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AO JUIZO DA ___ VARA CRIMINAL DA COMARCA DE _____ ESTADO DE _____

PROCESSO Nº.: xxxxxxxx

JORGE, devidamente qualificado nos autos do processo em epígrafe, vem perante Vossa
Excelência, por intermédio de seu advogado, com fundamento no art. 403, § 3º, do Código de
Processo Penal, apresentar

ALEGAÇÕES FINAIS POR MEMORIAIS

pelos fatos e fundamentos jurídicos a seguir expostos.

I – DOS FATOS

Consta na exordial que xxxxxx teria, no dia xx de xxxxx de xx, por volta das xxh,
em via pública próxima ao xxx, xx, xxx, tentado subtrair para si, cabo de transmissão de energia
de iluminação pública, mediante rompimento das caixas/bueiros, fato ocorrido durante o repouso
noturno e concurso de pessoas.

Em xxx de xxxx de xxxx, houve o recebimento da denúncia pela suposta prática de furto
qualificado tipificado no art. 155, § 1º e § 4º, incisos I e IV, c/c art. 14, inciso II do Código
Penal, fl. xx, posteriormente o acusado foi citado, fl. xx, e apresentou resposta à acusação, fl. xx.
No prosseguimento do feito não houve absolvição sumária, foi designada data para audiência de
instrução e julgamento fl. xx.

O Ministério Público oferceu Alegações Finais por Memoriais fls. xxx, requerendo
a procedência parcial da pretensão punitiva do estado, nas penas do art. 155, § 1º e § 4º,
inciso IV, c/c art. 14, inciso II do Código Penal, tendo os autos sido remetidos a defesa para
apresentação das alegações finais.
II - DO DIREITO

II.1 DA ABSOLVIÇÃO POR NEGATIVA DE AUTORIA

Da análise do processo, é necessário o reconhecimento de que não há elementos


probatórios suficientes para imputação do fato criminoso ao acusado. Tendo em vista que, os
depoimentos das testemunhas trazem apenas indícios, mas não provas concretas que sejam
capazes de ensejar condenação.

Em sede de interrogatório por autoridade policial, o acusado nega o crime (negativa de


autoria) que lhe foi atribuído, O réu, na fase policial negou a autoria do delito (fls. 24), ouvido
em juízo afirmou que: “na data dos fatos não se encontrava no local onde ocorreu a subtração,
desconhecendo os motivos da acusação que sobre ele pesa”. A vítima quer na fase policial, quer
na judicial, deixou evidenciado que: “Ao que tudo indica a pessoa que furtou seu relógio foi o
réu.”, tendo apontado como testemunhas HENRIQUE e JORGE (fls. 14 e 96).

A testemunha HENRIQUE, deixou claro que, “não pode afirmar com certeza se foi o
acusado o autor do furto, mesmo porque o local não se encontrava iluminado suficientemente
para propiciar a identificação certa da pessoa que cometeu o delito.” (fls. 98). Por seu turno, a
testemunha JORGE, exortou que: “O local onde ocorreu a subtração é consideravelmente
escuro, razão pela qual não pode precisar com certeza que foi o réu presente o autor do furto”
(fls. 104).

Podemos nos basear dessa absolvição, seguindo o princípio presunção de inocência


(in dubio pro reo) que nas palavras do doutrinador em sua obra Jurisprudencial Criminal (V.2
pg.446) de Heleno Claudio Fragoso:

“Nenhuma pena pode ser aplicada sem a mais completa certeza dos fatos.
A pena, disciplinar ou criminal, atinge a dignidade, a honra e a estima da
pessoa, ferindo-a gravemente no plano moral, além de representar a
perda dos bens ou interesses materiais”.

Nos termos do Art. 386, IV do Código de Processo Penal brasileiro, deverá o juiz
absolver o réu sempre que restar comprovada a não participação do mesmo na infração penal.

Com efeito, o acusado, ao ser ouvido em audiência, negou a acusação (negativa de autoria) que
lhe foi feita, afirmando não ter participado do furto mencionado na denúncia. Além disso, afirma
que no dia e na hora do fato, não se encontrava no local onde ocorreu a subtração.
Em relação à acusação que lhe é imposta, o réu é inocente. Para a sua condenação a prova
da autoria deve ser plena e convincente, ao passo que para a absolvição basta a dúvida,
consagrando o princípio "in dubio pro reo" contido no art. 386, V do CPP. Logo, a defesa reputa
necessário que seja reconhecido o Princípio Constitucional do in dubio pro reo, na medida em
que há dúvidas mais do que razoáveis acerca dos fatos e que estas devem militar sempre a favor
do acusado.

Dessa forma, deve o réu seja absolvido por não existirem elementos de prova suficientes
para condená-lo e não há provas de sua autoria, nos moldes do artigo 386,
incisos IV e V do Código de Processo Penal.

III - DA INSUFICIÊNCIA DE PROVA PARA A CONDENAÇÃO

A exordial acusatória do insigne Ministério Público resumiu-se a denunciar o réu,


lastreado por mero relato das supostas vítimas, pelo crime de furto qualificado tipificado no
art. 155, § 1º e § 4º, incisos I e IV, c/c art. 14, inciso II do Código Penal.
É possível observar na audiência de instrução e julgamento, a fragilidade no
conjunto probatório da acusação. Com efeito, apenas duas testemunhas foram ouvidas em
audiência sobre a ocorrência dos fatos, uma vez que a vitima não pode afirmar com certeza se
foi o acusado o autor do furto, mesmo porque o local não se encontrava iluminado
suficientemente para propiciar a identificação certa da pessoa que cometeu o delito

É certo que o art. 386, VII, prevê que o juiz absolverá o réu quando não existir prova
suficiente para a condenação no crime de furto. Deve haver ainda, o respeito ao princípio in
dubio pro reu, o qual preceitua que, havendo dúvida razoável, esta deve ser utilizada a favor do
réu, sendo ele, absolvido. No presente caso, observa-se a fragilidade e insuficiência das provas
testemunhais produzidas. Neste sentido, a jurisprudência do Egrégio TJDFT:

PENAL E PROCESSO PENAL. APELAÇÃO CRIMINAL. LESÃO


CORPORAL. MARIA DA PENHA. AUTORIA E MATERIALIDADE
DELITIVA NÃO CONFIGURADAS. DEPOIMENTOS
DIVERGENTES. ABSOLVIÇÃO. MANUTENÇÃO. [...] Contudo, a
apresentação de depoimentos divergentes, na fase extrajudicial e na fase
judicial, e a ausência de outros meios de prova, dá ensejo a dúvida acerca
da ocorrência e da materialidade do delito, impondo-se a absolvição do
acusado, em respeito ao princípio do in dubio pro reo.
(Acórdão n.943412, 20150310042923APR, Relator: ESDRAS NEVES 1ª
TURMA CRIMINAL, Data de Julgamento: 23/05/2016, Publicado no
DJE: 31/05/2016. Pág.: 177/190) – grifos nossos.

Diante do exposto, a defesa técnica requer a absolvição do acusado, ante a


insuficiência probatória quanto ao delito de furto qualificado, pois não foram ouvidos no
interrogatório policial e nem em audiência os guardas/porteiros dos blocos mencionados pelos
policiais que informaram a localização do acusado, nos termos do artigo 386, inciso VII, do CP.

IV - DA DOSIMETRIA DA PENA

De acordo com o art. 68 do Código Penal, a dosimetria da pena deve respeitar o


procedimento trifásico, sendo que em caso de condenação, a defesa postula a aplicação da pena-
base no piso legal.
Da análise das circunstâncias judiciais do artigo 59 do Código Penal, verifica-se que
todas são favoráveis ao acusado, não havendo elementos nos autos para que se possa fazer um
juízo valorativo objetivo sobre a personalidade do acusado, razão pela qual a defesa pugna pela
aplicação da pena-base no mínimo legal.

Requer, ainda, o afastamento da qualificadora referente ao rompimento de obstáculo,


diante da ausência de laudo pericial e concordância do Ministério Público.

Na Segunda Fase da Dosimetria, não há atenuantes e agravantes a serem


consideradas. Da mesma na terceira fase não há causas de diminuição, devendo ser afastada a
majorante referente ao repouso noturno.

Não há óbice, portanto, de fixação da pena no mínimo legal, a qual poderá ser
cumprida em regime inicialmente aberto (art. 33, § 2º, alínea c, do CP, permitindo, assim, que o
acusado recorra em liberdade, pois incompatível o atual regime em que se encontra com aquele
que eventualmente seja condenado ao cumprimento da reprimenda final.

Da mesma forma requer a substituição da pena privativa de liberdade por restritivas


de direito, de acordo com o artigo 44, do Código Penal.

Por fim, pleiteia-se, ainda, a dispensa de dias-multa e custas, em razão da


hipossuficiência do acusado.
V – DOS PEDIDOS

Ante o exposto, a defesa técnica requer a Vossa Excelência:

1. Que seja o acusado absolvido, de acordo com o art. 386, incisos IV, V e VII, do Código
de Processo Penal, diante da negativa de autoria e por não existir prova suficiente para a
condenação;
2. O afastamento da qualificadora referente ao rompimento de obstáculo, diante da ausência
de laudo pericial que conteste essas circunstâncias e concordância do Ministério Público;
3. O afastamento da causa de aumento de pena referente ao repouso noturno, conforme
entendimento jurisprudencial
4. Em caso de condenação, que sejam consideradas favoráveis todas as circunstâncias
judiciais da primeira fase da dosimetria (art. 59, CP), devendo a pena ser fixada no
mínimo legal;
5. Aplicação do regime inicial de cumprimento no aberto, nos termos do arti. 33, § 2º,
alénea c, do CP;
6. A substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos, conforme o
artigo 44, do CP;
7. Seja concedido o direito do acusado recorrer em liberdade, já que caso condenado será
fixado regime diverso do qual o agente está sendo submetido, com imediata expedição de
alvará de soltura;
8. Afastamento da reparação de danos, tendo em vista que o acusado é hipossuficiente nos
termos da lei;
9. Pela gratuidade de justiça, com isenção de dias-multa e custas processuais, por se tratar
de hipossuficiente nos termos da lei.

Nestes termos, pede e aguarda deferimento.

Local, data
Odvogado - OAB

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