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Nº 1.0024.13.

202723-6/004
RECURSO ESPECIAL Nº 1.0024.13.202723-6/004

COMARCA: BELO HORIZONTE

RECORRENTE(S): MAX RUBINSTEN DA SILVA REZENDE


Advogado(a): Carina Bicalho Piacenza

RECORRIDO(A)(S): MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS

Trata-se de recurso especial interposto com fundamento no artigo 105, inciso


III, alíneas "a" e “c”, da Constituição Federal, contra acórdão proferido por este
Tribunal, assim ementado:

EMENTA: APELAÇÃO CRIMINAL - HOMICÍDIO QUALIFICADO -


JÚRI - PRELIMINAR DE NULIDADE - REJEIÇÃO - MÉRITO -
ANULAÇÃO DO JULGAMENTO SOB A ALEGAÇÃO DE SER A
DECISÃO DO CONSELHO DE SENTENÇA MANIFESTAMENTE
CONTRÁRIA À PROVA CONTIDA NOS AUTOS - DESCABIMENTO
- VERTENTE DE PROVA CONTIDA NO FEITO E SUSTENTADA
EM JUÍZO - RESPEITO AO PRINCÍPIO CONSTITUCIONAL DA
SOBERANIA DO VEREDICTO POPULAR - MANUTENÇÃO DO
JULGAMENTO - REDIMENSIONAMENTO DA SANÇÃO
CORPORAL FIXADA EM PRIMEIRO GRAU - DESCABIMENTO -
RECURSO NÃO PROVIDO.
Da preliminar:
- Em que pesem os argumentos expendidos, não há falar em
nulidade no caso vertente, tal como ventilado pela defesa.
- Preliminar rejeitada.
Do mérito:
- Inexiste decisão manifestamente contrária à prova dos autos se o
Conselho de Sentença apenas opta por uma das versões
existentes, amparada em elementos deles constantes, devendo ser
respeitado o princípio constitucional da soberania do veredicto
popular.

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- Incabível a tese de redimensionamento da reprimenda aplicada
quando se constata ter sido esta fixada de forma justificada e
proporcional ao delito praticado.
- Recurso não provido. (TJMG - Apelação Criminal
1.0024.13.202723-6/002, Relator(a): Des.(a) Corrêa Camargo, 4ª
CÂMARA CRIMINAL, julgamento em 01/03/2023, publicação da
súmula em 08/03/2023).

Embargos de Declaração rejeitados.


As razões interpositivas apontam, além de dissídio jurisprudencial, negativa
de vigência aos artigos da legislação supostamente pertinentes à espécie,
asseverando o recorrente, preliminarmente, a nulidade do processo em razão da
sua ausência na audiência de instrução e, subsidiariamente, a ausência de prova
apta a embasar a condenação.
Pretende, nestes termos, a reforma do acórdão.
Contrarrazões ministeriais apresentadas.
Inviável o seguimento do apelo.
Quanto à questão preliminar, verifica-se, pelo exame das razões recursais
postas em contraste com o acórdão, que não se combateram os fundamentos da
decisão hostilizada, que aplicou à espécie a disciplina legal pertinente, amparando-
se, ainda, na jurisprudência promanada do colendo Superior Tribunal de Justiça a
respeito do tema posto em debate.
Dignas de nota as seguintes conclusões alcançadas pela Turma Julgadora:

O apelante encontrava-se respondendo ao presente processo em


liberdade, tendo sido pessoalmente intimado em balcão de
secretaria acerca da realização do ato processual combatido (f.
157). Entretanto, pelo que se infere da sua Folha de Antecedentes
Criminais de ff. 239-245, ele foi preso preventivamente, por fatos
estranhos a este feito, um dia antes da realização da audiência, ou
seja, em 20/02/2017.
Assim, não só poderia como deveria a defesa ter comunicado tal
fato ao Juízo de origem, haja vista que a informação que se tinha
nos autos era de que ele estava solto, o que não só não ocorreu
como também seu defensor constituído à época sequer compareceu

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à audiência, tendo sido necessária a nomeação de defensor ad hoc
para a consecução do ato processual (f. 172).
Posteriormente, abriu-se vista ao defensor constituído que
prosseguiu com o patrocínio da causa, o qual, inclusive, fez-se
presente na audiência em continuação (f. 185), sem qualquer
insurgência de nulidade, tendo sido encerrada a instrução, com o
prosseguimento de vista às partes para apresentação de alegações
finais, sendo que, novamente, não se aventou qualquer ilegalidade.
Como se não bastasse, até mesmo após o ingresso da Defensoria
Pública nos autos, responsável pela interposição de Recurso em
Sentido Estrito (ff. 204-206v), não se levantou qualquer irresignação
a respeito, fazendo, claramente, com que a matéria em debate se
tornasse preclusa, na medida em que ocorrera o incontroverso
trânsito em julgado da decisão de pronúncia, sem que o suposto
vício verificado fosse suscitado a qualquer momento, nos termos do
art. 571, inciso I, do Código de Processo Penal, impedindo, por
certo, a apresentação do pleito, agora, em sede de Apelação
Criminal.
Ora, não pode a defesa, neste momento, valer-se de seu próprio
equívoco para aventar o vício apontado, intentando, assim, a
devolução do feito ao Juízo Sumariante, para a realização de nova
audiência de instrução, sobretudo se já procedido o julgamento
popular.
(...)
Também não discrepa a jurisprudência do Superior Tribunal de
Justiça:
EMENTA: RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS.
PROCESSO PENAL. RÉU PRONUNCIADO. DESLOCAMENTO
POSTERIOR DE COMPETÊNCIA. DEPUTADO FEDERAL. STF.
MUDANÇA DE RITO. REALIZAÇÃO DE DILIGÊNCIAS. ART. 10,
DA LEI 8.038/1990. PREVISÃO EQUIVALENTE NO SUMÁRIO DA
CULPA. INEXISTÊNCIA. CORRESPONDÊNCIA AOS ARTS. 422,
PARTE FINAL, E 423, I, DO CPP. 2ª ETAPA DO PROCEDIMENTO
DO JÚRI. NULIDADE DA PRONÚNCIA. NÃO OCORRÊNCIA.
PRECLUSÃO. AUSÊNCIA DE PREJUÍZO. EXAME
APROFUNDADO DOS FATOS. IMPOSSIBILIDADE. RECURSO
DESPROVIDO.
1. A diplomação do réu, acusado da prática de cinco homicídios com
dolo eventual, com a subida dos autos ao Supremo Tribunal
Federal, conduz a uma alteração do rito processual, que passa a
prever uma fase de diligências anterior às alegações escritas, na
forma do art. 10, da Lei n. 8.038/1990, sem que isso acarrete a
nulidade dos atos anteriormente praticados pelo juízo então
competente.

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2. A determinação pela Corte Suprema da reinquirição de
testemunhas de defesa, na fase de diligências da ação penal
originária, consoante o art. 10, da Lei n. 8.038/1990, não implica na
implícita declaração de nulidade da pronúncia, proferida quando não
havia prerrogativa de foro, apenas havendo uma diferença de rito,
sem a previsão legal da mesma etapa no chamado sumário da
culpa, primeira fase do rito dos crimes dolosos contra a vida.
3. No procedimento dos crimes dolosos contra a vida, a fase de
diligências está prevista na parte final do art. 422, do CPP, bem
como no seu art. 423, I, para sanar qualquer nulidade ou esclarecer
fato que interesse no julgamento da causa, o que acontece após a
preclusão da decisão de pronúncia, antes apenas da inclusão dos
autos em pauta de reunião do Tribunal do Júri.
4. Não é admissível o exame aprofundado de provas em sede de
habeas corpus ou do subsequente recurso ordinário, uma vez que
esses meios de impugnação da decisão judicial partem do
pressuposto da existência de flagrante ilegalidade ou abuso de
poder, o que só pode ser visto a partir dos fatos registrados nas
instâncias ordinárias.
5. As nulidades no processo penal observam o princípio pas de
nullité sans grief, previsto no art. 563, do CPP, não devendo ser
declarada sem a efetiva comprovação do prejuízo concreto, o qual
não pode ser presumido pela parte, muito menos a partir da sua
própria afirmação sobre os fatos provados nos autos, sem que eles
tenham sido reconhecidos nas instâncias ordinárias.
6. O artigo 571, I, do CPP, estabelece que as nulidades ocorridas na
fase da instrução, nos processos de competência do Tribunal do
Júri, devem ser suscitadas até as alegações finais, antes do fim da
1ª etapa do procedimento, havendo preclusão quando a arguição
acontece apenas após a chamada preclusão pro judicato, ou seja,
depois da solução definitiva sobre a pronúncia.
7. Recurso ordinário desprovido. (RHC 133694/RS. Quinta Turma.
Ministro Ribeiro Dantas. DJe 20/09/2021). (Destacou-se).

Logo, “Tendo o acórdão recorrido decidido em consonância com a


jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, incide na hipótese a Súmula n.
83/STJ, que abrange os recursos especiais interpostos com amparo nas alíneas a
e/ou c do permissivo constitucional.” (AgInt no AREsp 1569778/BA, Rel. Ministro
MARCO AURÉLIO BELLIZZE, DJe de 18/03/2022).
Quanto ao mais, após análise dos elementos informativos contidos nos autos,
o Colegiado concluiu pela presença de provas aptas a embasar a condenação.

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Assim, conforme orientação da corte de destino, a pretensão de absolvição
esbarra no óbice contido na súmula 7 do Superior Tribunal de Justiça, por
demandar o reexame das provas dos autos.
Neste sentido:

Se o Tribunal de origem, soberano na apreciação dos elementos


fático-probatórios, concluiu pela configuração dos delitos em
questão, não há como, a fim da absolvição ou desclassificação da
conduta, rever, na via eleita, tal conclusão, por implicar aprofundado
reexame dos autos. Incidência da Súmula 7/STJ. Precedentes.
(AgRg no REsp 1.963.909/SP, Rel. Ministro SEBASTIÃO REIS
JÚNIOR, DJe de 22/9/2022).

Os mesmos fundamentos impedem a admissibilidade do recurso pelo


alegado dissídio jurisprudencial que, ademais, não restou demonstrado nos moldes
exigidos.
Diante do exposto, inadmito o recurso especial, com fundamento no artigo
1.030, inciso V, do Código de Processo Civil.
Intimem-se.

Desembargadora Ana Paula Caixeta


Terceira Vice-Presidente
rmsm/GVC

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