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Direito Processual Civil Executivo e

Recursos
Regente: Professora Maria João Monteiro
Autoria: Francisco Lemos de Almeida

Direito Processual Civil Executivo e Recursos é mais uma das unidades curriculares que
se situam no âmbito do Direito Processual Civil, pelo que será sempre necessário
recordar algumas noções transmitidas nos anos transatos.
Este resumo não dispensa a leitura da bibliografia que abaixo indicarei e que fora
recomendada pelo regente desta unidade curricular. Assim, com o intuito de ajudar os
demais estudantes, segue-se este documento que poderá servir de auxílio ao vosso
estudo.
O presente documento poderá conter erros ou imprecisões, pelo que não me
responsabilizo por estes – e, sendo que este deverá ser apenas um complemento ao
estudo, deverão recorrer à leitura e análise da obra recomendada.

Bibliografia:

- Recursos no Novo Código de Processo Civil, 5ª Edição, António Geraldes

- A Ação Executiva, 6ª Edição, Lebre de Freitas

Universidade Lusíada Norte – Porto


3º Ano – 1º semestre
Direito Processual Civil Executivo e Recursos

Capítulo I – Formas de Impugnação e outras

Os recursos situam-se num momento temporal sempre após a decisão judicial de que
se pretende recorrer e, aqui, entendamos decisões judiciais em sentido amplo, na
medida em que nos referimos não só às sentenças mas, também, aos despachos que
admitem recursos (excluídos estão os dispostos do artigo 360º CPC), e aos acórdãos.
Desde já, importa igualmente referir que os recursos são apenas uma das formas
concedidas às partes para impugnar uma decisão judicial: a esta juntam-se as nulidades
das sentenças e a possibilidade de requerer a reforma da sentença com fundamento em
erros materiais.
Conforme resulta do artigo 613º CPC, com a prolação da sentença esgota-se o poder
jurisdicional do juiz (nº1) podendo, não obstante, retificar a sentença, suprir nulidades
e reformar a mesma (nº2). Para os casos previstos neste preceito, o prazo que vigora é
o disposto no artigo 149º CPC – 10 dias 1.
Ora, antes de avançarmos, importa ter em conta a regra de extensibilidade consagrada
no nº3 do artigo 613º: autoriza a aplicação das regras relativas aos vícios e reformas da
sentença, bem como a possibilidade de recorrer, aos despachos.
Neste momento, cumpre fazer referência aos vários cenários que, tendo como pano de
fundo a sentença, podem ocorrer. A saber: ineficácia formal da sentença (esta situação
verifica-se numa de duas circunstâncias – quando a decisão ainda não houver sido
comunicada aos mandatários ou às partes; ou, quando, havendo duas sentenças, uma
transite em julgado antes da outra, sendo contraditórias – prevalecendo a que transitou
em julgado em primeiro lugar, o que consequentemente resulta na ineficácia formal da
que transitou em julgado posteriormente (cf. artigos 625º e 628º CPC)); inexistência
jurídica (sucede nos casos em que os factos só podem ser provados por documento,
conforme impõe o nº5 do artigo 607º CPC, sendo que a reação possível é o recurso –
inexistência jurídica do ponto de vista formal; quando a sentença seja proferida por
quem não tenha poder ou, outrossim, quando lhe falte a parte decisória (cf. artigo 729º,
alínea a) CPC)2; nulidade da sentença – artigo 615º CPC (as nulidades estão sujeitas ao
Princípio da Tipicidade, pelo que o artigo supracitado apresenta um elenco taxativo
sendo estas, como vimos, extensíveis aos despachos e aos acórdãos da Relação e do
Supremo Tribunal de Justiça, por força do nº3 do artigo 613º. As nulidades, em regra,
carecem de ser invocadas pelas partes – exceção feita à falta de assinatura do juiz (alínea
a)3 -, pelo que devem4 ser arguidas perante o tribunal que proferiu a sentença se esta
não admitir recurso ordinário; se o admitir o recurso pode ter como fundamento essas
nulidades. Todas estas nulidades têm consigo a suscetibilidade de poderem considerar-
se sanadas com o decurso do tempo); retificação da sentença (a retificação deve ter
como fundamento o disposto no nº1 do artigo 614º; no caso de se querer recorrer, a
retificação só pode ter lugar antes do recurso subir (nº2); caso nenhuma das partes
recorra, esta poderá ter lugar a todo o tempo (nº3). Para tanto, é competente o tribunal
que proferiu a decisão); reforma da sentença (esta só poderá ter lugar nos seguintes
casos: quando não caiba recurso da decisão que condene em custas ou multas e se

1
Prazo supletivo.
2
A existência ou inexistência do título pode ser avaliada em ação de simples apreciação (cf. artigo 10º,
nº3 CPC).
3
Que é de conhecimento oficioso.
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Aliás, só podem.

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pretenda a sua reforma – artigo 616º, nº1 CPC); quando tenha ocorrido erro na
determinação da norma jurídica aplicável ou na qualificação jurídica dos factos (nº2,
alínea a)); ou quando constem do processo documentos ou outro meio de prova plena
que, só por si, impliquem necessariamente decisão da proferida (nº2, alínea b)).

A sentença ou o despacho saneador5 que se debruce sobre o mérito da causa fica a ter
força obrigatória dentro e fora do processo (artigo 619º, nº1), ao passo que a decisão
que recaia unicamente sobre a relação processual tem apenas força obrigatória dentro
deste (artigo 620º, nº1 CPC).

Capítulo II – Dos recursos

Entramos, agora, na forma de impugnação de decisões judiciais mais importante: os


recursos.
Os recursos traduzem-se no meio processual através do qual se pretende a
reapreciação de uma decisão judicial tomada por um tribunal (a quo) levada a cabo por
um outro hierarquicamente superior (ad quem). De facto, o artigo 627º, nº1 diz-nos
expressamente que o recurso é um meio de impugnação, cujo regime está disposto ao
longo dos subsequentes.
Não se poderá confundir esta figura com a sua reclamações, visto que estas
compreendem a retificação de erros materiais (artigo 614º CPC), o suprimento de
nulidades (artigo 615º CPC) e a reforma das sentenças (artigo 616º CPC) que, ao
contrário dos recursos, devem ser efetivadas pelo próprio juiz que proferiu a sentença.
Dentro do meio impugnatório - recurso, podemos distinguir duas espécies que, de
resto, estão previstas no artigo 627º, nº2 CPC: os recursos podem ser ordinários ou
extraordinários, conforme a decisão tenha ou não transitado em julgado – de facto, o
trânsito em julgado constitui o critério de distinção entre as duas espécies de recurso,
encontrando-se este consagrado no artigo 628º CPC. Este critério traduz-se na
imutabilidade e na cristalização da decisão judicial; pela impossibilidade de ser posta em
causa através da interposição do recurso ou de uma reclamação.
Por sua vez, dentro dos recursos ordinários podemos dar notícia dos recursos: de
revista – aqueles em que o tribunal a quo é o da Relação e o ad quem é o Supremo
Tribunal de Justiça, cujos regimes estão consagrados nos artigos 671º e 644º,
respetivamente; e dos de apelação – recorre-se para a 2ª Instância de uma decisão
proferida em 1ª Instância.
Por outro lado, no seio dos recursos extraordinários podemos conhecer dos recursos
para uniformização de jurisprudência e de revisão (artigos 691º e seguintes; e 696º e
seguintes, respetivamente).
Para que uma decisão seja suscetível de ser impugnada através de recurso, é necessário
que se deem como verificados os seguintes requisitos que, note-se, são cumulativos6.
Antes de mais, cumpre saber quem tem legitimidade para recorrer – dispõe o artigo
631º CPC que os recursos podem ser interpostos por quem, sendo parte principal na
causa, tenha ficado vencido (nº1). Excecionalmente, poderá conceber-se, tal como cita
o nº2 do mesmo preceito, um alargamento da legitimidade subjetiva para utilizar este

5
Saneador-sentença.
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Pelo que não se verificando um deles, cessa a possibilidade de interposição de recurso.

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meio processual: às pessoas diretas e efetivamente prejudicadas pela decisão; e aos que
a lei atribui interesse no nº3. Este direito ao recurso pode ser renunciado pelas partes,
mas quando esta for ambas (nº1, artigo 632º CPC). Obviamente que não poderá recorrer
quem tenha aceitado a decisão depois desta ter sido proferida 7.
Neste âmbito, cumpre abordar a possibilidade de ambas as partes poderem recorrer:
assim será quando estejam verificados os requisitos quanto à admissibilidade de recurso
– legitimidade, prazo, valor da ação e a sucumbência – em relação a ambas as partes.
Ainda assim, caso não estejam verificados os requisitos quanto a ambas as partes,
poderá suceder o seguinte: o autor (por estarem verificados, quanto a si, todos os
requisitos) interpõe recurso, mas o mesmo não se verifica em relação ao réu (por não
se encontrar preenchido, por exemplo, o requisito da sucumbência); todavia, este
poderá recorrer do recurso do autor numa relação de subordinação – falamos do
recurso subordinado. Neste caso, o prazo para a sua interposição será sempre contado
a partir da notificação da interposição do recurso independente8 (cf. artigo 633º, nº2).
Caso a parte recorrente “independente” desista do seu recurso, o recurso subordinado
caduca (nº3, artigo 633º CPC), e se o primeiro não for admitido, o segundo também não
o será; sendo o primeiro admitido, o segundo também o será (artigo 633º, nº5 CPC).

Posto isto, cumpre agora que nos debrucemos sobre os requisitos do recurso: (como
vimos) a legitimidade, o prazo, o valor da ação e a sucumbência.
- Legitimidade: este requisito encontra-se disposto no artigo 631º do CPC, donde
resulta que se verifiquem duas condições – que quem queira recorrer seja parte
principal na ação9; e que quem pretenda recorrer tenha ficado vencido, ou seja, que a
decisão lhe seja desfavorável (nº1). Todavia, o nº2 alarga este âmbito subjetivo às partes
que sejam direta e efetivamente prejudicadas pela decisão, ainda que sejam partes
acessórias (nº2); nos casos previstos no nº3, essa possibilidade é, ainda, admitida a
qualquer terceiro.
- Prazo: em primeiro lugar, importa referir qual a regra geral: dispõe o artigo 638º, nº1
1ª parte CPC, que o prazo (em regra) é de 30 dias, a contar da notificação da decisão10.
Por outro lado, a 2ª parte do mesmo preceito estabelece prazo diverso para os
processos urgentes11 - o de 15 dias. Solução esta que se estende, ainda, aos casos
previstos no nº2 do artigo 644º e no artigo 677º.
Dito isto, é de extrema importância fazer a seguinte ressalva: é que, quando o objeto
do recurso for a reapreciação da prova gravada, então, ao prazo para interposição de
recurso, acresce o prazo de 10 dias, conforme resulta do nº7 do artigo 638º.
Ademais, o prazo para contra-alegar é idêntico ao prazo concedido para a interposição
do recurso (nº5, artigo 638º).
Como efetuar a contagem dos prazos?

7
Exemplo disso é aquele que paga o montante a que foi condenado, ou aquele que durante o prazo
para recorrer mostrou uma total inércia.
8
I. é, o recurso interposto, in casu, pelo autor (em relação a quem, hipoteticamente, se verificarão
todos os requisitos de admissibilidade do recurso).
9
Ficando, por isso, excluídas do preceito as partes acessórias.
10
Em sentido amplo.
11
São estes os processos de acompanhamento a maior, os processos de insolvências e os
procedimentos cautelares.

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Quando não se trate de processos urgentes12, os prazos começam a contar-se a partir


da notificação da decisão. A partir daí, vigora a regra da continuidade dos prazos –
artigo 138º CPC -, donde resulta que os prazos apenas se suspendem nas férias judiciais
– cf. artigo 28º LOSJ. Eventualmente, se o prazo terminar num dia não útil 13, transfere-
se o seu termo para o dia útil seguinte – artigo 138º, nº2.
A lei concebe, ainda, a possibilidade de o recurso ser interposto fora do prazo 14, desde
que nos três dias úteis subsequentes ao termo do mesmo, mediante o pagamento de
uma multa – nos termos do artigo 139º, nº5.
A inércia que resultar na preclusão do prazo leva ao trânsito em julgado da sentença 15
e, outrossim, à impossibilidade de se interpor um recurso ordinário.
- Valor da ação: para que haja a possibilidade de se interpor recurso, o valor da ação
terá que ser, regra geral, superior ao valor da alçada16 do tribunal de que se recorre –
artigo 629º, nº1, 1ª parte.
- Sucumbência: disposto no artigo 629º, nº1, 2ª parte CPC, este requisito estabelece
que, para que exista a possibilidade de recorrer é necessário que a decisão impugnada
seja desfavorável ao recorrente em valor superior a metade da alçada do tribunal de
que se recorre.
Este valor representa o quantum da decisão que é desfavorável ao recorrente.

Todavia, a lei admite que, em certos casos, haja sempre a possibilidade de se recorrer
de uma decisão, ainda que não estejam verificados, concretamente, os referidos
requisitos – nomeadamente os do valor da alçada e o do valor da sucumbência. Neste
sentido, estabelece o artigo 629º, nº1 e nº3 os casos em que o recurso é sempre
admissível.

Os recursos interpõem-se por meio de requerimento ao juiz (ou, num sentido mais
amplo, ao tribunal) que proferiu a decisão recorrida – artigo 637º, nº1 CPC -, o qual
deverá conter a espécie de recurso, o efeito e o modo de subida deste; deverá
igualmente conter as alegações de facto e de direito que se visa impugnar, valendo,
neste contexto, o disposto nos artigos 640º e 639º, respetivamente.
O juiz, no entanto, poderá obstar à subida do recurso por despacho (artigo 641º, nº1),
indeferindo-o (nº2, alíneas a) e b) do mencionado preceito), sendo que do despacho de
indeferimento poderá caber reclamação – artigo 643º CPC.

Conforme foi dito, no seio dos recursos ordinários podemos conhecer os recursos de
apelação – que visa a impugnação de uma decisão proferida pela 1ª Instância, levada a
cabo pela Relação e cujas hipóteses se encontram previstas no artigo 644º CPC; e os
recursos de revista – que visam impugnar uma decisão proferida pela Relação, levada a
cabo pelo Supremo Tribunal de Justiça, nos termos dos artigos 671º e seguintes.

12
Aqui, os prazos não se suspendem nas férias judiciais.
13
Falamos de sábados, domingos e feriados.
14
Isto vale para qualquer ato.
15
Cf. artigo 628º CPC.
16
Cf. artigo 44º LOSJ – o valor da alçada dos tribunais de 1ª Instância é de 5 000 euros; e dos tribunais
da Relação é de 30 000 euros. O valor da alçada é o valor a partir do qual o tribunal julga com
possibilidade de recurso.

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Dito tudo isto, atente-se, finalmente, ao modo de subida e aos efeitos dos recursos.
Quanto ao modo de subida, dispõe o artigo 645º CPC que, em regra e no que respeita
às apelações (recursos de apelação), estas sobem em separado (nº2), salvo se
estivermos perante as situações previstas no nº1 – decisões que ponham termo ao
processo; que suspendam a instância; que indefira, o incidente processado por apenso;
ou que indefiram liminarmente ou não ordenem a providência cautelar.
Quanto aos efeitos da apelação são-lhe normalmente reconhecidos efeitos meramente
devolutivos (artigo 647º, nº1) – i. é, não impedem a interposição de uma ação executiva.
Excecionalmente, poderão ter efeitos suspensivos17 (nº2) – nomeadamente, nos casos
previstos no nº3; aqui, ocorre uma suspensão da possibilidade de proposição de uma
ação executiva, sendo certo que isto só sucede em hipóteses limitadas. Ainda assim, o
nº4 do artigo 647º admite a possibilidade de o recorrente poder requerer, no momento
da interposição do recurso, que a apelação tenha efeitos suspensivos, desde que a
execução da decisão lhe cause prejuízo considerável e se ofereça para prestar caução
(cf. artigo 650º CPC).

Notas finais:
- O processo é distribuído pela secretaria a um relator;
- Para além dos demais requisitos, para se recorrer para o supremo Tribunal de Justiça,
é necessário que apenas se suscitem questões de direito;
- Não poderá ser objeto de um recurso de revista, as decisões da Relação que confirme,
sem voto de vencido e com fundamentação idêntica da decisão proferida em 1ª
Instância – ao que doutrinalmente se chama dupla conforme (artigo 671º, nº3 CPC)18.
- Os recursos extraordinários poderão, por sua vez, ser de fixação de jurisprudência ou
de revisão – interpostos em relação a decisões já transitadas em julgado.

17
Suspende-se a execução da decisão até à prolação da decisão final sobre o recurso.
18
Poderá, todavia, haver lugar a uma revista excecional (cf. artigo 672º CPC).

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