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A ampliação do colegiado no juízo de admissibilidade da ação rescisória.

João Ricardo Camargo


MBA na Universidade de São Paulo. Membro do Conselho de Revisão e
Pesquisa da Editora Direito Contemporâneo. Associado do Instituto de Direito
Privado. Graduado em Direito pela Universidade Federal do Paraná. Advogado.
joaocamargo@aalvim.com.br

Novidade introduzida pelo CPC/2015, a técnica do julgamento


ampliado tem gerado bastante controvérsia na doutrina e na jurisprudência. O
tema é tão polêmico que, em 2020, foi apresentado o Projeto de Lei 3055/2020,
visando à revogação do art. 942 do CPC/15, que prevê o instituto.1

A possibilidade de reversão do resultado do julgamento não unânime


da ação rescisória – e também do recurso de apelação - já estava prevista no
CPC/73, ainda que por meio de outro caminho. No regime anterior, essa função
era exercida pelos embargos infringentes, recurso cabível nas hipóteses de
julgamento não unânime de procedência da apelação e da ação rescisória (art.
530 do CPC/73).

A opção do legislador de 2015 foi a de eliminar o recurso e tornar


automática – sem a exigência de provocação da parte – e obrigatória a técnica

1
O projeto apresentado conta com a seguinte redação: “Art. 1º Fica revogado o art. 942 da Lei
nº 13.105, de 16 de março de 2015 – Código de Processo Civil. Art. 2º Esta lei entra em vigor
na data de sua publicação”.
O Deputado Federal Reinhold Stephanes Jr., autor do projeto, na sua justificativa, elenca entre
as desvantagens da técnica do julgamento ampliado, o fato de haver “distinção da amplitude da
matéria que enseja a ampliação do colegiado: na apelação, basta a divergência, que pode
abranger inclusive as preliminares ao mérito; no agravo de instrumento, as divergências sobre
admissibilidade, o desprovimento ou a anulação por maioria, em tese, não justificam o emprego
da técnica. Na ação rescisória, a matéria é remetida “a órgão de maior composição”, o que dá a
impressão de que, exclusivamente nesta hipótese, será realizado novo julgamento, uma
espécie de remessa necessária”. Disponível em:
https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra?
codteor=1899782&filename=Tramitacao-PL%203055/2020, p. 3.
Em 10.2.2021, o Projeto de Lei foi recebido na Comissão de Constituição e Justiça. Até o
momento, o projeto não foi votado.
de ampliação do colegiado, desde que presentes alguns requisitos. 2 A
inobservância da regra resulta na violação de competência funcional.

Por se tratar, realmente, de prosseguimento do julgamento, até a


proclamação do resultado, é possível que aqueles julgadores que já votaram,
modifiquem o seu voto (art. 942, §2º). Aliás, por essa mesma razão, o STJ tem
entendido que, uma vez ampliado o colegiado, os novos julgadores devem
analisar e manifestar-se sobre todas as questões trazidas em apelação, agravo
de instrumento ou ação rescisória.3 Inclusive sobre aquelas a respeito das
quais a votação, anteriormente, tinha sido por unanimidade.

Sempre que possível, o prosseguimento dar-se-á na mesma sessão,


colhendo-se os votos dos demais julgadores do órgão colegiado que estejam
presentes, nos termos do art. 942, §1º do CPC. O que, evidentemente, vai ao
2
Nesse sentido, decidiu o STJ: “o art. 942 do CPC/2015 não estabelece nova espécie recursal,
mas técnica de julgamento, a ser aplicada de ofício, independentemente de requerimento das
partes, com o objetivo de aprofundar a discussão a respeito de controvérsia, de natureza fática
ou jurídica, acerca da qual houve dissidência. (…) 3. Recurso Especial provido”. (STJ, REsp n.
1.846.670/PR, 2ª T., j. 17.12.2019, rel. Min. Herman Benjamin, DJe 19.12.2019).

Não nos parece adequado tratar dessa técnica de julgamento como “embargos infringentes de
ofício” ou “recurso de ofício” ou, ainda, “espécie de embargos infringentes com remessa
necessária”, como pretendem, respectivamente, Jordão Violin (Dupla conformidade e
julgamento monocrático de mérito: os poderes do relator no Código de Processo Civil. In:
Revista de Processo. São Paulo: Revista dos Tribunais, vol. 267, 2017), José da Fonseca
Costa (Pequena história dos embargos infringentes no Brasil: uma viagem redonda. In: Novas
tendências do processo civil. Estudos sobre o projeto do novo Código de Processo Civil.
Baseado no relatório apresentado pelo Deputado Paulo Teixeira, na Comissão Especial
presidida pelo Deputado Fábio Trad. JusPodivm: Salvador: 2014, vol. II, p. 399) e Lenio Streck
e Ricardo Augusto Herzl (O que é isto – Os novos embargos infringentes? Uma mão dá e a
outra... Consultor Jurídico, 13 jan. 2015. Disponível em:
http://www.conjur.com.br/2015-jan-13/isto-novos-embargos-infringentes-mao-outra. Acesso em:
16.3.2023).
3
“A natureza jurídica do instituto previsto no art. 942 do CPC/15, substituto do revogado
embargos infringentes, é de técnica de julgamento, por meio da qual a sessão de julgamento
iniciada pelo colegiado original retoma após a convocação de novos julgadores, e não de
recurso com efeito devolutivo. Diante desse panorama, conclui-se que a incidência da técnica
de julgamento ampliado do art. 942 do CPC/15 não limita os julgadores convocados à análise
apenas da matéria decidida de forma não unânime pelo quórum original, deve, pois, ser
apreciado todo o conteúdo da apelação. Precedentes desta e. Terceira Turma. Hipótese em
que, ante o julgamento não unânime da apelação, houve a ampliação do quórum na forma do
art. 942 do CPC/2015. Entretanto, na continuação do julgamento foi excluído o tema sobre o
qual o colegiado original havia sido unânime, limitando-se os novos julgadores ao exame
apenas da matéria em que houve divergência. Assim, impõe-se o retorno dos autos à origem,
para que seja proferido novo julgamento, no qual deverão ser analisadas todas as alegações
suscitadas nas razões das apelações interpostas. Recurso especial de ROSANA DAUDT
PRIETO provido, com o retorno dos autos à origem. Recurso especial de CAIXA DE
PREVIDÊNCIA DOS FUNCIONÁRIOS DO BANCO DO BRASIL - PREVI prejudicado”. (STJ,
REsp n. 1.934.178/DF, 3ª T., j. 14.9.2021, rel. Min. Nancy Andrighi, DJe 16.9.2021).
encontro da necessidade de celeridade do julgamento. Se não for possível, o
julgamento prosseguirá em nova sessão, a que serão convocados outros
julgadores e será assegurado o direito à nova sustentação oral (art. 942, caput,
in fine).

A questão controversa, objeto deste artigo, gira em torno da


interpretação que tem sido dada pela doutrina e pela jurisprudência ao art. 942,
§3º, I do CPC/15, segundo o qual “A técnica de julgamento prevista neste
artigo aplica-se, igualmente, ao julgamento não unânime proferido em: I – ação
rescisória, quando o resultado for a rescisão da sentença…” (g. n.)

A doutrina manifesta-se, de forma unânime, no sentido da


inaplicabilidade da técnica prevista no art. 942 no juízo de admissibilidade da
ação rescisória. Sustentam essa posição, partindo de uma interpretação literal
do termo “rescisão”, que, segundo o que sustentam, refere-se, exclusivamente,
ao juízo rescidente, que visa à desconstituição da coisa julgada que recai sobre
o acórdão/decisão/sentença4 rescindenda.5
4
Já sustentamos em outro artigo nesta Coluna Questão de Direito a aplicabilidade do art. 942,
§3º, I do CPC/15 também no caso de rescisão de sentença/decisão interlocutória de mérito.
Disponível em: https://www.migalhas.com.br/coluna/questao-de-direito/395855/a-ampliacao-do-
colegiado-no-julgamento-da-acao-rescisoria.
5
Na doutrina, confiram-se: “o dissídio há de se verificar no iudicium rescindens, por somente
nesse caso o resultado majoritário é no sentido da ‘rescisão da sentença’ (art. 942, § 3.º, I).
Entendendo o órgão fracionário inadmissível a rescisória – primeira etapa do julgamento -, por
maioria, não caberá a ampliação do quórum, encerrando-se o julgamento com a proclamação
do resultado (art. 941, caput)” (g. n.). Araken de Assis. Ação rescisória. São Paulo: Thomson
Reuters Brasil, 2021, p. 553-554; “na hipótese de improcedência ou de extinção, sem
apreciação de mérito, não será aplicada a técnica do julgamento prolongado” (g. n.). José
Maria Câmara Júnior. Técnica de colegialidade no art. 942 do CPC. In: Questões relevantes
sobre recursos, ações de impugnação e mecanismos de uniformização da jurisprudência.
Cláudia Elisabete Schwerz Cahali, Cassio Scarpinella Bueno, Bruno Dantas, Rita Dias Nolasco
(Coords.). São Paulo: Revista dos Tribunais, 2017, p. 84; “a técnica de julgamento aplica-se
também à ação rescisória, quando houver rescisão da sentença, e, embora isto não esteja
escrito no referido texto, entendemos que também a acórdão, conforme o caso (não se
aplicando à decisão sobre o juízo de admissibilidade dessa ação, cf. STJ, REsp 1.762.236/SP,
rel. p/acórdão Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, 3.ª T., j. 19.02.2019; STJ, EDcl nos EDcl no
AgInt no REsp 1.739.593/ES, rel. Min. Mauro Campbell Marques, 2.ª T., j. 11.04.2019)” (g. n.).
José Miguel Garcia Medina. Código de processo civil comentado. 8ª ed. São Paulo: Thomson
Reuters Brasil, 2022, comentários ao art. 942, item II.
Aparentemente, nesse mesmo sentido: “Por fim, vale lembrar que, em caso de procedência do
juízo rescindente, por maioria de votos, o julgamento deverá ter prosseguimento em órgão de
maior composição conforme preveja o regimento interno do tribunal, por aplicação da técnica
de julgamento prevista no art. 942, § 3º, I, do CPC/2015.” (g. n.) Arruda Alvim. Contencioso
cível no CPC/2015. 2ª ed. São Paulo: Thomson Reuters Brasil, 2022, p. 609; “A sessão
suplementar de julgamento, imediata e sem necessidade de requerimento da parte, também se
aplica na rescisória julgada procedente (o que também admitia EI, de acordo com o
Esse raciocínio traz um critério diferenciador injustificado, que, a nosso
ver, não encontra amparo legal, entre as 3 (três) etapas sucessivas que podem
ocorrer no julgamento da ação rescisória: (i) juízo de admissibilidade; (ii) juízo
rescindente e (iii) juízo rescisório.

O julgamento da ação rescisória comporta, em tese, três etapas: (i) o


juízo de admissibilidade da ação, momento que se verifica se estão presentes
os pressupostos de admissibilidade (v.g. depósito prévio de 5% sobre o valor
da causa; análise da legitimidade ativa e passiva; se a causa de pedir se
encaixa em alguma das hipóteses de fundamento prevista no art. 966…), (ii) o
juízo rescindente, em que se decide se a coisa julgada que recai sobre o
acórdão/sentença será ou não desconstituída; uma vez desconstituída, reabre-
se o litígio para que, se for o caso, (iii) o juízo rescisório, fase em que a
demanda é julgada novamente – esta fase nem sempre ocorre. (v.g. haverá o
rejulgamento da demanda se a ação rescisória for fundada, por exemplo, em
prova nova ou erro de fato, e, evidentemente, passar pelos dois juízos
anteriores).

Não se olvida que existam diferenças ontológicas entre os 3 (três)


juízos. Essas diferenças, contudo, são irrelevantes como condição de eficácia
da técnica prevista no art. 942, §3º, I do CPC/15.

O STJ já manifestou sobre o tema, no julgamento dos EDcl nos EDcl


no AgInt no REsp 1.739.593/ES, de relatoria do Min. Mauro Campbell, ocorrido
em 11.4.2019, do qual se extrai o seguinte trecho do voto do relator: “não

ex-CPC/1973 530); nesse caso, isso pode ocorrer tanto na avaliação do iudicium
rescissorium (rejulgamento da lide) quanto na do iudicium rescindens (acolhimento puro e
simples da pretensão rescisória de anulação do julgado), como já se defendia na vigência do
CPC/1973”. Nelson Nery Jr. e Rosa Maria de Andrade Nery. Código de Processo Civil
comentado. 21. ed. São Paulo: Thomson Reuters Brasil, 2022, comentários ao art. 942, item
11; “No caso da ação rescisória, por sua vez, o julgamento colegiado ampliado será aplicável
quando o resultado não unânime restar proclamado em relação à rescisão da sentença,
devendo, nessa hipótese, conforme expressa previsão legal, seu prosseguimento ocorrer em
órgão de maior composição previsto no regimento interno” (g. n.). Daniel Willian Granado e
Renato Caldeira Grava Brazil. O julgamento colegiado nos tribunais à luz da técnica de
ampliação trazida pelo art. 942 do Código de Processo Civil de 2015: aplicação e abrangência.
In: Revista de Processo, vol. 328, São Paulo: Thomson Reuters Brasil, 2022, versão eletrônica.
remanesce espaço para a aplicação da técnica de julgamento prevista no artigo
942, § 3º, I, do CPC/2015, que só se admitiria nas hipóteses de julgamentos
não unânimes quanto ao iudicium rescindens ou ao indicium rescissorium, não
se aplicando ao capítulo que trata da admissibilidade da ação rescisória, uma
vez que esta parte não é um capítulo de mérito capaz de rescindir a coisa
julgada, cuidando-se apenas de uma questão prejudicial de mérito.” (g. n.).6

A interpretação adotada pelo STJ estendeu a ampliação do colegiado


também para a terceira fase, isto é, para o juízo rescisório, naqueles casos em
que a demanda deve ser rejulgada. No entanto, afastou a técnica de ampliação
do colegiado no juízo de admissibilidade, sob o fundamento de que esta fase
do julgamento não versa sobre mérito, que poderia levar à rescisão da coisa
julgada, tratando-se apenas de “prejudicial” (rectius: preliminar) de mérito.

O argumento adotado pelo acórdão acima, embora, em parte,


processualmente correto, não se sustenta do ponto de vista do ordenamento
jurídico, pois é incoerente com o contexto normativo em que a regra processual
está inserida e se fasta da ratio adotada pelo STJ em relação à aplicação do
art. 942 no juízo de admissibilidade do recurso de Apelação.

A nosso ver, o legislador do CPC/15 não teria condicionado a aplicação


da técnica de ampliação do colegiado, quer seja no julgamento da Apelação,
quer seja no julgamento da Ação Rescisória, à fase de mérito. Se cogitarmos
que assim o fez, teria feito exclusivamente para a Ação Rescisória? Se sim,
qual a racionalidade jurídica de tratamento diverso?

Segundo pensamos, não há razões objetivas e jurídicas para esse


discrimen. Aliás, o art. 943, §3º, I, deve ser lido cum grano salis, pois incide em
imprecisões técnicas já criticadas por nós em outra oportunidade 7 – ao prever

6
(STJ, EDcl nos EDcl no AgInt no REsp n. 1.739.593/ES, 2ª T., j. 11.4.2019, rel. Min. Mauro
Campbell Marques, DJe 22.4.2019).
7
Em artigo publicado anteriormente nesta Coluna Questão de Direito, defendemos a aplicação
do art. 942, §3º, I do CPC/15 também no caso de rescisão de sentença/decisão interlocutória
de mérito. Disponível em: https://www.migalhas.com.br/coluna/questao-de-direito/395855/a-
ampliacao-do-colegiado-no-julgamento-da-acao-rescisoria.
apenas “rescisão de sentença” – que, se levadas à risca, esvaziariam
irremediavelmente a regra.

O afastamento da interpretação literal da lei se justifica, nesse


contexto, por razões de justiça e de coerência do sistema, que nos levam a
defender a necessidade de um ajuste da regra positivada. A nosso ver, a
solução justa e coerente com o contexto normativo em que a regra está
inserida é aquela que não cria distinção entre as 3 fases de julgamento da ação
rescisória para fins de aplicação do art. 942 do CPC.

A 3ª e a 4ª Turmas do STJ já decidiram, a nosso ver, com inteiro


acerto, que a técnica de ampliação do colegiado é aplicável ao juízo de
admissibilidade da apelação.

No julgamento do REsp 1.798.705/SC, de relatoria do Min. Paulo de


Tarso Sanseverino, ficou consignado que “o art. 942 do CPC enuncia uma
técnica de observância obrigatória pelo órgão julgador e deve ser aplicada no
momento imediatamente posterior à colheita dos votos e à constatação do
resultado não unânime quanto à preliminar. Logo, o Tribunal de origem, ao
deixar de ampliar o quórum da sessão realizada no dia 9/6/2016, diante da
ausência de unanimidade com relação à preliminar de não conhecimento da
apelação interposta de forma adesiva pelo autor, inobservou o enunciado
normativo inserto no art. 942 do CPC, sendo de rigor declarar a nulidade desse
julgamento por error in procedendo” (g. n.).8

8
“O art. 942 do CPC não determina a ampliação do julgamento apenas em relação às
questões de mérito. Na apelação, a técnica de ampliação do colegiado deve ser aplicada
a qualquer julgamento não unânime, incluindo as questões preliminares relativas ao
juízo de admissibilidade do recurso. No caso, o Tribunal de origem, ao deixar de ampliar o
quórum da sessão realizada no dia 9/6/2016, diante da ausência de unanimidade com relação
à preliminar de não conhecimento da apelação interposta de forma adesiva pelo autor,
inobservou o enunciado normativo inserto no art. 942 do CPC, sendo de rigor declarar a
nulidade por ‘error in procedendo’. Ainda que a preliminar acolhida pelo voto minoritário careça
de previsão legal, inviável ao Superior Tribunal de Justiça sanar a nulidade apontada, pois o
art. 942 do CPC enuncia uma técnica de observância obrigatória pelo órgão julgador, devendo
ser aplicada no momento imediatamente posterior à colheita dos votos e à constatação do
resultado não unânime quanto à preliminar. (…) RECURSO ESPECIAL PROVIDO PARA
DECLARAR A NULIDADE DO JULGAMENTO DAS APELAÇÕES, DETERMINANDO O
RETORNO DOS AUTOS AO TRIBUNAL DE ORIGEM PARA QUE SEJA CONVOCADA NOVA
SESSÃO PARA PROSSEGUIMENTO DO JULGAMENTO.”. (STJ, REsp 1.798.705/SC, 3ª T., j.
22.10.2019, rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, DJe 28.10.2019).
As razões determinantes desse acórdão – a ratio decidendi – levam a
que se admita a ampliação do colegiado no juízo de admissibilidade também
da ação rescisória.

Poder-se-ia cogitar, a título meramente hipotético, de um argumento no


sentido de que à autoridade da coisa julgada dever-se-ia dar primazia,
afastando, em caso de divergência no juízo de admissibilidade da rescisória, a
aplicação do art. 942 do CPC. Também não poderíamos concordar com esse
argumento, até porque, verificar se a coisa julgada será desconstituída ou não,
é algo que só se viria a saber quando da realização do juízo rescindente, na
segunda fase.

Em nosso sentir, havendo voto divergente no juízo de admissibilidade


da ação rescisória, em quaisquer de suas fases, deve-se aplicar a técnica
prevista no art. 942, §3º, I do CPC/15. É a interpretação que, a nosso ver, pode
dar máximo rendimento à regra da ampliação do colegiado e, sobretudo, não
cria uma distinção estrutural desprovida de racionalidade jurídica.

No mesmo sentido, mais recentemente, veja-se acórdão da 4ª Turma: “AGRAVO INTERNO


NOS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL - AÇÃO
CONDENATÓRIA - DECISÃO MONOCRÁTICA QUE CONHECEU DO AGRAVO PARA DAR
PARCIAL PROVIMENTO AO APELO EXTREMO DA PARTE ADVERSA. IRRESIGNAÇÃO
DOS AUTORES. 1. ‘O art. 942 do CPC não determina a ampliação do julgamento apenas em
relação às questões de mérito. Na apelação, a técnica de ampliação do colegiado deve ser
aplicada a qualquer julgamento não unânime, incluindo as questões preliminares relativas ao
juízo de admissibilidade do recurso.’ (REsp 1798705/SC, Rel. Ministro PAULO DE TARSO
SANSEVERINO, TERCEIRA TURMA, DJe 28/10/2019). 2. Agravo interno desprovido”. (STJ,
AgInt nos EDcl no AREsp n. 1.601.037/PR, 4ª Turma, j. 8.6.2020, rel. Min. Marco Buzzi, DJe
23.6.2020).

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