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DIREITO PENAL II
AÇÃO
Como nos diz Maria Fernanda Palma a ação tem sido o conceito que exprime o
pressuposto básico da responsabilidade por culpa, condicionando o tipo de
comportamento que em geral pode ser designado como crime.
Atos Reflexos
Exemplos: levantar o pé quando nos dão com um martelo no joelho; abanar o braço após
a picada de uma abelha; uma pessoa apanha uma descarga elétrica e, em consequência,
começa a abanar o corpo e magoa um terceiro.
Descartes é considerado o autor do ato reflexo pois foi ele que identificou os atos reflexos
e defendeu que um estímulo exterior pode provocar uma resposta individual que não vai
envolver o processo cognitivo.
São reações imediatas em que não intervém a consciência, pelo que não são considerados
ações, são atos em que intervêm aspetos periféricos do sistema nervoso, em que o cérebro
apenas superficialmente intervém. O estímulo, sendo suscitado, desencadearia um
reflexo, seria uma reposta automática dos músculos, que afetaria uma parte periférica do
sistema nervoso, apenas a espinal medula, e não o encéfalo.
Distinguem-se dos atos instintivos, visto que estes são os atos onde existe uma
possibilidade, ainda que remota, de controlo. Há um querer primitivo e uma possibilidade
de inibição pelo agente, sendo que o agente pode “treinar” para não reagir de determinada
forma.
Automatismo
Distingue-se do ato reflexo, visto que não é uma atuação sem vontade e biologicamente
comandada, o comportamento tem uma finalidade e são adquiridos e treinados os meios
necessários para a atividade final.
• Automatismo Rotineiro: tive uma experiência de vida que criou a rotina de perante
certa ação ter certa reação;
É pacífico na doutrina que tem de haver uma direção mínima do agente conducente àquele
resultado, tem de haver uma aceitação do risco para que se possa falar numa ação.
Maria Fernanda Palma tem uma posição intermédia visto que não exclui que os
automatismos podem ser ação (Stratenwerth), mas exclui de classificar como ação um
automatismo em que há tempo para a consciência intervir (Jakobs).
Defende que o critério de relevância como ação dos automatismos só pode assenta na
própria capacidade de prever o motivo externo de ação pelo agente, ou seja, utiliza o
critério da punibilidade e a ideia do tempo de consciência de intervir só pode ser utilizado
num cenário de imprevisibilidade. Tendo o agente representado o facto antes de atuar,
estamos perante uma ação.
Sendo que será sempre necessário uma reconhecibilidade dos atos como elementos do
processo de um comportamento globalmente final.
Sonambulismos e Hipnotismo
Quanto ao sonambulismo, a doutrina tende a entender que não existe ação penalmente
relevante.
Para Roxin, não há uma manifestação da personalidade, pois o agente está a agir num
mundo que está na sua cabeça, ou seja, não está a interagir com o mundo exterior.
Para Fernanda Palma, inexiste aqui uma vontade do agente.
Inconsciência
Nos casos de embriaguez, em princípio, teremos ação penalmente relevante (a não ser
que se trate de uma embriaguez extremíssima). De acordo com a teoria de Roxin (conceito
pessoal de ação), ainda há, no estado de embriaguez uma manifestação da personalidade.
Aqui admite-se que a responsabilidade penal pode assentar em momentos anteriores, pois
na realização dessas condutas persiste ainda uma dimensão da vontade e nelas se espelha
o desenvolvimento corporal e automático, característico da ação humana, de uma
orientação final global da conduta.
Nota: Nos critérios de correção esta análise costuma ser realizada em sede de
culpabilidade, como uma eventual causa de exclusão de culpa e não no momento da
análise da ação penalmente relevante.
No que diz respeito à segunda dúvida, a resposta mais adequada parece ser a de excluir a
actio liberae in causa, uma vez que a hipótese não revela qualquer facto que permita
indiciar uma pré-ordenação do agente, antes revela que o agente se deixou dominar por
receios que lhe foram induzidos por terceiro.
OMISSÃO
Ação e Omissão
Para isso, tem de ser determinado o critério de acordo com o qual se distinguem ações de
omissões, o que se afigura como fundamental dada a limitação, operada pelo artigo CP:
10º/2, da equiparação da omissão à ação constante no Nº 1 do mesmo artigo. Isto, porque,
constituindo o mencionado tipo um crime de resultado (não obstante, em função da lesão
do bem jurídico, constituir um crime de perigo, especificamente, de perigo comum), caso
tenha havido omissão, torna-se necessário averiguar se B violou algum dever de garante,
o associado a uma posição de garante na qual se encontre eventualmente investida.
De acordo com Figueiredo Dias o critério decisivo de delimitação não deve ser senão um
critério de ilicitude típica e de imputação objetiva. Segue Stratenwerth ao ter como
critério o perigo para o bem jurídico, ou seja, existe uma ação quando ele criou perigo e
ele vem a resultar num resultado típico e existe uma omissão sempre que ele não diminua
o perigo.
Para Maria Fernanda Palma, a definição da ação que importa à teoria da imputação não é
naturalística, já que fundamental é a determinação do quid comportamental exigível para
que a omissão possa ser uma espécie de comportamento penalmente relevante, sendo que
a descoberta desse quid comportamental tem de se centrar na significação dos
comportamentos, tanto numa perspetiva ontológica como social, tendo em consideração,
entre outros aspetos, a evitabilidade pelo agente das consequências.
Neste sentido deve ser convocado o critério proposto por Jakobs que defende uma
indiferenciação entre ação e omissão nas situações em que se ultrapassem os limites gerais
da liberdade no que se refere à configuração exterior do mundo. Neste sentido o que
releva é a definição de deveres de agir ou de evitar resultados danosos que resulta da
responsabilidade inerente à conjugação de liberdades.
A tese de Jakobs não aceitará a equiparação da omissão à ação nos casos em que nem
haja uma competência geral para organização do mundo, da qual se possa derivar a
responsabilidade pelo risco, nem um estatuto especial de que decorra uma específica
competência para a proteção de bens jurídicos.
Os casos mais difíceis, onde comportamentos ativos podem ser vistos como omissão,
parecem suscetíveis de resolução adequada:
Nos casos de ingerência nos esforços de terceiros para impedir o resultado, somente
existirá uma omissão através de fazer punível se existissem outros meios de salvação
disponíveis, já que em tal caso a atividade dirigida contra um terceiro apenas poderia
servir para negar auxílio, mas não impediria que outros salvassem a vítima.
Para Figueiredo Dias estes dois casos não parecem levantar problemas, visto que em
qualquer um deles o agente não diminui o perigo que afetava o bem jurídico, assim, apesar
de o seu comportamento incluir atos de dispêndio de energia, seria um caso de omissão.
Neste exemplo, a situação consiste na anulação de intenção de salvar pela própria pessoa
que atua, originando uma situação semelhante à que existiria se a pessoa estivesse inativa
desde o princípio. Deste caso deduz-se o princípio geral de que um “fazer” que se
apresenta como desistência da tentativa de cumprir um imperativo, deve subsumir-se no
tipo de crime por omissão, cujo imperativo fracassa pela atuação ativa.
Omitir através de fazer transforma-se numa ação logo que o cumprimento do imperativo
passou de tentativa para consumação, ou seja, logo que o processo causal salvador
alcançou a esfera da vítima e tenha sido interrompido por atuação do agente.
Tanto Roxin como Figueiredo Dias consideram que aqui o processo salvador ainda não
atingiu a vítima, pelo que deve ser tratado como um caso de omissão
Doutrina Maioritária
Roxin
Aqueles cujo tipo objetivo de ilícito se Aqueles outros em que o agente assume a
esgota na não realização da ação imposta posição de garante da não produção de um
pela lei (crime de mera atividade) resultado típico (crime de resultado).
Neste caso verificamos que devido ao CP: 10º/2 ocorre uma equiparação da omissão à
ação, sendo designado por crimes de comissão por omissão quando a responsabilidade
resulta da cláusula de equiparação.
CP: 10º/3 Excecionalmente, pode o conteúdo da ilicitude e da culpa da omissão impura
não ser menor que o do delito de ação correspondente tanto nos delitos dolosos, como nos
delitos negligentes de omissão. Apenas se aplica aos crimes impróprios de omissão.
Eduardo Correia fundamenta esta equiparação com base na ideia de que quando um tipo
de crime proíbe a produção de um resultado tanto lhe interessam as ações que o produzem
como as omissões que o deixam ter lugar.
Figueiredo Dias considera que é contraditório que a mesma norma contenha uma
proibição de ação e uma ordem de ação, assim, o fundamento será que para um
determinado tipo de ilícito o desvalor da ação corresponde a um desvalor da omissão, o
que verifica quando o agente tenha um dever de evitar a realização típica, ou seja, que
tenha um dever de garante, um dever jurídico que pessoalmente o obrigue a evitar esse
resultado.
CP: 10º/2 Apesar de exigir a existência do dever de garante não especifica quando é que
tal ocorre:
Ingerência: cria o perigo que pode afetar terceiros deve cuidar de que ele não venha a
concretizar-se num resultado típico.
O facto prévio consistirá em regra numa ação, mas pode também analisar-se numa
omissão violadora do dever. O resultado típico tem de considerar-se objetivamente
imputável, segundo as regras gerais, ao incumprimento do dever de garante. A criação do
perigo tem de ser objetivamente ilícita, embora não culposa. Não poderia fundar uma
posição de garante se o comportamento prévio se encontrasse justificado.
Para André Leite o verdadeiro fundamento da existência de uma posição de garante reside
na desproporção entre o bem jurídico em perigo e o esforço exigido.
De acordo com Paulo Pinto de Albuquerque o direito penal não quer censurar do mesmo
modo o estranho que nada faz e o pai que deixa o filho afogar-se. Devemos aplicar
disposto no CP: 200º e não o CP: 10º
Não necessita de haver um dever jurídico formal, contudo não pode existir uma violação
das expectativas associadas à liberdade de ação, assim, tem de existir do agente uma
reconhecida autovinculação da relação social (apesar de não ter de ser contratual).
1. Ingerência
Para Maria Fernanda Palma importa distinguir a ingerência a partir de ato ilícito ou lícito
2. Monopólio Acidental
É insuscetível de ser fonte do dever jurídico uma posição em que o agente não poderá
contar com o ser investido numa obrigação de evitar resultados nem poderia ter evitado
tal situação. Nesses casos, não existe uma delimitação estável e previsível do âmbito da
responsabilidade do agente em relação aos bens jurídicos alheios.
IMPUTAÇÃO OBJETIVA
Aqui verifica-se se a ação foi causa do resultado, ou seja, se se pode verificar uma relação
entre o comportamento humano e o aparecimento do resultado através da pura
causalidade.
Designada por conditio sine qua non, a premissa básica desta teoria é a de que causa de
um resultado é toda a condição sem a qual o resultado não teria tido lugar. Assim, todas
as condições que contribuíram para a produção do resultado têm o mesmo valor, visto
que, o resultado é indivisível e não pode ser considerado sem a totalidade das condições
que o determinaram.
Para apurar quais as condições que deram causa a um certo resultado deveria o juiz
suprimir mentalmente cada uma delas:
• Se eliminarmos mentalmente/hipoteticamente a conduta do agente e o resultado
subsistir não haverá causalidade;
• Se eliminarmos mentalmente/hipoteticamente a conduta do agente e o resultado
não subsistir haverá causalidade e preenchimento do tipo.
Esta teoria foi abandonada visto que, partindo de um pressuposto naturalista, abrange a
mais longínqua condição, levando à existência de um elevado leque de causas para cada
resultado e à errada resolução de diversos casos (expostos adiante).
Aqui deixamos de ter uma teoria de pura causalidade pelo que se aproxima mais de uma
teoria da imputação, vindo restringir a teoria das condições equivalentes distinguindo
condições juridicamente relevantes e irrelevantes.
Não poderá haver imputação além da capacidade geral do homem de dirigir e dominar os
processos causais, assim, não podem ser relevantes todas as condições, mas sim as que
segundo as máximas da experiência e normalidade do acontecer seriam previsíveis e
idóneas de produzir o resultado.
CP: 10º É adotada a teoria da causalidade adequada como critério básico da imputação.
O nexo de adequação tem de ser aferido segundo um juízo ex ante, ou seja, um juízo de
prognose póstuma. O juiz deve deslocar-se ao passado e ponderar as consequências que
podiam surgir da ação praticada. Haverá imputação, sempre que uma pessoa média
colocada na posição do agente, antes do crime, consegue compreender que haveria a
previsibilidade daquele resultado.
A imputação deverá ser excluída quando o agente diminui o perigo que recai sobre o
ofendido e quando o resultado tenha sido produzido por uma ação que não ultrapassou o
limite do risco permitido. Pode acontecer que o agente já esteja em risco mas o agente
pode ser responsabilizado se potenciar esse risco.
Caso este risco criado seja proibido, falta verificar se foi esse risco que materializou o
resultado típico. Saber que perigo acabou por determinar o resultado é questão que só
pode ser respondida ex post, isto é, com conhecimento de todas as circuntancias relevantes
para a verificação efetiva do resultado.
No caso de não ser certo que tal iria acontecer e ser apenas provável
Nestes casos, a imputação objetiva deve ser negada, seja porque não se torna possível
comprovar aqui verdadeiramente uma potenciação do risco já autonomamente instalado,
seja porque, como sustenta Roxin, se não pode dizer sequer que o comportamento do
agente criou um risco não permitido: verificando-se que tanto a conduta indevida, como
a conduta lícita “alternativa” produziriam o resultado típico, a imputação deste àquela
traduziu-se na punição da violação de um dever cujo cumprimento teria sido inútil, o que
violaria o princípio da igualdade.
Causalidade virtual
(Se a vítima vier a morrer na sequência de um disparo de A, embora estivesse condenada
a morrer envenenada, por ter ingerido veneno, pouco tempo depois)
o Resolução do caso
Estamos perante uma causa hipotética/causa virtual por haver uma causa que não
preenche o resultado, mas que produziria se a pessoa não tivesse morrido, entretanto. A
causa da explosão do avião não funcionar pelo facto de a pessoa ter morrido antes, mas
se ela não tivesse morrido funcionaria de modo que se trata da uma causa hipotética,
enquanto o tiro se trata da causa real.
A primeira teoria, chamada teoria das condições equivalentes ou teoria da conditio sine
qua non, baseia-se numa ideia de que a causa de um resultado é toda a condição sem a
qual o resultado não teria lugar. Assim, importaria verificar, através de um juízo de
supressão mental da conduta do agente, se o resultado típico continuaria a ocorrer. Assim,
seguindo esta teoria o resultado não seria imputado à conduta de A, porque iria dar-se
relevância à causa virtual para afastar a imputação, isto porquê, porque mesmo tirando a
conduta do agente o resultado dá-se na mesma.
Devido a esta teoria abranger várias condições, ser muito ampla, surge a teoria da
causalidade adequada, que diz que para a valoração jurídica da ilicitude serão relevantes
não todas as condições, mas aquelas que são idóneas (juízo de previsibilidade) a produzir
o resultado. No caso em concreto, qualquer homem médio, colocado na posição do
agente, consideraria previsível, ex ante, que, dando um tiro o resultado seria a morte.
Para isso, urge sujeitar este caso aos pressupostos da teoria do risco e indagar da criação
de um risco para o bem jurídico, do carácter proibido do risco criado, e da respetiva
concretização no resultado.
Está então dependente de um duplo fator: primeiro, que o agente, com a sua ação, tenha
criado ou aumentado um risco não permitido; segundo, que esse risco tenha conduzido à
produção do resultado concreto. Quando não se verifique uma destas condições a
imputação deve-se ter como excluída.
Quanto ao primeiro requisito, não haverá dúvida que A criou um risco para a vida de C,
tratando-se de um risco proibido que, a final, se concretizou no resultado. De facto, foi o
tiro disparado por A que matou C, e não o dito avião que viria a explodir.
Como se intui, a tutela dos bens jurídicos não pode ser diferente em função de um
qualquer “prazo” que tais interesses possam ter, isso impõe o princípio da igualdade. O
Direito Penal não abandona bens jurídicos à sua sorte. Se assim fosse a vida não valeria
nada, porque um dia vamos todos acabar por morrer. Ademais, se quisermos dissuadir a
comunidade da prática de crimes, importará demonstrar que o agente não se furta à
responsabilidade penal pela circunstância, que não domina, de um bem jurídico estar
irremediavelmente perdido.
Se considerássemos que neste caso não haveria imputação objetiva então todos podiam
matar, porque um dia vamos todos acabar por morrer.
Em casos como o descrito, não se poderá atribui qualquer relevância à causa virtual para
afastar a imputação objetiva do resultado, já que se verifica tanto o desvalor da ação,
quanto o do resultado. Nestes termos, a morte de C é objetivamente imputável a A.
o Exames
Exame 06/07/2020
David convidou amigos para uma festa, onde houve um contágio de covid, uma semana
depois da festa, Eduarda estava com cancro, mas adoeceu após a festa. David estava
farto de viver com a avó, pelo que a trancou no quarto e esperou que morresse, pensando
que a mesma tinha sido contagiada com o novo coronavírus.
Embora o enunciado não o diga expressamente, parece implícito que a avó adoeceu e
morreu em resultado de contágio por ocasião da festa organizada por David. Assim, a
morte é consequência causal do comportamento de David. Para aferir a conexão de risco
proibido, deve, contudo, ponderar-se a relevância da informação obtida ex post, isto é, a
questão de saber se por Eduarda ter pouco tempo de vida, em razão do cancro de que
sofria, se deve recusar a imputação objetiva da sua morte ao comportamento de David.
A resposta terá de ser negativa. Com efeito, a morte de Eduarda nas circunstâncias em
que ocorreu deveu-se ao contágio e à subsequente falta de assistência médica, não
podendo a proximidade do fim da sua vida fundamentar a desproteção deste bem jurídico
durante o tempo em que, efetivamente, o cancro lhe permitiria viver. Estamos, em suma,
perante causa virtual irrelevante.
Exame 24/07/2020
Bernardo fez mira pela janela de Carlos, e, vendo-o deitado no sofá, atingiu-o na cabeça,
matando Carlos de imediato. Sem que nenhum deles soubesse, Carlos fora envenenado
minutos antes pela filha de 15 anos, Eunice, pelo que iria morrer, ainda que a bala não
o tivesse atingido.
Bernardo cria um risco proibido ao disparar sobre Carlos. Visto que Carlos morre em
consequência do disparo, o risco proibido concretiza-se no resultado.
O envenenamento por Eunice teria provocado a morte, mas, não tendo chegado a atuar,
constitui causa virtual irrelevante para efeitos de (afastamento da) imputação do resultado
ao comportamento de Bernardo.
Exame 27/06/2018
Ao dar a Carolina o medicamento que lhe vem a causar a morte, Frederico cria um risco
proibido que se concretiza no resultado típico falecimento.
O facto de que Carolina teria morrido mesmo que a intervenção realizada tivesse sido a
devida não coloca em causa a conexão do risco. Com efeito, a morte dever-se-ia então a
uma causa (as lesões provocadas pela lixívia) totalmente alheia ao comportamento (lícito)
de Frederico. Assim, as lesões provocadas pela lixívia representam uma causa virtual
irrelevante para efeitos de imputação.
Causalidade cumulativa
(A e B colocam separadamente venenos no copo de C que, por si só, não eram morais. C
acaba por morrer da conjugação de ambas)
Há mais de uma ação a intervir, sendo que cada uma delas é necessária visto que isolada
é insuficiente para causar o resultado.
o Resolução do caso
Através da teoria da conditio sine qua non, curiosamente, o problema resolve-se bem.
Através do exercício da supressão mental verifica-se que sem a conduta de L, o resultado
não teria acontecido, pelo que este seria considerado como causa necessária e seria
possível a imputação ao comportamento deste. E, por outro lado, igualmente, sem o
comportamento de M o resultado, igualmente, também não teria acontecido. Assim, neste
caso, ambos os comportamentos seriam causa. Cada uma das condições é conditio sine
qua non, pelo que bastava que uma das pessoas não fizesse o que fez para o
comportamento não ocorrer. O comportamento é aquele porque potência a causa de um
ponto de vista naturalístico, ainda que por si só não tenha capacidade para explicar o
resultado e ser imputado. Suprimindo mentalmente uma das condutas o resultado não se
teria verificado pelo que cada uma das condições é conditio sine qua non e, por isso, são
ambas imputáveis.
Quanto à teoria do risco, fazendo um juizo ex ante, efetivamente deve ser considerada
que houve uma criação do risco, ou pelo menos ao aumento deste, numa perspetiva de
intensificação. O problema é que o resultado não é controlável pelo agente, considerando
que a concretização deste risco não seria possível sem a atuação do outro agente.
Esta segunda atuação não só era imprevisível e desconhecida como o resultado que dela
adveio não era efetivamente controlável por nenhum dos agentes, pelo que não parece
haver imputação objetiva.
o Exames
Exame 14/09/2020
Na causalidade alternativa existe mais que uma ação a intervir para a concretização do
evento, sendo que cada uma das ações individualmente é capaz de causar o resultado
típico.
o Resolução do caso
resultado e se tal resultado não se teria verificado na mesma sem a conduta do agente,
qualquer uma das causas que concorreram para a produção do resultado surgem, ab initio,
como idóneas a produzi-lo.
Aqui, a teoria da conditio sine qua non diria que nenhum destes comportamentos seria
causa, na medida em que se fosse retirada a ação de A a vítima morria na mesma, e o
mesmo para o caso de retirarmos a ação de B. Isto é errado e não pode ser visto desta
forma, cada comportamento era por si suficiente para garantir a morte da vítima, e
portanto, quem introduz uma condição suficiente para produzir um resultado tem de ser
responsável. Ridiculamente, segundo esta teoria afastar-se-ia a causalidade de ambas as
condutas, não sendo a morte de C imputada a nenhum dos agentes, visto que removendo
a conduta de cada um C morreria na mesma por cada um ter colocado uma dose letal.
Cada ação de cada agente é explicação total do resultado, pelo que deve haver imputação.
Por fim, temos a teoria do risco segundo o qual a imputação objetiva impõe-se em função
da criação ou aumento de um risco proibido para os bens jurídicos, devido à conduta
concreta do agente. Está então dependente de um duplo fator: primeiro, que o agente, com
a sua ação, tenha criado ou aumentado um risco não permitido; segundo, que esse risco
tenha conduzido à produção do resultado concreto. Quando não se verifique uma destas
condições a imputação deve-se ter como excluída.
Dito isto, e quanto à teoria do risco, poderemos afirmar que em relação a ambos os
comportamentos se verificou um aumento/criação de um risco proibido, preenchendo
assim o primeiro requisito. Além disso, houve também a concretização do risco proibido
no resultado típico, visto que C bebeu o chá que continha as duas doses e por causa disso
morreu. Por esse motivo, podemos dizer que há imputação objetiva do resultado (morte)
a ambos.
o Resolução do caso
A primeira teoria, chamada teoria das condições equivalentes ou teoria da conditio sine
qua non, baseia-se numa ideia de que a causa de um resultado é toda a condição sem a
qual o resultado não teria lugar. Assim, importaria verificar, através de um juízo de
supressão mental da conduta do agente, se o resultado típico continuaria a ocorrer.
De facto, de acordo com a teoria das condições equivalentes, num caso como este haveria
causalidade, já que se A não tivesse atropelado B este não teria dado entrada nas urgências
e, não seria, com toda a probabilidade, vítima do incêndio.
Mas esta teoria abrange demasiados casos, e, efetivamente B veio a morrer num processo
causal diferente do posto em causa pelo seu atropelamento, pelo que não deveria o mesmo
ser imputável ao agente.
Devido a esta teoria abranger várias condições, ser muito ampla, surge a teoria da
causalidade adequada, onde verificaríamos que, ao fazer o tal juízo de prognose
póstuma feito pelo julgador, no qual um comportamento será causa adequada sempre que,
colocada uma pessoa média no lugar do agente, antes da prática do crime, seja previsível
aquele resultado como consequência do seu comportamento.
Atendendo aos conhecimentos de um agente médio e aos conhecimentos específicos do
agente do caso em concreto, verificamos que no caso em questão não se poderia imputar
a morte B a A, na medida em que não seria previsível que esse acidente ocorresse,
ninguém poderia saber que o atropelamento de B levaria à sua morte num incêndio.
Assim, a morte em concreto de B não poderia ser imputada a A.
Por fim, temos a teoria do risco segundo o qual a imputação objetiva impõe-se em função
da criação ou aumento de um risco proibido para os bens jurídicos, devido à conduta
concreta do agente. Está então dependente de um duplo fator: primeiro, que o agente, com
a sua ação, tenha criado ou aumentado um risco não permitido; segundo, que esse risco
tenha conduzido à produção do resultado concreto. Quando não se verifique uma destas
condições a imputação deve-se ter como excluída.
Porém, a hipótese não é clara, e se J tiver morrido no incendio, MAS por causa do
atropelamento então aí já há imputação.
CASOS DE OMISSÃO
Haverá imputação objetiva nos casos em que se ação esperada tivesse tido lugar o
resultado não se teria produzido seguramente, ou pelo menos, com uma probabilidade
que roça a certeza.
Segundo esta o resultado não será imputável se a diminuição do risco só aparece como
possível segundo uma consideração ex ante, mas já o será se, também segundo uma
consideração ex post, se comprovar que aquele diminuição se teria efetivamente
verificado.
TENTATIVA
A teoria do risco exige a criação ou aumento de um risco proibido para o bem jurídico e
que esse risco se venha a concretizar num resultado típico. A análise da tentativa deve ser
realizada em sede de imputação objetiva, visto que não se verifica a concretização de um
resultado típico.
1. Resolução criminosa
A mera decisão de realizar um tipo de ilícito não é punível
2. Atos preparatórios
Regra Geral CP: 21º Também a preparação da execução de um tipo de ilícito e os atos
em que se traduza não são puníveis
Exceção CP: 262º, 271º e 274º Os atos neste caso indicam um elevado grau de
probabilidade na realização do tipo ilícito e que a intervenção penal precoce seja
necessária. Em consequência a tentativa do ato preparatório não é punível e este ato não
deve voltar a considerar-se punível como crime autónomo.
3. Tentativa
CP: 22º/1 A tentativa do cometimento de um crime é punível e traduz-se na prática de
atos de execução de um crime que o agente decidiu cometer sem que este se chegue a
consumar.
3. Consumação e Terminação
CP: 22º a 25º Valem para comportamentos que não atingem a consumação.
Para Figueiredo Dias não poderá considerar-se que há tentativa se estamos perante um
caso de negligência, pelo menos inconsciente, visto que a pessoas não decidiu realizá-la.
Apesar de ser possível colocar me perigo bens alheios sem dolo não será casos de tentativa
A doutrina minoritária considera que não pode haver tentativa no caso de dolo eventual,
considerando que a tentativa apenas pode ser imputada no caso de dolo direito. Figueiredo
Dias não aceita esta restrição, pelo que pode ser dolo intencional, necessário ou eventual
Não tendo o legislador aceite a teoria subjetiva ou voluntarista, a qual contenta-se com a
exteriorização da vontade através da prática de atos preparatórios voltados a realização
do tipo, exige-se a prática de atos de execução. Portanto, o mero conteúdo da vontade não
basta, para solucionar a questão do iter criminis, pois esta diz respeito à culpabilidade
Teoria da ação típica determina que temos que olhar caso a caso sendo que o execução
somente ocorreria tipo por tipo, ou seja, exigir-se-ia que o agente realizasse, efetivamente,
de modo concreto, uma parcela da própria conduta típica descrita em abstrato na norma.
CP: 22º/2 A)
Os que preenchem um elemento constitutivo de um tipo de crime, embora nas alíneas
seguintes estenda essa qualificação a outros atos que não assumem aquela característica.
CP: 22º/2 B)
O significado útil deste preceito é pois o de equiparar aos atos típicos (parciais) previstos
na al. a) todos aqueles que são idóneos- isto é, adequados, segundo os conhecidos termos
da doutrina da adequação, nomeadamente de acordo com um juízo ex ante, de prognose
póstuma- a produzir o resultado típico:
Crimes de mera atividade: idoneidade para integrar a realização do tipo
(CP: 352º Usar serra para cortar grades da prisão)
CP: 22º/2 C)
Para colmatar a lacuna dos atos preparatórios não ficarem excluídos esta alínea inclui os
que, segundo a experiência comum e salvas circunstâncias imprevisíveis, forem de
natureza a fazer esperar que se lhes sigam atos das espécies indicadas nas alíneas
anteriores
Não Consumação
Punibilidade da tentativa
Manifesta: a tentativa não será punida quando for evidente e obvio que os meios não são
aptos, tipo quando um homem está a fazer uma reza para te tentar matar. Será, portanto,
punida quando não for manifesta porque nesses casos abala a confiança comunitária, por
exemplo se for uma arma de brincar, mas parecer mesmo real e a vítima acreditar mesmo.
O agente voluntariamente:
Conceção Psicológica: depende do grau de coação psíquica exercida sobre a
liberdade de decisão do agente. Voluntária se decidiu livremente. Involuntária se desistiu
devido à pressão psíquica originada pelas circunstâncias da atuação (medo ser preso)
Conceção Normativa: depende do merecimento da isenção da pena face ao
fundamento jurídico-próprio.Será necessário para a voluntariedade que ela tenha tido
origem numa “inversão” da posição interna do agente determinante de um seu verdadeiro
“regresso à legalidade”.
Figueiredo Dias: a desistência é voluntária sempre que seja reconduzível a uma
motivação autónoma ou ato-imposta: o que pressupõe que o agente seja ainda senhor da
sua decisão e não seja submetido a uma pressão desrazoável da situação exógena sobre o
cumprimento das suas intenções próprias, numa palavra, que tenha atuado por impulso
próprio.
Desistência nos crimes agravados pelo resultado: A doutrina maioritária aceita o relevo
da desistência nestes casos. Se, pois, o perigo típico, ligado à conduta tentada, já se
atualizou no evento agravante, não parece em princípio adequado e justo privilegiar o
comportamento unitário com a relevância da desistência (cuja “voluntariedade” deverá,
de resto, ser questionável); em situações deste teor, porém, parece justificar-se a quebra
da aludida unidade e, se tal se tornar viável no caso, conceder ao agente a atenuação
especial própria do crime fundamental apenas tentado.
(A leva uma arma para disparar para o chão se a vítima de roubo resistir, a vítima resiste
e por negligencia dispara e mata B, acabando por abandonar sem roubar)
Tentativa Fracassada: Acontece quando não impede porque acha que não se irá
consumar sendo irrelevante a desistência
CP: 24º/2 No caso de não ter sido a atuação de agente que levou à não consumação ou
não verificação do resultado, mas sim de um terceiro, o desistente pode ainda assim não
ser punido caso se tenha empenhado para evitar.
Esforços: Não basta que não queira que aconteça, necessita de existir uma nova cadeia
de comportamentos com dispêndio de energia tendo o objetivo de salvar o bem jurídico.
Sérios: agente intenta levar a cabo tudo aquilo que subjetivamente pensa que teria de
fazer ou pode fazer para evitar a consumação. Equivale à ideia de melhor contribuição
possível da parte do agente
AUTORIA
A lei penal portuguesa prevê vários modos de participação no crime, qualificando-os ora
de autoria a que se costuma chamar de participação principal ora de cumplicidade,
também denominada de participação secundária.
Autoria Imediata
“quem executar o facto, por sim mesmo”
Para Roxin o autor preenche na sua pessoa a totalidade dos elementos objetivos e
subjetivos do ilícito típico e detêm por isso o domínio da ação.
Autoria Mediata
“quem executar o facto (...) por intermédio de outrem”
É irrelevante o meio que o autor mediato usa para, através do executor material, conseguir
os seus intentos, podendo ser por coação ou por CP: 16º/2 erro.
Autor Mediato: Falta-lhe o domínio da ação, é utilizado como instrumento não tendo
capacidade para avaliar a sua conduta, pelo que age sem culpa.
Atua tipicamente
Por não praticar uma ação sendo utilizado apenas o seu corpo (encontrão)
Por ser a própria vítima, podendo o homem de trás ser considerado autor ou ficando
impune por cumplicidade.
Por atuar sem dolo do tipo: apesar da sua ação preencher o tipo objetivo não preenche o
tipo subjetivo por lhe falta o dolo, visto que está em erro dobre a factualidade típica
dolosamente causado pelo homem-de-trás. No caso de atuar com negligência consciente
Figueiredo Dias considera que é responsável
Atua licitamente
(Juiz pede a polícia a detenção de C sabendo que não há motivos) Aqui o Homem de trás
tem o domínio do facto pelo que se pode afirmar a autoria mediata
No caso do homem de trás criar uma situação de legítima defesa para que o homem da
frente pratique um ato jusfificado será responsabilizado visto que cria dolosamente uma
situação de coação que só pode ser eliminada através da lesão de um dos bens jurídicos
naquela co-envolvidos. No caso de ocorrer erro sobre os pressupostos de legitima defesa
não se exclui o dolo do tipo mas exclui o dolo da culpa, bastando para se retirar ao homem
da frente a responsabilidade.
Roxin admite a autoria mediata, contudo Figueiredo Dias discorda visto que existe a
figura da instigação não estamos numa situação de lacuna de punibilidade.
O Autor Material não é responsável criminalmente a título de dolo (até pode ter dolo, não
pode é ser responsabilizado a título de dolo); se for por negligência isso não influencia.
A situação que leva a que ele não seja responsável criminalmente a título de dolo ou foi
criada por esta outra pessoa ou, pelo menos, ele aproveitou-se dela para o levar a praticar
o facto.
Autor Imediato: é autor material visto que executa ao to por sim mesmo.
No âmbito da imputação objetiva cria o risco proibido que se concretizou no resultado.
Quanto à imputação subjetiva o autor está em erro sobre a factualidade típica, pelo que
CP: 16º/1 se exclui o dolo do tipo e CP: 16º/3 + 13º + 15º b) ressalva-se a possibilidade
de punibilidade por negligência.
Autor Mediato: o agente não executou o crime por si mesmo, pelo que poderia ser co-
autor, contudo não é o caso visto que tomou parte direta na execução, ou seja, é autor
mediato.
Autor Imediato: é autor material visto que executa ao to por sim mesmo.
No âmbito da imputação objetiva cria o risco proibido que se concretizou no resultado.
Atua igualmente com CP: 14º/1 dolo
Contudo, representou que iria ser agredido pelo que a sua atuação seria de legitima defesa
pelo que se excluiria a ilicitude, contudo existe um erro do CP: 16º/2 sendo que haverá
exclusão do dolo da culpa.
Não pode ser responsabilizado a título de dolo por homicídio, porque faltou o dolo da
culpa. Ou seja, não é porque “não tem dolo”, mas porque não pode ser responsabilizado
a título de dolo. Aqui não pode porque não tem dolo da culpa.
Autor Imediato: é autor material visto que executa ao to por sim mesmo.
No âmbito da imputação objetiva cria o risco proibido que se concretizou no resultado.
Atua igualmente com CP: 14º/1 dolo
Não há causa de justificação
Admitindo-se que ele matou para afastar o perigo para a sua própria vítima, a sua atuação
é licita ao abrigo do estado de necessidade desculpante, pelo que não pode ser
responsabilizado criminalmente nem por dolo nem por negligência.
Este erro não afasta o dolo, porque a identidade da vítima não é elemento do tipo de
homicídio.
Então, não é aqui autor mediato, porque apesar de ter criado o erro que levou o autor
material a praticar o facto, não o instrumentalizou, porque, o autor material não deixa de
poder ser responsabilizado a título de dolo.
Co-autoria
“quem tomar parte direta na execução do facto por acordo ou conjuntamente”
Existe aqui um domínio do facto coletivo, não servindo nenhum como instrumento.
Para Maria Fernanda Palma temos um problema de imputação objetiva que é
reconfigurada pela subjetividade.
É a tomada da decisão conjunta, anterior ao início da execução do facto, que cria uma
conexão mútua entre as partes da execução que justifica a penalização na totalidade do
agente que apenas praticou parte do ilícito
Para Figueiredo Dias não pode ser um mero acordo, a decisão tem de revestir a
distribuição do papel e da função de cada autor na execução total, necessitando de ser
uma parte da atividade de participação própria.
No caso de atuações singulares irem além da decisão conjunta estamos num caso de
excesso pelo que esses atos só podem ser imputados ao seu autor. O co-autor apenas
poderá ser responsabilizado pela atuação excessiva no caso de ter algum tipo de dolo,
nomeadamente eventual.
Atuando cada um por si não fazia resultar o facto típico, mas a atuação global conjunta é
que redunda na execução do facto típico (global), snedo portanto a contribuição essencial
O facto será dependente da execução das tarefas repartidas entre os agentes, mesmo que
nem todos eles preencham elementos típicos do ilicito.
Tanto Figueiredo Dias como Fernanda Plama consideram que a atuação na fase
preparatória não pode corresponder a uma situação de coautoria. A participação no
planeamento e organização necessita de ser prolongar para o dirigir da operação, caso
contrário só poderá ser instigador ou cúmplice.
Punibilidade
Cada co-autor é punido na moldura penal prevista para o facto decidido e executado
conjuntamente como se o tivesse cometido sozinho. Nos casos de excesso pode haver
punições individuais.
(A vai colocar uma dose de veneno que julga ser mortal, mas na verdade não é. C percebe
e, antes do A por metade do veneno, junta o que faltava. A vítima morre.)
A só pode ser punido por tentativa de homicídio, sendo autor material dessa tentativa.
C quando este pôs o veneno também só colocou uma parte do veneno que na totalidade
ia matar B – só pôs uma parte que não era suficiente por si só, só mata a vítima em
conjunto com A; ele tem noção do A. Mas é difícil sustentar que ela seja punido por
Homicídio Doloso Consumado, uma vez que ele precisou da atuação do A.
Jakobs + Helena Morão = Dizem que ele vai ser punido por Homicídio Doloso
Consumado, porque falam aqui em co-autoria, já que ele tem noção que está a juntar o
veneno que falta, então, é responsável globalmente pelo facto. Já em relação ao A, ele
não tem noção de estar a atuar em conjunto com C, logo é autor material de uma tentativa
de homicídio, não sendo responsável pelo facto doloso, mas apenas pelo que fez sozinho.
Instigação
“quem, dolosamente, determinar outra pessoa à prática do facto, desde que exista
execução ou começo de execução”
Instigador: não basta incentivar ou aconselhar a sua conduta tem que influenciar para
motivação do executor de forma cabal. Tem de ter o domínio da decisão do instigado
cometer o crime.
=/= Cúmplice: No caso de ser só incentivar são casos de auxílio moral e não obra própria
pelo que podem ser cumplicidade por comportamento de indução.
Instigado: é motivado a cometer o crime pelo instigador, sendo este que decide a
produção do facto, mesmo que se mostre decidido a cometer o crime (homicida
profissional)
Alargamento da Determinação
Dolo
Para Figueiredo Dias pode ser através de qualquer modalidade de dolo, contudo não será
compatível a criação da decisão por negligência.
No caso do instigado ir além do dolo do instigador estamos num caso de excesso, pelo
que o instigador só responde na medida do seu dolo, e eventualmente por negligência
quando ao ilícito agravado.
Se o instigado ficar aquém do dolo do instigador, este responde pelo facto efetivamente
cometido, visto que a tentativa falhada de instigação não é punível.
Cumplicidade
Momento temporal
Dolo
O cúmplice presta auxílio doloso a um facto doloso, pelo que tem uma dupla referência,
à prestação de auxílio e à própria ação dolosa do autor.
O comparticipante que torna ineficaz o seu contributo para o facto quando este se encontra
ainda na fase preparatória não deve ser punido. Não estamos perante uma tentativa porque
seriam necessários atos de execução. Pode haver desistência se já tiver havido
consumação formal mas não material.
Basta que um dos agentes do crime tenha a qualidade do tipo legal para que os outros
também a tenham. A regra é a da comunicabilidade entre agentes.
Ficam de fora “as qualidades ou relações especiais” que não influenciam a ilicitude, mas
antes fundamentam o juízo de culpa.
IMPUTAÇÃO SUBJETIVA
CP: 13º Determina que só pode ser punível o facto praticado com dono ou nos casos
expressamente previstos, o com negligência.
Ora, se não houver esta representação ou, pelo menos, uma representação correta dos
elementos do tipo ilícito então poderemos estar numa das várias situações de erro que
excluem o dolo pelo CP: 16º/1, são elas:
Aqui o dolo do tipo não se excluir, apenas nunca se chega a constituir e o sentido de erro
significa a representação errada, mas também a falta de representação.
Só excluirá o dolo o erro que incide efetivamente sobre os aspetos da conduta que
constituam o objeto do dolo ou seja, os aspetos que a vontade do agente pode dominar e
que sejam constitutivos do comportamento proibido.
CP: 16º/3 Ao faltar o dolo do tipo falta o tipo subjetivo do crime doloso, contudo o agente
pode ser punido dolosamente por outros crimes, ou pode preencher o tipo de ilícito
negligente.
No caso do erro-suposição há motivação para a prática do crime, mas está em erro sobre
um elemento do tipo que o impede materialmente de praticar o crime, aqui não se irá
afastar o dolo, recorre-se ao regime CP: 23º/3 da tentativa impossível. Isto dito, importa
verificar se a tentativa é punível no tipo de crime em causa, devendo, 23º/1 ao crime
consumado corresponder uma pena superior a 3 anos. Contudo, estamos perante uma
tentativa impossível, importará aferir da respetiva punibilidade, ao abrigo do 23º/3.
(B quer furtar o computador portátil do seu colega C, exteriormente idêntico ao seu, mas
com tecnologia de última geração no interior. Todavia, engana-se e acaba por levar o seu.)
o Exames
Exame 24/07/2020
Pouco depois, Júlio sai atrás de Pompeu, desejando pedir perdão, e espanta-se por
encontrá-lo inanimado e sangrando. Convencendo-se de que, durante a discussão, lhe
bateu com muito mais força do que julgou, e de que o matou, rapidamente enterra
Pompeu para ocultar o crime.
Júlio não representa que está a matar uma pessoa, pelo que age em erro sobre a
factualidade típica, previsto no CP: 16º/1, primeira parte. Exclui-se, assim, o dolo do tipo.
Fica ressalvada a punibilidade por negligência, nos termos dos 16º/3, 13º e 15º, al. b),
prevista no 137º Pode admitir-se a falta de cuidado do agente, supondo que um exame
rápido lhe permitiria ver que a vítima ainda respirava.
Exame 05/06/2018
Em relação à morte de D, também não é possível responsabilizar A a título de tentativa,
uma vez que não houve dolo (CP: 22º/1): na medida em que A nem sequer podia ver D,
então, também não podia representar a possibilidade de o atingir, estando numa situação
de erro sobre a factualidade típica que exclui o dolo.
Exame 27/06/2018
No Sábado, Aníbal chegou ao local quinze minutos mais cedo e avistou, sentada num dos
bancos do jardim, uma senhora usando uma saia correspondente à descrição indicada
por Bianca, pelo que julgou tratar-se desta. Vendo a senhora, que na verdade era Carla,
de mão dada com Dário, a quem dirigia sorrisos cúmplices, Aníbal convenceu-se de que
Bianca teria combinado igualmente encontros com outros correspondentes e sentiu-se
enganado. Furioso, agarrou uma pedra da calçada e atirou-a na direção de Carla. Como
esta, no entanto, se inclinou para beijar Dário, a pedra atingiu Emília, deitada na relva
ali perto.
Nos crimes de resultado tanto a ação, como o resultado são circunstâncias do facto
pertencentes ao tipo objetivo de ilícito que, como tal, têm de ser levados, nos termos
descritos, à consciência intencional do agente. Importa perceber se a não coincidência
entre o risco que o agente cria conscientemente e aquele de que deriva o resulta pode levar
a que o agente seja responsabilizado, ou seja, se é exigido que o autor conheça a conexão
entre ação e resultado.
Figueiredo Dias refere que hoje já se encontra solução para muitos destes
problemas em termos de Doutrina da Imputação Objetiva, nomeadamente no âmbito da
conexão do risco. Assim diz que quando a imputação objetiva se verifique no âmbito da
conexão do riscotem de conferir-se relevo ao erro sobre o processo causal, contudo:
1. Ou o tipo de ilícito é de execução vinculada e, então, o “erro sobre o processo
causal” traduz-se em um puro erro sobre a factualidade típica e é relevante;
2. Ou o tipo de ilícito é de execução livre e, então, torna-se extremamente difícil
figurar uma hipótese em que a imputação objetiva, comandada pela conexão de
risco, deva ser afirmada e, todavia, o dolo do tipo ser negado.
Onde e quando uma tal hipótese possa ser figurada, todavia, o erro sobre o processo causal
não pode deixar de ter-se por relevante no sentido da não afirmação do dolo e o agente só
poderá ser punido a título de tentativa.
o Resolução do caso
O enunciado sugere uma situação de erro sobre o processo causal, em que o agente
consegue atingir o seu objetivo (no caso, matar P), de uma forma diferente da inicialmente
concebida. É exatamente neste ponto que o erro sobre o processo causal se distingue da
aberratio ictus: nesta, o agente não consegue produzir o resultado almejado.
Apesar da intuitiva razoabilidade desta construção, importa lembrar que o dolo não se
reconduz a previsibilidade, mas sim a previsão efectiva. Para haver dolo, o agente tem de,
pelo menos, prever como possível a verificação do resultado. Impõe-se, aqui, uma
previsão efectiva, uma acção “dirigida” à produção desse resultado. Por esse motivo,
refere Puppe que quando o processo causal se desenvolve de forma completamente
imprevisível, não haverá, desde logo, imputação objectiva, pelo que o erro sobre o
processo causal seria um problema de tipicidade objectiva e não de imputação subjectiva.
Por seu turno, Maria Fernanda Palma sublinha que nas hipóteses de processos com risco
intenso e consequências incontroláveis, não haverá verdadeiramente erro. Nesses casos –
afirma a autora –, o agente representa simultaneamente a verificação de múltiplos riscos,
sendo tais perigos concretização do risco inicialmente criado.
Daqui tende a concluir que o dolo não tem que abarcar o processo causal, bastando que o
agente represente os elementos da imputação objectiva – criação do risco proibido e
resultado como concretização desse risco – para que o crime seja imputável a título
doloso. Neste cenário, parece possível afirmar que O representa os pressupostos de
imputação objectiva, concebendo que mesmo que P não morresse por afogamento,
poderia morrer por uma outra causa, igualmente provável. Assim, dir-se-á que haverá
imputação objectiva do resultado morte de P ao comportamento de O.
Dolus Generalis
(Atuando com o dolo correspondente, acreditar ter morto com uma pancada a sua vítima
e depois ter tentado simular suicídio, enforcando-a, tendo a morte ocorrido só com o
enforcamento)
Inversamente (agente planeia matar a vítima por afogamento no rio, mas mata-a logo que
desfere pancadas na cabeça para a deixar inconsciente e não apenas quando a atira ao rio)
O problema que este tipo de casos propõe é semelhante ao que é suscitado pelo erro sobre
o processo causal. Também aqui o agente representa o desfecho, o resultado típico, como
sendo realizado por uma ação e por um processo causal diverso do que foi realizado. No
entanto, é ele próprio que conduz “pelas próprias mãos” o processo causal acidental sem
o saber e sem poder sequer controlá-lo.
Nestes casos o agente pensa erradamente que produziu o resultado, contudo é uma nova
atuação do agente (encobrimento) que o resultado se vem a concretizar.
Na primeira ação existe dolo do facto, contudo não existe concretização do resultado, na
segunda ação existe concretização do resultado, contudo não existe dolo do facto.
o Resolução do Caso
A este respeito, a doutrina maioritária entende que o dolo, abarcando todo o processo
desencadeado pelo infractor, sustenta a punibilidade por um crime único, doloso e
consumado – no caso, homicídio doloso consumado
Roxin, por seu turno, socorre-se dos diferentes tipos de dolo para justificar variados tipos
de punição. Para este autor, se o agente actuar apenas com dolo eventual, não faria sentido
imputar, a título de dolo, todo o processo ocorrido. Tal hipótese ficará limitada aos casos
em que se observe dolo directo.
De acordo com a concepção de Figueiredo Dias, haveria que indagar se o risco que se
concretiza no resultado poderia ainda reconduzir-se ao quadro de riscos criados pela
Retomando a hipótese em análise, diríamos que de acordo com Maria Fernanda Palma,
não poderíamos concluir por um dolo que abrangesse as duas actuações, já que apenas
após o primeiro crime decidiu o agente encobrir o “homicídio”. No mesmo sentido nos
parece apontar o critério sugerido por Figueiredo Dias, visto que o risco concretizado no
resultado não se inclui no quadro de riscos criados pela primeira actuação. Deste modo,
apenas restaria a punibilidade do agente por uma tentativa de homicídio (artigo 23.o, n.o
1 e 131.o do Código Penal) e um crime de homicídio negligente (artigo 137.o do Código
Penal).
o Exames
Exclusão do dolus
Não pode aplicar-se a solução de dolus generalis, mesmo para quem adote este caminho
de resposta em geral, visto que no caso, os seus pressupostos não se verificam: ficando
Júlio admirado ao julgar morta a vítima dada a força com que lhe batera, e só então
decidindo enterrá-la, parece não ter havido sequer dolo de homicídio por ocasião da
discussão, muito menos um plano de matar a vítima e enterrá- la de seguida. De acordo
com autores como Welzel, seria essencial encontrar, naquele primeiro momento, não só
o dolo, mas o próprio plano de praticar um homicídio encoberto, capaz de estabelecer
uma conexão entre as duas acções (nesta hipótese, a agressão durante a discussão e o
enterramento do suposto cadáver) e de permitir descortinar uma unidade do
comportamento global, devendo então tratar- se o caso como de realização de um só facto
típico (doloso). Não se verificando tais pressupostos, em suma, mantém-se a separação
entre os dois momentos, e o enterro constitui facto típico negligente, como referido.
Exame 27/06/2016
Em alternativa, embora de forma menos correta face ao enunciado, poderiam subsumir-
se os factos a um caso de dolus generalis, admitindo que o plano global dos agentes
incluía, desde o início, o espancamento e posterior lançamento do corpo à água para
simular uma queda e ocultar o crime. Admitindo que a premeditação e a valoração global
do plano do agente permitiriam uma persistência do dolo no segundo momento
comissivo, C e D seriam então coautores de um homicídio doloso consumado
(consequentemente, B seria instigador de um crime de homicídio doloso consumado com
erro irrelevante sobre a identidade da vítima).
Aqui o resultado ao qual se referia a vontade de realização do facto não se verifica, mas
sim um outro, da mesma espécie ou de espécie diferente.
A aberratio ictus coloca problemas ao nível da imputação objetiva, pois que se colocará
dúvida no âmbito da previsibilidade na causalidade adequada. Se se tratar de uma situação
inesperada, em princípio, não haverá elemento cognitivo do dolo, pelo que apenas se
poderá falar numa imputação negligente do resultado não previsto.
Maria Fernanda Palma considera que a melhor solução é a que qualifica como erro sobre
a pessoa e pune o instigador pelo crime doloso consumado do autor material, pois o agente
tem domínio sobre o facto e tem igualmente um dolo especialmente intenso.
O instigador será punido pelo Crime Consumado executado pelo autor material, a título
de dolo ou de negligência conforme o grau do seu conhecimento e aceitação prévios do
desfecho desviado da ação. A partilha de responsabilidade entre o instigador e o autor
material justifica esta solução.
o Resolução do Caso (pretende partir o vidro, mas acerta no braço de uma pessoa)
Em termos objetivos, o agente criou um risco proibido para o bem jurídico. Porém, o risco
concretizado no resultado não corresponde ao perigo típico criado pelo agente. Numa
formulação alternativa: o risco que produziu o resultado típico é oriundo da conduta do
agente, mas, de acordo com a representação e vontade de D, o risco típico criado seria o
risco de dano e não de ofensa à integridade física.
Perante estas constatações, diremos que o caso descrito parece corresponder às chamadas
situações de erro na execução, em que o agente não provoca o risco que inicialmente tinha
previsto, acabando por desencadear um processo que conduz a uma lesão diferente da que
pretendia causar. Trata-se de um contexto comummente designado como aberratio ictus
Neste concreto cenário, não se verifica uma identidade típica de objetos: sugere-se a
lesão típica de dois crimes distintos. De facto, na nossa hipótese, estaremos a olhar para
uma ofensa à integridade física, em relação a L e um dano, relativamente à janela.
De um ponto de vista objetivo, o agente criou um risco proibido para o bem jurídico.
Todavia, relativamente ao resultado atingido, diremos que se observa novamente um erro
na execução ou uma aberratio ictus.
Com efeito, E dirigira a sua ação para atingir a janela e, a final, acertou no canário. Aqui,
haverá uma identidade típica de objeto, já que os crimes em causa são dois crimes de
dano: um tendo por objecto a janela, outro o canário.
crime de dano não se observa. Por esse motivo, a responsabilidade de I será, quanto a este
ponto, negada.
A este respeito, cumpre sublinhar que, em casos de aberratio ictus com identidade típica
de objecto, se discute se o agente deverá ser punido em concurso (tentativa de crime
projectado e crime consumado negligente) ou se, pelo contrário, se deverá equiparar esta
situação ao caso do erro sobre a identidade do objecto, e punir o agente por um único
crime doloso.
A doutrina dominante tem entendido, ainda assim, que a punição em concurso será a mais
adequada, já que nas hipóteses de aberratio ictus se observa, tipicamente, a criação de
dois perigos autónomos que merecem tutela penal.
Deste modo, importaria demonstrar, para sustentar este entendimento, que teria havido
criação de perigo de dano quanto à janela, paralelamente ao risco criado para o canário,
que conheceu concretização no resultado proibido.
Dolo alternativo
(o agente pretende atingir A, sendo-lhe indiferente que venha a atingir B)
Verifica-se um dolo que admite uma ação imprecisa e sem um desenvolvimento concreto
a priori certo, relativamente a uma de duas vítimas, embora se prefira atingir uma das
vítimas e não a que se atinge efetivamente.
O dolo alternativo distingue-se, assim, do erro sobre a execução na medida em que nos
casos de dolo alternativo o agente conforma-se, ainda que num nível mínimo, com a
possibilidade de acertar noutro alvo.
De acordo com Maria Fernanda Palma, a solução preferível seria a de punibilidade por
dois crimes dolosos: um na forma tentada (dano CP: 212º) e outro na forma consumada
(homicídio CP: 131º/l), visto que considera que há dolo direto e dolo eventual.
A ação promovida pelo agente era bivalente, encerrava em si, em alternativa, uma
possibilidade de atingir qualquer uma das vítimas e era sustentada numa decisão de atingir
qualquer uma delas, ambas as vítimas foram objeto da ação e ambos os concretos bens
jurídicos (a vida de cada pessoa) foram postos efetivamente em perigo.
Esta solução tem sido criticada, pois em bom rigor, trata-se de um dolo com objeto
alternativo, o agente não se conformou com a possibilidade de acertar nos dois, mas com
a possibilidade de acertar num deles. Punir o agente com dois crimes dolosos é ficcionar
duas ações dolosas quando só existiu uma, violando-se o princípio ne bis in idem (não se
pode valorar o mesmo conteúdo de ilícito mais do que uma vez). Só há, portanto, base
para afirmar o desvalor de ação dolosa numa das ações.
Neste sentido Figueiredo Dias considera que se pune pelo crime consumado, visto que o
agente conta com ambas as possibilidades, e conforma-se com elas. Por esse motivo, o
seu dolo deve ser afirmado quanto ao tipo objetivo realmente preenchido pela conduta.
No caso, equivalerá isto a afirmar que, sendo atingido o cavaleiro, o agente responderá
por homicídio.
Em alternativa, Silva Dias sugere a possibilidade de punir o agente pela tentativa do crime
mais grave, caso esse não seja o crime consumado.
No entanto, tal posição não determinaria uma solução distinta da anterior, já que o
resultado típico ocorrido – acertar na pessoa em vez de no animal – constitui o crime mais
grave. Dito de outro modo: uma vez que o agente acertou no cavaleiro, impõe-se concluir
que praticou o crime mais grave. Nestas hipóteses, também esta perspectiva doutrinária
defende a punição a título doloso consumado, visto que não teria qualquer cabimento falar
num mero crime tentado.
O autor necessita de ter conhecimento da proibição legal nos casos em que a proibição
legal é fundamental para a orientação ética do agente, tendo como fundamento o facto do
CP: 16º/1 determinar que o agente tem de tomar consciência da ilicitude do facto.
Para Figueiredo Dias para existir dolo exige-se ao agente a apreensão do significado
social desvalioso correspondente não resultado da valoração jurídica, tendo em
consideração o nível próprio das representações do agente.
Erro do Dolo do Tipo CP: 16º/1 Erro do Dolo da Culpa CP: 17º
Estamos perante uma deficiência da
Estamos perante uma deficiência da
consciência ética do agente, que não lhe
consciência psicológica, imputável a uma
permite apreender corretamente os valores
falta de informação ou de esclarecimento
jurídico-penais e que, por isso, quando
e que por isso, quando censurável, revela
censurável, revela uma atitude de
uma atitude interna de descuido ou de
contrariedade ou indiferença perante o
leviandade perante o dever-ser jurídico-
dever- ser jurídico-penal e conforma
penal e conforma paradigmaticamente o
paradigmaticamente o tipo específico de
tipo específico de culpa negligente.
culpa dolosa.
De acordo com Fernanda Palma a distinção entre os erros deve ter por base a ideia da
razoável aquisição da consciência da ilicitude, no seu contexto social, sendo que o que
releva é que o agente não seja surpreendido com o sentido da ação conferido pela regra.
O que importa nestes casos é que o agente não é surpreendido com o sentido da açao
conferida pela regra, que não procura conhecer. Ele aceita implicitamente o resultado
típico que deriva de não procurar conhecer a conduta que a regra preconiza.
Elemento Volitivo
O dolo do tipo não pode bastar-se com a representação das circunstâncias de facto,
exigindo ainda que a prática do facto seja presidida por uma vontade dirigida à sua
realização. É este elemento que constitui o momento volitivo do dolo do tipo e que pode
assumir matizes diversos, permitindo a formação de diferentes classes de dolo.
O agente não dirige a sua atuação diretamente a produzir a verificação do facto, mas
aceita-o como consequência necessária da sua conduta.
O fim da sua ação não é a realização do facto típico, mas o agente representa tal como
possível e mesmo assim não deixa de realizar a ação.
Para Eduardo Correia o critério do dolo eventual assenta no facto de o agente atuar
não confiando que o resultado se verificará
Figueiredo Dias discorda, considerando que a dupla negação não permite perceber
com clareza o elemento positivo que deve arvorar-se como critério do dolo
eventual. “Um olhar extremamente psicologista da confiança pode conduzir a
privilegiar infundadamente o otimista (que confia que tudo correrá bem) face ao
pessimista depressivo”.
Maria Fernanda Palma considera que temos de ponderar dois interesses: interesse do
agente em fazer o que quer e o interesse em proteger o bem jurídico em concreto, que
pode ser lesado pela atuação do agente, sendo que o critério passa por perceber qual os
interesses o agente teve em conta. Optando por superiorizar o que quer fazer em
detrimento do interesse em proteger o bem jurídico existirá dolo. Para podermos
descrever um comportamento como voluntário (doloso), será necessário que seja
intencional, e isso acontece quando o agente escolhe um fim que quer atingir, escolhe os
meios adequados para atingir esse fim e age para atingir esse fim, com esses meios
escolhidos. Se isto não sucede, significa que o agente agiu sem vontade, isto é, agiu
negligentemente.
Assim, a ilicitude é uma demonstração coerente, em face de todo o Direito, de que o facto
é desvalioso. É isso que o CP: 31º postula ao referir que “o facto não é punível quando a
sua ilicitude for excluída pela Ordem Jurídica considerada na sua totalidade”.
Para Maria Fernanda Palma uma causa de justificação do facto não é mera delimitação
negativa do desvalor da ação e é, em princípio, uma compensação ou neutralização da
lesão do bem jurídico protegido pela norma, através da realização de um outro bem ou
interesse que suscita razão específica para não proibir uma conduta típica.
Legítima Defesa
CP: 32º Considera-se legitima defesa o facto praticado como meio necessário para repelir
a agressão atual e ilícita de quaisquer interesses juridicamente protegidos do agente ou
terceiro, ou seja, a defesa contra agressões ilícitas, permitidas aos particulares, sem
recurso ao Tribunal.
Taipa de Carvalho considera que a razão por que deve rejeitar-se qualquer ideia de
proporcionalidade no âmbito da Legítima Defesa reside na injustiça que seria impor ao
agredido, em virtude de uma agressão atual, ilícita, dolosa e censurável, uma limitação da
sua liberdade de estar ou da defesa ativa dos seus bens.
Para Maria Fernanda Palma a legítima defesa deve ser caracterizada por uma exigência
de proporcionalidade qualitativa. Existe uma exigência de proporcionalidade, a qual não
deve permitir a lesão de bens qualitativamente superiores aos preservados uma vez que
se verifique “a insuportabilidade da agressão a um núcleo de bens essenciais em que se
manifesta a dignidade da pessoa humana e a igualdade na proteção dos sujeitos jurídicos”.
Existem duas perspetivas distintas no que toca à limitação da Legitima Defesa, sendo
que Maria Fernanda Palma se encontra a meio caminho:
Não exclui logo à partida o património, visto que esses bens patrimoniais podem ser
justificativos, em situações específicas (condições da subsistência e dignidade)
Interpreta-se como a ordem de bens jurídicos associadas aos direitos fundamentais,
havendo hierarquia entre direitos fundamentais.
2. Limitada
Bens sem o significado anterior, para os quais a defesa tem de ser moderada e não se
justifica uma legítima defesa a todo o custo.
Interesse juridicamente tutelado: Maria Fernanda Palma limita a defesa a bens pessoas
ou patrimoniais. Figueiredo Dias abrange bens jurídicos supra-individuais coletivos ou
universais.
Atualidade da Agressão
Tanto Figueiredo Dias como Maria Fernanda Palma e ainda Roxin consideram que não
se admite atuações em legitima defesa em resposta a uma agressão que ainda não é
iminente, mas que já se sabe antecipadamente com elevado grau de segurança que vai ter
lugar. Quem defende que esta atuação pode ser possível defende a teoria da defesa mais
eficaz ou legitima defesa preventiva.
Figueiredo Dias admite que possa existir uma preparação antecipada da defesa com
aparelhos automáticos relativos a uma eventual agressão, desde que quando atuem se
verifiquem os requisitos da legitima defesa.
Deixa de ser atual após o último momento Considera que muitas vezes agressão e o
de consumação de crimes. Nos crimes de estado de anti juridicidade perduram para
perigo estende-se até à realização do dano. além da consumação típica.
A reação tem de ter lugar logo após o Pode ser atual até à agressão ser suscetível
momento da agressão. de pôr fim à agressão.
Ilicitude da Agressão
Não pode haver legitima defesa contra legitima defesa porque visto que a atuação em
legitima defesa deixa de ser ilícita.
No caso de existir uma conduta perigosa levadas a cabo com a devida diligência e
cuidados, mas surgir uma lesão não pode ocorrer uma imputação objetiva pelo que se
deve negar também a reação em legitima defesa. Mas poderemos eventualmente reagir
através de direito de necessidade.
Figueiredo Dias, Maria Fernanda Palma e Eduardo Correia consideram que tanto as
agressões dolosas como negligentes podem dar lugar a uma resposta de legitima defesa.
A conduta do defendente tem de ser necessária para impedir uma agressão que ele não
deva suportar, requisito que não depende da natureza do ilícito perpetrado contra o
agente.
A Culpa do agressor não é pressuposto da figura da Legítima Defesa.
Não será necessário que exista dolo ou uma violação subjetiva do dever de cuidado
pelo agressor, bastando uma objetiva contrariedade aos deveres jurídicos derivados da
norma.
Não preencherão o pressuposto da ilicitude da agressão, os comportamentos ainda
lesivos de direitos e interesses, mas em que não haja:
• Uma conduta voluntária;
• Uma qualquer ação humana (agressões de animais);
• Os comportamentos compreendidos no risco permitido.
Necessidade do Meio
O meio será necessário se for idóneo para deter a agressão. Caso sejam vários os meios
adequados à disposição do defendente, o meio será necessário se for o menos gravoso
para os bens do agressor.
Não será possível recorrer à forças policiais, contudo se este for viável e possível em
tempo útil deve incluir-se nas opções de meios. Maria Fernanda Palma considera que no
caso da autoridade não atuar se pode recorrer à legitima defesa.
Também não se deve considerar entre os meios a possibilidade de fuga, visto que não há
a obrigação de afastar a agressão através de um meio mais leve se for incerta a sua eficácia
O uso de meios de autoproteção, cães perigosos, aparelhos elétricos, venenos, podem ser
tidos como meios de defesa.
O meio há-de ser considerado desnecessário sempre que fosse razoavelmente de supor
que outro meio não agressivo pudesse ter sido utilizado com êxito. O uso de um meio não
necessário à defesa representa um excesso que CP: 33º determina a não justificação do
facto por Legítima Defesa, tendo como consequência a afirmação da ilicitude do facto
praticado.
Necessidade da Defesa
Apesar de não ser expressamente referido, Maria Fernanda Palma considera que na
interpretação da necessidade do meio devemos incluir a necessidade de defesa.
Há casos em que a agressão é uma ofensa socialmente tolerável, pelo que não há
necessidade de responder com uma agressão:
3. Posições especiais
Os participantes encontrarem-se numa mútua posição especial de proximidade
existencial, criadora de especiais laços de solidariedade juridicamente relevante como
cônjuges ou semelhante e pais ou filhos.
4. Atos de autoridade
Para Roxin e Taipa de Caravalho as exigências de necessidade seriam exatamente as
mesmas para os particulares e para as forças públicas quando estas têm elas próprias de
se defender ou prestam auxílio necessário a particulares.
Para Maria Fernanda Palma considera que não devemos falar de legitima defesa da
autoridade pública, mas sim do cumprimento de deveres como da manutenção da ordem
pública, podendo justificar-se um comportamento preventivo
Erro sobre a existência ou limites da legítima defesa: o agente pensa que a legítima defesa
se configura de modo diverso ou com limites diversos dos estabelecidos legalmente.
Trata-se de um erro sobre as valorações vigentes no Direito e não de um puro erro
intelectual, pelo que CP: 17º apenas a culpa será excluída.
Diversamente, o erro fundamentará o dolo da culpa sempre que, detendo embora o agente
todo o conhecimento razoavelmente indispensável àquela orientação, atua, todavia, em
estado de erro sobre o caráter ilícito do facto.
Para Maria Fernanda Palma o agente pode ser punido nos termos do CP: 33º/1, pelo que
o crime doloso subsiste, visto que a representação errónea não impede a violação
consciente dos limites da legitima defesa.
No caso do excesso não ser punido pelo CP: 33º/2 ainda haverá a hipótese de punir por
crime negligente pelo CP: 16º/3.
A legitima defesa só será legitima quando os efeitos recaiam sobre o agressor, não
podendo atingir um terceiro alheio à agressão.
Quando o agredido não queira ser defendido tem-se considerado que temos de ter em
conta se estamos perante bens jurídicos disponíveis ou indisponíveis. Tem-se considerado
que a defesa de terceiro levada a cabo contra ou sem a vontade manifestada do agredido
não parece poder reivindicar-se como exercício da Legitima Defesa.
CP: 34º O direito de necessidade verifica-se quando há uma situação de perigo atual e
não removível de outro modo que ameace interesses juridicamente protegidos do agente
ou de terceiro. Há aqui uma lógica de conflito de interesses.
Evitou-se a expressão bens jurídicos porque aqui não existe uma comparação seca de bens
jurídicos, estes são olhados num contexto global, tendo-se em conta o grau do perigo
ameaçador, a intensidade da lesão esperada, a autonomia pessoal do lesado, a maior ou
menor adequação do meio salvador.
Maria Fernanda Palma não inclui bens jurídicos não individuais, mas da comunidade.
Existência de um perigo
Atualidade do perigo
Retoma-se o que se disse na legitima defesa, contudo pode ser não iminente
Adequação do meio
O meio deve ser necessário e idóneo a evitar ou conter o perigo, devendo-se evitar meios
mais gravosos.
A lei exige que se pondere o valor dos interesses conflituantes, nomeadamente dos bens
jurídicos em colisão e do grau do perigo que os ameaça.
Para a Hierarquia dos bens jurídicos em confronto não se mostra possível (nem legal)
oferecer uma fórmula unitária para resolução definitiva do problema da ponderação, mas
existem indícios de hierarquia:
1. Molduras Penais
Ter em conta a moldura penal de cada ofensa
2. Intensidade da lesão do bem jurídico
Saber se está em causa o aniquilamento completo do interesse ou só uma sua lesão parcial
ou passageira.
3. Grau de perigo
Nos casos em que a violação do bem jurídico não surja como absolutamente segura, mas
como mais ou menos provável, um papel fundamental cabe ao grau do perigo que é
afastado ou criado com a ação de salvamento.
4. Autonomia pessoal do lesado
Utilizado na ponderação de bem jurídico de caracter eminentemente pessoal
Vida vs Vida
Deve assentar-se no princípio da imponderabilidade da vida, visto que é um bem
incomparável e insubstituível, para efeito de estado necessidade justificante, pelo que
apenas se poderá ponderar a exclusão de culpa. Haverá exceções?
Há quem considere que quando havendo várias pessoas todas elas colocadas numa
situação comum de perigo para a vida, se pode sacrificar uma ou algumas delas como
única e adequada forma de impedir que outra ou outras pereçam.
Figueiredo Dias considera que a comunidade de perigo não parece que possa, em si e por
si mesma, justificar o facto que sacrifica alguma ou algumas vidas para salvar outra ou
outras. Será diferente no caso dos sacrifico do montanhista da ponta da corda quando for
impossível de salvar este.
Tal como na legitima defesa o agente que atua em estado de necessidade defende-se de
um perigo que tem origem na pessoa que vai ser vítima da ação necessitada, contudo não
pode recorrer à legitima defesa porque o perigo criado:
Não se configura uma agressão (A num ataque epilético está prestes a quebrar
uma jarra chinesa então B afasta-o brutamente)
Não é ilícito (um automobilista, apesar de guiar com o cuidado e a observância de
todas as regras, entra em derrapagem e vai matar um peão)
Não é atual (C, a quem D furtou uma bicicleta, encontra-o com ela no dia seguinte
e ofensa levemente a sua integridade física como única forma de recuperar o objeto
furtado)
Há quem considere que estas situações devem ser reconduzidas a uma causa supralegal
de justificação que será o estado de necessidade defensivo, sendo que se traduz na
situação em que falta um requisito da legitima defesa. Contudo mesmo assim parede
adequado submeter ambas as situações ao CP: 34º.
CP: 36º Há conflito de deveres quando o agente, perante dois deveres impossíveis de
satisfazer ao mesmo tempo, satisfizer o de maior ou igual valor ao que se sacrificar. O
dever sacrificado será, neste caso, justificado devido à impossibilidade de realizar ambos
os deveres ao mesmo tempo.
Para Figueiredo Dias fora ficam os casos em que o conflito se dá entre um dever de ação
e um dever de omissão que serão reconduzidos ao CP: 34º por se considerar que estamos
perante um dever de ação em contradição com o dever de não ingerência em bens
jurídicos alheios. Maria Fernanda Palma considera que podem ser caso de ação contra
omissão.
É exigido que se cumpra um dos deveres, no caso de se decidir não decidir, a não
satisfação de nenhum não é justificada.
O direito não pode dar a indicação de qual dever escolher, ficando no espaço de livre
decisão do agente. A proibição a qualquer pessoa da intervenção na esfera de liberdade
alheia, que origina um dever de omissão, conduz a um dever mais vinculativo do que o
dever cometido apenas a certas pessoas em posição de garante de agir ativamente para
promover o salvamento de um bem- omissão prevalece. Contudo podem haver exceções
poderadas e consideradas no caso concreto.
Estar em causa o confronto entre deveres e não diretamente entre interesses, bens ou
valores;
A possibilidade de existir igualdade de valor entre os deveres conflituantes em contraste
com a exigência de uma “sensível superioridade”
Consentimento Justificante
CP: 38º + 149º
Pessoal: Apenas neste caso existirá um portador que possa dar o seu consentimento
O facto consentido constitui ofensa aos bons costumes sempre que (mas só quando) ele
possui uma gravidade e (sobretudo) uma irreversibilidade tais que fazem com que nesses
casos, apesar da disponibilidade do bem jurídico, a lei valore a sua lesão mais altamente
do que a auto-realização do seu titular.
Ato de autodeterminação
Quem consente necessita de ser (1) capaz para tal de acordo com a normas penais e não
civis, tem que se garantir que quem consente é capaz de avaliar o significado do
consentimento e o sentido da ação típica.
CULPA