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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIRETO DA 3ª VARA

CRIMINAL DA COMARCA DE BELO HORIZONTE/MG.

Processo nº XXXXXXXXXXX

TEOBALDO AMADO, já devidamente qualificado nos autos da AÇÃO


CRIMINAL em epígrafe, que lhe move o MINISTÉRIO PÚBLICO, vem
respeitosamente perante Vossa Excelência, por meio do sua advogada
subscritora (Procuração evento 45), com fundamento no artigo 593,
inciso I, do Código de Processo Penal, interpor RECURSO DE
APELAÇÃO contra a r. sentença de evento 327, requerendo, desde já, seja o
recurso conhecido por este Juízo e, consequentemente remetido ao Egrégio
Tribunal de Justiça de Minas Gerais, para que dele conheça, dando-lhe
provimento.
Requer, ainda, a concessão dos benefícios da Justiça gratuita, tendo
em vista ser o Apelante pobre no sentido legal, não podendo arcar com as
custas processuais sem prejuízo do seu sustento e de sua família.
Termos em que,

Pede e espera deferimento.

Belo Horizonte, Minas Gerais, 10 de Fevereiro de 2023.

ANA CLÁUDIA JACINTO


OAB MG XXXXXX
_________________________________________________

RAZÕES DE APELAÇÃO

Processo nº XXXXXXXXXXX

Origem: 3ª Vara Criminal da Comarca de Belo Horizonte

Ação Criminal

Apelante: TEOBALDO AMADO

Apelado: MINISTÉRIO PÚBLICO DE MINAS GERAIS

EGRÉGIO TRIBUNAL

ÍNCLITOS DESEMBARGADORES

1 – DA ADMISSIBILIDADE

O presente recurso é cabível vez que investe contra sentença


condenatória prolatada pelo respeitável Juízo a quo nestes autos de ação
criminal.
Além disso, o presente recurso é tempestivo, vez que o prazo para
Apelação, conforme a legislação processual vigente, é de 5 (cinco) dias,
contados a partir da data da intimação da sentença que se deu somente no dia
10 de fevereiro de 2023. Portanto, tempestivo o presente recurso.
O Apelante requer a concessão dos benefícios da Justiça gratuita,
tendo em vista ser pobre no sentido legal, não podendo arcar com as custas
processuais sem prejuízo do seu sustento e de sua família.
2 – DA SENTENÇA

O Juízo a quo julgou parcialmente procedente a denúncia, condenando


o Apelante nas sanções do artigo 129, § 1º, inciso III, c/c. o artigo 14, inciso II,
ambos do Código Penal, definindo sua pena em 02 (dois) anos de reclusão, em
regime inicial aberto.
De acordo com a sentença condenatória, a autoria e a materialidade do
delito restaram comprovadas pelas provas produzidas.
Em que pese o conhecimento jurídico do Juízo prolator da sentença,
vê-se que não decidiu com acerto, fazendo-se necessária a reforma da decisão
de 1º Grau. É o que se passa a demonstrar.

3 – DA INSUFICIÊNCIA PROBATÓRIA / DA NECESSIDADE DE


ABSOLVIÇÃO DO APELANTE

Em Juízo, sob o manto do contraditório e da ampla defesa, o Apelante


merece a absolvição em virtude do fato não constituir crime, como apontado no
artigo 386, inciso III, do Código de Processo Penal, bem como tratar-se de
crime impossível, nos termos do artigo 17, caput, do Código Penal.
Conforme apontado pela perícia criminalística e de balística realizada
(evento 235), restou comprovada que a arma utilizada pelo Apelante –
legalmente registrada em seu nome há mais de 10 (dez) anos – era incapaz de
efetuar disparos, sendo a conduta caracterizada como atípica.
Bem como, em todos os interrogatórios, tanto o do Apelante como os
de Natália, Maria e Josefa – testemunhas da ação -, são idênticas as versões,
em que afirmam: Pelópidas – atual companheiro da sobrinha do réu –
encontrava-se desferindo golpes e xingamentos à Marialva, sobrinha do
Apelante.
O Apelante, após pedir inúmeras vezes que o autor da agressão
cessasse, esse nada fez. Desta forma, viu-se o réu compelido a atuar de
alguma forma para cessar as investidas contra sua sobrinha.
Assim sendo, encontrando-se debilitado no momento – devido ao
engessamento da perna esquerda referente à acidente de trânsito (documentos
acostados em evento 115), utilizou-se do único meio que viu disponível para
defesa de sua sobrinha. Porém, não há crime a ser julgado.
Como é cediço, a Constituição Federal garante a presunção de
inocência, de tal sorte que se faz mister um conjunto probatório harmonioso e
robusto para a imposição de um édito condenatório.
A dúvida deve levar, necessariamente, à absolvição, em apreço à
constitucional presunção de inocência, a menos que haja robusto
conjunto probatório a elidi-la. Não é o que ocorre nos autos.
As testemunhas e o próprio réu, assim como a perícia realizada
comprovam que não houve disparo e, consequentemente, não houve danos à
parte.
Neste sentido, ainda, o entendimento jurisprudencial:

“Se a prova erigida nos autos não for suficiente para


infundir a certeza da prática de um ilícito penal e, na
ausência de outro elemento probatório robusto a
consubstanciá-lo, imperiosa é a absolvição deste”.
(TJGO – Apelação Criminal – XXXXX20148090142)

Este é todo o conjunto probatório produzido contra o Apelante, sendo


patente sua fragilidade, visto que não reúne elementos de certeza que
autorizem a prolação de um decreto condenatório. E a dúvida, resultado da
insuficiência de provas, deve ser sempre interpretada em benefício do réu,
princípio basilar da seara penal.
Desta forma, a manifesta insuficiência probatória deve levar,
imprescindivelmente, à absolvição do Apelante pelo crime descrito no
artigo 129, § 1º, inciso III, c/c. o artigo 14, inciso II, ambos do Código Penal.

4 – LEGÍTIMA DEFESA DE TERCEIROS

Em igual alegação, sob o manto do contraditório e da ampla defesa, o


Apelante merece a absolvição em virtude de legítima defesa de terceiros, como
apontado no artigo 386, inciso VI, do Código Penal.
Conforme apontado pelo depoimento do réu e das testemunhas
igualmente presentes e ouvidas, bem como a vítima da agressão assistida, o
Apelante apenas agiu de modo a lesionar o agressor – Pelópidas – para
resguardar a integridade física de sua sobrinha – anteriormente citada.
Segundo os fios da lei, mais precisamente o artigo 25 do Código Penal,
há legítima defesa quando alguém – Teobaldo -, usando moderadamente dos
meios necessários, repelir injusta agressão – Pelópidas e Marialva – a direito
seu ou de outrem – sua sobrinha – sendo esta causa de exclusão da ilicitude,
como nos termos do artigo 23, inciso II, do Código Penal.
Desta forma, a manifesta atuação de legítima defesa de terceiros,
imprescindivelmente, à absolvição do Apelante pelo crime descrito no
artigo 129, § 1º, inciso III, c/c. o artigo 14, inciso II, ambos do Código Penal.

5 – DA DESCLASSIFICAÇÃO DE CONDUTA

Por fim, sob o manto do contraditório e da ampla defesa, o Apelante


merece a absolvição em virtude de desclassificação da conduta para aquela
prevista no art. 129, caput, do Código Penal.
Conforme apontado pela perícia realizada, não houve disparos –
devido à impossibilidade da arma de fogo portada – e, neste viés, não pode
haver presunção de que o agressor – Pelópidas – sofreria debilidade
permanente de membro.
Segundo a análise apresentada por médico especialista (evento 288),
não há respaldo nas alegações apresentadas de que com toda certeza haveria
impossibilidade ou perda de mobilidade por parte do disparo, caso efetuado.
Desta forma, deve haver a desclassificação da conduta e,
imprescindivelmente, a absolvição do Apelante pelo crime descrito no
artigo 129, § 1º, inciso III, c/c. o artigo 14, inciso II, ambos do Código Penal.
6 – DA ATIPICIDADE

No caso em apreço, apenas para o belo debate jurídico, caso entenda-


se que o Apelante, de fato, houvesse efeituado o disparo, deve-se reconhecer
a atipicidade da conduta.
No mesmo diapasão, a mera suposição, sem que se constate o real
dano causado pelo Apelante, o que não houve, não apresenta qualquer
lesividade à parte Pelópidas.
Portanto, o Apelante deve ser absolvido pela atipicidade da
conduta com fulcro no crime descrito no artigo 129, § 1º, inciso III, c/c. o
artigo 14, inciso II, ambos do Código Penal.

5 – DOS PEDIDOS

Requer-se, portanto, seja o presente recurso CONHECIDO e


PROVIDO para o fim de absolver-se o réu, pela atipicidade da conduta
com fulcro no crime descrito no artigo 129, § 1º, inciso III, c/c. o artigo 14,
inciso II, ambos do Código Penal.
Bem como, deve ser subsidiariamente, provida a desclassificação da
conduta para aquela prevista no art. 129, caput, do Código Penal.

Aguarda provimento do recurso, estabelecendo-se, assim, a mais


precisa JUSTIÇA!

Termos em que,

Pede e espera deferimento.

Belo Horizonte/Minas Gerais, 10 de Fevereiro de 2023.

ANA CLÁUDIA JACINTO


OAB MG XXXXXX

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