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TRABALHO COMPLEMENTAR À PRIMEIRA AVALIAÇÃO:

INCIDENTES PROCESSUAIS, QUESTÕES PRELIMINARES E


MEDIDAS ASSECURATÓRIAS

Direito Processual Penal II


Professora Ana Paula Bustamante
Campus Nova Iguaçu - IM/ Turma 2023.2
Ruth Talita Portella Lima - Matrícula 20200033528
Yasmim Morais Neves Cruz - Matrícula 20200018393
1- Márcio foi denunciado pelo crime de bigamia. O advogado de defesa
peticionou ao juízo criminal requerendo a suspensão da ação penal, por
entender que o primeiro casamento de Márcio padecia de nulidade, fato que
gerou ação civil anulatória, em trâmite perante o juízo cível da mesma
comarca. Nessa situação hipotética,

a) a ação penal deverá ser suspensa até que a nulidade do primeiro casamento de Márcio
seja resolvida definitivamente no juízo cível.
b) deverá o juízo criminal, de ofício, extinguir a punibilidade de Márcio, uma vez que
o delito de bigamia foi revogado.
c) considerando-se a independência das instâncias, o processo criminal deverá ter
seguimento independentemente do desfecho da ação anulatória civil.
d) apesar de as instâncias cível e criminal serem independentes, o juízo criminal
poderá, por cautela, determinar a suspensão da ação penal até que se resolva, no juízo
cível, a controvérsia relativa à nulidade do primeiro casamento de Márcio.

Resposta: A

A afirmação da letra A está correta, pois se pauta na autorização prevista no art. 92 do


CPP.
Art. 92. Se a decisão sobre a existência da infração depender da solução de
controvérsia, que o juiz repute séria e fundada, sobre o estado civil das pessoas, o
curso da ação penal ficará suspenso até que no juízo cível seja a controvérsia
dirimida por sentença passada em julgado, sem prejuízo, entretanto, da inquirição
das testemunhas e de outras provas de natureza urgente.

A alternativa B está incorreta, pois o crime de bigamia está vigente e presente no artigo
235 do Código Penal.

Art. 235 - Contrair alguém, sendo casado, novo casamento:


Pena - reclusão, de dois a seis anos.
§ 1º - Aquele que, não sendo casado, contrai casamento com pessoa casada, conhecendo essa
circunstância, é punido com reclusão ou detenção, de um a três anos.
§ 2º - Anulado por qualquer motivo o primeiro casamento, ou o outro por motivo que não a
bigamia, considera-se inexistente o crime.

A alternativa C está incorreta, pois muito embora haja a independência entre as


instâncias, a legislação processual penal dispõe que quando a decisão sobre existência de
infração depender de solução no juízo cível, a ação penal deverá ser suspensa.

A alternativa D está incorreta, pois, neste caso, o juiz não apenas poderá, mas deverá
suspender, pois a controvérsia é sobre o estado civil de Márcio.

Assim, a suspensão é obrigatória, porque trata-se de uma questão prejudicial


heterogênea, devolutiva absoluta e obrigatória, conforme dispõe o artigo 92 do código de
processo penal.

Classificação das questões prejudiciais presentes no caso de Márcio:

Quanto a natureza, a questão prejudicial será heterogênea, pois a questão processual


pertence a outro ramo do direito.

Quanto a competência para julgar, a questão prejudicial será devolutiva absoluta e, por
consequência, serão sempre julgadas por um juiz não criminal.

Quanto aos efeitos, a questão prejudicial será obrigatória, ou também, em sentido estrito
ou necessária. Dessa forma, o juiz penal deve suspender o julgamento da questão principal até
o julgamento da questão prejudicial por um juízo não criminal.

2- Em relação às exceções previstas na legislação processual penal, assinale a


alternativa correta.

a) A arguição de suspeição sempre precederá a qualquer outra.


b) Se for arguida a suspeição do órgão do Ministério Público, o juiz, depois de ouvi-
lo, decidirá, sem recurso, podendo antes admitir a produção de provas no prazo
de 10 (dez) dias.
c) Poderá se opor suspeição às autoridades policiais nos atos do inquérito
d) As exceções serão processadas em autos apartados e não suspenderão, em regra,
o andamento da ação penal.

Resposta: D

A afirmação da letra D está correta, pois reproduz texto de lei do art. 111 do Código de
Processo Penal: “As exceções serão processadas em autos apartados e não suspenderão,
em regra, o andamento da ação penal”.
Ademais, para corroborar tal entendimento, cabe mencionar posicionamento do STJ
abaixo transcrito:

PROCESSUAL PENAL. MANDADO DE SEGURANÇA. DECISÃO JURISDICIONAL.


INEXISTÊNCIA DE MANIFESTA ILEGALIDADE OU TERATOLOGIA. EXCEÇÃO
DE INCOMPETÊNCIA. ART. 111 DO CPP. AUSÊNCIA DE SUSPENSÃO, EM REGRA,
DA AÇÃO PENAL. PRECEDENTES. PERDA SUPERVENIENTE DO INTERESSE DE
AGIR. DECISÃO DA TERCEIRA SEÇÃO, NO CC 145.705/DF. 1. Trata-se de Agravo
Regimental de decisão que extinguiu liminarmente Mandado de Segurança impetrado contra
ato do e. Ministro Ribeiro Dantas, Relator dos Habeas Corpus 333.677/PR, 338.919/PR,
339.340/PR, 339.157/PR; e dos Recursos Ordinários em Habeas Corpus 65.462/PR e
65.756/PR. 2. Em síntese, sustentam os agravantes que, apesar de opostas Exceções de
Incompetência naqueles processos, a autoridade coatora proferiu decisões nos autos
principais. 3. O cabimento de Mandado de Segurança contra decisão jurisdicional é medida
excepcional, cuja admissibilidade pressupõe a ausência de previsão legal de recurso para
impugnar o ato e a demonstração de teratologia ou flagrante ilegalidade ( AgRg no MS
19.238/MT, Rel. Ministro Castro Meira, Corte Especial, DJe 16/11/2012; AgRg no MS
18.515/RJ, Rel. Ministro Humberto Martins, Corte Especial, DJe 18/9/2012). 4. No âmbito
penal, o art. 111 do CPP estabelece que "As exceções serão processadas em autos
apartados e não suspenderão, em regra, o andamento da ação penal". A ausência de
suspensão do Processo Penal pela simples oposição de Exceções é entendimento
consolidado no âmbito dos Tribunais Superiores ( HC 66.157, Rel. Min. Francisco
Rezek, Segunda Turma, DJ 26.8.1988; HC 117.758/MT, Rel. Ministra Laurita Vaz,
Quinta Turma, DJe 13/12/2010; RHC 12.742/SP, Rel. Ministro Jorge SCARTEZZINI,
Quinta Turma, DJ 25/2/2004, p. 188). 5. Desse modo, os agravantes não demonstraram,
de plano, a ocorrência de manifesta teratologia ou abusividade por parte do e. Ministro
Relator dos Habeas Corpus 333.677/PR, 338.919/PR, 339.340/PR, 339.157/PR; e dos
Recursos Ordinários em Habeas Corpus 65.462/PR e 65.756/PR. 6. Ademais, a hipótese é
de perda superveniente do interesse de agir, uma vez que, em última análise, o presente
Mandado de Segurança questiona a competência por prevenção do e. Ministro Ribeiro
Dantas para o julgamento dos Habeas Corpus e dos Recursos Ordinários em Habeas Corpus
acima referidos. Contudo, no CC 145.705/DF, a Terceira Seção definiu que o Ministro Felix
Fischer passará a ser Relator, no STJ, de todos os processos conexos à denominada Operação
Lava Jato, nos quais se incluem aqueles. 7. Agravo Regimental não provido.
(STJ - AgRg no MS: 22244 DF 2015/0300611-1, Relator: Ministro HERMAN BENJAMIN,
Data de Julgamento: 16/11/2016, CE - CORTE ESPECIAL, Data de Publicação: DJe
30/11/2016) - grifo nosso-

Ainda, a opção A está parcialmente incorreta haja vista que não menciona ressalva
expressa do art. 96 do Código de Processo Penal, a saber: “A arguição de suspeição
precederá a qualquer outra, salvo quando fundada em motivo superveniente”.

A alternativa B está incorreta, pois o prazo previsto no art. 104 do CPP no tocante
ao tempo pelo qual o juiz poderá admitir a produção de provas na hipótese de arguição
de suspeição do órgão do Ministério Público é de 3 (três) dias, e não 10 (dez) dias, como
sugere a alternativa.

A opção C está incorreta, vez que o art. 107 do Código de Processo Penal afirma:
“Não se poderá opor suspeição às autoridades policiais nos atos do inquérito, mas deverão
elas declarar-se suspeitas, quando ocorrer motivo legal”.

Por último, é necessário apontar que o artigo em questão é alvo de severas críticas
doutrinárias.

O grande processualista penal, Aury Lopes Jr. possui posicionamento relevante


sobre o assunto:

“Não se poderá opor suspeição às autoridades policiais, nos atos do


inquérito, mas deverão elas declarar-se suspeitas, quando ocorrer motivo
legal, prevê o art. 107 do CPP. A opção legal – como ocorre em tudo o que
se relaciona ao inquérito policial – é péssima. Se o CPP cria um dever legal
para que os policiais se declarem suspeitos, obviamente deve haver um
instrumento de controle do cumprimento desse dever. Ou seja, se a
autoridade policial silenciar, nada mais poderá ser feito, o que constitui, no
mínimo, uma aberração jurídica”.

3- Em relação ao incidente de falsidade, é correto afirmar que

a) se reconhecida a falsidade por decisão irrecorrível, mandará desentranhar o


documento e remetê-lo, com os autos do processo incidente, ao Ministério
Público.
b) arguida, por escrito, a falsidade de documento constante dos autos, o juiz
observará o seguinte processo: andará autuar em apartado a impugnação e em
seguida ouvirá a parte contrária, que, num prazo de 24 (vinte a quatro) horas,
oferecerá resposta.
c) a arguição de falsidade, feita por procurador, não exige poderes especiais.
d) o juiz não poderá, de ofício, proceder à verificação da falsidade.
Resposta: A

A questão trata do capítulo do CPP correspondente ao incidente de falsidade. Logo, necessária


é sua menção:

CAPÍTULO VII
DO INCIDENTE DE FALSIDADE
Art. 145. Arguida, por escrito, a falsidade de documento constante dos autos, o juiz
observará o seguinte processo:
I - Mandará autuar em apartado a impugnação, e em seguida ouvirá a parte
contrária, que, no prazo de 48 horas, oferecerá resposta;
II - assinará o prazo de três dias, sucessivamente, a cada uma das partes, para
prova de suas alegações;
III - conclusos os autos, poderá ordenar as diligências que entender
necessárias;
IV - se reconhecida a falsidade por decisão irrecorrível, mandará
desentranhar o documento e remetê-lo, com os autos do processo
incidente, ao Ministério Público.

Art. 146. A arguição de falsidade, feita por procurador, exige poderes especiais.
Art. 147. O juiz poderá, de ofício, proceder à verificação da falsidade.
Art. 148. Qualquer que seja a decisão, não fará coisa julgada em prejuízo de ulterior
processo penal ou civil.

A afirmação da letra A está correta, haja vista a literalidade do art. 145, IV do Código
de Processo Penal: “se reconhecida a falsidade por decisão irrecorrível, mandará desentranhar
o documento e remetê-lo, com os autos do processo incidente, ao Ministério Público”.

A opção B está errada pois, conforme explicado acima em texto de lei, o prazo é de 48
(quarenta e oito) horas para manifestação da parte contrária no referido incidente, e não 24
(vinte e quatro) horas como exposto na alternativa.

A alternativa C está errada, pois a teor do disposto no art. 146 do Código de Processo
Penal, “a arguição de falsidade, feita por procurador, exige poderes especiais”.

A opção D está incorreta, visto que o magistrado poderá sim, de ofício, proceder à
verificação da falsidade.

4- Acerca de incidente de insanidade mental do acusado, assinale a opção correta.

a) Não se admite a instauração de exame de sanidade mental do acusado após o


trânsito em julgado da sentença penal condenatória, uma vez que a medida não
terá mais eficácia.
b) O exame de avaliação da saúde mental do acusado poderá ser ordenado na fase
do inquérito, mediante representação da autoridade policial ao juiz competente.
c) Caso seja comprovada a insanidade mental do acusado, ao tempo da infração
penal, o processo deverá ser imediatamente extinto, decretando-se a extinção da
punibilidade do réu.
d) Para efeito do exame, o acusado acometido de insanidade mental, se estiver
preso, deverá ser imediatamente libertado, para que a família o conduza para a
análise clínica em estabelecimento que entenda adequado.

Resposta: B

A afirmação da letra B está correta, pois nos termos do art. 149, § 1º, do CPP, o exame de
insanidade poderá ser ordenado ainda na fase do inquérito, mediante representação da
autoridade policial ao juiz competente.
Essa possibilidade foi alvo de julgamento do TJRS, no qual demonstrou-se o mesmo
entendimento do texto de lei supracitado, na ementa abaixo:

HABEAS CORPUS. INCIDENTE DE SANIDADE MENTAL. FALSIFICAÇÃO DE


DOCUMENTO PÚBLICO (ART. 298, DO CP). INIMPUTABILIDADE. SEDE DE
INVESTIGAÇÃO. ART. 149, DO CPP. Sendo o delito de falsificação de documento
particular objeto de ação penal pública incondicionada, não há ilegalidade nas atuações do
Magistrado de Origem e do Ministério Público em sua condução e na ordem de instauração
do incidente de sanidade mental que lhe é decorrente. Este, ademais, pode ser ordenado
ainda na fase do inquérito, como disposto no § 1º, do art. 149, do CPP. A existência de
sentença de interdição, no juízo cível, não supera a necessidade de realização de perícia
para o fim de averiguação do estado do agente e sua relação com o delito, em tese,
praticado.ORDEM DENEGADA.
(TJ-RS - HC: 70064723083 RS, Relator: Rogerio Gesta Leal, Data de Julgamento:
23/07/2015, Quarta Câmara Criminal, Data de Publicação: 17/08/2015) - grifo nosso -

Além disso, dado que a questão trata, basicamente, sobre o incidente de insanidade
mental, disciplinado no artigo 149 a 154 e 682 do CPP, imprescindível se faz sua citação.

CAPÍTULO VIII

DA INSANIDADE MENTAL DO ACUSADO


Art. 149. Quando houver dúvida sobre a integridade mental do acusado, o juiz ordenará, de
ofício ou a requerimento do Ministério Público, do defensor, do curador, do ascendente,
descendente, irmão ou cônjuge do acusado, seja este submetido a exame médico-legal.

§ 1º O exame poderá ser ordenado ainda na fase do inquérito, mediante representação


da autoridade policial ao juiz competente.

§ 2º O juiz nomeará curador ao acusado, quando determinar o exame, ficando suspenso o


processo, se já iniciada a ação penal, salvo quanto às diligências que possam ser prejudicadas
pelo adiamento.

Art. 150. Para o efeito do exame, o acusado, se estiver preso, será internado em
manicômio judiciário, onde houver, ou, se estiver solto, e o requererem os peritos, em
estabelecimento adequado que o juiz designar.

§ 1º O exame não durará mais de quarenta e cinco dias, salvo se os peritos demonstrarem a
necessidade de maior prazo.

§ 2º Se não houver prejuízo para a marcha do processo, o juiz poderá autorizar sejam os
autos entregues aos peritos, para facilitar o exame.

Art. 151. Se os peritos concluírem que o acusado era, ao tempo da infração,


irresponsável nos termos do art. 22 do Código Penal, o processo prosseguirá, com a
presença do curador.

Art. 152. Se se verificar que a doença mental sobreveio à infração o processo continuará
suspenso até que o acusado se restabeleça, observado o § 2o do art. 149.

§ 1º O juiz poderá, nesse caso, ordenar a internação do acusado em manicômio judiciário ou


em outro estabelecimento adequado.

§ 2º O processo retomará o seu curso, desde que se restabeleça o acusado, ficando-lhe


assegurada a faculdade de reinquirir as testemunhas que houverem prestado depoimento sem
a sua presença.

Art. 153. O incidente da insanidade mental processar-se-á em auto apartado, que só depois
da apresentação do laudo, será apenso ao processo principal.

Art. 154. Se a insanidade mental sobrevier no curso da execução da pena, observar-se-á o


disposto no art. 682.

Art. 682. O sentenciado a que sobrevier doença mental, verificada por perícia médica,
será internado em manicômio judiciário, ou, à falta, em outro estabelecimento
adequado, onde lhe seja assegurada a custódia.

§ 1º Em caso de urgência, o diretor do estabelecimento penal poderá determinar a remoção


do sentenciado, comunicando imediatamente a providência ao juiz, que, em face da perícia
médica, ratificará ou revogará a medida.

§ 2º Se a internação se prolongar até o término do prazo restante da pena e não houver sido
imposta medida de segurança detentiva, o indivíduo terá o destino aconselhado pela sua
enfermidade, feita a devida comunicação ao juiz de incapazes.

Ademais, a opção A está incorreta pois o exame pode ser instaurado mesmo durante a
execução da pena, após o trânsito em julgado. Como mencionado acima, no art. 682, caput, do
CPP, nesta hipótese, verificada a insanidade por perícia médica, o sentenciado será internado
em manicômio judiciário, ou, à falta, em outro estabelecimento adequado, onde Ihe seja
assegurada a custódia.

Ainda, havendo dúvida sobre a integridade mental do acusado, o juiz ordenará, de ofício
ou a requerimento do Ministério Público, do defensor, do curador, do ascendente, descendente,
irmão ou cônjuge do acusado, seja este submetido a exame médico-legal (art. 149 do CPP). Se
os peritos concluírem que o acusado era, ao tempo da infração, inimputável, o processo
prosseguirá, com a presença do curador (art. 151 do CPP). Por isso, a alternativa C está
incorreta.

Por último, a alternativa (D) também está errada. Seguindo o entendimento do artigo
150 do CPP, para efeito do exame médico-legal de insanidade mental, o acusado, se estiver
preso, será internado em manicômio judiciário, onde houver.

5- Rita foi denunciada pela suposta prática de crime de furto qualificado, pois teria,
mediante fraude, subtraído uma bicicleta de sua amiga Regina. Ao ser citada, de
imediato Rita procurou seu advogado, informando que, na verdade, a bicicleta
seria de sua propriedade e que, inclusive, já era autora de ação cível na qual
buscava o reconhecimento da propriedade do objeto, mas que a questão não seria
de simples solução. Com base apenas nas informações expostas, o advogado de Rita
poderá buscar

a) a suspensão da ação penal diante da existência de questão prejudicial obrigatória,


ficando, nessa hipótese, suspenso também o curso do prazo prescricional.
b) a suspensão da ação penal diante da existência de questão prejudicial facultativa,
e, caso o juiz indefira o pedido, caberá recurso em sentido estrito.
c) a suspensão da ação penal diante da existência de questão prejudicial facultativa,
podendo o magistrado também decretar a suspensão de ofício.
d) a intervenção do Ministério Público na ação de natureza cível, mas não a
suspensão da ação penal, diante da independência entre as instâncias.

Resposta: C

A resolução desse problema demanda compreensão acerca das questões e procedimentos


incidentes envolvidos no âmbito do processo penal, conforme delineado no título VI do
Código de Processo Penal (CPP)
DAS QUESTÕES PREJUDICIAIS

Art. 92. Se a decisão sobre a existência da infração depender da solução de controvérsia, que
o juiz repute séria e fundada, sobre o estado civil das pessoas, o curso da ação penal ficará
suspenso até que no juízo cível seja a controvérsia dirimida por sentença passada em julgado,
sem prejuízo, entretanto, da inquirição das testemunhas e de outras provas de natureza
urgente.

Parágrafo único. Se for o crime de ação pública, o Ministério Público, quando necessário,
promoverá a ação civil ou prosseguirá na que tiver sido iniciada, com a citação dos
interessados.

Art. 93. Se o reconhecimento da existência da infração penal depender de decisão sobre


questão diversa da prevista no artigo anterior, da competência do juízo cível, e se neste
houver sido proposta ação para resolvê-la, o juiz criminal poderá, desde que essa
questão seja de difícil solução e não verse sobre direito cuja prova a lei civil limite,
suspender o curso do processo, após a inquirição das testemunhas e realização das
outras provas de natureza urgente.

§ 1º O juiz marcará o prazo da suspensão, que poderá ser razoavelmente prorrogado, se a


demora não for imputável à parte. Expirado o prazo, sem que o juiz cível tenha proferido
decisão, o juiz criminal fará prosseguir o processo, retomando sua competência para
resolver, de fato e de direito, toda a matéria da acusação ou da defesa.

§ 2º Do despacho que denegar a suspensão não caberá recurso.

§ 3º Suspenso o processo, e tratando-se de crime de ação pública, incumbirá ao Ministério


Público intervir imediatamente na causa cível, para o fim de promover-lhe o rápido
andamento. (letra D)

Art. 94. A suspensão do curso da ação penal, nos casos dos artigos anteriores, será
decretada pelo juiz, de ofício ou a requerimento das partes.

Dessa forma, afirmação contida na letra C está correta, o caso concreto já está em
discussão em outra seara jurídica, e, não tratando do estado civil de Rita, aplica-se o artigo
93 do CPP. Assim, o advogado de Rita poderá buscar a suspensão da ação penal diante
da existência de questão prejudicial facultativa, podendo o magistrado também decretar
a suspensão de ofício, de acordo com o art. 94 do CPP supracitado.

No sentido de aprofundamento de resposta, cabe mencionar ementas do TJMG e


STJ que versam sobre o conteúdo acima:

HABEAS CORPUS - CRIMES DO ARTIGO 1º, INCISOS I, II, III E IV, DA LEI Nº
8.137/90 - TRANCAMENTO DA AÇÃO PENAL - NEGATIVA DE AUTORIA - NÃO
CABIMENTO - EXISTÊNCIA DE LASTRO PROBATÓRIO MÍNIMO INDICATIVO DA
MATERIALIDADE E AUTORIA DELITIVA - PREJUDICIAL DE MÉRITO
HETEROGÊNEA - FACULDADE DO MAGISTRADO - NECESSIDADE
DEMONSTRADA - DISCUSSÃO DA VALIDADE DOS CRÉDITOS TRIBUTÁRIOS
EM CURSO NA ESFERA CÍVEL - QUESTÃO QUE INTERFERE NA
MATERIALIDADE DO CRIME TRIBUTÁRIO - SUSPENSÃO DA AÇÃO PENAL -
IMPERIOSIDADE. - O trancamento da ação penal só é cabível em situações excepcionais,
quando ausente justa causa para o prosseguimento da ação penal, seja pela ausência de
tipicidade da conduta, extinção da punibilidade ou inexistência de provas da materialidade
ou de indícios da autoria delitiva, o que não se verifica na hipótese - Se a peça acusatória
descreve minuciosamente os fatos, cumpridos os requisitos legais nos termos do artigo 41,
do Código Processual Penal, e existindo, a princípio, indícios suficientes de autoria, não há
se falar em trancamento da ação penal - Tratando-se de prejudicial de mérito
heterogênea, visto que concernente a outro ramo do Direito, e que não se relacione ao
estado civil das pessoas (artigo 92, do Código de Processo Penal), a suspensão do
processo é facultativa - A discussão na esfera cível sobre a validade de crédito tributário
garantido pelo executado provoca a suspensão da ação penal, nos termos do artigo 93,
do Código de Processo Penal.

(TJ-MG - HC: 15085402320238130000, Relator: Des.(a) Paula Cunha e Silva, Data de


Julgamento: 05/09/2023, 6ª CÂMARA CRIMINAL, Data de Publicação: 06/09/2023) - grifo
nosso-

PROCESSUAL PENAL. AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL.


SONEGAÇÃO FISCAL. ART. 1º, I, DA LEI N. 8.137/90. SUSPENSÃO DA AÇÃO
PENAL. ART. 93 DO CPP. IMPROCEDÊNCIA. QUESTÃO PREJUDICIAL
FACULTATIVA. AUSÊNCIA DOS PRESSUPOSTOS LEGAIS. EXECUÇÃO
PROVISÓRIA DA PENA. AUSÊNCIA DE RECURSO COM EFEITO SUSPENSIVO.
POSSIBILIDADE. SÚMULA 267/STJ. AGRAVO REGIMENTAL IMPROVIDO.
PEDIDO DEFERIDO. 1. A suspensão da ação penal, na hipótese em que a existência da
infração dependa de decisão do juízo cível, com fundamento no art. 93 do CPP, é
questão prejudicial facultativa, cabendo ao juiz criminal decidir. 2. A Sexta Turma
desta Corte, ao apreciar os EDcl no REsp 1.484.413/DF e no REsp 1.484.415/DF, na
sessão de 3/3/2016, adotou recente orientação, fixada pelo Pleno do Supremo Tribunal
Federal (HC 122.292/MG, de 17/2/2016), de que a execução provisória da condenação
penal, na ausência de recursos com efeito suspensivo, não viola ao constitucional
princípio da presunção de inocência. 3. Agravo regimental improvido, determinando-se o
imediato cumprimento da pena imposta ao agravante.

(STJ - AgRg no REsp: 1534438 PE 2015/0123021-7, Relator: Ministro NEFI CORDEIRO,


Data de Julgamento: 13/09/2016, T6 - SEXTA TURMA, Data de Publicação: DJe
20/09/2016) - grifo nosso -

Ainda, pode-se refutar as outras alternativas com base nos artigos e


jurisprudências acima.

A alternativa A está incorreta pois não se trata de questão prejudicial obrigatória


e sim facultativa, vez que envolve questões pendentes de julgamento em outro processo,
que estão justamente no art. 93 do CPP, que conforme demonstrado acima, são aquelas
que não dizem respeito ao estado civil das pessoas e que é da competência do juízo
extrapenal. Neste caso, o juiz poderá suspender a ação penal e remeter as partes ao juízo
extrapenal, que acarreta a suspensão do processo e a prescrição.

A opção B está parcialmente errada, haja vista que sua primeira parte está
correta, vez que pode se ter a suspensão da ação e está se tratando de uma questão
prejudicial facultativa. Conquanto, se for determinada a suspensão do processo, e essa
não for negada, caberá recurso em sentido estrito, nos termos do art. 581, XVI do CPP,
abaixo transcrito:
Do despacho que denegar a suspensão não caberá recurso, de acordo com o art. 93, §2º do
CPP.

Por último, a afirmação contida na letra D está errada porque estando suspenso o
processo, e tratando-se de crime de ação pública, incumbirá ao Ministério Público intervir
imediatamente na causa cível, para o fim de promover-lhe o rápido andamento, de acordo com
o art. 93, §3º do CPP, sublinhado acima.
6- Luiz foi denunciado pela prática de um crime de estelionato. Durante a instrução, o
ofendido apresentou, por meio de assistente de acusação, documento supostamente
assinado por Luiz, que confirmaria a prática delitiva. Ao ter acesso aos autos, Luiz
informa ao patrono ter certeza de que aquele documento seria falso, pois não foi por ele
assinado. Com base nas informações narradas, de acordo com as previsões do Código de
Processo Penal, o advogado de Luiz poderá

a) alegar apenas a insuficiência de provas e requerer a extração de cópias para o


Ministério Público, mas não poderá, neste processo, verificar a veracidade do
documento.
b) alegar, desde que seja procurador com poderes especiais, a falsidade do
documento para fins de instauração de incidente de falsidade.
c) arguir, com procuração com poderes gerais, a falsidade do documento, gerando
incidente de falsidade em autos em apartado.
d) alegar, oralmente, a falsidade do documento, devendo o incidente ser decidido
nos autos principais.

Resposta: B

A resolução desse problema demanda compreensão acerca da do incidente de


falsidade previsto no capítulo VII do Código de Processo Penal (CPP)

CAPÍTULO VII

DO INCIDENTE DE FALSIDADE

Art. 145. Arguida, por escrito, a falsidade de documento constante dos autos, o juiz
observará o seguinte processo:

I - Mandará autuar em apartado a impugnação, e em seguida ouvirá a parte contrária,


que, no prazo de 48 horas, oferecerá resposta;

II - Assinará o prazo de três dias, sucessivamente, a cada uma das partes, para prova de
suas alegações;

III - Conclusos os autos, poderá ordenar as diligências que entender necessárias;

IV - Se reconhecida a falsidade por decisão irrecorrível, mandará desentranhar o


documento e remetê-lo, com os autos do processo incidente, ao Ministério Público.

Art. 146. A arguição de falsidade, feita por procurador, exige poderes especiais.

Art. 147. O juiz poderá, de ofício, proceder à verificação da falsidade.

Art. 148. Qualquer que seja a decisão, não fará coisa julgada em prejuízo de ulterior processo
penal ou civil.
Ademais importante se faz alguns esclarecimentos sobre a matéria.

Na instauração de incidente de falsidade existem dois requisitos base: a


instauração desse incidente deve ser feita por escrito e, se for feita por procurador, será
exigida procuração com poderes especiais.

Ainda, acerca do procedimento, este incidente será realizado em apartado, com


prazo para oitiva, realizada pelo juiz, de 48h da parte contraria do incidente tendo a
mesma o prazo de 48h para oferecer resposta. Logo após o juiz assinará prazo de 3 dias,
sucessivamente a cada uma das partes, para provar suas alegações.

Por fim, com os autos conclusos, poderá, o juiz ordenar diligencias que reputar
necessárias. Assim, reconhecida a falsidade, o juiz irá determinar por decisão o
desentranhamento do documento e remeterá ao MP, não cabendo recurso contra esta
decisão.

Diante de todo o exposto, a afirmação da letra B está correta, pois de acordo com
o art.146 do CPP, acima transcrito, o requerimento de incidente de falsidade pode ser
feito por procurador, desde que possua poderes especiais.

A opção A está incorreta pois como já previamente informado, há a possibilidade


de se verificar a falsidade.

A informação contida na alternativa C é falsa, dado que como mencionado acima,


a procuração exige poderes específicos.

Por último, a alternativa D está incorreta pois de acordo com o art. 145 caput do
CPP, a alegação de falsidade de documento se dará por escrito.

7- Clodoaldo figura como indiciado em inquérito policial que investiga a prática de


um crime de estupro de vulnerável. Já no curso das investigações, Clodoaldo
apresenta sinais de que poderia ser portador de doença mental. Concluídas as
investigações, é oferecida denúncia contra o indiciado. Durante a audiência, o
advogado de Clodoaldo requer a instauração de incidente de insanidade mental,
sendo o pleito indeferido pelo magistrado, que considerou o ato protelatório.
Sobre o tema incidente de insanidade mental, é correto afirmar que

a) se o perito concluir que o acusado era inimputável ao tempo da infração, o


processo prosseguirá, mas se a insanidade surgiu após o ato criminoso imputado,
o processo ficará suspenso.
b) da decisão do magistrado que indeferiu a instauração do incidente caberá recurso
em sentido estrito.
c) diante da suspeita da autoridade policial, poderia ela mesmo ter instaurado
incidente de insanidade mental.
d) o incidente de insanidade mental é processado em autos em apartado e não gera,
de imediato, qualquer suspensão do processo.

Resposta: A

A afirmação da letra A está correta, pois de acordo com os artigos 151 e 152 do CPP, se
os peritos concluírem que o acusado era, ao tempo da infração, irresponsável nos termos
do art. 26 do Código Penal, o processo prosseguirá, com a presença do curador; e se
verificarem que a doença mental sobreveio à infração o processo continuará suspenso até
que o acusado se restabeleça

A opção B está incorreta pois conforme a Ação de Arguição de


Constitucionalidade de nº 1.0647.08.088304-2/002, a homologação do laudo de incidente
de insanidade mental tem natureza de decisão interlocutória mista, com força de
definitiva, sendo adequada, pois, a interposição do recurso de apelação.

A afirmação contida na letra C está incorreta, porque de acordo com o artigo 149
do CPP, quando houver dúvida sobre a integridade mental do acusado, o juiz ordenará,
de ofício ou a requerimento do Ministério Público, do defensor, do curador, do
ascendente, descendente, irmão ou cônjuge do acusado, seja este submetido a exame
médico-legal. Logo, não há nenhuma previsão acerca da autoridade policial.

Por último a alternativa D está parcialmente incorreta pois o incidente de


insanidade mental ocorre em autos apartados. No entanto, o processo ficará suspenso.

Art. 153. O incidente da insanidade mental processar-se-á em auto apartado, que só depois
da apresentação do laudo, será apenso ao processo principal.
§ 2º O juiz nomeará curador ao acusado, quando determinar o exame, ficando suspenso o
processo, se já iniciada a ação penal, salvo quanto às diligências que possam ser prejudicadas
pelo adiamento.

8- Ricardo foi denunciado, perante a 1ª Vara Criminal de determinada cidade, pela


prática de crime de associação para o tráfico com mais 04 outros indivíduos,
destacando a denúncia o local, o período e a existência de outros indivíduos não
identificados, integrantes da mesma associação. Foi condenado em primeira
instância e foi mantida a prisão preventiva, apresentando a defesa recurso de
apelação. No dia seguinte da condenação, na cadeia, Ricardo vem a ser notificado
em razão de denúncia diversa oferecida pelo Ministério Público, agora perante a
2ª Vara Criminal da mesma cidade, pela prática do mesmo crime de associação
para o tráfico, em iguais período e local da primeira denúncia, mas, dessa vez,
foram denunciados também os indivíduos não identificados mencionados no
primeiro processo. Ricardo, então, entra em contato com seu advogado,
informando da nova notificação. Considerando a situação narrada, caberá ao
advogado de Ricardo apresentar exceção de

a) litispendência.
b) coisa julgada.
c) incompetência.
d) Ilegitimidade.

Resposta: A

A afirmação da letra A está correta, pois no caso em tela deverá ser oposta exceção de
litispendência, haja vista que essa exceção ocorre quando a imputação penal já tiver sido
repetida em mais de um processo, ou seja, quando há, idêntico objeto em outra ação. Nesse
sentido, como já existe ação penal anteriormente deflagrada pelos mesmos fatos em desfavor
do acusado, deverá ser oposta exceção de litispendência.

Interessante se faz menção de julgado do STJ que trata de caso similar a questão:

RECURSO EM HABEAS CORPUS. TRÁFICO E ASSOCIAÇÃO PARA O TRÁFICO DE


DROGAS. FACÇÃO CRIMINOSA DO PRIMEIRO COMANDO DA CAPITAL (PCC).
ALEGAÇÃO DE LITISPENDÊNCIA. IMPUTAÇÃO DO MESMO FATO DELITUOSO
EM AÇÕES PENAIS DIVERSAS QUE TRAMITARAM NO MESMO JUÍZO.
PROCEDÊNCIA. ANULAÇÃO DA CONDENAÇÃO DECORRENTE DA SEGUNDA
DENÚNCIA AJUIZADA PELO MINISTÉRIO PÚBLICO ESTADUAL. 1. O acusado
absolvido por sentença passada em julgado não poderá ser submetido a novo processo pelos
mesmos fatos (Art. 8º, item 4 da Convenção Americana sobre Direitos Humanos). 2. No
caso, observa-se que a mesma conduta de tráfico e associação para o tráfico de drogas foi
imputada ao ora recorrente em duas ações penais que tramitaram perante o mesmo juízo,
donde se infere a ocorrência dupla condenação pelo mesmo fato. 3. Embora o Código de
Processo Penal seja silente, a litispendência se observa a partir do ajuizamento da ação,
devendo, portanto, ser anulada a condenação decorrente da ação penal ajuizada por último.
Doutrina. 4. Recurso em habeas corpus provido para anular a condenação do recorrente
referente ao crime de tráfico de drogas, proferida na Ação Penal n. 0033386-
35.2011.8.26.0196, que tramitou na 2ª Vara Criminal da comarca de Franca/SP.
(STJ - RHC: 36812 SP 2013/0099447-8, Relator: Ministro SEBASTIÃO REIS JÚNIOR,
Data de Julgamento: 14/11/2017, T6 - SEXTA TURMA, Data de Publicação: DJe
12/12/2017)

Além disso, a questão trata do artigo 95 do CPP, compreendendo as possibilidades de exceções.


Nesse viés, cabe sua menção abaixo transcrita:

Art. 95. Poderão ser opostas as exceções de:

I - Suspeição;

II - Incompetência de juízo;

III - Litispendência;

IV - Ilegitimidade de parte;

V - Coisa julgada.

Em primeiro lugar, não se trata da incompetência de juízo, pois esta refere-se à situação
em que o juízo responsável por conduzir um processo penal não possui a jurisdição adequada
para apreciar o caso em questão. Nesse contexto, a exceção de incompetência pode ser
suscitada quando há uma inadequação territorial, funcional ou material, exigindo a remessa dos
autos para o juízo competente. Essa medida visa garantir que o processo seja conduzido pelo
magistrado que detém a jurisdição apropriada, assegurando a observância dos princípios
fundamentais do sistema judicial e contribuindo para a eficácia e justiça na condução do
procedimento penal. No caso em questão, ambas poderiam ser competentes.

A exceção de ilegitimidade de parte, é uma medida processual pela qual o acusado


questiona a legitimidade da parte que atua no processo penal, alegando que a pessoa que figura
como parte ativa não detém a qualidade necessária para desempenhar tal papel. Essa exceção
visa assegurar que apenas aqueles devidamente autorizados e legalmente capacitados
representem a acusação, garantindo a regularidade e a legitimidade do procedimento criminal.
Dessa forma, a exceção de ilegitimidade de parte contribui para a preservação dos princípios
fundamentais do devido processo legal e da adequada condução das ações penais.

Por último, a coisa julgada, representa a qualidade da decisão judicial que não pode ser
mais contestada ou modificada, conferindo estabilidade e definitividade ao veredito proferido
no processo penal. Uma vez que a sentença transitou em julgado, isto é, não há mais
possibilidade de interposição de recursos, a matéria nele decidida torna-se imutável,
consolidando-se como coisa julgada. Essa característica visa garantir a segurança jurídica e a
estabilidade das relações processuais, impedindo a reabertura de discussões sobre questões já
devidamente decididas. Assim, a coisa julgada no âmbito penal representa um princípio
fundamental que contribui para a finalização dos litígios, promovendo a eficácia e a justiça no
sistema judiciário. No caso em tela, não houve o trânsito em julgado, não podendo se falar em
coisa julgada.

9 - Paulo, ofendido em crime contra o patrimônio, apesar de sua excelente


condição financeira, veio a descobrir, após a identificação da autoria, que o autor
dos fatos adquiriu, com os proventos da infração, determinado bem imóvel.
Diante da descoberta, procurou você, na condição de advogado(a), para a adoção
das medidas cabíveis. Com base apenas nas informações expostas, a defesa
técnica do ofendido deverá esclarecer ser cabível

a) o sequestro, desde que após o oferecimento da denúncia, mas exige requerimento


do Ministério Público ou decisão do magistrado de ofício.
b) o arresto, ainda que antes do oferecimento da denúncia, mas a ação principal
deverá ser proposta no prazo máximo de 30 dias, sob pena de levantamento.
c) o sequestro, ainda que antes do oferecimento da denúncia, podendo a decisão
judicial ser proferida a partir de requerimento do próprio ofendido.
d) o arresto, que deve ser processado em autos em apartados, exigindo requerimento
do Ministério Público ou decisão do magistrado de ofício.

Resposta: C

A afirmação da letra C está correta, pois o autor da infração adquiriu bem com o provento
da infração. E conforme os artigos 125 e 127 do CPP, caberá o sequestro dos bens
imóveis, adquiridos pelo indiciado com os proventos da infração, ainda que já tenham
sido transferidos a terceiro; e o juiz, de ofício, a requerimento do Ministério Público ou
do ofendido, ou mediante representação da autoridade policial, poderá ordenar o
sequestro, em qualquer fase do processo ou ainda antes de oferecida a denúncia ou queixa.

Ademais, os institutos jurídicos de sequestro, arresto e hipoteca legal são ferramentas


distintas no âmbito do direito penal, cada uma com sua finalidade e aplicação específicas.

O sequestro incide sobre bens determinados de origem ilícita, podendo ser


móveis ou imóveis, e tem como propósito assegurar o ressarcimento à vítima, bem como
evitar que o criminoso se beneficie dos frutos da infração cometida.

Por sua vez, o arresto direciona-se a bens indeterminados, mas de origem lícita,
consistindo em garantia para o ressarcimento à vítima. Este instituto é aplicável apenas a
bens móveis, representando uma medida cautelar para assegurar a reparação dos danos.

Já a hipoteca legal, assim como o arresto, recai sobre bens indeterminados, mas,
neste caso, limitando-se a bens imóveis. A finalidade da hipoteca legal é similar à do
arresto, visando garantir o ressarcimento da vítima.

Dessa forma, enquanto o sequestro atua especificamente sobre bens de origem


ilícita, o arresto e a hipoteca legal incidem sobre bens lícitos do acusado, cada um com
suas particularidades em relação à mobilidade e tipo de bem atingido.

Por fim, cabe finalizar a questão com entendimento do Superior Tribunal de


Justiça em ementa abaixo:

RECURSO ESPECIAL. BLOQUEIO JUDICIAL E CONSTRIÇÃO DE BENS.


PESSOA JURÍDICA. DESNECESSIDADE DE CONSTAR NO POLO PASSIVO
DA INVESTIGAÇÃO. UTILIZAÇÃO PARA PRATICA DE CRIMES.
POSSIBILIDADE. FUNDAMENTAÇÃO DA DECISÃO. OCORRÊNCIA.
REQUISITOS PARA DECRETAÇÃO DAS MEDIDAS. EXISTÊNCIA. ARRESTO
E SEQUESTRO. RECURSO ESPECIAL NÃO PROVIDO. 1. Segundo a orientação
desta Corte, é possível a adoção de medidas assecuratórias em relação aos bens de
pessoa jurídica, ainda que ela não conste do polo passivo da investigação ou da ação
penal, desde que constatada a presença de indícios de que tenha sido utilizada para a
prática de crimes. 2. É assente neste Superior Tribunal o entendimento de que o
magistrado não é obrigado a rebater cada um dos argumentos aventados pela defesa
ao proferir decisão no processo; basta que a fundamentação apresentada permita a
aferição das razões pelas quais acolheu ou rejeitou as pretensões da parte. 3. O
sequestro recai sobre bens adquiridos com o proveito do crime, diversamente do
que ocorre com o arresto, o qual incide sobre bens de origem lícita. Em ambos
os casos, é necessária a ocorrência do crime e a existência de indícios suficientes
de autoria, situação que se encontra bem delineada na decisão proferida pelo
Magistrado de primeiro grau. 3. A ordem contida no art. 137 do CPP se refere
apenas ao arresto, o qual, repita-se, recai apenas sobre bens obtidos licitamente,
com a finalidade de assegurar eventual necessidade de reparação civil pelo dano
causado. Na hipótese, observa-se que os bens não foram apenas alvo de arresto, mas
também de sequestro relativamente àqueles em tese obtidos ilicitamente, razão pela
qual não há que se falar em ordem de preferência, máxime se levado em consideração
que a origem dos bens constritos (se lícitos ou ilícitos) ainda é objeto de controvérsia.
4. Recurso especial não provido.
(STJ - REsp: 1929671 PR 2021/0090324-2, Data de Julgamento: 13/09/2022, T6 -
SEXTA TURMA, Data de Publicação: DJe 30/09/2022) -grifo nosso-
10 - Tom Souza, vulgo “Tós”, planejou e executou vários sequestros na região
metropolitana de São Paulo, exigindo, em todos eles, pagamento em dinheiro para
resgate das vítimas. No intuito de não deixar pistas para as investigações policiais,
Tom disfarçava suas práticas delitivas da seguinte forma: repassava todo o dinheiro
decorrente da atividade criminosa ao seu primo que, como empresário atuante no
mercado da bolsa de valores, comprava ações de uma empresa multinacional. Após
várias investigações, a polícia conseguiu prender e indiciar Tom, que resolveu
colaborar e informou com detalhes os fatos. Existe alguma medida legal para reter as
ações? Em caso afirmativo, desenvolva a resposta fundamentadamente. Justifique
com base na legislação penal e processual penal.

Dada a transformação do proveito econômico do crime em bens móveis, a medida


cautelar cabível é o sequestro conforme art. 132, CPP.

Como medida cautelar satisfativa que busca frustrar qualquer benefício econômico
advinda da atividade criminosa tal medida pode ser intentada mesmo na fase de inquérito,
podendo ainda ser deferida de ofício pelo juízo. Bastando a existência de indícios veementes
da origem ilícita dos ganhos à luz do art. 126, CPP.

Na questão recursal frente à decisão que concede ou denega o sequestro é a apelação,


mesmo que sem efeito suspensivo.

Ainda que não use o termo “sequestro” a legislação sobre ocultação de valores, Lei
9.613/98, em seu art. 4º, também prevê a possibilidade de medidas assecuratórias com a
finalidade de limitar ou anular qualquer proveito econômico da atividade criminosa. O
sequestro independente do lastro legal que o originou, se na legislação geral ou legislação
especial, certo que ambos respondem ao art. 131 e seus incisos para o seu levantamento.

Quando o bem móvel é produto direto do crime, é passível de busca e apreensão (art.
240 e ss., CPP). Todavia, se é considerado provento do delito, leia-se, bem obtido com a
especialização do produto da infração, estará sujeito a sequestro. Assim, o dinheiro tomado em
assalto é objeto de busca e apreensão (produto do crime). Já o bem móvel adquirido com os
valores é o proveito, sendo passível de sequestro, e sua disciplina, no que for compatível, é a
mesma do sequestro de imóveis (art. 132, CPP).
Em outros termos, sendo o bem móvel produto direto da infração penal, a exemplo da
coisa furtada, a providência a ser tomada não é o sequestro de bem móvel, mas sim a busca e
apreensão. De outro lado, se, com o lucro auferido pelo crime (proveito), o agente adquire bens
como veículos e iates, não é o caso de busca e apreensão, porém de sequestro.

Vale lembrar, mais uma vez, que o § 1°, do art. 91, do Código Penal, passou a admitir
a decretação da perda de bens ou valores equivalentes ao produto ou proveito do crime, desde
que seja constatada a suficiência da seguinte condição: quando não forem encontrados o
produto ou proveito do crime ou ainda quando estes se localizarem no exterior.

Ora, sendo possível a perda ao final, também é viável no início da persecução penal a
decretação de "sequestro" de bens móveis equivalentes ao produto ou proveito do crime. Como
esta medida assecuratória pode recair sobre bem de origem lícita ou que não tenha relação de
causalidade com a empreitada delituosa (meramente "equivalente"), terá ela, nesta hipótese,
muito mais a natureza de arresto do que de sequestro. (TAVORA; ALENCAR, 2017)

Considerando que o próprio CPP estabelece que o sequestro deve recair sobre bens
móveis ou imóveis adquiridos pelo agente com os proventos da infração (arts. 126 e 132), não
se afigura possível que a constrição recaia sobre bens diversos (bens que já pertenciam ao
acusado antes da prática delituosa). Portanto, o único argumento que pode ser utilizado pela
defesa desses embargos é o de que o bem sequestrado fora adquirido de forma lícita. De todo
modo, com o advento da Lei n° 12.694/12, caso o produto direto ou indireto do crime não seja
encontrado ou se encontre no exterior, o sequestro poderá recair sobre bens em valor
equivalente, mesmo que de procedência lícita. (LIMA, 2017)
REFERÊNCIAS:

GONÇALVES, Victor Eduardo Rios; LENZA, Pedro; REIS, Alexandre Cebrian Araújo.
Direito Processual Penal - 11. ed. - São Paulo: SaraivaJur, 2022. (Coleção Esquematizado®)

LOPES, Aury. Direito processual penal – 18. ed. – São Paulo: Saraiva Educação, 2021.

TÁVORA, Nestor; ALENCAR, Rosmar. Curso de Direito Processual Penal - 12º ed -


Salvador: Editora Juspodvim, 2017 - pág. 567.

LIMA, Brasileiro Renato. Manual de Processo Penal - 5ª ed – Salvador: Editora Juspodvim


- 2017 - pág. 1115.

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