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Ana Mêlissa Ferreira

Nº 28060

O ato administrativo impugnável


Se em tempos se falava de recurso de anulação, hoje temos, graças à reforma do
contencioso administrativos, a impugnação dos atos administrativos, prevista nos
artigos 50º e seguintes do CPTA1.
O art. 51.º do CPTA dá-nos uma certa definição de ato impugnável, e tem como
pressuposto o estar-se em presença dum ato que encerre em si uma definição de
situações jurídicas, ficando assim excluídos os atos, que não possuam qualquer parte
decisória.
Em regra, todos os atos administrativos, cuja definição se encontra prevista no artigo
148º do CPA, são impugnáveis, ou seja, se tivermos um ato que seja praticado por uma
entidade privada ou pública, ao abrigo das normas do Direito Administrativo e tenha
um conteúdo decisório, com efeitos externos, pode ser impugnado.
Relativamente aos efeitos externos, o critério não é tão rígido. Este visa excluir os
atos práticos nas relações intra-administrativas ou interorgânicas, contudo, o artigo
51º nº2 b) do CPTA admite a impugnação deste tipo de atos2:
“2 - São designadamente impugnáveis:
a) As decisões tomadas no âmbito de procedimentos administrativos sobre questões
que não possam ser de novo apreciadas em momento subsequente do mesmo
procedimento;
b) As decisões tomadas em relação a outros órgãos da mesma pessoa coletiva,
passíveis de comprometer as condições do exercício de competências legalmente
conferidas aos segundos para a prossecução de interesses pelos quais esses órgãos
sejam diretamente responsáveis. “
Nas situações em que, por exemplo, para que um ato administrativo produza efeitos
é necessária a realização de certas condições ou termos, e caso estes não tenham sido
cumpridos, estes atos não podem ser impugnados, de acordo com o artigo 54 nº1 do
CPTA.
Todavia, o artigo 54 nº2 do CPTA consagra duas exceções:
 Quando o ato for objeto de execução,
 Quando exista uma probabilidade muito elevada de o ato produzir
efeitos

O Professor Mário Aroso de Almeida refere ainda uma espécie de “requisito


eventual” para podermos proceder à impugnação do ato, que seria quase um ónus,
falamos da utilização da impugnação administrativa, ou seja, a reclamação, o recurso
hierárquico ou o tutelar. Porém o CPTA não exige que exista uma tentativa do
interessado de resolver o problema de forma extrajudicial, a não ser em certos casos
específicos previstos em legislação avulsa, sendo que nestas situações é estabelecido

4- SILVA, Vasco Pereira; Temas e Problemas de Processo Administrativo, 2.ª Edição Revista e
Atualizada, Instituto de Ciências Jurídico-políticas, Setembro de 2011, página 81
5- GOMES, Carla Amado; NEVES, Ana Fernanda; SERRÃO, Tiago; Comentários à revisão do ETAF
e do CPTA, 1º Edição, AAFDL Editora, 2016- páginas259-262
um prazo para a impugnação administrativa, sob pena de preclusão do acesso aos
tribunais.
No que concerne a atos administrativos de conteúdo negativo, não podemos falar de
ação de impugnação, mas sim o pedido de condenação à prática do ato administrativo,
é isto a que se refere o artigo 67 nº1 b) do CPTA. O mesmo se aplica para as situações
em que a pretensão do interessado foi parcialmente indeferida ou se trata de um ato
administrativo de conteúdo ambivalente.
Quando os atos não ponham termo a um procedimento administrativo, só podem ser
impugnados durante a pendência do mesmo, sem prejuízo da faculdade de
impugnação do ato com base em ilegalidades cometidas durante o procedimento, a
não ser quando estas digam respeito a algum ato que tenha determinado a exclusão
do interessado do procedimento ou um ato a que a lei especial submeta a um ónus de
impugnação autónoma.
Em relação ao ónus de impugnação, a regra geral é que aquele é afetado ou o
destinatário do ato administrativo é que tem o ónus de impugnação, todavia existem
algumas exceções3:
a) Artigo 51º nº3 do CPTA – Segundo o Professor Mário Aroso de Almeida
estamos perante uma faculdade e não um ónus
b) Artigo 52 nº2 do CPTA- Devido ao facto de muitas vezes os interessados
não entenderem que se trata de um ato administrativo e deixam passar o prazo
para a sua impugnação
c) Artigo 52º nº3 do CPTA
Passando para a legitimidade ativa, esta encontra-se regulada no artigo 55º nº1 do
CPTA, que resultante da alteração do CPTA, houve uma restrição da legitimidade ativa
em relação às ações intentadas por órgãos administrativos no que diz respeito a atos
praticados por outros órgãos da mesma pessoa coletiva. A segunda grande alteração
verifica-se no artigo 56º nº1 do CPTA, pois passamos a falar de “mera anulabilidade” e
não de nulidade.
O professor Vasco Pereira da Silva refere que o artigo 57º do CPTA também entra no
conjunto de interessados, estes são parte legitima por serem diretamente
prejudicados pela ação de impugnação intentada.4
Por fim, os prazos para a impugnação estão estabelecidos no artigo 58º do CPTA.
As maiores alterações, com a reforma do CPTA, foram em relação à contagem dos
prazos, que agora passa a ser feita segundo o artigo 279º do CC e os atos, em que após
os três meses referidos no artigo 58 nº1 b) do CPTA, possam ser impugnados.5
Ao abrigo do artigo 58º do CPTA, a impugnação dos atos administrativos pode ser
realizada pelo Ministério Público no prazo de um ano e nos restantes casos, três
meses. Ultrapassado esse prazo, segundo o artigo 58º nº4 do CPTA, os interessados
podem ainda impugnar desde que tenham ocorrido uma das três circunstâncias
referidas no artigo 58º nº4 do CPTA.

4- SILVA, Vasco Pereira; Temas e Problemas de Processo Administrativo, 2.ª Edição Revista e
Atualizada, Instituto de Ciências Jurídico-políticas, Setembro de 2011, página 81
5- GOMES, Carla Amado; NEVES, Ana Fernanda; SERRÃO, Tiago; Comentários à revisão do ETAF
e do CPTA, 1º Edição, AAFDL Editora, 2016- páginas259-262
Bibliografia

1- SILVA, Vasco Pereira; Temas e Problemas de Processo Administrativo, 2.ª Edição


Revista e Atualizada, Instituto de Ciências Jurídico-políticas, Setembro de 2011
2- GOMES, Carla Amado; NEVES, Ana Fernanda; SERRÃO, Tiago; Comentários à revisão
do ETAF e do CPTA, 1º Edição, AAFDL Editora, 2016
3- Almeida, Mário Aroso; Manual de Processo Administrativo, 3ª Edição, Almedina,
2017
4- CARVALHO, Ana Celeste, DAVID, Sofia (conceção e coordenação), A Revisão Do
Código De Processo Nos Tribunais Administrativos – II, 1º Edição, CEJ, Abril 2017
5- Acórdão 22/02/2013- Acórdão do Tribunal Central Administrativo Norte

4- SILVA, Vasco Pereira; Temas e Problemas de Processo Administrativo, 2.ª Edição Revista e
Atualizada, Instituto de Ciências Jurídico-políticas, Setembro de 2011, página 81
5- GOMES, Carla Amado; NEVES, Ana Fernanda; SERRÃO, Tiago; Comentários à revisão do ETAF
e do CPTA, 1º Edição, AAFDL Editora, 2016- páginas259-262

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