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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA … VARA CRIMINAL DA

COMARCA DE UBERLÂNDIA/MG

Autos do Processo nº…

PREÂMBULO:
Carla, já qualificada nos autos do processo em epígrafe, por meio do seu advogado que esta
subscreve (procuração anexa), vem à presença de Vossa Excelência, com fulcro no art. 593, I, do
Código de Processo Penal, inconformada com a sentença de fls…, interpor recurso de APELAÇÃO.

Considerando que a intimação da decisão ocorreu em 03 de março de 2023, o último dia do prazo é
na sexta-feira subsequente, leia-se, dia 10 de março de 2023, nos termos do artigo 593, caput, CPP.
Portanto, resta constatar que o recurso é tempestivo.
Em complemento, requer o recebimento e o processamento do presente recurso, que segue com as
inclusas razões, além da subsequente remessa ao Egrégio Tribunal de Justiça do Estado de Minas
Gerais.

Termos em que, pede deferimento.


Uberlândia, 10 de março de 2023.
Advogado…; OAB nº…
RAZÕES DE RECURSO DE APELAÇÃO

Apelante: Carla
Apelado: Justiça Pública
Autos do Processo nº…

EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE MINAS GERAIS,


COLENDA CÂMARA,
ÍNCLITOS JULGADORES,
DOUTA PROCURADORIA DE JUSTIÇA.

Em que pese a respeitável sentença de fls…, os seus argumentos não podem prosperar, pelas razões
de fato e de direito a seguir apontadas.

I – DOS FATOS

Carla, com o propósito de comprar R$ 4.000,00 (quatro mil reais) em roupas femininas, falsificou a
assinatura de terceiros em um cheque e apresentou em uma loja de grife. O gerente reconheceu a
falsificação do cheque, pois notou que o nome que constava no título era o de sua sogra. Carla foi
presa em flagrante, processa por estelionato e falsificação de documento equiparado ao público (art.
171, caput, e art. 297, § 2º, na forma do art. 69, todos do Código Penal) e restou condenada (fls…),
em decisão prolatada há 5 dias. Vem, então, a apelante requerer o que se segue.

II – DO DIREITO

Razão não assiste ao magistrado de primeiro grau, uma vez que a inicial foi inepta para iniciar a
persecução penal. O crime previsto no art. 171 do CP só se processa mediante representação (art.
171, § 5º, CP) e sua falta gera nulidade, nos termos do art. 564, III, alínea ‘c’, CPP.
Também deve-se perceber prejuízo a apelante quanto a falta de seu interrogatório e,
consequentemente, a nulidade do processo, nos termos do art. 564, III, alínea ‘e’, CPP. Sua falta à
audiência de instrução e julgamento foi devidamente justificada, por motivo de doença, e mesmo
assim a audiência ocorreu e a mesma restou condenada sem, ao menos, ser ouvida. Tal
posicionamento fere o princípio do contraditório e ampla defesa, consagrado no art. 5º, inciso LV,
da CF/88.
Cabe salientar que a apelante foi condenada pelos crimes de estelionato e falsificação de documento
equiparado ao público, ambos na modalidade consumada, e de forma material. Contudo, deve-se
aplicar, primeiramente, o princípio da consunção, pois o crime de falsificação de documento
equiparado ao público foi um meio para consumar um crime fim, o de estelionato, e por isso mesmo
não se deve penalizar a apelante, pois, pela narrativa fática, sabe-se que a falsidade foi meio para o
estelionato e nele se exauriu, conforme Enunciado 17 da Súmula do STJ. Senão, vejamos:
"Quando o falso se exaure no estelionato, sem mais potencialidade lesiva, é por este absorvido."
Por isso mesmo, deve-se notar que a ré apenas praticou um único crime: estelionato, previsto no art.
171, CP.
De mesma forma, deve-se perceber que a conduta da apelante, conforme narrativa fática, não foi
consumado, mas sim tentado, pois o gerente da loja percebeu que o cheque era falso e interrompeu
a empreitada criminosa acionando a polícia. De tal forma, percebe-se que a conduta não foi
consumada, por circunstâncias alheias a vontade da ré, conforme registra o art. 14, II, CP, sendo
imperiosa o enquadramento do crime na modalidade tentada.
Por todo o demonstrado, há de se perceber que a apelante não concorreu para ambos os crimes, mas
apenas para um, qual seja, o estelionato, e nem mesmo o foi de forma consumada, mas sim tentada.
E que mesmo assim, merece ser absolvida, pois existe circunstância que exclui o crime, qual seja,
um dos requisitos obrigatórios que caracterizam o estelionato: a obtenção ilícita, não ocorreu, de
modo que tal falta impede a caracterização do delito, conforme art. 386, VI, CPP.
Na remota hipótese do não acolhimento supra, é necessária a fixação da pena base no mínimo legal,
já que as circunstâncias do art. 59, CP, são favoráveis à ré.
Em outro giro, é necessário destacar a atenuante genérica da maioridade do tempo da sentença, nos
termos do art. 65, I, CP, para fins de dosimetria da pena em sua segunda fase, pois a apelante era
maior de 71 anos quando do proferimento da sentença.
Consequentemente, a fixação do regime inicial de cumprimento é o semiaberto, conforme o art. 33,
§1º, b, CP, e Enunciado 269 da Súmula do STJ:
“É admissível a adoção do regime prisional semiaberto aos reincidentes condenados a pena igual ou
inferior a quatro anos se favoráveis as circunstâncias judiciais”.
Contudo, cabe ressaltar que a apelante é maior de 70 anos e pode gozar da instituição da suspensão
condicional da pena, como previsto no art. 77, do CP, bem como é possível a conversão da pena
privativa de liberdade em restritiva de direitos, conforme o art. 44, do CP.

III – DOS PEDIDOS


Diante do exposto, requer o conhecimento e o provimento do presente recurso para:
i) a nulidade do processo por falta de representação da vítima, nos termos do art. 564, III, alínea ‘c’,
CPP;
ii) a nulidade do processo pela falta de interrogatório da ré, por cercear o direito de ampla defesa e
contraditório, nos termos do art. 564, III, alínea ‘e’, CPP;
iii) aplicar o princípio da consunção aos crimes imputados a apelante, já que a falsidade foi meio
para o estelionato e nele se exauriu, conforme Enunciado 17 da Súmula do STJ;
iv) reenquadrar o delito de estelionato à modalidade tentada, pois a apelante não consumou o crime
por circunstâncias alheias a sua vontade, nos termo do art. 14, II, CP;
v) absolvição da apelante pela não obtenção ilícita, de modo que tal falta impede a caracterização
do delito, conforme art. 386, VI, CPP;
vi) na remota hipótese de afastamento da absolvição, a fixação da pena base no mínimo legal, já que
as circunstâncias judiciais do art. 59, CP, são favoráveis à ré;
vii) a aplicação da atenuante prevista no art. 65, I, CP, em face da idade da agente à época do
proferimento da sentença;
viii) a fixação do regime de cumprimento de pena ser o semiaberto, conforme o art. 33, §1º, b, CP, e
Enunciado 269 da Súmula do STJ;
ix) aplicação do instituto da suspensão condicional da pena, como previsto no art. 77 do CP;
x) substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos, conforme o art. 44 do CP.

Termos em que, pede deferimento.


Uberlândia, 10 de março de 2023.
Advogado…; OAB nº…
Questão 01

a) A ré era menor de idade, abaixo de 18 anos, à época dos fatos, por isso não pode ser processada
por ser inimputável, nos termos do art. 27, CP. A narrativa fática faz a ré incorrer em ato infracional
análogo ao homicídio, que deve ser processado no Juizado da Infância e Juventude, conforme
legislação especial, leia-se, ECA.
b) Recurso em sentido estrito, art. 581, inciso IV, CPP, num prazo de 5 dias, conforme o art. 586,
CPP, para o juízo que pronunciou a ré.

Questão 02
a) ação penal privada subsidiária da pública, por causa da inércia do Ministério Público, conforme
art. 5º, LIX, CF/88, podendo ser realizado pelo seu representante legal (art. 34, CPP).
b) Extorsão mediante sequestro consumado (art. 159, CP), considerado crime hediondo, nos termos
da Lei 8.072/90, art. 1º, IV.

Questão 03
a) Eduardo incorreu na prática penal de forma culposa, dando causa ao resultado por negligência
(art. 18, II, CP), sua culpa se deu de forma inconsciente. Aqui o dolo é excluído, mas também a
culpa, pois foi um acontecimento por causa fortuita ou força maior, não existiu vontade do agente,
tão pouco previsão de tal resultado que da causa se originou, logo Eduardo não há de ser punido por
tal fato previsto como crime (art. 18, P.U., CP).
b) Interpor apelação e requerer a absolvição do réu pelo fato não constituir infração penal (art. 386,
III, CPP) e o relaxamento da prisão ilegal, pois o juiz não fundamentou a segregação cautelar do réu
(art. 387, §1º, CPP) nos pressupostos estabelecidos nos arts. 312 e 313, do CPP.

Questão 04
a) Não, a competência é da Justiça Estadual – Vara Criminal comum. Pois, o Tribunal do Júri é para
os crimes dolosos contra a vida (art. 74, §1º, CPP).
b) Desclassificação da conduta para o crime de lesão corporal (art. 129, caput, CP) ou, no mínimo,
contravenção de vias de fato (art. 21, LCP), em que ambos devem ser processados no Juizado
Especial Criminal (art. 89, da Lei 9.099/95), já que o falecimento da vítima se deu por condições
preexistentes. No caso em tela, André não poderia responder pelo resultado morte, nem pela culpa,
pois o resultado morte era imprevisível.

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