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FORMAÇÃO

SOCIOCULTURAL
E ÉTICA

PROF.ª ME. ANDERSON CÊGA


SUMÁRIO

AULA 01 EDUCAÇÃO AMBIENTAL - CONCEITOS 4

AULA 02 EDUCAÇÃO AMBIENTAL – RESPONSABILIDADE POR DESASTRES AMBIENTAIS 15

AULA 03 EDUCAÇÃO AMBIENTAL – CRIMES AMBIENTAIS 22

AULA 04 HISTÓRIA E CULTURA AFRO-BRASILEIRA E INDÍGENA 37

AULA 05 RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS – DIVERSIDADE HUMANA 49

AULA 06 EDUCAÇÃO EM DIREITOS HUMANOS - CONCEITO 57

AULA 07 EDUCAÇÃO EM DIREITOS HUMANOS – CONSTITUIÇÃO FEDERAL BRASILEIRA66

AULA 08 EDUCAÇÃO EM DIREITOS HUMANOS – DIREITO DAS MULHERES 79

AULA 09 EDUCAÇÃO EM DIREITOS HUMANOS – DIREITO DAS CRIANÇAS 93

AULA 10 EDUCAÇÃO EM DIREITOS HUMANOS – DIREITO DOS IDOSOS 104

AULA 11 EDUCAÇÃO EM DIREITOS HUMANOS – IDENTIDADE DE GÊNERO 111

AULA 12 EDUCAÇÃO EM DIREITOS HUMANOS – HOMOFOBIA 120

AULA 13 EDUCAÇÃO EM DIREITOS HUMANOS – PORTADORES DE NECESSIDADES ESPECIAIS


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AULA 14 ÉTICA - CONCEITO 144

AULA 15 ÉTICA E O MUNDO GLOBALIZADO DE HOJE 157

AULA 16 ÉTICA E LIBERDADE DE EXPRESSÃO 168


INTRODUÇÃO
O presente tem a finalidade de leva-lo a jornada do conhecimento desmitifican-
do muitas “verdades” aparentes do conhecimento popular. E assim ao longo da
jornada iremos descobrir realmente do que se trata o direito ambiental, a cultura
afro-brasileira, as relações étnico raciais, os direitos humanos e a ética.
A cada passo uma nova descoberta, um novo rumo que mudará completamen-
te todo o seu modo de ver e pensar a respeito de cada tema proposto. Espero que
goste da forma apresentada, bem como a clareza desenhada no trajeto, para que
ao final, possa refletir e considerar como sua mente, seu conhecimento e a forma
como enxerga o presente se alterou. Lembre-se, deixe anotado o que pensa a
respeito de cada tema, antes de iniciar os seus estudos, e ao final reveja como o
enxerga após o conhecimento adquirido.
Parabéns por chegar até aqui, o primeiro passo, nos vemos ao final, e sincera-
mente espero que tenha repensado sua forma de enxergar o presente em uma
perspectiva solidária global.
EDUCAÇÃO AMBIENTAL -
CONCEITOS

AULA 01
A Lei 6.938/1981 trouxe a definição legal de meio ambiente:

“Conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física, química e

biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas”.

No entanto, trata-se de conceito restritivo, segundo aponta Vladimir Passos


de Freitas, pois se limitaria aos recursos naturais, justificado pela época em que
a lei foi editada.
O Supremo Tribunal Federal segue defende:

“a incolumidade do meio ambiente não pode ser comprometida por interesses em-

presariais nem ficar dependente de motivações de índole meramente econômica,

ainda mais se se tiver presente que a atividade econômica, considerada a disciplina

constitucional que a rege, está subordinada, dentre outros princípios gerais, àquele

que privilegia a ‘defesa do meio ambiente’ (CF, art. 170, VI), que traduz conceito amplo

e abrangente das noções de meio ambiente natural, de meio ambiente cultural, de

meio ambiente artificial (espaço urbano) e de meio ambiente laboral”.

De qualquer sorte, assim restou consagrada em nosso país, mas que represen-
ta muito mais do que a imediata e precipitada conclusão de que seria apenas o
meio ambiente natural, como ar, solo, água, fauna e flora conforme prevê o con-
ceito legal. Portanto, precisamos entender que temos um meio ambiente natural,
cultural, artificial e do trabalho.
O objetivo da classificação é identificar a atividade degradante e o bem atingido
pela agressão, mantendo a unidade conceitual de meio ambiente. Carlos Frederico
Marés defende que:

“O meio ambiente, entendido em toda a sua plenitude e de um ponto de vista hu-

manista, compreende a natureza e as modificações que nela vem introduzindo o

ser humano assim, meio ambiente é composto pela terra, a água, o ar, a flora e a

fauna, as edificações, as obras-de-arte e os elementos subjetivos e evocativos como

a beleza da paisagem ou a lembrança do passado, inscrições, marcos ou sinais de

fatos naturais ou da passagem de seres humanos”.

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Portanto, podemos facilmente observar que o conceito de ambiente vai além
daquilo que foi definido pela legislação e podemos classificá-lo em quatro cate-
gorias distintas:
CLASSIFICAÇÃO DESCRIÇÃO
Ambiente Natural É a água, o ar, o solo, a flora e a fauna
e o equilíbrio dinâmico entre todos os
seres vivos o local onde
vivem. Ex.: § 1.º do art. 225 da CF.
Ambiente Artificial Está relacionado ao meio urbano, sendo
o espaço construído (conjunto de edifica-
ções). Ex.: arts. 182 e 21,
XX, da CF e o Estatuto da Cidade – Lei
10.257/2001.
Ambiente Cultural Descreve a história de um povo, sendo
integrado pelo patrimônio artístico, paisa-
gístico, arqueológico,
turístico, etc. Ex.: art. 216 da CF.
Ambiente Laboral ou do Trabalho É o ambiente onde as pessoas realizam
as suas atividades de trabalho, sejam
elas remuneradas ou
gratuitas. As palavras-chave são salubri-
dade e saúde físico-psíquica. Ex.: arts. 7.º,
XXIII, e 200, VII, da CF.

MEIO AMBIENTE ARTIFICIAL

Entende-se como meio ambiente artificial o espaço urbano construído, con-


siderando as edificações (espaço urbano fechado) e os equipamentos públicos
(espaço urbano aberto) – ruas, praças, áreas verdes, espaços livres em geral. Re-
sumidamente, é a ação do homem consistente em transformar o meio ambiente
natural em artificial. Também é chamado de meio ambiente construído por ser
formado por todos os assentamentos humanos e seus reflexos urbanísticos.
O melhor exemplo de transformação é a cidade; daí todas as preocupações
em relação à qualidade de vida, expressão utilizada tanto no caput do art. 225
como no inciso V do seu § 1.º. Citando José Afonso da Silva, Elida Séguin aponta
para uma disciplina autônoma do Direito Ambiental a partir do meio ambiente
construído: o Direito Urbanístico. E com razão, pois as preocupações são as mes-
mas e o Estatuto da Cidade, que instituiu diretrizes gerais para política urbana,
representa isso.

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A poluição sonora, por exemplo, é uma das formas de degradação ao meio am-
biente artificial, conforme já decidiu o STJ ao admitir a legitimidade do Ministério
Público para propor ação civil pública na defesa da segurança do trânsito, matéria
relativa à ordem urbanística, com vistas à proteção de direitos difusos e coletivos.
Se nós tínhamos antes da Constituição Federal de 1988 uma política nacional
do meio ambiente (natural), a partir dela, por meio do art. 182 do texto constitu-
cional, passamos a ter também uma política de desenvolvimento urbano para a
tutela do meio ambiente artificial e regulamentada pelo Estatuto da Cidade (Lei
10.257/2001).
Esta lei estabelece normas de ordem pública e interesse social que regulam o
uso da propriedade urbana em prol do bem coletivo, da segurança e do bem-estar
dos cidadãos, bem como do equilíbrio ambiental (art. 1.°, parágrafo único). Den-
tre as diretrizes gerais da política urbana, aquelas que merecem destaque para o
meio ambiente artificial são as seguintes:
• a garantia do direito a cidades sustentáveis, entendido como o direito
à terra urbana, à moradia, ao saneamento ambiental, à infraestrutura
urbana, ao transporte e aos serviços públicos, ao trabalho e ao lazer,
para as presentes e futuras gerações (art. 2.°, I);
• o planejamento do desenvolvimento das cidades, da distribuição es-
pacial da população e das atividades econômicas do Município e do
território sob sua área de influência, de modo a evitar e corrigir as dis-
torções do crescimento urbano e seus efeitos negativos sobre o meio
ambiente (art. 2.°, IV);
• a ordenação e controle do uso do solo, de forma a evitar:
a) a utilização inadequada dos imóveis urbanos;
b) a proximidade de usos incompatíveis ou inconvenientes;
c) o parcelamento do solo, a edificação ou o uso excessivos ou inade-
quados em relação à infraestrutura urbana;
d) a instalação de empreendimentos ou atividades que possam fun-
cionar como polos geradores de tráfego, sem a previsão da infraes-
trutura correspondente;
e) a retenção especulativa de imóvel urbano, que resulte na sua subu-
tilização ou não utilização; f) a deterioração das áreas urbanizadas;
g) a poluição e a degradação ambiental (art. 2.°, VI);

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• a adoção de padrões de produção e consumo de bens e serviços e de
expansão urbana compatíveis com os limites da sustentabilidade am-
biental, social e econômica do Município e do território sob sua área de
influência (art. 2.°, VIII);
• a proteção, preservação e recuperação do meio ambiente natural e
construído, do patrimônio cultural, histórico, artístico, paisagístico e ar-
queológico (art. 2.°, XII);
• a audiência do Poder Público municipal e da população interessada nos
processos de implantação de empreendimentos ou atividades com efei-
tos potencialmente negativos sobre o meio ambiente natural ou cons-
truído, o conforto ou a segurança da população (art. 2.°, XIII).

MEIO AMBIENTE CULTURAL

O patrimônio ambiental cultural ou meio ambiente cultural é aquele que abran-


ge, segundo Vladimir Passos de Freitas, as “obras de arte, imóveis históricos,
museus, belas paisagens, enfim tudo o que possa contribuir para o bem-estar
e a felicidade do ser humano” ou “aquilo que possui valor histórico, artísti-
co, arqueológico, turístico, paisagístico e natural”, nas palavras de Luís Paulo
Sirvinskas.
O art. 216 da Constituição Federal conceitua o patrimônio cultural brasileiro
como aqueles “bens de natureza material e imaterial, tomados individualmente
ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos
diferentes grupos formadores da sociedade brasileira” e nos quais se incluem:
I. as formas de expressão;
II. os modos de criar, fazer e viver;
III. as criações científicas, artísticas e tecnológicas;
IV. as obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços destinados
às manifestações artístico-culturais;
V. os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico,
arqueológico, paleontológico, ecológico e científico.
A Emenda Constitucional 48/2005 veio a acrescentar a previsão de que a lei es-
tabelecerá o Plano Nacional de Cultura – PNC que, segundo o § 3.º do art. 215, terá
duração plurianual, visando ao desenvolvimento cultural brasileiro e à integração

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das ações do Poder Público que conduzem, entre outras, à defesa e valorização
do patrimônio cultural brasileiro (inciso I). Este plano está em fase de elaboração
na Câmara dos Deputados.
Por sua vez, o Poder Público, com a colaboração da comunidade, promoverá
e protegerá o patrimônio cultural brasileiro – art. 216, § 1.°, da CF – por meio de:
• inventários;
• registros;
• vigilância;
• tombamento;
• desapropriação, e
• de outras formas de acautelamento e preservação.
O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – IPHAN, autarquia fe-
deral, é o órgão responsável pela preservação, defesa e valorização do patrimônio
cultural brasileiro.
Em dezembro de 2009, a Justiça Federal condenou o IPHAN por ter deixado de
aplicar multas por danos ao patrimônio histórico e artístico nacional, previstas no
Decreto-lei 25/1937, visto que o instituto tem poder de polícia para agir em defesa
dos bens públicos tombados.
Segundo o art. 1.º do decreto referido, constitui o patrimônio histórico e artís-
tico nacional o conjunto dos bens móveis e imóveis existentes no país e cuja con-
servação seja de interesse público, quer por sua vinculação a fatos memoráveis
da história do Brasil, quer por seu excepcional valor arqueológico ou etnográfico,
bibliográfico ou artístico.
Em nível mundial de preservação do patrimônio histórico, cultural e natural, o
principal órgão internacional é a Organização das Nações Unidas para a Educação,
a Ciência e a Cultura – UNESCO.
Mas qualquer cidadão, desde que prove a sua cidadania com título eleitoral
ou com documento que a ele corresponda, é parte legítima para propor ação po-
pular que vise a anular ato lesivo ao patrimônio público ou de entidade de que o
Estado participe, à moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio
histórico e cultural (art. 5.°, LXXIII, da CF). A ação popular está regulamentada pela
Lei 4.717/1965 e considera patrimônio público para este fim os bens e direitos de
valor econômico, artístico, estético, histórico ou turístico (art. 1.°, § 1.°).
Por sua vez, não podemos esquecer que o Ministério Público tem a função de
promover o inquérito civil e a ação civil pública para a proteção do patrimônio pú-

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blico e social, do meio ambiente e de outros interesses difusos e coletivos (ciência
do inciso III do art. 129 da CF).
O Superior Tribunal de Justiça já decidiu que:

“MEIO AMBIENTE. Patrimônio cultural. Destruição de dunas em sítios arqueológicos.

Responsabilidade civil. Indenização. O autor da destruição de dunas que encobriam

sítios arqueológicos deve indenizar pelos prejuízos causados ao meio ambiente,

especificamente ao meio ambiente natural (dunas) e ao meio ambiente cultural

(jazidas arqueológicas com cerâmica indígena da Fase Vieira). Recurso conhecido

em parte e provido”.

Atente-se ainda que compete aos municípios, segundo o inciso IX do art. 30


da CF, promover a proteção do patrimônio histórico-cultural local, observada a
legislação e a ação fiscalizadora federal e estadual. O inciso III do art. 23 também
da Carta Magna distribui competência entre a União, Estados, Distrito Federal e
Municípios para proteger os documentos, as obras e outros bens de valor históri-
co, artístico e cultural, os monumentos, as paisagens naturais notáveis e os sítios
arqueológicos.
Por fim, a Lei 10.257/2001 (Estatuto da Cidade) prevê a proteção do meio am-
biente natural e artificial e também do patrimônio cultural, histórico, artístico,
paisagístico e arqueológico (art. 2.º, XII).

MEIO AMBIENTE LABORAL OU DO TRABALHO

O meio ambiente laboral é aquele que envolve as condições do local onde


é prestado o serviço pelo trabalhador, observada a sua saúde. Nas palavras de
Wellington Pacheco Barros, “é o conjunto de condições, fatores físicos, climáticos
ou qualquer outro que, interligados, ou não, estão presentes e envolvem o local
de trabalho da pessoa humana”.
Ou seja, no meio ambiente laboral, é observada a salubridade no processo de
produção e que envolvem fatores químicos, biológicos e físicos. Por exemplo, o
STJ já decidiu, observando o meio ambiente do trabalho, que é aplicável sanção
administrativa ao empregador que, embora coloque EPI (Equipamento de Prote-
ção Individual) à disposição do empregado, deixa de fiscalizar e fazer cumprir as

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normas de segurança, pois seu fornecimento e uso são obrigatórios.
Outro exemplo, o STJ decidiu que é cabível ação civil pública com o objetivo de
afastar danos físicos a empregados de empresa em que muitos deles já ostenta-
vam lesões decorrentes de esforços repetitivos (LER), tendo o Ministério Público
Estadual legitimidade para propô-la, pois se refere à “defesa de interesse di-
fusos, coletivos ou individuais homogêneos, em que se configura interesse
social relevante, relacionados com o meio ambiente do trabalho”.
E por se tratar das condições de trabalho, o STF determinou que:

“COMPETÊNCIA – AÇÃO CIVIL PÚBLICA – CONDIÇÕES DE TRABALHO. Tendo a ação

civil pública como causas de pedir disposições trabalhistas e pedidos voltados à pre-

servação do meio ambiente do trabalho e, portanto, aos interesses dos empregados,

a competência para julgá-la é da Justiça do Trabalho”.

Portanto, o meio ambiente do trabalho está diretamente relacionado com a


segurança do empregado em seu local de trabalho, conforme conclui Luís Paulo
Sirvinskas, tendo em vista que o “direito ambiental não se preocupa somente
com a poluição emitida pelas indústrias, mas também deve preocupar-se com a
exposição direta dos trabalhadores aos agentes agressivos”.
Elida Séguin aponta como riscos ambientais presentes nos ambientes de tra-
balho:
• Riscos físicos, como ruído, vibração, temperaturas extremas, pressões
anormais,
• Radiações ionizantes e não ionizantes;
• Riscos químicos, como poeiras, fumos, gases, vapores, névoas e nebli-
nas, entre outros;
• Riscos biológicos, como fungos, helmitos, protozoários, vírus, bactérias,
entre outros.

O inciso VIII do art. 200 da CF constitui o fundamento constitucional do meio


ambiente do trabalho, senão vejamos:

Art. 200. Ao sistema único de saúde compete, além de outras atribuições, nos

termos da lei:

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VIII – Colaborar na proteção do meio ambiente, nele compreendido o do tra-

balho.

O próprio capítulo Dos Direitos Sociais aponta para a preocupação do consti-


tuinte naqueles direitos que buscam a redução dos riscos inerentes ao trabalho
por meio de normas de saúde, higiene e segurança (art. 7.º, XXII). A Norma Regu-
lamentadora 15 (NR 15) trata das atividades e operações insalubres.

Isto está
na rede
O Brasil figura como o 5º país do mundo em número de usuários com
acesso à Internet, com o total de 75 milhões de internautas. Neste ranking,
conforme dados do Internet World Stats , ficamos atrás da China, EUA, Japão
e Índia, respectivamente. Um país com quase 200 milhões de habitantes
poderia ter maior representatividade nesse panorama. Contudo, são mui-
tos os motivos que impedem os brasileiros de usarem mais a Internet e a
tecnologia da informação. Entre os entraves, por exemplo, há a barreira do
idioma, pois na rede predomina o inglês, o alto custo da banda larga que
permite a conectividade, os valores expressivos dos produtos tecnológicos,
como, computadores, notebooks, softwares e outros. E afinal, no âmbito
digital, o cidadão é tratado com dignidade? Agora, estes e outros questiona-
mentos ganham uma nova perspectiva dentro do direito ambiental, trata-se
do meio ambiente digital. Para abordar este novo ramo, o Observatório Eco
entrevista o jurista Celso Antonio Pacheco Fiorillo, que acaba de ser desig-
nado pelo presidente da OAB/SP, Luiz Flávio Borges D’Urso, para presidir
o Comitê de Defesa da Dignidade da Pessoa Humana, no âmbito do Meio
Ambiente Digital/Sociedade da Informação. Fiorillo defende a necessidade
de darmos “relevância” à defesa da dignidade da pessoa humana no deno-
minado meio ambiente digital. Para o jurista, o Brasil precisa interpretar a
“cultura digital” tendo como parâmetro a Constituição Federal, respeitando
e aplicando, por exemplo, os importantes conceitos inseridos nos artigos
215 e 216, que tratam da educação e da responsabilidade do Estado de
garantir a todos o acesso à cultura.
Fonte: https://observatorio-eco.jusbrasil.com.br

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Isto acontece
na prática

“BRIGA DE GALOS” (AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE Nº 1.856/


RIO DE JANEIRO) Caso de notável relevância para o meio ambiente, em seu
sentido ampliado, abordou a constitucionalidade da denominada “briga
de galos”, assunto submetido ao crivo do Plenário do Supremo Tribunal
Federal a partir do ajuizamento da Ação Direta de Inconstitucionalidade
(ADI) nº 1.856/RJ (Brasil, 2011), proposta pelo procurador-geral da Repú-
blica, tendo como relator o ministro Celso de Mello, demanda julgada
em 26.5.2011, quando se decidiu que a referida prática configura crime
previsto no art. 32 da Lei nº 9.605/98, de 12.2.1998 (Brasil, 1998), sendo,
ainda, atentatória à própria Constituição da República, não configuran-
do simples manifestação cultural, mas inquestionável ato de crueldade
contra os animais empregados na disputa, cuja proteção jurídica, com
nítido escopo socioambiental, encontra amparo na Lei Fundamental. Re-
sumidamente, no voto proferido pelo ministro relator, Celso de Mello
(Brasil, 2011), reconheceu-se o impacto negativo que a legislação atacada
representaria para a incolumidade do patrimônio ambiental dos seres
humanos e para a preservação da fauna, razão pela qual se reconheceu a
existência de conflito entre a Lei nº 2.895, de 20 de março de 1998 (Estado
do Rio de Janeiro, 1998), a qual admitia e até mesmo regulava a chamada
“briga de galos”), e a regra prevista no art. 225, caput, e § 1º, VII, da Cons-
tituição Federal (Brasil, 1988), dispositivo que veda qualquer crueldade
contra os animais. Celso de Mello (Brasil, 2011), citando balizada doutrina
da área ambiental, relembrou que o Constituinte, ao proteger a fauna
e vedar práticas que submetam os animais a atos crueldade, objetivou
tornar efetivo o direito fundamental à preservação da integridade do
meio ambiente

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Anote isso

MEIO AMBIENTE, se divide em Natural, Artificial, Cultural e Laboral. Não


associe assim de agora em diante o Meio Ambiente apenas a grama, rios
e animais.

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EDUCAÇÃO AMBIENTAL –
RESPONSABILIDADE POR
DESASTRES AMBIENTAIS

AULA 02
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1984 - Vila Socó - uma falha em dutos subterrâneos da Petrobras espalhou 700 mil litros de gasoli-
na nos arredores dessa vila, localizada também em Cubatão (SP). Após o vazamento, um incêndio
destruiu parte de uma comunidade local, deixando quase cem mortos.
Vila Socó depois da tragédia | Foto: Reprodução | O popular
Fonte: https://www.unicamp.br/unicamp/ju/noticias/2017/12/01/principais-desastres-ambientais-no-brasil-
-e-no-mundo
Os desastres ambientais sempre chamam a atenção por sua extensão aos
seres humanos, a exposição e a desapropriação forçada com que as pessoas são
expostas pela destruição de seus bens, bens estes que muitos levaram a vida toda
para conseguir reunir e assim propiciar conforto a seus entes queridos.
No entanto o que poucas pessoas sabem é que o Estado em nosso caso o
Brasil, é o responsável direto pelos desastres ambientais
O fundamento constitucional da responsabilização civil do Estado vem do pará-
grafo 6º, do artigo 37, o qual assegura que as pessoas jurídicas de direito público
e as de direito privado prestadoras de serviço público respondem pelos danos
que seus agentes causarem a terceiros, assegurado o direito de regresso contra
o agente causador, quando este atuar com dolo ou culpa.
A ideia central da responsabilização civil do Estado é a de que quem obtém
o bônus, arca com o ônus, ou seja, como os serviços estatais a todos aproveita,
nada mais justo que estes - a sociedade - respondam pelos danos decorrentes
daquela atividade.

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A Constituição Federal se refere a responsabilidade objetiva do estado para
com os lesados, excepcionando, todavia, ao servidor público, a responsabilidade
subjetiva.
A responsabilização objetiva do Estado existe desde a Constituição Federal de
1.946 (artigo 194), e foi repetida nas Constituições seguintes, de 1.967 (artigo 105)
até chegar ao texto atual do artigo 37, § 6º.Oportuno o destacar que “tal respon-
sabilidade não será elidida nem mesmo pela alegação de legalidade da atividade
empreendida, tendo em vista caber ao Estado responder pelos danos decorrentes
da consecução de suas políticas públicas”
Enquanto que no antigo liberalismo cabia ao Estado abster-se da sociedade,
no pós-modernismo é seu dever realizar prestações positivas no campo social,
haja vista que:

“…enquanto os ‘direitos individuais’ significam um não fazer do Estado e dos demais

agentes públicos, os ‘direitos sociais’ devem ser vistos como aqueles que têm por

objetivo ‘atividades positivas’ do Estado, do próximo e da sociedade, para subminis-

trar aos homens certos bens e condições. “

Assim, “no Estado Democrático de Direito a base do Direito Administrativo só


pode ser o Direito Constitucional”. O artigo 225 da Constituição Federal determina
à sociedade e ao Poder Público o dever de proteção ambiental e, seu artigo 170,
IV, dispõe que as atividades econômicas só se legitimam quando preservam o
meio ambiente.
Não restam dúvidas que o artigo 225, § 3º, da Constituição Federal recepcionou
a norma insculpida no artigo 14 e seu parágrafo 1º, da Lei nº 6.938/81, que esta-
belece a Política Nacional do Meio Ambiente, dispondo expressamente que quem
deixar de tomar as medidas necessárias à preservação ou correção de danos
ambientais deverá, independentemente de sua culpa, repará-los ou indenizá-los:

Art. 14 - Sem prejuízo das penalidades definidas pela legislação federal, esta-

dual e municipal, o não cumprimento das medidas necessárias à preservação

ou correção dos inconvenientes e danos causados pela degradação da quali-

dade ambiental sujeitará os transgressores:

§ 1º. - Sem obstar a aplicação das penalidades previstas neste artigo, é o poluidor

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obrigado, independentemente da existência de culpa, a indenizar ou reparar os

danos causados ao meio ambiente e a terceiros, afetados por sua atividade. …

É expresso o caput do citado artigo sobre a possibilidade de responsabilização


por omissão. O artigo 225, caput, da Constituição Federal, determina uma ação
estatal e da sociedade, tanto preventiva como repressiva à proteção ambiental e,
seu parágrafo primeiro reforça o dever do Poder Público a tal incumbência, daí a
concluir que há uma obrigação pré-existente de tutela ambiental do Estado, sur-
gindo, consequentemente, a possibilidade de sua responsabilização por omissão.
Outrossim, o dispositivo legal acima mencionado usa a expressão poluidor
que, segundo definição da própria Lei 6.938/81é toda “… pessoa física ou jurídi-
ca, de direito público ou privado, responsável, direta ou indiretamente, por
atividade causadora de degradação ambiental” (Art. 3º, IV).
Decorrência disto é a legitimidade passiva solidária de todo aquele que con-
tribuir, direta ou indiretamente, para a degradação ambiental, ou seja, a pessoa
física que emanou o ato também é responsável solidariamente à pessoa jurídica
pela qual atuou.
Nota-se que o aludido dispositivo não faz distinção entre poluidor público ou
privado, logo, da mesma forma que o administrador de uma empresa privada
responde pelos danos ambientais por ela provocados, o administrador público
responderá pelos danos ambientais provocados pela pessoa jurídica de direito
público a qual representa, porém pela teoria subjetiva, conforme reza o artigo 37,
§ 6º, da Constituição Federal.
Neste ponto discordamos de parte da doutrina que entende haver uma equipa-
ração isonômica entre o poluidor público e o privado, uma vez que a Constituição
Federal expressamente excepcionou ao servidor público, a responsabilização nos
casos de dolo ou culpa, ao passo que, em relação ao representante de pessoa
jurídica de direito privado, a responsabilização por danos ambientais será inde-
pendentemente de culpa.
Não obstante se trate de um macro bem - meio ambiente - não há como pre-
valecer a legislação infraconstitucional em face de disposição expressa da Cons-
tituição Federal, devendo-se fazer uma interpretação conforme a constituição do
artigo 3º, IV, da Lei 6.938/81.
Não há dúvidas, entretanto, ser cabível a responsabilização do agente público
pelos danos ambientais, aos quais a pessoa jurídica de direito público que ele

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representa for poluidora direta ou indireta.
Isto porque, como ensina Paulo Affonso Leme Machado, os bens ambientais
são valores constitucionais indisponíveis e, não raras vezes, a discricionariedade
administrativa os interpreta em conformidade às suas expectativas - legítimas ou
não - incorrendo em prejuízos aos seres humanos.
Aliás, a ação administrativa deve-se pautar pelos princípios da legalidade, mo-
ralidade, eficiência, impessoalidade e publicidade (Art. 37, caput, da Constituição
Federal, e Art. 4º da Lei nº 8.429/92).
O parágrafo 4º, do artigo 37, da Constituição Federal, cumulado com sua re-
gulamentação infraconstitucional, a Lei nº 8.429/92, elenca atos considerados de
improbidade administrativa e as respectivas sanções.
O ato improbo pode decorrer do recebimento de numa vantagem indevida
para deixar de praticar algo que deveria fazer, ou para fazer algo que não deveria
(Art. 9º da Lei nº 8.429/92). Pode decorrer também de qualquer dano ambiental
gerado por ação ou omissão, dolosa ou culposa, que lese o erário público (Art. 10,
da Lei nº 8.429/92). Além destes, pode decorrer até mesmo da infringência de um
dos princípios da administração pública (Art. 11, da Lei nº 8.429/92), sujeitando,
em qualquer dos casos, o responsável às penalidades previstas nos artigos 37, §
4º da Constituição Federal, e 12º, da Lei nº 8.429/92.
Frisa-se, outrossim, que não cabe ao Estado escusar-se ao cumprimento das
medidas necessárias à preservação ou correção dos danos ambientais alegando a
cláusula da reserva do possível. A Declaração de Estocolmo sobre Meio Ambiente,
da Organização das Nações Unidas, determina aos Estados em desenvolvimento
obrigação de planejamento integrado para assegurar a compatibilidade entre
desenvolvimento e preservação ambiental (princípio 13º) e, a questão já foi posta
a apreciação do Supremo Tribunal Federal, que julgou incabível alegação da re-
serva do possível diante da omissão estatal na implantação de políticas públicas
previstas na Constituição Federal, sempre que a omissão vier a comprometer a
eficácia e integridade de direitos sociais.
Deve o Estado, portanto, priorizar políticas públicas definidas no texto consti-
tucional, dentre as quais está a preservação e defesa do meio ambiente ecologi-
camente equilibrado para as gerações presente e futuras (Art. 225).
O que vemos, no entanto, é o descaso do Poder Executivo para com a preser-
vação ambiental, haja vista o descompromisso com os órgãos ambientais respon-
sáveis, que não têm equipamentos modernos, tampouco quantidade e qualidade

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de pessoal necessários ao serviço de fiscalização e inspeção das obras e serviços
potencialmente poluidores. Seus veículos estão sucateados e não há pessoal ha-
bilitado suficiente à demanda do país, o que se reflete na falha dos serviços de
fiscalização ambiental e o grande número de danos ao meio ambiente.
Isto reforça a necessidade de responsabilização do Estado por omissão na
preservação e proteção do meio ambiente ecologicamente equilibrado que, ape-
sar de ser direito fundamental do ser humano e dever constitucional expresso
do Poder Público, é tratado com desaso pelo Poder Executivo que não a prioriza.
Assim, “se o Estado lesar um bem juridicamente protegido para satisfazer
um interesse público, mediante conduta comissiva legítima, responderá com
fundamento no princípio da isonomia, pois, se todos se beneficiam com con-
duta do Estado, também deverão arcar com seu ônus”, além de que, a repa-
ração do dano aproveitará a toda a sociedade e, na impossibilidade da repará-lo,
a indenização deve ser destinada a um fundo de reparação do meio ambiente,
uma vez que, em qualquer dos casos, a sanção imposta ao Estado se reverterá
em benefício social.
O Estado, entretanto, não é um segurador universal, cabendo uma análise
caso a caso sobre o seu dever fiscalizatório em relação ao dano causado, para ser
legitimado passivo de uma ação reparatória, uma vez que:
Para que haja responsabilização em matéria ambiental, pois, é necessário ape-
nas verificar se, no caso concreto, o sujeito se caracteriza como poluidor direto ou
indireto, o que passa pela ideia de nexo e, no caso de omissão do Estado, deverá
considerar a natureza e os limites de seu dever fiscalizatório. Por isto é que, em
casos tais, para que o Estado possa ser considerado poluidor indireto o intérpre-
te deverá perscrutar a existência de culpa administrativa, isto é, se a fiscalização
podia ou não ser exigida da Administração (17).
Em suma, em se tratando de responsabilidade na reparação de dano ambien-
tal por ação, basta a conduta, o resultado e o nexo causal, ainda que indireto, ao
passo que, para a responsabilização por omissão, acresce-se aos elementos retro
mencionados a culpa administrativa que, conforme narrado, significa o simples
não funcionamento do serviço.
Esta culpa administrativa é mais facilmente identificada, e até presumida, na-
quelas atividades potencialmente poluidoras às quais a lei exige prévio licencia-
mento ambiental, podendo, entretanto, o Estado elidir a presunção da culpabili-
dade.

20
Isto está
na rede

Desastres ambientais e mudanças climáticas marcam 1º dia do Fórum


Mundial da Água, que ocorreu em março de 1998. Os dois últimos gran-
des desastres ambientais brasileiros, da barragem de Mariana, em 2015,
e o de Barcarena, no início de março, foram lembrados em, pelo menos,
cinco painéis realizados no primeiro dia de debates do Fórum Mundial
da Água, em Brasília.
Fonte: https://g1.globo.com/df/distrito-federal/noticia/desastres-ambien-
tais-e-mudancas-climaticas-marcam-1-dia-do-forum-mundial-da-agua.
ghtml

Isto acontece
na prática

2015 - Rompimento da barragem de Mariana - em 5 de novembro de


2015, o rompimento da barragem de Fundão, da Samarco, em Mariana
(MG), provocou a liberação de uma onda de lama de mais de dez metros
de altura, contendo 60 milhões de metros cúbicos de rejeitos. Em Minas
Gerais, na última década, ocorreram desastres ambientais com minera-
ção em Nova Lima (2001), em Miraí (2007), e em Itabirito (2014).

Anote isso

Dentre todos os desastre ambientais ocorridos no Brasil, quantas pessoas


foram realmente condenadas até os dias de hoje? As pessoas jurídicas
pagam as multas ambientais, mas na esfera penal, não são condenadas.

21
EDUCAÇÃO AMBIENTAL –
CRIMES AMBIENTAIS

AULA 03
22
O ambiente é o que somos em nós mesmos. Nós e o ambiente somos dois proces-

sos diferentes; nós somos o ambiente e o ambiente somos nós. Jiddu Krishnamurti

No momento em que o Brasil novamente se transforma em um circo dos


horrores em matéria ambiental, em razão da tragédia consumada ocorrida na
barragem em Brumadinho, bem como a anunciada pelo Governo Federal para a
Amazônia em favor das empresas mineradoras em 2017
A principal lei sobre o meio ambiente é a atual Lei 9.605/98, conhecida como
Lei Ambiental. No país de Chico Mendes, onde nem as freiras escapam da fúria
predatória voltada contra as nossas riquezas naturais, não é difícil imaginar o grau
de complexidade inerente ao processo legislativo para a provação e sanção do
referido diploma legal. Embora não haja dúvida quanto ao avanço jurídico alcan-
çado pelo advento do novo ordenamento, estamos ainda bastante atrasados no
tocante à necessária revisão, especialmente no que diz respeito à parte criminal.
A Lei Ambiental é uma lei de natureza mista, ou seja, possui conteúdo variado,
disciplinando temas como o Direito Penal, Direito Processual Penal e Direito Admi-
nistrativo. Entretanto, dos oitenta e dois artigos que a compõem, sessenta e nove
deles são de natureza criminal, que, por sua vez, criam trinta e quatro tipos penais
incriminadores: seis contra a fauna; catorze contra a flora; mais cinco referentes à
poluição; quatro em prejuízo do ordenamento urbano e do patrimônio cultural; e
por fim, outros cinco que atentam contra a administração ambiental. Vamos ver
os crimes propriamente ditos.

Contra a fauna

Os atentados que se relacionam à fauna, então previstos na Lei 5.197/67 (Có-


digo de Caça) e o Decreto-Lei 221/67 (Código de Pesca), foram consolidados então
na Seção I do Capítulo V.
Cumpre salientar que as penas cominadas guardam, de certo modo, uma ade-
quação à gravidade dos fatos, distanciando-se do que foi outrora previsto que,
por considerar como inafiançáveis os delitos cometidos contra a fauna silvestre e,
por estabelecer sanções um tanto quanto rigorosas em demasia, tinha sua aplica-
ção prática um tanto quanto discreta. Aplica-se, na grande maioria dos casos, os
princípios da insignificância e da irrelevância penal do fato (= delito de bagatela),

23
absolvendo então os acusados.
Considerações acerca dos tipos penais em se tratando a fauna merecem des-
taque.
Inicialmente no art. 29 fez o legislador referência à “espécimes”, assim sendo,
este deu sentido de que o tipo penal só se verificará com a ação em face de vários
exemplares da fauna, ou seja, que o dano aplicado em relação a tão somente um
exemplar não configuraria crime.
Com relação ao art. 30, verificou-se a utilização da expressão: “exportar para
o exterior”, se não verificando-se essa redundante, ao menos restringiu a possi-
bilidade da prática de tal fato típico no comércio tão somente interno, fato muito
comum em se tratando de Brasil.
Questão também relevante é a que se refere ao art. 32, que trata da prática
de abuso contra os animas, haja vista não se ter definido legalmente o que se
configura como sendo a “pratica de abusos”. “Maus-tratos” é o nome jurídico da
conduta que consta o art. 136 do Código Penal, no entanto, praticada contra ani-
mais possui uma pena maior do que contra a pessoa.

Contra a flora

Dos crimes contra a flora, previstos na Seção II do Capítulo V, destaca-se a in-


corporação como sendo conduta criminosa a maioria das contravenções penais
outrora previstas na Lei 4.771/65 (Código Florestal).
Em se tratando desta modalidade de crimes, sem dúvidas um dispositivo legal
que merece destaque é o art. 42, que se refere ao fabrico, venda, transporte ou
soltura de balão. O referido artigo é, sem dúvida, um comportamento adequado
para figurar no rol das contravenções penais ou das infrações administrativas,
haja vista, ter como escopo inibir conduta típica da cultura brasileira. Certamente
a alegria propiciada pelas festas juninas, que em nada se dista das manifestações
culturais fadará tal dispositivo ao desuso.

24
Da poluição

Em se tratando dos crimes previstos na Seção III do Capítulo V da Lei dos Crimes
Ambientais, o legislador destacou no art. 54 os crimes de poluição, revogando en-
tão tipificação análoga prevista no art. 15 da Lei 6.938/81, em face de possui um
conteúdo mais abrangente. Dispõe o referido artigo da seguinte redação: “Causar
poluição de qualquer natureza em níveis tais que resultem ou possam resultar
em danos à saúde humana, ou que provoquem a mortandade de animais ou a
destruição significativa da flora: Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.
§ 1º Se o crime é culposo: Pena - detenção, de seis meses a um ano, e multa. §
2º Se o crime: I - tomar uma área, urbana ou rural, imprópria para a ocupação
humana; II - causar poluição atmosférica que provoque a retirada, ainda que mo-
mentânea, dos habitantes das áreas afetadas, ou que cause danos diretos à saúde
da população; III - causar poluição hídrica que torne necessária a interrupção do
abastecimento público de água de uma comunidade; IV - dificultar ou impedir o
uso público das praias; V - ocorrer por lançamento de resíduos sólidos, líquidos ou
gasosos, ou detritos, óleos ou substâncias oleosas, em desacordo com as exigên-
cias estabelecidas em leis ou regulamentos: Pena - reclusão, de um a cinco anos.
§ 3º Incorre nas mesmas penas previstas no parágrafo anterior quem deixar de
adotar, quando assim o exigir a autoridade competente, medidas de precaução
em caso de risco de dano ambiental grave ou irreversível”.
Destaca-se que o caput prevê a forma dolosa do crime. O tipo penal tutela en-
tão a saúde humana, podendo o crime ser figurado como de perigo ou de dano.
A segunda parte, tara o artigo da incolumidade animal e vegetal, sendo o referido
crime tão somente de dano, vez que, explicitamente tipifica a conduta capaz de
provocar a mortandade de animais ou a efetiva destruição significativa da flora.
Tratou o § 1º da modalidade culposa do referido crime, em todas as suas
modalidades. Já em seu § 2º cuida do crime qualificado pelo resultado, onde se
permite a aplicação de uma pena mais severa. Por fim o § 3º, prevê a omissão na
adoção de medidas de precaução em caso de risco de dano ambiental grave ou
irreversível, valorizando-se então os princípios de direito ambiental.

25
Da desconstituição da pessoa jurídica

Visualizada em diversos países a teoria da “desconsideração da personalidade


jurídica” ou da “despersonificação da pessoa jurídica” vem, sem dúvidas, ganhando
espaço na doutrina brasileira e aos poucos sendo aplicada nos Tribunais, não só
no que se relaciona ao direito ambiental, mas também a outros ramos do direito.
A referida consiste em extinguir a personalidade jurídica sempre que a existên-
cia desta, porventura, obstar ao ressarcimento dos prejuízos causados á qualidade
do meio ambiente, de acordo dispõe o art 4º da 9.605: “Poderá ser desconsiderada
a pessoa jurídica sempre que sua personalidade for obstáculo ao ressarcimento
de prejuízos causados à qualidade do meio ambiente”.
A referida Lei dos Crimes Ambientais, no que se refere à desconsideração da
personalidade jurídica (art. 4º), praticamente, reproduz o que aduz o artigo 28, §
5º do Código de Defesa do Consumidor. O principal parâmetro da questão é sem
dúvidas a necessidade de reparação dos prejuízos causados.
O que na realidade se depreende é que a “desconsideração” é enfim aplicada
quando a pessoa jurídica em questão foge das finalidades a que foi criada ou,
mesmo dentro dela, comete atos que, se analisados, demonstra fraude à lei ou
ao contrato, em detrimento de terceiros.
Como objeto da possível desconsideração ou despersonalização é, indubita-
velmente, coibir a fraude, em todos os sentidos, bem como o abuso de direito,
haja vista o cometimento de excessos. Há de se destacar, no entanto que a des-
personalização só anula os atos em questão impugnados, preservando então os
demais que se verificarem alheios aos atos outrora impugnados.
Vislumbra-se que não é qualquer prática delituosa que motivará a desconsi-
deração. Destaca Valdir Sznick, que a desconsideração se dará “quando há uma
ocultação da pessoa por trás da pessoa jurídica e ocorrendo o levantamento do
véu do véu (lifting the corporate veil) se descobre o uso abusivo ou excessivo da
pessoa jurídica, mascarando a verdadeira finalidade da mesma. A má direção da
empresa (com o abuso ou o uso excessivo) constitui-se em uma infração e, pois,
um comportamento ilícito, justificando a desconsideração”.
Em suma, grande parte da doutrina de direito ambiental entende que agiu bem
o legislador ao inserir na Lei dos Crimes Ambientais a possibilidade da desconsi-
deração da personalidade jurídica, combatendo a fraude e o abuso de direito, por
meio de seus sócios, agredindo o meio ambiente e locupletando-o.

26
A aplicação das penas

No que se relaciona à aplicação das penas, o referido diploma legal (lei.


9.605/98) não dista em nada do Código Penal Brasileiro (Decreto-Lei. 2.848, de
07 de dezembro de 1940), prevendo penas de multa, restritivas de liberdade e
restritivas de direito.
Entretanto destaca-se a preferência legislativa em relação às penas restritivas
de direito e as pecuniárias e isso se explica por dois motivos. Inicialmente as refe-
ridas penas aplicam-se a quaisquer pessoas, ou seja, às pessoas físicas e jurídicas;
e, haja vista a enorme diferença entre os delinquentes ambientais e àqueles que
tem ocupado o sistema prisional brasileiro. Ainda em relação a segunda situa-
ção notar-se-ia um contrassenso se o legislador optasse pela pena restritiva de
liberdade, vez que a sociedade suportaria o dano causado e às custas no que se
relaciona a privação de liberdade do delinquente.

Das penas aplicáveis às pessoas físicas

Ambas as penas do referido diploma legal aplica-se às pessoas físicas, sendo


elas, as restritivas de liberdade, de direito e multa.

Penas restritivas de liberdade

As penas privativas de liberdade que se verificam no ordenamento jurídico


nacional são as de detenção e as de reclusão, e prisão simples em se tratando de
contravenção penal.
Diferencia-se a detenção e a reclusão por um aspecto meramente formal, de
acordo com o art. 33 do Código Penal. Dispõe este da seguinte redação: “a pena
de reclusão de ser cumprida em regime fechado, semiaberto ou aberto. A de de-
tenção, em regime semiaberto, ou aberto, salvo necessidade de transferência a
regime fechado”. Assim sendo, tal diferença consiste tão somente no regime de
cumprimento de pena.
Em se tratando da Lei dos Crimes Ambientais, como anteriormente citado, fez

27
o legislador explicita preferência pela restritiva de direito, podendo até, em deter-
minados casos, ser substituída pelas restritivas de direito. Assim sendo, verifica-se
que sua aplicabilidade se dá tão somente no último caso.

Penas Restritivas de direito

Face ao disposto no artigo 7º da Lei 9.605/98, que dispõe da seguinte redação:


“as penas privativas de direitos são autônomas e substituem as privativas de li-
berdade quando: I – trata-se de crime culposo ou for aplicada pena privativa de
liberdade, inferior a quatro anos; II – a culpabilidade, os antecedentes, a conduta
social e a personalidade do condenado, bem como os motivos e as circunstâncias
do crime indicarem que a substituição seja suficiente para efeitos de reprovação
e prevenção do crime”, verifica-se como anteriormente referido, que o legislador
brasileiro sem dúvida fez estrita opção pela pena restritiva de direito.
O fato acima descrito se deu face algumas características dos crimes ambien-
tais.
Inicialmente nota-se que há, indubitavelmente, uma diferença entre o perfil do
delinquente que o comete em relação ao que comete um crime, como por exem-
plo, de homicídio, assim sendo, não é concebível a lei preveja a estes, a mesma
cominação de pena, nem mesmo o regime de cumprimento.
De acordo ainda a disposição do art. 7º, parágrafo único, da Lei dos Crimes
Ambientais, as penas restritivas de direito terão a mesma duração das restritivas
de liberdade.
Sem dúvida é uma evolução do direito moderno, haja vista a busca incessante
de se afastar as penas restritivas de liberdade em função do colapso que vive o
sistema prisional brasileiro, e são elencadas de acordo dispõe o art. 8º do referido
diploma legal: “I – prestação de serviços à comunidade; II – interdição temporária
de direitos; III – suspensão parcial ou total de atividades; IV – prestação pecuniária;
V – recolhimento domiciliar”.
Das penas acima citadas, é mister enfatizar que não se verifica uma sobreposi-
ção ou uma hierarquia entre elas, tendo o juiz discrionáriedade na aplicação das
mesmas, no entanto verifica-se ao passo da atual conjuntura econômica nacional,
a maior aplicação da pena de prestação de serviços à comunidade e a pena de
prestação pecuniária, sendo que historicamente a primeira se deriva da segunda,

28
ao passo que era aplicada àquelas pessoas que não reuniam condições de solver
com as pecuniárias.

Penas da Pessoa Jurídica

Após descrever as penas aplicáveis as pessoas físicas, a Lei dos Crimes Am-
bientais elucida acerca das penas cabíveis as pessoas jurídicas.
Dispõe o art. 21:

“as penas aplicáveis isolada, cumulativa ou alternativamente às pessoas ju-

rídicas, de acordo com o art. 3º são: I – multa; II – restritivas de direitos; III –

prestação de serviços à comunidade”.

No que se relaciona à aplicação da pena, define o artigo anteriormente citado,


três possibilidade. Inicialmente as penas são impostas: isoladas, assim sendo uma
só pena a ser aplicada; alternativa, onde nota-se que há mais de uma pena, no
entanto tão somente uma é aplicada, e; por fim as cumulativas, onde verifica-se
mais de uma pena e sendo, então, aplicadas ambas em cumulo.
Em se tratando da pessoa jurídica a pena alternativa, ou seja, a restritiva de
direito será aplicada como regra, vez que a Parte Especial do diploma legal em
questão prevê tão somente penas privativas de liberdade, o que se verifica como
sendo fator motivador de muitos contrários a punição penal da pessoa jurídica.
Ainda neste, foi citada as modalidades de penas no que se relaciona à sua
aplicação. Na prática, quando, porventura, se verificar uma pena alternativa, apli-
car-se-á a restritiva de direito; quando notar-se a cumulativa, aplicar-se-á tão so-
mente a restritiva de direito.
Em face ao grau dos danos causados, os prejuízos causados e a extensão da
degradação visualizada, entendem doutrinadores que ao lado da pena de multa,
poderá ser aplicada outra restritiva de direito, como a prestação de serviços à
comunidade.
A Lei 9.605/98 devidamente elencou as penas restritivas de direito a serem
aplicadas à pessoa jurídica, sendo elas, de acordo com o art. 22: “as penas restriti-
vas de direito da pessoa jurídica são: I – suspensão parcial ou total das atividades;
II – interdição temporária de estabelecimento, obra, atividades; III – proibição de

29
contratar com o Poder Público, bem como dele obter subsídios, subvenções ou
doações”.
Em se tratando da su8spensão das atividades, explicada no § 1º do artigo su-
pra citado, assim como se verifica no direito administrativo, constitui-se um ato
punitivo. Dada a gravidade do dano, verificar-se-á a aplicação da suspensão par-
cial ou total, no entanto nota-se que a suspensão susta tão somente a execução
(continuação).
Em se tratando da interdição, explica o § 2º:

“a interdição será aplicada quando o estabelecimento, obra ou atividade estiver

funcionando sem a devida autorização ou em desacordo com a concedida, ou com

a violação de disposição legal ou regulamentar”.

Nota-se que este acima traz de forma taxativa os casos onde caberá a aplicação
da interdição.
São sujeitas a interdição em face das disposições legais: a) obra ou atividade –
aqui, trata-se de qualquer execução, inclusive se esta tiver natureza tão somente
de reparos, como, por exemplo, reforma em galerias de águas pluviais. Nota-se
que para a sua aplicação há a necessidade de que esta esteja contrariando a lei
ou a regulamento; b) estabelecimento – nota-se aqui que há a necessidade da
participação de uma empresa ou firma que está a desenvolver atividades que não
estão de acordo com as disposições legais.
No que se relaciona à interdição, verificar-se-á esta quando: 1 – autorização:
tal verifica-se pôr em relação ao funcionamento, bem como a construção de uma
obra. Em ambos os casos a não existência da autorização torna a atividade clan-
destina; 2 – em desacordo: aqui, há a autorização para realização de determinada
atividade, no entanto, poderá ser verificada em duas situações distintas – a) con-
cedida: verifica-se quando a autorização é dada para a consecução de atividade
diversa da que realmente se verifica ocorrendo; b) violação: quando apesar de
ter autorização para realização daquela determinada atividade, não a executa de
acordo com as disposições legais.
Por fim, a proibição de contratar com o Poder Público é aplicada às pessoas
jurídicas de grande repercussão em suas áreas de atuação.
Dispõe o § 3º, do art. 22 da Lei dos Crimes Ambientais que:

30
“A proibição de contratar com o Poder Público e dele obter subsídios, subvenções

ou doações não poderá exceder a dez anos”.

No que se relaciona a pessoa física, tal restrição foi fixada de 03 (nos casos de
crimes culposos) a 05 anos (nos casos de crimes dolosos). No caso da pessoa ju-
rídica, previu o legislador o prazo máximo de 10 anos. Sabe-se que as penas que
vedam subsídios e adjacências repercutem em muito nas empresas, haja vista
sua natureza financeira.
Do art. 23 ao art. 25, prevê a Lei dos Crimes Ambientais acerca da prestação
de serviços, da liquidação forçada e da apreensão de produtos.
Inicialmente da prestação de serviços à comunidade tal se verificará num de-
senvolvimento por parte da pessoa jurídica condenada de programas e projetos
de cunho social, bem como o desenvolvimento de recuperação de áreas degradas.
Na impossibilidade de se verificar o cumprimento destas, poderá ser aplicada a
contribuição a entidades, sendo que pela ordem, tais deverão ser: ambientais,
culturais e públicas.

Isto está
na rede
Desde o dia 25 de janeiro, a população brasileira acompanha as repercus-
sões de mais um crime ambiental de proporções incalculáveis. O rompi-
mento da barragem de “Brumadinho 1”, na região do Córrego do Feijão
(MG) já entrou para a história em função do número de vítimas identi-
ficadas até o momento, sendo que as buscas ainda não se encerraram.
“Um crime dessas proporções é sempre impactante, porque evidencia a
permissividade do Estado brasileiro com o grande capital na exploração
dos recursos naturais, negligenciando alertas emitidos por organismos
internacionais, movimentos sociais e órgãos ambientais sobre os riscos de
sua existência”, avalia a presidente do CFESS, Josiane Soares. Assim como
o ocorrido em Mariana (MG) em 2015, também a mina de Brumadinho
acumulava um histórico de problemas notificados por órgãos ambientais
desde 1998, como multas por deslizamentos, despejo de efluentes nos
rios e poluição do ar (conforme noticiado pelo Portal Terra – clique aqui
para saber mais. “Em razão de tais fatos, o Conjunto CFESS-CRESS,

31
Isto está
na rede
alinhado com o Movimento de Atingidos por Barragens (MAB) e ou-
tras organizações em defesa dos direitos humanos, reforça que não se
pode naturalizar a retórica do ‘desastre’ ambiental, para qualificar o que
ocorreu em Brumadinho, como também não foi ‘desastre’ a situação de
Mariana, sobre a qual também nos manifestamos à época”, relembra a
presidente do CFESS (clique para ler a nota sobre Mariana). Desastres
são imprevistos e o rompimento dessa barragem já era uma tragédia
anunciada, diante da qual não se registra nenhuma medida preventiva,
nem voltada à população residente na região e, tampouco, voltada aos/
às trabalhadores/as da Vale, também atingidos/as. “Embora indeniza-
ções e reparações de quaisquer naturezas não possam suprimir as con-
sequências do ocorrido, responsabilizar esses empreendimentos tem o
sentido político de mostrar que o valor econômico dessas atividades não
pode se sobrepor ao valor das vidas que foram perdidas e prejudicadas
pelo seu funcionamento. Tem também o sentido político de alertar para
o movimento, fortemente presente na composição do atual Executivo
Federal e do Congresso Nacional, que caminha de braços dados com as
mais retrógradas frações da classe dominante brasileira interessada em
flexibilizar os parcos dispositivos legais que regulam o avanço do capital
sob o meio ambiente – o que inclui os direitos das populações que vivem
e trabalham nessas localidades”, analisa a conselheira do CFESS Mariana
Furtado. AÇÃO POLÍTICA E DEMANDAS AO TRABALHO DE ASSISTENTES
SOCIAIS NA REGIÃO O Conselho Regional de Serviço Social de Minas Ge-
rais (CRESS-MG) vem desempenhando importantes ações em defesa dos
direitos da população afetada pelo crime socioambiental de Brumadinho.
O conselheiro Leonardo Koury Martins, coordenador da Comissão de Éti-
ca e Direitos Humanos, tem acompanhado diretamente as atividades do
“gabinete de crise” em conjunto com o Conselho Regional de Psicologia
(CRP), a Comissão de Direitos Humanos da OAB, o MAB e outras insti-
tuições do estado. Leonardo destaca que um dos avanços pactuados na
última reunião, realizada em 30 de janeiro, foi o compromisso do poder
público municipal de convocar os/as profissionais da região para uma
reunião interdisciplinar de “alinhamento” com suas entidades

32
Isto está
na rede
representativas. “O trabalho em andamento busca assegurar o atendi-
mento emergencial, mas não deve se restringir a este. Precisamos acionar
o conjunto mais amplo das políticas públicas, a exemplo das políticas de
desenvolvimento territorial e habitação de interesse social, consideran-
do-se os diversificados impactos presentes numa situação como esta”,
enfatiza o conselheiro. Para demarcar esse propósito, o CRESS-MG pro-
duziu uma nota de orientação à categoria profissional, disponibilizada
em seu site. Outra questão importante é a organização administrativa do
CRESS-MG, para atender à demanda emergencial de novos pedidos de
inscrição em função de contratações temporárias que estão ocorrendo
em decorrência da necessidade de recompor as equipes para atendimen-
to na região. “Organizamos um fluxo específico e mais célere, para agilizar
a aprovação dessas novas inscrições e eventuais reinscrições, consideran-
do a necessidade de possibilitar o trabalho profissional com qualidade
e prestado em condições legais por profissionais devidamente inscritos/
as no CRESS”, informa a conselheira vice-presidente, Ana Maria Bertelli.
O CFESS reafirma que o compromisso de assistentes sociais em todo o
Brasil é com a qualidade dos serviços prestados e o acesso da população
aos direitos sociais e humanos. O Conselho Federal se solidariza com a
população e com os/as trabalhadores/as da Vale afetados/as pelo que o
CFESS considera um crime. “Conclamamos, juntamente com o CRESS-MG,
as/os assistentes sociais da região a se empenharem na realização de
suas atribuições, munidas/os de nossas bandeiras de luta, pois assegurar
um trabalho competente e com direção política é essencial para combater
as desumanidades e os impagáveis custos da exploração do trabalho no
capitalismo”, completa a presidente do CFESS.
Fonte:http://cress-sc.org.br/2019/02/11/crime-ambiental-de-brumadinho-traz-

-desdobramentos-para-a-rede-socioassistencial

33
Isto acontece
na prática
A pedido do Ministério Público Federal, um ex-cacique da etnia Guarani
M’Bya foi sumariamente absolvido após ter sido acusado criminalmente
por ter desmatado uma área para roçado e construção de ocas na região
de Iguape (SP). A denúncia foi do Ministério Público do Estado de São Pau-
lo (MP-SP), que viu na conduta do indígena uma violação à Lei de Crimes
Ambientais (nº 9.605/1998). Porém, quando o processo foi transferido
para a Justiça Federal, o MPF defendeu a absolvição do acusado, com base
em direitos que o ordenamento jurídico brasileiro garante às populações
tradicionais – tese que prevaleceu. O indígena, liderança da aldeia Jeiyty,
inserida na terra indígena Ka’aguy Hovy, no Vale do Ribeira, teria parti-
cipado, segundo a denúncia, de uma supressão de vegetação nativa em
uma área de 0,753 ha, correspondente a um campo de futebol, voltada
à instalação de pequenas moradias e ao plantio voltado à subsistência
de sua comunidade. Inicialmente, a constatação desse fato deu origem a
um inquérito policial e, em 2015, à denúncia do MP-SP. Entretanto, após
o reconhecimento da competência da Justiça Federal para julgar o caso,
o MPF passou a atuar, e, contrariando a interpretação dos promotores
do MP-SP, destacou que a conduta apurada deveria ser analisada à luz
não apenas da Lei de Crimes Ambientais, mas também da Constituição
Federal e de outras normas que reconhecem direitos a comunidades
tradicionais. Isso porque, embora, em tese, um desmatamento possa
ser considerado um delito, a prática não resulta em significativo dano ao
meio ambiente quando feita da forma tradicional dos povos indígenas,
com baixo impacto e prevendo períodos de regeneração após o ciclo de
desmate, plantio e colheita. O MPF lembrou que o direito das comuni-
dades indígenas à exploração de suas terras é previsto no artigo 231 da
Constituição Federal e no Estatuto do Índio (Lei 6.001/73), que garantem
a esses povos tradicionais a posse permanente das áreas ocupadas e o
usufruto exclusivo do solo e dos rios que por elas passem. Pontuou, ainda,
que a Fundação Nacional do Índio (Funai) reconheceu, no ano passado,
os limites do território Ka’aguy Hovy e sua vinculação tradicional ao grupo
Guarani. “Tanto a ordem constitucional quanto a legislação extrapenal
asseguram aos povos indígenas seu modo de vida tradicional, e deixam

34
Isto acontece
na prática
explícito o reconhecimento às suas atividades produtivas concernentes
à exploração dos recursos ambientais necessários a seu bem-estar e à
reprodução física e cultural. Desta forma, todo manejo ambiental que se
insira neste contexto de direito tradicional (e não esteja, por exemplo, vol-
tado à monetização da terra) deve ser considerado inserido em um plexo
de direitos fundamentais indígenas”, afirmou o procurador da República
Yuri Corrêa da Luz, autor do pedido que resultou na absolvição do ex-ca-
cique. O MPF argumentou que este vínculo entre o desmate e o modo
de vida dos índios já seria suficiente para inocentá-lo. Mas, além disso,
pontuou que, agindo de acordo com suas práticas tradicionais, o líder da
aldeia não poderia ter clareza sobre a ilicitude de sua conduta, e por isso
atuou, no mínimo, em “erro de proibição culturalmente condicionado”,
capaz de eximi-lo de qualquer responsabilidade penal. A Justiça Federal,
acolhendo os argumentos do MPF, absolveu sumariamente o indígena,
reconhecendo sua inocência. Para o procurador da República atuante no
caso, “trata-se de uma decisão relevante, que dá segurança aos indígenas
da região do Vale do Ribeira, e reconhece seu direito constitucional de
manejarem tradicionalmente seu território, buscando sua subsistência
de forma ambientalmente sustentável e em harmonia com seus modos
de ser, fazer e viver”. O número da ação é 0000058-94.2018.403.6129.
Fonte: http://www.mpf.mp.br/sp/sala-de-imprensa/noticias-sp/guarani-acusado-

-de-crime-ambiental-em-iguape-sp-e-absolvido-a-pedido-do-mpf

35
Anote isso

Desmatamento criminoso, grilagem de terras e agressões contra animais


silvestres são considerados crimes ambientais

Interessados em denunciar crimes ou agressões ao meio ambiente podem


entrar em contato com o serviço Linha Verde do Instituto Brasileiro do
Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) pelo telefone
0800-61-8080 ou pelo e-mail linhaverde.sede@ibama.gov.br. A ligação é
gratuita de qualquer ponto do País e funciona de segunda a sexta-feira
(exceto feriados), das 8h às 18h.
No site do Ibama também é disponibilizado um serviço para registro de
ocorrências on-line. Para fazer a denúncia via internet (e/ou manifesto,
reclamação, sugestão, informação) é preciso acessar a página específica
do Instituto e preencher os dados corretamente.
Por telefone ou pela internet, cabe ao informante citar com clareza qual o
tipo de crime que está ocorrendo, exemplo: cativeiro de animais, desma-
tamento, poluição, caça, acidente com produtos químicos, degradação de
área, maus tratos de animais, queimada, contra servidores, irregularidades
administrativas, pesca predatória, entre outros.
São indispensáveis dados precisos sobre a localização para o registro da
denúncia. A insuficiência de informações, na maioria das vezes, impossibi-
lita ou retarda o atendimento.
Cabe ressaltar que dados cadastrais do informante (nome, telefone, ende-
reço) são mantidos em sigilo, visando resguardar a sua integridade física
e conforme garante o direito individual dos cidadãos em relação à inviola-
bilidade de sua intimidade.
Fonte: http://www.brasil.gov.br/noticias/meio-ambiente/2014/08/saiba-como-de-

nunciar-crimes-e-agressoes-ao-meio-ambiente

36
HISTÓRIA E CULTURA AFRO-
-BRASILEIRA E INDÍGENA

AULA 04
37
“Nós temos que ter orgulho em ser quem somos. Almejar a excelência. Quando

fizermos isso, a América estará pronta para nos ajudar.” Thabang – África do Sul

Nos dias de hoje, o território brasileiro concentra a maior população africa-


na fora da própria África. E é exatamente por conta desse motivo que a cultura
oriunda desses povos exerce uma grande influência em nosso país, com destaque
principalmente para o Nordeste do estado.
Porém, foi só junto com o início do século XX que grande parte das manifes-
tações, costumes, ritos e outros começaram a fazer parte também da cultura
brasileira, sendo considerados expressões não essencialmente africanas, porém,
artes genuinamente afro-brasileiras.
Sendo assim, hoje a cultura negra é também fundamental para formar a iden-
tidade de nossa nação, motivo pelo qual a cultura afro-brasileira se estabelece
em todo nosso território. Vale destacar que ela é também o resultado das crenças
dos indígenas e dos portugueses, que por muitos anos, nos influenciaram com
suas músicas, culinária e religiões.

Características da Cultura Afro-Brasileira

Uma das principais características da cultura afro-brasileira é que não há ho-


mogeneidade cultural em todo território nacional.
A origem distinta dos africanos trazidos ao Brasil forçou-os a apropriações e
adaptações para que suas práticas e representações culturais sobrevivessem. As-
sim, é comum encontrarmos a herança cultural africana representada em novas
práticas culturais.
As manifestações, rituais e costumes africanos eram proibidos. Só deixaram
de ser perseguidos pela lei na década de 1930, durante o Estado Novo de Getúlio
Vargas. Assim, elas passaram a ser celebradas e valorizadas, até que, em 2003, é
promulgada a lei nº 10.639 (Lei de Diretrizes e Bases da Educação). Essa lei exigiu
que as escolas brasileiras de ensino fundamental e médio tenham em seus cur-
rículos o ensino da história e cultura afro-brasileira.
Os dois grupos de maior destaque e influência no Brasil são:
• os Bantos, trazidos de Angola, Congo e Moçambique;
• os Sudaneses, oriundos da África ocidental, Sudão e da Costa da Guiné.

38
Devemos ressaltar que as regiões mais povoadas com a mão de obra africa-
na foram: Bahia, Pernambuco, Maranhão, Alagoas, Minas Gerais, Rio de Janeiro,
Espírito Santo, São Paulo e Rio Grande do Sul. Isso devido à grande quantidade
de escravos recebidos (região Nordeste) ou pela migração dos escravos após o
término do ciclo da cana-de-açúcar (região Sudeste).

Aspectos da Cultura Afro-Brasileira

De partida, temos de frisar que a cultura afro-brasileira é parte constituinte da


memória e da história brasileira e que seus aspectos transbordam as margens
desse texto.
Ela compõe os costumes e as tradições: a mitologia, o folclore, a língua (falada
e escrita), a culinária, a música, a dança, a religião, enfim, o imaginário cultural
brasileiro.

As Festividades Populares
Principais Características da Cultura Afro-Brasileira
• O Carnaval, a maior festa popular brasileira, celebrada no início do ano
e mobilizando a nação.
• A Festa de São Benedito, principal festa do Congado (expressão da cul-
tura afro-brasileira), comemorada no final de semana após a Páscoa.
• E, por fim, a Festa de Yemanjá, realizada no dia 2 de fevereiro.
A influência afro-brasileira está patente em expressões como Samba, Jongo,
Carimbó, Maxixe, Maculelê, Maracatu. Eles utilizam instrumentos variados, com
destaque para Afoxé, Atabaque, Berimbau e Tambor. Não podemos perder de
vista que estas expressões musicais são também corporais. Elas refletem nas
formas de dançar, como no caso do Maculelê, uma dança folclórica brasileira, e
do samba de roda, uma variação musical do samba.
Temos outras expressões de música e dança como as danças rituais, o tam-
bor de crioula, e os estilos mais contemporâneos, como o samba-reggae e o axé
baiano.
Finalmente, merece destaque especial a Capoeira. Ela é uma mistura de dan-
ça, música e artes marciais proibida no Brasil durante muitos anos e declarada

39
Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade em 2014.

A Culinária
A culinária é outro elemento típico da cultura afro-brasileira. Ela introduziu as
panelas de barro, o leite de coco, o feijão preto, o quiabo, dentre muitos outros.
Entretanto, os alimentos mais conhecidos são aqueles da culinária baiana, pre-
parados com azeite dendê e pimentas. Destacam-se Abará, Vatapá e o Acarajé,
bem como o Quibebe nordestino, preparado com carne-de-sol ou charque; além
dos doces de pamonha e cocada
E, por fim, o prato brasileiro mais conhecido de todos: a feijoada. Ela foi criada
pelos escravos como uma apropriação da feijoada portuguesa e produzida a partir
dos restos de carne que os senhores de engenho não consumiam.

A Religião
A religião afro-brasileira se caracterizou pelo sincretismo com o catolicismo,
donde unia aspectos do cristianismo às suas tradições religiosas. Isso ocorreu para
que eles pudessem realizar as práticas religiosas africanas secretamente (associa-
ção de santos com orixás), uma vez que a conversão era apenas aparente. Assim,
nasceram do sincretismo Batuque, Xambá, Macumba e Umbanda, enquanto se
preservaram algumas variações africanas da Quimbanda, Cabula e o Candomblé.

Características da Cultura Indígena

Os povos indígenas, pela diversidade étnica, contribuíram de formas diferentes


em relação a muitos aspectos culturais. Calcula-se que existam mais de 230 povos
indígenas no Brasil, com hábitos, línguas e crenças diversas. Eles estão espalhados
em mais de 670 Terras Indígenas que já foram identificadas e homologadas ou
encontram-se em processo de homologação.

40
Religião e Crenças
As crenças religiosas e superstições tinham um importante papel dentro da
cultura indígena. Fetichistas, os indígenas temiam ao mesmo tempo um bom
Deus – Tupã – e um espírito maligno, tenebroso, vingativo – Anhangá, ao sul e
Jurupari, ao norte. Algumas tribos pareciam evoluir para a astrolatria, embora
não possuíssem templos, e adoravam o Sol (Guaraci – mãe dos viventes) e a Lua
(Jaci – nossa mãe).

Tupã - Deus indígena


O culto dos mortos era rudimentar. Algumas tribos incineravam seus mortos,
outras os devoravam, e a maioria, como não houvesse cemitérios, encerrava seus
cadáveres na posição de fetos, em grandes potes de barro (igaçabas), encontrados
suspensos tanto nos tetos de cabanas abandonadas como no interior de samba-
quis. Os mortos eram pranteados obedecendo-se a uma hierarquia. O comum
dos mortais era chorado apenas por sua família; o guerreiro, conforme sua fama,
poderia ser chorado pela taba ou pela tribo. No caso de um guerreiro notável,
seria pranteado por todo o grupo.

Moradia
Como sabemos os indígenas tem costumes bem diferentes dos costumes de
nos urbanos, um deles é morar em ocas ou malocas, que medem mais ou menos
20 metros de comprimento por 10 metros de largura e 6 metros de altura, feitas de
madeira e cobertas por folhas de palmeiras. Fazem uma espécie de parede dupla
com um espaço entre ambas o que permite uma ventilação adequada, tornando o
ambiente, no seu interior bastante agradável, seja no frio ou no calor. Uma aldeia
é composta de várias malocas, onde habitam várias famílias. Cada maloca possui
um chefe daquele grupo, que quando reunidos formam uma espécie de “colegia-
do”. As casas eram construídas em volta de um pátio, local de festas e de reunião.
O conjunto de casas formava uma aldeia. Os moradores de várias aldeias, unidos
por laços familiares e interesses comuns, formavam um povo ou uma nação.

41
Modo de vida
Um outro costume que os índios tem de diferente de nós, é o modo de viver
deles: vivem da caça, da pesca e coleta de vegetais silvestres, obedecendo aos
ciclos de atividades de subsistência da Floresta Tropical: chuvas, enchentes, es-
tiagem e seca. Reúnem-se em grupos que podem ser: de casais, consanguíneos
(parentesco), intercasamento e relações de servidão. Na maioria dos grupos o
casamento pode ser dissolvido.
Preservam a infância da mulher que só pode se tornar esposa após a primeira
menstruação (acompanhada de ritual especial, de acordo com a tribo). Não exis-
tem padrões morais de virgindade ou adultério, tudo se resolve com conversas
entre parentes próximos e com acordos entre as famílias. Temos tribos matriar-
cais, patriarcais, monogamia (um só esposo ou esposa – com uniões que podem
ser dissolvidas) e poligamia (um esposo com várias esposas, ou uma esposa com
vários maridos).

A chefia
Cada nação indígena tem um líder, que comanda a tribo nas caçadas e nas
guerras ou na resolução de alguma disputa interna. Ele costuma conversar com as
pessoas e ouvir suas opiniões e, sempre que precisa tomar uma decisão importan-
te, pede conselhos aos mais velhos. Além dele, há o pajé, que é o líder espiritual e
possuí grande prestígio e poder entre os nativos, pois ele conhecia e manipulava
as ervas curativas, faz as oferendas aos deuses e se comunica com as divindades.

O trabalho
Os índios trabalham para conseguir alimento, fazer uma casa, uma rede, uma
festa, ou seja, para satisfazer às necessidades básicas do grupo. O trabalho nas
aldeias é coletivo, dividido entre todos os membros que moram na tribo. Essa
divisão era feita de acordo com o gênero (homens e mulheres) e por idade.
• Em geral, as tarefas masculinas são: caçar, pescar, preparar a terra para
o plantio e defender a comunidade.
• As atividades femininas são: plantar, coletar frutos e raízes, cozinhar,
fazer utensílios de cerâmica e cestos, além de cuidar dos filhos.

42
Assim como outros povos, eles modificam o espaço geográfico para sobreviver
e o fazem de acordo com a sua cultura, isto é, com o seu modo de viver, agir e
pensar.

Acessórios e armas
Os índios costumam construir seus próprios acessórios, como suas armas,
fabricam arcos perfeitos, instrumentos cortantes feitos com bicos de aves e en-
feites plumários.
A caça feita pelos índios é composta geralmente por venenos aplicados nas
armas usadas. Dentre as armas, destaca-se a zarabatana, tubo comprido que
funciona por compressão de ar. Suas setas são untadas com um veneno cha-
mado curare, extraído da casca de cipós. Os índios também utilizam a prática de
envenenar os peixes por sufocação com o uso do timbó, cipó que é jogado em
uma determinada parte do rio e, força os peixes a vir à tona e, assim, eles são
facilmente capturados.

Artesanato
Hábeis artesãos, os índios produzem diversos tipos de artefatos para atender
suas necessidades cotidianas e rituais, que assumem, hoje, o importante papel de
gerador de recursos financeiros, beneficiando as Comunidades com uma renda
complementar.
Assim surgem fantásticos trançados que tomam a forma de cestos, bolsas
e esteiras, moldam a cerâmica que dá origem a panelas e esculturas, entalham
a madeira da qual nascem armas, instrumentos musicais, máscaras e escultu-
ras, além das plumárias e adornos de materiais diversos como cocos, sementes,
unhas, ossos, conchas que, com habilidade e tecnologia, são transformados em
verdadeiras obras de arte. A produção de variados objetos da cultura indígena,
como material, ferramentas, instrumentos, utensílios e ornamentos, com os quais
um grupo humano busca facilitar sua sobrevivência, está ligada à escolha e utiliza-
ção das matérias-primas disponíveis; ao desenvolvimento da técnica adequada de
manufatura; às atividades envolvidas na exploração do ambiente e na adaptação
ecológica; à utilidade e finalidade prática dos objetos e instrumentos produzidos.

43
Pintura
Os índios pintam seu corpo, sua cerâmica e seus tecidos com um estilo que
podemos chamar “abstrato”. Observam a natureza mas não a desenham, mas
ao contrário do que se pensa, não devemos chamá-la de primitiva. Partem do
elemento natural para torná-lo geométrico. Usam diversos tipos de cocares, bra-
celetes, cintos, brincos. Geralmente não matam as aves para comer, usam apenas
suas penas coloridas, que guardam enroladas em esteiras para conservar melhor,
ou em caixas bem fechadas com cera e algodão. A Arte Plumária é exuberante e
praticamente restrita aos homens. Nas tribos, onde as mulheres usam penas, são
discretas, colocadas nos tornozelos e pulsos, geralmente em cerimônias especiais.

Tecidos
Alguns índios, como os Vaurá, plantam algodão e fazem vários enfeites, como
os usados em seus pentes. Usam uma tinta preta extraída do suco de jenipapo.
As vestimentas usadas pelos índios estão relacionadas às necessidades climá-
ticas, à observação da natureza e aos seus ritos e festas. Esta é a razão de usarem
quase nada para se cobrirem, uma vez que vivemos em país tropical. A sua ves-
timenta não está associada à aspectos morais. Algumas tribos como a dos índios
tucuna (praticamente extintos) na região do Acre, recebiam correntes frias dos
Andes e usavam o “cushmã” uma espécie de bata (as índias eram ótimas tecelãs).
Em algumas tribos como a dos VAI-VAI (transamazônica) as mulheres tecem e
usam uma tanga de miçangas.

Canoas
O indígena usa o leito dos rios ou o mar para transportar com rapidez, nave-
gando em canoas ou em jangadas.
As canoas maiores são construídas de troncos de árvores rijas e chamam-se
igaras, igaratés ou igaraçus. As canoas ligeiras – ubás – eram feitas de grossas
cascas vegetais, e movidas a remo de palheta redonda ou oval ou ainda a vela.
As jangadas, pequenas e velozes, constituíam-se de vários paus amarrados uns
aos outros por fibras vegetais.

44
Música
São amantes da música, que praticam em festas de plantação e de colheita,
nos ritos da puberdade e nas cerimônias de guerra e religiosas. Os instrumentos
musicais são: toró (flauta de taquara), boré (flauta de osso), o mimbi (buzina) e o
uaí (tambor de pele e de madeira).

Alimentação
A contribuição indígena para a dieta alimentar é enorme. Inúmeros alimentos
consumidos pelos nativos são hoje levados às mesas de todo o mundo e, princi-
palmente, às brasileiras. A seguir, citaremos alguns alimentos que foram contri-
buições das populações nativas:
• Mandioca (também chamada de macaxeira ou aipim) – no início da co-
lonização foi chamada de “pão da terra” devido à sua importância e
abundância.
• Milho – foi cultivado na América e existem inúmeros tipos cultivados.
Batata-doce – é um alimento fácil de cultivar e que se reproduz em
abundância. Os índios conhecem vinte variedades.
• Amendoim – originária do Brasil, seu consumo hoje se espalhou pelo
mundo inteiro. Era cultivado e colhido pelas índias para grandes ceri-
mônias.
• Abacaxi – fruta totalmente desconhecida dos europeus, foi muito co-
mentada por cronistas em razão de seu aroma. Os índios a usavam para
curar feridas e também para fazer bebidas fermentadas.
• Caju – foi muito cultivada e utilizada pelos índios para a fabricação do
cauim, bebida fermentada. Foi muito apreciada pelos europeus. Além da
fruta, a castanha do caju tem grande aceitação nos mercados mundiais.
Os indígenas também desenvolveram conhecimentos sobre plantas medici-
nais, as quais, atualmente estão presentes nas diversas áreas da América e algu-
mas são amplamente difundidas pelo mundo, tais como a erva-mate, o guaraná,
o tabaco e coca.

45
Isto está
na rede
Autores brasileiros resgatam a mitologia dos orixás, transformando-os
em super-heróis e aproximando-os de jovens e crianças. Dentro de al-
gum tempo, 2018 quiçá seja lembrado como o ano em que as narrativas
negras ganharam destaque na cultura. Séries como Atlanta, que conta
a história de um jovem negro tentando sobreviver nos Estados Unidos,
foram aclamadas pela crítica e pelo público; This is America, o poderoso
manifesto musical de Childish Gambino, foi eleita a canção do ano nos
Grammy e, pela primeira vez, um filme de super-heróis, Pantera Negra,
produção que celebra a cultura africana e o afrofuturismo, concorre ao
Oscar de melhor filme. No Brasil, 2019 começou com o resgate da mito-
logia afrobrasileira na literatura, da mão de autores que, com diferentes
linguagens, tentam fazer dela uma história universal.
Aproximadamente na mesma época em que Pantera Negra começou a
ser produzido, em 2016, o quadrinista baiano Hugo Canuto deu início
ao projeto Contos dos Orixás, uma série de pôsteres e revistas —agora
reunidos em um livro homônimo, de 120 páginas—, com ilustrações que
trazem histórias dos mitos do povo Yorubá no estilo dos heróis em qua-
drinhos da Marvel. Na obra, Yemanjá (a rainha do mar), Xangô (deus do
trovão), Oxum (rainha dos rios e cachoeiras), Iansã (senhora dos ventos e
tempestades) e outras divindades protagonizam enredos cheios de ação
em uma África mítica, de um tempo em que os seres divinos caminhavam
ao lado dos seres humanos, transitando entre o Orum (céu ou o mundo
espiritual) e o Aiyê (terra ou o mundo físico). Para construir a narrativa
baseada na mitologia yorubá —uma das mais tradicionais civilizações da
África Ocidental, em territórios onde hoje estão a Nigéria, Benin e Togo—,
Canuto trabalhou durante dois anos e meio ao lado de líderes religiosos
e pesquisadores, entre os quais destaca as sacerdotisas do Terreiro do
Gantois, em Salvador, e seu professor de yorubá, Mawô Adelson S. de
Brito. Tendo como referência obras de Pierre Verger, Edson Carneiro e
Lydia Cabrera, Canuto conta a EL PAÍS que a inspiração para sua obra foi
precisamente o “legado das civilizações africanas que moldaram a Bahia
e sua ancestralidade” que na obra está representada pelos Itan (conjunto
de narrativas relacionadas aos Orixás).

46
Isto está
na rede
“Esse livro foi feito para desconstruir o discurso obscurantista sobre os
Orixás e também para ser um instrumento de força e autoafirmação
da cultura afro, pensado para também ser usado em sala de aula pelos
professores”, explica o autor. Canuto, que realiza oficinas gratuitas de
quadrinhos com jovens da rede pública de ensino na Bahia, distribuiu
exemplares da obra a educadores. Contos dos Orixás também está sendo
utilizado como referência em livros didáticos, citado em teses universitá-
rias e as ilustrações dos Orixás em sua versão mais superpoderosa estão
sendo expostas em países como Estados Unidos e Inglaterra.
Fonte: https://brasil.elpais.com/brasil/2019/02/12/cultura/1549967827_022252.

html

Isto acontece
na prática

‘O Canto de Odé’ celebra cultura afro-brasileira com música e dança Últi-


mas apresentações do espetáculo são realizadas em Osasco e Diadema
neste final de semana Após passar por várias periferias de São Paulo, o
espetáculo “O Canto de Odé” tem suas duas últimas apresentações no
fim de semana. Sábado (23), a peça é encenada no CEU das Artes, em
Osasco. No domingo (24) é a vez do Sobradinho do Som, em Diadema.
Homem negro branda a mão no ar; duas pessoas usando máscara enfi-
leiram-se a sua frente Yago Micall, protagonista de “O Canto de Odé”, com
os músicos que o acompanham no palco - Yago Goya/Divulgação Samba
de roda, maracatu e dança contemporânea dão o tom do espetáculo, que
resgata as raízes africanas e indígenas da população brasileira a partir de
um jogo de sons e luzes.
Fonte: https://guia.folha.uol.com.br/mural/2019/02/o-canto-de-ode-celebra-cul-

tura-afro-brasileira-com-musica-e-danca.shtml

47
Anote isso

Você sabia que os negros africanos deram uma importante contribuição


para a culinária brasileira? Eles introduziram ingredientes diferentes como
leite de coco-da-baía, o azeite de dendê, a pimenta malagueta. Com eles
descobrimos o feijão preto, aprendemos a fazer acarajé, vatapá, caruru,
mungunzá, angu, pamonha e muito mais! Os portugueses traziam da Eu-
ropa os ingredientes para fazerem suas comidas. A comida reservada para
os escravos era pouca. Eles se alimentavam dos restos que sobravam dos
senhores. Mas, com criatividade, faziam comidas gostosas. Enquanto as
melhores carnes iam para a mesa dos senhores, os escravos ficavam com
as sobras. Pés, orelhas, carne seca, rabos, costelinhas e outras partes do
porco, misturadas ao feijão preto, deram origem à nossa tradicional feijoa-
da. A culinária africana para a nossa cultura é tão importante que o acarajé
virou patrimônio nacional.
Fonte: http://www.turminha.mpf.mp.br/nossa-cultura/cultura-afro-brasileira/in-

fluencia-africana-na-culinaria-brasileira

48
RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS
– DIVERSIDADE HUMANA

AULA 05
49
A bondade nada sabe de cores, credos ou raças. Todas as pessoas nascem
iguais.
Abraham Lincoln

Expressão usada para se referir às questões concernentes à população negra-


-brasileira, afim de sair do impasse e da postura dicotômica entre os conceitos
raça e etnia. Para se compreender a realidade do negro brasileiro, não somente as
características físicas e a classificação racial devem ser consideradas, mas também
a dimensão simbólica, cultural, territorial, mítica, política e identitária.
A partir das discussões acerca das relações estabelecidas sobre o conceito
de raça pela sociedade brasileira, um grupo de intelectuais, juntamente com o
Movimento Negro adota uma ressignificação para o termo, portanto rejeitando
como coloca Gomes “o sentido biológico de raça, uma vez que os avanços da
ciência postulam que não existem raças humanas.” As raças, acrescenta a pes-
quisadora, são compreendidas com um significado político e identitário e como
construções sociais, políticas e culturais produzidas no contexto das relações de
poder ao longo do processo histórico.
Outro aspecto é o conceito de etnia, que é utilizado por alguns “por acharem
que, se falarmos em raça, mesmo que de forma ressignificada, acabamos
presos ao determinismo biológico, o qual já foi abolido pela biologia e pela
genética. A intenção era enfatizar que os grupos humanos não são marca-
dos por características biológicas, mas, sim, por processos históricos e cul-
turais.”. Todavia, ainda segundo a autora, há questionamentos sobre o alcance
do conceito de etnia no que diz respeito aos negros brasileiros devido à forma
como esses indivíduos se veem e são vistos por meio de classificações raciais e
experiências vivenciadas e intensificadas por conta da origem africana e negra.
Ao ser dissociado da interpretação ressignificada de raça, o conceito de etnia se
torna insatisfatório para a compreensão do racismo e suas implicações na vida
dos negros. Dessa forma a expressão étnico-racial vem sendo adotada para se
referir às questões concernentes à população negra brasileira, sobretudo, no
campo da educação.
A humanidade sempre teve reações variadas pelas diferenças que percebiam
entre si e os vários povos com os quais tinham contato. Guerreiros; viajantes; co-
merciantes; e lendas relatavam a seus pares, desde a mais remota antiguidade,
as exoticidades dos demais. As reações eram e são variadas: desde o medo e a

50
repulsa, até a curiosidade e o apreço.
Aspectos culturais e físicos imediatamente perceptíveis da singularidade dos
“outros”, como vestimentas; ornamentos corporais; estatura; cor da pele, cabelos
e olhos; e língua, ressaltavam a singularidade mais aparente. Os “costumes” mais
estranhos, porém, sobressaiam aos que tinham a oportunidade de passar um cer-
to tempo maior entre os “estrangeiros” e outras diferenças mais profundas entre
os povos só poderiam ser apreendidas por um olhar mais detalhado: historiadores
como Heródoto são tidos, por alguns, como os primeiros “antropólogos”, por se
preocuparem com a organização das sociedades que descrevia, e não somente
com os acontecimentos históricos, buscando assim uma razão, uma causalidade
para os eventos.
As explicações sobre a diversidade humana sempre ressaltaram com mais ên-
fase os aspectos negativos dos “outros”, tendo como parâmetro as características
positivas, físicas e culturais, dos povos sob cujo ponto de vista se pensava a dife-
rença. Chega-se até a negar a qualidade de “humano” aos demais povos. Alguns
exemplos: entre os povos indígenas brasileiros, a autodesignação, a rigor, enfatiza
as qualidades de “seres humanos”; “gente”; “povo de Deus” de cada povo. E para
os demais restam termos, no mínimo, desagradáveis, como “os agressivos selva-
gens”; “os comedores de carne de mamíferos ou de cobra” ou outra característica
repulsiva. Já nos primeiros séculos da colonização luso-espanhola, o estatuto de
“seres com alma” chegou a ser negado aos habitantes tradicionais das Américas,
sendo objeto de discussões acirradas no âmbito da Igreja Católica.
A esta atitude a antropologia chama de “etnocentrismo”, uma atitude generali-
zada entre as sociedades humanas de valorizarem ao máximo como as melhores,
as mais corretas, suas formas de viver; agir; sentir e pensar coletivamente.
Outros exemplos demonstram atitudes mais positivas em relação à alteridade,
como na Primeira Carta ao Rei de Portugal, em que Caminha descreveu os “índios”
como alegres e inocentes como crianças, sem notarem que estavam expondo
suas “vergonhas”. Rousseau, um crítico da sociedade europeia, cunhou a ideia do
“bom selvagem” e as cortes europeias deleitavam-se com a exoticidade animal e
humana do “Novo Mundo”.
A partir do século XVI, com a expansão colonial europeia, que caracteres como
a cor da pele e outros traços físicos dos povos encontrados por exploradores
passou a ser um aspecto privilegiado no imaginário europeu, como marcador das
diferenças entre os povos.

51
A partir desta época, igualmente, o pensamento europeu começou a desen-
volver uma forma específica de classificar e pensar “as coisas do mundo”. A ânsia
pelo saber, separando-se da Religião e da Filosofia, tornara-se Ciência, buscando
dar conta de um novo mundo de proporções multicontinentais. Os critérios da ob-
servação sistemática e da classificação em hierarquias racionais foram aplicados
às novas formas de vida (vegetal; animal e humanas) que passaram a conhecer.
A escravização dos povos indígenas sul-americanos e africanos, trouxe contra-
dições políticas e morais no pensamento colonial e os critérios de classificação
das diversidades vegetais e animais foram tomados como critérios principais de
demarcação das diferenças humanas.
A noção de Raça, e sua associação de características biológicas; comportamen-
tais e sociais foi, neste longo período que se estendeu até o século XX, a expressão
científica do racismo colonial luso-espanhol. Na cultura luso-hispânica, este movi-
mento teve desdobramentos importantes que incluíram, como no Brasil, a política
de incentivo à aos movimentos migratórios – desde a importação escravagista da
África até as tentativas de “branqueamento” do povo brasileiro, no século XIX – e
influenciaram os estudos raciais acadêmicos até meados do século XX.
Darwin e sua obra “A origem das espécies” foi um importante marco da re-
volução metodológica que expressava uma “síntese revolucionária” na ciência
classificatória naturalista das espécies. Sua teoria da evolução biológica das espé-
cies introduziu uma visão dinâmica que desvinculou das ciências classificatórias
naturais das explicações da origem “inata” das diferenças entre as espécies. Não
obstante, desde meados do século XIX até meados do século XX, nos debates cien-
tíficos sobre Raça, este pensamento dinâmico não se havia consolidado. A obra de
Darwin e de outros, com modelos evolucionistas, levaram um longo tempo para
se consolidarem nas Ciências Antropológicas que se baseavam na construção de
categorias como “tipos raciais” e “raças”.
Somente pouco antes da metade do século XX, quando autores como Franz
Boas (1940) e Stocking (1968) levantaram as influências das condições ambientais
na constituição das diversidades humanas, o que Santos chama de “segunda
revolução darwinista” na Antropologia “Física” (biológica) se consolidou. O con-
ceito de raça, nas ciências antropológicas, foi substituído então pela categoria
“população”, construída a partir de critérios estatísticos e genéticos, cuja ênfase
estava mais em seus aspectos dinâmicos, e na separação, por inspiração da bio-
logia experimental, estes critérios dos extra biológicos (socioculturais).

52
O clima do pós-guerra europeu, em fins da década de 40 e na dos 50, trouxe
reações radicalmente contrárias aos fundamentos da eugenia levada ao extremo
pela política nazista. Esta transição foi significativamente marcada na Assembleia
da UNESCO (United Nations Educational and Scientific Organization) de 1949. Nes-
ta Assembleia, Boas e alguns antropólogos, como Lévi-Strauss (Raça e História)
foram convidados a participar e exerceram influência no relatório final, contrária
à ênfase na diversidade racial como explicativa de fenômenos sócio culturais e
ambientais. A negação da diversidade biológica e sua influência em certas carac-
terísticas individuais dos grupos humanos, levou a uma reação de geneticistas;
biólogos e antropólogos físicos, que tiveram a oportunidade de participar de outra
reunião, cuja conclusão não foi, segundo Ventura dos Santos, muito diferente da
anterior, embora resguardasse um espaço para se pensar a diversidade biológica
humana.

Reflexão

Na contemporaneidade tais relatos e discussões continuam. Atualmente, “cau-


sar na diversidade” ainda pode ser visto como problema e não como valor. É
comum um olhar preconceituoso à “diversidade” que a desapropria de beleza e
a submete à discriminação?
Em pleno século XXI, é possível afirmar que a “barbárie” está presente em
crimes homofóbicos, violência contra mulher, conflitos geracionais, desrespeito
aos novos arranjos familiares e etc.
Vivemos num país paradoxal: a maioria da população brasileira é formada por
negros. No entanto, o racismo no Brasil ainda é latente. Estamos diante de atos
de desrespeito à dignidade humana.
Então, a diversidade é um desafio? Ou, o desafio está em sua aceitação, já que
muitos se colocam como seres histórico-sociais arregimentados pela normatiza-
ção da igualdade destinada aos que sentem, pensam e agem de forma similar? E,
sendo assim, é possível deduzir que os que não contemplam tal regimento, não
são aceitos?
A diversidade mexe, muda e enriquece a dinâmica, a transformação e a cons-
trução histórica de uma sociedade e de seus indivíduos, pares ou não.
É preciso pensar em democratização da diversidade, porém, para tal, as

53
mudanças acontecem de forma lenta, se apresentam como resultado das lutas
de grupos organizados através de movimentos sociais (movimento feminista,
movimento gay, Movimento Negro, movimento social e político das pessoas
com deficiências físicas, movimento contra a intolerância religiosa no Brasil,
movimento na luta contra desigualdades sociais, movimento indígena no Brasil e
etc.). É preciso ter ações sociais contínuas, em longo prazo, em prol de uma causa,
objetivando reconhecimento aos direitos reivindicados em sua bandeira.
A Educação é ferramenta de transformação social. Logo, é possível entender
que no espaço escolar deve-se travar um diálogo franco sobre diversidades, e
respeitá-las para a formação e desenvolvimento do cidadão.
No cenário brasileiro, mesmo preconceituoso e discriminativo, brilham estrelas
como: Daniel Dias – campeão mundial de natação paraolímpica; Lázaro Ramos –
considerado por muitos o maior artista negro do país; Lea T.– transexual brasileira,
brilha nas passarelas internacionais; Luislinda Valois – primeira juíza negra do
Brasil; Maria da Penha – Lutou contra a violência doméstica e familiar à mulher;
Mario Juruna – Cacique, foi Deputado Federal; Edu Camargo – Cantor, deficiente
visual; Mãe Estella – Primeira ialorixá a assumir uma cadeira na Academia Baiana
de Letras.
Então, vale promover a democratização às diversidades?

54
Isto está
na rede

Relações étnico-raciais merecem atenção. “O que estamos vendo hoje é


que as pessoas não estão tendo constrangimento nenhum em explicitar e
exteriorizar o seu racismo. A gente vivia uma falsa democracia racial. Que
bom que as pessoas não estão tendo pudor em se mostrar”, afirma José
Marcos de Oliveira, presidente do Conselho Municipal de Participação e
Desenvolvimento da Comunidade Negra (CMPDCN). Conforme ele, todas
essas demonstrações de ódio só escancaram uma coisa: a população
precisa de educação para as relações étnico-raciais. Um caso recente
ocorrido em Sorocaba, que se tornou público, foi o de uma estudante da
UFSCar, vítima de racismo na própria universidade. O ato foi manifestado
no dia 6 de novembro em dois banheiros do prédio do Centro de Ciências
Humanas e Biológicas, onde foi pichada a frase “Vai morrer imunda”, ao
lado do desenho de uma suástica. Na ocasião, o Conselho da Comuni-
dade Negra emitiu nota de repúdio, enfatizando ainda que a situação
ocorreu dentro de uma universidade, um ambiente que, no entender do
Conselho, é pautado “pela diversidade de opiniões, pela livre expressão
e pela convivência entre as mais variadas correntes de pensamento”. Se
dentro de uma universidade ocorre algo assim, o que esperar de outros
ambientes? “Hoje as pessoas fazem filmagens inclusive mostrando a cara
falando sobre seu preconceito, seu ódio. Mas isso é um fenômeno mun-
dial, não está acontecendo só no Brasil. O que a gente considerava é que
no Brasil, por ser um País multirracial, por sua miscigenação, não deveria
ser assim. Mas aqui sempre existiu.”
Fonte: https://www.jornalcruzeiro.com.br/mais-cruzeiro/relacoes-etnico-raciais-

-merecem-atencao/

55
Isto acontece
na prática

No final do ano de 2018 a Diversidade humana é tema de segundo vídeo


do Prêmio Itaú-Unicef Em Rede. Considerando a perspectiva da educação
integral e inclusiva, que entende o reconhecimento e a valorização das
diversidades como princípio fundamental de suas práticas, o Prêmio Itaú-
-Unicef lança hoje (07/11) vídeo inédito sobre o potencial do trabalho com
as diferenças humanas nos espaços educativos. Destinado a professores,
educadores, gestores e interessados no tema, o material inédito busca
demonstrar, a partir de relatos pessoais e dados sobre o impacto de prá-
ticas discriminatórias nas experiências de aprendizagem, como diferentes
formas de ser, de agir e de pensar o mundo são características naturais
de qualquer sociedade humana. Por isso, devem ser consideradas como
eixos centrais dos projetos de uma educação integral e inclusiva.
Fonte: https://educacaoeparticipacao.org.br/acontece/diversidade-humana-e-te-

ma-de-segundo-video-premio-itau-unicef-em-rede/

Anote isso

Somos todos iguais: a diversidade étnico-racial no ambiente escolar. “A


escola não é a única instituição responsável pela educação das relações
étnico-raciais, uma vez que o processo de se educar ocorre também na
família, nos grupos culturais, nas comunidades, no convívio social propor-
cionado pelos meios de comunicação, entre outros. É importante ressaltar
que a escola é um ambiente privilegiado para a promoção de relações ét-
nico-raciais positivas em virtude da marcante diversidade em seu interior.”
(VERRANGIA; SILVA, 2010, p. 710).
Fonte: http://www.ambito-juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_

leitura&artigo_id=20061&revista_caderno=29

56
EDUCAÇÃO EM DIREITOS
HUMANOS - CONCEITO

AULA 06
57
Imagine um mundo onde não existem direitos humanos estabelecidos? Cer-
tamente seria um caos, uma vez que os indivíduos e as instituições agiriam de
acordo com os seus interesses, deixando de levar em consideração as necessi-
dades do próximo. Para evitar este tipo de situação, foram criados os Direitos
Humanos, que são responsáveis por garantir aos seres humanos condições iguais
e qualidade de vida.
Os Direitos Humanos são válidos em todos os países do mundo, sendo cons-
tituídos por direitos civis e políticos. No entanto, por mais que seja obrigação do
Estado e da sociedade garantir que os Direitos Humanos sejam colocados em
prática, nem sempre eles são respeitados, o que pode causar inúmero transtornos
sobre o grupo de indivíduos que está tendo os seus direitos desrespeitados, bem
como nas organizações que estão ao seu redor.
A verdade é que, para viver em harmonia na sociedade, é imperativo que as
pessoas façam concessões e, acima de tudo, respeitem os limites previamente
estabelecidos. Um poder coercitivo que fará com que sejam respeitados os limites
também é importante, caso contrário, não faz sentido obedecer os direitos. Bom,
nesse norte, podemos dizer que um direito passa a deixar de poder ser exercido
no momento em que transgrida o direito de outra pessoa.
Garantir que os Direitos Humanos sejam cumpridos é dever do sistema judi-
ciário de cada país, do Estado e da própria sociedade. Saiba que você, mesmo
sendo um cidadão “comum” pode contribuir para o bem estar da humanidade.
Atualmente, 193 países constituem a ONU, de acordo com dados da própria
instituição. E ainda há espaço para mais países que sejam “amantes da paz”, acei-
tem “os compromissos da Carta” e comprometam-se a “cumprir tais obrigações”.
Todas as nações que fazem parte são chamadas de países-membros. Contudo,
51 delas também são consideradas membros-fundadores, pois participam desde
a criação. Entre essas nações está o Brasil.

Direitos humanos no Brasil

Os direitos humanos no Brasil são voltados para as necessidades do país, mas


tendo como base os princípios das Nações Unidas. De acordo com site da ONU,
o principal objetivo do órgão no território brasileiro é maximizar o trabalho da
organização, de maneira coordenada.

58
Isso significa dizer que a atuação no Brasil deve ser com a proposta de espalhar
e trabalhar os acordos internacionais estabelecidos. Além de “proporcionar uma
resposta coletiva, coerente e integrada às prioridades e necessidades nacionais”,
como nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável.
Já com relação as pautas levantadas pela ONU no Brasil, tem como foco o
desenvolvimento humano sustentável, o crescimento do país e o combate à po-
breza. Todos esses tópicos dão origem a problemas existentes no país, mas que
precisam de uma reflexão da sociedade.
Tudo isso com o objetivo de fazer com que as pessoas reconheçam a real si-
tuação do país onde moram e tentem chegar a soluções inovadoras para esses
desafios. Tornando assim a sociedade o mais heterogênea possível.
Portanto, entre as questões levantada pela ONU no Brasil estão: Trabalho es-
cravo, trabalho infantil, redução da maioridade penal, refugiados no Brasil, a in-
clusão social de pessoas com deficiência e os direitos gerais da população.
Contudo, vale ressaltar que algumas dessas pautas foram sendo levantas a
medida que os problemas iam se tornando mais presentes na sociedade brasilei-
ra. Para isso, a ONU está presente no Brasil desde 1947, dois anos a sua criação.
Atualmente, a sede brasileira da organização está em Brasília. Porém, Rio de
Janeiro e Salvador também possuem sedes da instituição. Além disso, para dar
conta de todo o trabalho que interliga os níveis federal, estaduais e municipais,
são pouco mais de 1.100 funcionários.

Declaração dos direitos humanos

Apesar de toda a história da ONU, nada seria possível sem a Declaração Uni-
versal dos Direitos Humanos. Documento assinado em 1948, ele é um importante
elemento na luta pelos direitos fundamentais dos seres humanos.
Também chamado apenas de DUDH, esse documento foi redigido por repre-
sentantes de diversos países com suas próprias culturas. E em 10 de dezembro
de 1948, a declaração foi proclamada pela Assembleia Geral da ONU. Com isso,
estabelece que os direitos humanos devem ser assegurados e protegidos de for-
ma universal.
Dividida em artigos, a Declaração Universal dos Direitos Humanos estabelece
alguns princípios como: Todo ser humano nasce livre e igual em dignidade e di-

59
reitos, todo indivíduo tem direito à vida, ninguém será submetido à escravidão
ou servidão, todos são iguais perante a lei.
Além desses tópicos, o DUDH também estabelece que todo cidadão tem direito
à liberdade de opinião, cada um deve ter o direito de seguir a religião que quiser
e toda pessoa tem direito à educação.
Todos os 30 artigos redigidos no documento serviram e servem como exemplo
para a criação de leis nos Estados recém-independentes. O Brasil, por exemplo,
tomou como inspiração o documento para crias muitas leis da Constituição Fe-
deral do país.

Quais são os principais direitos humanos?

Mesmo com todos os 30 artigos da Declaração Universal dos Direitos Huma-


nos, a ONU providenciou outros documentos importantes que estabelecem al-
guns dos principais direitos dos seres humanos.
Os direitos humanos servem para defender uma vida digna e de qualidade
para todos
Esse Direitos saem em defesa aos direitos fundamentais das pessoas.
Chamado de Declaração Internacional dos Direitos Humanos, esse documento
reúne os artigos da DUDH e do Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos.
Entre as medidas propostas estão: o direito ao trabalho com condições justas
para todos, o direito de desfrutar de uma vida com bem-estar físico e mental,
e o direito permanente de educação.
Diante de todos esses aspectos, você consegue entender o real papel dos di-
reitos humanos? Para a ONU, a sociedade precisa saber viver com as diferenças e
garantir o direito de todos os cidadãos. Por isso foram criados tantos documentos
para tornar esses objetivos em realidade.
Assim, a partir de quando surgiu os direitos humanos, em 1945, a ONU vem
em defesa aos direitos fundamentais das pessoas. Com todos os órgãos e nações-
-membros, vem trazendo reflexões sobre uma sociedade mais justa e igualitária.
Desse modo, unindo forças com os países, o órgão tenta fazer do mundo um
lugar melhor. E assim, proporciona uma sociedade com mais direitos e cidadania.
Podemos dizer que os Direitos Humanos estão direcionados à proteção da dig-
nidade humana. Decorreram da necessidade de limitação e controle dos abusos

60
de poder do próprio Estado e de suas autoridades constituídas.
Os direitos humanos são o conjunto de normas constitucionais que consagram
limitações jurídicas aos Poderes Públicos, projetando-se em três dimensões: civil
(direitos da pessoa humana), política (direitos de participação na ordem demo-
crática) e econômica-social (direitos econômicos e sociais);
Principais Características:
• Imprescritibilidade: (não se extinguem com o tempo);
• Inalienabilidade: (não podem ser transferidos, quer seja a título gra-
tuito ou oneroso);
• Inviolabilidade: (não podem ser violados por legislação infraconstitu-
cional ou por atos de autoridades públicas sob pena de responsabili-
zação);
• Universalidade: (direcionados a todos os indivíduos, independente-
mente de sua nacionalidade, sexo, raça, credo ou convicção político-fi-
losófica);
• Efetividade: (atuação do Poder Público no sentido de garantir a efeti-
vação dos direitos e garantias previstos);
• Concorrentes: (podem ser exercidos ao mesmo tempo) e relativos (nem
todo direito fundamental pode ser exercido de modo absoluto e irres-
trito).
• Limitados: Uma vez que não pode se falar em direito absoluto.

Como esses Direitos são Garantidos?

As normas de direitos humanos são organizadas por cada país por meio de
negociação com organizações como a ONU e em encontros e conferências in-
ternacionais. Vários países ainda firmam compromisso em garantir os direitos
humanos em tratados das Nações Unidas, sobre as mais diversas áreas, como
direitos econômicos, discriminação racial, direitos da criança, entre outros. Para
cada um desses tratados, existe um comitê de peritos que avalia como as nações
participantes estão cumprindo as obrigações que assumiram ao se comprometer
com o tratado.

61
Isto está
na rede

ORGANIZAÇÕES DENUNCIAM NA ONU VIOLÊNCIA CONTRA DEFENSORAS


DE DIREITOS HUMANOS NO BRASIL. A Terra de Direitos, a Justiça Global e
a Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais
Quilombolas (Conaq), com apoio de organizações internacionais, deba-
teram em evento nas Nações Unidas as violências sofridas por mulheres
defensoras de direitos humanos no Brasil, como a vereadora assassinada
no Rio de Janeiro Marielle Franco. De acordo com as organizações, a ado-
ção de uma política austera, expressa na Emenda Constitucional 95/16,
“medida que determina o congelamento do orçamento público por vinte
anos para áreas como saúde e educação, condicionado apenas à variação
da inflação anual, oferece impactos ainda mais fortes para as mulheres,
e por consequência, para o trabalho das mulheres que defendem os di-
reitos humanos”.
Fonte: https://www.brasil247.com/pt/247/brasil/385773/Organiza%C3%A7%-

C3%B5es-denunciam-na-ONU-viol%C3%AAncia-contra-defensoras-de-direitos-

-humanos-no-Brasil.htm

62
Isto acontece
na prática

SANÇÕES EXACERBAM CRISE NA VENEZUELA, diz chefe de direitos huma-


nos da ONU. Bachelet, ex-presidente do Chile, afirma que aumento da
desigualdade tem impacto nas violações de direitos, e classifica discursos
de ódio e xenofobia como “ameaças existenciais” RIO — A alta comissá-
ria da ONU para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet, afirmou nesta
quarta-feira que a crise política, econômica e social da Venezuela tem sido
exacerbada pelas sanções internacionais. Ex-presidente do Chile, ela foi
convidada pelo governo de Nicolás Maduro a viajar ao país sul-americano
para ver o efeito das punições. Em discurso ao Conselho de Direitos Hu-
manos da ONU, em Genebra, Bachelet também dirigiu críticas à França,
à China e à Arábia Saudita, entre outros países. Além disso, disse que o
aumento global da desigualdade mina os direitos humanos, e classificou
o discurso de ódio e a xenofobia como “ameaças existenciais”. O Con-
selho dos Direitos Humanos da ONU voltará a tratar de Venezuela de
modo mais exaustivo em 20 de março, na presença da alta comissária.
A situação na Venezuela ilustra claramente a maneira como as violações
dos direitos civis e políticos, incluindo a não defesa das liberdades funda-
mentais e da independência das instituições-chave, podem acentuar um
declínio dos direitos econômicos e sociais — declarou Bachelet. — Esta
situação foi exacerbada pelas sanções, e a atual crise política, econômica,
social e institucional resultante é alarmante. Maduro convocou protes-
tos para o dia 9 de março, quatro anos depois do anúncio das primeiras
sanções impostas pelos Estados Unidos. No mesmo dia, também haverá
um protesto contra o presidente, convocado pelo líder opositor, Juan
Guaidó. Na última terça-feira, o representante especial americano para
a crise na Venezuela, Eliott Abrams, anunciou que Washington deverá
impor em breve novas restrições de vistos americanos aos apoiadores
do presidente venezuelano.
Fonte: https://oglobo.globo.com/mundo/sancoes-exacerbam-crise-na-venezue-

la-diz-chefe-de-direitos-humanos-da-onu-23502562

63
Anote isso

PARA NÃO ESQUECER 5 DE MARÇO DE 1933. A perseguição atingiu o seu


auge quando o Estado alemão controlado pelo partido organizou o assas-
sinato sistemático de cerca de seis milhões de judeus e cinco milhões de
pessoas dos outros grupos-alvo. Em 05 de março de 1933, o Partido Nazista,
de Adolf Hitler, recebeu 43,9% dos votos nas eleições, o que permitiu que
os nazistas aprovassem mais tarde a Lei de Concessão de Plenos Poderes
e estabelecessem uma ditadura. Mas a ascensão de Hitler ao poder havia
começado há mais de dez anos, em 1919. Primeiramente ele se juntou ao
DAP, o Partido dos Trabalhadores Alemães. Em 1920, esse partido desa-
pareceu e ele mudou para o Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores
Alemães, que se tornou conhecido como Partido Nazista. Fatores como o
início da Grande Depressão nos Estados Unidos (1929) e o desemprego
maciço na Europa geraram um descontentamento geral com o regime de-
mocrático na Alemanha. Isto fez com que parte do povo alemão passasse
a ansiar por uma revolução socialista de fato e outra parte, a pertencente à
alta burguesia alemã (empresários e clero), passasse a temer essa mesma
revolução. A alta burguesia apoiou a extrema direita do espectro político,
optando por extremistas de partidos, como os pertencentes ao Partido
Nazista. O termo Nazi é alemão e decorre do Nationalsozialist. (junção de
Nacional Socialista ou Nacionalismo Alemão). Essa defesa de um país puro,
ou raça pura (a alemã), levou à formação de uma cultura paramilitar racis-
ta e populista. Os seus adeptos, os “nazistas”, lutaram contra os levantes
comunistas que foram surgindo após a primeira Guerra Mundial (início
dos anos 20). A estratégia política nazista focou em opiniões “antigrandes
empresas”, “antiburgueses” e “anticapitalistas”. Esses aspectos, entretanto,
foram posteriormente minimizados a fim de ganhar o apoio das grandes
entidades industriais e, em 1930, o foco do Partido Nazista mudou para
o antissemitismo e o antimarxismo [mais ou menos assim, não importa a
bandeira, é preciso ter um inimigo para manter o poder…]. Em nome da
suposta pureza e força de uma “raça superior, a raça ariana”, os nazistas
tentaram exterminar ou impor segregação excludente sobre os “degene-
rados” e “antissociais”, que incluía judeus, homossexuais, ciganos, negros,

64
Anote isso
pessoas com deficiência, Testemunhas de Jeová e até adversários políticos.
A perseguição atingiu o seu auge quando o Estado alemão controlado pelo
partido organizou o assassinato sistemático de cerca de seis milhões de
judeus e cinco milhões de pessoas dos outros grupos-alvo, triste capítulo
da história da humanidade, que se tornou conhecido como o Holocausto.
Fonte: https://jornalggn.com.br/direitos-humanos/para-nao-esquecer-5-de-mar-

co-de-1933/

65
EDUCAÇÃO EM DIREITOS
HUMANOS – CONSTITUIÇÃO
FEDERAL BRASILEIRA

AULA 07
66
“Precisamos de direitos humanos para os humanos direitos.” Antônio Bezerra

Direitos Humanos. Esse termo está na boca do povo. Mas será que as pessoas
sabem mesmo o que isso significa?
Primeiro, para entender de onde vem o conceito, vamos voltar um pouco.
Quem fala é Eleanor Roosevelt, dos Estados Unidos, que foi presidente da
Comissão dos Direitos Humanos das Nações Unidas. O ano era 1948 e o mundo
saía de uma guerra mundial que matou mais de 40 milhões de pessoas. Com a
derrota do nazismo, surgiu a Declaração Universal dos Direitos Humanos, cons-
truída por mais de 50 países.
E do que se trata, afinal?
A coordenadora do laboratório de Direitos Humanos da Universidade Federal
do Rio de Janeiro, Vanessa Berner, define.
A Constituição Federal brasileira, foi inspirada na carta de direitos da ONU. O
país era redemocratizado depois de uma ditadura que censurou, torturou e ma-
tou. O novo documento que trazia os direitos humanos de forma ampla, segundo
o ex-reitor da Universidade de Brasília e professor de direito da instituição, José
Geraldo de Sousa Júnior.
E que elementos fundamentais da Constituição são esses?
Além do princípio da dignidade humana, temos também os direitos individuais,
que envolvem, por exemplo, a proibição da tortura, da escravidão e a defesa da
livre manifestação do pensamento. E também os direitos sociais, considerados
uma inovação, segundo o historiador da Universidade Federal Fluminense, Daniel
Aarão Reis.
Podem parecer conceitos básicos, óbvios, mas segundo os especialistas, não
eram um consenso e continuam sendo objeto de discussão. Isso porque os direi-
tos humanos são fruto de um acúmulo de lutas da sociedade ao longo da história,
segundo a professora da UFRJ, Vanessa Berner.
A Constituição Federal é o ponto de partida para garantir os direitos humanos
que vão desde a liberdade de expressão até o acesso à saúde. Cabe ao Estado
respeitar e promover o que é definido pela lei máxima do país. E é do povo a res-
ponsabilidade por lutar para que esses direitos sejam mantidos.
A Constituição Federal em seu sistema rígido de normas assegura vários direi-
tos fundamentais. Em seu art. 1° a Constituição da República consagra o princípio
da cidadania (inciso II), dignidade da pessoa humana (inciso III) e os valores sociais

67
do trabalho (inciso IV). A cidadania “expressa um conjunto de direitos que dá a
pessoa a possibilidade de participar ativamente da vida e do governo de seu
povo”, conforme diz Dallari.
A cidadania como hoje é entendida pela teoria dos direitos humanos engloba
uma série de outros direitos, ela aglutina os direitos de primeira geração e alguns
de segunda geração, atualmente é cidadão aquele que pode usar e fruir de suas
liberdades públicas, dos seus direitos socioeconômicos e dos direitos solidários.
Pode-se citar além dos direitos citados no art. 1°, outros direitos, tais como o
direito à vida, a privacidade, a igualdade, a liberdade (e aqui encontra-se uma sé-
rie de direitos como a liberdade de expressão, a locomoção, a religião, a segurança
pessoal, entre outras) à informação, à representação coletiva, à associação, a
propriedade e seu uso social, à cultura, à educação, à saúde, ao meio ambiente
equilibrado, ao asilo, ao devido processo legal, à presunção de inocência, entre
outros.
Vale transcrever o art. 5° da Constituição Federal:

“Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se

aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à

vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: …”

Pode-se classificar os direitos fundamentais conforme adota Manoel Gonçalves


Ferreira Filho em individuais, coletivos, de grupos e difusos.
Os direitos individuais têm como sujeito ativo um indivíduo humano, esse ser
quando verificar que teve a supressão, ou melhor, quando houver perturbação de
seu direito por autoridade pública, ou outra que atue em lugar da pública, poderá
impetrar habeas corpus (art. 5° LXVII CF/88) quando verificar que há impedimento
no seu direito de livre circulação (ir e vir – e ficar), habeas data, quando houver
necessidade de retificação de registro ou para que seja prestada informação
que sobre ele constem nos bancos de dados (art. 5°, LXXII, a, b CF/88). O sujeito
individual poderá ainda solicitar a providência da segurança (art. 5°, LXIX CF/88)
quando a perturbação de seu direito líquido e certo não for de matéria do habeas
corpus nem do habeas data.
Os direitos coletivos são aqueles que envolvem a coletividade como um
todo, uma sociedade. Por essa natureza quando há a turbação de algum direito
fundamental é dever do Ministério Público promover a ação cabível, uma vez

68
que esse órgão é o responsável pela defesa dos interesses da coletividade. Dessa
forma, o Ministério Público poderá promover ação civil pública para defesa do
patrimônio público e social, do meio ambiente e outros interesses conforme
art 129, III, não sendo vedado à interposição desse remédio por outras pessoas
segundo o §1º do mesmo artigo. A constituição vigente foi inovadora ao permitir
a proposição de mandado de segurança coletivo (art. 5º, LXX CF/88) por partido
político com representação no Congresso Nacional ou por qualquer organização
não-governamental constituída há mais de um ano.
Direitos de grupos são direitos individuais “homogêneos, assim entendidos os
decorrentes de origem comum” (art. 81, parágrafo único, III, do Código de Defesa
do Consumidor).
E por fim, os direitos difusos são aqueles conforme o Código de Defesa do
Consumidor define em sendo “transindividuais de natureza indivisível, de que
sejam titulares pessoas indeterminadas e ligadas por circunstâncias de fato” (art.
81, parágrafo único, I do Código de Defesa do Consumidor).
É preciso fazer uma consideração especial sobre o habeas corpus com relação
a prisão civil do depositário infiel, matéria essa assegurada constitucionalmente
(art.5º, LXVII) e regulamentada pele decreto-lei n° 911 (01.10.1969). Essa matéria
tem sido controversa na Suprema Corte brasileira em vista da adesão do Brasil
à Convenção Americana sobre Direitos Humanos (22.11.1969), a qual entrou
em vigor no plano interno pela aprovação do Congresso Nacional pelo Decreto
Legislativo nº 27 (26.05.1992).
A discussão versa sobre a proibição da prisão civil, pois a Convenção Americana
veda a prisão civil em seu art. 7, 7, abrindo ressalva quanto a prisão em virtude
de inadimplemento inescusável de obrigação alimentícia.
Parece que a controvérsia pode ser definida com base na Convenção de Viena
sobre o Direito dos Tratados utilizando seus arts. 26, 27 e 46. O art 27 diz “uma
parte não pode invocar as disposições de seu direito interno para justificar o ina-
dimplemento de um tratado”. Contudo, há julgados do STF que não dão status
constitucional aos tratados, dizendo que eles ocupam a posição de legislação
ordinária, pois bem, se são ordinárias há de se observar o princípio de que lei
posteriri derrogat anteriori, desta forma a Convenção revoga o Dec. 911 e por isso
não há regulamentação para executar a prisão do depositário infiel. Nesse sentido
vale lembrar o posicionamento do Ministro Marco Aurélio no julgamento do HC
73.044, citado por George Rodrigo Bandeira Galindo, no seguinte teor:

69
A promulgação sem qualquer reserva atrai, necessariamente e no campo legal
a conclusão de que hoje somente subsiste uma hipótese de prisão por dívida civil,
valendo notar a importância conferida pela Carta de 1988 aos tratados interna-
cionais em que a República Federativa do Brasil seja parte.
Dos direitos sociais
Os direitos Sociais são aqueles que têm por objetivo garantir aos indivíduos
as condições materiais tidas como imprescindíveis para o pleno gozo dos seus
direitos, por isso, tendem a exigir do Estado intervenções na ordem social.
Subdivididos em direitos sociais propriamente ditos (art. 6º) e direitos traba-
lhistas (art. 7º ao 11);

Art. 6º: São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia,

o transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e

à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição.

Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à

melhoria de sua condição social.

Art. 8º É livre a associação profissional ou sindical

Art. 9º É assegurado o direito de greve, competindo aos trabalhadores decidir sobre a

oportunidade de exercê-lo e sobre os interesses que devam por meio dele defender.

Art. 10º. É assegurada a participação dos trabalhadores e empregadores nos cole-

giados dos órgãos públicos em que seus interesses profissionais ou previdenciários

sejam objeto de discussão e deliberação.

Art. 11º. Nas empresas de mais de duzentos empregados, é assegurada a eleição

de um representante destes com a finalidade exclusiva de promover-lhes o enten-

dimento direto com os empregadores.

70
Isto está
na rede
A educação em direitos como o significado de acesso à justiça
Trata-se de texto crítico que, sob a ótica constitucional, institucional (De-
fensoria) e social, indica a educação em direitos como um novo paradigma
para o sistema de justiça, considerando o conhecimento obrigatório da
lei imposto pelo Estado que deve cumprir com o seu cunho social e de-
mocrático. O presente ensaio parte de uma reflexão humana, jurídica e
social aparentemente simples, porém árdua e entusiástica. Diante de uma
legislação que impõe ao cidadão brasileiro o conhecimento obrigatório
da lei e, por outro lado, de um Estado eminentemente Social e Democrá-
tico, a educação voltada aos direitos e deveres do indivíduo deve ser a
premissa básica do direito mais fundamental de garantia da cidadania:
o acesso à justiça. A educação é um direito humano em si mesmo e um
meio indispensável para o acesso a outros direitos fundamentais e para o
respeito às regras básicas do Direito brasileiro, isto é, de convivência em
sociedade. É, pois, através da educação que reconhecemos o outro, os
valores, compreendemos os direitos, os deveres, ponderamos a injustiça,
os conflitos, nos comunicamos, ou seja, os elementos que nos cercam
enquanto indivíduos sociais. Aliás, o movimento da história é regido jus-
tamente pela educação, onde se transmitem a cada geração as aquisições
prévias da cultura humana. No que importa à presente reflexão, não se
trata de uma visão tradicional de educação cívica, mas de um conceito
amplo de cidadania calcado na educação como prática de consciência e
de liberdade. É a partir dela que o indivíduo toma para si seus direitos
e deveres como fatos e realidade e tem condições de acesso à justiça –
longe da sua concepção formal resumida em tutela jurisdicional. Ora, dar
efetividade ao direito de acesso à justiça perpassa pelo direito à educação
que, numa concepção cidadã, significa garantir que todos, sem distinção,
tenham assegurado o acesso ao ensino de qualidade, para o desenvol-
vimento humano, a inclusão social e a concretização dos direitos funda-
mentais. Propõe-se, portanto, a ideia de educação para a cidadania como
base da democracia e da transformação social. Transformação social.

71
Isto está
na rede
Esse é o propósito da Defensoria Pública e é em razão dele que a ex-
pressão “assistência jurídica integral e gratuita” melhor se concilia com
os objetivos da República estampados no art. 3º da Constituição Federal.
Naquela Carta, ao tempo que são estabelecidos entre os objetivos fun-
damentais construir uma sociedade livre, justa e solidária, bem como
erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais
e regionais (art. 3º, I e III), prevê-se um órgão estatal cuja atribuição é a
de concretizar o direito de acesso à justiça (art. 134), o mais fundamen-
tal para garantir a cidadania. Esse acesso, porém, deve ser interpretado
de acordo com os desígnios e o espírito de um Estado Democrático e
Social de Direito. Logo, o fundamento dessa instituição não se limita a
garantir às pessoas necessitadas os meios para que invoquem a tutela
do Estado-juiz. Verifica-se que a Justiça brasileira apresenta-se, de forma
geral, – principalmente por uma questão cultural clássica – para o povo
brasileiro, de modo a cuidar da consequência das relações humanas.
Ou seja, tais relações só se voltam para o olhar do sistema de Justiça se
houver litígio. A uma Defensoria Pública eficaz o que se impõe é procurar
entender os porquês da desordem social, e enxergar e trabalhar o Di-
reito como um meio de transformação social. Para tanto, deve ela atuar
ativamente – longe de qualquer inércia –, já que a desigualdade social,
antes de tudo, é a desigualdade de informações. Tal atuação abrange a
educação em direitos, que consubstancia uma das principais funções
institucionais da Defensoria Pública (art. 4º, III, da Lei Complementar n.º
80/1994). Essa educação – que jamais deve ser entendida como a mera
informação sobre direitos – acontece quando a Defensoria Pública apre-
senta-se à população para auxiliá-la na conscientização cidadã acessível,
ampliada e polemizada. Acessível, pois em linguagem comum, prática e
didática, longe do complexo “juridiquês”. Ampliada, pois não limita-se a
informar direitos e deveres imediatos, como o de votar, pagar tributos
ou alimentos, não se valer da autotutela para a solução de seus conflitos.
Polemizada, pois, trata das relações de poder que lhe afetam, dos temas
sensíveis às minorias.

72
Isto está
na rede
É quando os protagonistas do Estado, isto é, o povo passa a compreender
os direitos que têm, os respectivos meios de sua efetivação, o significado
social de suas limitações, as relações de poder vigentes, além de cultivar o
respeito e a manutenção dos ideais democráticos. Em outras palavras, é
quando o povo redescobre o Estado e, assim, desmonta-se o monopólio
da informação qualificada. Paulo Galliez, que cita um estudioso brasileiro
(Álvaro Vieira Pinto), lembra que “o que era instintivo clamor de revolta
transforma-se em iluminante compreensão. Antes sofria, agora sabe por
que sofre”. Combatamos a causa pela causa e não pelas consequências,
uma vez que a prevenção de conflitos – de qualquer espécie – por meio
da educação é a melhor forma de dar dignidade aos cidadãos brasileiros.
Trata-se, portanto, do verdadeiro acesso à justiça, onde cada cidadão
brasileiro – repise-se, indistintamente – deve ter a dignidade do acesso
às regras básicas que fundamentam todo e qualquer tipo de relação que
poderá constituir em uma sociedade politicamente organizada. Pois bem.
Transformação social só pode ser obtida por meio de busca ativa e ações
coletivas as quais, evidentemente, não se limitam a processos junto ao
Judiciário, compreendendo que o direito de acesso à justiça não deve
esgotar-se numa concepção meramente formal. Ora, tantos costumes e
hábitos enraizados na sociedade motivam fatos e comportamentos que
não guardam compatibilidade alguma com a lei, que, por sua vez, geram
processos judiciais que inundam o Poder Judiciário sem efetividade algu-
ma. Não se combate esse ciclo com nenhuma outra arma que não seja
educação. Aliás, se o Estado é social, o direito à educação foi consagrado
como um direito social, e o sistema de Justiça brasileiro compõe o Estado,
é fundamental que se abandone a atuação burocrática para aproximar-se
do povo e perceber as razões dos conflitos sociais. Para tanto, não há
espaço mais privilegiado para atuação, diálogo e reflexão do que a escola
pública brasileira, que, juntamente com os estudantes e a família, podem
guiar o sistema de Justiça às causas mais básicas e sensíveis que levam
as pessoas a constituir e transitar em um Estado paralelo de regras, fatos
e costumes populares que muitas vezes não guardam compatibilidade

73
Isto está
na rede
jurídica, tampouco efetividade prática. No Brasil, onde o índice de analfa-
betismo e a carência de informações são altíssimos, submetendo pessoas
desfavorecidas a elevado grau de alijamento intelectual, a atuação da
Defensoria Pública com políticas públicas em educação é um dever-poder.
E a educação em direitos é o que mais se compagina com a verdadeira
consolidação da cidadania e a busca pela transformação social, já que não
se pode falar em tais objetivos diante da alienação que vem por todos os
lados. Portanto, cabe à Defensoria Pública conscientizar as pessoas em
situação de vulnerabilidade econômica, social e jurídica que a desigual-
dade não decorre de alguma explicação metafísica. É uma questão de
educação emancipadora. Ademais, mediante o contínuo e permanente
investimento na formação do indivíduo enquanto cidadão consciente, é
possível enaltecer a participação social organizada, o exercício ativo da
cidadania, melhorar a transparência na aplicação dos recursos públicos,
reduzir a corrupção e aumentar a eficiência das políticas e dos serviços
prestados pelo Estado. Assim, conclui-se que a educação em direitos se
mostra como o requisito básico de qualquer projeto de nação minima-
mente vocacionada para o seu povo. Enfim, “o que faz que os homens
formem um povo é a lembrança das grandes coisas que fizeram juntos e
a vontade de realizar outras” – “Ce qui fait que des hommes forment um
pleuple o est le souvenir des grande chouses qu’ ils ont faites ensemble
et la volonté d’ em acomplir de nouvelles” – Renan; citado em O Anel de
Ametista, XIX, por Anatole France. Realizemos outra grande coisa: uma
nação que tenha a educação em direitos como pilar da existência do
Estado, para que o acesso à justiça tenha a ver com a dignidade de todo
cidadão ser informado sobre as regras básicas da convivência em socie-
dade. Precisamos avançar arduamente.
Fonte: https://www.direitonet.com.br/artigos/exibir/10981/A-educacao-em-direi-

tos-como-o-significado-de-acesso-a-justica

74
Isto acontece
na prática

Quase dois terços da população estão excluídos da educação, da mo-


radia adequada, do saneamento, da proteção social e da internet; com
a violência policial, o Estado também nega o direito à vida. Eles estão
assegurados na Constituição ou em legislações específicas, mas 64,9%
da população brasileira não têm pelo menos um dos seguintes direitos
garantidos: à educação, à proteção social, à moradia adequada, aos ser-
viços de saneamento básico e à internet. Os dados foram extraídos das
Pesquisas Síntese dos Indicadores Sociais do IBGE (Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística) 2017 e 2018. Os números podem ser piores,
já que o relatório trabalha com o conceito de autodeclaração e só inclui
os brasileiros que tenham domicílios, excluindo, portanto, moradores
de rua. A situação de mulheres pretas ou pardas, sozinhas, e com filhos
pequenos, é muito mais preocupante: atinge 81,3% delas. Entre os ido-
sos, a gravidade da exclusão é praticamente a mesma: 80% deles estão
à margem de tais direitos. É o caso de Júlia Marques, de 89 anos, e Pedro
Leôncio de Sousa, de 87 anos. Ela mora às margens da BR-135, entre os
povoados de Ponta da Ilha e Curva, no Maranhão. Ele mora na Rocinha, a
maior favela do Brasil, localizada no Rio de Janeiro. Dona Júlia está no con-
tingente dos sem direitos ao saneamento básico: não têm esgoto, água
encanada e sua casa, construída de pau a pique, não é contemplada por
coleta de lixo . Seu Pedro está no grupo populacional dos sem direitos à
educação: é analfabeto. Figura entre os 7% dos brasileiros de 15 anos ou
mais que não sabem ler e escrever, segundo o IBGE. Na categoria dos sem
direito à educação, também são incluídos, além dos analfabetos, crianças
e adolescentes de 6 a 14 anos que não frequentam a escola e pessoas
de 16 anos ou mais que não têm o Ensino Fundamental completo. Ao
todo, 28,2% estão enquadrados nela. Para estar no contingente dos sem
direitos, basta que o brasileiro não tenha apenas um deles garantido. O
IBGE adota a chamada “abordagem da união” para identificar os cidadãos
excluídos dos direitos básicos. Ou seja, se a pessoa não tiver pelo menos
um dos direitos acima mencionados já é um sem direito. Tecnicamente,
haveria outra opção metodológica: a “abordagem da interseção”,

75
Isto acontece
na prática

que consideraria a privação simultaneamente de todos os direitos, o que


amenizaria os números. “O IBGE prefere a abordagem da união, pois ela
é orientada para os direitos humanos”, afirma o pesquisador Leonardo
Athias, do instituto, lembrando que as estatísticas fornecidas devem servir
para embasar políticas públicas que combatam as desigualdades sociais.
Há uma outra razão para isso. O Brasil é signatário da Agenda 2030 para o
Desenvolvimento Sustentável, da ONU, adotada por 193 países em 2015.
A Agenda 2030, ambiciosa, está baseada em 17 ODS (Objetivos de Desen-
volvimento Sustentável) e 169 metas. Ela inclui uma série de direitos a
serem garantidos, entre eles à moradia adequada, à educação, à saúde e
à proteção social. O relatório da pesquisa Síntese dos Indicadores Sociais
menciona que o “o princípio é não deixar ninguém para trás”. Ou seja,
identificar onde estão os grupos mais vulneráveis para a inclusão deles no
processo de desenvolvimento sustentável. Nas tristes estatísticas brasilei-
ras, os negros saem sempre perdendo dos brancos. E em situação mais
crítica ainda aparecem as mulheres negras, sozinhas, e com filhos de até
14 anos. Menos de 10% de homens e mulheres brancas estavam excluí-
dos de três dos cinco direitos. O índice dobra entre os homens negros ou
pardos e mulheres negras ou pardas: 22% no primeiro grupo e 20,1% no
segundo. Os moradores de domicílios chefiados por mulheres sozinhas
e negras com filhos de até 14 anos não têm acesso, em média, a 1,6 dos
direitos, sendo que uma em cada quatro pessoas deste grupo não tinha
pelo menos três dos cinco direitos. Entre os cinco direitos que são mais
sonegados aos brasileiros, está em primeiro lugar o saneamento, com
37,6% excluídos dele, seguido da educação (28,2%), comunicação (25,2%),
proteção social (15%) e moradia adequada (13%). Para a psicóloga e dou-
tora em educação pela USP, Maria da Glória Calado, a falta de acesso à
educação conduz à reprodução de um ciclo de desigualdade social. “As
pessoas que mais precisam são as que estão mais abandonadas à própria
sorte. Com a evasão, muitas vezes, esses educandos são absorvidos pelo
mercado de trabalho informal, podem envolver-se em atos de violência,
continuam residindo em moradias consideradas precárias, têm

76
Isto acontece
na prática

dificuldades de acesso à saúde e a outros direitos e, por vezes, continuam


distantes do retorno à escola”, critica a professora nos cursos de espe-
cialização em Cultura, Educação e Relações Étnico Raciais na USP . “Não
é raro ver tal ciclo repetir-se com filhos e netos dessas pessoas”, aponta.
Ouvidor da Defensoria Pública do Rio de Janeiro, com vasta atuação na
área de direitos humanos, Pedro Strozenberg lembra que há outros direi-
tos, além destes. garantidos pela Constituição, tais como o direito à saúde,
ao trabalho e à segurança. Entretanto, reconhece que há dificuldades
metodológicas para se abranger todos os demais na mesma pesquisa: “É
um recorte. Há outros direitos que não estão expressos no estudo. Mas,
sem dúvida, é um retrato válido”. Para ele, os resultados confirmam que
a sociedade brasileira é desigual do ponto de vista racial, territorial e de
gênero. “Infelizmente, estamos em tempos de relativização de direitos,
e não de garantias”, lamenta. “A política de enfrentamento das desigual-
dades no Brasil vêm sofrendo retrocesso nos últimos três anos”, pontua
Strozenberg, fundador do Balcão de Direitos, projeto de acesso à Justiça
e mediação de conflitos em favelas cariocas e outros 17 estados brasi-
leiros. Entre os estados, o Amapá é o que concentra o maior número de
brasileiros sem direitos, com 95,7% da população excluída, praticamente
em empate técnico com Rondônia, com 95,6%, seguido do Pará, com 95%.
Clay Luiz Nascimento Cirilo, de 38 anos, está entre os paraenses sem
moradia adequada. Ele tem 38 anos e mora com a mulher, Mirian Neves
Aquino, de 24, e as duas filhas, Rebeca e Raiane, de 8 e 6 anos, em uma
casa de um cômodo construída na ocupação Laércio Barbalho, localizada
na Rodovia do Tapanã, bairro afastado do centro de Belém.
Fonte: https://ponte.org/os-brasileiros-sem-direitos/

77
Anote isso

A educação é um direito humano em si mesmo e um meio indispensável


para o acesso a outros direitos fundamentais e para o respeito às regras
básicas do Direito brasileiro, isto é, de convivência em sociedade. É, pois,
através da educação que reconhecemos o outro, os valores, compreen-
demos os direitos, os deveres, ponderamos a injustiça, os conflitos, nos
comunicamos, ou seja, os elementos que nos cercam enquanto indivíduos
sociais.
Fonte: https://www.direitonet.com.br/artigos/exibir/10981/A-educacao-em-direi-

tos-como-o-significado-de-acesso-a-justica

78
EDUCAÇÃO EM DIREITOS
HUMANOS – DIREITO DAS
MULHERES

AULA 08
79
ANTECEDENTES HISTÓRICOS

A trajetória da mulher no mercado de trabalho é um conjunto de transforma-


ções de ideologias culturais e históricas. Nos séculos passados, as mulheres eram
vistas apenas com o aspecto da domesticidade, mas a experiência do trabalho
alterou o modo de vida do sexo feminino, possibilitando maior independência,
autonomia e liberdade. Um fator que impossibilitava que elas se inserissem no
mercado de trabalho era a desigualdade de gênero que percorreu toda a história
desde os primórdios e em todos os continentes do mundo. Apesar de em número
reduzido, ainda repercute nos dias de hoje.
A desigualdade entre os sexos era tanto que até mesmo as escolas eram um
espaço exclusivamente masculino, nos quais as mulheres. E quando lhes era per-
mitido, era realizado em locais separados. Segundo o sociólogo francês Bernard
Charlot (2009), os liceus femininos só foram criados em 1880 e sob forte resis-
tência – o medo de que, escapando da influência da Igreja, as meninas poderiam
ser mais subversivas.
Atualmente, as questões de inclusão ainda ecoam em dezenas de países, es-
pecialmente em nações islâmicas ou nos que a religião impõe barreiras para que
elas possam ser escolarizadas.
Um exemplo da influência da religião nas relações entre os gêneros são os
costumes e fundamentos do islamismo. Várias tradições sociais e psicológicas
influenciam diretamente a condição da mulher na sociedade. O Islamismo é uma
religião monoteísta que nasceu na Península Arábica no século VII, e que se ba-
seia nos preceitos religiosos do profeta Maomé e no Alcorão, a escritura sagrada
tida como base do Islã. Algumas das regras que as mulheres muçulmanas devem
obedecer nos países mulçumanos são:

‘‘... É absolutamente proibido às mulheres qualquer tipo de trabalho fora de casa,

incluindo professoras, médicas, enfermeiras, engenheiras, etc; É proibido às mulhe-

res andar nas ruas sem a companhia de um “nmahram” (pai, irmão ou marido); É

proibido falar com vendedores homens; É proibido ser tratada por médicos homens,

mesmo que em risco de vida; É proibido o estudo em escolas, universidades ou

qualquer outra instituição educacional; É obrigatório o uso do véu completo (“bur-

ca”) que cobre a mulher dos pés à cabeça; É permitido chicotear, bater ou agredir

verbalmente as mulheres que não usarem as roupas adequadas (“burca”) ou que

80
desobedeçam a uma ordem talibã; É permitido chicotear mulheres em público se

não estiverem com os calcanhares cobertos...’’

Na Arábia Saudita, as mulheres também se encontram em uma posição des-


vantajosa socialmente. Além de o país não ser adepto á Declaração Universal
dos Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas, as mulheres possuem
poucos direitos políticos porque o Governo local os restringe. Em 2009, o Fórum
Econômico Mundial listou a Arábia Saudita como um dos piores países no quesito
da igualdade de gêneros. Isso fica evidente quando as mulheres ocupam cerca
de setenta por cento das vagas nas universidades, mas que a participação delas
na força de trabalho é de cinco por cento. No país ainda prevalece o modelo pa-
triarcal, fazendo com que ocorra uma divisão entre os homens e as mulheres. Na
Somália, a influência da religião também faz com que o direito das mulheres seja
precário. Além de o acesso à educação ser raro, a violência doméstica é muito
comum.
A realidade é que o estágio em que a desigualdade de gêneros se encontra
é algo cultural, resultado dos costumes de várias gerações. A diferença entre os
papéis exercidos na sociedade pelos homens e mulheres sempre existiu, diversos
marcos históricos foram importantes, bem como elementos culturais e morais
construídos e consolidados por vários séculos. A divisão desigual dos papéis entre
os sexos é uma soma de diversos elementos que faziam com que as mulheres
permanecessem reclusas a vida doméstica, tendo como única finalidade a pro-
criação e o cuidado com os filhos. Aos homens elas deviam obediência e respeito
Nos escritos a respeito do Período da Pré-História sobre os primeiros agru-
pamentos sociais, as funções entre os homens e as mulheres também eram di-
vididas. Os grupos denominados hominídeos eram compostos por caçadores,
pescadores e coletores. Enquanto que as mulheres tinham o dever de cuidar dos
filhos e preparar os alimentos.
Historicamente, as sociedades eram formadas com base no modelo patriarcal.
O termo patriarcal tem origem na palavra grega pater e diz respeito á preponde-
rância do homem na organização social. O patriarca manteve o poder, ao longo
da história, sobre qualquer indivíduo na organização social de que fazia parte.
Poderia ser sua mulher, seus filhos, seus súditos, seus escravos ou seu povo.
No âmbito das relações de trabalho, esse modelo se fundamentava na ideia
de que o homem/genitor do lar é quem deveria prover o sustento de sua família.

81
Enquanto os homens procuravam se inserir no mercado de trabalho, as mulheres
eram as responsáveis pelo trabalho doméstico e pelo cuidado com os filhos. O
papel das mulheres estava bem definido. Responsabilizadas pela educação dos
filhos, pela coesão familiar e por todos os afazeres domésticos, as mulheres es-
tavam distanciadas do mercado formal de trabalho. (LUZ, p.2).
Com estes ensinamentos culturais, as mulheres permaneceram excluídas da
maior parte dos ramos da sociedade por vários séculos, inclusive da vida política,
social e religiosa. Esse período de inércia fez com que as mulheres não tivessem
representatividade alguma em seus direitos, além de grande parte delas ser anal-
fabeta e subordinada juridicamente a seus maridos, elas eram distanciadas do
mercado de trabalho.
Na fase da Idade Média, período de transição da escravidão para o feudalismo,
as mulheres passaram a ser aceitas em algumas áreas do mercado de trabalho,
mas não em posições de destaque. Mesmo tendo sua mão-de-obra vista como
inferior á realizada pelos homens, á elas foi designado funções como as de fian-
deira, tecedeira de seda.
Apesar de serem trabalhos meramente artesanais, despertou-se o interesse
por outras atividades que não fossem os afazeres domésticos. Aos poucos, a mu-
lher foi recebendo mais oportunidades de emprego, passando a ocupar cargos
na fabricação de tecidos.

Primeira Guerra Mundial

A Primeira Guerra Mundial ocorreu no período de 1914 até 1918 e foi centrada
no continente europeu. A batalha envolveu diversos países e cerca de 70 milhões
de militares foram designados. Diversas foram as causas da Guerra, mas entre
as principais estão as políticas imperialista presente em alguns países da Europa
e o assassinato de Francisco Fernando da Áustria, sucessor do trono do Império
Austro-Húngaro. Várias alianças foram formadas entre as grandes potências do
Mundo e a Guerra se espalhou pelo planeta.
A Primeira Guerra Mundial fez com que as mulheres que residiam nos locais
envolvidos no combate alterassem sua forma de viver. Mais de 20 milhões de ho-
mens foram designados para representar seus países na Guerra. Seus maridos e
filhos passaram a se deslocar em massa para a Guerra e a falta de mão-de-obra no

82
mercado de trabalho foi enorme. As mulheres passaram a trabalhar fora de casa
inicialmente para auxiliar no sustento de seus lares e para suprir à quantidade
enorme de homens que faltava.
Nas regiões agrícolas, as mulheres passaram a comandar e gerenciar a pro-
dução agrícola e a criação dos animais. E as que viviam nas zonas urbanas foram
trabalhar nos comércios e algumas para os campos de batalha para trabalhar
como enfermeiras, cozinheiras, motoristas de ambulâncias e etc. Algumas mulhe-
res mesmo com o fim da Guerra conseguiram se tornar profissionais e adquirir a
independência financeira.
A medida em que os soldados eram dizimados na batalha, as mulheres foram
buscadas para substituí-los em áreas até então inexploradas por elas. As fábricas
de munições da Grã-Bretanha, França e Alemanha exigiam, cada vez mais, operá-
rios; essa falta de mão-de-obra foi substituída pelas mulheres.
Sobre os efeitos do patriotismo no período da guerra, as operárias trabalhavam
de forma exaustiva em turnos iguais ou superiores á 12 horas, em todos os dias
da semana. Nas fábricas, passaram a ser designadas também para trabalhar na
produção de armamentos e munições, embalagens, ferramentas. As indústrias
dos países daquele período estavam voltadas a suprir às necessidades da guerra.
No fim do século XIX, a Europa passou a ter um fortalecimento de alguns mo-
vimentos feministas. As mulheres almejavam maior participação jurídica, política
e maior espaço no mercado de trabalho, já que recebiam bem menos que os ho-
mens e realizavam os mesmo serviço. As mulheres finalmente tinham rompido a
barreira da inércia e passaram a requerer maior igualdade com os homens.
Em 1918, a Primeira Guerra Mundial chegou ao fim e totalizou a morte de
milhões de soldados e de civis. Além disso, cerca de 20 milhões de homens que
retornaram com vida, voltaram com algum tipo de sequela. A Guerra foi um marco
histórico que causou profundas transformações na sociedade, tanto no cenário
econômico quanto no político e social.
No fim da guerra, a participação das mulheres no mercado de trabalho fez com
que a sociedade fosse impactada culturalmente, pois os costumes foram altera-
dos. As mulheres que no período anterior á guerra, já não possuíam a vontade
de dedicarem apenas aos afazeres domésticos e ao cuidado com os filhos. Elas
passaram a se vestir diferente, a agir diferente e a pensar diferente. Além disso,
com o número exacerbado de homens dizimados, muitas mulheres começaram
a assumir trabalhos tipicamente masculinos para a época.

83
“Antes de começar a guerra já existia uma mobilização de feministas na Europa e na

América defendendo o direito ao voto – eram as sufragistas. Com a guerra, as mulhe-

res ganham maior presença no cenário cultural e econômico”, disserta o professor

de História Raphael Amaral. “No entanto, ainda havia muitas restrições culturais ao

papel da mulher e só ocorrem mudanças significativas após a Segunda Mundial, na

segunda metade do século 20”.

Revolução Industrial

Antes da Revolução Industrial, a produção de produtos e mercadorias era es-


sencialmente manual e caracterizada pelo artesanato, as máquinas utilizadas
eram simples, o que impossibilitava a produção em larga escala. Para que a pro-
dução pudesse ser feita em grande escala, era necessário que grupos de artesãos
se organizassem para cuidar de todo o processo, se dividindo para realiza-lo. Eles
ficavam responsáveis por todas as etapas, desde a captura da matéria-prima até
a finalização da mercadoria e sua destinação.
Com a Revolução Industrial, os trabalhadores foram desarticulados de quase
todo o processo produtivo, pois passaram a se subordinar a um patrão que con-
trolava toda a atividade dos trabalhadores.
A função que os trabalhadores exerciam era de controlar as máquinas dos
empresários, e estes recebiam todo o lucro pela produção. Essa fase ficou deno-
minada como maquino fatura.
Durante o século XVIII, a sociedade então foi fortemente impactada pela Revo-
lução. Uma fase histórica marcada pela substituição do trabalho artesanal e pela
introdução das máquinas industriais como mão-de-obra. O período foi marcado
pela necessidade do sistema capitalista em intensificar o lucro e a consequência
disso foram as condições precárias de trabalho.
Naquele período, a mão-de-obra feminina era considerada mais barata do que
a masculina, pois sua capacidade produtiva era menor do que a realizada pelos
homens. Como o Estado não intervia nas relações de trabalho, elas passaram a
ser exploradas, não possuíam condições de trabalho segura, trabalhavam em
jornadas superiores a 15 horas sem descanso, em ambientes sem condições de
higiene, executando funções bem além de suas forças.
Como afirma Sidnei Máximo João: ‘‘ Voltado para o lucro, o novo sistema de

84
produção buscava o barateamento da mão-de-obra. Desvalorizada, desqualificada
e considerada inferior, a força de trabalho de mulheres e menores pôde ser explo-
rada em grande escala, a preços muito inferiores àqueles pagos ao trabalhador
adulto e do sexo masculino. ’’
Esse período também fez com que os homens tivessem sua mão-de-obra des-
valorizada, visto que as mulheres passaram á ser mais procuradas pelo mercado
de trabalho. Isso fez com que a taxa de desemprego aumentasse muito e que os
homens passassem a se submeter a qualquer trabalho. As condições de trabalho
eram péssimas para ambos os sexos. O sistema capitalista naquela fase explorou
ao máximo a classe trabalhadora.
Os trabalhadores, submetidos a esta nova ordem, muito sofreram em bus-
ca de melhorias de vida que nunca chegavam, devido ao salário extremamente
baixo. Acabavam, assim, realizando seus serviços pela própria subsistência, sob
péssimas condições de trabalho, em jornadas extremamente longas – às vezes
de 16 horas diárias – trabalhando até o limite das forças e, não raro, tidos por
negligentes e insubordinados pelos seus empregadores, ainda que tal se desse
pela exaustão física.
O contexto histórico decorrente da Revolução Industrial fez com que os traba-
lhadores rurais passassem á viver em um ambiente completamente insalubre e
com alta taxa de periculosidade.
Muitos camponeses deixavam seus lares na zona rural em busca de melhores
condições de vida. Assim, a migração de trabalhadores para as cidades foi cons-
tante.

‘‘…Esse deslocamento de grandes massas de trabalhadores rurais e sem qualificação

profissional fez com que muitos ficassem em condições miseráveis de trabalho e

submetendo-se a grandes jornadas trabalhistas…(ZAMPIER, p. 21)’’

O crescimento descontrolado das cidades, o aumento das doenças e acidentes


de trabalhos decorrentes das condições precárias de trabalho na fábrica e o exces-
so de mão-de-obra infantil nas indústrias foram algum dos efeitos da Revolução
Industrial. Além disso, não havia garantia nenhuma contra os acidentes e nem
indenizações para a família dos que faleciam nesses acidentes.
Em contrapartida, o poder econômico, social e político dos empresários não
parava de aumentar, pois pagavam baixos salários pela força de trabalho e lucra-

85
vam cada vez mais.
A necessidade de aumentar a produção fez com que os métodos de produ-
ção fossem aperfeiçoados e novas técnicas no campo industrial passassem a ser
descobertas, uma das mais importantes foi a fonte de energia produzida pelo
vapor. Isso fez com que as mercadorias fossem produzidas de forma mais rápida
e consequentemente, os preços abaixassem para o consumidor.
As máquinas foram aos poucos substituindo a mão-de-obra do trabalhador. E
a sociedade passou á enfrentar uma intensa crise. Foi aí que surgiu a necessidade
de um ramo que protegesse os trabalhadores de uma forma geral.

O Surgimento do Direito do Trabalho

As consequências da Revolução Industrial foram fundamentais para o início do


ramo do Direito do Trabalho. Segundo Maurício Godinho Delgado (2008):

‘‘... O direito do trabalho é, pois produto cultural do século XIX e das transformações

econômico-sociais e políticas ali vivenciadas. Transformações, todas, que colocam a

relação de trabalho subordinado como núcleo motor do processo produtivo carac-

terístico daquela sociedade. Em fins, do século XVIII e durante o curso do século XIX

é que se maturam, na Europa e Estados Unidos, todas as condições fundamentais

de formação do trabalho livre, mais subordinados e de concentração proletária, que

propiciaram a emergência do Direito do Trabalho...’’

Os autores Granizo e Rothvoss definem o surgimento desse ramo do Direito


em quatro fases: formação, intensificação, consolidação e autonomia.
O primeiro período ocorreu por volta de 1802, sendo marcado pela Lei de Peel
(Peel’s Act), uma norma humanitária que foi promulgada na Inglaterra e que previa
normas mais protetivas e assecuratórias para menores de idade, restringindo em
alguns locais e períodos a mão-de-obra infantil. O objetivo mor desse instrumento
legal foi diminuir a exploração que estava ocorrendo, sem contar que muitos aci-
dentes de trabalho e morte no ambiente de trabalho envolviam esses menores.
O segundo período denominado intensificação ocorreu entre 1848 e 1890, e
seu marco fundamental foi uma Manifestação Comunista Francês que ocorreu
em 1848 e resultou no princípio da liberdade de associação e o surgimento do

86
Ministério do Trabalho para assegurar normas trabalhistas para assegurar as
relações de trabalho.
A penúltima fase, a consolidação foi realizada do ano de 1890 até 1919. Esse
momento teve como marcos importantes a Conferência de Berlim realizada em
1890 e a Encíclica Católica Rerum Novarum em 1891. A Encíclica foi importantís-
sima, pois abordou a necessidade urgente de o Estado voltar seus olhos para as
questões sociais, fazendo com que as relações de trabalho entre os empregados
e os empregadores passassem a ser vistos como uma questão de interesse de
toda a população. Além disso, discutiu que essas relações devem ser englobadas
pelo princípio da dignidade.
A última etapa foi essencial, pois possibilitou que o Direito do Trabalho se tor-
nasse autônomo. Teve seu começo em 1919, mas repercutiu até o século XX. Suas
maiores conquistas foi a criação da Organização Internacional do Trabalho (1919)
e a Constituição do México em 1917 e da Alemanha em 1919.
Quando a Primeira Guerra Mundial se findou, surgiu o que se denomina de
Constitucionalismo social, que objetivava uma maior defesa de questões sociais
nas Constituições dos países. O Direito do Trabalho enfim passou a ser visto como
uma questão de interesse social a ser tratado pelo Estado.
A Constituição do México foi a pioneira em dispor sobre os direitos trabalhistas.
Seu artigo 123 previa garantias como: a jornada diária de 8 horas; a jornada máxi-
ma noturna de 7 horas; a proibição do trabalho de menores de 12 anos; a limitação
da jornada de menor de 16 anos para 6 horas; o descanso semanal; a proteção à
maternidade; o direito ao salário mínimo; a igualdade salarial; a proteção contra
acidentes no trabalho; o direito de sindicalização; o direito de greve, conciliação
e arbitragem de conflitos; o direito à indenização de dispensa e seguros sociais.
A Constituição da Alemanha Republicana de Weimar, de 1919 preceituou direi-
tos como: a participação dos trabalhadores nas empresas; a liberdade de união e
organização dos trabalhadores para a defesa e melhoria das condições de trabalho;
o direito a um sistema de seguros sociais; o direito de colaboração dos trabalhado-
res com os empregadores na fixação dos salários e demais condições de trabalho,
bem como a representação dos trabalhadores na empresa.
Em 1927, a Carta Del Lavoro inspirou a criação do sistema corporativista em
diversos países, inclusive o Brasil, para que a economia do país pudesse ser me-
lhor estruturada conforme o interesse e soberania nacional. Isso fez com que os
sindicatos não tivessem autonomia, sendo um ente ligado ao Estado.

87
A Criação da Organização Internacional do Trabalho

Em 1919, o Tratado de Versalhes, um acordo assinado pelas potências euro-


peias para finalizar a Primeira Guerra Mundial. Além disso, órgãos importantes
foram criados como a Liga das Nações, para proporcionar a paz e evitar possíveis
desavenças entre seus membros.
Nos artigos 387 a 399 da Parte XIII do Tratado foi preceituado a criação da
Organização Internacional do Trabalho, a fim de estabelecer diretrizes para uma
legislação trabalhista capaz de harmonizar as relações de trabalho.

‘‘(...) A OIT foi instituída como uma agência da Liga das Nações após a assinatura do

Tratado de Versalhes (1919), que deu fim à Primeira Guerra Mundial. A sua Consti-

tuição corresponde à Parte XIII do Tratado de Versalhes. A ideia de uma legislação

trabalhista internacional surgiu como resultado das reflexões éticas e econômicas

sobre o custo humano da revolução industrial. As raízes da OIT estão no início do

século XIX, quando os líderes industriais Robert Owen e Daniel Legrand apoiaram o

desenvolvimento e harmonização de legislação trabalhista e melhorias nas relações

de trabalho.’’

A OIT, possuía sede em Genébra, e sua composição era de 10 países, dentre


eles o Brasil. Atualmente, possui cerca de 185 membros. Sua estrutura é denomi-
nada tripartite, pois é formada por representantes do governos, de organizações
de empregadores e de trabalhadores. Esse órgão tem a função de elaborar e dar
efetividade às normas internacionais do direito do trabalho, como as convenções
e as recomendações que são elaboradas.
As convenções são uma forma de lei internacional que estabelece princípios e
comportamentos que devem ser cumpridos pelos países signatários. A partir do
momento que são ratificados por uma sentença soberana do país signatário, são
incorporados no ordenamento jurídico do respectivo país.
Em 1919 foi realizada a primeira Conferência Internacional do Trabalho e a OIT
adotou seis convenções.
A primeira convenção limitou a jornada de trabalho a 8 horas diárias e 48 se-
manais. As outras convenções foram no sentido de proteção à maternidade, com-
bater o desemprego, estabelecer a idade mínima de 14 anos para o trabalho em
indústrias e à não permitir o trabalho noturno de mulheres e menores de 18 anos.

88
Em 1926, foi inserida uma Comissão de Peritos para supervisionar a efetivida-
de da aplicação das normas trabalhistas. Anualmente, a Comissão elaborava um
relatório sobre a aplicação das Convenções por eles ratificadas. Mandato foi am-
pliado para incluir memórias sobre convenções e recomendações não ratificadas.
Entre 1919 e 1939 foram cerca de 67 convenções e 66 recomendações foram
adotadas como forma de desenvolver normas internacionais do trabalho e ga-
rantir sua efetiva aplicação. Em 1944, foi adotada a Declaração de Filadélfia que
estabeleceu a carta de princípios e objetivos da OIT.
Segundo a OIT, os valores e princípios básicos que repercutem até hoje são
os de que:

‘‘... O trabalho deve ser fonte de dignidade, que o trabalho não é uma mercadoria,

que a pobreza, em qualquer lugar, é uma ameaça à prosperidade de todos e que

todos os seres humanos tem o direito de perseguir o seu bem estar material em

condições de liberdade e dignidade, segurança econômica e igualdade de oportu-

nidades...’’

No final da guerra, nasce a Organização das Nações Unidas (ONU), com o ob-
jetivo de manter a paz através do diálogo entre as nações. E a OIT passa a ser um
dos seus primeiros setores especificados, a fim de assegurar normas favoráveis
nas relações trabalhistas.

89
Isto está
na rede
“Féministas”: as mulheres que lutam contra o machismo na Igreja Católica.
Organização “Católicas pelo Direito de Decidir” existe no Brasil desde 1993
e reivindica a legalização do aborto Desde o início da década de 1990,
grupos de mulheres organizados em diferentes países, incluindo o Brasil,
têm mostrado que é possível unir a fé religiosa com a luta pelos direitos
das mulheres. São as “Católicas pelo Direito de Decidir” (CDD). Em abril, o
CDD dará início ao projeto “Fé_ministas”, que reúne mulheres jovens para
discutir a teologia feminista e o patriarcado eclesial. “A partir do momento
que começamos a reconhecer a reprodução das violências no espaço de
comunidade de fé, a gente começa a não querer mais participar, porque
essas violências começam a fazer mal psicologicamente”, afirma Tabata
Tesser. Aos 23 anos, ela é ativista da organização. Começou a se engajar
na militância quando compunha a Pastoral da Juventude na Paróquia
São Roque, em Guarulhos, cidade da região metropolitana de São Paulo.
“O Católicas faz um movimento importante de reunir essas mulheres
que não suportam mais estar nesse espaço, mas que não vão deixar de
disputá-los”, completa. Hoje, as mais jovens dividem o ativismo na orga-
nização ao lado das mulheres mais experientes. Muitas delas fundaram
o movimento no Brasil no ano de 1993. É o caso da socióloga Maria José
Rosado, 73. “A organização teve esse nome de ‘católicas’, mas a gente
entendia que não era um grupo confessional. Era um grupo que tinha na
sua pauta a defesa do fato de que as mulheres não precisariam deixar
a sua fé cristã para serem feministas, autônomas, livres e defenderem
seus direitos”, relembra. Uma das principais demandas do movimento,
como mostra o próprio nome, é o exercício pleno dos direitos sexuais e
reprodutivos das mulheres. Entre eles, está a reivindicação da legalização
do aborto. O fato de as mulheres serem religiosas, segundo argumenta
Tesser, não as impede de interromper a gravidez. Levantamentos sobre
o tema sustentam essa afirmação. No Brasil, de acordo com a Pesquisa
Nacional do Aborto, publicada em 2016, 56% das mulheres que abortam
professam a religião católica. “Ilegal para a gente é, através do discurso
religioso, querer mascarar que o debate sobre o aborto é sobre a vida.

90
Isto está
na rede
Para nós, o debate é anterior a esse. É sobre planejamento familiar, cultu-
ra do estupro”, explica. A ativista defende que o próprio evangelho mos-
tra como as mulheres devem ter o direito de decidir se querem ou não
continuar com a gravidez. “Maria foi consultada para ser mãe de Deus, e
ela disse sim. Se ela disse sim, ela teve o direito de decidir.” O CDD tam-
bém reivindica o combate ao que chamam de “machismo eclesial”. Para
Maria José Rosado, a composição masculina do clero católico, formado
por padres, bispos, cardeais e papa, fomenta a manutenção do poder
masculino, que as mulheres buscam romper. “Mulheres reivindicam um
outro lugar dentro da Igreja, adequado àquilo que elas são e fazem para a
religião. [Elas] são fiéis, trabalham para Igreja, dão um trabalho voluntário
enorme e não tem reconhecimento formal, não tem um lugar adequado”,
argumenta a socióloga. Outra reivindicação é a garantia do Estado laico,
outra das principais pautas do movimento feminista brasileiro. O presi-
dente Jair Bolsonaro (PSL) já se manifestou diversas vezes contrário ao
aborto enquanto atuava como deputado federal. Em entrevista ao canal
católico RedeVida, dias após de eleito para a Presidência, ele também fez
declarações no mesmo sentido. “Caso fosse presidente, como sou agora,
se porventura Câmara e Senado aprovarem uma ampliação do aborto,
nós aqui vetaremos”, afirmou o mandatário brasileiro. Segundo Tabata
Tesser, a eleição de Bolsonaro com o lema “Brasil acima de tudo, Deus
acima de todos’’ reflete como o debate religioso é importante na disputa
política do país. “Esse discurso faz com que as leis, majoritariamente for-
muladas pelos homens, dominem sobre os corpos das mulheres usando
a legitimidade do recurso religioso”, critica.
Fonte: https://www.brasildefato.com.br/2019/03/28/feministas-as-mulheres-

-que-lutam-contra-o-machismo-na-igreja-catolica/

91
Isto acontece
na prática
Beijada à força por boxeador, repórter contrata advogada para represen-
tá-la 179 Ag. Fight 28/03/2019 18h54 Uma cena constrangedora viralizou
e indignou internautas no último fim de semana: a repórter Jenny Sushe,
do portal ‘Vegas Sports Daily’, foi vítima de assédio enquanto trabalhava. A
mulher entrevistava o boxeador Kubrat Pulev, quando foi beijada à força.
Mas, no que depender da jornalista, o pugilista búlgaro não sairá impune
deste incidente. De acordo com o site ‘TMZ Sports’, Jenny contratou uma
das advogadas mais famosas dos EUA para representá-la neste caso: Glo-
ria Allred. A profissional é especialista em defender o direito das mulheres
em caso de discriminação e vi... - Veja mais em https://esporte.uol.com.
br/ultimas-noticias/ag-fight/2019/03/28/beijada-a-forca-por-boxeador-
-reporter-contrata-advogada-para-representa-la.htm?cmpid=copiaecola
Fonte: https://esporte.uol.com.br/ultimas-noticias/ag-fight/2019/03/28/beijada-

-a-forca-por-boxeador-reporter-contrata-advogada-para-representa-la.htm

Anote isso

O presidente da Câmara de Vereadores de Campo Grande o Professor João


Rocha (PSDB), esteve no programa “Giro Estadual de Notícias” desta quinta-
-feira (28), e falou sobre vários temas como o espaço da mulher na política,
presidência do PSDB e situação das obras do Reviva Campo Grande. Sobre
a mulher na política, João declara: “Nós entendemos a importância da mu-
lher e na igualdade de gêneros. Tanto homem quanto mulher têm direitos e
deveres iguais e precisam assim ser tratados. A sociedade precisa entender
e respeitar o direito das mulheres. Eu acredito na capacidade da mulher
e é extremamente importante estar caminhando ao lado do homem em
todos os segmentos e por que não na política?”, afirma.
Fonte: http://www.acritica.net/videos/vereador-joao-rocha-considera-importante-

-a-participacao-da-mulher-na-politica/1619/

92
EDUCAÇÃO EM DIREITOS
HUMANOS – DIREITO DAS
CRIANÇAS

AULA 09
93
Frase configurada para citação no texto. Verificação de espaçamento e quanti-
dade de caracteres dentro das citações.

Todo mundo diz que as crianças têm direito a um montão de coisas. Foi du-
rante a Assembleia Geral das Nações Unidas, no dia 20 de novembro de 1959,
que representantes de centenas de países aprovaram a Declaração dos Direitos
da Criança. Ela foi adaptada da Declaração Universal dos Direitos Humanos, só
que voltada para a criançada! Mas, é muito difícil a luta para que esses direitos
sejam respeitados. A Declaração dos Direitos da Criança tem 10 princípios que
devem ser respeitados por todos para que as crianças possam viver dignamente,
com muito amor e carinho. Nós brasileiros temos o dever de proteger e valorizar
nossas crianças pois não devemos esquecer que elas serão o nosso futuro.
Assim toda criança é amparada por um conjunto de direitos fundamentais que
garantem seu bem-estar, liberdade, estudo e convívio social.
Este conjunto de direitos é fundamentado e baseado na Declaração Universal
dos Direitos Humanos, que são propostos em dez princípios que devem ser res-
peitados e preconizados.
Veja detalhadamente cada um dos princípios que fundamenta os direitos das
crianças:

1. Todas as crianças, independentemente de cor, sexo, língua,


religião ou opinião, devem ter os direitos garantidos.
Este primeiro princípio é o que garante que toda criança será assistida dos
direitos propostos pela UNICEF, com base na Declaração dos Direitos da Pequena
Criança.
Neste conjunto de direitos, a criança poderá desfrutar de todos os direitos
desta declaração, sem distinção de raça, religião, nacionalidade, idioma, opiniões
políticas ou razão de qualquer outra natureza que seja inerente à própria criança
ou à sua família.

2. A criança será protegida e terá direito ao desenvolvimento


físico, mental, moral, espiritual e social adequados.
Este princípio garante o direito a proteção especial da criança para o seu de-

94
senvolvimento físico, mental e social. Ou seja, ela terá proteção e a oportunidade
de dispor de serviços estabelecidos por lei que possam ajudá-la no seu processo
de desenvolvimento, seja físico, mental, moral, espiritual e social.
Estes serviços devem ser estabelecidos em lei e oferecidos de forma saudável
e normal, além de terem condições de liberdade e dignidades para as crianças.

3. Crianças têm direito a nome e nacionalidade.


Este princípio garante que toda criança tem direito, desde o seu nascimento,
a ter um nome e uma nacionalidade.
O registro do nome fica sob a responsabilidade dos pais ou responsáveis legais
da criança, bem como a alegação de sua nacionalidade.

4. Toda criança terá direito a alimentação, recreação e assis-


tência médica.
Neste princípio é assegurado a toda criança o direito a ter alimentação, mora-
dia e assistência médica adequadas, tanto para criança, quanto para mãe.
A criança e sua mãe então poderão ter a garantia de uma boa saúde, onde são
disponibilizados cuidados especiais que vão desde o pré-natal até o pós-natal,
além de um local para morar e os serviços médicos adequados.

5. Toda criança portadora de necessidades especiais terá di-


reito a tratamento, educação e cuidados especiais.
Este princípio é voltado para a garantia de que a saúde, a educação e o trata-
mento de crianças portadoras de necessidades especiais seja oferecida.
Estas crianças sofrem algum tipo de impedimento social e devem receber o
tratamento adequado para sua inserção na sociedade, tendo também em vista
as particularidades do seu caso.

6. Toda criança precisa de amor e compreensão.


Neste princípio é garantido que toda criança deve ter direito ao amor e com-
preensão tanto por parte dos pais, quanto da sociedade.

95
Por estar em fase de desenvolvimento, a criança necessita de amor e com-
preensão para que ela cresça de maneira plena e harmoniosa, tendo o amparo
necessário dos pais e responsáveis.

7. Toda criança terá direito a receber educação, que será gra-


tuita pelo menos no grau primário.
Este princípio aborda a garantia do direito a educação gratuita das crianças e
o direito ao lazer infantil.
O interesse da criança em aprender deve ser superior e direcionador daqueles
que têm a responsabilidade de educá-los.
Portanto, a criança deve ter seus ensinamentos e aprendizados através de di-
nâmicas lúdicas como jogos e brincadeiras, além de ter o direito de receber a edu-
cação escolar de forma gratuita e obrigatória, pelo menos nas etapas elementares.
Ela necessita de uma educação que favoreça sua cultura geral e lhe permita,
em condições de igualdade de oportunidades, desenvolver suas aptidões e sua
individualidade, seu senso de responsabilidade social e moral, vindo a ser um
membro útil à sociedade.

8. Toda criança estará, em qualquer circunstância, entre os


primeiros a receber proteção e socorro.
Este princípio fala sobre o direito da criança de ser socorrida em primeiro lu-
gar, em casos de acidentes ou catástrofes. Ela deve figurar entre os primeiros a
receber proteção e auxílio.

9. A criança será protegida contra qualquer crueldade e ex-


ploração.
Neste princípio é garantido o direito à criança de ser protegida contra o aban-
dono e a exploração no trabalho.
A criança não deve ser objeto de nenhum tipo de tráfico e nem ser utilizada
como mão-de-obra para qualquer tipo de trabalho sem ter uma idade mínima
adequada.

96
Ela também não pode se ocupar de nenhum tipo de emprego ou trabalho que
possa prejudicar sua saúde ou sua educação, ou impedir seu desenvolvimento
físico, mental ou moral.

10. Toda criança terá proteção contra atos de discriminação.


O último princípio trata do direito à criança de crescer dentro de uma sociedade
solidária, compreensiva, fraterna e justa.
Ela deve ser protegida contra toda e qualquer prática que fomente a discrimi-
nação racial, religiosa ou de qualquer outra espécie, devendo ser educada dentro
de um espírito de compreensão, tolerância, amizade entre os povos, paz e frater-
nidade universais e com plena consciência de que deve consagrar suas energias
e aptidões ao serviço de seus semelhantes.
No Brasil, os direitos das crianças estão amparados pela lei n.º 8.069, de 13 de
julho de 1990, também chamada de Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).
Esse Estatuto regulamenta os direitos das crianças e dos adolescentes inspira-
dos pelas diretrizes fornecidas na Constituição Federal de 1988. Antes de falarmos
das questões mais importantes do ECA, primeiro vale lembrar a definição de
criança e adolescente: É considerada criança a pessoa com idade inferior a doze
anos e adolescente aquela entre doze e dezoito anos de idade.
O ECA garante que todas as crianças e adolescentes, independentemente de
cor, etnia ou classe social, sejam tratados como pessoas que precisam de aten-
ção, proteção e cuidados especiais para se desenvolverem e se tornarem adultos
saudáveis. As crianças são espelhos de seus pais e certamente vão virar adultos
de acordo com tudo o que receberam na infância.
Por isso, enquanto pais, devemos nos certificar que estamos trabalhando pelo
futuro dos nossos filhos de acordo com a legislação do país. Será que estamos
conseguindo garantir a eles os direitos das crianças? As crianças e adolescente
antes de mais nada precisam ser tratados com carinho e atenção, isso faz toda a
diferença na maneira que eles são e serão.

A seguir veremos cada um dos direitos garantidos pelo ECA.

97
Direito à vida e à saúde
Toda criança tem direito aos cuidados que começam bem cedo, desde a gra-
videz, passando pelas diversas fases até chegar à fase adulta. A mãe deve ter
uma gestação saudável para garantir a saúde do filho que está chegando. O leite
materno é o melhor alimento para o bebê e o ideal é que seja exclusivo até os
seis meses de idade. Se tiver dificuldade ao amamentar, procure logo orientação.
E devemos ter um cuidado muito especial em relação as bebidas alcoólicas,
elas são permitidas a partir dos dezoito anos. O exemplo dos pais vale muito mais
do que qualquer palavra, não permita que seu filho beba. A bebida não pode ser
uma “fuga” na vida dele.
Hoje infelizmente vemos muitos adolescentes bebendo na frente dos pais, e
por mais estranho que possa parecer, encontramos adolescente bebendo com
os pais. Fique atento, a bebida alcoólica faz mal à saúde e só é permitida após os
dezoito anos com moderação.

Direito à liberdade, ao respeito e à dignidade


Toda criança tem direito a ter opinião. Deixe o seu filho se expressar, escute,
converse. A criança precisa se sentir acolhida e respeitada, precisa ter o espaço
dela dentro de casa. Dar limite é sempre importante, a criança também precisa
de limites. Mas converse, nunca imponha as regras com violência verbal o física.
Apesar de muito discutirmos sobre crianças na atualidade, pouco escutamos
essa criança. O adulto impõe diversas regras sem avaliar o que realmente é bom
para a criança, o que ela precisa. Para serem ouvidos, os pais devem primeiro
ouvir seus filhos.
O canal de comunicação entre eles deve estar sempre aberto. Por este meio
você fará o seu filho entender como se comunicar é importante para as relações,
e como a opinião dele é importante sim. Lembre-se que toda mudança precisa
começar por nós mesmos e dentro da nossa casa.

Direito à convivência familiar e comunitária


Toda criança tem direito ao convívio familiar e social. O importante é manter
sempre um ambiente saudável e de respeito dentro de casa. A criança precisa
sentir que a sua família é o seu porto seguro, ser acolhida, assegurada naquele

98
ambiente. Afeto e carinho são essenciais e nunca é demais. A criança também
precisa se divertir com os amigos, vizinhos e outras pessoas da sua comunidade.
É importante o convívio social e a família deve propiciar esse convívio.

Direito à educação, cultura, esporte e lazer


Toda criança tem direito à educação, cultura, esporte e lazer. A matrícula esco-
lar é obrigatória para todas as crianças do Brasil. E a família tem que fazer parte
da vida escolar do filho. Mesmo pais que trabalham, podem ter um momento de
convivência ao chegar em casa. Sempre pergunte ao seu filho como foi na escola,
verifique os cadernos e procure ver se está tudo bem.
Lembre-se: esteja sempre perto do seu filho, ele precisa entender que os pais
são os seus melhores amigos. Leve as crianças a museus, parques, exposições,
permita que elas tenham acesso a cultura. Elas também devem praticar esportes e
ter momentos lazer, seja com a família ou amigos. Mas é importante que a criança
tenha um tempo livre para ela.

Direito a profissionalização e à proteção no trabalho


Toda criança tem direito à profissionalização. Cabe a ela, sob orientação de
pais e professores, escolher um caminho para a inserção no mercado de traba-
lho. A lei permite que menores de idade trabalhem a partir dos catorze anos na
condição de aprendiz. Depois dos catorze anos, o adolescente já tem direito à
carteira de trabalho, mas outros aspectos são regulados, por exemplo, eles não
podem trabalhar à noite.
Lembre-se que dar o exemplo é fundamental e ninguém pode fazer isso melhor
que os pais ou responsáveis. O direito e deveres da criança e do adolescente são
garantidos pelo Estatuto. Devemos fazer nossa parte e nos certificar de que eles
estão sendo cumpridos. Somente com o nosso apoio é que podemos construir
um futuro melhor para nossas crianças.

99
Isto está
na rede

Quem defende os direitos das crianças na era digital? No Brasil, 85% das
crianças e jovens entre 9 e 17 anos acessam a rede. Além de consumir,
criam e postam conteúdo. Entre outros, riscos aumentam por falta de
conhecimento dos pais sobre novas tecnologias.Cerca de um terço dos
usuários de internet no mundo é criança e os jovens são o grupo com
maior presença online, de acordo com dados do Unicef (Fundo das Na-
ções Unidas para a Infância). Essa também é a realidade do Brasil, onde
85% das crianças e adolescentes entre nove e 17 anos tinham acesso à
rede em 2017, segundo a pesquisa TIC Kids Online Brasil do CGI.br (Comi-
tê Gestor da Internet no Brasil). Apesar de presença maciça de crianças na
internet, pouco é feito pelo acesso seguro. Os números, segundo o CGI.
br, “propiciam uma série de oportunidades para a sociabilização, comu-
nicação e e para o mundo do trabalho” numa sociedade cada vez mais
digital. A interação desses grupos com a rede, no entanto, não é livre de
problemas. Prova disso é a mais recente polêmica que levou, este mês,
grandes marcas como Disney, Nestlé, McDonald’s e Epic Games, criado-
ra do popular jogo Fortnite, a retirarem seus anúncios do Youtube por
causa de comentários pedófilos postados em vídeos de menores. O caso
ganhou repercussão na última semana após o youtuber americano Matt
Watson mostrar que usuários identificavam e compartilhavam na seção
de comentários momentos do vídeo em que crianças, principalmente
meninas, expunham partes íntimas enquanto brincavam ou praticavam
esportes. Outro ponto discutido foram os algoritmos da plataforma, que
acabam por facilitar a prática ao recomendar ao público outros conteúdos
similares. O Youtube, que exige a idade mínima de 13 anos para a criação
de uma conta, informou que tomou ações imediatas, desabilitou milhões
de comentários e deletou perfis e canais ofensivos. O episódio evidencia
um aspecto ainda pouco discutido e pesquisado da relação das crianças
com a internet: elas não são apenas consumidoras, mas também criado-
ras de conteúdo online. Para isso, não é necessário ser youtuber mirim,
basta ter um perfil em qualquer rede social.

100
Isto está
na rede
Para o professor e pesquisador de Comunicação e Práticas de Consumo
e coordenador do ESPM Media Lab, Luiz Peres Neto, os riscos não estão
na tecnologia em si, mas nos usos que as pessoas escolhem fazer dela.
Ele também pontua que a comunicação online é um “fenômeno próprio
do nosso tempo com o qual não estamos sabendo lidar”. “O grande erro
é tentar encontrar uma pessoa ou instituição que tenha culpa quando
acontece um problema. Não existirá. Esperam-se soluções mágicas para
frear um problema quando o que existe é a ausência de diálogo em múl-
tiplas esferas, desde o familiar até os atores políticos e as omissões inte-
ressadas de empresas”, diz o pesquisador. Outro equívoco seria tentar
separar o digital do real numa época em que as telas estão amplamente
disseminadas e as gerações já nascem em contato com o mundo digital.
“O real está em rede”, afirma. E isso faz parte de como as pessoas se co-
municam e trocam hoje em dia.
Fonte: https://www.terra.com.br/noticias/brasil/quem-defende-os-direitos-das-

-criancas-na-era-digital,385536f4ca40f8d22e5bb3a231220be7i1fxis1n.html

Isto acontece
na prática
Como falar com crianças sobre a morte de um parente? Se lidar com a
perda e o luto já é difícil para os adultos, imagine para os pequenos, de-
sacostumados à ideia da finitude. Ao ver a ambulância na frente de casa,
Miguel, sete anos, percebeu que algo não ia bem com a avó. Bastou o
veículo arrancar em direção ao hospital para o menino, da porta, exter-
nar a primeira dúvida: — Será que ela vai voltar pra casa, mãe? Naquela
manhã, cerca de dois meses atrás, a família de Miguel perdeu dona Jaci
da Silva Mattos, 73 anos, vítima de câncer nos pulmões. A casa onde
moram a criança e seus pais, em Gravataí, também era compartilhada
com ela, que quase não saía da cama. A proximidade com a doença da
avó permitiu que o neto, aos poucos, fosse preparado para a despedida.
Isso deu tranquilidade para que sua mãe, Patrícia da Silva Mattos Alves,

101
Isto acontece
na prática
fosse objetiva na resposta. — Respondi que não sabia, que ela estava
ruinzinha e que podia não voltar. Já tínhamos conversado sobre o ciclo da
vida quando ele perguntava se a vovó iria morrer — lembra a terapeuta
holística de 39 anos. O pior se confirmou. Patrícia, mais do que lidar com
o luto pela mãe, tinha, agora, de contar da morte a Miguel, neto apegado.
Ainda abalada, chamou-o na sala e, conforme sua crença, disse que a vovó
tinha ido morar no céu, em forma de estrelinha. Que, apesar de ausente,
estaria nos sonhos dele. Psiquiatra e psicanalista da infância, com pós-
-doutorado na área, Celso Gutfreind não se opõe ao uso de eufemismos
desde que o adulto acredite no que está falando e não os use apenas para
poupar o sofrimento da criança. — É um assunto muito bonito, triste e
complexo. Então, se há crença de vida após a morte, está bem falar, por
exemplo, que virou estrelinha. Se não acredita, é importante que não
fale — afirma Gutfreind, ao destacar que as crianças têm relação mais
natural com a morte do que os adultos, até por estarem mais distante
dela. — Tem de contar na linguagem que se conversa, com naturalidade,
firmeza, empatia e respeitando o ritmo da criança. Sempre colocar os
aspectos positivos, que vão ficar as lembranças boas, que ele vai poder
recordar dos momentos felizes — complementa. Deve haver espaço para
expressar sentimentos.
Fonte: https://gauchazh.clicrbs.com.br/comportamento/noticia/2019/03/como-

-falar-com-criancas-sobre-a-morte-de-um-parente-cjtr7zwz800po01llhv9h3d8o.

html

102
Anote isso

As mães dos quatro bebês dividem o alojamento materno-infantil do presí-


dio com os filhos João Pedro, de dois meses; Enzo, de três; Manu, de cinco;
e Jesus, de sete. Como estão cumprindo pena em regime fechado, elas têm
o direito de ficar em um local preparado com berços, camas e brinquedos,
em companhia dos filhos, pelo período mínimo de seis meses.
Fonte: https://g1.globo.com/es/espirito-santo/noticia/2019/03/28/bebes-de-deten-

tas-ganham-ensaio-fotografico-em-presidio-do-es.ghtml

103
EDUCAÇÃO EM DIREITOS
HUMANOS – DIREITO DOS
IDOSOS

AULA 10
104
Os direitos da pessoa idosa estão reunidos no Estatuto do Idoso (Lei n. 10.741),
aprovado em 2003, após quase uma década de tramitação no Congresso Nacional.
O Estatuto, que regula os direitos das pessoas com idade igual ou superior a 60
anos, reúne 118 artigos. Em linhas gerais, ele estabelece a obrigação da família, da
comunidade, da sociedade e do Poder Público em assegurar ao idoso, com abso-
luta prioridade, a efetivação do direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação,
à cultura, ao esporte, ao lazer, ao trabalho, à cidadania, à liberdade, à dignidade,
ao respeito e à convivência familiar e comunitária.
Os idosos, definidos pelo Estatuto do Idoso (Lei Federal no 10.741/2003) como
aqueles que têm 60 anos de idade ou mais, constituem a camada da população
que mais cresce a cada ano. Dados do Censo de 2010 do IBGE revelaram um au-
mento da população com 65 anos ou mais, que era de 4,8% em 1991, passando
a 5,9% em 2000 e chegando a 7,4% em 2010. Característica comum da população
em países desenvolvidos, o Brasil começa a ver crescer “de forma acelerada” o
número de idosos. Um estudo do IBGE mostra que a quantidade de brasileiros
com 60 anos ou mais cresceu 55% entre 2001 e 2011. Isso significa que a terceira
idade passou de 15,5 milhões para 23,5 milhões de pessoas em dez anos. Além
disso, 76,8% deste grupo recebe algum tipo de benefício da Previdência Social. O
que é um grande problema para o INSS, pois a tendência é que em dez anos 99%
da população idosa receba algum benefício previdenciário. O que significa menos
pessoas contribuindo e mais pessoas recebendo. Temos muito a aprender para
adaptarmos melhor ao futuro do nosso país.
Como consumidores, são um público que merece especial atenção, pois pro-
dutos e serviços têm sido desenvolvidos e oferecidos especialmente para eles. No
entanto, os idosos nem sempre recebem informações e orientações suficientes
para fazer uma boa escolha.
Todo idoso tem o direito a ser atendido, com prioridade, nos órgãos públicos
e privados que prestam serviços à população. O atendimento preferencial deve
ser prestado em hospitais, clínicas, supermercados, cinemas, teatros, aeroportos
e muitos outros lugares. O Estatuto do Idoso ainda determina que os planos de
saúde não podem discriminar por causa da minha idade, cobrando por isso valo-
res diferentes nas mensalidades.
O estatuto determinou que as mensalidades dos planos de saúde não podem
mais ser reajustadas para quem tiver 60 anos ou mais. Outra notícia importante
é que quem utiliza um plano de saúde contratado pela empresa onde trabalha,

105
ao ser demitido ou se aposentar tem o direito de continuar com o mesmo plano,
seja individual ou familiar, com os mesmos benefícios, desde que passe a pagar
integralmente a mensalidade, ou seja, pague a sua parte e a parte que a empresa
pagava.
Além de tudo isso é sempre importante lembrar que pelo Estatuto do Idoso,
comete crime quem abandona o idoso em casas de saúde, entidades de longa
permanência ou semelhantes; nega o acolhimento ou a permanência do idoso,
como abrigado, pela recusa dele em dar procuração à entidade de atendimento;
submete o idoso a condições desumanas ou degradantes ou deixa-o sem alimen-
tos ou cuidados indispensáveis; não satisfaz as necessidades básicas do idoso,
quando obrigado por lei ou mandado; apropria-se de ou desvia bens, proventos,
pensão ou qualquer outro rendimento do idoso, utilizando-os de forma diferente
da sua finalidade; retém o cartão magnético de conta bancária relativa a benefí-
cios, proventos ou pensão do idoso, bem como qualquer outro documento com
objetivo de assegurar recebimento ou ressarcimento de dívida. Respeite a vida,
respeite os mais velhos, plante boas atitudes e colha um bom futuro.
Temos assim alguns dos principais direitos dos idosos.
Saúde – O idoso tem atendimento preferencial no Sistema Único de Saúde
(SUS) e é vedada a discriminação nos planos de saúde pela cobrança de valores
diferenciados em razão da idade. Em julgamento recente, o Superior Tribunal de
Justiça (STJ) decidiu que planos com valores diferenciados por faixa de idade não
praticam a discriminação proibida pela Lei. O entendimento foi de que a mudança
de valores proporcionais à idade do segurado corresponde a uma legítima expec-
tativa de aumento de demanda pelos serviços de assistência médica e hospitalar
contratados. Na avaliação do STJ, o que a lei proíbe é a atitude discriminatória do
plano de saúde, que eleve tanto o valor da mensalidade de modo a inviabilizar a
assistência ao idoso.
Transporte – Nos veículos de transporte coletivo, serão reservados 10% dos
assentos para idosos, assim como é assegurada a reserva, para os idosos, nos
termos da lei local, de 5% das vagas nos estacionamentos públicos e privados.
Educação e Cultura – O idoso tem direito a 50% de desconto nos ingressos
para eventos artísticos, culturais, esportivos e de lazer. O estatuto estabelece que
os idosos participarão das comemorações de caráter cívico ou cultural, com objeti-
vo de assegurar a transmissão de conhecimentos e vivências às demais gerações,
no sentido da preservação da memória e da identidade culturais. Nesse sentido,

106
o documento também determina que nos currículos mínimos dos diversos níveis
de ensino formal sejam inseridos conteúdos voltados ao processo de envelheci-
mento, ao respeito e à valorização do idoso, de forma a eliminar o preconceito e
a produzir conhecimentos sobre a matéria.
Trabalho na terceira idade – É proibida a discriminação e a fixação de limi-
te máximo de idade na contratação de empregados, sendo passível de punição
quem o fizer, inclusive para concursos, ressalvados os casos em que a natureza
do cargo o exigir. O primeiro critério de desempate em concurso público será a
idade, dando-se preferência ao de idade mais elevada. O estatuto determina que
o Poder Público criará e estimulará programas de profissionalização especializa-
da para idosos, preparação dos trabalhadores para aposentaria e o estímulo às
empresas privadas para admissão de idosos ao trabalho.
Violência – O Estatuto do Idoso determina também que nenhum idoso poderá
ser objeto de negligência, discriminação, violência, crueldade ou opressão. A lei
considera como violência praticada contra idosos qualquer ação ou omissão pra-
ticada em local público ou privado que lhe cause morte, dano ou sofrimento físico
ou psicológico. A discriminação de uma pessoa idosa, impedindo ou dificultando
seu acesso a operações bancárias, aos meios de transporte, ou por qualquer outro
meio ou instrumento necessário ao exercício da cidadania, por motivo de idade
resulta em pena de reclusão de seis meses a um ano e multa.
Abandono – Abandonar o idoso em hospitais, casas de saúde, entidades de
longa permanência, ou congêneres, ou não prover suas necessidades básicas,
conforme o artigo 98 do Estatuto do Idoso, gera pena de detenção de seis meses
a três anos e multa. Pena de detenção de dois meses a um ano e multa para quem
expuser a perigo a integridade e a saúde, física ou psíquica, do idoso, submeten-
do-o a condições desumanas ou degradantes. Fica sujeito à mesma pena quem
privar o idoso de alimentos e cuidados indispensáveis, ou quando sujeitá-lo a
trabalho excessivo ou inadequado. A pena pode ser aumentada de um a quatro
anos se houver lesão corporal de natureza grave, e reclusão de quatro a doze
anos se o fato resultou em morte.
Pensão alimentícia – Os idosos que, a partir de 60 anos, não têm condições
de se sustentar nem contam com auxílio de parentes próximos têm direito a
pensão alimentícia. O benefício funciona nos mesmos moldes que a pensão paga
pelos pais aos filhos. O artigo 12 do Estatuto do Idoso determina que a obriga-
ção alimentar é solidária, ou seja, apesar de todos os filhos terem a obrigação, a

107
ação pode ser promovida somente contra um deles que tenha melhor condição
financeira. Caso a pensão alimentícia já esteja fixada judicialmente ou por acor-
do, o idoso pode ingressar com ação de execução de pensão alimentícia contra
o devedor. A medida pode resultar na prisão do parente inadimplente, caso não
pague os atrasados.
Caso os filhos não tenham condições financeiras de pagar o benefício, o idoso
pode pleitear o benefício assistencial oferecido pelo Instituto Nacional do Seguro
Social (INSS). De acordo com informações do Governo Federal, disponibilizadas
no Portal Brasil, para solicitar o Benefício Assistencial ao Idoso é preciso agendar
o atendimento por meio da Central de Atendimento 135. O valor do benefício
corresponde à garantia de um salário mínimo, na forma de benefício assistencial
de prestação continuada mensal, devido à pessoa idosa com 65 anos ou mais
que comprove não possuir meios de prover a própria manutenção e também não
possa ser provida por sua família.

Isto está
na rede
Mais de 29 mil idosos e pessoas com deficiência do Rio devem se cadas-
trar para manter direito ao BPC. É que em dezembro do ano passado,
o então Ministério de Desenvolvimento Social (MDS) publicou a Portaria
2.651, que dispõe sobre a regularização de pessoas ainda não cadastra-
das. Esses beneficiários serão notificados por meio de extrato bancário
— Demonstrativo de Crédito de Benefício (DCB) — preferencialmente, e
poderão receber também correspondência em suas residências. O proce-
dimento deve ser feito em um dos Centros de Referência de Assistência
Social (CRAS) da Prefeitura do Rio. A inclusão do idoso ou da pessoa com
deficiência que tenha dificuldade de locomoção pode ser feita por um
familiar que resida no mesmo imóvel que o beneficiário. No momento do
cadastro, o responsável deve ter em mãos o CPF de todos os membros
da família. O governo federal estabeleceu prazos para registro de acordo
com a data de aniversário de cada beneficiário. Os que completam anos
entre janeiro e março farão parte do primeiro lote e poderão realizar sua
inscrição no Cadastro Único até o fim de março de 2019, sem que haja
prejuízo no pagamento do benefício.

108
Isto está
na rede
Entretanto, quem receber a notificação e não se cadastrar no prazo esta-
belecido terá o benefício suspenso a partir de abril de 2019. Aqueles que
fazem aniversário entre abril e junho, mas não efeturarem o cadastro,
terão benefício suspenso a partir de julho. A cessão para quem faz aniver-
sário entre julho e setembro e não realizar inscrição ocorrerá em outubro.
Em janeiro de 2020, será o encerramento do benefício daqueles que fa-
zem anos entre outubro de dezembro, caso não regularizem a situação.
Fonte: https://extra.globo.com/noticias/economia/mais-de-29-mil-idosos-

-pessoas-com-deficiencia-do-rio-devem-se-cadastrar-para-manter-direito-ao-

-bpc-23539851.html

Isto acontece
na prática
Em conformidade com o dever de amparo ao idoso, a necessidade de
assegurar sua participação na comunidade, seu bem-estar e dignidade,
assim como as normas presentes no Estatuto do Idoso, a Primeira Tur-
ma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) definiu que as taxas de pedágio
e utilização de terminais rodoviários estão inclusas na gratuidade das
vagas asseguradas aos idosos nos ônibus interestaduais. O colegiado
considerou que o parágrafo único do artigo 8º do Decreto 5.934/2006,
segundo o qual as tarifas de pedágio e de utilização dos terminais não
estão incluídas na gratuidade, extrapolou o poder regulamentar e fixou
restrição não prevista no Estatuto do Idoso. O recurso julgado teve origem
em ação civil pública ajuizada pelo Ministério Público Federal, com base
no artigo 40 da Lei 10.741/2003 e nos artigos 229 e 230 da Constituição
Federal, para declarar a nulidade da cobrança de valores adicionais.
Fonte: http://www.stj.jus.br/sites/STJ/default/pt_BR/Comunica%C3%A7%-

C3%A3o/noticias/Not%C3%ADcias/Idoso-com-direito-a-vaga-gratuita-em-%-

C3%B4nibus-interestadual-n%C3%A3o-precisa-pagar-taxas-de-ped%C3%A1gio-

-e-embarque

109
Anote isso

O Estatuto do Idoso, como é conhecida a Lei 10.741/2003, completou 15


anos em outubro de 2018. E não obstante o objetivo de assegurar direitos,
ganha cada vez mais relevância no ordenamento jurídico brasileiro. Afinal,
a população idosa do país cresce cada vez mais. Entre 2012 e 2017, por
exemplo, cresceu 18%. E ultrapassou, desse modo, a casa dos 30 milhões
em 2017, conforme dados do IBGE, em contraste aos 15 milhões em 2003,
quando foi promulgado o estatuto. O envelhecimento é uma característica
humana. Como assegura o art. 8º da Lei 10.741/2003, é um direito perso-
nalíssimo. Não obstante, sua proteção é um direito social. Dessa forma, é
obrigação tanto da sociedade, de modo, geral, garantir a efetivação desse
direito de forma digna. Mas também é uma obrigação do Estado a efetiva-
ção de políticas que contribuam para a garantia desses direitos aos idosos.
Fonte: https://www.jornalcontabil.com.br/estatuto-do-idoso-entenda-quais-sao-

-os-principais-artigos-e-direitos-envolvidos/

110
EDUCAÇÃO EM DIREITOS
HUMANOS – IDENTIDADE
DE GÊNERO

AULA 11
111
A diferença entre sexo, identidade de gênero e
orientação sexual

O humanismo trouxe diferentes formas de enxergar o ser humano. As essên-


cias passaram a ser mais valorizadas e o ser humano virou objeto de pesquisa na
busca pelo autoconhecimento. Sexo, gênero e orientação sexual fizeram mais
sentido nesse contexto de identidade cultural e condição humana.
Mas foi só com o movimento de liberdade sexual, iniciado no século XX, que as
mulheres passaram a ter direitos sobre o próprio corpo, como se descobrir física
e mentalmente. Novas naturezas passaram a ser discutidas, como a homossexua-
lidade, a bissexualidade e a transexualidade. E, apesar de existir um movimento
pela aceitação, ainda é necessário muito debate e esclarecimento.
Sexo é diferente de identidade de gênero, que diverge da noção de orien-
tação sexual. Não devem ser usados como sinônimos e devem ser entendidos
em sua complexidade e singularidade na formação de cada ser humano.

Fonte: https://blog.livrariaflorence.com.br/identidade-de-genero-e-orientacao-sexual/

112
Sexo

Em traços simples, o sexo biológico de um ser humano é definido pela com-


binação dos seus cromossomos com a sua genitália. Em um primeiro momento,
isso infere se você nasceu macho, fêmea ou intersexual. No caso dos intersexuais,
a mudança se caracteriza pela indeterminação do sexo biológico, se pensado no
binarismo “macho” e “fêmea”.
A intersexualidade pode se manifestar de formas diferentes, seja por conta de
as gônadas apresentarem características intermediárias entre os dois sexos, ou
o aparelho genital não condizer com o tipo cromossômico.
Identidade de gênero

Fonte: https://blog.livrariaflorence.com.br/identidade-de-genero-e-orientacao-sexual/

O que é Identidade de gênero:

Identidade de gênero consiste no modo como o indivíduo se identifica com o


seu gênero. Em suma, representa como a pessoa se reconhece: homem, mulher,
ambos ou nenhum dos gêneros.
O que determina a identidade de gênero é a maneira como a pessoa se sente
e se percebe, assim como a forma que esta deseja ser reconhecida pelas outras
pessoas.

113
A identidade de gênero pode ser medida em diferentes graus de masculinidade
ou feminilidade, sendo que estes podem mudar ao decorrer da vida, de acordo
com alguns psicólogos.

Tipos de identidades de gênero


Existem três principais tipos de identidade de gênero: transgêneros, cisgê-
neros e não-binários.
O transgênero é o indivíduo que se identifica com um gênero diferente da-
quele que lhe foi atribuído no nascimento. Por exemplo: uma pessoa que nasce
com características masculinas (do ponto de vista biológico), mas que se sente do
gênero feminino; ou o indivíduo que possui características físicas femininas, mas
que se identifica como um homem.
Ao contrário do que se pensava erroneamente no passado, a transgeneridade
não é um distúrbio mental e qualquer tentativa de patologização do transgênero
pode representar uma violação dos direitos humanos do indivíduo.
O cisgênero consiste no indivíduo que se identifica com o seu “gênero de nas-
cença”. Por exemplo: um indivíduo que possui características biológicas típicas do
gênero masculino e que se identifica (socialmente e psicologicamente) como um
homem. Desta forma, pode-se dizer que trata-se de um homem cisgênero.
Já o não-binário é a classificação que caracteriza a mistura entre masculino e
feminino, ou a total indiferença entre ambos. Os indivíduos não-binários ultra-
passam os papéis sociais que são atribuídos aos gêneros, criando uma terceira
identidade que foge do padrão “homem-mulher”.

Identidade de gênero e Orientação sexual

Muita gente confunde os dois conceitos, no entanto identidade de gênero não


está relacionado com orientação sexual.
Uma mulher transgênero (indivíduo que nasceu com órgão sexual masculino,
mas que se identifica com o gênero feminino), por exemplo, pode ter qualquer
tipo de orientação sexual - homossexual, bissexual, heterossexual, assexual, etc.
O termo “gênero” é usado para representar a diferença social e psicológica
entre homens e mulheres. Deste modo, a identidade de gênero, com dito, se re-

114
fere a identificação que a pessoa tem por determinado gênero - homem, mulher,
ambos ou nenhum. Por outro lado, a orientação sexual depende do gênero que
a pessoa sente atração sexual.

Orientação sexual
A orientação sexual, e não opção sexual, diz respeito à inclinação da pessoa
no sentido afetivo, amoroso e sexual. Ou seja, ela sente atração por qual gênero/
sexo? Confira algumas orientações sexuais abaixo e lembre-se: todo ser humano
merece nada menos do que respeito.
• Homossexuais: é a atração afetiva e sexual por pessoas do mesmo
gênero/sexo. As lésbicas, nesse contexto, são mulheres que gostam de
mulheres, e os gays são homens que gostam de homens, também sendo
o termo usado para mulheres.
• Heterossexuais: é a atração afetiva e sexual por pessoas do gênero/
sexo oposto.
• Bissexuais: seria a atração afetiva e sexual por qualquer pessoa do
binarismo de gênero: “homens” ou “mulheres”.
• Assexuais: a assexualidade diz respeito às pessoas que não sentem
atração por nenhum gênero. Mas vale ressaltar que ainda é uma “se-
xualidade” em construção.
• Pansexuais: é a atração afetiva ou sexual que não depende de gênero
ou sexo.

Isto está
na rede

Justiça Argentina reconhece “Travesti” como identidade de gênero. Uma


sentença inédita proferida pela justiça Argentina marcou o mês de Março.
Maurício Macri fez seu discurso de abertura dos trabalhos legislativos no
Senado da Nação (1/3), a juíza Myriam M. Cataldi, do 7º Tribunal Civil da
Cidade de Buenos Aires, autorizou a ativista Lara Bertolini a trocar sua
denominação de gênero em sua certidão de nascimento e DNI, o docu-
mento de identidade argentino. “Masculino’ e ‘feminino’ não abarcavam
minha identidade, meu lugar na sociedade. Essa decisão histórica ajuda a

115
Isto está
na rede

quebrar o binarismo”, explica Lara, em conversa com os jornalistas após


ter êxito em seu pedido. “Não é por mim, é por todas as identidades. É
a possibilidade da ampliação de direitos, de nos entendermos como ‘ge-
rúndio humano’” . Aqui ela faz alusão ao fato que, identidade de gênero
é uma característica que está sempre em transformação. A decisão teve
o aparato da Lei de identidade de gênero. A lei foi aprovada em 2012
e sancionada pela Presidente na época, Cristina Fernández de Kirchner.
Segundo o disposto no ordenamento jurídico: “reconhece à toda pessoa
o direito ao reconhecimento de sua identidade de gênero; o livre desen-
volvimento de sua personalidade conforme sua identidade de gênero; a
ser tratada de acordo com sua identidade de gênero e, em particular, a
ser tratada deste modo nos instrumentos que creditam sua identidade
em relação ao nome de batismo, imagem e sexo com os quais está aí
registrada”. Vale ressaltar que, a lei em voga já respaldava trocas binárias
(masculino e feminino). Contudo, esta dicotomia ainda não abarcava a
todos. A decisão proferida, evidencia um novo cenário, cujo intento é
incluir novas identidades.
Fonte: https://observatoriog.bol.uol.com.br/noticias/2019/03/justica-argentina-

-reconhece-travesti-como-identidade-de-genero

Isto acontece
na prática

Conheça a história de mulheres que decidiram viver nova identidade de


gênero
Questões de identidade de gênero não são exatamente “preto no branco”.
Ou azul versus rosa. É preciso falar mais sobre isso em uma sociedade que
tantas vezes fecha os olhos para os tons intermediários entre os padrões.
E que ainda presencia tantos casos de violência contra LGBTs e mulheres.
Para sobreviver – ou, mais que isso, viver plenamente de acordo com suas
verdades mais íntimas –, elas precisam vencer preconceitos e conflitos

116
Isto acontece
na prática
internos. E, assim, suas histórias em busca de uma nova identidade de
gênero se tornam exemplos de superação. Aos 63 anos, Günter decide
viver nova identidade de gênero. É o caso de Ana Beatriz Ruppelt, de 63
anos. Desde os 20, sua vida mudou radicalmente. Já nos anos de juven-
tude, porém, carregava uma certeza: a de ser em essência uma mulher.
Egressa de uma família tradicional alemã de educação rigorosa que mora-
va em São Paulo, ela conta que, ainda na adolescência, percebeu que não
se sentia à vontade no próprio corpo. “Eu tinha duas opções”, afirma. “Ou
me calava e assumia o papel de menino ou era expulsa de casa.” Naquele
momento, decidiu por atender às expectativas ao redor. Mas seu íntimo
gritava em silêncio. Para amenizar a dor de não poder assumir quem de
fato era, passou a abusar do álcool e de drogas ilícitas, como o LSD e a
anfetamina. Daí para exercer o tráfico foi um pulo. Passou, então, a ter
uma espécie de vida dupla. A do vício funcionava como válvula de escape.
Que, por sinal, a levou para a prisão em mais de uma oportunidade. Na
primeira vez em que foi para a cadeia, onde ficou por 65 dias, foi vítima
de estupro coletivo. Tinha 21 anos e já estava envolvida amorosamente
com Paula, com quem acabou se casando logo depois como parte do
roteiro encenado – o seu lado das aparências. A união só durou seis
meses. E deixou o legado de uma filha, Débora, hoje com 42 anos. Entre
encarceramentos físicos e psicológicos e idas e vindas com os químicos,
conheceu Teresa. Viu-a pela primeira vez em uma piscina do Sesc, onde
praticava natação. Ficaram amigas. Depois de um tempo, começaram a
namorar. O casamento foi consequência natural das necessidades de
ambas. Ana, a de ser o pai de família que a sua própria exigia; e Teresa
“tinha problemas de relacionamento em casa” e não queria mais morar
com a mãe, que havia se separado de seu pai. O casal teve três filhos:
Günter, atualmente com 40 anos; Richard, de 37; e Michael, que está com
35. Por fora, a “bela viola” de uma família hétero tradicional sustentava as
aparências. Por dentro de Ana, porém, o “pão bolorento” da inadequação
crescia de maneira quase incontrolável...
Fonte: https://institutomongeralaegon.org/cidadania/historias-reais/identidade-

-genero

117
Anote isso

Santa Sé diante da ONU: A ideologia de gênero é um passo atrás para a


sociedade. NOVA IORQUE, 25 Mar. 19 / 12:30 pm (ACI).- O Arcebispo Ber-
nardito Auza, Observador Permanente da Santa Sé na ONU, em Nova York
(Estados Unidos), disse que a ideologia de gênero é um “passo atrás” para
a humanidade que, ao “eliminar a diferença sexual” entre homens e mu-
lheres, criou um problema e não uma solução. Em 20 de março, o chefe da
Delegação da 63ª reunião da Comissão sobre a Condição Jurídica e Social
da Mulher (CSW) fez uma apresentação durante o evento “Igualdade de gê-
nero e ideologia de gênero: proteger mulheres e meninas”, que a Santa Sé
patrocinou na ONU junto com a Fundação Heritage. Em sua apresentação,
o Arcebispo Auza disse que, quando a CSW começou a se reunir em 1947,
não era necessário discutir a questão básica de quem é a mulher, porque
a resposta era clara para todos. “Inclusive em 2011, quando a Entidade das
Nações Unidas para a Igualdade de Gênero e o Empoderamento das Mulhe-
res foi estabelecida, também conhecida como ONU Mulheres”, acrescentou.
No entanto, indicou que o fenômeno recente de “identidade de gênero”
e ideologia de gênero tornou necessário fazer essa pergunta. “Em vez de
conduzir a uma sociedade mais livre e justa, em outras palavras, a ideologia
de gênero impede a comunhão e a geração entre homens e mulheres. É um
‘passo atrás’, porque ‘a eliminação da diferença (sexual), na verdade, cria
um problema, não uma solução’”, destacou o Prelado, citando o discurso
do Papa na audiência geral de 15 de abril de 2015. Dom Auza advertiu que
esta ideologia pretende que “a condição de mulher” seja vista “como a
forma como a pessoa pensa ou se expressa sobre si mesma” e, portanto,
aqueles que “se consideram mulheres devem ser tratados como tal, inde-
pendentemente de sua natureza biológica nos níveis celular, endócrino
ou reprodutivo, independentemente das características sexuais primárias
e secundárias, ou outros fatores”. Neste contexto, Dom Auza advertiu que
“substituir esta identidade de gênero pelo sexo biológico tem enormes
ramificações em diferentes áreas”, como a lei, educação, economia, saúde,
segurança, esportes, língua e cultura; inclusive em termos de antropologia

118
Anote isso

básica, dignidade humana, direitos humanos, casamento e família, mater-


nidade e paternidade, e a causa de mulheres, homens e especialmente
crianças. Em outra ocasião, o Arcebispo reiterou que o Papa Francisco foi
claro sobre esse assunto. Por exemplo, em 2 de outubro de 2016, quando
o Pontífice destacou “ a dignidade e o direito de todos os que não se sen-
tem representados pelo seu sexo biológico a não serem discriminados,
mas ao mesmo tempo é muito claro sobre os perigos para os indivíduos e
a sociedade derivantes da ideologia de gênero”. O prelado também citou
o parágrafo 56 da Exortação Apostólica Amoris Laetitia, no qual o Papa
destaca que a ideologia de gênero, negando “a diferença e a reciprocidade
natural de homem e mulher” prevê “uma sociedade sem diferenças de sexo
e esvazia a base antropológica da família”. No final do seu discurso, Dom
Auza insistiu que, “quando se coloca em discussão a dualidade natural e
complementar do homem e da mulher, a própria noção de ser humano
é ameaçada”. “O Papa Francisco está particularmente preocupado com o
ensinamento da ideologia de gênero às crianças, de modo que os meninos
e as meninas se sintam encorajados a colocar em discussão, desde os pri-
meiros anos de vida, se são do sexo masculino ou feminino, sugerindo que
‘cada um pode escolher o seu sexo’. Também expressou sua preocupação
com a pressão cultural, que ele chama de ‘colonização ideológica’, que se
coloca nos países e nas culturas e os indivíduos que resistem a essa nova
antropologia radical”, concluiu o Arcebispo.
Fonte: https://www.acidigital.com/noticias/santa-se-diante-da-onu-a-ideologia-de-

-genero-e-um-passo-atras-para-a-sociedade-60814

119
EDUCAÇÃO EM DIREITOS
HUMANOS – HOMOFOBIA

AULA 12
120
O termo homofobia foi empregado inicialmente em 1971, pelo psicólogo Geor-
ge Weinberg. Esta palavra, de origem grega, remete a um medo irracional do ho-
mossexualismo, com uma conotação profunda de repulsa, total aversão, mesmo
sem motivo aparente. Trata-se de uma questão enraizada ao racismo e a todo tipo
de preconceito. Este medo passa pelo problema da identificação grupal, ou seja,
os homófobos conformam suas crenças às da maioria e se opõem radicalmente
aos que não se alinham com esses papéis tradicionais que eles desempenham
na sociedade, ainda que apenas na aparência.
Alguns assimilam a homofobia a um tipo de xenofobia, o terror de tudo que é
diferente. Mas esta concepção não é bem aceita, porque o medo do estranho não
é a única fonte em que os opositores dos homossexuais bebem, pois há também
causas culturais, religiosas – principalmente crenças cristãs (católicas, protestan-
tes), judias ou muçulmanas -, políticas, ideológicas – grupos de extrema-esquerda
e de extrema direita -, e outras que se entrelaçam igualmente no preconceito.
Geralmente os fundamentalismos não cedem espaço ao homossexualismo. Há,
porém, dentro dos grupos citados, aqueles que defendem e apoiam os direitos
dos homossexuais. Dentro das normas legais, também há variantes, ou seja, há
leis que entre casais do mesmo sexo e casais do sexo oposto se diversificam. E,
por mais estranho que pareça, em pleno século XXI, alguns países aplicam até
mesmo a pena de morte contra homossexuais.
O homófobo pode reagir perante os homossexuais com calúnias, insultos ver-
bais, gestos, ou com um convívio social baseado na antipatia e nas ironias, modos
mais disfarçados de se atingir o alvo, sem correr o risco de ser processado, pois
fica difícil nestes casos provar que houve um ato de homofobia. Alguns movimen-
tos são realizados em código, compartilhados no mundo inteiro pelos adversários
dos homossexuais, tais como assobios, alguns cantos e bater palmas.
A homofobia define o ódio, o preconceito, a repugnância que algumas pessoas
nutrem contra os homossexuais. Aqueles que abrigam em sua mente esta fobia
ainda não definiram completamente sua identidade sexual, o que gera dúvidas,
angústias e uma certa revolta, que são transferidas para os que professam essa
preferência sexual. Muitas vezes isso ocorre no inconsciente destes indivíduos.
Homofobia significa aversão irreprimível, repugnância, medo, ódio, precon-
ceito que algumas pessoas, ou grupos nutrem contra os homossexuais, lésbicas,
bissexuais e transexuais.

121
Em alguns casos, aqueles que guardam estes sentimentos não definiram com-
pletamente a sua identidade sexual, gerando dúvidas e revolta, que são transfe-
ridas para aqueles que já aceitaram as suas preferências sexuais.
Etimologicamente, a palavra “homofobia” é composta por dois termos distin-
tos: homo, o prefixo de homossexual; e o grego phobos, que significa “medo”,
“aversão” ou “fobia”. O indivíduo que pratica a homofobia é chamado de homo-
fóbico.
A homofobia pode ter causas culturais e religiosas. Por exemplo, alguns cató-
licos, protestantes, judeus, muçulmanos, e fundamentalistas assumem tendên-
cias homofóbicas. Apesar disso, mesmo entre estes grupos existem aqueles que
defendem e apoiam os direitos dos homossexuais, lésbicas e simpatizantes. No
entanto, em pleno século XXI, alguns países aplicam até mesmo pena de morte
como condenação para quem é homossexual.
Em muitos casos, a homofobia parte do próprio homossexual, porque ele está
em um processo de negação de sua sexualidade e chega muitas vezes até a casar
e constituir uma família, e pode até jamais assumir sua preferência.
Alguns movimentos contra os homossexuais são realizados em código pelo
mundo inteiro pelos preconceituosos, como assovios, cantos, e bater de palmas.
A homofobia é considerada uma forma de intolerância, assim como o racismo,
o antissemitismo e outras formas que negam a humanidade e dignidade a estas
pessoas. Desde 1991, a Anistia Internacional, passou a considerar a discriminação
contra os homossexuais uma violação aos direitos humanos.
A Organização das Nações Unidas (ONU) reconhece o dia 17 de maio como o
Dia Internacional contra a Homofobia (International Day Against Homophobia),
comemorando a exclusão da homossexualidade da Classificação Estatística Inter-
nacional de Doenças e Problemas Relacionados com a Saúde (CID) da Organização
Mundial da Saúde (OMS).
Entre 1948 e 1990, a homossexualidade (chamado de “homossexualismo”) era
considerada um transtorno mental.

Lei contra Homofobia

No Brasil, a união estável entre duas pessoas do mesmo sexo foi reconhecida
legalmente pelo Supremo Tribunal Federal desde maio de 2011.

122
Em 2013, o Conselho Nacional de Justiça - CNJ aprovou e regulamentou o ca-
samento civil gay no Brasil. Atualmente, casais homossexuais possuem os mes-
mos direitos e deveres que um casal heterossexual no país, podendo se casar
em qualquer cartório brasileiro, mudar o sobrenome e participação na herança
do cônjuge. O cartório que se negar a realizar um casamento entre pessoas do
mesmo sexo pode ser alvo de punição.
Os casais que já possuíam a união estável também podem alterar o status para
casamento civil.
O Projeto de Lei da Câmara nº 122/06 (também conhecido como PLC 122)
visa alterar a lei 7.716, criminalizando a discriminação motivada unicamente na
orientação sexual ou na identidade de gênero da pessoa discriminada. Se essa
alteração for aprovada, a Lei do Racismo sofrerá uma alteração, passando a incluir
esse tipo de discriminação no parâmetro legal de racismo, que nos dias de hoje
contempla discriminação pela etnia, cor da pele, religião ou origem nacional.

Homofobia é crime?

A Constituição Federal brasileira ainda não cita a homofobia diretamente como


crime. Mas a violação praticada pelo homofóbico está presente no art.03, IV da
Constituição, que garante “promover o bem de todos, sem preconceitos de ori-
gem, raça, sexo, cor, idade, ou quaisquer outras formas de discriminação” (leia
o conteúdo completo da Lei). É essencial destacar, portanto, que a homofobia é
identificada pelo item “outras formas de discriminação”, classificada como crime
por ódio e com punição prevista.
Homofobia é uma violação contra os Direitos Humanos que consiste na into-
lerância, discriminação, ofensa ou qualquer manifestação de repúdio à homosse-
xualidade e à homoafetividade. A homossexualidade não pode ser considerada
doença nem distúrbio mental pois significa a livre orientação de indivíduos saudá-
veis, responsáveis e consciente dos seus direitos enquanto cidadãos. Homofobia é
uma violação do Direito Humano fundamental de liberdade de expressão da sin-
gularidade humana, assim como é um comportamento preconceituoso e imoral.
As leis em vigor no Brasil ainda não preveem o crime de homofobia, apesar de a
Constituição Federal de 1988 determinar no Art. 3, inciso XLI que “Constituem ob-
jetivos fundamentais da República Federativa do Brasil: promover o bem de todos,

123
sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de
discriminação; e no Art. 5º, inciso XLI, que “a lei punirá qualquer discriminação
atentatória dos direitos e liberdades fundamentais”.
Através da Lei Estadual 10.948/2001, o estado de São Paulo estabeleceu dife-
rentes penalidades às práticas discriminatórias em razão da orientação sexual.
Atualmente está em tramitação no Congresso Projeto de Lei da Câmara (PLC)
122/2006 que tem como proposta a criminalização da discriminação gerada por
diferentes identidades de gênero e orientação sexual.
Assim sendo, a homofobia pode ser contemplada como uma outra forma de
discriminação, podendo ser classificada como um crime de ódio, passível de pu-
nição.

Isto está
na rede

Justiça condena ex-deputado a pagar R$ 100 mil por homofobia. Enquan-


to atuava como deputado federal, Galli deu declarações consideradas
ofensivas. A juíza Célia Vidotti, da Vara de Ações Civil Pública e Popular,
condenou o ex-deputado federal Victório Galli (PSL) a pagar R$ 100 mil
por danos morais coletivos à comunidade LGBT. A decisão foi proferida
na quinta-feira (28). A magistrada acatou um pedido feito pela Defensoria
Pública de Mato Grosso, em que consta que o então deputado federal
usou a imprensa e as redes sociais para proferir discurso de ódio contra
homossexuais. Em determinada ocasião, o ex-parlamentar chegou a falar
que os filmes da Disney levariam crianças a serem homosexuais. “O Rei
Leão é outro filme que faz apologia ao ‘gayzismo’”. Para a magistrada, o
discurso do ex-parlamentar causou “lesão a valores fundamentais da so-
ciedade, como dignidade da pessoa humana e a liberdade”. “Condeno o
requerido Victório Galli Filho ao pagamento de indenização por danos mo-
rais coletivos, no valor de R$100 mil [...]. O valor será destinado a entidade
sem fim lucrativo, com atuação nesta Capital, que esteja regularmente
constituída e tenha, dentre seus objetivos, a promoção de ações que
visem combater a violência e a discriminação praticada contra a classe
LGBT”, disse a magistrada. A entidade a qual o montante será destinado
será feita após a indicação a ser feita pelo Conselho Municipal de Atenção

124
Isto está
na rede
a Diversidade Sexual. Para a juíza, não concordar com comportamento
ou qualquer outro fato alusivo à orientação sexual é direito de qualquer
cidadão. No entanto, Galli ultrapassou o limite da razoabilidade. “O que
não pode ser tolerado são os abusos, as manifestações que ultrapas-
sam o razoável. Assim, evidenciando o preconceito, a injúria, ou qualquer
tipo de agressão, deve-se haver reprimenda para que tais atos não se
repitam”, afirmou a magistrada. De acordo com a Defensoria Pública, o
deputado limitava a sua atuação política em “categorizar, inferiorizar e
ridicularizar todos cuja orientação do desejo está voltada para pessoas
do mesmo sexo”. “Afirma que o discurso de ódio pelos gays, lésbicas,
bissexuais, travestis, transexuais e transgêneros sempre esteve presente
em seus palanques”, disse defensoria. “Posso dar opinião?” Nos autos do
processo consta que o ex-parlamentar disse que tomou conhecimento
da denúncia pela imprensa, e apenas estaria expressando sua opinião a
respeito do comportamento de pessoas homossexuais. “Eu tenho direi-
to de dar opiniões, você está entendendo? Se é direito deles dar o que
eles querem dar, porque eu não posso dar opinião?”, disse Galli à época.
Segundo a denúncia feita pela Defensória, Galli usava palavras que pro-
moviam a injúria, “quer atribuindo-lhes traços semânticos nitidamente
negativos, como a utilização de adjetivos como ‘veados’, ‘dois barbudos
se casando’, ‘zoológico de gays’”. “Para o requerido, os GLBTs não teriam
atributos positivos, sendo párias, inconvenientes, ofensivos e com tra-
ços de pedofilia”. Conforme a magistrada, Galli “acabou por inferiorizar e
discriminar a comunidade GLBT, causando lesão a valores fundamentais
da sociedade, como dignidade da pessoa humana e a liberdade”. Mickey
e a homossexualidade. Na ação, ainda consta o caso em que Galli diz
que o personagem da Disney, Mickey Mouse, induziria crianças a serem
homossexuais. “Em entrevista concedida a Rádio Capital, alegou ter feito
estudos profundos e concluído que a Disney e o Mickey fazem apologia a
homossexualismo e estão acabando com a família tradicional brasileira.
Ainda, segundo o requerido, O Rei Leão é outro filme que faz apologia
ao ‘gayzismo’”. Após a declaração, Galli começou a usar as redes sociais
para também manifestar ilustrações que equiparam a homossexualidade

125
Isto está
na rede

com a pedofilia. “Em suas declarações a respeito da Disney, Mickey, O


Rei Leão, A Bela e a Fera, o requerido não só atinge as pessoas homosse-
xuais, mas também grande parte da coletividade que, de alguma forma,
interage com os desenhos animados e personagens daquela companhia
de mídia”, disse a juíza.
Fonte: http://www.midianews.com.br/politica/justica-condena-ex-deputado-a-

-pagar-r-100-mil-por-homofobia/347409

126
Isto acontece
na prática

Fux dá indicativo de voto pela criminalização da homofobia como racismo.


No Tribunal, 4 dos 11 ministros já declararam voto em favor. O ministro
Luiz Fux, do STF (Supremo Tribunal Federal), deu nesta sexta-feira (29)
mostras de que deverá votar pelo enquadramento da homofobia como
crime de racismo, tema em pauta na corte. No Tribunal, 4 dos 11 ministros
já declararam voto em favor da tipificação da homofobia como crime de
racismo. Mantida essa tendência, Fux será o quinto a endossar a criminali-
zação dos atos contra homossexuais nos moldes da Lei contra o Racismo.
Na manhã desta sexta-feira, Fux não só chamou de memorável o voto do
decano (Celso de Mello) pela criminalização, como também lembrou que
o STF estabelece que o racismo é atentado contra a raça humana, seja
muçulmano, judeu, católico ou adepto a religião de matriz africana. “O
Supremo Tribunal Federal entendeu que é, sim, racismo praticar as con-
dutas previstas na Lei de Racismo contra homossexuais, lésbicas, transe-
xuais, o grupo GLT”, disse o ministro. Na palestra organizada pela Amaerj
(Associação de Magistrados do Rio), Fux acrescentou: “Já imaginaram se
tivesse uma placa aqui dizendo o seguinte: ‘os integrantes da comunida-
de GLT estão proibidos de ingressar nessas palestra’? Isso é racismo, é
claro que é racismo”. Na palestra, Fux repetiu um exemplo dado por ele
mesmo no plenário do STF. “Se uma pessoa dessa comunidade [LGBT] é
morta comprando drogas em um tribunal do tráfico desses que tem aí,
se um integrante dessa comunidade é assassinado consumindo drogas,
isso não é racismo. Agora, se essa pessoa é morta porque pertence a essa
comunidade, isso é racismo, sim”. O ministro lembrou que parlamentares
apresentaram pedido de impeachment dos ministros que votaram pela
criminalização. Voltando-se ao ex-ministro Bernardo Cabral, presente à
solenidade, Fux comentou: “Bernardo, qual é a diferença disso para a di-
tadura? Já imaginou sofrer um impeachment porque votei no sentido que
é racismo isso? É delito de opinião do mesmo jeito”. Fux fez essas declara-
ções ao lamentar a judicialização da política. Segundo ele, era “atribuição
do Legislativo inserir as categorias passíveis de racismo”. “Não o fez, não
vai fazer, porque hoje há um desacordo moral no Parlamento”. Fux disse

127
Isto acontece
na prática

ainda que são submetidas ao Judiciário questões políticas, questões so-


ciais, que, no estado democrático de direito, deveriam ser resolvidas pela
Legislativo, criando um protagonismo maléfico para o Poder Judiciário.
“Ou seja, a judicialização leva ao Judiciário problemas que são interna
corporis, problemas que deveriam ser decididos pelo Parlamento, mas
há um custo social, há um custo político”, disse.
Fonte: https://www.emaisgoias.com.br/fux-da-indicativo-de-voto-pela-criminali-

zacao-da-homofobia-como-racismo/

Anote isso

Conheça a Lei para Homofobia. Homofobia é uma violação do Direito Hu-


mano fundamental de liberdade de expressão da singularidade humana,
revelando-se um comportamento discriminatório. As leis em vigor no Brasil
ainda não preveem o crime de homofobia, mas a Constituição Federal de
1988 determina no Art. 3º, inciso XLI que “Constituem objetivos funda-
mentais da República Federativa do Brasil: promover o bem de todos, sem
preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas
de discriminação; e no Art. 5º, inciso XLI, que “a lei punirá qualquer discri-
minação atentatória dos direitos e liberdades fundamentais”.
Fonte: https://new.safernet.org.br/content/conhe%C3%A7a-lei-para-homofobia

128
EDUCAÇÃO EM DIREITOS
HUMANOS – PORTADORES
DE NECESSIDADES
ESPECIAIS

AULA 13
129
É crescente, nos últimos anos, o movimento em defesa dos direitos das pessoas
portadoras de necessidades especiais. Constantemente são lançadas campanhas
de conscientização pelo Poder Público e pelo chamado terceiro setor, visando à
integração social destas pessoas.
Durante muitos anos, foram tratadas à margem da sociedade, algumas vezes
segregadas em hospitais, clínicas e outras instituições. Eram injustamente dis-
criminadas, chegando ao ponto de serem taxadas de pessoas diferentes, “anor-
mais”.
No passado, predominava o entendimento de que as pessoas portadoras de
necessidades especiais, por serem “anormais”, deveriam se adaptar à sociedade.
O portador de necessidades especiais é que, a despeito de suas limitações, de-
veria se ajustar à sociedade em que vivia, a qual em nada deveria ser alterada.
Eles deveriam ir além de seus limites para poder desfrutar um convívio social
mais amplo e justo. Pensava-se que a sociedade, nessa época, não necessitava
de nenhuma modificação.
Contudo, graças à iniciativa de alguns cidadãos e algumas instituições visando
à conscientização da sociedade, essa discriminação foi amenizada (amenizada
apenas, já que ainda pode ser facilmente presenciada). Porém, apesar da dis-
criminação não ter sido eliminada por completo, a sociedade despertou para as
necessidades daquelas pessoas que, de alguma forma, possuem limitações, sejam
elas físicas, biológicas ou mentais, buscando, cada vez mais, a inclusão social delas.
Na atualidade, em virtude da evolução cultural e social, predomina o pensa-
mento de que a sociedade e as pessoas portadoras de necessidades especiais
devem buscar juntas a integração social destas últimas. Foi abandonado aquele
pensamento retrógrado e individualista de que apenas as pessoas portadoras de
necessidades especiais deveriam lutar por sua inclusão.
Dessa forma, conforme o preâmbulo da nossa Constituição Federal, a igualda-
de é um dos valores supremos da sociedade brasileira que, apesar de bastante
ignorado em tempos pretéritos, possui significativo respeito na atualidade. Desse
modo, previu a Carta Constitucional a “proibição de qualquer discriminação no
tocante a salário ou critério de admissão do trabalhador portador de deficiência”
(art. 7º, inciso XXXI). Mais adiante, encarregou a lei de reservar percentual dos car-
gos e empregos públicos para as pessoas portadoras de necessidades especiais,
bem como seus critérios de sua admissão.
A nação brasileira assumiu, portanto, o compromisso de admitir a pessoa por-

130
tadora de necessidades especiais como trabalhadora, dando o primeiro passo
para realmente incluir essas pessoas na sociedade, aproximando-as da verdadeira
cidadania, em contraposição ao simples assistencialismo.

CONCEITO

Segundo Alexandre de Moraes, os direitos humanos podem ser entendidos


como “um conjunto de direitos e garantias fundamentais para que haja o respeito
à dignidade da pessoa humana, e, que possam fornecer condições básicas para
o desenvolvimento da vida”.
Já para Carlos Santiago Niño, a ideia de direitos humanos nada mais é do que
“o conjunto das atividades realizadas de maneira consciente com o objetivo de
assegurar ao homem a dignidade e evitar que passe por sofrimentos”.
Essa ideia atual de direitos humanos foi conceituada pouco tempo após a Se-
gunda Guerra Mundial, através da Declaração Universal dos Direitos do Homem
em 1948, após a humanidade ter sido horrorizada pela crueldade com que os
nazistas e seus aliados trataram suas vítimas.
Basicamente, é possível dizer que os direitos humanos tratam dos principais
direitos inerentes à existência humana, sendo eles: direito à vida, à liberdade, à
igualdade e à segurança pessoal. Portanto, condiz com a proteção aos direitos
fundamentais da pessoa humana.
Os direitos do homem não podem ser criados por nenhuma lei, pois eles já
existem, devendo apenas ser reconhecidos. Trata-se, portanto, de direitos univer-
sais, indivisíveis, inalienáveis, imprescritíveis e irrenunciáveis.

OS DIREITOS HUMANOS

Ao se falar de direitos humanos é possível defini-los como os direitos e ga-


rantias fundamentais necessários a todos os seres humanos, sem distinção de
qualquer natureza. Exemplo: todas as pessoas têm direito à vida, à liberdade, à
igualdade, à propriedade e à segurança.
É possível dizer que em 1215 foi o ponto inicial para a luta em favor dos direitos
humanos, foi através da elaboração da Magna Carta, na Inglaterra, que se puderam

131
estabelecer limites aos monarcas, que passaram a ser julgados perante as leis
existentes da época, dando início ao princípio do devido processo legal.
O chamado Bill of Rights, também na Inglaterra, em 1689, deu fim ao regime
da monarquia, e acabou inovando ao estabelecer a separação dos poderes no
Estado, criando, inclusive, a proteção de alguns direitos fundamentais como a
proibição de aplicação de penas cruéis.
Os EUA, com sua Declaração de Direitos da Virgínia de 1776, foram importan-
tes para o entendimento de que todos os seres humanos são igualmente livres e
possuidores de direitos que jamais podem ser privados de forma arbitrária.
A Revolução Francesa incluiu algumas novidades na ideia de direitos humanos,
a saber: as liberdades, os direitos individuais, a igualdade e a propriedade privada.
Sendo incorporados alguns princípios como o da inocência, o de que não há crime
sem lei anterior que o defina ou pena sem prévia cominação legal.
Ainda em relação à França, podemos citar a Constituição Francesa de 1948 que
teve duas previsões inovadoras, sendo elas: a abolição da escravatura nas terras
francesas, e a exclusão da pena de morte.
Outra Constituição a ser mencionada é a Mexicana, que foi a primeira no mun-
do a estabelecer como direitos fundamentais os direitos trabalhistas e os direitos
políticos. Sendo o berço da responsabilização por acidentes de trabalhou e aca-
bando com modos de exploração dos trabalhadores.
Em 1918 a União Soviética, com o objetivo de acabar com a exploração do
homem pelo homem, criou a Declaração dos Direitos do Povo Trabalhador e
Explorado. Promoveu, ainda, a igualdade entres as pessoas de todas as classes
determinando o fim da propriedade privada, no qual o Estado seria o proprietário
de todas as terras.
A Constituição de Weimar, ou Constituição Alemã, em 1919 inovou a ideia de
direitos humanos incluindo a igualdade entre homens e mulheres e filhos legíti-
mos e ilegítimos. Criou, também, a ideia de um nível social adequado à dignidade
do ser humano.
Ainda, em 1919, houve a criação da Liga das Nações Unidas, que antecederia
a Organização das Nações Unidas (ONU), logo após a Primeira Guerra Mundial.
Sua ideia era manter a paz, a segurança e a solução dos conflitos de forma pacífi-
ca. Chegou ao fim em 1939 após a Segunda Guerra Mundial por não ter atingido
seus objetivos.
A Segunda Guerra Mundial foi, talvez, o evento que mais violou a ideia de di-

132
reitos humanos. Com o fim da guerra, o mundo ficou desolado com os horrores
praticados pelos alemães nazistas. Os Estados internacionais reuniram-se para
recuperar os direitos humanos, e a comunidade internacional concordou que a
violação dos direitos humanos seria uma questão global, e não apenas um tema
interno de cada nação.
Em 1948 a ONU elaborou a Declaração Universal de Direitos Humanos deixan-
do claro que tanto o homem quanto a mulher devem ser tratados igualmente, e
que dignidade da pessoa humana deve ser respeitada. Os direitos humanos nova-
mente são vistos como universais, devendo ser respeitados por todas as nações.
Determinando que a democracia é a chave para o respeito aos direitos humanos.
Também em consequência das barbáries da Segunda Guerra Mundial, surgiu,
em 1950, a Convenção Europeia de Direitos Humanos, como um sistema que
busca a reconstrução dos direitos humanos, estabelecendo os meios de proteção.
Este sistema é considerado que os demais por permitir o acesso de petições de
qualquer pessoa diretamente à Corte.
No ano de 1969, foi a vez da Convenção Americana de Direitos Humanos, mais
conhecida como Pacto de San José da Costa Rica, figurar no cenário internacio-
nal como um sistema de proteção aos direitos humanos, tendo como proteção,
principalmente, os que vivem no continente americano. Estabelece dois órgãos
responsáveis pelo sistema de proteção sendo a Comissão Interamericana de Di-
reitos Humanos e a Corte Americana de Direitos Humanos.
Por fim, em 1981, no Quênia, foi assinada a Carta Africana de Direitos Humanos
e dos Povos, conhecida como a Carta de Banjul, reunindo vários ideais relaciona-
dos aos direitos humanos, desde igualdade, justiça, dignidade etc. Todos os esta-
dos africanos fizeram parte do acordo. Foi acordo que deveria haver o respeito à
cultura e tradições da sociedade africana. Trata-se do sistema mais recente, pois
o continente africano ainda passa pelo processo de democratização.
Diante disto, é possível dizer que a grande maioria das civilizações passou por
transições socioculturais ou, até mesmo, conflitos históricos que foram fundamen-
tais para a noção de se preservar direitos e garantias fundamentais das pessoas.
Estabelecendo, portanto, metas para que qualquer violação a esses direitos fos-
sem excluídas do âmbito jurídico e social. 

133
DIREITOS DA PESSOA PORTADORA DE NECESSIDADE
ESPECIAL – PNE – NO BRASIL ANTES DE 1988

As primeiras instituições brasileiras para pessoas portadoras de necessidades


especiais se destinaram ao atendimento das pessoas surdas e cegas. O primeiro
instituto para cegos foi fundado no ano de 1854 e o primeiro instituto para surdos,
em 1857, ambos no Rio de Janeiro, por meio de Decreto Imperial.
De 1905 a 1950, muitas das instituições que foram criadas para o atendimento
das pessoas portadoras de necessidades especiais eram particulares, com acen-
tuado caráter assistencialista. As iniciativas oficiais também aconteceram neste
período, porém tanto as instituições particulares quanto as oficiais não foram
suficientes para atender o número de pessoas portadoras de necessidades es-
peciais existentes.
A educação especial no Brasil foi se ampliando lentamente e foram criados
mais institutos particulares. Os serviços públicos eram prestados através das es-
colas regulares, que ofereciam classes especiais para o atendimento das pessoas
portadoras de necessidades especiais.
Em 1957, a educação da pessoa portadora de necessidade especial foi assumi-
da em nível nacional, pelo governo federal. No ano de 1961, já estava vigorando a
primeira Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Nessa lei foram escritos
dois artigos (88 e 89) referentes à educação dos “excepcionais”, garantindo, desta
forma, o direito à educação dessas pessoas. Pelo menos na letra da lei, dentro do
sistema geral de ensino, objetivando a integração de todos dentro da comunidade.
Outro ponto importante desta lei é que, no artigo 89, o governo se compromete
a ajudar as organizações não-governamentais a prestarem serviços educacionais
às pessoas portadoras de necessidades especiais. A Constituição do Brasil de 1967
também escreveu artigos assegurando a elas o direito de receber educação para
a integração na comunidade.
A Lei de Educação, de 11 de agosto de 1971, para os ensinos de 1º e 2º graus,
faz referência à educação especial em apenas um artigo (artigo 9º), deixando claro
que os conselhos estaduais de educação garantiriam às pessoas portadoras de
necessidades especiais o recebimento de tratamento especial nas escolas.
Nos anos 1960 e 1970, o governo acabou por transferir sua responsabilidade,
no que se refere à educação das pessoas portadoras de necessidades especiais
para as Organizações não governamentais – ONGs, visto que foi crescente o nú-

134
mero de instituições filantrópicas criadas, embora tenha sido no ano de 1973
que se deu a criação do Centro Nacional de Educação Especial (Cenesp), ligado
ao Ministério de Educação e Cultura.
Em foco temos o Decreto n. 38.724, de 30/01/1956, que reestruturou a orienta-
ção técnico-pedagógica do Instituto Benjamim Constant, como um dos primeiros
passos do legislador brasileiro no campo da implementação do “princípio da igual-
dade de oportunidades entre os trabalhadores deficientes” e os “não-deficientes”.
O art. 1º, letra “l”, do referido decreto, prescrevia a instituição e a orientação de
uma campanha que levasse o público a: “defrontar os deficitários visuais sem
embaraços, sem constrangimento e sem demonstrações de comiseração, mas
como simples seres humanos portadores de um déficit, que podem levar uma
existência digna, trabalhar eficientemente, encontrar em atividade remunerada
meios de subsistência, identificar-se com os interesses da sociedade, contribuir
para a prosperidade e o bem comum, e participar também da alegria de viver”.
Quinze anos mais tarde, a Lei n. 5.692, de 11/08/1971, tratando das diretrizes
e bases para o ensino de primeiro e segundo graus, estabeleceu, em seu art. 9º,
que “os deficientes físicos ou mentais”, bem como os “superdotados”, deveriam
receber tratamento especial, de acordo com normas fixadas pelas autoridades
administrativas competentes.
Em 1973, o Decreto n. 72.425 cria Centro Nacional de Educação Especial – Ce-
nesp, destinado a promover a expansão e a melhoria do atendimento aos “ex-
cepcionais”. Essas medidas, contudo, tiveram pouca conseqüência prática, por
melhores que fossem as intenções, não foram além de primeiros tímidos passos,
no sentido de reparar a grande desigualdade estabelecida, é verdade, pela na-
tureza, mas contra a qual uma iniciativa mais pertinente precisava ser tomada.
O tema adquire status constitucional com a Emenda n. 12, de 17/10/1978, in
verbis:
É assegurado aos deficientes a melhoria de sua condição social e econômica,
especialmente mediante:
I. educação especial e gratuita;
II. assistência, reabilitação e reinserção na vida econômica e social do País;
III. proibição de discriminação, inclusive quanto à admissão ao trabalho ou
ao serviço público e salários;
IV. possibilidade de acesso a edifícios e logradouros públicos.

135
A justificação da Emenda salientava que, em quase todos os países, crescia
a consciência de que as pessoas com deficiência têm iguais direitos aos demais
membros da comunidade e que é necessário pôr termo à sua segregação, derru-
bando-se barreiras físicas e sociais que impedem a sua integração na sociedade
e no processo de produção e de trabalho. E concluía:
Que o deficiente do Brasil tenha, inscritos na Constituição os seus direitos
fundamentais: o direito de viver em sociedade e não segregado: o direito ao tra-
balho, nos limites de sua capacidade; e o direito de ir e vir, de andar pelas ruas e
de entrar e sair dos edifícios nas ruas e nos edifícios que os homens construíram
sem atentar que existem milhões de patrícios seus que não podem, nas suas
cadeiras de roda, com seus aparelhos ortopédicos, com suas muletas, ou sem a
luz dos olhos, vencer as escadarias, as escadas rolantes, as imensas barreiras que
encontram, a cada passo, até para subir uma simples calçada de qualquer rua.

O ADVENTO DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988

A Constituição da República inaugurou, em 5 de outubro de 1998, um Estado


Democrático de Direito (art. 1º). Na lição de Guilherme José Purvin de Figueiredo
(1997), a Constituição elegeu, isto é certo, como fundamentos e objetivos, metas e
métodos que se distanciam radicalmente de modelos autoritários ou totalitários.
Nesse sentido, dispõe que a República Federativa do Brasil tem a dignidade da
pessoa humana como um de seus cinco fundamentos (art. 1º, II); que a promoção
do bem de todos, sem quaisquer formas de discriminação, é um de seus quatro
objetivos fundamentais (art. 3º, IV); e que a prevalência dos direitos humanos é
um de seus dez princípios na ordem internacional (art. 4º, II).
A Constituição de 1988 trata de temas envolvendo a pessoa portadora de ne-
cessidade especial em diversas passagens: proíbe a distinção no tocante a salário
e critérios de admissão do trabalhador “portador de deficiência” (art. 7º, XXXI);
determina que a lei deverá reservar percentual dos cargos e empregos públicos
para as pessoas “com deficiência”, definido os critérios de sua admissão (art. 37,
VIII); dispõe que a Assistência Social tem por objetivo a habilitação e reabilitação
das pessoas “portadoras de deficiência” e a promoção de sua integração à vida
comunitária (art.203, II); estabelece que o Estado deverá criar programas de inte-

136
gração social do adolescente portador de deficiência mediante treinamento para
o trabalho e a convivência, e a facilitação do acesso aos bens e serviços coletivos,
como a eliminação de preconceitos e obstáculos arquitetônicos (art. 227,II); e
remete à lei as disposições sobre a adaptação dos logradouros, dos edifícios de
uso público e dos veículos de transporte coletivo atualmente existentes, a fim de
garantir o acesso adequado às pessoas com deficiência (art. 244).
Manuel Gonçalves Ferreira Filho (2001) preceitua que a intenção dos consti-
tuintes foi de tentar impedir que os direitos permaneçam como letra morta, mas
sim ganhem efetividade. Ensina, ainda, que “a leitura dos vários incisos do art. 5º
facilmente demonstra a existência de normas definidoras de direitos bastantes
em si, ao lado de muitas outras normas não bastantes em si”.

A LEI FEDERAL N. 7.853/89

Conforme já dito outrora, no Brasil, até a Carta de 1969, inclusive, não havia
uma preocupação do legislador constitucional com a pessoa portadora de neces-
sidade especial. Foi a Emenda Constitucional n. 12, de 17/10/78, que assegurou as
primeiras garantias às pessoas portadoras de necessidades especiais; já na Cons-
tituição vigente, inúmeros dispositivos esparsos foram dedicados à sua proteção,
outrossim, sobreveio a Lei Federal n. 7.853/89, de 24/10/89, que dispôs sobre as
normas de proteção às pessoas com deficiência.
Assim, a edição da Lei n. 7.853/89, constitui um marco histórico na luta pela
implementação do princípio da igualdade de oportunidades. Já no início do texto
legal, é estabelecido que sua aplicação e interpretação orientar-se-ão pela obser-
vância dos valores da isonomia de tratamento e oportunidade, da justiça social,
do respeito à dignidade humana e do bem estar. A seguir, a lei determina que
compete ao Poder Público assegurar às pessoas portadoras de necessidades es-
peciais o pleno exercício dos direitos sociais elencados no art. 6º da Constituição
da República.
Contornando o óbice trazido pelo veto ao art. 1º, IV, da Lei n. 7.347/85 e an-
tecipando-se à Lei n. 8.078, de 11/09/90, a Lei n. 7.853/89 consagrou a ação civil
pública como meio processual de adequação à proteção dos interesses difusos
ou coletivos das pessoas com deficiência, pelo Ministério Público e pelas pessoas
jurídicas de Direitos Públicos; bem como por associações, autarquias, fundações,

137
empresas públicas e sociedades de economia mista (desde que incluam, entre
suas finalidades institucionais, a proteção das pessoas portadoras de deficiência).
No âmbito do Direito do Trabalho, com base na Lei n. 7.853/89, a partir de 1989
tornou-se possível a propositura de ação civil pública (ou coletiva) em defesa de
trabalhadores portadores de necessidades especiais, objetivando, por exemplo,
a construção de rampas para acesso de trabalhadores paraplégicos ao local de
trabalho.
De maior importância foi à implementação do princípio da igualdade de
oportunidade entre os trabalhadores foi o art.8º, II, desta lei, que tipificou como
crime, punível com reclusão de um a quatro anos, e multa, obstar, sem justa
causa, o acesso de alguém a qualquer cargo público, por motivo derivados de sua
necessidade especial.

A DEFINIÇÃO DE PESSOA PORTADORA DE NECESSIDADE


ESPECIAL APRESENTADA PELO DIREITO

Conforme o Juiz Adriano Mesquita Dantas (2005), a Convenção da OIT n. 159,


de 1983, ratificada pelo Brasil através do Decreto Legislativo n. 51, de 28 de agosto
de 1989, conceitua pessoa “com deficiência” em seu art. 11, da seguinte forma:
“Para efeitos da presente Convenção, entende-se por “pessoa deficiente todo
indivíduo cujas possibilidades de obter e conservar um emprego adequado e de
progredir no mesmo fiquem substancialmente reduzidas devido a uma deficiência
de caráter físico ou mental devidamente reconhecida”.
O conceito em questão ressalta o caráter funcional das deficiências físicas ou
sensoriais, estabelecendo a Convenção do dever dos países signatários de se
engajarem em atividades de integração e de fornecerem instrumentos que via-
bilizem o exercício das atividades profissionais para as pessoas que necessitem.
Nesse diapasão, o recente Decreto n. 3.298/99 conceitua a pessoa portadora de
necessidade especial, em seu artigo 3º.
Define “deficiência” como “toda perda ou anormalidade de uma estrutura ou
função psicológica, fisiológica ou anatômica que gere incapacidade para o desem-
penho de atividade, dentro do padrão considerado normal para o ser humano”.
Incapacidade, por sua vez, é conceituada pelo inciso III como “uma redução
efetiva e acentuada da capacidade de integração social, com necessidade de equi-

138
pamentos, adaptações, meios ou recursos especiais para que a pessoa com de-
ficiência possa receber ou transmitir informações necessárias ao seu bem-estar
pessoal e ao desempenho de função ou atividade a ser exercida”.
O art. 4º do Decreto n. 3.298/99 especifica a conceituação técnica, sob o ponto
de vista médico, das deficiências física, auditiva, visual, mental e múltipla.
Percebe-se, portanto, que o espírito do decreto em comento, ao definir a pes-
soa “com deficiência”, é o de suplementar a Lei n. 7.853/89, que não definira as
“deficiências” hábeis a gerar a proteção jurídica por ela traçada.
Outro aspecto relevante é o de que as pessoas portadoras de necessidades es-
peciais são tidas como limitações de caráter instrumental, cientificamente quanti-
ficados, balizados, de acordo com critérios médicos internacionais, senão vejamos:
Decreto n. 3.298, de 20 de dezembro de 1999, que Regulamenta a Lei n.
7.853/89, que dispõe sobre a Política Nacional para a Integração da Pessoa Por-
tadora de Deficiência, consolida as normas de proteção, e dá outras providências:

Art. 4º É considerada pessoa portadora de deficiência a que se enquadra nas se-

guintes categorias:

I - deficiência física - alteração completa ou parcial de um ou mais segmentos do cor-

po humano, acarretando o comprometimento da função física, apresentando-se sob

a forma de paraplegia, paraparesia, monoplegia, monoparesia, tetraplegia, tetrapa-

resia, triplegia, triparesia, hemiplegia, hemiparesia, ostomia, amputação ou ausência

de membro, paralisia cerebral, nanismo, membros com deformidade congênita ou

adquirida, exceto as deformidades estéticas e as que não produzam dificuldades

para o desempenho de funções; (Redação dada pelo Decreto n. 5.296, de 2004)

II - deficiência auditiva - perda bilateral, parcial ou total, de quarenta e um decibéis

(dB) ou mais, aferida por audiograma nas freqüências de 500HZ, 1.000HZ, 2.000Hz

e 3.000Hz; (Redação dada pelo Decreto n. 5.296, de 2004)

III - deficiência visual - cegueira, na qual a acuidade visual é igual ou menor que 0,05

no melhor olho, com a melhor correção óptica; a baixa visão, que significa acuida-

de visual entre 0,3 e 0,05 no melhor olho, com a melhor correção óptica; os casos

nos quais a somatória da medida do campo visual em ambos os olhos for igual ou

menor que 60o; ou a ocorrência simultânea de quaisquer das condições anteriores;

139
(Redação dada pelo Decreto n. 5.296, de 2004)

IV - deficiência mental – funcionamento intelectual significativamente inferior à mé-

dia, com manifestação antes dos dezoito anos e limitações associadas a duas ou

mais áreas de habilidades adaptativas, tais como:

a) comunicação;

b) cuidado pessoal;

c) habilidades sociais;

d) utilização dos recursos da comunidade; (Redação dada pelo Decreto n. 5.296, de

2004)

e) saúde e segurança;

f) habilidades acadêmicas;

g) lazer; e

h) trabalho;

V - deficiência múltipla – associação de duas ou mais deficiências.

Dessa forma, é possível a aferição da matéria a ser tutelada pelo Direito e os


limites físicos, fisiológicos, sensoriais, ou mentais que deverão merecer suple-
mentação por intermédio de instrumentos, próteses, adaptações físicas do meio
e procedimentos que possibilitem a devida integração da pessoa portadora de
necessidade especial.
Há muito a ser feito, pois milhares de pessoas continuam à margem da vida,
escondidas atrás de dificuldades e barreiras, que são mínimas e imperceptíveis
para alguns, mas que se constituem em obstáculos intransponíveis nas atividades
do cotidiano das pessoas portadoras de necessidades especiais.
Como bem observou a Profª Walküre Lopes Ribeiro da Silva (1997), “o proble-
ma que enfrenta o portador de deficiência não é a ausência de leis. Sob o ponto
de vista da validade, temos leis que seriam perfeitamente aplicáveis aos casos
concretos. O grande problema é o da eficácia das normas existentes”.
Estamos plenamente de acordo com essa lúcida e esclarecida opinião. De fato,
alcançamos um nível razoável de proteção legal para as pessoas portadoras de
necessidades especiais e, como se notou no decorrer da exposição, poucas al-
terações e inovações legislativas se fazem necessárias. Todavia, a concreção dos
programas estabelecidos, a transformação das ideias em realidade, continua a

140
ser um grande desafio de nossa sociedade.
Não basta que tenhamos belas leis securitárias e trabalhistas, um exemplar
sistema de compensação das desigualdades, de programas de integração da pes-
soa portadora de necessidades especiais à sociedade. É preciso que tudo isso seja
efetivamente implementado por meio da participação ativa da sociedade civil e
do Poder Público.

Isto está
na rede

Idosos e portadores de necessidades especiais têm direito a isenção da


área azul em Matão. Benefício é válido para o perímetro urbano e é ne-
cessário solicitar a credencial gratuita. Idosos e portadores de necessi-
dades especiais podem solicitar isenção do pagamento da área azul no
perímetro urbano em Matão (SP). O benefício é válido para idosos com
60 ou mais anos e portadores de necessidades especiais que possuam o
Código Internacional de Doenças (CID). Os interessados devem solicitar
a credencial gratuita e oficial confeccionada pela Prefeitura de Matão,
por meio do Departamento de Trânsito, localizado na Rua Oreste Bo-
zelli, 1165, no Centro. O atendimento é de segunda a sexta-feira, das 8h
às 17h, e os documentos necessários para solicitar o benefício são: RG,
CPF e comprovante de residência atualizado. Segundo o coordenador do
Procon de Matão, Marcos Ignácio, muitas pessoas reclamam das multas
que estão recebendo por falta da carteira especial. “Ficamos muito feli-
zes pelo prefeito ter sancionado a Lei porque é muito importante para a
população. E, claro, com essa nova Lei, as dúvidas começam a surgir. Por
isso, o Procon começou esta parceria com o Departamento de Trânsito
para ajudar na divulgação da informação para os idosos e portadores de
necessidades especiais, que, muitas vezes, recebem multas por estacio-
nar nas vagas reservadas sem a carteirinha.” Os beneficiários deverão
respeitar algumas regras: a permanência no estacionamento deverá ser
de no máximo duas horas e devem deixar em local visível no interior do
veículo o cartão de identificação de idoso ou portadores de necessidades
especiais, nos termos da legislação vigente. São oferecidas cerca de 30

141
Isto está
na rede

vagas de estacionamento isento na área azul da cidade, sendo 18 para


idosos e 12 para portadores de deficiência física com aproximadamente
4500 beneficiados, sendo 4156 idosos e 464 portadores de necessidades
especiais. “Às vezes, muitos nos questionam os motivos de termos san-
cionado a Lei, é bom lembrar que fizemos isto porque somos sensíveis
às causas dos idosos e portadores de necessidades especiais, eu acre-
dito que é uma ajuda que estamos dando a todos eles, melhorando as
condições de vida com um espaço para estacionar”, explicou o prefeito.
Fonte: https://g1.globo.com/sp/sao-carlos-regiao/noticia/2019/03/28/idosos-e-

-portadores-de-necessidades-especiais-tem-direito-a-isencao-da-area-azul-em-

-matao.ghtml

Isto acontece
na prática
Mais de 80 notificações são emitidas por uso indevido de vagas para ido-
sos e pessoas com deficiência em 2019 em Divinópolis. Cidade tem 62
vagas destinadas para os idosos e 60 para os portadores de necessidades
especiais, segundo a Settrans. O uso indevido de vagas de estacionamen-
to destinadas a idosos e pessoas com deficiência gerou 85 notificações
para condutores em 2019 em Divinópolis até o momento, segundo a Se-
cretaria Municipal de Trânsito e Transportes (Settrans). De acordo com a
Settrans, são 62 vagas destinadas a idosos e 60 destinadas a portadores
de necessidades especiais na cidade. Das notificações registradas em
2019, 47 foram por uso irregular das vagas para idosos e 38 por estacio-
nar sem a credencial nas vagas destinadas a portadores de necessidades
especiais. De acordo com o gerente de fiscalização da Settrans, Victor
Moreira, em 2018 foram registradas 250 notificações por estacionamento
irregular em vagas para idosos e 216 por estacionamento irregular em
vagas destinadas para deficientes na cidade. Na área central da cidade, a
equipe do MG1 flagrou três irregularidades em um curto espaço de tem-
po. No primeiro, o motorista está dentro do carro estacionado em vaga

142
Isto acontece
na prática
destinada a deficiente, sem a credencial obrigatória. Já no segundo, re-
gistrado na Rua Goiás, um veículo ficou estacionado em uma vaga para
idosos sem a credencial. À reportagem do MG1, um motorista, que estava
situação irregular na Rua Minas Gerais, afirmou que “ficou dentro do carro
para a esposa comprar alguma coisinha”, e que “se chegar alguém, sai”.
Segundo Victor, a credencial para estacionamento de idosos e portadores
de deficiência pode ser retirada na sede da Settrans. Para isso, é necessá-
rio levar documento de identificação pessoal, comprovante de endereço
atualizado e, em caso de deficiência, um laudo médico que comprove a
necessidade especial. O estacionamento irregular em vagas especiais
sem a credencial é infração gravíssima, segundo o Código de Trânsito
Brasileiro. Quem for flagrado nesta situação é multado em R$ 293,47 e
sofre multa de sete pontos na Carteira Nacional de Habilitação (CNH).
Fonte: https://g1.globo.com/mg/centro-oeste/noticia/2019/03/26/mais-de-80-no-

tificacoes-sao-emitidas-por-uso-indevido-de-vagas-para-idosos-e-pessoas-com-

-deficiencia-em-2019-em-divinopolis.ghtml

Anote isso

Os termos portador de deficiência, portador de necessidades especiais


(PNE) e pessoa portadora de deficiência (PPD) não são os mais adequados.
No lugar deles, recomenda-se usar “pessoa com deficiência” ou “PcD”. A
sigla PcD é invariável. Por exemplo: a PcD, as PcD, da PcD, das PcD.
Fonte: www.portaldeacessibilidade.rs.gov.br/.../1313497232Manual_de_Redacao_

AL_Inclusiva.pdf

143
ÉTICA - CONCEITO

AULA 14
144
Ética é o nome dado ao ramo da filosofia dedicado aos assuntos morais. A
palavra ética é derivada do grego, e significa aquilo que pertence ao caráter.
Num sentido menos filosófico e mais prático podemos compreender um pouco
melhor esse conceito examinando certas condutas do nosso dia a dia, quando nos
referimos por exemplo, ao comportamento de alguns profissionais tais como um
médico, jornalista, advogado, empresário, um político e até mesmo um professor.
Para estes casos, é bastante comum ouvir expressões como: ética médica, ética
jornalística, ética empresarial e ética pública.
A ética pode ser confundida com lei, embora, com certa frequência, a lei tenha
como base princípios éticos. Porém, diferentemente da lei, nenhum indivíduo
pode ser compelido, pelo Estado ou por outros indivíduos, a cumprir as normas
éticas, nem sofrer qualquer sanção pela desobediência a estas; mas a lei pode ser
omissa quanto a questões abrangidas pela ética.
A ética abrange uma vasta área, podendo ser aplicada à vertente profissional.
Existem códigos de ética profissional que indicam como um indivíduo deve se
comportar no âmbito da sua profissão. A ética e a cidadania são dois dos conceitos
que constituem a base de uma sociedade próspera.
O termo ética deriva do grego ethos (caráter, modo de ser de uma pessoa). Éti-
ca é um conjunto de valores morais e princípios que norteiam a conduta humana
na sociedade. A ética serve para que haja um equilíbrio e bom funcionamento
social, possibilitando que ninguém saia prejudicado. Neste sentido, a ética, em-
bora não possa ser confundida com as leis, está relacionada com o sentimento
de justiça social.
A ética é construída por uma sociedade com base nos valores históricos e cul-
turais. Do ponto de vista da Filosofia, a Ética é uma ciência que estuda os valores
e princípios morais de uma sociedade e seus grupos.
É óbvio que a ética não é coactiva, uma vez que não impõe castigos legais (as
suas normas não são leis). A ética contribui para a justa aplicação das normas
legais num Estado de direito, mas em si mesma não é punitiva do ponto de vista
jurídico, ainda que promova uma auto-regulação.
A ética pode dividir-se em diversos ramos, entre as quais se destacam a éti-
ca normativa (são as teorias que estuda a axiologia moral e a deontologia, por
exemplo) e a ética aplicada (refere-se a uma parte específica da realidade, como
a bioética e a ética das profissões)

145
Origem do conceito de ética

A origem do conceito de ética remete aos primeiros grandes pensadores da


humanidade: os filósofos gregos.
A criação do termo e tudo o que ele engloba surgiu em meados do século 4
a.C, quando teve início a ascensão das Cidades Estado gregas.
Do surgimento das civilizações emergiu a necessidade de se pensar sobre os
valores que moldam a vida em sociedade, tais como honestidade e fidelidade.
Você percebe como há uma correlação intrínseca entre a necessidade de se
definirem modelos éticos para a organização da vida em comunidade?
Diante de tal constatação, quem cunhou o termo “ética” e expandiu esse campo
de estudo foram filósofos dos quais você provavelmente já deve ter ouvido falar:
Sócrates, Platão e Aristóteles.

Importância da ética em nossa sociedade

A ética desempenha um papel fundamental na vida em sociedade.


Na verdade, o contexto social, em si, é o que permite e demanda a existência
do conceito de ética e o estudo de suas aplicações.
Para compreender um pouco melhor a necessidade de princípios éticos que
conduzam a vida em sociedade, experimente fazer o exercício de imaginar um
cenário no qual não exista nenhuma noção de certo ou errado, moral ou imoral.
Você consegue fechar os olhos e contemplar uma realidade na qual ninguém
precisaria seguir uma fila para pagar uma conta, ninguém precisaria respeitar
regras de trânsito e todos poderiam falar no tom de voz que quisessem, inde-
pendentemente do local?
Seria a receita perfeita para o caos, você concorda?
É justamente por isso que a noção de ética é fundamental.
Ela norteia os princípios e valores de uma sociedade, para que ela possa pros-
perar com justiça, harmonia, integridade e cooperação.
Geralmente, a discussão sobre ética vem à tona diante de grandes escândalos,
quando há muito dinheiro envolvido em um roubo ou diante de um caso de má
conduta impressionante.
Contudo a ética nunca está ausente da vida em sociedade.

146
Ser ético ou não é uma decisão que você toma diariamente, nas pequenas
ações do dia a dia.

Ética e Moral

Ética e moral são temas relacionados, mas são diferentes, porque moral se
fundamenta na obediência a normas, costumes ou mandamentos culturais,
hierárquicos ou religiosos e a ética, busca fundamentar o modo de viver pelo
pensamento humano.
Na filosofia, a ética não se resume à moral, que geralmente é entendida como
costume, ou hábito, mas busca a fundamentação teórica para encontrar o melhor
modo de viver; a busca do melhor estilo de vida. A ética abrange diversos campos,
como antropologia, psicologia, sociologia, economia, pedagogia, política, e até
mesmo educação física e dietética.

Códigos de ética

Cada sociedade e cada grupo possuem seus próprios códigos de ética. Num
país, por exemplo, sacrificar animais para pesquisa científica pode ser ético. Em
outro país, esta atitude pode desrespeitar os princípios éticos estabelecidos.
Aproveitando o exemplo, a ética na área de pesquisas biológicas é denominada
bioética.

A ética em ambientes específicos


Além dos princípios gerais que norteiam o bom funcionamento social, existe
também a ética de determinados grupos ou locais específicos. Neste sentido,
podemos citar: ética médica, ética profissional (trabalho), ética empresarial, ética
educacional, ética nos esportes, ética jornalística, ética na política, etc.

147
Antiética
Uma pessoa que não segue a ética da sociedade a qual pertence é chamado
de antiético, assim como o ato praticado.

O que é ética profissional


A ética profissional está relacionada aos princípios que guiam a conduta de um
determinado indivíduo dentro do seu trabalho.
Ela se aplica tanto a colaboradores de uma organização, quanto a líderes.
Você está lembrado dos códigos de ética?
Bem, não é por acaso de diferentes profissões possuem seus respectivos có-
digos de ética.
Para ilustrar melhor, vale a pena contemplar um exemplo prático.
No Código de Ética dos Jornalistas, está descrito que “a produção e a divulgação
de informações deve se pautar pela veracidade dos fatos e ter por finalidade o
interesse público”.
Entende-se, portanto, que um jornalista que compactue com a disseminação
de fake news não está agindo de acordo com a ética profissional que sua área de
atuação determina.
Trata-se de um profissional antiético.
Infelizmente, ocorre que a ausência de princípios éticos pode corromper orga-
nizações inteiras, ultrapassando o nível individual.

Isto está
na rede

Gênero, “ética do cuidado” e neoliberalismo no meio acadêmico. A ques-


tão da “ética do cuidado” pode ser pensada dentro de uma chave feminis-
ta para enfrentar os desafios de um meio acadêmico cada vez mais pres-
sionado pelo neoliberalismo. Professores e pesquisadores estão sendo
cada vez mais pressionados por conceitos como “excelência”, encorajados
a produzir mais “produtos acadêmicos contáveis por unidade de tempo
pré-definida” (do inglês “countable academic outpu[s] per predefined unit
of time”) e a seguir indicadores supostamente objetivos.

148
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Sistemas de avaliação como estes são usados ​​para decidir desde a perma-
nência no meio acadêmico até a promoção na carreira e a distribuição de
financiamentos. Os acadêmicos, assim, estão presos a regimes de tempo
que aceleram o ritmo de sua vida profissional. Além disso, muitos paí-
ses europeus sofreram recentemente com cortes e redução dos direitos
trabalhistas, inclusive em instituições científicas, tornando as condições
de trabalho ainda mais difíceis. Em um ambiente com essas caracterís-
ticas, como a vida acadêmica continua sendo sustentável? Que modelo
de ciência é este que estamos abraçando? E como a questão do gênero
aparece nele? A pressão desse novo regime de tempo tem atingido com
mais força aqueles encarregados de cuidar das pessoas ao redor, quer
na vida pessoal, quer na vida profissional. Devido a processos de constru-
ção social de gênero, essa função cuidadora é frequentemente assumida
por mulheres. Embora este tipo de trabalho tenda a ser visto como um
fardo e sem valor, a perspectiva da “ética do cuidado” o vê, na verdade,
como um elemento central; estamos nos referindo aqui àquele conjunto
de tarefas inevitáveis ​​que estruturam toda a nossa vida cotidiana. Mas
como pode, então, uma “ética do cuidado” nos ajudar a olhar para o atual
modelo científico? Há uma vasta literatura especializada sobre a questão
de gênero no meio acadêmico que mostra evidências de preconceitos
contra as mulheres. O trabalho delas é frequentemente menos valorizado
(mesmo quando elas têm o mesmo currículo que um homem); elas são
constrangidas em entrevistas com perguntas discriminatórias; elas ten-
dem a trabalhar mais em meio-período, embora isso não seja levado em
conta nas análises de currículo; e muitas vezes elas não são consideradas
tão boas quanto os homens, ainda que produzam o mesmo ou mais que
eles. Em geral, as mulheres tendem a encontrar mais dificuldades para
crescer e precisam se esforçar mais dos que os homens, além de arcar
com a função de cuidadoras que ainda desempenham mais (inclusive no
meio profissional, dedicando mais tempo ao atendimento de estudantes
e colegas, por exemplo).

149
Isto está
na rede
Talvez seja por isso que a promoção na carreira tenha se provado difícil
ou até mesmo indesejável, e mesmo aquelas mulheres que ocupam posi-
ções elevadas ou intermediárias têm menos parceiros(as) e/ou filhos(as)
(porém, curiosamente, mais parceiros científicos) em comparação aos
homens. Ainda que um modelo heteronormativo tradicional não seja algo
defendido neste artigo, tais evidências nos ajudam a entender a importân-
cia do trabalho do cuidado em meio a condições frequentemente hostis.
Esse novo modelo de gestão da ciência com foco na produtividade nega
ou torna invisíveis os aspectos do cuidado do trabalho e da vida fora do
trabalho. Isso pode ser visto na crescente adoção de estratégias indivi-
duais de carreira e na instrumentalização de relacionamentos. Adota-se
um modelo profissional baseado no mérito pessoal e na competição, não
levando em conta o trabalho cotidiano da academia e as complexida-
des de qualquer situação, posição ou instituição. Isso pressupõe a figura
de um ideal acadêmico incorpóreo ou “sem corpo” (disembodied), sem
outras prioridades além do trabalho e que possui tempo ilimitado para
melhorar o currículo e investir na construção de redes. Enquanto isso,
outras responsabilidades, necessidades ou interesses, como práticas de
cuidado ou compromissos sociais, tornam-se secundários ou inexistentes.
Produzir publicações de alto impacto e garantir financiamento tornou-se
quase o único foco no meio acadêmico. Esses valores e práticas de origem
neoliberal perpetuam o modelo masculino de “provedor” como o ideal
de trabalhador bem-sucedido; esse modelo combina competitividade e
agressividade com características de organizações e empresas conside-
radas de sucesso. Cria ema espécie de empreendedor acadêmico que
apenas ajuda as universidades empreendedoras a escalar os rankings
internacionais. Adicionando medidas de austeridade ao ethos acadêmico
neoliberal
Contribuindo para a complexidade desta situação, políticas de austerida-
de implementadas em tempos de crise exacerbaram e justificaram novos
valores e práticas gerenciais. De um lado, o número de empregos e de tra-
balhos temporários cresceu, de outro, tem havido uma intensificação do

150
Isto está
na rede
uso de indicadores de “excelência”, bem como a pressão para se competir
por financiamento de pesquisa externo e para se obter mais recursos
privados, conforme sublinha o Observatory of University Funding States.
Os acadêmicos, portanto, estão “fazendo mais com menos”. Na Espanha,
como em outros países, o congelamento de novas posições no mercado
criou um gargalo para quem busca posições acadêmicas (já superando o
processo de acreditação hiperburocratizado). Contratos temporários, de
baixa remuneração e de meio período sustentam uma parte importante
da carga de ensino nas universidades públicas. E enquanto cortava € 475
milhões em financiamento para a ciência, o governo declarou: “queremos
apoiar apenas os projetos realmente competitivos que estão dando fru-
tos”17. A situação não melhorou muito desde então, levando à chamada
“fuga de cérebros” (embora o governo prefira agora classificar os pes-
quisadores no exterior como diplomatas). Ética do cuidado na academia
pressionada pelo neoliberalismo. Numa perspectiva feminista da “ética
do cuidado”, o cuidado é entendido como um processo complexo que
torna a vida possível: “um tipo de atividade que engloba tudo aquilo que
fazemos para manter e consertar o nosso ‘mundo’ para que possamos
viver nele o maior tempo possível”. A abordagem da “ética do cuidado”
coloca o cuidado no centro da vida, interagindo com esta noção de uma
maneira política e filosófica. No contexto acadêmico, essa abordagem
ajuda a tornar visíveis as relações de poder por trás do ideal masculiniza-
do de autonomia e competitividade. Uma perspectiva de ética defende a
ideia de interdependência e vulnerabilidade. Como abordagem analítica,
oferece a possibilidade de se expor e de se estudar a questão de gênero
no cuidado em suas múltiplas camadas: pessoal, coletiva, familiar, no local
de trabalho, no nível de tomada de decisão, dentro das instituições etc.
A ética do cuidado nos permite focar a dimensão temporal no ambiente
acadêmico e a politização do sofrimento quando o cuidado é ausente,
invisível, desvalorizado ou deslocado para as periferias dessas múltiplas
camadas. Nesse sentido, Rosalind Gill e Mountz et all. destacaram os
“estados afetivos” prejudiciais e os “efeitos corpóreos ou materializados

151
Isto está
na rede
no corpo” (embodied) causados pela rápida academia neoliberal e suas
relações de poder de gênero, classe, raça e outras variáveis. De fato, Mou-
ntz et al., que faz parte do Coletivo de Geografia Feminista dos Grandes
Lagos, também defende a ética feminista do cuidado como uma forma
de questionar a universidade neoliberal. Como uma noção ética e polí-
tica, a ética do cuidado também ajuda a pensar sobre responsabilidade.
Nesse sentido, enquanto para alguns o uso da noção de cuidado pode
reforçar relações de poder de gênero – uma vez que ainda é uma prática
principalmente relegada a círculos privados e feminizados – neste contex-
to, ela é utilizada como meio de promover a politização do cuidado. Ou
seja, para enfrentar sua distribuição desigual e colocar os processos que
sustentam a vida em seu centro, a fim de deslocar um mundo centrado
no lucro. Na academia, isso pode se referir não apenas aos processos de
responsabilidade compartilhada em nível micro, mas também aos níveis
governamentais e institucionais.
Fonte: https://www.cafehistoria.com.br/etica-do-cuidado-neoliberalismo/

Isto acontece
na prática
A ética é tudo: os limites da publicidade no agronegócio
Campanhas massivas tentam manipular a opinião pública em prol de um
setor que, em tempos de crise, posiciona-se como “salvador da pátria.
As grandes empresas de rádio e televisão são detentoras de concessões
públicas para a exploração da comunicação. Para poderem atuar, elas
recebem uma autorização do Estado para atender aos interesses públicos
por meio da exploração de tais serviços (artigo 21, da CF/88), portanto,
suas regulamentações trazem obrigações para com a sociedade. A fis-
calização da coisa pública no Brasil é muito precária e repleta de irregu-
laridades. No caso das empresas de mídia – traumatizados que somos
pela censura – criou-se um “animal estranho”, o Conselho Nacional de
Auto-regulamentação publicitária (Conar), para exercer essa fiscalização.

152
Isto acontece
na prática
Trata-se de uma entidade privada sem fins lucrativos que não tem nada
haver com o poder judiciário. Mas quem escolhe os conselheiros do
Conar? Estranhamente, são na sua maioria, as próprias entidades que
dependem dos gastos publicitários. A maior parte das vagas para o Con-
selho de Ética do Conar vem de indicações de entidades fundadoras do
conselho ou associadas a ele. Parece haver, portanto, um desequilíbrio
de forças entre os interesses dessas entidades e os da sociedade civil.
Desequilíbrio esse que pode deixar escapar algumas pérolas publicitá-
rias de qualidade duvidosa. A maior parte das vagas para o Conselho de
Ética do Conar vem de indicações de entidades fundadoras do conselho
ou associadas a ele. Campanhas massivas e nacionais, como a “Agro é
Tudo”, são parte desse rol de publicidade ruim. Caríssimas, elas repre-
sentam um exemplo de tentativa de manipulação da opinião pública em
prol de um setor que, em tempos de crise, posiciona-se arrogantemente
como “salvador da pátria”. Vamos aos fatos. Segundo uma das propagan-
das, o “agronegócio brasileiro emprega 19 milhões de pessoas”, o que
representaria “20% do total de empregos no país”. Acontece que quem
mais emprega no campo é a agricultura familiar, com 11,5 milhões de
trabalhadores. Manipulam-se, portanto, os números para demonstrar
que o agronegócio é o grande gerador de empregos. Aliás, em tempos
de grave crise econômica, deveríamos olhar para alternativas de geração
de renda ao invés de aumentar nossa dependência de poucos grandes
clientes globais, como a China. Assim fez a Espanha, por exemplo, que
entendeu há muito tempo que agro não é tudo. Em 2017, os espanhóis
faturaram 68 bilhões de dólares com a indústria do turismo. As exporta-
ções de soja brasileira por outro lado, totalizaram apenas US$ 38 bilhões,
no mesmo período. Incrível, não é mesmo? É preciso lembrar que a “elite
ruralista” concentra mais da metade das terras do país, além de contar
com enormes benefícios fiscais como perdões de multas ambientais e
dívidas milionárias pelo governo. Esta bancada – que hoje divide com os
evangélicos a hegemonia no Congresso Nacional – vem ganhando ainda
mais força e poder político. Leia também: Perspectivas do agronegócio

153
Isto acontece
na prática
brasileiro para 2019 (artigos de Carlos Araúz Filho e Gabriel Placha, publi-
cado em 20 de dezembro de 2018). Na verdade, o que se viu na sequência
de comerciais – entre um comercial de produto aqui e um dado setorial
ali – foi um grande esforço conjunto do agronegócio no Brasil para me-
lhorar sua imagem e aumentar ainda mais seu poder de influência. As
campanhas publicitárias começaram a ganhar força nas gestões Dilma
e Temer, envolvidas em vários escândalos. Muitos deles ainda em apu-
ração. Dentre os escândalos, um deles envolve o próprio ex-ministro da
agricultura, Blairo Maggi, um dos maiores plantadores de soja do mundo.
Denunciado pela Procuradoria Geral da República por corrupção ativa, o
ex-ministro também já foi investigado por crimes ambientais. Ter coloca-
do Maggi na agricultura foi como colocar a “raposa cuidando do galinhei-
ro”, mas, no Brasil, infelizmente, os políticos parecem não saber o que
significam conflitos de interesses. Outro escândalo, ainda mais grave foi
o envolvimento de boa parte dos parlamentares brasileiros com a gigante
do agronegócio JBS, grande “doadora” da chapa Dilma/Temer. Em mais
de uma ocasião, dada a gravidade das delações, o governo anterior quase
veio abaixo, mas foi salvo pela bancada ruralista e aliados. A JBS respon-
de por inúmeras irregularidades trabalhistas, tributárias e ambientais.
Além de ser protagonista em um dos maiores esquemas de corrupção da
história do Brasil, quiçá, do mundo. Não faltavam, portanto, motivos aos
senhores do agronegócio para tentarem melhorar a imagem institucional
do setor a qualquer custo. Esta melhoria de imagem, e o crescente poder
de influência política, também pode tê-los ajudado na autorização recente
da entrada de muitos novos agrotóxicos no mercado nacional. Mesmo
aqueles proibidos em outros países. Voltando a questão da comunicação,
cabe aqui um questionamento ético sobre o conteúdo de algumas peças
publicitárias envolvendo o agronegócio. De forma polêmica, a GM/Che-
vrolet, propagandeou recentemente uma caminhonete, nas palavras do
jornalista André Trigueiro, “utilizando um discurso raivoso e beligerante
de lideranças do agronegócio contra ambientalistas”. O texto do comer-
cial, de tão agressivo, deveria abalar o prestígio da montadora e da

154
Isto acontece
na prática
agência de propaganda que assina o comercial. Uma denúncia sobre essa
propaganda foi levada ao Conar, exigindo que o caso fosse analisado
por uma comissão interna. A bancada, formada na maioria por pessoas
ligadas a empresas de mídia e publicidade, no entanto, não viu proble-
ma algum na peça publicitária da GM. Mas basta assistir uma vez ao
comercial para entender que o conselho errou de maneira grosseira. A
propaganda, claramente, fomenta a discórdia e a animosidade. Em seu
livro Homo Deus, Yuval Harari nos conta que a agricultura foi o come-
ço do fim para muitos. Com ela, vieram ondas de extinção em massa e
a propriedade privada e seus conflitos que, segundo ele, produziram a
maior parte das guerras da humanidade. A reflexão de Harari pode am-
pliar nossa perspectiva, através de um olhar científico e filosófico sobre
o verdadeiro significado do que é o agro e quais deveriam ser os seus
limites. Não se trata aqui de fazer apologia a ideologias anticapitalistas.
Precisamos, sim, do agronegócio. É necessário produzir e, é claro, vender.
Mas o setor publicitário (e o Conar) não podem ultrapassar os limites da
ética ou fomentar o ódio, principalmente, entre setores que deveriam
ser interligados e interdependentes entre si, como o da agricultura e da
defesa do meio ambiente.
Fonte: https://www.gazetadopovo.com.br/opiniao/artigos/a-etica-e-tudo-os-limi-

tes-da-publicidade-no-agronegocio-eppq1dpu6ogy9jsob50ailwn2/

155
Anote isso

A ética garante princípios com que, de alguma forma, todos nós concorda-
mos e que foram aceitos por aqueles que fazem parte da nossa sociedade.
Portanto, a ética é fundamental para regulamentar as relações entre todos
nós. Se buscarmos a origem da palavra, sua etimologia origina-se no grego:
ética vem de ethos = costumes, mores = moral. Isto significa que a “ética” já
era estudada pelos gregos na antiguidade e era considerada uma ciência
do comportamento moral dos homens em sociedade...
Fonte: https://www.portaleducacao.com.br/conteudo/artigos/turismo-e-hotelaria/

etica-o-que-e/18564

156
ÉTICA E O MUNDO
GLOBALIZADO DE HOJE

AULA 15
157
A ética deve ser a ideia orientadora para evitar que o processo globalizante
não se tome mais uma arma de dominação de poucos países. Porém, cabe a
pergunta: como a ética pode influenciar nações tão díspares para um mundo
melhor?

O tema crucial do processo de integração mundial são os valores que presidem


o relacionamento internacional neste início de século e de milênio. O atentado
ao World Trade Center surpreendeu o mundo. Após a fase inicial de estupor e
revolta diante da tragédia, o desastre começou a ser esclarecido. Ao compasso
das investigações sobre a ação terrorista, surgiram tentativas de explicação e a
ética nas relações internacionais tornou-se o tema do momento.
Contemporaneamente, o mundo assiste uma nova revolução tecnológica que
não apenas incrementou a produtividade econômica, provocou alterações nos
mecanismos de hegemonia política e cultural nas sociedades, como também rom-
peu os limites, até então estabelecidos, entre o real e a fantasia. A cada dia os
cientistas anunciam novas façanhas que pasmam o grande público. As mídias sim-
plificam as análises e a imaginação de espectadores é alçada a vôos mirabolantes
de toda ordem. As populações, atingidas pela profusão de mensagens replicadas
através das mídias, perdem os contornos entre o que é ou não possível, o que é ou
não real. O mundo passa a viver sob uma nova ontologia mágica: parece que qua-
se tudo o que possa ser cientificamente concebido também possa ser realizado.
Frente aos dados do relatório da ONU sobre desenvolvimento humano, publi-
cado em 1998, considerando que os 20% mais ricos da população mundial são
responsáveis por 86% do total de gastos em consumo privado, ao passo que os
20% mais pobres respondem apenas por 1,3%, e considerando que mais de um
bilhão de pessoas não tem suas necessidades básicas de consumo satisfeitas, a
pergunta pela referência ética ao que se deve fazer nos exercícios de liberdade,
privados e públicos, ganha contornos ainda mais dramáticos. É ético, frente a esse
quadro de exclusão social, que as 358 pessoas mais ricas do mundo, ainda em
1993, já possuíssem ativos que superavam a soma da renda anual de países em
que residiam 2,3 bilhões de pessoas, isto é, 45% de toda a população do mundo?
Sob os quadros da globalização, os neoliberais argumentam que o mercado
é esfera básica do contrato social e que é a partir dele que a sociedade global
deve ser reorganizar. Deixando-se que o mercado funcione livremente, por sua
própria conta e risco, a riqueza econômica seria multiplicada e as necessidades

158
humanas atendidas. O mundo todo viveria uma nova era de paz e prosperidade.
Respeitando-se as leis do mercado o bem estar social estaria garantido a todos
os seres humanos.
O desrespeito às leis praxeológicas tende a levar à sociedade a uma situação
de guerra de todos contra todos. Desse modo, para que se alcance a paz é neces-
sário o “... estabelecimento de um sistema no qual o poder de recorrer à ação
violenta é monopolizado por um aparato social de compulsão e coerção, e a
aplicação deste poder em qualquer caso individual é regulada por um conjunto
de regras - as leis feitas pelo homem, distintas tanto das leis da natureza como
das leis da praxeologia.”
A este aparato se denomina governo. Desde essa abordagem destacamos
que “os conceitos de liberdade e servidão só fazem sentido quando se referem
à forma de funcionamento do governo.”
Seria impróprio e desorientador dizer que um homem não é livre porque, que-
rendo permanecer vivo, não pode escolher livremente entre beber água e beber
cianureto de potássio. Seria também inadequado dizer que um homem não é livre
porque a lei impõe sanções ao seu desejo de matar um outro homem e porque
a política e os tribunais são encarregados de aplicar estas sanções.
Na medida em que o governo - o aparato social de compulsão e opressão -
limita o emprego da violência e da ameaça de violência à supressão e prevenção
de atividades antissociais, prevalece aquilo que, razoável e significativamente,
pode ser chamado de liberdade. Assim, podemos definir liberdade como o estado
de coisas no qual a faculdade de o indivíduo escolher não é mais limitada pela
violência do governo do que o seria, de qualquer forma, pela lei praxeológica. É
isso que deve ser entendido quando se define liberdade como a condição de um
indivíduo no contexto de uma economia de mercado.
Ele é livre no sentido em que as leis e o governo não o obrigam a renunciar à
sua autonomia e autodeterminação em maior medida do que o obrigaria, inexo-
ravelmente, a lei praxeológica. Priva-se apenas da liberdade animal de viver sem
qualquer preocupação com os outros seres da sua própria espécie.
Se enfatizarmos que um homem é livre na medida em que pode escolher os
seus fins e os meios a empregar para atingi-los, teremos que concluir que a liber-
dade como um atributo subjetivo. Em outras palavras a liberdade de um homem
não significa poder realizar suas escolhas em seu relacionamento inter-humano,
mas tão somente escolher.

159
Considerando o efeito das mediações tecnológicas que atualmente estão sen-
do introduzidas no processo produtivo, percebe-se que a produção de novos
bens de consumo inexistentes até bem pouco tempo bem como a exclusão de
significativas parcelas do processo produtivo formal, amplia para uma parcela da
humanidade as possibilidades de exercício de sua liberdade.
Pois esta detém mais recursos para realizar seus desejos, fantasias, caprichos,
necessidades e interesses, ao mesmo tempo em que se reduz a possibilidade
real de exercício da liberdade de uma outra grande parcela que, em razão do
desemprego de sua força de trabalho, sofre uma dramática redução do nível de
recursos materiais que dispõem para reproduzir humanamente sua própria vida
- embora virtualmente tal parcela possa vir se beneficiar desta tecnologia, se esta
for socializada.
A atual fase do processo de globalização tem provocado o aumento da pobreza
no mundo, acirrado o drama do desemprego, a marginalização urbana, a degra-
dação ambiental e a decomposição do tecido social.
Podemos destacar que tais fenômenos de exclusão são estruturais ao sistema
econômico capitalista vigente desde o século XVI e não apenas uma disfunção lo-
calizada de atraso de algumas de suas conformações em certas regiões do mundo
em relação a um pretenso processo de desenvolvimento e modernização - moder-
nização essa propagandeada midiaticamente em defesa de programas de ajustes
econômicos sob o receituário do Consenso de Washington.
A dinâmica de negar o exercício da liberdade de muitos para ampliar o exercí-
cio da liberdade de alguns é a característica essencial do capitalismo. É em razão
disto que em todas as sociedades capitalistas se verifica, em graus diferenciados,
a exploração do trabalho, a expropriação no consumo, a dominação política e
a reprodução de uma moral e de um direito anti-libertários. Para garantir-se a
liberdade privada de alguns nega-se sistematicamente a extensão das liberdades
públicas.
Qualquer reforma que se faça desse regime não extinguirá essa contradição.
Frente ao modelo de globalização capitalista há que gerar-se uma alternativa
socialista, com o objetivo de universalizar as condições do exercício da liberdade,
anteriormente destacadas.
Para ampliar-se, pois o exercício das liberdades coletivas é necessário socia-
lizar-se, entre outras, as suas condições materiais. A liberdade humana tem que
estar acima do copyright, da propriedade privada do capital - objetivo ou virtual. É

160
um absurdo que quanto mais volumosa seja a concentração do capital, menos ele
possa ser investido na produção, pois falta mercado consumidor que lhe possibi-
lite ampliar o lucro - isto é, pessoas com dinheiro - para adquirir tantos produtos.
Como o capital não tem por objeto ampliar a realização da liberdade de todos,
ele se desloca da esfera produtiva para um setor especulativo da esfera virtual,
ocorrendo então a sua multiplicação por mediações semióticas de taxas de juros
- pagas com a ampliação ainda maior das carência das maiorias, que ficam desas-
sistidas de políticas sociais em razão da ciranda de emissão e resgate de títulos
públicos, pressionando a ampliação das dívidas externa e interna de tais países.
Portanto, é de fundamental importância socializar o controle dos meios produ-
tivos e do capital virtual, para que possam ser empregados com vistas a realizar
a emancipação social, a realização da liberdade pública e não apenas o enrique-
cimento de uma parcela de agentes privados.
No mundo todo, a política torna-se cada vez mais virtual e os Estados são en-
fraquecidos em sua capacidade de assegurar as elementares mediações materiais,
políticas e culturais da liberdade pública, tais como, garantir o abastecimento
alimentar, políticas adequadas de saúde e educação ou assegurar a soberania do
país frente ao volume de capitais voláteis internacionais.
As privatizações, os mega-mercados, o sucateamento dos serviços públicos,
entre outros aspectos, evidenciam que a globalização caminha no sentido contrá-
rio de assegurar as liberdades públicas, ao passo que amplia a liberdade privada
de uma pequena parcela que detém o grande capital.
Exemplos típicos do Estado posto ao serviço privado são as leis de patentes
sobre biotecnologia, os direitos de cópia, os royalties, entre outros mecanismos
de concentração de capital virtual, que se sustentam sob o mesmo princípio do
direito sobre a propriedade privada: a maioria dos cidadãos fica privada de poder
utilizar tais produtos, serviços ou signos, exceto pagando algo em troca.
Assim, a política - do ponto de vista dos que detém o controle do capital - cum-
pre o papel que lhe cabe em uma sociedade de classes: restringir a liberdade
da maioria para promover a liberdade de apropriação privada da riqueza pela
minoria que detém direitos sobre ela; o Estado, contudo, afirma assegurar os
mesmos direitos igualmente a todos - sendo que a maioria, entretanto, não os
tem garantidos, porque objetivamente não possui as propriedades materiais que
possam mediatizar o seu trabalho produtivo, a sua reprodução social ou o sua
emancipação cultural.

161
Assim, a ampliação das garantias políticas do exercício das liberdades pública
e privada tem como contra face o exercício da liberdade política dos cidadãos em
posicionarem-se frente às contradições que perpassam as relações sociais, pois
mesmo que as liberdades políticas estejam amplamente cerceadas - como nos
períodos de ditadura - ou extremamente formalizadas - como sob os regimes
globalitários - mesmo assim é possível optar-se pela resistência e pela proposição
de um modo distinto de organizar-se a sociedade em suas múltiplas dimensões,
em especial no que tange aos conflitos sociais nas esferas produtiva, reprodutiva
e cultural.
Assumir uma posição política que visa promover o exercício das liberdades pú-
blica e privada eticamente orientadas significa assumir uma posição de combater
a exploração do trabalho, a expropriação em atividades de reprodução social da
vida, bem como, toda forma de dominação cultural e da exclusão sofrida por am-
plos segmentos, aos quais não se permite participar das mediações que possam
garantir a sua realização humana.

Isto está
na rede

As crianças dão o grito do futuro, escreve Marina Silva. Os fatos indicam,


a ciência evidencia, a ética denuncia: o modelo de governança multilateral
vigente não está dando conta de enfrentar os desafios da crise ambiental
global. É verdade que tivemos alguns avanços, nos últimos anos. Exem-
plos: o carvão mineral já não é tão competitivo, a energia eólica e solar
ganhou espaço em lugares como Austrália, norte da Europa, China e Índia,
a eletricidade e o compartilhamento de viagens estão redefinindo o trans-
porte em várias cidades. Mas o caos climático continua. Essas mudanças,
embora importantes, são insuficientes, não têm a escala nem o alcance
geográfico e demográfico necessários. São exemplos de soluções que já
existem, mas não são levadas à prática em todo o planeta por falta de
compromisso ético, especialmente dos dirigentes políticos. E a situação
se agrava: ainda é possível reduzir as emissões de CO2 para manter o
aquecimento global abaixo de 2°C, mas a possibilidade de manter abaixo
dos 1,5°C, que é o ideal, está se esvaindo a cada dia. Mais uma vez, vou
repetir: preservar as condições que sustentam a vida na Terra não é coisa

162
Isto está
na rede
de direita ou de esquerda, de rico ou de pobre; é coisa de ser humano.
Todos, de qualquer classe social ou ideologia, precisam de terra fértil,
água potável e ar puro. É por isso que um modelo sustentável de desen-
volvimento não é apenas uma definição econômica, um modo de produzir
e consumir com menor impacto sobre o planeta. É, sobretudo, um ideal
de sociedade orientado por um imperativo ético: em nossas relações –
uns com os outros e com a natureza– respeitar a dignidade de todas as
espécies vivas e buscar vida abundante, relevante e significativa para a es-
pécie humana. Medindo os esforços feitos e os resultados alcançados, na
situação de emergência no planeta, ainda estamos longe, muito longe, de
traduzir esse ideal na prática dos governos, das empresas e no cotidiano
de nossas sociedades. Todos parecem estar letárgicos, mesmo diante dos
desastres que já se intensificam e se agravam, como mostra a catástrofe
ambiental que assolou Moçambique, Zimbábue e Malaui. É como se a
velha luta descrita por várias tradições e culturas, sintetizada por Freud no
confronto entre pulsão de vida e pulsão de morte, estivesse se resolvendo
numa vitória permanente desta última. Mas a permanência da pulsão de
morte não escapa à insistência da pulsão de vida. Uma nova força emerge,
num fenômeno político e social atípico e totalmente novo na história da
espécie humana: em diversas partes do mundo, crianças se mobilizam,
protestam e exigem ações para combater o aquecimento do planeta. Os
adultos, repetindo o estigma bíblico da “geração corrupta”, mantêm-se
acomodados e embevecidos com o sucesso de suas máquinas de ganhar
dinheiro e poder em prejuízo da vida. As crianças se levantam, como se
um alarme biológico as avisasse de que o modelo colapsado –mas ain-
da vigente– de desenvolvimento está ameaçando retirar-lhes qualquer
possibilidade de futuro. A história humana registra revoltas de escravos,
levantes de colonizados, resistência de povos e etnias, movimentos de
camponeses, greves de trabalhadores urbanos e todos os tipos de guer-
ras e revoluções. Mas não conheço, em tempos antigos ou modernos,
um movimento de crianças e ocorrendo em tantos países. Lideradas pela
ativista adolescente Greta Thunberg, milhares de crianças iniciaram um
movimento internacional pelo clima. No dia 15 deste mês, foram às ruas

163
Isto está
na rede
nas cidades de vários continentes em manifestações convocadas por um
grupo de adolescentes e crianças, principalmente meninas. A contradição
na humanidade fica clara: enquanto o sistema já consolidado, mas em
decadência, lança mão do que há de mais retrógrado para tentar sobre-
viver, como se vê no ciclone reacionário que se levanta, cujos expoentes
são Trump e Bolsonaro, uma nova esperança, que precisa florescer e dar
frutos, está lançando mão do futuro, do recurso mais avançado e podero-
so de qualquer sociedade, suas crianças. Nem o Conselho de Segurança
da ONU consegue tomar medidas efetivas para proteger e dar segurança
à vida no planeta. Mas a vida sempre busca a vida –e tenta se proteger
através de seu agente aparentemente mais frágil. É como um indicador
biossocial de que a humanidade se enredou num desvio civilizatório que
favorece a pulsão de morte. É um levante da vida, um grito do futuro. E
vejam se não é mesmo de tirar o sono das crianças: só nos restam 12 anos
para tentar impedir que o planeta aqueça mais do que 1,5 graus Celsius.
Segundo o IPCC (Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas),
mesmo que todos os países do mundo venham a efetivar seus compro-
missos no Acordo de Paris, o aquecimento global pode chegar a 3°C até
o final do século. Sequer conseguirmos esse consenso global e há países
que, além de não aderirem, estão atuando contra o Acordo. O resultado
pode ser catastrófico para a humanidade e todas as formas de vida. As
crianças vêm em nosso socorro. Saem de suas escolas para ensinar -a
governos, empresas e a todos os adultos- o bê-a-bá do cuidado com a
vida: não poluir o ar que respiramos, não envenenar a água que bebemos,
não enfraquecer a terra que nos nutre e, sobretudo, não romper o laço
social que nos caracteriza como humanos, capazes de legar aos nossos
filhos o tesouro da vida.
Fonte: https://www.poder360.com.br/opiniao/internacional/as-criancas-dao-o-

-grito-do-futuro-escreve-marina-silva/

164
Isto acontece
na prática

Oficina sobre redução do desmatamento. Oito jornalistas do mundo


poderão viajar a Lima e para a Amazônia Peruana com o objetivo de
vivenciar a floresta tropical, interagir com produtores de matérias-pri-
mas, participar de oficinas técnicas e dialogar sobre sustentabilidade com
representantes da ONU e de comunidades tradicionais. Os jornalistas
selecionados terão direito a passagens aéreas e hospedagem, por meio
do suporte dos escritórios nacionais do Programa das Nações Unidas
para o Desenvolvimento (PNUD). Oito jornalistas de todo o mundo te-
rão a oportunidade de viajar para Lima e para a Amazônia Peruana com
o objetivo de vivenciar a floresta tropical, interagir com produtores de
matérias-primas, participar de oficinas técnicas e diálogos sobre susten-
tabilidade, conhecer comunidades locais e líderes indígenas, ter acesso à
ONU e especialistas, bem como compartilhar habilidades e conhecimen-
tos. A iniciativa reflete o importante papel da imprensa internacional no
destaque dos problemas relacionados ao desmatamento motivado pelas
commodities agrícolas, como o óleo de palma, a soja e a carne bovina.
Apesar dos imensos esforços, para desacelerar ao longo da última década
o desmatamento das florestas tropicais, o equivalente, em árvores, a 40
campos de futebol foi desmatado por minuto apenas em 2017. Garantir
a sobrevivência do ecossistema tropical é imprescindível. De acordo com
os 40 cientistas responsáveis pelo relatório do Painel Intergovernamental
sobre Mudanças Climáticas (IPCC) publicado no ano passado, a proteção e
a restauração das florestas levariam à mitigação de pelo menos 18% das
emissões globais necessárias até 2030 para evitar o descontrole sobre a
mudança global do clima. O treinamento, aberto a jornalistas de todos
os meios de comunicação (imprensa escrita, rádio/TV, jornalismo online,
fotojornalismo e vídeo), terá início em 11 de maio com uma oficina de dois
dias em Lima, no Peru, na qual os selecionados terão a oportunidade de
debater temas éticos e testar seus conhecimentos sobre desmatamento e
desenvolvimento sustentável. Os jornalistas terão apoio para desenvolver
conhecimento, se familiarizar e ter melhor entendimento sobre ques-
tões-chave de sustentabilidade e desenvolvimento em amplas cadeias de

165
Isto acontece
na prática

fornecimento de commodities agrícolas. Depois da oficina, participarão


de sessão de alto nível na Good Growth Conference, em 13 de maio, na
qual poderão entrevistar executivos globais e líderes regionais. A viagem
continuará na Amazônia, em imersão na floresta por quatro dias. O treina-
mento incluirá exercícios de tradução de jargões científicos e financeiros,
além de orientações práticas sobre técnicas de “storytelling” e meios digi-
tais. A iniciativa tem como objetivo ir a fundo na questão do desmatamen-
to. Os jornalistas devem estar preparados e equipados para se envolver
em um nível mais profundo com o tema. Forças econômicas e políticas
subjacentes e ligadas ao desmatamento precisam ser reconhecidas e
desvendadas. Enquanto isso, soluções e oportunidades para a redução do
desmatamento nas cadeias de fornecimento de commodities devem ser
examinadas, criticadas e promovidas. Para completar o treinamento com
sucesso, os jornalistas deverão produzir e publicar reportagens focadas
em questões de desenvolvimento sustentável, comércio, política, inova-
ção, ciência ambiental, uso da terra, entre outros temas. Os jornalistas
selecionados receberão passagens aéreas de seu país de origem para o
Peru, assim como hospedagem. Terão suporte dos escritórios nacionais
do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e, ao
longo dos quatro meses do treinamento, durante o processo de apuração
e redação, terão também acesso a uma rede global de contatos e apoio
de seus colegas de treinamento. O financiamento a reportagens mais
amplas, no interior do país, dependerão de disponibilidade.
Fonte: https://nacoesunidas.org/oficina-sobre-reducao-do-desmatamento-rece-

be-inscricoes-de-jornalistas-ate-8-de-abril/

166
Anote isso

A ética é uma característica inerente a toda ação humana e, por esta razão,
é um elemento vital na produção da realidade social. Todo homem possui
um senso ético, uma espécie de “consciência moral”, estando constante-
mente avaliando e julgando suas ações para saber se são boas ou más,
certas ou erradas, justas ou injustas. Existem sempre comportamentos hu-
manos classificáveis sob a ótica do certo e errado, do bem e do mal. Embora
relacionadas com o agir individual, essas classificações sempre têm relação
com as matrizes culturais que prevalecem em determinadas sociedades e
contextos históricos. A ética está relacionada à opção, ao desejo de realizar
a vida, mantendo com os outros relações justas e aceitáveis. Via de regra
está fundamentada nas idéias de bem e virtude, enquanto valores perse-
guidos por todo ser humano e cujo alcance se traduz numa existência plena
e feliz. Provavelmente, o estudo da ética tenha se iniciado com filósofos
gregos há 25 séculos atrás. Hoje em dia, seu campo de atuação ultrapassa
os limites da filosofia e inúmeros outros pesquisadores do conhecimento
dedicam-se ao seu estudo. Sociólogos, psicólogos, biólogos, teólogos entre
outros profissionais. Ao iniciar um trabalho que envolve a ética como objeto
de estudo, consideramos importante, como ponto de partida, estudar o
conceito de ética, estabelecendo seu campo de aplicação numa pequena
abordagem. A ética não é algo superposto à conduta humana, pois todas as
nossas atividades envolvem uma carga moral. Idéias sobre o bem e o mal,
o certo e o errado, o permitido e o proibido definem a nossa realidade. A
ética seria então uma espécie de teoria sobre a prática moral, uma refle-
xão teórica que analisa e critica os fundamentos e princípios que regem
um determinado sistema moral. A ética é “em geral, a ciência da conduta”.
Em outras palavras, podemos ampliar a definição afirmando que a ética é
a teoria ou ciência do comportamento moral dos homens em sociedade.
Ou seja, é ciência de uma forma específica de comportamento humano…
Fonte: http://pensamentoextemporaneo.com.br/?p=1112

167
ÉTICA E LIBERDADE DE
EXPRESSÃO

AULA 16
168
Uma coisa é liberdade de expressão, outra é respeito aos limites da ética e ao
espaço e ao direito alheios. (Sebastião Wanderley)

Não foram poucas as vezes que ouvi o velho ditado: “o meu direito termina
onde começa o do outro”, na teoria muito que bem, é simples de se entender,
mas e na prática, onde fica delimitada essa linha dos “direitos”? É tão tênue, por
vezes imperceptível.
Uma coisa é fato, quem viveu em épocas de censura da imprensa, durante a
ditadura, sabe muito bem o valor que tem uma imprensa livre, e sabe mais ain-
da, da importância da liberdade de expressão para a construção do pensamento
humano.
Indiscutível é a essencialidade da mídia, onde seja possível visualizar as mais
diferenciadas discussões, até porque os meios de comunicação é que são res-
ponsáveis pela disseminação das informações, cada vez mais rápidas e acessí-
veis aos mais diferentes públicos, e este acesso às informações é inegavelmente
necessário.
Vivemos a era da informação, onde tudo é acessado em tempo real, notícias
internacionais são transmitidas para todo o mundo com uma rapidez que seria
inimaginável se cogitada há alguns anos atrás.
E nesse contexto, verifica-se que a mídia, apesar de ter um papel importante
para a sociedade, pode também, agir de forma superficial e tendenciosa, de acor-
do com os seus próprios interesses.
Este artigo visa explicar um pouco sobre a questão da liberdade de expressão,
sua relação com a mídia, e ainda, quando neste conjunto desenvolvem-se ques-
tões que ensejam o dano moral.
Atualmente, a liberdade de expressão é bem tutelado pela Constituição da
Republica Federativa do Brasil, tendo sua fundamental importância para a cons-
trução da democracia no país:

DOS DIREITOS E DEVERES INDIVIDUAIS E COLETIVOS

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantin-

do-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito

à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:

[...]

IV – é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato;

169
[...]

IX – é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação,

independentemente de censura ou licença [...]

“Liberdade de pensamento, de palavra, de opinião, de consciência, de imprensa, de

expressão e informação. Liberdade do trabalho jornalístico de manifestar pensa-

mentos e de informar. Direito à informação e direito de comunicação”.

Os meios de transmissão de informações são os mais variados, o que antiga-


mente se acessava apenas nos jornais, revistas e rádio, hoje é transmitido pela
TV, e, melhor ainda por meio da internet e das redes sociais.
As pessoas têm cada vez mais acesso a informação, e, bem ou mal escrevem e
dizem o que pensam, por vezes sem pensar, por vezes sem medir as consequên-
cias e sem mensurar as suas palavras, e acabam por proferir ofensas, a determi-
nada pessoa, ou classe, e então, os ofendidos recorrem ao judiciário pleiteando
o conhecido: dano moral.
Mas será que tudo o que é dito, e algumas vezes mal interpretado, é motivo
suficiente para concretizar o Direito a indenização por dano moral?
a mídia tem papel fundamental na sociedade, mas, é preciso desenvolver sen-
so crítico, para perceber que informações vêm como enxurradas, e é necessário
saber distinguir o que é conteúdo de conhecimento do que é assunto especula-
tivo, que a mídia nos traz apenas para aguçar os ânimos, que muitas vezes já se
encontram alterados.
Esta postura da mídia acontece principalmente no meio das celebridades,
quando alguém manifesta algum comentário, ou opinião sobre determinado as-
sunto ou pessoa que pode ter cunho ofensivo, e a imprensa dissemina as infor-
mações de forma tendenciosa, criando todo um cenário, de vítima e ofendido.
Deste modo, situações que muitas vezes poderiam passar despercebidas ou
apenas serem ignoradas, tornam-se um caos, e o ofendido, vê-se quase que obri-
gado a tomar as medidas judiciais cabíveis, ingressando com a respectiva Ação
de Indenização por Danos Morais, onde entra o papel do judiciário, de solucionar
o conflito.
Um caso que foi bastante difundido na mídia no ano de 2011 foi o de um humo-
rista brasileiro, onde este, em uma das suas apresentações televisivas, teria feito
uma piada “de mau gosto” que teria ofendido uma cantora, também brasileira.

170
O fato é que a cantora, ingressou com a respectiva Ação de Indenização por
Dano Moral, haja vista todo o estardalhaço causado nas revistas e na TV sobre o
assunto.
Sobre a referida Ação de Indenização por Danos Morais, verificou-se a seguinte
decisão:

EMENTA – AÇÃO INDENIZATÓRIA NASCITURO ILEGITIMIDADE ATIVA INOCORRÊN-

CIA – DIREITO DE EXPRESSÃO ABUSO DANO MORAL CONFIGURADO. DIREITO DE

EXPRESSÃO – ABUSO – Configuração Uso deste que deve se dar com responsabili-

dade Impossibilidade de se tentar justificar o excesso no bom uso de tal direito, sob

a alegação de que apenas se pretendeu fazer humor – Agressividade contida nas

palavras trazidas na vestibular que afasta se tome o dito como piada.

[...] DANO MORAL – Ocorrência Indenização – Valor que merece incremento em

virtude da gravidade da conduta do réu e de suas consequências. (TJSP 10ª Câmara

de Direito Privado. Apelação Cível: 0201838-05.2011.8.26.0100. Comarca de São

Paulo. Rel. Roberto Maia).

Pelo que se observa da ementa referida acima, percebe-se que, neste caso
houve a condenação por dano moral configurado, porém, como bem explica tal
julgado, se faz necessária a observação do abuso no direito de expressão, bem
como da gravidade da conduta e das consequências destas para o ofendido.
Em outro caso temo a manifestação nacional contra o cronista Zeca Camargo,
que expressou o seu pensamento sobre um tema polêmico, deixa claro que embo-
ra a lei o ampare “a livre manifestação do pensamento”, existem outros elementos
a serem levados em consideração antes de emitir uma opinião.
É visível que, com o crescente avanço da tecnologia, acessível à grande número
de brasileiros, que permite a propagação de textos e imagens em tempo real, tem
se tornado comum os excessos.
Ora, mas como pode haver excesso se a Lei Maior garante a livre manifestação
do pensamento e o direito à informação? E mais, o Poder Constituinte os elencou
no artigo 5ª da Carta Magna, onde trata dos “Direitos e Garantias Fundamentais”.
Capítulo em que o legislador trata os “direitos e deveres individuais e coletivos”,
visando proteger a dignidade da pessoa humana, a democracia e a manutenção
do Estado.

171
Primeiro é preciso esclarecer que embora a expressão “é livre a manifestação
do pensamento” passa a ideia de absoluta liberdade, sem nenhuma restrição, há
sempre outros pesos para contrabalancear. Na verdade, no sistema constitucio-
nal, do Estado Democrático de Direito, não existe direito absoluto. Os direitos ou
estão limitados por outros direitos ou estão limitados por valores coletivos, da
sociedade, igualmente amparados pela Constituição.
Além disso, são dois temas distintos: a livre manifestação do pensamento (in-
ciso IV), que tem garantia mais abrangente e o direito a informação, previsto no
inciso XIV. A distinção entre esses elementos revela-se de grande importância para
a compreensão do âmbito de proteção, bem como para a demarcação dos limites
e responsabilidades decorrentes do exercício desses direitos fundamentais. Por
exemplo, enquanto a divulgação dos fatos exige pautar pela verdade, as opiniões
ou juízos de valor, devido à sua própria natureza abstrata, não podem ser sub-
metidos à comprovação. Por isso a liberdade de expressão tem maior proteção
que o direito à informação.
O patrono do direito, Rui Barbosa, já chamava a atenção para esse tema em
sua célebre conferência “A imprensa e o dever de verdade”. E, o inciso X da Cons-
tituição Federal alerta que “são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra
e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material
ou moral decorrente de sua violação”.
Portanto a divulgação de fatos exige certificação da notícia, levantamento de
provas e consulta de fontes. Isso depois de constatar que não se trata de algo
relacionado à intimidade, à vida privada, à honra e outros aspectos relacionados
no inciso X. Compreendendo assim que o ato de noticiar exige técnica e conhe-
cimento.
Quem noticia fatos de forma desordenada e descomprometida é passivo da
repressão da lei, além das sanções morais, impostas pela sociedade, que podem
ter consequências mais pesadas. A divulgação dos atos humanos é indispensável
a uma sociedade, mas deve ser feita de forma ética.
Tem se tornado comum as pessoas usarem as redes sociais para fazer denún-
cias, passar informações, compartilhar e curtir publicações que jamais condizem
com a verdade. Aliás, nem se dão ao trabalho de consultar a fonte. Parece até
que o Estado perdeu o controle. Mas é sempre bom lembrar que os objetivos do
Poder Constituinte passam por resguardar “Direitos e Garantias Fundamentais”,
garantir os “direitos e deveres individuais e coletivos”, proteger a dignidade da

172
pessoa humana, a democracia e a manutenção do Estado.
Por fim é preciso entender e respeitar os valores morais e espirituais que
envolvem o ser humano, saber que acima da lei, impera a ética. Colocar-se do
outro lado e sentir a repercussão da informação ou do pensamento divulgado.
Lembrar que vivi em uma sociedade, que quando algo se torna público, jamais
volta a ser privado.

Isto está
na rede

Por que razão as sanções criminais aos abusos à liberdade de impren-


sa. Ainda que pareça tarefa espinhosa abordar um assunto com visível
predominância do pendor jurídico, portanto menos confortável a todo e
qualquer profissional estranho ao Direito, defender o novo Código Penal
angolano e as suas semelhanças às escolas de países com democracias
consolidadas soa, de alguma forma, oportuno e desafiante.
Quando um cidadão, jornalista ou não, questiona a liberdade de expres-
são e imprensa com base única no papel de vítima de uma responsa-
bilização, passa a distorcer o verdadeiro propósito do enquadramento
jurídico-legal para os actos que culminam com a punição pelos crimes e
excessos praticados nas publicações jornalísticas. Quando interpretado
de acordo com todo o contexto de normas internacionais, o modo de
atribuição de responsabilidade ao jornalista, tal qual entrará em vigor no
novo Código Penal angolano, longe de ser instrumento limitativo e puni-
tivo de atribuição de responsabilidade, constitui importante ferramenta
de garantia da liberdade de expressão e de imprensa que encontram
limites na Constituição e na lei. É, com base nesse conhecimento, que
traremos o debate para a prática do bom jornalismo, que salvaguarda
o rigor, a objectividade da informação, os direitos de personalidade, o
interesse público e a ordem democrática, de modo a evitar a “armadilha”
de acreditar que a liberdade de expressão e de imprensa deva ser vista
como o direito de falar, escrever ou publicar qualquer coisa que vier à
cabeça. Por isso, temos a firme convicção de que aqueles que defendem
a responsabilidade criminal como uma questão fracturante e limitativa
da liberdade de imprensa, não podem estar ao lado dos “assassinos de

173
Isto está
na rede
aumentou exponencialmente o úmero de casos em que as pessoas são
expostas, condenadas, sem julgamento, apenas pelos palpites dos inter-
nautas. Se buscamos todos um jornalismo qualificado, factores como a
objectividade, por exemplo, são inseparáveis da credibilidade que susten-
ta um profissional ou um órgão de comunicação social. O novo Código
Penal, única comprovada “vítima de perseguição” até aqui, antes mesmo
de vigorar, deve ser entendido e defendido como aquilo que realmente
é. Portanto, ao atribuir responsabilidade sobre a notícia publicada, está a
assegurar - antes de tudo - que sejam evitadas práticas ilegais de calúnia,
difamação, entre outras.
É matéria de interminável discussão, entretanto, os critérios que ratificam
o óbvio da comprovação de que é necessário criar normas e leis para que
a liberdade e os limites à liberdade deixem de ser uma consequência do
erro jornalístico, mas uma profilaxia legal para que o erro de um profis-
sional da comunicação social seja visto apenas como uma imprecisão ou
imperícia. Se há vítimas desse erro, devemos avaliar a origem nos varia-
dos aspectos, entre eles o dolo, a mácula, a culpa, etc. e tantos outros
enquadramentos legais aplicáveis aos casos decorrentes da publicação
jornalística que prejudica terceiros. A CRA, a Lei de Imprensa e agora o
novo Código Penal angolano não estão a “reinventar a pólvora” ao invocar
punições já existentes em diversos países com sólidas democracias - entre
eles Alemanha, Portugal, França, Suécia, Brasil etc.O fundamental é fazer
a roda da Justiça girar. Num Estado democrático e de direito, os cidadãos
de qualquer categoria devem apenas respeitar os direitos e deveres pe-
rante a lei. Uma nota importante é que a responsabilização civil ou cri-
minal não muda o dano causado pela injúria, calúnia ou difamação feita
por meios de comunicação social, mas mitiga os efeitos do sofrimento
sobre o ofendido. E tem efeito pedagógico de demonstrar que a lei deve
ser respeitada por todos. Este debate é inesgotável. Mesmo assim, para
que tenhamos uma imprensa responsável, séria, credível, consequente
e ética, devemos entender a responsabilização criminal do profissional
da comunicação social como uma vacina da justiça para que seja evitada
a impunidade, sobretudo nos casos de delito com graves consequências,

174
Isto está
na rede
impunidade, sobretudo nos casos de delito com graves consequências,
daquele que terá cometido um crime. Um crime de imprensa também é
um crime. Por isso, a Justiça estará lá para punir quem cometeu o crime.
Apenas estes.
Fonte: http://jornaldeangola.sapo.ao/opiniao/artigos/por-que-razao-as-sancoes-

-criminais-aos-abusos-a-liberdade-de-imprensa

Isto acontece
na prática

ABRADi reforça seu posicionamento pela conduta ética e liberdade de


expressão nos meios digitais. ABRADi, Associação Brasileira de Agentes
Digitais reforçou seu posicionamento pela conduta ética e liberdade de
expressão nos meios digitais. Por meio de nota à imprensa, a Associação
informou que, em virtude das discussões sobre as eleições brasileiras
2018 tem observado ameaças de diversas naturezas a alguns princípios
básicos universais que regem a construção de uma internet livre e bené-
fica para toda a sociedade, tais como:
Tentativas de controle ou interrupção do WhatsApp: A Associação enfatiza
seu apoio à liberdade de expressão, neutralidade da rede e privacidade
de dados, regulados pelo Marco Civil da Internet. Qualquer tentativa de
combater a rede em si é uma violência contra a liberdade de todos os
cidadãos em função da resolução de um problema isolado.
Envio em massa de mensagens sem consentimento pelo WhatsApp ou
Email: a ABRADi informa que envios de mensagens em massa a grupo
de destinatários que não forneceram seu consentimento é invasão à pri-
vacidade, fere frontalmente a atual Lei Geral de Proteção de Dados e o
Marco Civil da Internet.
Produção de fake news. Para coibir este tipo de prática a Associação lan-
çou em junho de 2018 um Código de Conduta Eleitoral gratuito, apre-
sentando recomendações formuladas pela International Fact Checking
Network, rede mundial de checadores de dados e informações criada

175
Isto acontece
na prática

para combater fake news.


A ABRADi representa nacionalmente mais de 600 agências e agentes
digitais do Brasil e em virtude dos acontecimentos recentes expostos
durante as eleições brasileiras de 2018, reforça seu posicionamento de
apoio à ética, liberdade de expressão, neutralidade da rede, privacidade
e salvaguarda de dados, regulamentados tanto pela Lei do Marco Civil da
Internet (Lei N° 12.965/14) quanto pela Lei Geral de Proteção de Dados
(Lei N° 53/2016). A ABRADi é uma referência nacional em disciplinas como
ética no meio digital e trabalhou ativamente para a regulamentação do
mercado junto ao Governo, defende o Marco Civil da Internet e a Lei de
Privacidade de Dados. “Todos os meios digitais surgiram para o benefí-
cio da comunicação e progresso da sociedade, e, portanto, não devem
ser regulados, vigiados ou bloqueados por qualquer poder, como vem
sendo solicitado por algumas entidades políticas neste período. Ao mes-
mo tempo, seu uso deve ser íntegro e adequado, por isso reafirmamos
a necessidade de uma Conduta Ética nos meios digitais, especialmente
para o período eleitoral. Esperamos que a legitimidade da Comunica-
ção, especialmente quando se trata de campanhas eleitorais na Internet,
não seja manchada por alguns poucos indivíduos mal intencionados”,
declara o presidente da ABRADi Nacional, Marcelo Sousa. Antes do início
das eleições, a ABRADi reuniu mais de 50 agentes digitais especialistas
em Marketing Político para desenvolver um Código de Conduta Eleitoral,
que foi lançado em Junho de 2018, e está disponível para download gra-
tuitamente no site www.abradi.com.br. O Código de Conduta Eleitoral
recomenda aos agentes e agências digitais o compliance com as normas
e legislação vigentes abaixo destacadas:
Resolução TSE nº 23.551, de 18 de dezembro de 2017;
Conjunto de Leis e Normas para Eleições 2018 – TSE;
Marco Civil da Internet – Lei nº 12.965, de 23 de abril de 2014 e Decreto
nº 8.771, de 11 de maio de 2016;
Código de Autorregulamentação para a Prática de E-mail marketing;
O documento combate o envio de mensagens que sejam classificadas

176
Isto acontece
na prática

como spam por e-mail, por meio de mensagens de celular (SMS), aplica-
tivos de comunicação instantânea (WhatsApp ou Messenger) ou publica-
ções nas mídias sociais. O documento destaca que essa prática é desleal
e injusta. Recomenda aos agentes digitais não somente recusarem-se a
fazer qualquer ação como essa, a não permitirem que tal prática desleal
seja feita em suas agências e não se omitirem em relação ao fato. O Có-
digo de Conduta Eleitoral também combate a compra de cadastros, listas
ou mailing de telefones ou e-mails para envio de propaganda eleitoral por
qualquer meio. No Código de Conduta Eleitoral há um capítulo dedicado
ao combate de fake news. O código baseia-se nas regras de conduta
da International Fact Checking Network, rede mundial de checadores de
dados e informações criada para combater fake news. O capítulo enfati-
za, entre as boas práticas de conduta de marketing no meio eleitoral, o
compromisso de checar a informação dada pelo cliente, o compromisso
na transparência de metodologias e o não partidarismo em campanhas
políticas. “A Associação repudia toda e qualquer ação de envios indevidos
de “spams em massa” por meios digitais (Whastapp, Email marketing,
Facebook, Twitter, etc.), assim como é totalmente contra a criação de
fake news no meio digital que possam induzir ou confundir o leitor mais
desatento. A ação é ilegal e antiética e fere à Lei Geral de Proteção de
Dados (PLC 53/2016) além de ir totalmente contra as boas práticas da
área de Comunicação Digital. A internet traz muitas oportunidades de
negócios ao mundo e a ABRADi luta para que o uso de spams em massa,
fake news, perfis falsos, hackers e bots seja punido e denunciado. É im-
portante deixar claro que as agências citadas nas denúncias atuais não
são associadas da ABRADi”, ressalta o presidente da ABRADi Nacional,
Marcelo de Sousa. O Código de Conduta Eleitoral da ABRADi combate
veementemente o mau uso de ferramentas digitais e a falta de ética.
Também recomenda que os agentes não estimulem ou publiquem con-
teúdos agressivos, ofensivos, difamatórios, ridicularizantes, humilhantes,
caluniosos ou constrangedores, respeitando sempre a vida privada, a in-
timidade, a honra e a dignidade da pessoa humana e que não pratiquem

177
Isto acontece
na prática

atos preconceituosos. A ABRADi é uma entidade de classe, sem fins lu-


crativos, que defende os interesses das empresas desenvolvedoras de
serviços digitais no Brasil. A entidade, presente em 14 estados (BA, DF, ES,
GO, MG, MS, PB, PE, PR, RJ, RN, RS, SC e SP), reúne cerca de 600 empresas
associadas.
Fonte: https://www.ecommercebrasil.com.br

Anote isso

A liberdade de expressão é, como muitos afirmam, o princípio da expressão


da liberdade. Com isso, as pessoas, sem qualquer distinção de credo, etnia,
convicção política ou filosófica, podem manifestar seus pensamentos e
ideologias sem medo de sofrer repreensão e/ou censura. Pode-se atribuir
essa segurança jurídica, primeiramente a democracia, mas também a ideia
de constitucionalismo, tendo entre seus princípios, a limitação do poder do
Estado e a garantia dos direitos individuais. O Constitucionalismo nasceu
com a Magna Carta inglesa, assinada em 1215, pelo Rei João, mais conheci-
do como João Sem-Terra, resultado de desentendimentos do mesmo com a
Igreja e com os barões, a qual limitava o poder do monarca e o obrigava a
respeitar certos procedimentos legais. Durante a história, vários momentos
podem ser citados como exemplos da luta pela liberdade de expressão.
Muito antes da ideia de Constitucionalismo, antes mesmo de Jesus Cristo,
em Atenas, na Grécia antiga tinha-se, dentro dos ideais de democracia da
época, um ambiente reservado para o debate político, chamado Ágora, na
qual os “cidadãos” reuniam-se em assembleia para fazer deliberações que
se faziam necessárias…
Fonte: https://filosofiadocotidiano.org/liberdade-de-expressao-uma-analise-entre-

-direito-etica-e-relativismo/

178
CONCLUSÃO
Chegamos ao final dessa aventura ao conhecimento, onde podemos desvendar
os mistérios do direito ambiental, da cultura afro brasileira e indígena, as relações
étnicos raciais, os direitos humanos em sua totalidade, e ao final a ética em seus
aspectos mas intrínsecos.
Podemos concluir que a mente que adquiriu todo o conhecimento durante
essa viagem, poderá agora além de utiliza-lo retransmitir, de forma que venha a
construir através de seu meio, uma sociedade crítica, responsável e de respeito
de um para com o outro, sobretudo em relação ao meio ambiente, a humanidade
e a ética.
Vemos também que tudo o que foi visto está interligado de forma a ajustar
da melhor forma a sociedade e desta forma é dever de quem adquire o conheci-
mento colocá-lo em prática.
Essa interligação é necessária para ao exercer a profissão tenhamos consciên-
cia do que estamos fazendo e propondo, tendo ciência do certo e incerto, evitando
assim elementos negativos no futuro.

179
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