Você está na página 1de 9

Embargos infringentes e de nulidade

Trata-se de um recurso “escondido” dentro do Código de Processo Penal.


Não existe capítulo específico dentro do CPP indicando a presença dele. Posto isso, a sua
localização é complexa e difícil. (Busquem encontrar, está entre a apelação e os embargos).
Art. 609. Os recursos, apelações e embargos serão julgados pelos Tribunais de
Justiça, câmaras ou turmas criminais, de acordo com a competência
estabelecida nas leis de organização judiciária. (Redação dada pela Lei
nº 1.720-B, de 3.11.1952)
Parágrafo único. Quando não for unânime a decisão de segunda instância,
desfavorável ao réu, admitem-se embargos infringentes e de nulidade, que
poderão ser opostos dentro de 10 (dez) dias, a contar da publicação de
acórdão, na forma do art. 613. Se o desacordo for parcial, os embargos serão
restritos à matéria objeto de divergência.
A leitura é pertinente para compreende a extensão dos embargos infringentes e de nulidade.
Inicialmente, cumpre destacar que tão somente a defesa poderá fazer o uso do recurso
estudado (conforme farta jurisprudência), sendo vedado à acusação manejá-lo em hipótese
alguma, ainda que seja em benefício do réu (ao menos é o que prega parcela considerável da
doutrina).
Compreende-se que a essência dos embargos é a prevalência de um resultado positivo ao
acusado de modo que a compreensão sobre a impossibilidade de manejo do recurso pelo
Ministério Público em favor do réu é complexa, posto que aparentemente a lei não exige essa
distinção.
De todo modo, a premissa básica é que se almeje um resultado positivo e que possa ser
alterado através de um novo julgamento com um quórum maior e com novos julgadores, o que
não impede que essa seja a intenção do fiscal da ordem jurídica.
Portanto, poder-se-ia cogitar um manejo pelo Parquet, desde que procurasse um resultado
favorável a defesa. A posição, contudo, é isolada.
Na Doutrina, apesar de reconhecer o recurso como exclusivo da defesa:
Há quem sustente a possibilidade de o Ministério Público recorrer a favor do réu, o que nos parece
uma situação anômala e extraordinária, injustificável no processo penal de cunho acusatório. Mas,
se realmente for em benefício do réu – desde que o defensor fique omisso – e a gravidade da
situação exigir, em tese, não há obstáculos em ser conhecido o recurso. Mas apenas em casos
extraordinários e quando, inequivocamente, o que se busca é fazer valer um voto vencido
realmente favorável ao imputado. (Aury)

Outra ponderação válida é que a previsão é clara e expressa na possibilidade de reversão do


resultado desfavorável ao réu.
O resultado favorável a ele, ainda que não unânime, impede o manejo da pretensão acusatória
em reformar o acórdão, retirando a essência de recurso exclusivo da defesa.
Tal condição poderia ser considerada violadora da paridade de armas, posto que indissociável a
conclusão de que seria dada a uma parte “mais uma chance” do que seria permitido para outra.

1
A ponderação é razoável e plausível, até porque dentro do microssistema processual penal
militar é viável o manejo dos embargos conforme assenta o art. 538, do CPPM.
A própria jurisprudência do STM assenta essa condição como resultante da paridade de armas:
Segundo a dicção do art. 538 do Código de Processo Penal Militar, o Ministério Público
Militar é parte legítima para opor Embargos Infringentes e de Nulidade pro societate,
consagrando-se, portanto, o Princípio da Paridade de Armas sem que se possa falar em
suposta violação ao Princípio da Isonomia. Nesse contexto, o citado dispositivo foi
recepcionado pela ordem constitucional em vigor. Precedentes. Preliminar rejeitada. [...] (STM
- EI: 70001775120207000000, Relator: CARLOS VUYK DE AQUINO, Data de Julgamento:
03/09/2020, Data de Publicação: 18/09/2020)

Destarte, a compreensão prevalecente, inclusive reverberada pela máxima doutrina elaborada


pelo Parquet, é pacífica sobre a inexistência de mácula ao princípio da paridade:
Trata-se de recurso exclusivo da defesa, oposto contra decisão de segunda instância tomada por
maioria de votos, objetivando a revisão do julgamento não unânime. O fato de ser recurso
exclusivo da defesa não macula o princípio do contraditório e da igualdade das partes, uma
vez que representa garantia individual do réu no exercício da ampla defesa. (Mougenot)

Assim, assentada a necessária consagração da ampla defesa, é possível reconhecer a


inexistência de mácula.

Cabimento

Em essência, simples leitura do art. 609, p.ú do CPP é fácil a identificação do cabimento dos
embargos.
O primeiro requisito é expresso: “quando não for unânime”. (Mostrar Acórdão Não Unânime
– Completo e Parcial)
Por certo, as decisões colegiadas podem possuir divergência. São colegiadas e por isso mesmo
chamamos de “acórdão”.
O complexo sistema processual permite, então, a todos os componentes do julgamento a devida
independência funcional para votar conforme é a sua convicção jurídica sobre o caso concreto.
Assim, em julgamentos proferidos pela segunda instância judicial em matéria criminal, é
possível que o resultado decorra de uma maioria (2x1).
Sublinha-se que o importante é o resultado do julgamento, ainda que os motivos apresentados
pelos julgadores sejam diversos.
Logo, se, a despeito da interpretação específica de cada um, a condenação decorra da prova “A”
e não da prova “B”, o resultado é um só: a condenação.
Dentro desse cenário, estaria obstado o recurso pretendido. Nesses termos:
A divergência se dá na “decisão”, e não na fundamentação. Se no julgamento de uma apelação
dois desembargadores mantiverem a condenação com base em determinada prova e o terceiro
divergir na valoração probatória, mas igualmente condenar, apenas com base noutros elementos,
não há que se falar em embargos infringentes. Da mesma forma, analisando-se uma preliminar de
nulidade contida na apelação defensiva, dois julgadores a afastarem por inexistência de lesão ao

2
direito fundamental ali efetivado, e o terceiro a rechaçar, invocando o princípio da
instrumentalidade das formas, são descabidos os embargos de nulidade. (Aury)

Contudo, existe uma exceção e que está relacionada aos elementos da aula anterior.
Como consta do artigo, o que autoriza o manejo dos embargos de infringentes é a decisão
“desfavorável ao réu” podendo der interpretada em sua ampla extensão abrangendo até a
natureza da absolvição.
Logo, se persiste o resultado unânime do julgamento quanto a absolvição, mas há divergência
dentro dos votos sobre o inciso aplicável, estaria presente a possibilidade de manejo dos
embargos pois um dos resultados é mais favorável ao réu pois, provavelmente, dele decorreriam
efeitos civis. Nesses termos:
Se o acórdão for unânime, não pode a defesa dele se utilizar, ainda que haja divergência em
relação à motivação dos votos526. Tal regra, todavia, não é absoluta, devendo ser mitigada quando
a motivação divergente do acórdão puder trazer reflexos civis negativos ao réu527. Assim, no caso
de o réu ser absolvido por votação unânime a partir de fundamentos diferentes, a exemplo do art.
386, VII, do CPP (falta de provas para a condenação) e do art. 386, I (inexistência do fato), é certo
que nasce para o acusado interesse recursal, sendo possíveis os embargos caso haja prevalência da
fundamentação desfavorável (e.g.: art. 386, VII). (Mougenot).

Na jurisprudência:
EMENTA. EMBARGOS INFRINGENTES E DE NULIDADE. EMBARGANTE QUE
PRETENDE A REFORMA DO ACÓRDÃO PROFERIDO PELA SEXTA CÂMARA DO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA QUE MANTEVE, POR MAIORIA, A ABSOLVIÇÃO DO
NACIONAL THIAGO DAVID FERNANDES, CONTRA QUEM SE IMPUTOU A
PRÁTICA DO CRIME DE ESTELIONATO JUDICIAL E USO DE DOCUMENTO FALSO,
APENAS ALTERANDO O FUNDAMENTO ABSOLUTÓRIO PARA CONSIDERAR
ATÍPICA A PRIMEIRA CONDUTA, MANTENDO O FUNDAMENTO CORRELATO À
ABSOLVIÇÃO DA SEGUNDA CONDUTA POR INSUFICIÊNCIA PROBATÓRIA.
RECORRENTE QUE, COM BASE NO VOTO VENCIDO, PRETENDE VER MODIFICADO
O FUNDAMENTO DA ABSOLVIÇÃO QUANTO AO CRIME DO ARTIGO 304 DO CP,
PARA QUE A MESMA SE ESTABELEÇA NA FORMA DO ARTIGO 386, I, DO CPP.
EXISTÊNCIA DE DOCUMENTOS PERICIADOS NOS AUTOS, CUJA FALSIDADE FORA
CONFIRMADA POR EXPERT, A SABER PROCURAÇÃO E COMPROVANTE DE
RESIDÊNCIA, QUE NÃO PODE SER IGNORADA, AO MENOS NO QUE DIZ RESPEITO AO
COMPROVANTE DE RESIDÊNCIA, EIS QUE CONSTA DOS AUTOS DECLARAÇÃO,
SUPOSTAMENTE ASSINADA PELA OUTORGANTE DO INSTRUMENTO
PROCURATÓRIO TIDO POR FALSO, QUE RATIFICA OS PODERES CONSIDERADOS
OUTORGADOS AO DENUNCIADO, MAS NÃO CHANCELA A LEGITIMIDADE DO
COMPROVANTE DE RESIDÊNCIA. INSUFICÊNCIA PROBATÓRIA QUE DEVE
CONTINUAR A NORTEAR A ABSOLVIÇÃO DADA A AUSÊNCIA DE ELEMENTOS
CABAIS QUE COMPROVEM A CIÊNCIA DO RÉU QUANTO À FASILDADE DO
DOCUMENTO UTILIZADO, ELEMENTAR DO CRIME DO ARTIGO 304 DO CP.
EMBARGOS INFRINGENTES E DE NULIDADE QUE SE REJEITAM. (TJ-RJ - EI:
00936308320158190001 201805400334, Relator: Des(a). JOÃO ZIRALDO MAIA, Data de
Julgamento: 16/10/2018, QUARTA CÂMARA CRIMINAL, Data de Publicação: 26/10/2018)

Sublinha-se que o ponto não unânime pode atingir a extensão integral do voto ou mesmo
parcela dele. Nesse caso os embargos estarão restritos a parte não unânime.
Portanto, o ponto crucial é a divergência na votação.
O segundo elemento é a “decisão de segunda instância” o que torna os tribunais de justiça e
tribunais regionais federais, v.g., os competentes para julgamento desse recurso.

3
Mas não são todas as decisões colegiadas desses tribunais que podem ser alvo dos infringentes.
Perceba que a locução permite isso quando os tribunais figuram como “segunda instância”,
logo, somente ocorre em grau recursal.
Logo, em regra são cabíveis os embargos infringentes e de nulidades nos acórdãos de recursos
de apelação, de recurso em sentido estrito e no agravo em execução.
Os dois primeiros são pacíficos pela doutrina e jurisprudência. A divergência se dá no caso do
agravo em execução.
Por se tratar de recurso distante da esfera do CPP, afeto tão somente a matéria de execução
penal (LEP), compreende-se que não seria viável o manejo do recurso extensivo. Contudo, essa
posição não prospera e há uma guinada recente da jurisprudência no sentido de aceitá-lo.
Ensina o Prof. Mougenot:
Entretanto, é necessário esclarecer que tal agravo é utilizado para a impugnação de decisões que
antes da Lei de Execução Penal comportavam recurso em sentido estrito, dessa forma fazendo jus
ao recurso de embargos infringentes e de nulidade. Não obstante, o RITJSP prevê expressamente o
referido recurso em seu art. 841, II, c.

Pela jurisprudência:
HABEAS CORPUS. PROCESSO PENAL. EMBARGOS INFRINGENTES OPOSTOS À
DECISÃO NÃO UNÂNIME EM SEDE DE AGRAVO EM EXECUÇÃO. CABIMENTO. ART.
609 DO CPP. ORDEM CONCEDIDA. 1. É cabível a oposição de embargos infringentes à
decisão não unânime proferida em sede de agravo em execução - inteligência do art. 609 do
Código de Processo Penal. 2. Habeas corpus concedido para determinar a apreciação dos
embargos infringentes opostos pela defesa no segundo grau de jurisdição. (STJ - HC: 509869
SP 2019/0135464-4, Relator: Ministro NEFI CORDEIRO, Data de Julgamento: 06/08/2019, T6 -
SEXTA TURMA, Data de Publicação: DJe 12/08/2019)

Voto:

Com efeito, o parágrafo único do art. 609 do CPP deve ser interpretado em harmonia com
o caput do dispositivo e, tendo o agravo de execução o mesmo rito (por analogia) do recurso
em sentido estrito, devem também a ele ser permitidos os embargos infringentes.

Não cabem embargos infringentes e de nulidade nas decisões das turmas recursais (não são
considerados tribunais e nem uma segunda instância judicial).
Também não são cabíveis embargos infringentes e de nulidade contra decisões proferidas em
sede de habeas corpus (são ações originárias e autônomas de impugnação) e pedidos de
desaforamento.
Não cabem embargos infringentes e de nulidade contra a decisão não unânime de acórdão que
julga embargos infringentes e de nulidade.
Também não cabem nas ações originárias de tribunal (não são recursos).
Por último, por previsão regimental, sabem os aludidos embargos no STF.
Pelo que se tem do RITJMS:
Art. 761. Não cabem embargos infringentes em mandado de segurança, habeas data, mandado
de injunção, habeas corpus, nos recursos em matéria falimentar, nas revisões e nos incidentes
de uniformização da jurisprudência ou de inconstitucionalidade de lei ou de ato normativo
do Poder Público, bem como em agravo regimental, observadas as disposições do art. 781
deste Regimento.

4
O terceiro requisito é a decisão ser desfavorável ao réu, sendo vedada a oposição de embargos
para reforma pro societate.
A extensão dessa condição alcança, inclusive, o inciso pelo qual o réu foi absolvido conforme
expresso acima.

Cabimento

Os embargos são de competência do colegiado ampliado do tribunal. Logo, no TJMS, serão


julgados pela Seção Criminal após o acórdão não unânime da Câmara Criminal.
É o que consta do RITJMS:
Art. 138. Compete à Seção Criminal:

e) os embargos infringentes e de nulidade;

O quórum ampliado possuirá 5 (cinco) julgadores, permitindo a reversão do resultado pela


maioria dos componentes.
Como regra o relator dos embargos não poderá ser algum dos julgadores que tomaram parte
anteriormente no julgando da apelação, RESE ou agravo em execução. Tal disposição não
decorre do CPP mas dos Regimentos Internos dos Tribunais. No TJMS:
Art. 339. A ordem do sorteio será alterada para:

III - sempre que possível, não se distribuírem mandados de segurança, ações rescisórias,
embargos infringentes e revisões criminais a desembargador que tenha participado do
julgamento impugnado;

Art. 346. Nos casos de mandado de segurança contra acórdão, de embargos infringentes, de ação
rescisória e revisão criminal de acórdão, serão excluídos da distribuição o relator e o revisor e, se
possível, os demais integrantes da Câmara prolatora do acórdão impugnado. (Alterado pelo art. 2º
da Resolução n. 587, de 24.9.2014 – DJMS, de 29.9.2014.)

Art. 766. A escolha do relator recairá, sempre que possível, em desembargador que não haja
participado do julgamento impugnado.

O prazo é de 10 (dez) dias contados a partir da publicação do acórdão.


Por fim, sublinha-se que ele é cabível ainda que a divergência seja parcial, conforme questão
apresentada.

Procedimento

Opostos os embargos dentro do prazo de 10 (dez) dias contados a partir da publicação do


acórdão, eles serão endereçados ao relator do acórdão objeto do embargo. Pondera-se aqui que o
relator é o designado para lavratura do acórdão, ou seja, aquele que proferiu o voto vencido,
ainda que não seja o relator originário do pedido. Compreende-se que com esse julgamento o
anterior “perde” a relatoria dos feitos atinentes ao caso. No RITJMS:
Art. 152. Vencido o relator em matéria de mérito, ao desembargador designado para redigir o
acórdão compete:

5
I - proferir decisão admitindo o processamento de embargos infringentes ou de nulidade
opostos ao julgado, ou rejeitando-os in limine;

II - relatar os embargos de declaração opostos a acórdão, independentemente de distribuição, ou


indeferir liminarmente seu processamento, se se apresentarem manifestamente ineptos ou
intempestivos.

Feita a admissibilidade, os embargos serão distribuídos para um dos desembargadores das


seções criminais, afastada a possibilidade de relatoria pelos participantes do julgamento anterior.
Os autos serão remetidos para a procuradoria de justiça a fim de apresentar o seu parecer ou, no
caso de ação penal privada, ao querelante para que se contraponha a pretensão do autor.
Rememore-se que nos casos de ações penais privadas, ainda assim o Ministério Público teria
participação pela sua posição enquanto custos legis.
Encerrada essa parte, os autos são remetidos ao relator designado para elaboração de voto e,
posteriormente, ao revisor.
Completado o rito, o voto será submetido ao colegiado para julgamento.

Efeitos

Pela sua extensão os embargos infringentes e de nulidade não são recursos que permitem uma
análise irrestrita. São limitados pelo teor da divergência, nem mais e nem menos.
Assim, trata-se de um recurso de fundamentação vinculada.
Perceba que, se o voto favorável a defesa dá uma diretriz, é acerca dela que a fundamentação
do recurso deverá prevalecer, não podendo extrapolar os limites daquilo que foi pontuado
anteriormente.
Logo, deve-se partir da mesma diretriz traçada anteriormente. Nesse sentido:
A extensão da matéria devolvida é limitada ao objeto da divergência, que poderá ser
exclusivamente jurídico no caso dos embargos de nulidade, ou fático-probatório, em se tratando de
embargos infringentes. Importa frisar que de nada adiantará uma ampla fundamentação da defesa
acerca de questões que não foram objeto da divergência, pois o julgamento ficará adstrito aos
limites da divergência contidos no voto vencido. (Aury)

Portanto, é vedado um amplo revolvimento ou uma “nova apelação” feita a partir dos embargos.
Distante disso, é o voto vencido que conduz a fundamentação que a defesa poderá se utilizar.
Outrossim, se a divergência é parcial, somente dessa parte é que o recurso poderá ser conhecido.
A devolução dada ao órgão maior é estritamente vinculada pelo voto vencido favorável a
defesa.
Existem duas posições sobre o efeito suspensivo. Em primeiro momento compreende-se, tal
qual é o entendimento sumulado do STF, que no caso de embargos parciais, a parte unânime
estaria abarcada pela definitividade, restando esgotada a instância judicial por sobre aquele
ponto (Mougenot)
Lado outro, a pendência de embargos infringentes não encerra a instância ordinária, motivo pelo
qual a existência de embargos infringentes e de nulidade não permitiria uma execução
antecipada da pena (Aury).

6
Considerações especiais sobre prazos

Por último, é preciso consignar que os embargos infringentes e de nulidade parciais tendem a
gerar conflito com relação ao prazo para a interposição dos recursos especiais e extraordinários.
De maneira bem clara é a jurisprudência a respeito do tema:
PROCESSO PENAL. AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL.
CRIME DE TRÂNSITO. EMBARGOS INFRINGENTES PARCIAIS. EXCEÇÃO AO
PRINCÍPIO DA UNIRRECORRIBILIDADE. SÚMULAS 354 E 355 DO STF. PRAZOS
PROCESSUAIS PENAIS CONTÍNUOS E PEREMPTÓRIOS. INTEMPESTIVIDADE.
MANUTENÇÃO DA DECISÃO AGRAVA DA. AGRAVO REGIMENTAL DESPROVIDO. I -
No caso, caberia à parte interessada, após a publicação do julgado proferido em Embargos
de Declaração na Apelação Criminal, o que ocorreu em 20.07.2020 (fl. 1.861), no prazo legal,
interpor o cabível Recurso Especial contra a parte unânime do decisum, sob pena de
configurar-se a preclusão temporal. II - Vale destacar que não obstante seja necessária a extinção
das vias recursais ordinárias para o conhecimento dos recursos excepcionais - ao teor das Súmulas
207/STJ e 281/STF -, isso não desobriga à parte de interpor, concomitantemente ao infringentes, o
cabível Recurso Especial contra a parte unânime do acórdão apelatório. A corroborar esse
entendimento é a 355/STF: "Em caso de embargos infringentes parciais, é tardio o recurso
extraordinário interposto após o julgamento dos embargos, quanto à parte da decisão embargada
que não fora por eles abrangida". É exatamente nesse sentido que dispõe a Súmula 354/STF: "Em
caso de embargos infringentes parciais, é definitiva a parte da decisão embargada em que não
houve divergência na votação". Precedente. Agravo regimental desprovido. (STJ - AgRg no
AREsp: 1912195 SC 2021/0193440-2, Relator: Ministro JESUÍNO RISSATO
(DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TJDFT), Data de Julgamento: 07/12/2021, T5 -
QUINTA TURMA, Data de Publicação: DJe 16/12/2021)

Existindo embargos parciais, a parte unânime se torna definitiva e, nessa ocasião, já existiria a
possibilidade de manejo dos recursos extraordinários.
Por outro lado, a parte não unânime ficaria obstada, posto que não haveria o exaurimento da
instância precedentes, característica especial e necessária para o manejo dos recursos para as
Cortes Superiores.
Assim sendo, torna-se uma exceção a regra da unicidade recursal a situação dos embargos
infringentes parciais, permitindo a existência de dois recursos especiais ou dois recursos
extraordinários versados sobre o mesmo processo ou a mesma apelação.
Essa é a essência e o teor das súmulas 354 e 355 do STF, que fazem coro as súmulas 207/STJ e
281/STF.
Recursos Extraordinários

Para permitir a continuidade da matéria de maneira linear, falaremos sobre os recursos


endereçados para as Cortes Superiores.
São apelos raros, insurgências específicas e, por muitas vezes, que extrapolam os limites da
própria causa específica apreciada, pois fazem a defesa do direito “em tese” e não do direito
“específico” do caso concreto enfrentado.

7
Conceito

Consideram-se recursos extraordinários todos aqueles que não se destinam a análise fática dos
elementos do processo, mas avaliam questões de natureza jurídica constitucional
(extraordinário) ou infraconstitucional (especial).
Nenhum deles tem por base a realização da justiça para o caso concreto. A intenção é outra,
basicamente a tutela da unicidade da interpretação jurisdicional em território nacional, não
realizando a tutela do direito subjetivo, mas o próprio direito objetivo a luz do caso concreto
enfrentado.

Regime jurídico

Além da Constituição Federal, os recursos extraordinários são regidos pelo Código de Processo
Civil.

Pressupostos comuns de cabimento

Alguns elementos são exigíveis para o manejo dos recursos extraordinários.


Especial
Primeiramente, é preciso avaliar qual foi o órgão que proferiu a decisão, logo, é necessário que
tenha sido proferido pelos tribunais de justiça ou tribunais regionais federais.
Extraordinádio
Para o Extraordinário, além dos TJs e TRFs podem ser manejados contra decisões do TSE e
STM. Também é viável o RExt contra decisões de turmas recursais (JEcrim).

Outrossim, a decisão precisa ser de única ou última instância, logo, devem ter sido esgotados
todos os recursos possíveis para a discussão a respeito do tema que se pretende levar ao STF ou
STJ. Caso isso não ocorra o recurso será inadmissível (Súm. 281/STF e 207/STJ)

8
Inicialmente falamos da estrutura e ordem desses processos quando chegam ao tribunal.
Inicialmente, será realizada uma distribuição para um relator, que se tornará prevento para tomar
decisões relacionadas com aquele caso em específico.
Ele terá poderes ordinatórios (de movimentar o processo, poderes de dirigir e ordenar o
processo no tribunal), instrutórios (apreciar e conduzir eventual produção de prova no tribunal
ou determinar a sua produção na instancia inferior) e poderes decisórios que é o ponto onde
ganha mais relevância.
Dentro desse ele poderá não conhecer de recurso inadmissível, prejudicado ou que não tenha
impugnado especificamente os fundamentos da decisão recorrida, negar provimento a recurso
que for contrário a súmula, ou tese fixada em julgamentos repetitivos ou a jurisprudência
pacífica da corte, depois de apresentadas as contrarrazões, dar provimento ao recurso se a
decisão recorrida for contrária a sumula, jurisprudência ou julgamentos repetitivos.
Tudo isso serve para que o relator, ao submeter ao órgão colegiado o julgamento, apresente um
recurso plausível e possível de julgamento, ganhando contornos de um verdadeiro filtro.
Logo, somente os casos controvertidos e, especialmente, novos, seguirão diretamente para a
turma.
Esse julgamento monocrático tende a ser a regra, na prática. Mas o correto, a previsão, a
dinâmica do processo é que ele seja apreciado pelo colegiado.
Percebam que o contraditório está atrelado, aparentemente, com o resultado da decisão.
Quando o recurso será provido, terá contraditório. Quando não será provido, a decisão é
monocrática.
De

Você também pode gostar