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Egrégio Tribunal de Justiça do Estado Goiás

Autos do processo nº: XXX

Autor: Ministério Público do Estado de Goiás

Ré: Helena

Helena, já qualificada nos autos da presente ação penal que lhe moveu o
Ministério Público, vem, respeitosamente, perante esta Egrégia Corte, por seu
advogado, regularmente constituído e qualificado, com procuração acostada
aos autos, apresentar, com fundamento no artigo 588 do CPP, suas RAZÕES
DE RECURSO EM SENTIDO ESTRITO, pelos motivos fáticos e de jurídicos
que se seguem.

I – PRELIMINARMENTE
Sabendo-se que o crime de infanticídio é punido com pena de detenção, não
era admissível a interceptação telefônica ocorrida como produção de prova,
consoante inteligência do art. 2º, III da Lei nº 9.296 de 1996.

Ademais, ainda que se entenda que a investigação tratasse possivelmente de


crime de aborto, previsto no art. 124 do CP, este também é punido com pena
de detenção, sendo assim, a interceptação telefônica prova ilícita nos autos.

Como se não bastasse, aponta-se que não houve indícios suficientes de autoria
para a interceptação telefônica ocorrer, uma vez que o delegado representou
pela decretação da quebra de sigilo com base em meras suspeitas.

Por fim, salienta-se que o testemunho de Lia, apesar de ter sido realizado de
forma lícita, é também prova ilícita, vez que se deu por derivação da prova ilícita
acima mencionada, na forma do art. 157, § 1º, do CPP. Desta maneira, todas
as provas produzidas em sede de interceptação telefônica e delas derivadas
devem ser desentranhadas dos autos, nos termos do art. 157 “caput” do CPP.

Insta apontar ainda, que o presente processo deve ser declarado nulo, uma vez
que o magistrado “a quo” ao se deparar com nova prova produzida no processo
após a instrução criminal, não determinou vista dos autos ao Ministério Público
para aditar a denúncia, mesmo que seja alterada para imputar crime cuja pena
é menor, tendo sido, por isso, violados os preceitos dos artigos 411 §
3º e 384 do CPP.
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II – DOS FATOS
O Ministério Público ofereceu denúncia em face da acusada pela suposta
prática do crime de infanticídio, tipificado no art. 123 do CP. Após, o douto
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magistrado “a quo” prolatou sentença de Pronúncia, não nos termos da


Denúncia, e sim pela prática do crime descrito no art. 124 do Código Penal,
devendo, ser, “data venia”, reformada.

III – DO DIREITO
Diante das provas nos autos, é evidente que não foi comprovada a
materialidade do suposto crime de aborto, imputado à acusada, uma vez que
não foi realizada nenhuma perícia para apurar se a criança faleceu em
decorrência da ingestão da substância abortiva ou não, requisito essencial para
se configurar a pretensão punitiva estatal.

Portanto, a decisão do douto juízo “a quo” deve ser reformada,


impronunciando-se a ré, haja vista garantia fundamental da presunção de
inocência, prevista no art. 5º LVII da CRFB/88.

IV – DOS PEDIDOS
Ante ao exposto, requer:

1. Seja conhecido o presente recurso e suas razões;


2. Sejam desentranhadas dos autos as provas ilícitas arguidas em
preliminar, nos termos do art. 157 do CPP;
3. Seja declarada a nulidade da decisão de pronúncia do juízo “a
quo”, por falta da devida “mutatio libelli” cabível ao caso, nos
termos dos arts. 411, § 3º e 384 do CPP;
4. Seja a acusada absolvida sumariamente;
5. Subsidiariamente, caso não se absolva sumariamente a acusada,
seja esta impronunciada.

Termos em que, pede deferimento.

Goiânia, 02 de novembro de 2023.

Deivit Juca da Silva


OAB-GO XXXXX
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