conhece todas as circunstâncias necessárias à


efetivação da sua responsabilidade dolosa pelo facto que executa, mas, no entanto, erra
por força de engano provocado ou explorado pelo homem-de-trás, sobre outras
circunstâncias também elas juridicamente relevantes para a concretização do ilícito típico.

Roxin admite a autoria mediata, contudo Figueiredo Dias discorda visto que existe a
figura da instigação não estamos numa situação de lacuna de punibilidade.

Ou o erro em que incorre o instrumento e foi provocado ou explorado pelo homem-de-


trás exclui o dolo do tipo e o homem-de-trás é, nos termos gerais, autor mediato.

Ou o erro em que incorre o instrumento e foi provocado ou explorado pelo homem-de-


trás não exclui o dolo, pelo que só pode ser considerado instigador ou cúmplice, podendo
a influência do seu conhecimento especial ser ponderada em termos de medida da pena.

Casos de aparelhos organizados de poder e do domínio da organização

Autoria mediata funda-se nos casos em que o homem-de-trás tem o domínio da


organização; em que há centros organizados e estruturados hierarquicamente e dotados
de forte disciplina interna em que os homens-da-frente reagem automaticamente à
instrução do chefe e obedecem às suas ordens, adquirindo a natureza de meros
instrumentos.

o Resolução do Caso | Erro na factualidade típica

De acordo com o princípio da auto-responsabilidade necessitam de se verificar duas


condições para que se possa ser autora mediata.

Sofia Cunha FDUL 2021/2022 30


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O Autor Material não é responsável criminalmente a título de dolo (até pode ter dolo, não
pode é ser responsabilizado a título de dolo); se for por negligência isso não influencia.
A situação que leva a que ele não seja responsável criminalmente a título de dolo ou foi
criada por esta outra pessoa ou, pelo menos, ele aproveitou-se dela para o levar a praticar
o facto.

Autor Imediato: é autor material visto que executa ao to por sim mesmo.
No âmbito da imputação objetiva cria o risco proibido que se concretizou no resultado.
Quanto à imputação subjetiva o autor está em erro sobre a factualidade típica, pelo que
CP: 16º/1 se exclui o dolo do tipo e CP: 16º/3 + 13º + 15º b) ressalva-se a possibilidade
de punibilidade por negligência.

Autor Mediato: o agente não executou o crime por si mesmo, pelo que poderia ser co-
autor, contudo não é o caso visto que tomou parte direta na execução, ou seja, é autor
mediato.

o Resolução do Caso | Erro sobre os pressupostos de uma causa de justificação

Autor Imediato: é autor material visto que executa ao to por sim mesmo.
No âmbito da imputação objetiva cria o risco proibido que se concretizou no resultado.
Atua igualmente com CP: 14º/1 dolo
Contudo, representou que iria ser agredido pelo que a sua atuação seria de legitima defesa
pelo que se excluiria a ilicitude, contudo existe um erro do CP: 16º/2 sendo que haverá
exclusão do dolo da culpa.
Não pode ser responsabilizado a título de dolo por homicídio, porque faltou o dolo da
culpa. Ou seja, não é porque “não tem dolo”, mas porque não pode ser responsabilizado
a título de dolo. Aqui não pode porque não tem dolo da culpa.

o Resolução do Caso | Caso de Estado de Necessidade Desculpante


(Iago ameaça o Otelo apontando-lhe uma pistola, dizendo-lhe que se não matasse a sua
mulher, ele matava-o, e o Otelo mata a mulher)

Autor Imediato: é autor material visto que executa ao to por sim mesmo.
No âmbito da imputação objetiva cria o risco proibido que se concretizou no resultado.
Atua igualmente com CP: 14º/1 dolo
Não há causa de justificação
Admitindo-se que ele matou para afastar o perigo para a sua própria vítima, a sua atuação
é licita ao abrigo do estado de necessidade desculpante, pelo que não pode ser
responsabilizado criminalmente nem por dolo nem por negligência.

o Resolução do Caso | Erro sobre a identidade da vítima

Este erro não afasta o dolo, porque a identidade da vítima não é elemento do tipo de
homicídio.
Então, não é aqui autor mediato, porque apesar de ter criado o erro que levou o autor
material a praticar o facto, não o instrumentalizou, porque, o autor material não deixa de
poder ser responsabilizado a título de dolo.

Sofia Cunha FDUL 2021/2022 31


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Co-autoria
“quem tomar parte direta na execução do facto por acordo ou conjuntamente”

Existe aqui um domínio do facto coletivo, não servindo nenhum como instrumento.
Para Maria Fernanda Palma temos um problema de imputação objetiva que é
reconfigurada pela subjetividade.

Requisito Subjetivo | Decisão Conjunta

É a tomada da decisão conjunta, anterior ao início da execução do facto, que cria uma
conexão mútua entre as partes da execução que justifica a penalização na totalidade do
agente que apenas praticou parte do ilícito

Para Figueiredo Dias não pode ser um mero acordo, a decisão tem de revestir a
distribuição do papel e da função de cada autor na execução total, necessitando de ser
uma parte da atividade de participação própria.

No caso de atuações singulares irem além da decisão conjunta estamos num caso de
excesso pelo que esses atos só podem ser imputados ao seu autor. O co-autor apenas
poderá ser responsabilizado pela atuação excessiva no caso de ter algum tipo de dolo,
nomeadamente eventual.

Co-autoria sucessiva é quando durante a realização do facto, ante da sua consumação,


alguém se torna co-autor, sendo que a doutrina maioritária considera que só será punido
pelo ilícito cometido após a sua adesão.

Requisito Objetivo | Execução Conjunta

Atuando cada um por si não fazia resultar o facto típico, mas a atuação global conjunta é
que redunda na execução do facto típico (global), snedo portanto a contribuição essencial

O facto será dependente da execução das tarefas repartidas entre os agentes, mesmo que
nem todos eles preencham elementos típicos do ilicito.

Tanto Figueiredo Dias como Fernanda Plama consideram que a atuação na fase
preparatória não pode corresponder a uma situação de coautoria. A participação no
planeamento e organização necessita de ser prolongar para o dirigir da operação, caso
contrário só poderá ser instigador ou cúmplice.

Punibilidade

Cada co-autor é punido na moldura penal prevista para o facto decidido e executado
conjuntamente como se o tivesse cometido sozinho. Nos casos de excesso pode haver
punições individuais.

Sofia Cunha FDUL 2021/2022 32


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Co-autoria Unilateral (Jakobs e Helena Morão)

(A vai colocar uma dose de veneno que julga ser mortal, mas na verdade não é. C percebe
e, antes do A por metade do veneno, junta o que faltava. A vítima morre.)

A só pode ser punido por tentativa de homicídio, sendo autor material dessa tentativa.

C quando este pôs o veneno também só colocou uma parte do veneno que na totalidade
ia matar B – só pôs uma parte que não era suficiente por si só, só mata a vítima em
conjunto com A; ele tem noção do A. Mas é difícil sustentar que ela seja punido por
Homicídio Doloso Consumado, uma vez que ele precisou da atuação do A.

Jakobs + Helena Morão = Dizem que ele vai ser punido por Homicídio Doloso
Consumado, porque falam aqui em co-autoria, já que ele tem noção que está a juntar o
veneno que falta, então, é responsável globalmente pelo facto. Já em relação ao A, ele
não tem noção de estar a atuar em conjunto com C, logo é autor material de uma tentativa
de homicídio, não sendo responsável pelo facto doloso, mas apenas pelo que fez sozinho.

Instigação
“quem, dolosamente, determinar outra pessoa à prática do facto, desde que exista
execução ou começo de execução”

Instigador: não basta incentivar ou aconselhar a sua conduta tem que influenciar para
motivação do executor de forma cabal. Tem de ter o domínio da decisão do instigado
cometer o crime.
=/= Cúmplice: No caso de ser só incentivar são casos de auxílio moral e não obra própria
pelo que podem ser cumplicidade por comportamento de indução.

Instigado: é motivado a cometer o crime pelo instigador, sendo este que decide a
produção do facto, mesmo que se mostre decidido a cometer o crime (homicida
profissional)

Alargamento da Determinação

Alguém já está decidido à prática do fato, mas é instigado a agravar

Princípio analítico da separação Orientação sintética


A responsabilidade do instigador reduz-se Deve considerar-se que houve instigação
ao facto que incentivou, se essa atuação relativamente ao delito agravado
por si não for um crime terá de ser
cumplicidade sobre o facto mais grave Seguida por Figueiredo Dias e Roxin

Execução ou começo da execução

Sofia Cunha FDUL 2021/2022 33


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Dolo

Para Figueiredo Dias pode ser através de qualquer modalidade de dolo, contudo não será
compatível a criação da decisão por negligência.

Há quem considere que se exige o duplo dolo do instigado


1. Dolo na determinação do instigado
2. Dolo quando ao facto cometido (querer que o instigado pratique aquele facto)

No caso do instigado ir além do dolo do instigador estamos num caso de excesso, pelo
que o instigador só responde na medida do seu dolo, e eventualmente por negligência
quando ao ilícito agravado.

Se o instigado ficar aquém do dolo do instigador, este responde pelo facto efetivamente
cometido, visto que a tentativa falhada de instigação não é punível.

Cumplicidade

Acessoriedade da participação: a punibilidade da participação depende da existência de


um facto principal doloso cometido pelo autor

A acessoriedade quantitativa ocorre quando se exige que o facto principal alcance um


determinado grau de realização para que o cúmplice seja punido.

Momento temporal

Cumplicidade só é punível até à consumação do ilícito principal.

Se o ato de auxílio foi decidido antes da consumação formal, verificação do dano da


vítima – trata-se de cumplicidade.

Se só depois, embora antes ainda da deslocação patrimonial, a questão não é de


cumplicidade.

Dolo

O cúmplice presta auxílio doloso a um facto doloso, pelo que tem uma dupla referência,
à prestação de auxílio e à própria ação dolosa do autor.

O cúmplice necessita de conhecer a dimensão do ilícito.

Sofia Cunha FDUL 2021/2022 34


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Desistência da tentativa na comparticipação

Aplica-se aos autores mediatos, co-autores, instigadores e cúmplices.

O comparticipante que torna ineficaz o seu contributo para o facto quando este se encontra
ainda na fase preparatória não deve ser punido. Não estamos perante uma tentativa porque
seriam necessários atos de execução. Pode haver desistência se já tiver havido
consumação formal mas não material.

Comunicabilidade e incomunicabilidade das circuntâncias

Basta que um dos agentes do crime tenha a qualidade do tipo legal para que os outros
também a tenham. A regra é a da comunicabilidade entre agentes.

Limitado aos casos de comparticipação em que a “ilicitude ou o grau de ilicitude


dependerem de certas qualidades ou relações especiais do agente”

Elementos pessoas fundamentadores da ilicitude

Ficam de fora “as qualidades ou relações especiais” que não influenciam a ilicitude, mas
antes fundamentam o juízo de culpa.

Qualidade ou relações especiais do agente

Sofia Cunha FDUL 2021/2022 35


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IMPUTAÇÃO SUBJETIVA

CP: 13º Determina que só pode ser punível o facto praticado com dono ou nos casos
expressamente previstos, o com negligência.

Necessita de existir dolo do tipo, ou seja, um conhecimento (elemento intelectual) e


vontade (elemento volitivo) de realização do tipo objetivo de ilícito.

A seguir à imputação objetiva temos de ver se podemos verificar também a imputação


subjetiva. Se com a primeira imputamos o resultado ao comportamento do agente, na
segunda iremos imputar o comportamento ao agente segundo a sua consciência,
vontade e controlo do comportamento. A imputação subjetiva será, assim, uma
atribuição do comportamento do agente objetivamente confirmado a essa consciência
e vontade do agente.

Quanto à imputação subjetiva, importa dizer que se divide em dois momentos, o


momento intelectual do dolo e o momento volitivo. O primeiro consiste na
representação do comportamento típico, o segundo, por outro lado, consiste na posição
de vontade relativamente à realização do comportamento.

Elemento Intelectual Elemento Volitivo

CP: 16º/1 Para este momento é necessário que o agente


conheça, represente corretamente e tenha consciência do
Neste momento o que
seu comportamento como comportamento típico e do
temos de ver é o tipo do
respetivo resultado.
dolo, ou seja, se o agente
utilizou de dolo, e qual a
Para tal é necessário que o agente represente a realização
sua forma, ou negligência,
do facto típico como, pelo menos, possível, que tenha a
e qual a sua forma.
devida consciência disso e, por fim, que represente o
comportamento como um comportamento perigoso.

Elemento Intelectual | Conhecimento Circunstâncias de Facto

O agente tem de representar um agregado de factos valorados, nomeadamente elementos


descritivos (outras pessoas, corpo etc) e elementos normativos (representados por
referência a normas, contudo não tem de ser com enorme exatidão, visto que só o jurista
saberia representar) e esta representação necessita de ser atualizada na consciência
intencional no momento da ação.

Ora, se não houver esta representação ou, pelo menos, uma representação correta dos
elementos do tipo ilícito então poderemos estar numa das várias situações de erro que
excluem o dolo pelo CP: 16º/1, são elas:

Sofia Cunha FDUL 2021/2022 36


Esquema Resolução Direito Penal II | Fernanda Palma

Nota: Devido ao princípio de congruência entre o tipo objetivo e subjetivo de ilícito


doloso, quando o agente não represente, ou represente erradamente um dos elementos do
tipo ilícito objetivo o dolo terá de ser negado. Apenas no caso do tipo objetivo estar
preenchido se pode decorrer ao CP: 16º/1 para extinguir o dolo.

Erro sobre a factualidade típica CP: 16º/1 1ªparte


(Homicídio, agente tem de representar que está a matar a pessoa e querer matar a pessoa.
Se não representar matar outra pessoa, mas sim uma galinha gigante ou uma lebre, está
em erro sobre elementos de facto do tipo de crime)

Esta situação dá-se quando falta ao agente o conhecimento da totalidade das


circunstâncias ou sobre os elementos de facto (animal vs pessoa) ou de direito (que é
alheio) de um tipo de crime, sendo que devido a tal, verificamos um erro ignorância,
onde o agente desconhece que está a cometer um crime.

Aqui o dolo do tipo não se excluir, apenas nunca se chega a constituir e o sentido de erro
significa a representação errada, mas também a falta de representação.

Só excluirá o dolo o erro que incide efetivamente sobre os aspetos da conduta que
constituam o objeto do dolo ou seja, os aspetos que a vontade do agente pode dominar e
que sejam constitutivos do comportamento proibido.

CP: 16º/3 Ao faltar o dolo do tipo falta o tipo subjetivo do crime doloso, contudo o agente
pode ser punido dolosamente por outros crimes, ou pode preencher o tipo de ilícito
negligente.

Se o dolo for sobre um elemento não essencial, não se exclui o dolo


(A quer matar B mas mata C, irmão gémeo de B. é um elemento não essencial porque
errou sobre a identidade da vitima mas a vitima continua a ser uma pessoa, o facto de ser
pessoa é que seria o elemento essencial)

No caso do erro-suposição há motivação para a prática do crime, mas está em erro sobre
um elemento do tipo que o impede materialmente de praticar o crime, aqui não se irá
afastar o dolo, recorre-se ao regime CP: 23º/3 da tentativa impossível. Isto dito, importa
verificar se a tentativa é punível no tipo de crime em causa, devendo, 23º/1 ao crime
consumado corresponder uma pena superior a 3 anos. Contudo, estamos perante uma
tentativa impossível, importará aferir da respetiva punibilidade, ao abrigo do 23º/3.
(B quer furtar o computador portátil do seu colega C, exteriormente idêntico ao seu, mas
com tecnologia de última geração no interior. Todavia, engana-se e acaba por levar o seu.)

o Exames

Exame 24/07/2020
Pouco depois, Júlio sai atrás de Pompeu, desejando pedir perdão, e espanta-se por
encontrá-lo inanimado e sangrando. Convencendo-se de que, durante a discussão, lhe
bateu com muito mais força do que julgou, e de que o matou, rapidamente enterra
Pompeu para ocultar o crime.

Sofia Cunha FDUL 2021/2022 37


Esquema Resolução Direito Penal II | Fernanda Palma

Júlio não representa que está a matar uma pessoa, pelo que age em erro sobre a
factualidade típica, previsto no CP: 16º/1, primeira parte. Exclui-se, assim, o dolo do tipo.
Fica ressalvada a punibilidade por negligência, nos termos dos 16º/3, 13º e 15º, al. b),
prevista no 137º Pode admitir-se a falta de cuidado do agente, supondo que um exame
rápido lhe permitiria ver que a vítima ainda respirava.

Exame 05/06/2018
Em relação à morte de D, também não é possível responsabilizar A a título de tentativa,
uma vez que não houve dolo (CP: 22º/1): na medida em que A nem sequer podia ver D,
então, também não podia representar a possibilidade de o atingir, estando numa situação
de erro sobre a factualidade típica que exclui o dolo.

Exame 27/06/2018
No Sábado, Aníbal chegou ao local quinze minutos mais cedo e avistou, sentada num dos
bancos do jardim, uma senhora usando uma saia correspondente à descrição indicada
por Bianca, pelo que julgou tratar-se desta. Vendo a senhora, que na verdade era Carla,
de mão dada com Dário, a quem dirigia sorrisos cúmplices, Aníbal convenceu-se de que
Bianca teria combinado igualmente encontros com outros correspondentes e sentiu-se
enganado. Furioso, agarrou uma pedra da calçada e atirou-a na direção de Carla. Como
esta, no entanto, se inclinou para beijar Dário, a pedra atingiu Emília, deitada na relva
ali perto.

Na falta de dados concretos em sentido contrário, A não parece ter representado a


presença de E nem, portanto, a possibilidade de a atingir. Agiu, assim, em erro sobre a
factualidade típica (16º/1, primeira parte), não tendo, por isso, dolo.
A não pode, deste modo, ser punido por crime de homicídio contra E sob qualquer forma:
não por crime doloso consumado, visto não ter havido resultado, nem tentado, pois não
há dolo; também não por crime negligente, dada a ausência de resultado.

Erro sobre o processo causal


(o agente concebe matar uma pessoa com um disparo e a vítima ferida vem a morrer num
acidente de ambulância a caminho do hospital)

Nos crimes de resultado tanto a ação, como o resultado são circunstâncias do facto
pertencentes ao tipo objetivo de ilícito que, como tal, têm de ser levados, nos termos
descritos, à consciência intencional do agente. Importa perceber se a não coincidência
entre o risco que o agente cria conscientemente e aquele de que deriva o resulta pode levar
a que o agente seja responsabilizado, ou seja, se é exigido que o autor conheça a conexão
entre ação e resultado.

Maria Fernanda Palma


Jakobs e Curado Neves Figueiredo Dias
Eduardo Correia
O erro sobre o processo
Como o resultado tem lugar À partida sim, pois só dessa
causal é irrelevante,
por concretização de um maneira a realização do tipo
como os casos de “erro
risco não previsto, não pode objetivo de ilícito no seu
sobre a identidade da
afirmar-se a semelhança todo surgirá não como
pessoa ou do objeto”,
entre o tipo objetivo e o tipo “obra impessoal”, mas
exceto nos crimes de
subjetivo doloso como “obra do agente”.
execução vinculada

Sofia Cunha FDUL 2021/2022 38


Esquema Resolução Direito Penal II | Fernanda Palma

Erro sobre o processo causal relevante


(Se uma pessoa concebe matar outra com um disparo e a vítima ferida vem a morrer num
desastre a caminho do hospital, devido ao acidente, o processo causal desencadeado pelo
comportamento do agente conduziu à morte, mas por uma forma diferente e anómala em
relação à projetada)

Resposta Tradicional: Em causa está a verificação de um desvio essencial do


processo causal, completamente imprevisível, por não ser controlável pelo agente. De
algum modo, o resultado deixa de ser relativo a uma ação do agente e, por isso, o dolo
deve ser excluído.

Maria Fernanda Palma: Nestes casos de processos causais acidentais e


imprevisíveis o agente apenas deveria ser responsabilizado por tentativa, sem que restasse
sequer imputação a título de negligência quanto ao resultado produzido dada a
inexistência de Imputação Objetiva. Por isso, nestes casos, o erro sobre o processo causal
releva para efeitos de exclusão do dolo.

Figueiredo Dias refere que hoje já se encontra solução para muitos destes
problemas em termos de Doutrina da Imputação Objetiva, nomeadamente no âmbito da
conexão do risco. Assim diz que quando a imputação objetiva se verifique no âmbito da
conexão do riscotem de conferir-se relevo ao erro sobre o processo causal, contudo:
1. Ou o tipo de ilícito é de execução vinculada e, então, o “erro sobre o processo
causal” traduz-se em um puro erro sobre a factualidade típica e é relevante;
2. Ou o tipo de ilícito é de execução livre e, então, torna-se extremamente difícil
figurar uma hipótese em que a imputação objetiva, comandada pela conexão de
risco, deva ser afirmada e, todavia, o dolo do tipo ser negado.
Onde e quando uma tal hipótese possa ser figurada, todavia, o erro sobre o processo causal
não pode deixar de ter-se por relevante no sentido da não afirmação do dolo e o agente só
poderá ser punido a título de tentativa.

o Resolução do caso

O enunciado sugere uma situação de erro sobre o processo causal, em que o agente
consegue atingir o seu objetivo (no caso, matar P), de uma forma diferente da inicialmente
concebida. É exatamente neste ponto que o erro sobre o processo causal se distingue da
aberratio ictus: nesta, o agente não consegue produzir o resultado almejado.

Conforme se verificará, este cenário assume relevância tanto de um ponto de vista de


tipicidade objectiva como subjectiva

Releva, assim, abordar a problemática relativa à extensão o dolo. Sinteticamente, cumpre


saber se o dolo deverá abarcar o concreto processo causal que desembocará na produção
do resultado típico.

A doutrina tradicional responde afirmativamente a esta questão, sugerindo que a técnica


estaria em saber se o resultado traduziria a ocorrência de um desvio essencial.
Nestes termos, entendia-se que se o concreto desvio fosse previsível, integraria o
respectivo dolo e o agente seria punido por crime doloso consumado; ao invés, tratando-

Sofia Cunha FDUL 2021/2022 39


Esquema Resolução Direito Penal II | Fernanda Palma

se de um desvio completamente imprevisível, o dolo seria excluído e salvaguardar-se-ia


a punição a título negligente.

Apesar da intuitiva razoabilidade desta construção, importa lembrar que o dolo não se
reconduz a previsibilidade, mas sim a previsão efectiva. Para haver dolo, o agente tem de,
pelo menos, prever como possível a verificação do resultado. Impõe-se, aqui, uma
previsão efectiva, uma acção “dirigida” à produção desse resultado. Por esse motivo,
refere Puppe que quando o processo causal se desenvolve de forma completamente
imprevisível, não haverá, desde logo, imputação objectiva, pelo que o erro sobre o
processo causal seria um problema de tipicidade objectiva e não de imputação subjectiva.

Para Roxin, diferentemente, a essência do dolo está no plano do agente.


Consequentemente, o resultado poderá ser imputado a título doloso se ainda for uma
concretização do plano desse mesmo agente. Roxin indica que assim acontecerá, via
regra, nos crimes de execução livre e não nos de execução vinculada.

Por seu turno, Maria Fernanda Palma sublinha que nas hipóteses de processos com risco
intenso e consequências incontroláveis, não haverá verdadeiramente erro. Nesses casos –
afirma a autora –, o agente representa simultaneamente a verificação de múltiplos riscos,
sendo tais perigos concretização do risco inicialmente criado.

Daqui tende a concluir que o dolo não tem que abarcar o processo causal, bastando que o
agente represente os elementos da imputação objectiva – criação do risco proibido e
resultado como concretização desse risco – para que o crime seja imputável a título
doloso. Neste cenário, parece possível afirmar que O representa os pressupostos de
imputação objectiva, concebendo que mesmo que P não morresse por afogamento,
poderia morrer por uma outra causa, igualmente provável. Assim, dir-se-á que haverá
imputação objectiva do resultado morte de P ao comportamento de O.

Dolus Generalis
(Atuando com o dolo correspondente, acreditar ter morto com uma pancada a sua vítima
e depois ter tentado simular suicídio, enforcando-a, tendo a morte ocorrido só com o
enforcamento)

Inversamente (agente planeia matar a vítima por afogamento no rio, mas mata-a logo que
desfere pancadas na cabeça para a deixar inconsciente e não apenas quando a atira ao rio)

O problema que este tipo de casos propõe é semelhante ao que é suscitado pelo erro sobre
o processo causal. Também aqui o agente representa o desfecho, o resultado típico, como
sendo realizado por uma ação e por um processo causal diverso do que foi realizado. No
entanto, é ele próprio que conduz “pelas próprias mãos” o processo causal acidental sem
o saber e sem poder sequer controlá-lo.

Nestes casos o agente pensa erradamente que produziu o resultado, contudo é uma nova
atuação do agente (encobrimento) que o resultado se vem a concretizar.

Na primeira ação existe dolo do facto, contudo não existe concretização do resultado, na
segunda ação existe concretização do resultado, contudo não existe dolo do facto.

Sofia Cunha FDUL 2021/2022 40


Esquema Resolução Direito Penal II | Fernanda Palma

Jakobs Vê aqui uma tentativa em concurso eventual com o cometimento


Curado Neves negligente do facto

Devemos seguir os passos da imputação objetiva, saber se o risco


que se concretiza no resultado pode ainda reconduzir-se ao risco
Figueiredo Dias criado na 1ª ação. Caso possa existe um crime consumado, se não
puder apenas se pode ser punido por tentativa ou concurso com
crime negligente consumado

De acordo com o CP: 14º a realização do facto sem vontade não


corresponde a um comportamento doloso, assim, ao produzir o
resultado inconscientemente apenas poderia ser negligencia.

Nos casos em que o agente projeta um homicídio encoberto, existe


Fernanda uma unidade na sequência das ações pelo que se justifica analisá-
Palma las como a realização de um único facto com um desvio não
Wezel essencial no processo causal, pelo que não se justifica excluir o dolo

Se o segundo ato não foi planeado e resultou de uma ação


espontânea faz sentido distinguir entre ação dolosa tentada e ação
negligente consumada os dois comportamentos do autor. Na
segunda ação existe um erro de perceção sobre o objeto da ação.

o Resolução do Caso

A nível subjetivo observa-se, na situação descrita, um caso de falta de atualidade do dolo


do tipo, no momento da prática do acto que produz o resultado lesivo do bem jurídico.
Estamos, assim, perante o problema genérico do dolus generalis, ou seja, no momento em
que o agente actua de forma dolosa, não produz o resultado típico e na altura em que
obtém o resultado típico, não actua dolosamente.

A este respeito, a doutrina maioritária entende que o dolo, abarcando todo o processo
desencadeado pelo infractor, sustenta a punibilidade por um crime único, doloso e
consumado – no caso, homicídio doloso consumado

Sugere Stratenwerth a mesma solução, mas apenas quando o ato subsequente de


encobrimento tivesse sido inicialmente previsto. No mesmo sentido parece pronunciar-se
Maria Fernanda Palma, ao considerar que importaria indagar da unidade de decisão na
sequência das duas acções. Isto é, se às duas acções empreendidas correspondesse apenas
uma decisão, o dolo abarcaria ainda este erro, que se revelaria não essencial.

Roxin, por seu turno, socorre-se dos diferentes tipos de dolo para justificar variados tipos
de punição. Para este autor, se o agente actuar apenas com dolo eventual, não faria sentido
imputar, a título de dolo, todo o processo ocorrido. Tal hipótese ficará limitada aos casos
em que se observe dolo directo.

De acordo com a concepção de Figueiredo Dias, haveria que indagar se o risco que se
concretiza no resultado poderia ainda reconduzir-se ao quadro de riscos criados pela

Sofia Cunha FDUL 2021/2022 41


Esquema Resolução Direito Penal II | Fernanda Palma

primeira actuação. Concluindo-se em sentido afirmativo, achar-se-ia justificada a


punibilidade por crime doloso consumado. Caso contrário, restaria apenas articular uma
tentativa e um crime doloso consumado.
Efectivamente, a alternativa de punibilidade será então recorrer ao concurso efectivo e
catalogar a primeira actuação aqui descrita como tentativa de homicídio, e a segunda
como homicídio negligente. Como vimos, a acção que contém o dolo do tipo não
determina o resultado típico, produzindo-se tal resultado através daquela actuação
subsequente que não é tipicamente dolosa.
Seja como for, alguma doutrina pronuncia-se no sentido da desconsideração da figura do
dolus generalis. Em rigor, afirmá-la implica sempre uma ficção de dolo relativa ao
segundo momento. Havendo duas acções, o dolo não poderá ser único e geral, a não ser
em casos muito pontuais.

Retomando a hipótese em análise, diríamos que de acordo com Maria Fernanda Palma,
não poderíamos concluir por um dolo que abrangesse as duas actuações, já que apenas
após o primeiro crime decidiu o agente encobrir o “homicídio”. No mesmo sentido nos
parece apontar o critério sugerido por Figueiredo Dias, visto que o risco concretizado no
resultado não se inclui no quadro de riscos criados pela primeira actuação. Deste modo,
apenas restaria a punibilidade do agente por uma tentativa de homicídio (artigo 23.o, n.o
1 e 131.o do Código Penal) e um crime de homicídio negligente (artigo 137.o do Código
Penal).

o Exames

Exclusão do dolus
Não pode aplicar-se a solução de dolus generalis, mesmo para quem adote este caminho
de resposta em geral, visto que no caso, os seus pressupostos não se verificam: ficando
Júlio admirado ao julgar morta a vítima dada a força com que lhe batera, e só então
decidindo enterrá-la, parece não ter havido sequer dolo de homicídio por ocasião da
discussão, muito menos um plano de matar a vítima e enterrá- la de seguida. De acordo
com autores como Welzel, seria essencial encontrar, naquele primeiro momento, não só
o dolo, mas o próprio plano de praticar um homicídio encoberto, capaz de estabelecer
uma conexão entre as duas acções (nesta hipótese, a agressão durante a discussão e o
enterramento do suposto cadáver) e de permitir descortinar uma unidade do
comportamento global, devendo então tratar- se o caso como de realização de um só facto
típico (doloso). Não se verificando tais pressupostos, em suma, mantém-se a separação
entre os dois momentos, e o enterro constitui facto típico negligente, como referido.

Exame 27/06/2016
Em alternativa, embora de forma menos correta face ao enunciado, poderiam subsumir-
se os factos a um caso de dolus generalis, admitindo que o plano global dos agentes
incluía, desde o início, o espancamento e posterior lançamento do corpo à água para
simular uma queda e ocultar o crime. Admitindo que a premeditação e a valoração global
do plano do agente permitiriam uma persistência do dolo no segundo momento
comissivo, C e D seriam então coautores de um homicídio doloso consumado
(consequentemente, B seria instigador de um crime de homicídio doloso consumado com
erro irrelevante sobre a identidade da vítima).

Sofia Cunha FDUL 2021/2022 42


Esquema Resolução Direito Penal II | Fernanda Palma

Aberratio istus vel impetus (erro na execução)


(A pretende disparar sobre B, mas, devido a uma circunstância que não domina (rajada
de vento), por um comportamento de outrem (um empurrão) ou até por falta de aptidões
para tal atuação (sem pontaria) este vir a atingir não B, mas C)

Aqui o resultado ao qual se referia a vontade de realização do facto não se verifica, mas
sim um outro, da mesma espécie ou de espécie diferente.

A aberratio ictus coloca problemas ao nível da imputação objetiva, pois que se colocará
dúvida no âmbito da previsibilidade na causalidade adequada. Se se tratar de uma situação
inesperada, em princípio, não haverá elemento cognitivo do dolo, pelo que apenas se
poderá falar numa imputação negligente do resultado não previsto.

Segue a teoria da equivalência punindo pelo crime


Taipa Carvalho
consumado se forem da mesma espécie.
De acordo com a teoria da concretização defende que a ação
falha o seu alvo sendo, portanto, uma tentativa e a ação que
Fernanda Palma
produz o outro resultado só poderá ser um crime por
negligencia.

Casos que geram problemas:

Erro de execução ou erro de perceção


(Quando agente não executa diretamente o facto, mas fá-lo através de outra pessoa e em
que, por isso, há da parte do agente uma certa falta de domínio da execução)

Maria Fernanda Palma considera que a melhor solução é a que qualifica como erro sobre
a pessoa e pune o instigador pelo crime doloso consumado do autor material, pois o agente
tem domínio sobre o facto e tem igualmente um dolo especialmente intenso.

O instigador será punido pelo Crime Consumado executado pelo autor material, a título
de dolo ou de negligência conforme o grau do seu conhecimento e aceitação prévios do
desfecho desviado da ação. A partilha de responsabilidade entre o instigador e o autor
material justifica esta solução.

o Resolução do Caso (pretende partir o vidro, mas acerta no braço de uma pessoa)

Em termos objetivos, o agente criou um risco proibido para o bem jurídico. Porém, o risco
concretizado no resultado não corresponde ao perigo típico criado pelo agente. Numa
formulação alternativa: o risco que produziu o resultado típico é oriundo da conduta do
agente, mas, de acordo com a representação e vontade de D, o risco típico criado seria o
risco de dano e não de ofensa à integridade física.

Perante estas constatações, diremos que o caso descrito parece corresponder às chamadas
situações de erro na execução, em que o agente não provoca o risco que inicialmente tinha
previsto, acabando por desencadear um processo que conduz a uma lesão diferente da que
pretendia causar. Trata-se de um contexto comummente designado como aberratio ictus

Sofia Cunha FDUL 2021/2022 43


Esquema Resolução Direito Penal II | Fernanda Palma

vel impetus caracterizado pela ocorrência de um erro na execução que produz um


resultado distinto do projetado pelo agente.

Neste concreto cenário, não se verifica uma identidade típica de objetos: sugere-se a
lesão típica de dois crimes distintos. De facto, na nossa hipótese, estaremos a olhar para
uma ofensa à integridade física, em relação a L e um dano, relativamente à janela.

No que concerne ao dano, teremos, no máximo, uma tentativa.


Existe desvalor da ação, observou-se um perigo concreto de atingir a janela, e sua atuação
revela CP: 14º/1 dolo direto. No entanto, por falta de pontaria, não logrou produzir o
resultado correspondente ao perigo criado. Releva, por isso, averiguar da respetiva
previsão de punibilidade, já que a pena consagrada para o crime consumado CP: 23º/1 +
212º/1 não é superior a três anos.
No entanto, o CP: 212º/2 prevê a punibilidade da tentativa de dano, o que viabiliza a
responsabilidade penal do agente a este título.

Relativamente à ofensa da integridade física, constata-se uma ação penalmente relevante


que, como vimos, adveio da criação de um risco proibido que se concretizou no resultado.
Todavia, I nem teria visto L, quando atirou a pedra para atingir a janela.
Isto dito, em termos de imputação subjetiva, concluiríamos que o agente não chegou a
representar a possibilidade de realização do facto típico, atuando CP: 15º b) com
negligência inconsciente. Consequentemente, e uma vez que o CP: 148º prevê o crime de
ofensa à integridade física negligente, I poderia ser punido por este crime.

o Resolução do Caso (pretende partir o vidro, mas acerta num canário)

De um ponto de vista objetivo, o agente criou um risco proibido para o bem jurídico.
Todavia, relativamente ao resultado atingido, diremos que se observa novamente um erro
na execução ou uma aberratio ictus.

Com efeito, E dirigira a sua ação para atingir a janela e, a final, acertou no canário. Aqui,
haverá uma identidade típica de objeto, já que os crimes em causa são dois crimes de
dano: um tendo por objecto a janela, outro o canário.

Consequentemente, a propósito deste primeiro crime, não se verificando a concretização


do risco no resultado, resta a avaliação da responsabilidade do agente pelo crime tentado.
Vimos que existiu desvalor objectivo da acção e, quanto ao desvalor subjectivo, afirmar-
se-á o dolo directo de dano. A punibilidade desta tentativa depende então dos requisitos
do CP: 23º/1 ou, em alternativa, de uma previsão expressa a esse respeito.
Efectivamente, atendendo ao disposto no CP: 212º/2 concluiremos que I responderia a
título de tentativa de dano.

Concentrando-nos por ora na acção relativa ao canário, constata-se um comportamento


humano voluntário, que criou um risco proibido para o bem jurídico, tendo tal risco
conhecido concretização no resultado. Nos termos sublinhados, a pedra atingiu o canário.
Tal como anteriormente referido, o agente pretendia atingir a janela, sendo que nem
sequer tinha visto o canário que acabou por ser objecto da sua acção. Desta maneira, de
um ponto de vista subjectivo, o agente actuou com CP: 15º b) negligência inconsciente.
Ora, a punibilidade a título negligente depende de uma previsão expressa que, no caso do

Sofia Cunha FDUL 2021/2022 44


Esquema Resolução Direito Penal II | Fernanda Palma

crime de dano não se observa. Por esse motivo, a responsabilidade de I será, quanto a este
ponto, negada.

A este respeito, cumpre sublinhar que, em casos de aberratio ictus com identidade típica
de objecto, se discute se o agente deverá ser punido em concurso (tentativa de crime
projectado e crime consumado negligente) ou se, pelo contrário, se deverá equiparar esta
situação ao caso do erro sobre a identidade do objecto, e punir o agente por um único
crime doloso.

Neste contexto, afirma-se que a solução do concurso (teoria da concretização) poderá


redundar, muitas vezes, na não punibilidade do agente. Pense-se nas situações em que a
tentativa não esteja prevista, ou não seja punível por outra qualquer razão.

A doutrina dominante tem entendido, ainda assim, que a punição em concurso será a mais
adequada, já que nas hipóteses de aberratio ictus se observa, tipicamente, a criação de
dois perigos autónomos que merecem tutela penal.
Deste modo, importaria demonstrar, para sustentar este entendimento, que teria havido
criação de perigo de dano quanto à janela, paralelamente ao risco criado para o canário,
que conheceu concretização no resultado proibido.

Dolo alternativo
(o agente pretende atingir A, sendo-lhe indiferente que venha a atingir B)

Verifica-se um dolo que admite uma ação imprecisa e sem um desenvolvimento concreto
a priori certo, relativamente a uma de duas vítimas, embora se prefira atingir uma das
vítimas e não a que se atinge efetivamente.

O dolo alternativo distingue-se, assim, do erro sobre a execução na medida em que nos
casos de dolo alternativo o agente conforma-se, ainda que num nível mínimo, com a
possibilidade de acertar noutro alvo.

A ação promovida pelo agente era bivalente – encerrava em si, em


Fernanda alternativa, uma possibilidade de atingir qualquer uma das vítimas
Palma e era sustentada numa decisão de atingir qualquer uma delas.
Assim devemos punir o crime tentado e o crime doloso consumado

Existe uma situação de concurso aparente, prevalecendo sempre o


Figueiredo Dias
crime consumado;

Existem situações em que o crime tentado pode prevalecer sobre o


Helena Morão
consumado, quando o crime tentado for mais grave.

o Resolução do Caso (cavalo ou o homem e atinge o homem)

Quanto à atuação dirigida ao cavaleiro (N), do ponto de vista da ação e da tipicidade


objetiva, não se observam problemas de maior. Existe comportamento humano voluntário
e comprova-se a criação de um risco proibido, materializado no resultado.

Sofia Cunha FDUL 2021/2022 45


Esquema Resolução Direito Penal II | Fernanda Palma

No que toca à subjetividade, a situação descrita configura um caso de dolo alternativo, já


que o agente representa e deseja lesar ou o cavalo ou o cavaleiro, sendo indiferente atingir
um ou o outro resultado. Neste sentido, diremos que o agente revela dolo direto de
homicídio, representando e querendo atingir o cavaleiro.
Por esse motivo, seria possível punir o agente pela prática de um crime de homicídio
doloso consumado (CP: 131º/1)

Quanto ao cavalo, constata-se a existência de uma ação penalmente relevante,


correspondendo à criação de um risco proibido. Porém, esse risco não se concretizou no
resultado, já que o disparo atingiu o cavaleiro. Negando-se a concretização do risco no
resultado, sempre cumpriria aferir da responsabilidade do agente a título de crime tentado.
Neste âmbito, haveria desde logo que confirmar a existência de um desvalor objetivo da
ação, isto é, a prática de atos de execução que colocassem o cavalo em risco.
De um ponto de vista subjetivo, haveria dolo direto (CP: 14º/1), tendo em conta que M
representou e quis atingir o animal. Constatando-se a punibilidade da tentativa do crime
de dano (CP: 212º/2), o agente poderia ser também punido a esse título.

De acordo com Maria Fernanda Palma, a solução preferível seria a de punibilidade por
dois crimes dolosos: um na forma tentada (dano CP: 212º) e outro na forma consumada
(homicídio CP: 131º/l), visto que considera que há dolo direto e dolo eventual.
A ação promovida pelo agente era bivalente, encerrava em si, em alternativa, uma
possibilidade de atingir qualquer uma das vítimas e era sustentada numa decisão de atingir
qualquer uma delas, ambas as vítimas foram objeto da ação e ambos os concretos bens
jurídicos (a vida de cada pessoa) foram postos efetivamente em perigo.

Esta solução tem sido criticada, pois em bom rigor, trata-se de um dolo com objeto
alternativo, o agente não se conformou com a possibilidade de acertar nos dois, mas com
a possibilidade de acertar num deles. Punir o agente com dois crimes dolosos é ficcionar
duas ações dolosas quando só existiu uma, violando-se o princípio ne bis in idem (não se
pode valorar o mesmo conteúdo de ilícito mais do que uma vez). Só há, portanto, base
para afirmar o desvalor de ação dolosa numa das ações.

Neste sentido Figueiredo Dias considera que se pune pelo crime consumado, visto que o
agente conta com ambas as possibilidades, e conforma-se com elas. Por esse motivo, o
seu dolo deve ser afirmado quanto ao tipo objetivo realmente preenchido pela conduta.
No caso, equivalerá isto a afirmar que, sendo atingido o cavaleiro, o agente responderá
por homicídio.

Em alternativa, Silva Dias sugere a possibilidade de punir o agente pela tentativa do crime
mais grave, caso esse não seja o crime consumado.
No entanto, tal posição não determinaria uma solução distinta da anterior, já que o
resultado típico ocorrido – acertar na pessoa em vez de no animal – constitui o crime mais
grave. Dito de outro modo: uma vez que o agente acertou no cavaleiro, impõe-se concluir
que praticou o crime mais grave. Nestas hipóteses, também esta perspectiva doutrinária
defende a punição a título doloso consumado, visto que não teria qualquer cabimento falar
num mero crime tentado.

Sofia Cunha FDUL 2021/2022 46


Esquema Resolução Direito Penal II | Fernanda Palma

Error in persona vel objecto


(A, pensando que o passante é o seu inimigo B, dispara contra ele um tiro mortal,
verificando-se depois que A confundiu B com C e foi este, um estranho, que matou)

Aqui o decurso real do acontecimento corresponde inteiramente ao intentado só que o


agente se encontra em erro quanto à identidade do objeto ou da pessoa a atingir. Não
existe, pois, aqui qualquer erro na execução, mas sim na formação da vontade.
É erro sobre o objeto da conduta criminosa. Integra-se no erro sobre a factualidade típica
e destina-se a abarcar as situações de erro que se verifiquem sobre os objetos da conduta
criminosa. Se os objetos da conduta (o que se queria atingir e o que efetivamente se
atingiu) são tipicamente idênticos, a doutrina preponderante sustenta a irrelevância do
erro.

As dificuldades surgem quando os objetos da ação, o intencional e o atingido, são


tipicamente diferentes: nestas hipóteses faltou, efetivamente, o conhecimento ou
representação de um elemento pertencente ao tipo legal de crime cometido, o que coloca
o agente em face de erro relevante, que exclui o dolo.
Exemplo: o agente pretendia atingir uma peça de caça que configura escondida num
arbusto e mata alguém que se encontrava nesse arbusto
Em princípio, excluído o dolo de homicídio, já que matar uma peça de caça, não é o
mesmo que matar uma pessoa.

Pode haver casos de erro relevante, onde haja equivalência típica.


Exemplo: A queria matar o vizinho, estava convicto de que era este que estava atrás do
arbusto, mas não verdade era o seu pai.
Aqui o erro iria permitir não punir por homicídio qualificado, contudo não deve ser
beneficiado punido por homicídio simples, pelo que deve ser por tentativa de homicídio
qualificado.

Sofia Cunha FDUL 2021/2022 47


Esquema Resolução Direito Penal II | Fernanda Palma

Elemento Intelectual | Conhecimento da proibição legal

O autor necessita de ter conhecimento da proibição legal nos casos em que a proibição
legal é fundamental para a orientação ética do agente, tendo como fundamento o facto do
CP: 16º/1 determinar que o agente tem de tomar consciência da ilicitude do facto.

Para Figueiredo Dias para existir dolo exige-se ao agente a apreensão do significado
social desvalioso correspondente não resultado da valoração jurídica, tendo em
consideração o nível próprio das representações do agente.

O erro de valoração da realidade, que se traduz na errada valoração do seu


comportamento, encontra-se previsto no CP: 16º/1 e 17º.

Para Figueiredo Dias

Erro do Dolo do Tipo CP: 16º/1 Erro do Dolo da Culpa CP: 17º
Estamos perante uma deficiência da
Estamos perante uma deficiência da
consciência ética do agente, que não lhe
consciência psicológica, imputável a uma
permite apreender corretamente os valores
falta de informação ou de esclarecimento
jurídico-penais e que, por isso, quando
e que por isso, quando censurável, revela
censurável, revela uma atitude de
uma atitude interna de descuido ou de
contrariedade ou indiferença perante o
leviandade perante o dever-ser jurídico-
dever- ser jurídico-penal e conforma
penal e conforma paradigmaticamente o
paradigmaticamente o tipo específico de
tipo específico de culpa negligente.
culpa dolosa.

De acordo com Fernanda Palma a distinção entre os erros deve ter por base a ideia da
razoável aquisição da consciência da ilicitude, no seu contexto social, sendo que o que
releva é que o agente não seja surpreendido com o sentido da ação conferido pela regra.

A metodologia da distinção passará pela análise daqueles fatores referidos e que


produzirão um resultado de evidência do sentido típico da conduta, à luz da conexão entre
a inserção do agente na atividade social e a relevância do licenciamento dessa mesma
atividade.

O que importa nestes casos é que o agente não é surpreendido com o sentido da açao
conferida pela regra, que não procura conhecer. Ele aceita implicitamente o resultado
típico que deriva de não procurar conhecer a conduta que a regra preconiza.

Sofia Cunha FDUL 2021/2022 48


Esquema Resolução Direito Penal II | Fernanda Palma

Elemento Volitivo

O dolo do tipo não pode bastar-se com a representação das circunstâncias de facto,
exigindo ainda que a prática do facto seja presidida por uma vontade dirigida à sua
realização. É este elemento que constitui o momento volitivo do dolo do tipo e que pode
assumir matizes diversos, permitindo a formação de diferentes classes de dolo.

Dolo Direto Intencional CP: 14º/1

A realização do tipo objetivo é o verdadeiro fim da conduta ou quando apesar de não


constituir o fim único surge como pressuposto intermédio necessário ao seu alcance.
A motivação não é relevante, apenas tem de existir uma conexão entre o facto e o fim
último da conduta.

Dolo Direto Necessário CP: 14º/2

O agente não dirige a sua atuação diretamente a produzir a verificação do facto, mas
aceita-o como consequência necessária da sua conduta.

Dolo Eventual ou Condicional CP: 14º/3

O fim da sua ação não é a realização do facto típico, mas o agente representa tal como
possível e mesmo assim não deixa de realizar a ação.

o Distinção com negligência consciente do CP: 15º a)

No plano teórico não se levantam grandes problemas: ambos contêm o elemento


intelectual (representação da possibilidade), mas apenas o dolo eventual contém também
o elemento volitivo (conformação com essa possibilidade). No plano prático, é mais
difícil, pelo que temos de procurar critérios que permitam, com alguma segurança, fazer
a distinção entre dolo e negligência

À afirmação do dolo do tipo não basta o conhecimento da


mera possibilidade de realização, mas requer-se que a
representação assuma a forma de probabilidade, ou
Teoria da Probabilidade
mesmo de uma probabilidade relativamente alta. O
agente contará tanto mais com a realização típica, quanto
mais esta surgir aos seus olhos como provável.

Parte da análise da vontade do agente, ou seja, do


momento volitivo. Pergunta-se se o agente, apesar da
representação da realização típica como possível, aceitou
Teoria da Aceitação intimamente a sua verificação, ou pelo menos revelou a
sua indiferença perante ela (dolo eventual); ou se, pelo
contrário, a repudiou intimamente, esperando que ela se
não verificasse (negligencia consciente)

Sofia Cunha FDUL 2021/2022 49


Esquema Resolução Direito Penal II | Fernanda Palma

Parte da ideia de que o dolo pressupõe algo mais do que


o conhecimento do perigo de realização típica.
O agente pode, apesar de um tal conhecimento, confiar,
Teoria da Conformação
embora levianamente, em que o preenchimento do tipo se
não verificará e age então só com negligência
(consciente).

Para Eduardo Correia o critério do dolo eventual assenta no facto de o agente atuar
não confiando que o resultado se verificará

Figueiredo Dias discorda, considerando que a dupla negação não permite perceber
com clareza o elemento positivo que deve arvorar-se como critério do dolo
eventual. “Um olhar extremamente psicologista da confiança pode conduzir a
privilegiar infundadamente o otimista (que confia que tudo correrá bem) face ao
pessimista depressivo”.

Maria Fernanda Palma considera que temos de ponderar dois interesses: interesse do
agente em fazer o que quer e o interesse em proteger o bem jurídico em concreto, que
pode ser lesado pela atuação do agente, sendo que o critério passa por perceber qual os
interesses o agente teve em conta. Optando por superiorizar o que quer fazer em
detrimento do interesse em proteger o bem jurídico existirá dolo. Para podermos
descrever um comportamento como voluntário (doloso), será necessário que seja
intencional, e isso acontece quando o agente escolhe um fim que quer atingir, escolhe os
meios adequados para atingir esse fim e age para atingir esse fim, com esses meios
escolhidos. Se isto não sucede, significa que o agente agiu sem vontade, isto é, agiu
negligentemente.

Sofia Cunha FDUL 2021/2022 50


Esquema Resolução Direito Penal II | Fernanda Palma

ILICITUDE | CAUSAS EXCLUSÃO

Após se verificar que o comportamento corresponde a um tipo legal de crime há que


averiguar se tal comportamento é ilícito, ou seja, se é contrário à Ordem Jurídica, no
pressuposto de que não se verifique simultaneamente uma autorização por qualquer outra
norma do Direito Penal ou pertencente à restante Ordem Jurídica.

Assim, a ilicitude é uma demonstração coerente, em face de todo o Direito, de que o facto
é desvalioso. É isso que o CP: 31º postula ao referir que “o facto não é punível quando a
sua ilicitude for excluída pela Ordem Jurídica considerada na sua totalidade”.

Para Maria Fernanda Palma à tipicidade do facto precede, necessariamente, do ponto


de vista lógico-valorativo, a ilicitude, mesmo que o seu reconhecimento possa implicar,
quase automaticamente, a ilicitude, se não existirem causas de justificação do facto.
Depois, a circunstância justificativa leva a uma reconfiguração do sentido social do
comportamento, que fundamenta uma alteração do juízo de valor inicial negativo
suscitado pelo facto.
Necessita de haver uma autonomia recíproca entre os juízos de tipicidade e de ilicitude,
ou seja, após um juízo descritivo necessita de haver uma apreciação pelo Direito do facto,
considerando-o ou não como um facto proibido.

Em sentido diferente temos o pensamento neoclássico, segundo o qual o tipo, enquanto


norma penal, seria a ratio essendi da ilicitude, falando-se apenas de precedência e da
indiciação da ilicitude pela tipicidade.

Para Maria Fernanda Palma uma causa de justificação do facto não é mera delimitação
negativa do desvalor da ação e é, em princípio, uma compensação ou neutralização da
lesão do bem jurídico protegido pela norma, através da realização de um outro bem ou
interesse que suscita razão específica para não proibir uma conduta típica.

Legítima Defesa

CP: 32º Considera-se legitima defesa o facto praticado como meio necessário para repelir
a agressão atual e ilícita de quaisquer interesses juridicamente protegidos do agente ou
terceiro, ou seja, a defesa contra agressões ilícitas, permitidas aos particulares, sem
recurso ao Tribunal.

No momento atual, o fundamento desta figura reside predominante ou exclusivamente


na defesa necessária, e consequente preservação, do bem jurídico agredido, deste modo
se considerando esta causa justificativa um instrumento (relativo) socialmente
imprescindível de prevenção e, por aí, de defesa da ordem jurídica.

Figueiredo Dias, Roxin e Silva Marques, acompanhados da doutrina maioritária em


oposição a Taipa Carvalho, consideram que são dois os fundamentos da força justificativa
da legítima defesa: Necessidade de defesa da ordem jurídica e Necessidade de proteção
dos bens jurídicos ameaçados pela agressão

Sofia Cunha FDUL 2021/2022 51


Esquema Resolução Direito Penal II | Fernanda Palma

Taipa de Carvalho considera que a razão por que deve rejeitar-se qualquer ideia de
proporcionalidade no âmbito da Legítima Defesa reside na injustiça que seria impor ao
agredido, em virtude de uma agressão atual, ilícita, dolosa e censurável, uma limitação da
sua liberdade de estar ou da defesa ativa dos seus bens.

Para Maria Fernanda Palma a legítima defesa deve ser caracterizada por uma exigência
de proporcionalidade qualitativa. Existe uma exigência de proporcionalidade, a qual não
deve permitir a lesão de bens qualitativamente superiores aos preservados uma vez que
se verifique “a insuportabilidade da agressão a um núcleo de bens essenciais em que se
manifesta a dignidade da pessoa humana e a igualdade na proteção dos sujeitos jurídicos”.

Existem duas perspetivas distintas no que toca à limitação da Legitima Defesa, sendo
que Maria Fernanda Palma se encontra a meio caminho:

Perspetiva Individualista, para quem a legitima defesa é expressão de direito individuais


e da liberdade. Aceitaria a ilimitação da Legitima Defesa em relação a quaisquer bens
afetados, sem distinção. Como dia Castanheiro Neves, a ideia fundamental é que ninguém
pode ser vítima de agressões ilícitas aos seus direitos.

A Perspetiva Publicista apela a valores do Estado, sendo o fundamento da legítima


defesa a tutela substitutiva. Em certas circunstâncias, o Estado é representado pelos
direitos privados quando não for possível atuar publicamente. Assenta no princípio da
subsidiariedade da legítima defesa, pois a tutela pública é que é característica dum Estado
de Direito democrático. O valor da autoridade pública é o mais alto.

Maria Fernanda Palma fragmenta a legitima defesa em duas:


1. Ilimitada
Seria insuportável exigir que a pessoa não se defendesse, pois está em causa um bem do
núcleo de essencialidade da dignidade da pessoa humana. Significa defesa ilimitada dos
bens associados à dignidade da pessoa humana.

Não exclui logo à partida o património, visto que esses bens patrimoniais podem ser
justificativos, em situações específicas (condições da subsistência e dignidade)
Interpreta-se como a ordem de bens jurídicos associadas aos direitos fundamentais,
havendo hierarquia entre direitos fundamentais.

2. Limitada
Bens sem o significado anterior, para os quais a defesa tem de ser moderada e não se
justifica uma legítima defesa a todo o custo.

Pressupostos da situação de Legitima Defesa (3)

As exigências de uma agressão atual e ilícita de interesses juridicamente protegidos do


agente ou de um terceiro (pressupostos da legitima defesa) e da necessidade de uma
conduta lesiva de direitos para repelir tal agressão (requisito da legitima defesa) revelam
que a legitima defesa se distingue de qualquer conduta de vingança ou pena privada.

Sofia Cunha FDUL 2021/2022 52


Esquema Resolução Direito Penal II | Fernanda Palma

Agressão de interesses juridicamente protegidos do agente ou de terceiro

Agressão: ameaça derivada de um comportamento humano (exlcui atuações de animais


ou coisa inanimadas) a um bem juridicamente protegido. Pode ser através de uma ação
ou omissão. Figueiredo Dias considera que pode ser realizado por uma pessoa coletiva.

Interesse juridicamente tutelado: Maria Fernanda Palma limita a defesa a bens pessoas
ou patrimoniais. Figueiredo Dias abrange bens jurídicos supra-individuais coletivos ou
universais.

Atualidade da Agressão

Figueiredo Dias e Roxin Fernanda Palma

A agressão é atual quando é iminente, já A agressão é atual quando já há a prática


se iniciou ou ainda persiste, pelo que se de algum ato de execução. Só se pretende
justifica mesmo que não existam ainda evitar a lesão de bens efetivamente em
atos de execução. Considera que a posição perigo numa fase em que se justifique a
de MFP exclui a atualidade de agressões agressão, ou seja, quando estejamos pelo
ainda não iniciadas, mas que são menos perante uma tentativa constituída
iminentes. por um ato de execução.

Tanto Figueiredo Dias como Maria Fernanda Palma e ainda Roxin consideram que não
se admite atuações em legitima defesa em resposta a uma agressão que ainda não é
iminente, mas que já se sabe antecipadamente com elevado grau de segurança que vai ter
lugar. Quem defende que esta atuação pode ser possível defende a teoria da defesa mais
eficaz ou legitima defesa preventiva.

Figueiredo Dias admite que possa existir uma preparação antecipada da defesa com
aparelhos automáticos relativos a uma eventual agressão, desde que quando atuem se
verifiquem os requisitos da legitima defesa.

Pode ocorrer reação até ao último momento em que a agressão persiste.

Maria Fernanda Palma Figueiredo Dias

Deixa de ser atual após o último momento Considera que muitas vezes agressão e o
de consumação de crimes. Nos crimes de estado de anti juridicidade perduram para
perigo estende-se até à realização do dano. além da consumação típica.

A reação tem de ter lugar logo após o Pode ser atual até à agressão ser suscetível
momento da agressão. de pôr fim à agressão.

Sofia Cunha FDUL 2021/2022 53


Esquema Resolução Direito Penal II | Fernanda Palma

Ilicitude da Agressão

Ilicitude: verificação de uma ação ou omissão contrárias ao Direito, podendo abranger


direitos ou interesses de terceiros (legítima Defesa alheia), incluindo, para Figueiredo
Dias interesses coletivos e do Estado.
A ilicitude da agressão afere-se à luz da totalidade da ordem jurídica, não tendo de ser
especificamente penal, ou seja, podem ser violações do direito civil ou mera
contraordenação social desde que os bens em perigo sejam suscetíveis de defesa.

Não pode haver legitima defesa contra legitima defesa porque visto que a atuação em
legitima defesa deixa de ser ilícita.

No caso de existir uma conduta perigosa levadas a cabo com a devida diligência e
cuidados, mas surgir uma lesão não pode ocorrer uma imputação objetiva pelo que se
deve negar também a reação em legitima defesa. Mas poderemos eventualmente reagir
através de direito de necessidade.

Figueiredo Dias, Maria Fernanda Palma e Eduardo Correia consideram que tanto as
agressões dolosas como negligentes podem dar lugar a uma resposta de legitima defesa.

A situação de Legítima Defesa pressupõe a ilicitude da agressão, mas não a culpa do


agressor. Contudo Taipa cravalho considera que deveria pressupor a culpa do agressor.
Podem ser, assim, repelidas em Legítima Defesa agressões em que o agente atue sem
culpa, devido a inimputabilidade, à exigência de uma causa de exclusão da culpa ou a um
erro sobre a ilicitude não censurável.

Síntese para Maria Fernanda Palma

A conduta do defendente tem de ser necessária para impedir uma agressão que ele não
deva suportar, requisito que não depende da natureza do ilícito perpetrado contra o
agente.
A Culpa do agressor não é pressuposto da figura da Legítima Defesa.

A ilicitude da agressão não implicará uma contrariedade subjetiva ao dever emanado


da norma jurídica.

Não será necessário que exista dolo ou uma violação subjetiva do dever de cuidado
pelo agressor, bastando uma objetiva contrariedade aos deveres jurídicos derivados da
norma.
Não preencherão o pressuposto da ilicitude da agressão, os comportamentos ainda
lesivos de direitos e interesses, mas em que não haja:
• Uma conduta voluntária;
• Uma qualquer ação humana (agressões de animais);
• Os comportamentos compreendidos no risco permitido.

Sofia Cunha FDUL 2021/2022 54


Esquema Resolução Direito Penal II | Fernanda Palma

Requisitos da ação de defesa (2)

Necessidade do Meio

O meio será necessário se for idóneo para deter a agressão. Caso sejam vários os meios
adequados à disposição do defendente, o meio será necessário se for o menos gravoso
para os bens do agressor.

O juízo de necessidade reporta-se ao momento da agressão, tem natureza ex ante e nele


deve ser avaliada objetivamente toda a dinâmica do acontecimento, nomeadamente as
características do agressor e contraposto ao do agredido.

Não será possível recorrer à forças policiais, contudo se este for viável e possível em
tempo útil deve incluir-se nas opções de meios. Maria Fernanda Palma considera que no
caso da autoridade não atuar se pode recorrer à legitima defesa.

Também não se deve considerar entre os meios a possibilidade de fuga, visto que não há
a obrigação de afastar a agressão através de um meio mais leve se for incerta a sua eficácia

O uso de meios de autoproteção, cães perigosos, aparelhos elétricos, venenos, podem ser
tidos como meios de defesa.

O meio há-de ser considerado desnecessário sempre que fosse razoavelmente de supor
que outro meio não agressivo pudesse ter sido utilizado com êxito. O uso de um meio não
necessário à defesa representa um excesso que CP: 33º determina a não justificação do
facto por Legítima Defesa, tendo como consequência a afirmação da ilicitude do facto
praticado.

Necessidade da Defesa

Apesar de não ser expressamente referido, Maria Fernanda Palma considera que na
interpretação da necessidade do meio devemos incluir a necessidade de defesa.

Há casos em que a agressão é uma ofensa socialmente tolerável, pelo que não há
necessidade de responder com uma agressão:

1. Agressões não culposas


Casos em que a agressão é ilícita e atual, mas o agressor age sem culpa, visto que é
inimputável ou porque atua com falta de consciência ou está coberto por uma situação de
inexibilidade legalmente prevista. O que acontece aqui é que os limites de necessidade de
defesa ficam reduzidos, devendo-se evitar a agressão se for possível esquivar-se desta.

2. Agressões provocadas (A insulta B para B reagir e A esfaquear)


É o agredido que dá azo à situação de confronto através de injúrias, da prática de atos
ilícitos (mas não atuais) que afetem a esfera jurídica do agressor ou mesmo de atos lícitos,
mas socialmente reprováveis.
A necessidade de devesa deve ser negada quando esteja em causa uma agressão pré-
ordenadamente provocada.

Sofia Cunha FDUL 2021/2022 55


Esquema Resolução Direito Penal II | Fernanda Palma

3. Posições especiais
Os participantes encontrarem-se numa mútua posição especial de proximidade
existencial, criadora de especiais laços de solidariedade juridicamente relevante como
cônjuges ou semelhante e pais ou filhos.

Taipa de Carvalho coloca no mesmo nível da agressão provocada.


Figueiredo Dias considera que a necessidade de defesa pode diminuir drasticamente ou
até desaparecer. No caso da agressão ser tão grave que elimine o dever de solidariedade
que fundamente a limitação, esta desaparece e ressurge o direito de legitima defesa.

4. Atos de autoridade
Para Roxin e Taipa de Caravalho as exigências de necessidade seriam exatamente as
mesmas para os particulares e para as forças públicas quando estas têm elas próprias de
se defender ou prestam auxílio necessário a particulares.

Figueiredo Dias considera que no caso de recurso a armas de fogo, os preceitos do DL


457/99, 5 de Novembro prevelecem ao regime da Legitima defesa, pelo que obrigam o
agente a correr riscos mais pesados.

Para Maria Fernanda Palma considera que não devemos falar de legitima defesa da
autoridade pública, mas sim do cumprimento de deveres como da manutenção da ordem
pública, podendo justificar-se um comportamento preventivo

Elemento Subjetivo (?)

É necessário que exista conhecimento da situação de legitima defesa, ou seja, a existência


no defendente de um animus defendendi

Taipa Carvalho Figueiredo Dias (DM)


Equivalia a exigir que o defendente Existindo conhecimento da situação de
representasse a existência de uma legitima defesa não faz sentido a exigência de
agressão atual e ilícita co-motivação de defesa

Excesso de Defesa CP: 33º

A legislação ao requerer pressupostos e requisitos impõem limites à atuação em legitima


defesa, no caso destes limites não serem cumpridos estamos perante uma situação de
excesso de defesa.

Excesso Extensivo: Violação dos pressupostos


Excesso Intensivo: Violação dos requisitos

CP: 33º/1 Apenas se refere ao excesso intensivo, incluindo-se aqui diretamente as


atuações onde há excesso do meio empregado. Pode ainda incluir-se por analogia in
bonan partem algumas outras situações:

Sofia Cunha FDUL 2021/2022 56


Esquema Resolução Direito Penal II | Fernanda Palma

A legitima defesa preventiva, apesar de corresponder à violação de um


pressuposto, a atualidade, sendo, portanto, um excesso extensivo, merece um
tratamento análogo ao da diminuição da responsabilidade dada.
O excesso intensivo por violação da necessidade de defesa

Excesso Aténico: medo, susto ou perturbação


Excesso Esténico: irritação ou ódio

CP: 33º/2 Admite a não punibilidade do excesso asténico

Erro sobre a Legitima Defesa (legitima defesa putativa)

Erro sobre pressupostos ou requisitos da legitima defesa: o agente representa falsamente


o pressuposto (a agressão atual e ilícita) ou mesmo a necessidade do meio.
CP: 16º/2 Exclui-se o dolo, podendo vir a CP: 13º ser punido por negligência

Erro sobre a existência ou limites da legítima defesa: o agente pensa que a legítima defesa
se configura de modo diverso ou com limites diversos dos estabelecidos legalmente.
Trata-se de um erro sobre as valorações vigentes no Direito e não de um puro erro
intelectual, pelo que CP: 17º apenas a culpa será excluída.

CP: 16º vs 17º


O erro excluirá o dolo sempre que se determine uma falta do conhecimento necessário a
uma correta orientação da consciência ética do agente para o desvalor do ilícito.

Diversamente, o erro fundamentará o dolo da culpa sempre que, detendo embora o agente
todo o conhecimento razoavelmente indispensável àquela orientação, atua, todavia, em
estado de erro sobre o caráter ilícito do facto.

Erro com Excesso

Para Maria Fernanda Palma o agente pode ser punido nos termos do CP: 33º/1, pelo que
o crime doloso subsiste, visto que a representação errónea não impede a violação
consciente dos limites da legitima defesa.
No caso do excesso não ser punido pelo CP: 33º/2 ainda haverá a hipótese de punir por
crime negligente pelo CP: 16º/3.

Se a causa do excesso for o erro será excluída a responsabilidade dolosa, ou seja, é


aplicado o CP: 16º/2

Ação de defesa que recaia sobre terceiros

A legitima defesa só será legitima quando os efeitos recaiam sobre o agressor, não
podendo atingir um terceiro alheio à agressão.

Sofia Cunha FDUL 2021/2022 57


Esquema Resolução Direito Penal II | Fernanda Palma

Legítima Defesa para proteger interesses terceiros

Costuma ser designada por Auxílio Necessário.

Quando o agredido não queira ser defendido tem-se considerado que temos de ter em
conta se estamos perante bens jurídicos disponíveis ou indisponíveis. Tem-se considerado
que a defesa de terceiro levada a cabo contra ou sem a vontade manifestada do agredido
não parece poder reivindicar-se como exercício da Legitima Defesa.

Estados de Necessidade Justificantes

CP: 34º O direito de necessidade verifica-se quando há uma situação de perigo atual e
não removível de outro modo que ameace interesses juridicamente protegidos do agente
ou de terceiro. Há aqui uma lógica de conflito de interesses.

Pressupostos da situação de estado de necessidade (3)

Ameaça de interesses juridicamente protegido

Evitou-se a expressão bens jurídicos porque aqui não existe uma comparação seca de bens
jurídicos, estes são olhados num contexto global, tendo-se em conta o grau do perigo
ameaçador, a intensidade da lesão esperada, a autonomia pessoal do lesado, a maior ou
menor adequação do meio salvador.

Maria Fernanda Palma não inclui bens jurídicos não individuais, mas da comunidade.

Existência de um perigo

O bem tem de se encontrar objetivamente em perigo não podendo reconduzir-se a uma


agressão ilícita, nesse caso seria legitima defesa.

Atualidade do perigo

Retoma-se o que se disse na legitima defesa, contudo pode ser não iminente

Requisitos da situação de estado de necessidade (4)

Adequação do meio

O meio deve ser necessário e idóneo a evitar ou conter o perigo, devendo-se evitar meios
mais gravosos.

Sofia Cunha FDUL 2021/2022 58


Esquema Resolução Direito Penal II | Fernanda Palma

A) Perigo não ter sido voluntariamente criado pelo agente

A justificação deve considerar-se afastada se a situação de perigo foi intencionalmente


provocada pelo agente com a intenção de livrar-se dela á custa da lesão de bens jurídicos
alheios.

Considerar-se-á preenchido o requisito, ou seja, abre-se uma exceção, no caso em que o


perigo é criado pelo agente, contudo este vem posteriormente proteger interesses de
terceiro.

B) Sensível superioridade do interesse a salvaguardar

A lei exige que se pondere o valor dos interesses conflituantes, nomeadamente dos bens
jurídicos em colisão e do grau do perigo que os ameaça.

Para a Hierarquia dos bens jurídicos em confronto não se mostra possível (nem legal)
oferecer uma fórmula unitária para resolução definitiva do problema da ponderação, mas
existem indícios de hierarquia:
1. Molduras Penais
Ter em conta a moldura penal de cada ofensa
2. Intensidade da lesão do bem jurídico
Saber se está em causa o aniquilamento completo do interesse ou só uma sua lesão parcial
ou passageira.
3. Grau de perigo
Nos casos em que a violação do bem jurídico não surja como absolutamente segura, mas
como mais ou menos provável, um papel fundamental cabe ao grau do perigo que é
afastado ou criado com a ação de salvamento.
4. Autonomia pessoal do lesado
Utilizado na ponderação de bem jurídico de caracter eminentemente pessoal

Vida vs Vida
Deve assentar-se no princípio da imponderabilidade da vida, visto que é um bem
incomparável e insubstituível, para efeito de estado necessidade justificante, pelo que
apenas se poderá ponderar a exclusão de culpa. Haverá exceções?

Há quem considere que quando havendo várias pessoas todas elas colocadas numa
situação comum de perigo para a vida, se pode sacrificar uma ou algumas delas como
única e adequada forma de impedir que outra ou outras pereçam.

Figueiredo Dias considera que a comunidade de perigo não parece que possa, em si e por
si mesma, justificar o facto que sacrifica alguma ou algumas vidas para salvar outra ou
outras. Será diferente no caso dos sacrifico do montanhista da ponta da corda quando for
impossível de salvar este.

C) Razoabilidade da imposição do sacrifício ao lesado

Sofia Cunha FDUL 2021/2022 59


Esquema Resolução Direito Penal II | Fernanda Palma

Comparação com Legitima Defesa

Tal como na legitima defesa o agente que atua em estado de necessidade defende-se de
um perigo que tem origem na pessoa que vai ser vítima da ação necessitada, contudo não
pode recorrer à legitima defesa porque o perigo criado:
Não se configura uma agressão (A num ataque epilético está prestes a quebrar
uma jarra chinesa então B afasta-o brutamente)
Não é ilícito (um automobilista, apesar de guiar com o cuidado e a observância de
todas as regras, entra em derrapagem e vai matar um peão)
Não é atual (C, a quem D furtou uma bicicleta, encontra-o com ela no dia seguinte
e ofensa levemente a sua integridade física como única forma de recuperar o objeto
furtado)

Há quem considere que estas situações devem ser reconduzidas a uma causa supralegal
de justificação que será o estado de necessidade defensivo, sendo que se traduz na
situação em que falta um requisito da legitima defesa. Contudo mesmo assim parede
adequado submeter ambas as situações ao CP: 34º.

Conflito de deveres de atuar justificante

CP: 36º Há conflito de deveres quando o agente, perante dois deveres impossíveis de
satisfazer ao mesmo tempo, satisfizer o de maior ou igual valor ao que se sacrificar. O
dever sacrificado será, neste caso, justificado devido à impossibilidade de realizar ambos
os deveres ao mesmo tempo.

Colisão de distintos deveres de ação

Para Figueiredo Dias fora ficam os casos em que o conflito se dá entre um dever de ação
e um dever de omissão que serão reconduzidos ao CP: 34º por se considerar que estamos
perante um dever de ação em contradição com o dever de não ingerência em bens
jurídicos alheios. Maria Fernanda Palma considera que podem ser caso de ação contra
omissão.

Impossibilidade fáctica de satisfazer ambos

É exigido que se cumpra um dos deveres, no caso de se decidir não decidir, a não
satisfação de nenhum não é justificada.

Satisfação do dever de valor igual ou superior

O direito não pode dar a indicação de qual dever escolher, ficando no espaço de livre
decisão do agente. A proibição a qualquer pessoa da intervenção na esfera de liberdade
alheia, que origina um dever de omissão, conduz a um dever mais vinculativo do que o
dever cometido apenas a certas pessoas em posição de garante de agir ativamente para
promover o salvamento de um bem- omissão prevalece. Contudo podem haver exceções
poderadas e consideradas no caso concreto.

Sofia Cunha FDUL 2021/2022 60


Esquema Resolução Direito Penal II | Fernanda Palma

Comparação com o Direito de Necessidade

Estar em causa o confronto entre deveres e não diretamente entre interesses, bens ou
valores;
A possibilidade de existir igualdade de valor entre os deveres conflituantes em contraste
com a exigência de uma “sensível superioridade”

Consentimento Justificante
CP: 38º + 149º

Bem jurídico de caráter pessoal e disponível

Pessoal: Apenas neste caso existirá um portador que possa dar o seu consentimento

Disponível: O património é o bem jurídico individual que mais facilmente se entende a


disponibilidade, quanto à integridade física temos que ponderar os demais requisitos 149º
Não são disponíveis: os bens jurídicos comunitários, a vida (quando a lesão provenha de
terceiros =/= suicido).

Facto consentido conforme aos bons costumes

O facto consentido constitui ofensa aos bons costumes sempre que (mas só quando) ele
possui uma gravidade e (sobretudo) uma irreversibilidade tais que fazem com que nesses
casos, apesar da disponibilidade do bem jurídico, a lei valore a sua lesão mais altamente
do que a auto-realização do seu titular.

Ato de autodeterminação

Quem consente necessita de ser (1) capaz para tal de acordo com a normas penais e não
civis, tem que se garantir que quem consente é capaz de avaliar o significado do
consentimento e o sentido da ação típica.

O consentimento necessita de traduzir uma (2) vontade séria, livre e esclarecida do


titular do interesse juridicamente protegido.
Doutrina tradicional considera que no caso de engano, erro, ameaça ou coação o
consentimento é ineficaz.
Há doutrina que considera que no caso de ameaça e coação elas devem significar
ineficácia do consentimento quando a conduta para obter o consentimento integre os tipos
de crime 153º e 154º. Quanto ao engano (erro provocado) para Arzt e Figueiredo Dias
para haver ineficácia do consentimento necessita de haver engano referido ao bem
jurídico tutelado pela norma.
Não existe necessidade de formalismos, mas necessita de ser (3) conhecido do agente

Sofia Cunha FDUL 2021/2022 61


Esquema Resolução Direito Penal II | Fernanda Palma

CULPA

Estado de Necessidade Desculpante

Uma exclusão da culpa, em nome de um estado de necessidade desculpante só, entrará,


na verdade, em questão quando não esteja em causa a salvaguarda de bens jurídicos
claramente preponderantes, mas, bem ao contrário, quando se salvaguardem bens
inferiores, iguais ou no máximo são sensivelmente superiores ao bem jurídico lesado.

Perigo para bens jurídicos

Sofia Cunha FDUL 2021/2022 62

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