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Práticas de Contencioso Administrativo e Tributário

Professor Tiago Serrão

30/09/19
Apenas vamos tratar de contencioso administrativo: resolução de litígios jurídico-
administrativos de tribunais administrativos. 2 diplomas fundamentais: o Estatuto dos
Tribunais Administrativos e Fiscais e o Código de Processo dos Tribunais Administrativos.
Outros também terão importância: estatuto do Ministério Público, a lei de ação popular
(sobretudo em matéria de legitimidade), regime de elementos administrativos, lei de
arbitragem voluntária, lei 67/2007 (responsabilidade do Estado), diploma dos mapas da
jurisdição, tramitação eletrónica do processo.

Enquanto o estatuto se aplica a toda a jurisdição (administrativa e fiscal), o CPPA


apenas se aplica ao processo tramitados pelos tribunais administrativos. Há um diploma
próprio para os tribunais fiscais.

2 posts: pequenos textos, capacidade de reflexão. Máximo 1 página. Peguem em


temas pequenos, não tenham a tentação de fazer posts de pontos grandes. Podem fazer
acórdãos.

Depois temos a simulação e a frequência.

Bibliografia: divã da psicanálise não está atualizado à lua da revisão de 2015 e 2019. Os
alunos costumam utilizar para os posts que também está em revisão: Comentários à ETAF.
Depois há dois manuais: Professor Pedro de Andrade e Mário Aroso de Almeida.

Vamos comentar umas frases, mas o foco vai ser: que litígios são dirimidos? Aí, ETAF. É
o ponto de partida.

Um exemplo: um concessionário privado de uma autoestrada construiu a autoestrada


e explora-a. Há um privado que vai na autoestrada e aparece um animal, gerando um acidente
com consequências graves. O proprietário do concessionário é responsável pois tinha que
garantir a segurança da via: a sua omissão permitiu que entrasse ali aquele animal. Se
recordarem o que estudaram no segundo ano de Direito Administrativo e que hoje está no
artigo 2º, há uma coisa muito importante: o que releva é estar em causa o exercício da função
administrativa. Por via do contrato de concessão, detém poderes de autoridade e a atividade
que desenvolve é regulada por disposições de direto administrativo, não sendo um privado
como os outros. No limite, exerce mesmo a função administrativa e, por isso, o litígio deve ser
dirimido nos tribunais administrativos.

4/10/2019
EXERCÍCIO PRÁTICO N.º 1

Comente, de modo fundamentado, as seguintes afirmações:

1) A circunstância de o legislador ter optado por (continuar a) atribuir aos tribunais


judiciais competência para dirimir certos litígios jurídico-administrativos é fonte de
inconstitucionalidade, por preterição do disposto no artigo 212.º, n.º 3 da
Constituição;
Reserva material absoluta em que só os tribunais administrativos é que têm
competência ou uma revisão material relativa, ou seja, estão limitados à matéria
administrativa, concorrendo com demais tribunais.
É verdade que há, em Portugal, no ordenamento jurídico, situações em que o
legislador confere competência aos tribunais judiciais?
São motivos meramente práticos, apenas ocorrendo quando a rede de tribunais
administrativos consegue ou não julgar o caso.
Vieira de Andrade, artigo 212º/3: caráter institucional e não pode haver uma
descaracterização. O legislador ordinário não poderia atribuir aos tribunais comuns a
resolução de todos os litígios administrativos.
Por passos, o primeiro ponto é responder à existência de casos no ordenamento
jurídico onde o legislador ordinário atribuiu competência aos tribunais judiciais para
dirimir litígios administrativos. De facto, há casos assim. Exemplo paradigmático são
litígios em torno de processos de expropriação: por razões práticas e históricas, o
legislador tem optado pelos tribunais comuns. Outro exemplo são as
contraordenações. No quadro da revisão de 2015, proponham até que as matérias
contraordenacionais passassem para a esfera de competência dos tribunais
administrativos. Na altura, houve uma grande oposição dos juízes administrativos pois
não tinham condições práticas para tal.
O segundo passo é ver se essas normas estão em conformidade com a Constituição. O
artigo 212º/3, do ponto de vista literal, parece muito fechado, podendo ser tentado a
dizer que o legislador quer que todos os litígios fossem afetos aos tribunais
administrativos. No entanto, não tem sido esse o entendimento consensual. O artigo
212º/3 não encerra uma reserva material absoluta. De facto, os tribunais
administrativos só resolvem litígios jurídico-administrativos, mas os tribunais judiciais
podem dirimir este tipo de litígios com base nas tais razões práticas. Não nos podemos
esquecer que só começou a haver justiça administrativa em 2003/2004, sendo uma
realidade diferente, contrariamente nos tribunais comuns.
Assim, a frase é falsa.
A alínea o) do número 1 do artigo 4º do ETAF: em 2015, suscitou-se a seguinte
questão: será que esta previsão não assistimos a uma revogação tácita de todas as
normas do ordenamento jurídico que atribuem competência aos tribunais judiciais?
Não. Verdadeiramente, este artigo deve ser interpretado em sentido complementar às
demais alíneas do nº1, não promove uma revogação tácita. Esta alínea é relevante
porque se forem à lei do sistema de organização judiciária, encontram uma expressão
normativa que pretende abarcar todos os litígios que não tenham uma norma de
competência expressa.
Já vimos que o 212º/3 CRP tem o critério da relação administrativa e fiscal para
atribuir competência aos tribunais administrativos. No ETAF também se adota este
critério? Sim, artigo 1º e 4º. Em 2015, o legislador tirou o critério da relação jurídica
administrativa. Ninguém percebeu porquê. Porém, agora voltou à menção expressa:
artigo 1º/1 “nos litígios emergente das relações jurídicas administrativas e fiscais”. O
artigo 4º é, no fundo, uma concretização. Fazer remissão para o 212º/3 da CRP. Assim,
há uma relação de conformidade do critério da Constituição com o ETAF.
2) O artigo 4.º do ETAF revela a adoção, pelo legislador, de um conceito material de
atividade administrativa;
Lei da Responsabilidade Civil Extracontratual do Estado e demais Entidades Públicas,
lei 67/2007, artigo 1º/5. Fazer remissão do artigo 4º/1h do ETAF para este.
Apesar de serem privados, têm regulação administrativa e, por isso, tem que se aplicar
este regime. Se estes litígios devem ser resolvidos recorrendo à legislação
administrativa, então os tribunais administrativos é que têm que julgar.
No entanto, vamos voltar às alíneas c) e d): “independentemente da sua natureza”.
Artigo 4º:
1) Vertente positiva, nº 1 e 2
2) Vertente negativa, nº
3) Exclusão dos atos da função política

3) A apreciação de litígios que tenham por objeto questões relativas a responsabilidade


civil extracontratual administrativa das pessoas coletivas públicas encontra-se
excluída do âmbito da jurisdição administrativa;
4) O âmbito de jurisdição administrativa não abarca matéria contratual;
5) A impugnação de decisões da Administração Pública de aplicação de coimas, no
âmbito do ilícito de mera ordenação social em matéria farmacêutica, integra a
jurisdição administrativa.

21/10/2019
Quanto à própria jurisdição administrativa, será que não integram os tribunais arbitrais
a própria jurisdição administrativa? Não, apenas o Estado tem jurisdição administrativa.

EXERCÍCIO PRÁTICO N.º 3

Atente na seguinte situação e responda, de modo fundamentado, às questões


colocadas:

Francisco é proprietário de uma farmácia numa pequena freguesia rural da Região


Autónoma da Madeira. Na sequência de uma vistoria à farmácia de que é titular, a Secretaria
Regional da Saúde, sem ter dado a conhecer a Francisco qualquer projeto de decisão,
determinou o encerramento imediato da farmácia, alegando estar em causa “grave risco
para a saúde dos utentes”.

1. Francisco pretende propor uma ação administrativa de impugnação da decisão de


encerramento praticada pela Secretaria Regional da Saúde. Será titular de
legitimidade ativa para o efeito?

O ponto substantivo base é que estamos perante um ato administrativo. Temos que dar a
noção, 248º do CPA. Como vamos ver ao longo das aulas, sempre que se pretende impugnar
um ato deste tipo, o meio processual próprio é a ação administrativa, que é o meio processual
principal não urgente. Há um artigo que nos dá a resposta da parte “não urgente”, que é o
artigo 36º. O 35º é uma expressão central “sendo-lhe subsidiariamente aplicável o disposto na
lei processual civil (CPC)”. O artigo 36º é relevante para aferirmos que processos são urgentes
ou não e, para isso, temos que percorrer as suas alíneas. Este tipo é composto por disposições
gerais, artigos 37º a 49º. Estas disposições aplicam-se a toda e qualquer ação administrativa
independentemente de qualquer pedido que seja formulado nessa ação. O 37º/1 não é
taxativo. Depois, faz enunciações específicas daquilo que se pode pedir.

O nosso caso é dos artigos 50º e seguintes, tendo que conjugar o 9º/1, a disposição geral,
com o 55º. O professor costuma falar numa lógica de complemento, mas em bom rigor pode-
se falar de uma norma especial em sentido restrito.

55º/1a: alegação da titularidade de um interesse direto e pessoal. Tema de post: o


interesse processual que estudámos em processo civil consubstancia ou não um pressuposto
processual autónomo?

Do que se trata de interesse direto? Tem de ser um interesse atual, efetivo. O que o
legislador quer é que aquele sujeito processual que faça sentido, que não seja um exercício de
mera abstrata com um interesse reflexo: aquilo tem que lhe interessar. Assim, no quadro do
interesse atual e real ou efetivo para aquele sujeito.

Quanto ao interesse pessoal, há uma ideia de utilidade para a esfera jurídica do


impugnado e não uma esfera jurídica alheia. Aplicando ao nosso caso, há interesse. A farmácia
foi fechada agora. Portanto, no nosso caso, havia legitimidade ativa.

E a Região Autónoma da Madeira? Tinha legitimidade passiva? Artigo 10º/2, segunda


parte: Estado e Regiões Autónomas. São pessoas coletivas muito complexas em termos de
configuração estadual. Se não houvesse este 10º/2, todas as ações teriam de ser propostas
contra a pessoa coletiva. Não são pessoas coletivas como as outras, são compostas por um
governo que integra departamentos, não fazendo sentido esta agregação. Verdadeiramente,
quem vai ser demandado não é a própria pessoa coletiva: os Ministérios não são pessoas
coletivas. Vai ser demandado contra a secretaria.

E se fosse contra a Camara Municipal? É contra o município e não contra a Câmara. Quando
seja proposto contra a Câmara, 10º/4. O professor Vasco faz uma crítica a este artigo.

À pouco, encontrámos uma disposição do 55º que relevava para efeitos de legitimidade ativa.
Há alguma disposição que releve para efeitos de legitimidade passiva? Há, o artigo 57º. Os
contrainteressados, 10º/1 parte final.

Artigo 9º/1 com o artigo 55º/1a

2. A ação deve ser proposta contra a Região Autónoma da Madeira?

Porque é que o legislador no artigo 10º/2 tem 2 partes? Qual é a ratio do 10º/2, 2ª parte?
Se não existisse esta segunda parte, o Estado receberia um número infindável de ações
diariamente. Havendo uma centralização da pessoa coletiva pública, quando esta é muito
específica e complexa, não seria a melhor solução atendendo à circunstância do órgão
complexo do governo. Estamos perante uma exceção ao 8º - A/2 em termos de personalidade
judiciária e depois com reflexo a nível do pressuposto. Um ponto importante é o 10º/4 e 5:

3. Perante tal decisão de encerramento, um grupo de residentes na freguesia onde se


encontra sita a farmácia decidiu propor uma ação administrativa (autónoma),
sustentando que tal decisório administrativo é altamente lesivo dos interesses da
população local. Terá legitimidade para o efeito?
Lei da Ação Popular, artigo 2º: estes residentes podem propor a ação. E artigo 9º. O
encerramento de uma farmácia tem impacto. Artigo 55º/1e do CPTA que remete para o 9º/2
para que concretizem

Devem partir do artigo 9º/2. Quando se estuda esta matéria, estamos a falar de uma
extensão da legitimidade. É mesmo isso: uma legitimidade alargada. A ação popular não é um
meio processual é uma forma de alargar a legitimidade.

Centrada na tutela destes interesses difusos, os bens aí elencados é taxativo?

O caso apresenta uma contradição: a saúde pública está a ser tutelada quando a
administração entende fechar a farmácia.

4. Perante as ações intentadas por Francisco e pelo grupo de residentes, caberá ao


Ministério Público a representação em juízo do ente público demandado?

O patrocínio judiciário cabe ao Ministério Público? Artigo 11º: é obrigatório a constituição


do mandatário. 11º/1, 2ª parte: pode ser assegurado por advogado, solicitador, … Neste caso,
como a ação não era proposta contra o Estado, não cabia ao MP a representação do ente.

Isto aplica-se a todas as pessoas coletivas que não sejam um Estado e secretarias regionais.

10º/2 CPTA:

4º/1b do estatuto do MP: o MP ora pode demandar o Estado ora pode representar o
Estado ora pode ter intervenção no processo através de representação ora pode emitir
pareceres… Não faz sentido esta multiplicidade de soluções. Quando associamos isso a algo
que já vos disse: o MP não desempenhar as funções que o legislador queria.

Devíamos começar pelo artigo 11º/1 parte final. não está em causa a representação do
Estado.

Tema de post: “sem prejuízo da possibilidade de representação do estado pelo MP” artigo
11º/1. Em que casos? Em 2015 sabia-se, agora não. Em que casos? Na prática foi os casos que
estavam antes de 2015: resp extracontratual do Estado e matérias contratuais. Em 2019, o
legislador adicionou isto: alguém vai decidir em que casos é que o MP intervém? O que vem
recuperar a ideia do anteprojeto de 2014 do CPTA: a defesa do Estado é feita pelo MP,
consultores internos ou ?

28/10/19
A questão 3: interesses difusos que dava o direito de defender os valores em causa.
Remissão para o artigo 55º/1f e que estaríamos perante um fenómeno de extensão de
legitimidade. E a lei da ação popular permitia que estes cidadãos intentassem esta ação.
Também vimos que poderia haver uma aparente contradição porque esta ação seria para
tutelar a saúde pública.

Na questão 4: era preciso saber se nessas ações a representação cabia ao MP. 11º/1, 2ª
parte: não cabia ao MP representar. O patrocínio era por advogados, (…). 4º/1b estatuto do
MP.
Discutir o lugar do MP na representação do Estado – quem é que determina as situações
em que o Estado é representado pelo Ministério Público? E essa escolha está delimitada por
alguns processos ou não? Ou o Estado pode determinar que é o MP a defendê-lo? São todas
elas questões novas por causa da redação do artigo 11º/1.

5. Em que tribunal, em concreto, devem ser intentadas, por Francisco e pelo grupo de
residentes, as respetivas ações?

Para Francisco:

A jurisdição administrativa abarca este tipo de litígios? Artigo 4º para percebermos se este
litígio é do âmbito da jurisdição administrativa. É competente.

Competência em razão da matéria: artigo 49º/4 e 44º-A do ETAF. O Supremo também


pode decidir em primeira instância. 24º/1a: o Supremo decide em primeira instância. É uma
boa solução? É altamente questionável. Será que subjacente a esta visão, não está um trauma?
A administração tida como menor podia estar sujeita aos tribunais de primeira instância e
outro tipo de administração está sujeita ao supremo. As primeiras instâncias têm uma
tendência de pro responsabilização. Ideia de proteção do Estado. Tema de post: Questionar se
faz sentido ainda hoje esta temática.

Competência em razão do território: residência do autor. Nos artigos subsequentes temos


regras específicas.

“pessoa coletiva de utilidade pública”: o que é?

Mapas: artigo 3º/1 e 2. E o DL 225/2003.

Qual o valor do processo? Pedido impugnatório. Também pode haver um pedido


indemnizatório, mas o caso não nos dá dados sobre isso. Íamos para o critério supletivo.
Remete-nos para ações indemnizatórias. Critério supletivo do 4º/1: bens imateriais. Mas é
preciso dizer um valor. Continuamos na mesma. É indeterminado, temos que saber a alçada do
tribunal, artigo 6º/3: 5 000€ na primeira instância, em segunda instância 30 000€ - jurisdição
comum da lei LOSJ que se aplica também aos tribunais administrativos. 30 000, 01€. Valor
indeterminável nos termos do 34º/1 e 2 e 6º do ETAF.

4/11/2019
Sexta não temos aula.

EXERCÍCIO PRÁTICO N.º 4

Atente na seguinte situação e responda, de modo fundamentado, às questões


colocadas:

Marta detém um vínculo de emprego público. Em concreto, é conservadora do


registo predial e, nesse contexto, é anualmente sujeita a um procedimento de avaliação de
desempenho, o mesmo sucedendo com os seus pares, que, na sua área de afetação
territorial, totalizam o número de 20. A decisão administrativa final é praticada, por área
territorial, pelo conselho diretivo do Instituto dos Registos e Notariado, I.P..
Por referência ao ano anterior, Marta obteve a classificação de medíocre.

Inconformada com a situação, Marta pretende recorrer aos tribunais


administrativos.

1) Qual a forma de ação que deve ser adotada?

Em primeiro lugar, estamos perante a jurisdição administrativa pelo artigo 4/1b do


ETAF porque a Marta tem um “vínculo de emprego público”.

O CPTA adota uma noção ampla e aberta de ato administrativo, que compreende toda
e qualquer decisão destinada à produção de efeitos jurídicos numa situação individual e
concreta. Estamos, portanto, perante um ato administrativo.

Os atos impugnáveis são todos aqueles que, em razão da sua “situação” sejam
suscetíveis de provocar uma lesão ou de afetar imediatamente posições subjetivas de
particulares. Todos os atos administrativos são, por definição, impugnáveis, pelo que a
impugnabilidade depende apenas do simples preenchimento do conceito, com a reunião dos
respetivos elementos constitutivos (artigo 148º do CPA). Desta forma, de acordo com o artigo
51º/1, em que ao termos ato administrativo, temos ato impugnável, o ato administrativo em
questão era suscetível de ser impugnado.

O CPTA prevê diferentes formas de processo respeitantes a atos administrativos: a


ação administrativa, regulada dos artigos 37º a 96º e as ações administrativas urgentes,
reguladas dos artigos 97º a 103º-B.

A ação administrativa é a ação a ter em atenção quando os processos tenham por


objeto litígios cuja apreciação se inscreva no âmbito da jurisdição administrativa e que não
sejam objetos de regulação especial (artigo 35º, 36º e 37º/1 do CPTA). Como não se encontra
nos casos previstos nem no artigo 36º, nem no artigo 97º, não será urgente.

Desta forma, segundo os artigos 35º, 36º e 37º/1a, este processo seguiria a forma de
ação administrativa.
Os requisitos de validade dos atos administrativos são aqueles que a lei impõe para que os atos
administrativos sejam aceites como instrumentos incontestáveis de modificação da ordem jurídica. Se um requisito
de validade não for verificado, o ato administrativo é inválido, podendo ser contestado. Se a invalidade do ato for
reconhecida, ele é destruído, sendo feito de tudo para reconstituir a situação que deveria existir se ele nunca
tivesse sido praticado.

Ação de impugnação de atos administrativos possibilita a apreciação da integralidade


da relação jurídica administrativa, a propósito da impugnação de um ato administrativo lesivo.

2) Com o pedido de declaração de nulidade da decisão administrativa final, Marta


pode cumular um pedido de condenação da Administração à prática de ato legalmente
devido, a saber, um ato de atribuição da classificação de excelente?

As duas formas para assumir a invalidade dos atos administrativos são a nulidade e a
anulabilidade. A nulidade é excecional: os atos administrativos só são nulos quando a lei
expressamente o determina, pelo que, por regra, os atos administrativos inválidos são
anuláveis. As duas modalidades de impugnação têm por objeto a declaração de nulidade e a
anulação dos atos administrativos (artigo 50º/1). A nulidade origina sentenças declarativas e a anulação
origina sentenças constitutivas.

Da declaração de nulidade de atos administrativos, decorre, de acordo com o que está definido no artigo
161º do CPA, que o ato é ineficaz desde o início, pelo que não pode ser objeto de atos de segundo grau. Pode ser
invocada a todo o tempo.

Não há um regime de tipicidade quanto aos tipos de pretensões que podem ser
deduzidas nos tribunais administrativos. Desde que se inscrevam no âmbito da jurisdição
administrativa, todo o tipo de pretensões pode ser deduzido. Tal como em Processo Civil, os
pedidos podem dar origem a sentenças de condenação, constitutivas ou declarativas. Com a
revisão de 2015, todos os processos passaram a ser submetidos a uma única forma processo:
ação administrativa. No entanto, ainda se distinguem as pretensões relativas a atos
administrativos e a regulamentos, havendo pressupostos processuais diferentes.

De forma a concretizar o artigo 268º/4 da CRP, o CPTA confere aos tribunais


administrativos o poder de procederem à determinação da prática de atos administrativos
legalmente devidos, mais precisamente, à condenação à prática desses atos.

Todos os pedidos são admissíveis. No entanto, o legislador toma como medida dessa
transformação o anterior recurso de anulação, pelo que qualifica tudo aquilo que vá além da
simples anulação como uma verdadeira e própria cumulação de pedidos.

O artigo 4º permite a cumulação de pedidos. Há 2 tipos de cumulação: a real e a


aparente. Reais são cumulações em que cada pedido possui uma expressão económica
própria. Já na cumulação aparente, os pedidos dizem respeito a uma mesma e única utilidade
própria, ou seja, a um mesmo bem em sentido económico. O professor regente refere que as
hipóteses de cumulação do artigo 4º são cumulações aparentes, visto que pedir anulação e
condenação é o mesmo pedido e causa de pedir. Assim, estaríamos perante uma cumulação
aparente, sendo permitida esta cumulação pelo artigo 4º/1a, visto que os pedidos têm entre si
uma relação de dependência. De acordo ainda com o artigo 4º/2c seria possível cumular um
pedido de condenação da Administração à prática de um ato administrativo legalmente
devido.

Temos primeiro que aferir se a causa de pedir é a mesma e única ou se é diferente. No


nosso caso, é a mesma. Quando se fala destes pedidos de condenação, o legislador até prefere
uma expressão abrangente: a pretensão. No nosso caso, se se limitarem a impugnar o ato, a
cliente no final vai dizer que efetivamente conseguiram destruir os efeitos do ato, mas que
quero é uma nota boa. Por isso, refere-se mais pretensão. Estamos perante a mesma relação
jurídica, ambos os pedidos se inserem no âmbito da mesma relação jurídica. Concretizando o
artigo 4º/1, temos o artigo 4º/2.

Artigo 4º/2c - “Legalmente devido”: porque tem que ter base jurídica.

Com a impugnação do ato, a administração deve ser condenada a repor a situação


anterior e garantir os direitos do particular. Isso deve ser feito logo na ação administrativa.

Assim, na ação administrativa, permite-se não apenas a apreciação judicial do ato


administrativo, mas também de toda a relação jurídica controvertida, mediante a
admissibilidade de todos os pedidos necessários à tutela dos direitos dos particulares.

No entanto, a atribuição de excelente seria um ato discricionário, não podendo os


tribunais condenar a Administração na prática desse ato.
Princípio da livre cumulabilidade.

O legislador é amigo da cumulação de pedidos.

3) A ação “pode ser proposta”, por Marta, “a todo o tempo”, nos termos do
estabelecido no artigo 41.º do CPTA?

A declaração de nulidade de atos administrativos tem certas consequências. Segundo o


artigo 161º do CPA, o ato nulo é ineficaz desde o início. Por regra, a nulidade pode ser
invocada a todo o tempo, a título principal ou incidental, por qualquer interessado.

A declaração de nulidade é uma sentença meramente declarativa ou de simples


apreciação, que se limita a reconhecer que o ato impugnado é nulo, pelo que nunca produziu
efeitos jurídicos. Não existe, por isso, o ónus de se proceder à impugnação do ato nulos perante os tribunais
administrativos.

No artigo 163º do CPA define-se o regime da anulabilidade dos atos administrativos. A


anulação administrativa determina a anulação do ato, o que significa que não só reconhecem e
declaram que o ato é anulável, mas extraem daí a devida consequência, eliminando o ato,
destruindo-o, fazendo com que ele desapareça da ordem jurídica, como se nunca se tivesse
praticado. Perante o tribunal administrativo competente, a anulação de atos administrativos
só pode ser feito dentro dos prazos legais.

Em Contencioso Administrativo, na ação administrativa, o artigo 41º prevê que a ação


pode ser proposta a todo o tempo. No entanto, o artigo faz uma ressalva: “sem prejuízo do
disposto na lei substantiva e no capítulo seguinte”.

No capítulo seguinte, no artigo 58º/1b determina-se que o prazo para a impugnação


de atos anuláveis sem promoção por parte do MP é de 3 meses. No artigo 58º/1 não se
submete a impugnação de atos nulos a qualquer prazo.

Assim, se estivéssemos perante um ato nulo, não haveria qualquer prazo. Porém, se
fosse antes uma impugnação de ato anulável, já estaríamos antes perante um prazo de 3
meses.

4) A ação em apreço deve ser intentada contra que sujeito jurídico?

Do artigo 10º/2 resulta que, por regra, em todas as ações intentadas contra entidades
públicas, a legitimidade passiva corresponde à pessoa coletiva e não a um órgão que dela faça
parte. Quando esteja em causa uma conduta, ativa ou omissiva de um órgão do Estado que
esteja integrado num Ministério ou órgão de uma Região Autónoma integrado numa
secretaria regional, a legitimidade passiva não corresponde à pessoa coletiva estado, mas ao
Ministério ou secretaria regional a que o órgão pertence.

Artigo 10º/2, 1ª parte, demandamos o instituto dos registos por ser uma pessoa
coletiva de direito público. Devem ser também demandados os contrainteressados, artigo 57º.

Por definição, estes processos administrativos são sujeitos a quotas, ou seja, nem toda
a gente pode ter excelente. Assim, podem também ser demandados. Se fosse demandado o
Conselho Diretivo, considerava-se a ação proposta.
5) Imagine que, no decorrer da ação, o conselho diretivo do Instituto dos Registos e
Notariado, I.P. anula administrativamente o ato administrativo em crise e pratica
um novo ato que, no caso de Marta, passa a classificar a sua prestação de
mediana. A ação em curso pode continuar, tendo por objeto o novo ato?

Podia prosseguir se alterar a decisão anterior ou substituía o ato revogado. Os prazos


para o requerimento estão previstos no artigo 64º/2.

O prazo do artigo 64º/2 faz sentido? Faz porque estamos perante um ato
administrativo e, havendo regras quanto a estes prazos, tem que se aplicar as regras. No
entanto, antes do trânsito em julgado extingue-se a instância.

Esta matéria deve ser julgada conjugadamente com o artigo 63º e 64º. O artigo 64º é
uma especialidade face ao 63º para sempre que estejam em causa atos anulatórios ou
impugnatórios com efeitos retroativos. Para atos impugnatórios sem efeitos retroativos,
aplica-se o 65º.

O legislador não quer que se proponha uma nova ação quando a causa de pedir é a
mesma, valendo também o 64º/3 para a substituição do próprio ato.

Assim, a ação podia prosseguir.

6) Considere que o ato anulatório e o novo ato, que classifica a prestação de Maria
de mediana, foram praticados um dia antes da propositura da ação contra o ato
de base. Todavia, no dia da propositura da ação, Maria ainda não tinha
conhecimento desse facto. Pode a ação prosseguir contra o novo ato?

A grande questão que se coloca é o artigo 64º/1. “com reincidência nas mesmas
ilegalidades” – as ilegalidades podem ser outras… A Administração anulou o ato, tentou
conformá-lo à legalidade e só pode haver continuação do processo se as legalidades forem as
mesmas? Aplicando-se literalmente, isto restringe imenso o campo de aplicação desta figura.
Diminui imenso.

11/11/19

Modificação do objeto no processo administrativo

Podemos definir o objeto pela pretensão do autor, identificável pela causa de pedir ou
o pedido. Vai-se estabelecer uma ligação entre o processo e o autor.

Pedido mediato e imediato: aquilo que o autor pretende e o segundo é o direito a


tutelar.

EXERCÍCIO PRÁTICO N.º 5

Considere a seguinte situação e responda, de modo fundamentado, às questões


colocadas:
YIZHOU IENG, nacional da China, apresentou, a 3 de maio de 2019, na Direção
Regional de Lisboa e Vale do Tejo do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras, um pedido de
concessão de autorização de residência para atividade de investimento. Para o efeito,
procedeu à junção de toda a documentação necessária.

Apesar de o regime jurídico aplicável estabelecer um prazo de decisão de 90 dias, a


verdade é que o pedido de YIZHOU IENG ainda não conheceu decisão. YIZHOU IENG
pretende recorrer aos tribunais administrativos.

1) Qual a forma de ação que deve ser adotada?

O CPTA prevê diferentes formas de processo respeitantes a atos administrativos: a ação


administrativa, regulada dos artigos 37º a 96º e as ações administrativas urgentes, reguladas
dos artigos 97º a 103º-B.

A ação administrativa é a ação a ter em atenção quando os processos tenham por objeto
litígios cuja apreciação se inscreva no âmbito da jurisdição administrativa e que não sejam
objeto de regulação especial. Como não se encontra nos casos previstos nem no artigo 36º,
nem no artigo 97º, não será urgente.

A ação administrativa de condenação à prática de ato devido é de grande amplitude,


valendo contra omissões da Administração. Assim, a alínea b) do número 1 do artigo 37º
aplica-se a este caso, assumindo o processo a forma de ação administrativa. A condenação à
prática de ato devido está prevista nos artigos 35º, 37º/1b e 66º e seguintes.

Como refere o artigo 66º/1 do CPTA, não está apenas em causa a condenação da
Administração à prática de atos administrativos, mas também a fixação de um prazo
determinado, dentro do qual esses atos devem ser praticados.
De notar que a ação administrativa de condenação à prática de ato devido é de grande amplitude, valendo
tanto contra omissões, ou seja, não atuação por parte da administração, e atos de conteúdo negativo, em que basta
o indeferimento parcial.

Objeto é a pretensão do interessado – é uma ação para defesa de interesses próprios, visando defender o
direito subjetivo do particular que foi lesado pela omissão ou pela atuação ilegal da administração (pelo que o
objeto do processo é o direito subjetivo do particular no quadro da concreta relação jurídica administrativa).

35º, 36º, 37º/1b. Na alínea b), parte final, o legislador diz que pode ser devido por força da
lei ou de vínculo contratualmente assumido.

2) Encontra-se verificado um dos pressupostos fundamentais, legalmente previstos,


para a formulação de pedidos de condenação à prática de ato devido? Se sim, qual?

O artigo 67º/1 define vários pressupostos para a condenação à prática de ato


administrativo ser possível.

O pressuposto de que as alíneas do 67º/1 dependem é que o interessado tenha


apresentado um requerimento que tenha constituído o órgão competente no dever de decidir.
Na ausência de apresentação de requerimento falta o requisito do interesse processual. Como
o particular do nosso caso apresentou um requerimento para um pedido de concessão de
autorização de residência para a atividade de investimento, este pré-requisito está
preenchido.

Posteriormente, cumpre analisar os pressupostos das alíneas.


A alínea a) prevê que a condenação à prática de ato administrativo pode ser pedida
quando não tenha sido proferida decisão dentro do prazo legalmente estabelecido. Como o
caso refere, a Direção Regional de Lisboa e Vale do Tejo do Serviço de Estrangeiros e Fronteira
disponha de 90 dias para decidir sobre a questão. No entanto, já passou este prazo e nada foi
conhecido por parte do particular.

Assim, este requisito verifica-se, podendo-se pedir a condenação à prática de ato


administrativo.

Artigo 13º/1 do CPA, princípio da decisão, dever de se pronunciar quando é efetuado um


requerimento. Este dever foi incumprido.

Não há indeferimento tácito! A mera omissão habilita o interessado a reagir.

3) ZENG ZHOU, amiga de longa data de YIZHOU IENG, terá legitimidade processual para
iniciar a competente ação judicial?

Não cabe nas hipóteses dos artigos 9º ou 68º, logo, não tem legitimidade. Nem que fosse
marido e mulher, pai e filha: não é critério. Ou é titular do interesse legalmente protegido, ou
não tem legitimidade.

4) Em que prazo deverá ser proposta tal ação, por quem detenha legitimidade para o
efeito?

Artigo 69º/1 do CPTA: prazo de um ano contado desde o termo do prazo legal
estabelecido para a emissão do ato ilegalmente omitido.

Quando se estuda este 69º/1, tem-se apenas em atenção a inércia. O indeferimento é


o nº 2.

Bom tema de post: alteração de 2019 do CPTA ao artigo 69º.

15/11/19

5) Imagine que, no decorrer da ação, é praticada, no seio da Direção Regional de Lisboa


e Vale do Tejo do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras, decisão de indeferimento do
pedido de YIZHOU IENG. Poderá tal ato ser apreciado nesse contexto judicial? Em
caso de resposta positiva, em que prazo deve ser solicitada tal apreciação
jurisdicional?

Como se estabelece no artigo 66º/2, ainda que a prática do ato devido tenha sido
expressamente recusada, o objeto do processo é a pretensão do interessado e não o ato de
pronúncia condenatória. O artigo 71º determina ainda que, quando chamado a condenar a
Administração a praticar um ato devido, o tribunal não se pode limitar a devolver a questão ao
órgão administrativo competente, mas antes se deve pronunciar “sobre a pretensão material
do interessado”.

De acordo com o professor Mário Aroso de Almeida, qualquer um destes preceitos faz
apelo à ideia de que, mesmo quando confrontado com um ato administrativo de
indeferimento ou de recusa da apreciação de um requerimento, o titular de uma posição
subjetiva de conteúdo pretensivo que deduza um pedido de condenação à prática de um ato
administrativo não vai discutir em juízo o ato negativo, por referência aos estritos termos em
que ele se possa ter baseado mas vai fazer valer a sua própria posição pretensiva, em todas as
dimensões em que ela se desdobra. O processo de condenação é um processo em que o autor
faz valer a posição subjetiva de conteúdo pretensivo de que é titular, pedindo o seu cabal
reconhecimento e dela fazendo, portanto, o objeto do processo.

Consequentemente, quando há ato de indeferimento, o processo não deixa de ser um


processo impugnatório, na medida em que existe a imposição legal de um ónus de reação
contra o ato negativo, que é assumido como um ato administrativo que define unilateralmente
a situação do interessado e tende a estabilizar-se (13º/2 do CPA) se não for objeto de reação.
Para além disso, está associado ao reconhecimento da existência de um inarredável momento lógico de eliminação
de ato negativo.

Assim: o objeto do processo não se limita à condenação da prática do ato administrativo,


mas antes à pretensão do particular, sendo possível o ato de indeferimento ser apreciado
neste contexto legal, segundo o artigo 70º/1 que permite que a pretensão seja apreciada com
novos fundamentos e o prazo é o de 30 dias, de acordo com o artigo 70º/4.

E se estivéssemos perante um caso de anulação administrativa durante a pendência da


ação? Artigo 64º/2 quando é praticado um ato anulatório remete para os prazos de
impugnação dos atos administrativos, remete para o 58º/b e faz sentido na medida em que
estamos perante um ato e como aferimos esta ampliação é facultativa ou obrigatória? É
facultativo.

Artigo 70º: se passamos a ter ato, não faria sentido passar para os prazos gerais de ato
administrativos? Contra argumento: é a pretensão do interessado que está aqui em causa, não
o próprio ato administrativo.

6) Deterá o tribunal poderes de pronúncia ilimitados?

Este problema coloca-nos na fronteira entre o domínio de administrar, (algo que não se
pretende dos tribunais, sobrepondo os seus próprios juízos subjetivos aos daqueles que
exercem a função administrativa) e o domínio de julgar, em que do que se trata é de verificar a
conformidade da atuação dos poderes públicos com as regras e os princípios de Direito a que
eles se encontram obrigados e, por isso, de determinar, no exercício da função jurisdicional,
em que moldes se deve processar o exercício legítimo dos poderes públicos.

O tribunal não se pode intrometer no espaço próprio que corresponde ao exercício de


poderes discricionários por parte da Administração. Só deste modo se assegura o respeito pelo
princípio da separação e interdependência de poderes, por força do qual aos tribunais
administrativos só cumpre dizer e aplicar o Direito, tal como ele resulta das normas e
princípios jurídicos que vinculam a Administração (artigo 3º/1).

O tribunal deve dizer e aplicar o Direito, em toda a extensão, com que as normas e os
princípios jurídicos sejam chamados a intervir para dirimir os litígios jurídico-administrativos e,
portanto, que ao tribunal cumpre determinar todas “as vinculações a observar pela
administração na emissão do ato devido”, como se retira do artigo 71º/2, sendo este o sentido
genérico do artigo 71º.
O professor Mário Aroso de Almeida defende que pode ser atribuído um maior alcance aos poderes sem deixar
de reconhecer que eles encontram um limite no princípio da separação e interdependência de poderes. Na
perspetiva do professor, tudo depende do entendimento que se assume do princípio da separação de poderes. O
entendimento tradicional preconizava que os tribunais administrativos só fossem admitidos a ter uma intervenção
de sentido negativo sobre o exercício dos poderes administrativos, que se esgotasse na eliminação da ordem
jurídica das manifestações de poder ilegalmente emitidas pela Administração. Entendia-se que se o tribunal fosse
permitido a pronunciar-se positivamente sobre os termos em que o poder administrativo devia ser exercido, ficava
aberta a porta a eventuais abusos por parte do poder judicial, em detrimento dos espaços de valoração próprios do
exercício de discricionariedade administrativa.

Contrariamente, o entendimento do CPTA é o de que quando, em determinada matéria, o quadro normativo


aplicável reserva para a Administração o poder de introduzir a definição jurídica primária através da prática de um
ato administrativo, a Administração beneficia de uma reserva de princípio quanto ao poder de definir o Direito
nessa matéria. Por isso, o interessado que, por hipótese, tenha direito à emissão do ato em causa, deve começar
por requerer à Administração a respetiva emissão. Mesmo que a Administração não emita o ato devido, o
interessado não pode, sem mais, pedir ao tribunal que se substitua à Administração na emissão desse ato. No
entanto, já lhe pode pedir que imponha à Administração o dever de praticar o ato, em toda a extensão em que as
vinculações normativas permitam tal imposição (artigo 71º). Emitir uma tal pronúncia é aplicar a lei e o Direito.
Emitindo essa pronúncia, o tribunal está, por isso, a proporcionar ao interessado a adequada tutela judicial no plano
declarativo.

Deste modo, não se trata de eliminar os espaços de decisão próprios da Administração, apenas se trata de
assumir que, por incumbência constitucional sobre os tribunais administrativos, enquanto órgãos de soberania com
competência para administrar a justiça em nome do povo nos litígios emergentes de relações jurídicas
administrativas, recai o dever de fazer cumprir a lei e o Direito, em toda a extensão em que a conduta da
Administração se deva pautar por regras e princípios jurídicos. Assim, os tribunais não podem deixar de exercer a
função de que estão incumbidos, pronunciando-se, em toda a extensão em que as normas jurídicas aplicáveis o
permitam, sobre os termos em que a Administração deve definir o Direito através da prática do ato administrativo
que lhe cumpra emitir.

O Tribunal indica a “forma correta” de exercício do poder discricionário, devendo apreciar


as vinculações decorrentes do ordenamento jurídico para aquela situação da vida, em
concreto e em face dos condicionalismos fácticos de aplicação, explicitando os respetivos
alcance e limites, assim como apreciando os critérios e os parâmetros das escolhas em causa e,
nomeadamente, indicando aquilo que consideraria ser uma (ou mais do que uma) decisão
respeitadora ou violadora dessas exigências legais. O tribunal não se pode intrometer no
espaço próprio que corresponde ao exercício de poderes discricionários por parte da
Administração, de forma a assegurar o princípio da separação de poderes. Sentenças não se
devem limitar a cominar a prática de um ato administrativo e devem determinar, em concreto,
qual o âmbito e o limite das vinculações legais – isto é o que significa explicitar as vinculações a
observar pela Administração na emissão do ato devido.

Até onde pode ir o juiz administrativo?

--

O que são estas normas regulamentares?

São normas gerais e abstratas, produzem efeitos externos e são emanadas do poder
administrativo. Os tribunais, como vimos, apenas controlam os limites da Administração.

Segunda não temos aula!

22/11/19
EXERCÍCIO PRÁTICO N.º 6
Considere a seguinte situação e responda, de modo fundamentado, às questões
colocadas:

Por via de uma portaria, foi aprovado, pela Secretaria Regional dos Transportes da
Região Autónoma da Madeira, o novo regulamento do serviço de transportes de passageiros
do Aeroporto do Funchal.

Os táxis-carrinha de 9 lugares ficaram, assim, inibidos de prestar serviços no Aeroporto


do Funchal. João, taxista de profissão, e proprietário de um táxi-carrinha de 9 lugares, sente-
se lesado com as alterações impostas pela nova Portaria e, por essa razão, pretende
impugná-la.

1) Os regulamentos administrativos são impugnáveis na jurisdição administrativa?

Uma norma regulamentar compreende toda e qualquer norma cuja emissão se processa
no exercício de poderes conferidos pelo Direito Administrativo, uma vez que, seja qual for o
ramo do Direito em que as normas regulamentares irão ser objeto de aplicação, as regras
sobre a sua produção são de Direito Administrativo, pelo que se incumbe aos tribunais
administrativos fiscalizar a observância dessas regras.

A Administração Pública Regional está integrada no artigo 4º/1b do ETAF. Como é


emanado ao abrigo da função administrativa, é impugnável. (sendo que as secretarias
regionais fazem parte do governo regional, que faz parte da Administração Pública, estava
preenchido o 4º/1b)

Artigo 135º CPA (Conceito de regulamento administrativo - para efeitos do disposto no


presente Código, consideram-se regulamentos administrativos as normas jurídicas gerais e
abstratas que, no exercício de poderes jurídico-administrativos, visem produzir efeitos jurídicos
externos) porque é impugnação de normas e 4º/1b Administração Pública Regional está
integrada. É emanado ao abrigo da função administrativa, logo é impugnável.

Alínea d) do artigo 4º do ETAF é relativo às entidades privadas que pratiquem a função


administrativa. Também podiam referir o artigo 2º/1b e d. artigo 20º da CRP – direito do
acesso aos tribunais.

2) Qual a forma de ação que deve ser adotada?

Forma da ação administrativa pelos artigos 35º, 36º a contrario e 37º/1d e 72º e ss,
principal declarativo e não urgente.

3) Em que Tribunal deve ser intentada a ação? Que valor deve ser atribuído à causa?

Artigo 44º/1 do ETAF, 1ª instância -competência dos tribunais administrativos e não


tributários. Artigos 16º e ss do CPTA. Artigo 5º porque se trata de uma prática de normas por
parte de uma Região Autónoma. DL 325/2003 – Artigo 3º do DL, regra especial do 20º/1 e DL
325/2003, art 3º e mapas (Funchal). O valor é artigo 44º da LOSJ, 30 000, artigo 34º/2 que
remete para o artigo e 6º/3 e 4 do ETAF que remete para a LOSJ. O 33º seria totalmente
inaplicável ao nosso caso porque o seu âmbito aplicativo é restrito aos atos administrativos.

4) Qual o pedido concreto que deve ser formulado? Qual deverá ser o concreto objeto
processual?

Pedido de declaração de ilegalidade com força obrigatória geral – 73º/1.


Em primeiro lugar, cumpre distinguir as normas imediatamente operativas e as normas
mediatamente operativas.

A declaração de ilegalidade com força obrigatória geral só pode ser pedida em relação a
normas imediatamente operativas, ou seja, em relação a normas que produzem efeitos
imediatamente na esfera dos interessados, independentemente da prática de ato concreto de
aplicação, como explicita o nº1 do artigo 73º do CPTA. O pedido pode ser deduzido não
apenas por quem seja diretamente prejudicado pela vigência da norma ou possa vir
previsivelmente a sê-lo em momento próximo. Para além disso, pelo MP e também pelas
“pessoas e entidades referidas no nº2 do artigo 9º”, pelos “presidentes de órgãos colegiais, em
relação a normas emitidas pelos respetivos órgãos” e as pessoas referidas no artigo 55º/2.

Contra uma norma imediatamente operativa pode também ser deduzido um pedido de
desaplicação, nos termos previstos no nº2, mas, neste caso, apenas em 4 situações específicas,
que estão enunciadas nas alíneas a), b), c) e d) do nº1 do artigo 281º CRP: quando o
fundamento da impugnação da norma seja a sua inconstitucionalidade, a violação de lei de
valor reforçado ou a violação do estatuto da região autónoma e violação dos direitos de uma
Região Autónoma consagrados no seu estatuto. Nesses casos, o pedido de declaração de
ilegalidade circunscreve-se ao caso concreto, porquanto a declaração de ilegalidade com força
obrigatória geral, com esses fundamentos, constitui reserva de jurisdição do Tribunal
Constitucional, nos termos do nº1 do artigo 281º da CRP. Sendo que o controlo abstrato da
legalidade pelo TC, nesse contexto, apenas pode ser desencadeado, por força do nº2 do
mesmo artigo da CRP, por um conjunto restrito de entidades, não em função do interesse
pessoal em questão, mas da titularidade de certos cargos. A possibilidade de deduzir um
pedido de desaplicação com qualquer desses fundamentos – para o qual os tribunais
administrativos são competentes – destina-se a evitar que um cidadão lesado, não dispondo
de legitimidade para requerer a declaração de ilegalidade com força obrigatória geral perante
o TC, pudesse ficar impedido de impugnar normas imediatamente aplicáveis sem necessidade
de ato concreto de aplicação. A remissão para o disposto no artigo 281º da CRP deve ser,
naturalmente entendida como reportada apenas aos fundamentos de ilegalidade aí invocados,
e não ao tipo de normas que são suscetíveis de fiscalização de legalidade nos termos deste
artigo 73º, apenas pode incidir sobre normas administrativas. O cidadão pode em concreto
pedir a ilegalidade da norma ao seu caso concreto nos tribunais administrativos. Com força
obrigatória geral, só pode pedir ao TC os do 281º/2.

Relativamente às normas mediatamente operativas, ou seja, normas cuja disciplina geral e


abstrata só é suscetível de operar os seus efeitos através de atos administrativos de aplicação
a situações individualizadas, a questão da sua ilegalidade pode ser suscitada, a título
incidental, no âmbito de processo dirigido contra o ato de aplicação, conforme expressamente
prevê o nº3 do artigo 73º. Esta é a decorrência de estarmos perante uma norma que se não
projeta, de forma direta, na esfera jurídica dos particulares, mas apenas por via de um ulterior
ato individual e concreto. Neste caso, a norma não é objeto direto de impugnação – a qual se
dirige em primeira linha contra o ato administrativo de aplicação – mas apreciação incidental
da sua legalidade releva para o efeito de vir a ser formulado um juízo de procedência quanto
ao pedido principal: o tribunal desaplica incidentalmente a norma e, consequentemente,
anula, por falta de fundamento legal, o ato administrativo de aplicação.

Com o regulamento em questão, os táxis-carrinha de 9 lugares ficam inibidos de prestar


serviços no Aeroporto do Funchal. João, como taxista de profissão e proprietário de um táxi-
carrinha de 9 lugares fica lesado imediatamente, visto que não é necessário um ato
administrativo para a norma se lhe aplicar. Desta forma, estávamos perante uma norma
imediatamente aplicável, sendo, por isso, o pedido a ser formulado o de declaração de
ilegalidade com força obrigatória geral, fundado no artigo 73º/1a).

Relativamente ao objeto, surge a questão de saber se se impugna diretamente uma norma


do regulamento ou o regulamento globalmente considerado.

A questão foi analisada no acórdão do STA de 25 de novembro de 2003, que, incidindo


sobre uma norma do Regulamento da Associação de Técnicos Oficiais de Contas cuja aplicação
prática inviabilizava, desde logo, a inscrição de um interessado na referida Associação, por
tornar exigível uma documentação que ele não poderia obter, veio a considerar que, apesar
disso, o Regulamento não conferia nem retirava direitos, pelo que só o ato administrativo que
viesse recair sobre um concreto pedido de inscrição é que seria suscetível de definir a situação
jurídica do interessado.

De acordo com Mário Aroso de Almeida, o objeto do processo de impugnação de normas,


como resulta da literalidade do artigo 72º, é qualquer norma administrativa que se inclua num
diploma de natureza regulamentar, pelo que o qualificativo de imediata ou mediata
operatividade de que depende a escolha do meio processual a adotar reporta-se
necessariamente à norma e não ao regulamento considerado no seu todo. O ponto é que a
exequibilidade de uma norma pode estar dependente da verificação de certos requisitos ou do
preenchimento de certas formalidades que apenas possam ser objeto de concretização no
âmbito de um procedimento administrativo, exigindo a ulterior prática de um ato
administrativo de aplicação. Nesse plano, para determinar se produz ou não efeitos imediatos,
a norma carece de ser interpretada em conjugação com outros preceitos regulamentares.

Afigura-se, porém, que não é necessário pré-determinar o caráter operativo da norma em


função do objeto e da finalidade do diploma regulamentar em que se insere. É patente que um
regulamento destinado a definir o modo de inserção como técnico oficial de contas e a fixar os
respetivos requisitos de admissão tem pressuposta a existência de um procedimento
administrativo que conduza à tomada de uma decisão final de admissão ou exclusão da
candidatura. No entanto, não é essa simples constatação que permitirá caracterizar todas as
normas que compõem o regulamento como mediatamente operativas. O acento tónico deve
incidir no caráter mediata ou imediatamente lesivo da norma. Se a norma, pelo seu próprio
conteúdo, tornar desde logo inviável a inscrição, de tal modo que o procedimento que venha a
ser encetado se encontre necessariamente votado ao insucesso, é de entender que ela é
imediatamente lesiva e, portanto, suscetível de ser impugnada diretamente, através de um
pedido de declaração de ilegalidade com força obrigatória geral. qualquer outra solução
conduziria à inutilização do requisito processual, que passaria a reportar-se, não à norma sobre
que incide o pedido de declaração de ilegalidade, mas ao próprio diploma regulamentar, que
não constitui sequer objeto do processo impugnatório.

Aqui, acho que o objeto era apenas a norma do regulamento.

Com a desaplicação da norma, não é eliminada ao caso concreto, tem efeitos restritos ao
caso concreto. Ao contrário da alínea b) do artigo 73º - que se restringe ao MP.

5) Poderá a ação dar entrada em Tribunal, sete meses após a publicação da Portaria?

Art 74º/1 – imp a todo o tempo, tendo em conta que não se refere que é uma legalidade
formal. O caso aponta para a circunstância de uma ilegalidade material.
Como devem estruturar o artigo 74º?

Até 2015, era muito simples. Tudo o que era impugnação de normas, era a todo o tempo.
Mesmo direito administrativo substantivo, era tido como característico da própria invalidade
das normas administrativas.

O legislador passou a entender que depende: perante legalidades procedimentais formais,


será que faz sentido que fiquem todas sujeitas a este prazo tao dilatado? Não, entendeu
restringir esse prazo. Em primeiro lugar, não pode ser inconstitucional, caso em que voltamos
à impugnação a todo o tempo. Se tivermos perante vícios especialmente graves, voltamos ao
nº1.

6) Poderá João cumular com o pedido de declaração de ilegalidade de norma


regulamentar um pedido de natureza indemnizatória?

Art 4º/1a e nº2f ex vi b – sim

Princípio da livre cumulabilidade de pedidos.

O nº1 do artigo 4º estabelece os critérios gerais de cumulação de pedidos. A conexão que


justifica a cumulação de pedidos pode resultar de 4 fatores distintos: identidade de causa de
pedir (alínea a), primeira parte do nº1); relação de prejudicialidade ou dependência entre os
pedidos, alínea a); apreciação dos mesmos factos (alínea b) e interpretação e aplicação dos
mesmos princípios ou regras de direito.

2qqQQqA cumulação de impugnações pode ter lugar em relação a atos relativamente aos
quais opere uma relação de prejudicialidade ou de dependência, como é o caso a) quando os
atos tenham sido praticados no âmbito do mesmo procedimento administrativo ou respeitem
a uma mesma relação jurídica b) quando se trate de atos cuja apreciação constitua uma
questão prejudicial relativamente à apreciação de outros atos que também tenham sido
impugnados c) ou quando tenham sido impugnados atos consequentes, de tal modo que a sua
consolidação na ordem jurídica fique dependente da validade do ato antecedente.

Aqui, estaríamos perante uma relação de dependência entre pedidos podendo, por isso,
ser cumulado. De facto, a indemnização em causa depende da declaração de ilegalidade da
norma regulamentar em causa – se a norma nem sequer foi declarada ilegal, não há
indemnização.

A alínea f) do nº2 permite, em geral, a cumulação do pedido de indemnização por danos


com qualquer dos pedidos mencionados nas alíneas anteriores do mesmo número. Por isso,
conjugando o artigo 4º/1a e 4º/2f, podia-se cumular.
Os pedidos suscetíveis de cumulação são, nesse caso, os relativos à anulação ou declaração de nulidade ou
inexistência de um ato administrativo, à declaração da ilegalidade de uma norma administrativa ou da sua omissão,
e à condenação à prática de ato administrativo devido.

A situação de conexão que justifica a cumulação de pedidos traduz-se na circunstância de


a emissão de uma norma ilegal constitui objeto do pedido principal, podendo caracterizar-se
como facto ilícito gerador de responsabilidade civil da Administração.

Há que ter em conta, porém, que o pedido indemnizatório assenta numa causa de pedir
complexa, na medida em que depende da verificação dos requisitos da responsabilidade civil
(ilicitude, culpa, dano indemnizável e nexo causal), pelo que nem sempre a procedência do
pedido principal acarretará o direito ao pagamento de uma indemnização. Com efeito, pode
suceder que a ilicitude administrativa (consistindo, por exemplo, numa ilegalidade formal) não
possa ser qualificada como facto ilícito para efeitos indemnizatórios, ou não constitua causa
adequada do prejuízo eventualmente sofrido, ou não envolva um juízo de censura, e,
consequentemente, não possa fundamentar um dever de indemnizar.

Por outro lado, a formulação cumulada de um pedido de indemnização só se justifica


quando previsivelmente subsistam danos indemnizáveis que não sejam suscetíveis de serem
reparados através do restabelecimento da situação anterior à prática da ilegalidade, na
sequência da decisão a proferir em relação ao pedido principal. Na verdade, quer a
impugnação de atos ou de normas, quer a ação destinada a obter a condenação à prática de
ato devido, podem ser acompanhadas de pedidos dirigidos à reconstituição da situação atual
hipotética, que pode incluir a imposição da prática de atos e operações necessários à
reposição da situação que existiria se não tivesse sido produzida a lesão, podendo ficar
assegurada, por essa via, a remoção dos efeitos danosos.

Sendo o pedido secundário destinado a efetivar a responsabilidade civil, as adaptações


processuais a efetuar são as que se mostrem justificadas em matéria de prova, tendo em conta
a necessidade do preenchimento dos requisitos de que depende a procedência do pedido. Não
obstante, não pode deixar de reconhecer-se que a formulação cumulada do pedido de
indemnização, no âmbito de uma ação destinada a obter a anulação ou a declaração de
nulidade de um ato administrativo ou de uma norma, reduz a operacionalidade desta forma de
ação, na medida em que implica uma indagação necessariamente morosa e complexa
relativamente à fixação dos danos indemnizáveis, que poderá não ser compatível com as
exigências de celeridade de um meio processual de tipo impugnatório.

No entanto, o nº 4 do artigo 90º (e 4º/4 também), para obviar a dificuldades que a


cumulação de pedidos poderá suscitar no plano da celeridade e economia processuais,
permite que o tribunal possa antecipar a decisão do pedido principal em relação à instrução
respeitante ao pedido ou pedidos cumulados, caso em que a instrução desse ou desses
pedidos apenas terá lugar se não ficar prejudicada pela decisão tomada quanto ao pedido
principal.

Ações que envolvem pedidos indemnizatórios, quanto ao pressuposto do dano, é preciso


produzir prova. Os pedidos indemnizatórios são pedidos cumuláveis, seja com pedidos
impugnatórios de atos ou declaração de ilegalidade de normas. É claro que depois se pode
discutir se se enquadra no 4º/1a ou b) – é na a). Ver se é cumulação simples ou não.

7) Poderá João requerer o decretamento de uma providência cautelar de suspensão de


eficácia da norma da Portaria n° 39/2016 que reputa de inválida? Com a
apresentação do requerimento inicial de providência cautelar em Tribunal, João
poderá continuar a usar o seu táxi-carrinha de 9 lugares ou terá de esperar por uma
decisão do Tribunal?

Art 130º/1 e 2 não tem legitimidade, só o MP a título cautelar há uma restrição.

Reveste-se de especial importância a consagração, nos artigos 112º/2 alínea a) e 130º, da


possibilidade da suspensão da eficácia de normas emanadas no exercício da função
administrativa, isto é, de normas regulamentares e, mais precisamente, de normas
regulamentares que, no caso concreto, possam ser objeto, nos termos dos artigos 72º e ss, de
impugnação direta perante os tribunais administrativos, uma vez que a suspensão da eficácia
de normas há de estar ao serviço de processos principais em que seja pedida aos tribunais
administrativos a declaração de ilegalidade dessas normas: normas regulamentares, portanto,
"cujos efeitos se produzam imediatamente, sem dependência de um ato administrativo ou
jurisdicional de aplicação" (cfr. artigo 73º/1), dado que as normas que só tocam os
destinatários através de atos administrativos de aplicação não são objeto de impugnação
direta, mas apenas incidental, no âmbito de processo impugnatório dirigido contra o ato
concreto de aplicação (cfr. artigo 73.º, n.º 3).

Como o nosso caso é exatamente referente a uma norma regulamentar imediata, o artigo
130º aplica-se.
O artigo 130º, respeitante à suspensão da eficácia de normas, não substitui o artigo 120º, nem permite
prescindir do regime nele consagrado, como expressamente resulta da remissão contida no nº 4. Por conseguinte, a
suspensão da eficácia de normas depende do preenchimento dos pressupostos do artigo 120º, devendo o tribunal,
na apreciação do pedido de suspensão da eficácia, pautar-se pelos critérios de decisão fixados naquele artigo,
designadamente para o efeito de ponderar a decisão em função dos interesses públicos e privados em presença,
circunscrevendo os efeitos da providência, caso esta deva ser decretada, ao necessário para evitar a lesão dos
interesses defendidos pelo requerente.

O CPTA estabelece uma dualidade de regimes quanto aos tipos de pronúncias que podem
ser requeridas (e proferidas) no domínio da impugnação das normas regulamentares (cfr.
artigo 73.º). Assim, existe a declaração de ilegalidade com força obrigatória geral, que elimina
a norma impugnada da ordem jurídica e que, por isso, em principio, produz efeitos retroativos
erga omnes; e existe a declaração de ilegalidade sem força obrigatória geral, que é uma
declaração de que a norma impugnada é ilegal que só vale para o interessado, permitindo-lhe
"obter a desaplicação da norma", ou seja, impedir que a norma lhe possa ser aplicada (cfr.
notas 2 e 8 ao artigo 73º.

112º/1 e 2a – suspensão da eficácia de uma norma. O João pretende manter um direito


dele. Providência conservatória ou antecipatória? Conservatória.

Qual é o critério do 131º?

O artigo 128º era o que tinha que ser explorado (pelo 130º/4): não pode com o
requerimento prosseguir com a execução do seu serviço no aeroporto porque de acordo com
o artigo 128º/1 esta proibição de executar justifica-se

Saber se há ou não tutela cautelar em sede de impugnação de normas administrativas: a


resposta é afirmativa pelo artigo 112º/1. Artigo 2º/1 do CPTA, que faz uma referência expressa
à tutela cautelar.

O 130º/2 prende-se com os sujeitos que têm legitimidade para requerer estas
providências. Só se aplica ao interessado a título cautelar. Já não é assim se estivermos a falar
por um pedido formulado pelas entidades no nº2. Mas não deixa de ser estranho à primeira
vista: a título principal consegue que a norma desaparece, mas a título cautelar só para ele?

Assim: é possível tutela cautelar.

Quanto ao momento em que João pode usar ou não o táxi, 128º, pode continuar a
conduzir. Paralisou os efeitos da norma. Era um efeito proibitivo. Outro exemplo: imaginem
que é um ato da ASAE que determina o encerramento imediato do restaurante. O ato
começou a produzir efeitos. Com a providência, o requerente consegue paralisar e ter o
restaurante aberto. Porém, há um grave prejuízo para o interesse público, está em causa a
saúde pública.

A providência cautelar tem que ser objeto de despacho liminar do juiz? Tem que haver,
pelo artigo 116º.

8) Ao invés de João, a Associação de Táxis da Madeira poderá propor a ação em


referência e requerer o decretamento da respetiva providência cautelar?

O objeto social da Associação é proteger os taxistas. Verdadeiramente, é difícil ver um


interesse difuso. No caso concreto, é difícil encontrar um interesse difuso, é mais um
interesse individual homogéneo da associação.

02/12/19
O legislador regula a tramitação da ação administrativa a partir de 2015, tomando por
base a regulação que já existe para a ação administrativa fiscal. Tal leva-nos a uma
consequência muito imediata.

O artigo 1º do CPTA e o artigo 35º/1º determinam que a lei processual civil é


subsidiária à do Administrativo.

Do 78º ao 96º vemos os artigos que regulam especificamente esta tramitação.

Artigo 78º

EXERCÍCIO PRÁTICO N.º 7

Considere a seguinte situação e responda, de modo fundamentado, às questões


colocadas:

Maria intentou uma ação administrativa contra o Instituto de Emprego e Formação


Profissional, tendo por objeto a impugnação de um ato praticado por esse ente público.

1) Na petição inicial não consta o domicílio profissional do respetivo mandatário. Dessa


omissão decorre alguma consequência processual?

Tem que se conjugar o artigo 78º com o artigo 80º. Há elementos a verificar na petição
inicial. Tínhamos uma omissão. Desde o dia 17 de novembro deste ano, o processo
administrativo é desmaterializado. Sendo desmaterializado, à semelhança do que já acontece
na jurisdição comum, verdadeiramente quando se fala em recusa da secretaria, nos casos da
via eletrónica, que é a maior parte dos casos, quando não se insere essa informação, dá-se a
recusa de petição.

Quanto a estas informações, os articulados perdem relevo pelo 24º/3: o que conta é o que
está na verificação estruturada, mas pode ser corrigida. O sistema permite correções.

2) Maria está legalmente obrigada a proceder à junção de todos os documentos que


repute necessários à prova da factualidade relevante ou poderá remeter para o
processo administrativo?

O que é o processo administrativo? 87º/3: o juiz vai determinar um prazo para o autor
providenciar. Se não houver lugar a isso, há lugar à absolvição da instância.
Tratando-se de uma pretensão de impugnação, é preciso juntar obrigatoriamente. Quanto
à documentação, o 78º/4 permite que o autor remeta para os documentos constante no
processo administrativo. Nos termos do CPA, o processo administrativo é a corporização do
procedimento administrativo. Todo o procedimento administrativo tem que ter uma
corporização, seja física, documental ou eletrónica. É isso que consubstancia o processo
administrativo – artigo 1º/2 do CPA. Este processo é essencial, tendo que estar numerado ou
organizado de modo sequencial nos termos previstos no CPA e vai ter que ser junto ao
processo. Quem tem o dever de junção? A entidade demandada, por ser esta que a detém –
artigo 84º, tem que ser junta com a contestação, no prazo da contestação.

3) Qual a consequência derivada da falta de impugnação especificada, em sede de


Contestação? A resposta seria semelhante se se estivesse diante uma ação
administrativa tendente à efetivação da responsabilização civil extracontratual
administrativa do ente público em apreço?

Ónus de contestação e ónus de impugnação – não confundir.

Falta de contestação é CPC – campo subsidiário do CPC. Como se trata de impugnação de


um ato administrativo, não importava a confissão dos factos, mas a falta de impugnação dos
factos especificadas. 83º/4: não havia confissão. Tratando de uma ação de responsabilidade de
pedido indemnizatório, já havia confissão 83º/4 a contrario. Sem prejuízo do disposto do nº6
do artigo 84º:

Quanto ao ónus de contestação, é a figura do CPC, a figura da revelia.

4) Imagine que, na Contestação, é deduzida uma exceção de caducidade do direito de


ação. Pode Maria responder em sede de tréplica?

85º-A/6 não podia responder. Quem poderia responder em sede de réplica seria o
demandado. Em sede de réplica, seria apenas o 85º/1. Sendo autora, nunca tem direito a
tréplica.

5) Maria teve, entretanto, conhecimento de que um caso similar ao seu conheceu


decisão diferente por parte do ente público em apreço. Poderá dar nota disso ao
Tribunal?

Artigo 161º: houve decisão transitada em julgado. Se há decisões muito conexas, faz
sentido usar essa decisão nos outros casos. O artigo 161º consagra um mecanismo que
visa atingir esse fim. Porém, esta não é a causa.

No entanto, já que referimos o artigo 161º, é importante referir o artigo 48º do CPTA.
Estamos perante situações de existência de um número considerável de processos,
prevendo mais de 10 processos. Têm conexão entre si nos termos do 48º/1. O legislador
prevê a possibilidade de selecionar o ou os processos piloto. O processo que vai à frente
do outro, sendo que os demais ficam parados/suspensos. O tribunal vai focar os seus
esforços no tal processo piloto que vai a frente dos outros. Quando tivermos a decisão
desse processo, tal vai ter impacto nos outros processos. 48º/9 e 10. Têm um exemplo
prática de aplicação desta figura que é, provavelmente, o ato mais impugnado na história
administrativa que é a devolução do BES. A questão jurídica é a mesma em todos, não
fazia sentido estar-se a decidir um a um, ainda por mais havia o risco de divergência nas
decisões, risco esse que importa mitigar.

Artigo 86º: facto modificativo nos termos do nº1 e pelo nº2 podia ser considerado
superveniente. Podia ser apresentado um articulado superveniente.

Saber se verdadeiramente não há, com essa suspensão automática, uma perda objetiva
daquela parte processual advento dessa apensação. Essa questão não está resolvida. Se virem
o 48º/9, só o autor é que podia recorrer até 2019. Porém, tal mudou. Será que este
mecanismo pode levar a um prejuízo daquela parte em concreto?

6/12/2019
6) Tendo presente que a exposição fáctica, promovida na petição inicial, apresenta
várias imprecisões, o que deve fazer o juiz do processo?

Nos termos do artigo 87º, n.º 1, após a fase dos articulados, o processo é concluso ao juiz,
cujo conteúdo lhe cumpre analisar.

Subsequentemente, na fase de gestão processual, poderá ser necessário que o Juiz profira
despacho pré-saneador, que, no que releva aqui para este caso prático, destinar-se-ia a
providenciar pelo aperfeiçoamento dos articulados (art. 87.º/1/b). Nos termos do n.º 3, recai
sobre o Juiz um poder-dever (que é vinculado e, portanto, ele deve exercer) de, no âmbito do
despacho de aperfeiçoamento, convidar as partes ao suprimento das insuficiências ou
imprecisões na exposição ou concretização da matéria de facto alegada. Tal ocorrerá,
nomeadamente, quando o Juiz constante a inconcludência da fundamentação/alegação do
autor, pela falta dos factos complementares necessários para determinar a procedência do
pedido.

Assim, nos termos do n.º 3, o Juiz fixa prazo para a apresentação de articulado em que se
complete ou corrija o inicialmente produzido.

Caso o autor não proceda ao suprimento ou correção dentro do prazo que lhe foi fixado
para o efeito, há lugar à absolvição da instância (artigo 87º, nº 7).

Mas se o juiz determinar a absolvição da instância sem ter previamente emitido despacho
de aperfeiçoamento, o artigo 87º, nº 8, admite o autor a apresentar nova petição na qual
observe as prescrições em falta, dispondo, para o efeito, do prazo de quinze dias, contado
desde a data da notificação da decisão. A substituição da petição não compromete a
tempestividade do uso do meio processual utilizado, considerando-se, para esse efeito, que a
segunda petição foi apresentada na data em que o tinha sido a primeira.

7) Na petição inicial, Maria arrolou duas testemunhas, mas, já depois da apresentação


da Contestação, apercebeu-se da conveniência em arrolar mais uma testemunha.
Pode fazê-lo? Se sim, em que fase processual?
8) Tendo oficiosamente constatado que a ação administrativa foi intentada fora de
prazo, o que deve o juiz fazer? Em que momento processual deve ocorrer tal atuação
processual? Qual o valor processual de tal decisão?

9) Imagine que, enquanto juiz, entende que Maria é parte ilegítima. Todavia, só se
apercebeu de tal questão meses depois de ter proferido despacho saneador. Pode,
neste quadro, julgar procedente tal exceção, em sede de sentença final?

10) O ente público demandado entende que se torna necessária a realização de uma
perícia. Maria discorda e defende nos autos que a pretensão do demandado tem um
único objetivo: atrasar o processo. Quid iuris?

11) Na final da audiência final, o demandado requereu que as alegações fossem


apresentadas por escrito e de modo sucessivo, ou seja, primeiro pela autora e só
depois pelo demandado, no prazo de 30 dias para cada parte. Enquanto juiz,
deferiria tal pedido?

12) Tratando-se de um processo complexo, o juiz da causa, depois da audiência final,


decidiu convocar mais dois juízes e formar coletivo para proferir acórdão final.
Poderá fazê-lo?

13) Na petição inicial, Maria sustentou, entre outros vícios, que o ato impugnado violava
o princípio da proteção da confiança. Esta violação, no entender de Maria,
suportava-se em três argumentos autónomos. Porém, em sede de decisão final, o
Tribunal só analisou dois dos argumentos invocados por Maria, tendo
imediatamente concluído que a violação de tal parâmetro não ocorria. Terá o
Tribunal preterido o disposto no artigo 95.º, nº 1 e 3 do CPTA?

9/12/2019
EXERCÍCIO PRÁTICO N.º 8

Atente na seguinte situação e responda, de modo fundamentado, às questões colocadas:

Ana, residente em Viseu, concorreu a uma vaga de técnica superior (jurista) na


Assembleia da República. Participaram nesse concurso 100 pessoas.

Ana foi liminarmente excluída por não ser detentora do grau de mestre em Direito,
tendo, todavia, sido admitidos todos os participantes detentores de licenciatura pré-
Bolonha.

Ana qualifica a decisão administrativa que a afetou de inconstitucional e propôs uma


ação administrativa, no Tribunal Administrativo de Círculo de Lisboa.

1) Enquanto advogado da Assembleia da República, suscitaria alguma exceção quanto à


competência do Tribunal Administrativo de Círculo de Lisboa?

O contencioso dos procedimentos de massa compreende, como resulta expressamente do


disposto no nº 1 do artigo 99º do CPTA, as ações respeitantes à prática ou omissão de atos
administrativos no âmbito de procedimentos com mais de 50 participantes, nos domínios dos
concursos de pessoal, realização de provas e recrutamento (artigos 97.º, n.º 1, alínea b), e
99º).

O legislador optou, assim, por autonomizar o contencioso relativo a procedimentos


administrativos em que os atos jurídicos que neles sejam praticados incidem sobre uma
mesma relação jurídica material que respeita a um grande número de destinatários,
pretendendo assim resolver, através de um meio processual mais expedito, as dúvidas que
possam ser suscitadas no plano jurídico, permitindo assegurar, em tempo útil, o
aproveitamento e a consolidação dos resultados do procedimento e evitando a sua inutilização
através do recurso à via jurisdicional.

Pretende-se assegurar a rápida estabilização das situações jurídicas constituídas pelos atos
jurídicos praticados no âmbito de procedimentos administrativos que envolvem um grande
número de destinatários com interesses contrapostos, que poderão originar uma
multiplicidade de processos jurisdicionais, porque é de interesse público e de todos os
envolvidos obter uma composição definitiva dos litígios em tempo razoável, de modo a
satisfazer as necessidades de recrutamento de pessoal e de contratação para o exercício de
funções públicas, e, noutro plano, estabilizar os resultados de provas públicas que podem
repercutir-se de forma muito significativa na esfera jurídica dos interessados.

Para esse efeito, o presente artigo procura promover a celeridade processual, com a
redução do prazo de propositura da ação e dos prazos de tramitação e a simplificação do
processado (n.º 3), ao mesmo tempo que adota mecanismos de concentração processual,
dirigidos a assegurar que todos os litígios respeitantes a um mesmo ato administrativo possam
ser dirimidos perante um mesmo tribunal e num único processo, através da previsão de uma
regra específica de competência territorial, segundo a qual as ações devem ser propostas no
tribunal da sede da entidade demandada, e não no tribunal da área de residência ou sede do
autor (n.º 2), e de um regime de apensação obrigatória, quando sejam propostas
separadamente ações que pudessem ser reunidas num único processo (n.º 4).

O nº 2, com a sobredita finalidade de concentrar a dirimição dos litígios num único


processo e perante um mesmo tribunal, estabeleceu uma regra específica de competência
territorial: as ações devem ser propostas no tribunal da sede da entidade demandada. Deste
modo, afastou a regra geral que consta do artigo 16º, nº 1, pela qual os processos são
intentados no tribunal da área de residência sede do autor. Tal significa que os processos serão
instaurados no tribunal administrativo do círculo de Lisboa em relação à prática ou omissão de
atos administrativos no âmbito dos procedimentos de massa que tenham sido abertos pela
Administração Central ou por institutos públicos, fundações públicas ou associações públicas
que tenham sede em Lisboa.

O estabelecimento dessa regra específica de competência territorial tem em vista facilitar


a apensação dos processos, que, nos termos do nº 9, é obrigatória, e permitir assim identificar
as causas que, por respeitarem ao mesmo procedimento administrativo, devem ser instruídas
e julgadas conjuntamente, evitando as dificuldades e demoras que a dispersão dos processos
pelos tribunais da área da residência habitual do autor poderia gerar, caso funcionasse o
regime-regra. Trata-se, por outro lado, de uma medida processual que se justifica pelo
princípio da concentração processual, devendo entender-se, face à obrigatoriedade da
apensação, que esta deve ser efetuada por iniciativa dos juízes aos quais foram distribuídos os
processos que respeitam à mesma relação jurídica material. É claro que, se vierem a ser
intentados no tribunal da residência habitual do autor, os processos devem ser oficiosamente
remetidos ao tribunal competente (artigo 14.º, n.º 1).

Em primeiro lugar, este caso qualifica-se por ter em causa o contencioso dos
procedimentos de massa, enquadrando-se o concurso na alínea a) do artigo 99º do CPTA.

Desta forma, o nº 2 do mesmo artigo determina que a ação seja proposta na sede da
entidade demandada.

24º/1a, ii) do ETAF – compete à secção do Contencioso Administrativo do Supremo


Tribunal Administrativo. -> artigo 14º, haveria a remessa para o tribunal competente, exceção
dilatória.

2) E quanto ao meio processual intentado?

Ao autonomizar o contencioso dos procedimentos de massa, enquadrado na ação


administrativa urgente e sujeito a um prazo de caducidade específico do direito de ação e a
uma tramitação processual própria, o legislador fornece indicação segura de que pretende
instituir um regime processual imperativamente aplicável, a cuja utilização as partes não
podem renunciar para o efeito de optarem pelo processo declarativo comum, a que
correspondem prazos processuais e de propositura da ação mais amplos. Deve entender-se,
assim, que estamos perante um meio processual de utilização necessária, tal como sucede
com o contencioso eleitoral e com o contencioso pré-contratual, regulados no artigo 98º e nos
artigos 100º a 103º-B, respetivamente.

Urgente – 36º/1b.

No contexto do 99º/2, temos uma regra própria de competência em relação ao território.


Em que fase do processo se deve aferir os 50 participantes? Nr de interessados ou o nr de
pessoas que contestam. A forma de contagem dos participantes tem muita jurisprudência.
Uma das questões é:

Imaginem que foram excluídas 60 pessoas de 100 e ninguém impugnou. Porém, na fase da
seriação há quem queira impugnar. Logo aí questiona-se: ficaram só 40: o requisito dos 50
ficou preenchido? verdadeiramente, o que é que o legislador terá querido? O inicial porque é
mais pautável. O que é que são participantes? Isto discute-se muito. Apesar de este meio
processual ser muito jovem, é problemático.

3) Imagine que a ação administrativa foi intentada no estrito cumprimento do prazo


previsto no artigo 58.º, n.º 1, alínea b) do CPTA. Tal facto também pode originar a
dedução de uma exceção?

O fator é a urgência: prazo especial de 1 mês, artigo 99º/2

O nº 2 do artigo 99º afasta o regime geral em matéria de prazos que resulta do disposto no
artigo 58º, para a impugnação de atos administrativos, e no artigo 69º, para a condenação à
prática de ato devido, reduzindo o prazo de propositura da ação para um mês, à semelhança
do que sucede com os processos de contencioso pré-contratual (artigo 101º), mas ressalva, no
segmento inicial do preceito, a existência de ''disposição legal em contrário". A lei pretende,
deste modo, excecionar ao regime-regra os prazos de caducidade estabelecidos em diplomas
legais que regulem especialmente os procedimentos de recrutamento ou concurso de pessoal
e de realização de provas, que integram o âmbito aplicativo do contencioso dos
procedimentos de massa e que, segundo o princípio da especialidade, prevalecem sobre o
Direito geral.

Tratando-se de um prazo único, o prazo do n.º 2 deve ser aplicado independentemente do


vício que afete o ato e da qualidade em que intervém o demandante, O nº 2, ao fixar o prazo
de um mês, sobrepõe-se a qualquer das regras do nº 1 do artigo 58º, não se podendo
distinguir entre a impugnação de atos nulos ou de atos anuláveis, ou entre a impugnação
promovida pelo MP, no exercício da ação pública, e a impugnação a cargo de quaisquer outros
interessados.

No silêncio da lei, deve, entretanto, considerar-se afastada a aplicabilidade neste domínio


do regime de flexibilização do prazo de impugnação a que se referem as alíneas b) e c) do nº 3
do artigo 58º. Com efeito, essas disposições asseguram a possibilidade de a petição ser
apresentada fora do prazo geral de impugnação. Ora, a possibilidade de o ato ser impugnado
para além do prazo de impugnação é, em si, incompatível com a própria lógica que está
subjacente à autonomização do meio processual previsto no artigo 99º, dirigida a obter a
redução dos prazos e a concentração dos litígios num único processo, de modo a gerar uma
situação de estabilidade jurídica quanto ao resultado do procedimento. De facto, a apensação
dos diversos processos que tenham sido intentados, sendo um mecanismo essencial para
assegurar a uniformidade de julgamento, pressupõe que os processos sejam instaurados
contemporaneamente. E a obrigatoriedade da apensação justifica que devam ser rejeitadas
por extemporaneidade as causas que, tendo dado entrada em juízo muito para além do prazo
curto definido na lei, já não possam ser instruídas, discutidas e julgadas conjuntamente com o
processo entrado em primeiro lugar. E as antecedentes considerações são aplicáveis mutatis
mutandi aos prazos gerais de caducidade do direito de ação a que se referem os nº 1 e 2 do
artigo 69º, no que se refere à ação de condenação à prática de ato devido.

Nada parece obstar, no entanto, a que a propositura da ação seja admitida para além do
prazo legalmente fixado nas situações em que ocorra justo impedimento, nos termos da alínea
a) do nº 9 do artigo 58º. Isso porque se trata de uma figura de aplicabilidade geral, como tal
também admitida em processo civil, que implica a demonstração da ocorrência de um evento
imprevisível totalmente impeditivo da prática atempada do ato processual e que não acarreta,
pelo próprio condicionalismo da sua admissibilidade, uma dilação significativa quanto ao prazo
de propositura da ação, pelo que não prejudicará as finalidades de celeridade e concentração
processual que se pretendem atingir com a instituição do meio processual previsto no
presente artigo 99º.

4) Que prazo terá Ana para responder à matéria de exceção deduzida em sede de
Contestação?
Artigo 99º/5c – 10 dias página 400!
5) Que prazo terá o Tribunal para decidir o pleito?
Artigo 99º/6 ex vi nº 5/b. o próprio 99º quer que os tribunais superiores decidam esses
processos e tal vê-se também pelo nº 6.
6) Pode Ana pedir o decretamento de uma providência cautelar de suspensão da
eficácia do ato de exclusão de que foi destinatária?
Não pode cumular! A ação é urgente, mas o ato não suspenso.

Ao referir-se a concursos de pessoal, procedimentos de realização de provas e


procedimentos de recrutamento, o legislador pretende abranger, por um lado, os concursos
de provimento ou de promoção na Administração Pública, e, por outro lado, as provas de
acesso ao ensino superior ou a certas categorias profissionais, como sejam as provas de
avaliação para acesso a contratação de professores do ensino básico ou secundário ou as
provas de acesso para o estágio de advocacia.

Por outro lado, o objeto do contencioso dos procedimentos de massa está circunscrito
ao contencioso dos atos administrativos, englobando os pedidos de anulação ou declaração de
nulidade de atos administrativos e os pedidos de condenação à prática de ato administrativo.
Parece ter-se pretendido excluir, deste modo, qualquer outro dos pedidos dedutíveis no
âmbito da mesma relação jurídica, como sejam os pedidos de declaração de ilegalidade de
normas conformadoras do procedimento ou os pedidos de reparação de danos resultantes da
prática de atos ilícitos. Do disposto no nº 1 do artigo 5º já não parece resultar, entretanto, que
também se tenha pretendido afastar, neste contexto, a possibilidade de cumulação de
pedidos, quando o pedido cumulado não se integre no contencioso dos atos administrativo.

O juiz apenas pode avançar se julgar procedente cumulo o pedido indemnizatório


porque acho que o ato é ilegal. Se o ato não é ilegal, não vou pedir indemnização.

A restrição do objeto do processo é justificada por razões de celeridade processual e


de conveniência de obter uma rápida consolidação da situação jurídica, que foram as razões
que determinaram a autonomização deste meio processual.

A ideia central é assegurar que os atos de exclusão de candidatos ou de classificação


final, quando impugnados, sejam dirimidos num único processo e de modo expedito, para
salvaguardar a utilidade do procedimento.

Note-se, por fim, que a circunstância de o contencioso dos procedimentos de massa


constituir, em si mesmo, um meio processual destinado a obter uma decisão de mérito
urgente não invalida que, neste âmbito, possa ser requerida a adoção de providências
cautelares. Nesse caso, o processo cautelar, tendo embora uma tramitação autónoma, é
apensado ao processo principal, entendendo-se como tal o processo que tiver sido intentado
em primeiro lugar, ao qual tenham sido obrigatoriamente apensados todos os demais
processos que incidam sobre atos ou omissões praticadas no âmbito do mesmo procedimento
(artigo 99.º, n.º 4). O pedido de adoção de providências cautelares é julgado pelo mesmo
tribunal perante o qual decorre o processo principal, de acordo com a regra de competência
territorial fixada, em geral, pelo artigo 20.º, nº 6, para os processos cautelares.

Pedido invalidatório do procedimento. E com a providência cautelar? Artigo 112º/2b –


tem que ser admitida provisoriamente. Não há uma incompatibilidade entre a utilização destes
meios principais urgentes com a tutela cautelar. Ou seja, não é pelo processo principal ser
urgente que não se pode pedir uma providência cautelar.

Sexta: considerações gerais sobre a simulação e providências cautelares.

13/12/19
2 frases para comentar e não é garantido que a simulação saia.

Tema apetecível para perguntas teóricas: hoje saiu o diploma que procede à criação
dos juízos especializados – decreto lei 174/2019. Ainda terá de ser emanada uma portaria que
procede à instalação, mas é um caso relevante. Não sobrecarrega o CAT de Lisboa com este
juízo, provavelmente o tribunal de círculo até ficará instalado em Almada ou em Sintra, tendo
uma competência alargada à área de Lisboa.

Caso de Almada de tutela cautelar – suspensa de eficácia de ato administrativo e de


aplicação do artigo 128º do CPTA. Este artigo também dá boas frases para comentar, ainda por
mais depois desta revisão.

O 128º só se aplica a providências conservatórias de suspensão de eficácia de atos


administrativos, não se aplicando, por exemplo, ao nosso último caso prático que tinha em
vista uma providência antecipatória. Depois, recordem a tramitação destes processos
cautelares. A providência é requerida no tribunal, o juiz tem logo intervenção? Segundo o
artigo 116º, a providência cautelar pode ser rejeitada liminarmente. Se for aprovado, artigo
128º.

Um bom exemplo para se perceber o artigo 128º prende-se com um restaurante que é
objeto de fecho pela ASAE num programa televisivo. Os proprietários dirigem-se a vocês.
Apresentam providência cautelar. A partir do momento em que a Administração é citada, o ato
fica suspenso, podendo o restaurante reabrir.

Porém, a Administração também pode atuar, justificando porque é que esta suspensão
é gravemente prejudicial para o interesse público – neste caso, a saúde pública.

É possível impugnar a resolução fundamentada da Administração? Podem deduzir um


incidente, declaração de ineficácia de atos de execução indevida. A partir do momento em que
a Administração apresentou uma resolução fundamentada do ato que levou à prática de atos
materiais ou jurídicos de execução, podem deduzir um incidente. Forma de impugnação
indireta de impugnação – não se impugna diretamente a resolução, requer-se a declaração de
ineficácia destes atos de execução porque a resolução não está efetivamente fundamentada,
sendo que as razões que alicerçam a resolução são improcedentes. Assim, não se impugna
diretamente a resolução, mas indiretamente.

A propósito deste incidente, podem levantar-se várias questões. Por exemplo, pode
nem sempre haver atos de execução – nessas situações, como se tutela o requerente?

Uma das críticas que era feita ao artigo 128º/1 era que não se protege a posição dos
contrainteressados. Para tal, o legislador em 2015 introduziu os beneficiários do ato.
Literalmente, significa que os próprios beneficiários do ato podem emitir a suspensão de ato?

Há prazo para apresentar os requerimentos de providência cautelar? Não há um prazo


artigo 114º/1 – podendo ser na pendencia do processo principal. Mas imaginem que passado
1 mês do ato administrativo, é proposta a ação administrativa de impugnação do ato e a
mesma parte ativa demorou mais um mês a requerer a providência cautelar. Se há uma
necessidade de urgência, o expectável é que mobilize rapidamente a providência cautelar, sob
pena de ficar numa posição muito frágil. Demorou mais um mês para requerer a providência…
Só não será assim nos casos em que verdadeiramente o periculum só surgiu depois, mas tal
não será a regra. O normal é ou apresentar a providência cautelar e depois a ação ou fazer as
duas coisas exatamente no mesmo dia, sobretudo quando se quer que seja aplicado o artigo
121º, permitindo um dois em um, visto que verificados aqueles requisitos ali previstos,
permite o juiz antecipar.
Não confundir o 128º com o 131º: o 128º não consubstancia um decretamento de uma
providência, ainda que provisório. É uma providência que é decretada dentro do procedimento
cautelar.

Simulação

Quanto ao meio processual: em que casos é que é usado a ação administrativa urgente
de contencioso pré contratual? Está em causa uma pretensão impugnatória referente a atos
pré contratuais – o ato de adjudicação. Porém, isto não basta: tem de ser um procedimento
pré contratual tendente à formação de um destes contratos. Será a aquisição de um bem
móvel ou de um serviço?

Questão do prazo deste meio processual: muito importante o artigo 101º e não dizer
só que é de um mês, mas também a partir de quando é que é ele começa a contar. Artigo
101º, parte final, que remete para os artigos da ação administrativa, nomeadamente o 59º/2 e
3.

Este meio processual, para quem teve Direito Administrativo III terá tido isso mais
presente, corresponde a uma transposição de uma Diretiva comunitária, querendo haver uma
rápida estabilização do procedimento. O próprio 103º-A (comparar este com o 128º). No nosso
caso era preciso problematizar se o contrato já estava integralmente executado ou não. Faria
sentido mobilizar este meio processual? Estabelecimento de um travão à execução de um
contrato? 45º-A/1a. Sobretudo quanto às partes ativas, tipos de legitimidade diversos: não
esquecer que há regras próprias em matéria de cumulação de pedidos que, aliás, têm impacto
no tribunal competente. Quanto ao valor da causa também, 32º/7.

EXERCÍCIO PRÁTICO N.º 9

Comente, de modo fundamentado, as seguintes afirmações:

1) Na eventualidade de um cocontratante pretender exercer o direito à resolução de


um contrato de aquisição de serviços celebrado com o Hospital Saúde Máxima, E.P.E., deve
propor uma ação administrativa urgente de contencioso pré contratual.

2) Se, no âmbito de um procedimento pré-contratual tendente à celebração de um


contrato de empreitada, o concorrente classificado em segundo lugar apresentar uma
reclamação administrativa do ato de adjudicação, o prazo de impugnação judicial do mesmo
ato começa a contar somente com a decisão tomada em sede de reclamação.

3) A impugnação de um contrato de concessão de serviço público, pelo Ministério


Público, faz suspender imediatamente os efeitos do mesmo.

4) A intimação para a prestação de informações, consulta de processos ou passagem


de certidões consubstancia um processo cautelar.
5) Tendo a Câmara Municipal de Lisboa deliberado interditar a realização de uma
manifestação, na Praça do Município, agendada para de hoje a um ano, os lisboetas que
evidenciaram a intenção de promover tal manifestação poderão socorrer-se, no imediato, da
intimação para proteção de direitos, liberdades e garantias.

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