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Rodrigo Alvarez

ENDEREÇAMENTO

Autos nº XXXXXXX

TÍCIO, já devidamente qualificado nos autos supra, por


intermédio do advogado que esta subscreve, vem à presença de
Vossa Excelência, requerer a SUSPENSÃO DO PROCESSO
pelos fatos e fundamentos a seguir expostos:

I - DOS FATOS

O réu está sendo denunciado pelo Ministério Público pela


suposta prática do delito previsto no artigo XX do Código Penal
que comporta a aplicação do acordo de não persecução penal.

A defesa requereu às fls. XX que os autos fossem


encaminhados ao Ministério Público para proposta do acordo de
não persecução penal, já que o réu preenche os requisitos
legais.

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O membro do Ministério Público manifestou-se às fls. XX


contrariamente ao requerimento defensivo, tendo em vista que o
processo já se encontrava em andamento, com denúncia já
recebida, e, portanto, não seria cabível a oferta do acordo.

Nesse passo, a defesa requereu que os autos fossem


encaminhados à Procuradoria Geral de Justiça, na forma do
artigo 28-A, §14º, CPP, o que foi deferido pelo Juízo (fls. XX).

A Procuradoria Geral de Justiça manteve a negativa da


proposta nos mesmos moldes da decisão do Promotor de
Justiça.

Com isso, os autos retornaram para seu regular


processamento.

II - DOS FUNDAMENTOS

Ante o exposto, temos que a medida mais adequada ao


presente caso é a suspensão do processo nos moldes da
decisão liminar concedida no dia 20/01/2022 no ​HC
211.360/SC pelo ministro Ricardo Lewandowski. Explico.

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A aplicação retroativa do acordo de não persecução penal


em processos em andamento é plenamente possível e
amparada pela grande maioria da melhor doutrina brasileira.

Neste sentido:

MENDES, Tiago Bunning. LUCCHESI, Guilherme


Brenner. Lei Anticrime. A (re) forma penal e a
aproximação de um sistema acusatório? São Paulo:
Tirant Lo Blanch, 2020, p. 71.
LIMA, Renato Brasileiro. Manual de Processo Penal.
8ª Ed. Salvador: Juspodivm, 2020, p. 279.
LOPES JUNIOR, Aury. Direito processual penal. 17ª
ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2020. p. 318.
DEZEM, Guilherme Madeira e SOUZA, Luciano
Anderson de. Comentários ao Pacote Anticrime. São
Paulo: Thomson Reuters Brasil, 2020. p. 68.
JUNQUEIRA, Gustavo et al. Lei anticrime comentada:
artigo por artigo. São Paulo: Saraiva Educação, 2020,
p. 175.
CABRAL, Rodrigo Leite Ferreira. Manual do acordo
de não persecução penal. Salvador: Juspodivm,
2020, p. 213.
DE BEM, Leonardo; MARTINELLI, João Paulo. O
limite temporal da retroatividade do acordo de não
persecução penal. Acordo de não persecução penal.
Belo Horizonte: D'Plácido, 2020.

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Ocorre que o tema gerou controvérsia e insegurança jurídica


na jurisprudência, havendo divergência de decisões nos
tribunais superiores.

Tal situação levou o STF, em decisão proferida pelo Ministro


Gilmar Mendes no HC nº 185.913, afetar a discussão ao
Plenário "(...) para que se assente um precedente representativo
sobre o tema, com eventual fixação de tese a ser replicada em
outros casos e juízos (...) Reitera-se, portanto, que a
retroatividade e potencial cabimento do acordo de não
persecução penal (art. 28-A do CPP) é questão afeita à
interpretação constitucional, com expressivo interesse
jurídico e social, além de potencial divergência entre
julgados." (HC 185913).

O tema está em vias de pacificação perante o STF, inclusive


já tendo sido proferido voto favorável do Ministro Relator
Gilmar Mendes, vejamos:

É cabível o acordo de não persecução penal em


casos de processos em andamento (ainda não
transitados em julgado) quando da entrada em
vigência da Lei 13.964/2019, mesmo se ausente
confissão do réu até aquele momento. Ao órgão
acusatório cabe manifestar-se motivadamente sobre
a viabilidade de proposta, conforme os requisitos

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previstos na legislação, passível de controle, nos


termos do art. 28-A, § 14, do CPP. (grifos nossos).

Por este motivo, conforme ressaltamos anteriormente, foi


concedida medida liminar pelo Ministro Ricardo Lewandowski
no HC 211.360/SC, para suspender a execução de pena e o
prazo prescricional, em recente decisão proferida no dia 20 de
janeiro de 2022.

(...) Todavia, no que se refere ao pleito de aplicação


retroativa do Acordo de Não Persecução Penal
(ANPP), em que pese a reprimenda corporal do
paciente ter sido substituída por duas sanções
restritivas de direitos (págs. 49-51 do doc. eletrônico
18), reconheço que a matéria é de alta indagação
e merece uma análise mais verticalizada. Aliás, a
matéria encontra-se afetada ao Plenário do STF
nos autos do HC 185.913/DF, de relatoria do
Ministro Gilmar Mendes, oportunidade em que
este Supremo Tribunal examinará as seguintes
questões: “a) O ANPP pode ser oferecido em
processos já em curso quando do surgimento da
Lei 13.964/19? Qual é a natureza da norma
inserida no art. 28-A do CPP? É possível a sua
aplicação retroativa em benefício do imputado? b)
É potencialmente cabível o oferecimento do ANPP

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mesmo em casos nos quais o imputado não tenha


confessado anteriormente, durante a investigação
ou o processo?”. Ante o exposto, defiro a liminar
para suspender a execução da pena imposta ao
paciente nos autos da Ação Penal
5011183-37.2015.4.04.7200/SC, da 7ª Vara Federal
de Florianópolis/SC, bem como o respectivo prazo
prescricional, até o julgamento de mérito do HC
185.913/DF, por esta Suprema Corte.
Comunique-se. Publique-se. Brasília, 20 de janeiro
de 2022. Ministro Ricardo Lewandowski Relator. STJ.

Considerando que a decisão do Plenário do STF colocará


fim à controvérsia atualmente existente, entendemos como
necessária a suspensão do presente processo para, além de
resguardar os direitos do acusado, evitar decisão conflitante e
consagrar os princípios da economia e celeridade processual.

III - DOS PEDIDOS

Ante o exposto, requer a Vossa Excelência a suspensão do


presente feito, até o julgamento de mérito do HC 185.913/DF,
pelo STF em consonância com a decisão proferida pelo Ministro
Ricardo Lewandowski no HC 211.360/SC.

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Por fim, utilizo o precedente acima citado para, em caso de


negativa da suspensão do processo, faça Vossa Excelência a
distinção dos casos (distinguishing) ou superação do
entendimento (overruling), com fundamento no Art. 315, § 2º, VI
do CPP, sob pena de nulidade da decisão por falta de
fundamentação.

____________, _______ de _______ de 202___.

_________________________
Advogado

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