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Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da ....

ª Vara Criminal da
Comarca

“O”, já devidamente qualificado nos autos do processo-crime nº. ..., que lhe
move a justiça pública, por seu advogado (procuração anexa), vem, respeitosamente, à
presença de Vossa Excelência apresentar as suas

Memorias de Defesa

com fundamento no art. 403, § 3o, do Código de Processo Penal, nos seguintes
termos:

1. DOS FATOS

            “O” foi acusado de manter em cárcere privado “S”, seu sobrinho,


durante dois dias, sem autorização expressa de seus pais. Quando estes descobriram o
paradeiro do filho, acionaram a polícia e “S” foi libertado.

Processado, como incurso nas penas do art. 148, § 1.º, IV, c/c art. 61, II, f, do
CP, finda a instrução, o juiz negou o pedido da defesa para oitiva de testemunha
considerada essencial para o desvende do crime, e também indeferiu o pedido de
realização da perícia dos vestígios do local do crime, alegando sua desnecessariedade,
diante das provas da materialidade e autoria que já foram colhidas anteriormente.

2. DO DIREITO

2. Das preliminares

2.1. Do cerceamento de defesa

            A paridade das armas é um dos princípios norteadores do processo


penal, este visa garantir que haja proporcionalidade entre a defesa e a acusação, além
desse princípio temos outros que também são fundamentais, como o princípio da ampla
defesa (art. 5º, LV, CFRB/88) e do devido processo legal (art. 5º, LIV, CFRB/88),
ambos garantidos constitucionalmente, devido à importância que tem um processo
penal, que pode acarretar prejuízos inestimáveis à quem o sofra injustamente. Porém,
mesmo diante de tamanha proteção legal, ocorreu neste processo um ato que prejudicou
a defesa técnica do acusado. A testemunha que não foi ouvida durante a instrução
criminal, era fundamental para o desenvolvimento da tese da defesa. Por esse motivo,
deve ser anulado o presente processo desde a instrução, onde houve a referida nulidade,
com fundamento no artigo 564, inciso IV do CPP.

2.2. Do indeferimento da prova pericial

            Em mais um momento Vossa Excelência deixou de apreciar um pedido


essencial à garantia constitucional da ampla defesa, assim como violou determinação
literal de Lei federal. O artigo 158, do Código de Processo Penal Brasileiro determina
que nos crimes que deixam vestígios é indispensável o exame de corpo de delito.
Devendo, portanto o processo ser anulado com fulcro no artigo 564, inciso III, alínea
“b”, do CPP.
3. DO MÉRITO

3.1. Quanto ao mérito, o órgão acusatório somente conseguiu demonstrar a


tipicidade do fato, o que não se nega. Porém, longe está de se constituir crime. Pois,
para se caracterizar o cárcere privado, a vítima deveria estar sendo obrigada ou
constrangida de alguma forma a ficar no local, o que não foi o caso, já que o sobrinho
do acusado foi de livre e espontânea vontade e assim também permaneceu esses dias na
casa do tio.

3.2. Diante da ausência elemento essencial da tipificação do crime, no caso, o


sequestro ou o cárcere, já que a vítima poderia sair e voltar na hora que bem entendesse,
resta provado que a conduta do acusado não constitui crime.

3.3. Ainda mais, não há que se falar em circunstâncias agravantes, já que o


menino já é maior de 18 anos, não morava na mesma casa do acusado e há muito tempo
que nem o visitava. Sendo assim, deve ser afastada a circunstância agravante alegada
pela acusação.

4.    DO PEDIDO

Ante o exposto, requer:

4.1. A absolvição do réu, com fundamento no art. 386, III, do Código de


Processo Penal, visto que o fato narrado efetivamente não constitui crime. Ou;

4.2. A anulação do processo desde o momento da Instrução Criminal, onde


houve o cerceamento de defesa, mediante o indeferimento da oitiva de testemunha
essencial à defesa, nos termos do Art. 564, inciso IV, do CPP;

4.3. Se os pleitos acima não forem acatados, subsidiariamente, pleiteia-se o


afastamento da agravante do art. 61, II, f, do Código Penal;

4.4. Caso Vossa Excelência entenda pela condenação do acusado, que fixe a
pena base no patamar mínimo legal, pois o acusado é primário e portador de boas
circunstâncias judiciais nos termos do art. 59, do CP;

4.5. Requer ainda, a substituição por penas alternativas (art. 44, CP) e o direito
de recorrer em liberdade, de acordo com princípio da presunção de inocência (art. 5º,
inciso LVII, da CFRB/88), pois assim fazendo estar-se-á realizando JUSTIÇA.

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