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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA VARA JUDICIAL DA

COMARCA DE NÃO-ME-TOQUE - RS.

Processo n° 5000111-23.2022.8.21.0112

ALEXSANDRO MAIQUEL GRAEFF, brasileiro, divorciado,


empresário, portadora da Carteira de Identidade no 1063866031 – SSP/RS e CPF nº.
003.496.000-74, residente e domiciliado na Rua Alvorada, nº. 274, Bairro Boa Vista, Carazinho
– RS, CEP 99500-000, através de sua procuradora constituída na procuração de fls. 65 dos autos
(evento1, INQ3) da AÇÃO PENAL, movida por JUSTIÇA PÚBLICA, vem respeitosamente à
presença de Vossa Excelência, apresentar DEFESA PRELIMINAR para informar e ao final
requerer nos termos que passa a expor:

I. DA ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA GRATUITA

O denunciado requer que seja concedido o benefício da Justiça gra-


tuita, por não poder arcar com os ônus financeiros decorrentes do presente processo, sem que
com isso sacrifique o seu sustento e o da sua família, conforme declaração de carência em anexo
aos autos (fls. 66 dos autos - evento1, INQ3).

II. SÍNTESE DA DENÚNCIA

O requerido foi denunciado junto a Polícia Civil desta Comarca,


conforme Boletim de Ocorrência nº 19/46/2019/153023, por supostamente descumprir as medi-
das protetivas deferidas em favor da vítima Adriana, no dia 20/12/2019, às 14horas, nos termos
das declarações do registro em anexo aos autos.

Av.Flores da Cunha, 1455 – CARAZINHO RS – CEP 99.500-000 –  054 3329 1650 – E-mail: pires.santosadvogados@gmail.com
Cabe salientar que as partes compareceram no dia 23/11/2021 em
audiência de conciliação, sendo que houve a conciliação das partes quanto ao delito de perturba-
ção, ficando o delito previsto no Art. 24-A da Lei 11.340/2006, para fins de apreciação do Par-
quet, conforme termo de fls. 62 dos autos.

A denúncia foi recebida em 03/02/2022, e o denunciado intimado


em 15/08/2022 para fins de apresentação de defesa escrita, no prazo legal.

III. DA REALIDADE DOS FATOS

Primeiramente cabe informar que não merece guarida as informa-


ções prestadas pela vítima no Boletim de Ocorrência nº 19/46/2019/153023, tendo em vista, que
no dia e horário referido, o acusado não se encontrava na Cidade de Não-Me-Toque, e sim, pres-
tando serviço de sonorização na Cidade de Santo Antônio do Planalto.

Cabe salientar que o denunciado passou o dia organizando os equi-


pamentos para o evento na referida Cidade, e a noite trabalhando na sonorização, conforme se
verifica com a Nota Fiscal de Prestação de Serviço nº 2021, a qual tem como descrição a presta-
ção de serviço no encerramento do Natal Luz, print da conversa com a responsável pele evento,
Sra. Ângela da SMEC de Santo Antônio, conforme documentos em anexo (Doc. 01/03).

Da mesma forma, que no dia 21/12/2019, sábado, da mesma forma,


o denunciado estava prestando serviços de sonorização na Cidade de Tio Hugo, com evento rea-
lizado, onde o denunciado da mesma forma permaneceu durante a tarde e noite na referida cida-
de, conforme Nota Fiscal em anexo (Doc. 04).

Por tais razões, improcede o pedido da vítima, pois o descumpri-


mento alegado no referido boletim de ocorrência não aconteceu, portanto, não houve o descum-
primento legal previsto no Art. 24-A da Lei 11.340/2006.

IV. PRELIMINARMENTE

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IV. 1. DA FALTA DE JUSTA CAUSA E DA REJEIÇÃO
TARDIA DA DENÚNCIA

Não merece prosperar a presente inicial acusatória, tendo em vista


falecer justa causa para o exercício da ação penal.

A justa causa, em sua face probatória, reclama de prova da materia-


lidade e da constatação de indícios suficientes de autoria.

No caso em tela, não há como imputar o descumprimento alegado


pela vítima ao ora denunciado, pois não há qualquer comprovação nos autos de que o denuncia-
do teria se deslocado até a casa da vítima como narrado no boletim de ocorrência.

E com as provas que ora se junta em anexo, as quais demonstram


que o denunciado não estava na Cidade nos dias informados pela vítima, descabe o prossegui-
mento da presente denúncia.

Contudo, apesar de já ter sido a inicial acusatória recebida pelo juí-


zo, é de se observar que o Superior Tribunal de Justiça tem decidido pela possibilidade de rejei-
ção tardia da denúncia ou queixa quando faltar justa causa.

Nesse sentido, é o entendimento de caso paradigma do STJ, em


análise do Recurso Especial nº. 1.318.180/DF:

RECURSO ESPECIAL. PROCESSUAL PENAL. DENÚN-


CIA. RECEBIMENTO. RESPOSTA DO ACUSADO. RECONHECIMENTO.
AUSÊNCIA DE JUSTA CAUSA.POSSIBILIDADE. ILICITUDE DA PROVA.
AFASTAMENTO. INVIABILIDADE. ACÓRDAO RECORRIDO. FUNDA-
MENTO EXCLUSIVAMENTE CONSTITUCIONAL. DECRE-
TO REGULAMENTAR. TIPO LEGISLATIVO QUE NAO SE INSERE
NOCONCEITO DE LEI FEDERAL 1. O fato de a denúncia já ter sido recebida
não impede o Juízo de primeiro grau de, logo após o oferecimento da resposta do
acusado, prevista nos arts. 396 e 396-A do Código de Processo Pe-
nal, reconsiderar a anterior decisão e rejeitar a peça acusatória, ao constatar a
presença de uma das hipóteses elencadas nos incisos do art. 395 do Código de
Processo Penal, suscitada pela defesa. 2. As matérias numeradas no
art. 395 do Código de Processo Penal dizem respeito a condições da ação e pres-
supostos processuais, cuja aferição não está sujeita à preclusão (art. 267, 3º, do
CPC, c/c o art. 3º do CPP). 3. Hipótese concreta em que, após o recebimento da
denúncia, o Juízo de primeiro grau, ao analisar a resposta preliminar do acusado,
reconheceu a ausência de justa causa para a ação penal, em razão da ilicitude da
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prova que lhe dera suporte. 4. O acórdão recorrido rechaçou a pretensão de afas-
tamento do caráter ilícito da prova com fundamento exclusivamen-
te constitucional, motivo pelo qual sua revisão, nesse aspecto, é descabida em re-
curso especial. 5. Os decretos regulamentares não se enquadram no conceito de
lei federal, trazido no art. 105, III, a , da Constituição Federal. 6. Recurso especi-
al parcialmente conhecido e, nessa parte, improvido.

No mesmo sentido, leciona Aury Lopes Jr.1:

Deve a acusação ser portadora de elementos – geralmente extraídos da investiga-


ção preliminar (inquérito policial) – probatórios que justifiquem a admissão da
acusação e o custo que representa o processo penal em termos de estigmatização
e penas processuais. Caso os elementos probatórios do inquérito sejam insufici-
entes para justificar a abertura do processo penal, deve o juiz rejeitar a acusação.
Segue o nobre doutrinador:

Não há o que se confundir esse requisito com a primeira condição da ação


(dumus comissi delicti). Lá, exigimos fumaça da prática do crime, no sentido de
demonstração de que a conduta praticada é aparentemente típica, ilícita e culpá-
vel. Aqui, a análise deve recair sobre a existência de elementos probatórios de
autoria e materialidade. Tal ponderação deverá recair na análise do caso penal à
luz dos concretos elementos probatórios apresentados.

Portanto, deve ser rejeitada tardiamente a presente inicial acusató-


ria, nos termos do artigo 395, III do CPP.

V - NO MÉRITO:

Ademais, caso não seja acatada a tese supra, a defesa se reserva no


direito de se manifestar sobre o mérito da ação penal nas alegações finais, quando pleiteará a
absolvição do acusado.

VI – DOS PEDIDOS:

a) Requer o deferimento do beneficio da Assistência Judiciária


Gratuita, por não ter condições de arcar com as custas decorrente do presente processo;

b) Requer o recebimento da presente defesa preliminar;

1
Direito Processual Penal, 9ª Edição, 2012, pg. 380.
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c) Requer a rejeição tardia da inicial acusatória, nos termos do
artigo 395, III do CPP;

d) O acusado requer a produção de todas as provas admitidas


em direito, em especial prova documental e testemunhal, através da oitiva das testemunhas que
serão arroladas no prazo de 5 dias.

e) Por fim, requer a V. Excelência a concessão de prazo de


5(cinco) dias, para informar o nome e endereço das testemunhas que estavam com o denunciado
na data dos fatos alegados.

Nestes termos, pede deferimento.

CARAZINHO (RS), 25 de agosto de 2022.

BEL. VÂNIA DOS SANTOS


OAB/RS 84.873

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