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A ilicitude
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O presente documento apresenta meras propostas de resolução dos casos práticos tratados nas aulas práticas,
e não dispensa a frequência às aulas teóricas e a consulta dos manuais de referência.
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FACULDADE DE DIREITO DA UNIVERSIDADE DE LISBOA
ANO LECTIVO 2017/2018
DIREITO PENAL II – SUBTURMA 15
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Assim, o agente será punido nos termos do artigo 33.º, número 1 do Código Penal (por
analogia), podendo verificar-se uma especial atenuação da pena.
Em relação a D, o facto de ser polícia leva-nos a perguntar se a legítima defesa policial
tem requisitos especiais. Poder-se-ia equacionar esse cenário relativamente à especial
exigência de proporcionalidade, já que, para estes agentes, corresponde ao exercício de um
dever. No caso descrito, a ofensa à integridade física de C foi inequivocamente realizada com
dolo directo (artigo 14.º, número 1 do Código Penal). Assim, tal agressão parece respeitar as
exigências do artigo 32.º do Código Penal, uma vez que estávamos perante uma agressão
actual – C estava esfaquear A; e ilícita – nos termos anteriormente descritos.
Questionável seria, eventualmente, a verificação do requisito do meio necessário,
atendendo à circunstância de D ter usado de uma arma para repelir a agressão em curso. No
entanto, entende-se que D não actuou em excesso de legítima defesa, o que implicaria que o
seu comportamento se achasse justificado.
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interrompe o nexo causal desencadeado pelo atropelamento. Para estes efeitos, impõe-se
questionar se E poderia contar com esta omissão de H. Quer dizer, se seria previsível que F
não pudesse ser prontamente assistido no hospital. Caso assim se entendesse, a omissão de
H não interromperia o processo causal inicial, e a morte de F ainda seria imputável a E.
Todavia, de um estrita perspectiva de teoria do risco, a verdade é que o risco que se
concretizou no resultado não foi apenas o risco inicialmente criado por E. Deste modo, achar-
se-ia inviabilizada a imputação do resultado morte à actuação de E.
Já no que se refere a I, estaremos perante um caso de ofensa à integridade física simples
(143.º do Código Penal) perpetrada com negligência inconsciente (artigo 15.º, alínea b) do
Código Penal), já que E nem chegou a ver a vítima. Tratar-se-ia, por isso, de uma ofensa à
integridade física negligente (artigo 148.º do Código Penal).
Não obstante, e como nos refere a hipótese, há uma situação objectiva de legítima
defesa (artigo 32.º do Código Penal) que não é, no entanto, representada pelo agente. Tal
situação impele-nos a indagar da exigência de um elemento subjectivo no artigo 32.º do
Código Penal, visto que, em princípio, a pessoa deverá saber do que é que se está a defender,
nomeadamente para conseguir determinar qual o meio necessário. Neste sentido, haverá um
elemento subjectivo patente no sentido possível das palavras.
Ponto igualmente relevante, especialmente em termos de regime aplicável, será a
afirmação de que a exigência objectiva da justificação afasta, desde logo, o desvalor do
resultado. Deste modo, verificar-se-á apenas um desvalor da acção, que justifica a analogia
com as situações de tentativa.
Nesta sede, em que não existe o elemento subjectivo de legítima defesa, sugere-se
uma analogia com os casos previstos no artigo 38.º, número 4 do Código Penal. De facto,
também nas hipóteses em que o consentimento, embora existente, é desconhecido do agente,
poderá ainda afirmar-se o desvalor da acção. Aqui chegados, poderá optar-se por uma de
duas vias: ou se aplica integralmente o regime da tentativa (artigo 23.º do Código Penal) e
sempre que o crime for negligente não há punição; ou então recorre-se directamente ao
número 2 do artigo 23.º do Código Penal e o agente será sempre punido, com pena
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especialmente atenuada e, havendo previsão de pena para a tentativa, será esse o regime a
aplicar.
No caso descrito, se formos pela primeira via, diremos que E não será punido, já que
actuou negligentemente, como se viu. Optando pela segunda via, não teremos melhor
solução, já que não há pena prevista para a tentativa. E não seria, de qualquer das formas,
punido.