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EXMO. SR. DR.

JUIZ DE DIREITO DA 1ª VARA CRIMINAL DA COMARCA DE


VESPASIANO/MG

Processo nº 0026695-59.2020.8.13.0290

CHRISTOPHER RAMIS SOUSA, já qualificado nos autos em epigrafe, por seu


procurador infra-assinado, vem, respeitosamente, à presença de V. Exa., apresentar
ALEGAÇÕES FINAIS EM FORMA DE MEMORIAL, pelos fatos e fundamentos a
seguir expostos.

I) DOS FATOS

No dia 16 de junho de 2020, cerca de 20:30h, em Vespasiano, o denunciado


Christopher supostamente adentrou em um Uber com Kewen Kennedy e outro terceiro não
identificado.

Segundo a vítima, como consta no Boletim de Ocorrência, o Uber foi chamado por
uma mulher, mas ao chegar no local, três pessoas entraram, supostamente Christopher, Kewen
e um terceiro não identificado no banco de trás.

Com certo tempo de deslocamento, os ocupantes do banco de trás anunciaram o


suposto assalto, ameaçando a vítima.

Após, ao chegar na rodovia MG-424, a vítima fora libertada.

Acionada a PM, iniciou-se uma busca, onde obtiveram notícia de que os supostos
autores se envolveram em uma colisão com outros veículos, no bairro Serra Azul, bairro
diferente de onde fora realizado o suposto anuncio do delito.

Em seguida, os Policiais Militares, após busca, encontraram os denunciados


Christopher e Kewen na mata, além de uma “faca arrecadada”, no interior do veículo, sendo
esta, segundo o Boletim de Ocorrência, a provável faca do suposto crime.

Consequentemente, o membro do Ministério Publico apresentou a denúncia segundo o


artigo 157, § 2º, incisos II, V e VII, do Código Penal.
II) DAS PRELIMINARES

Preliminarmente, faz-se necessário se apontar a nulidade existente na exordial


acusatória, vez que, flagrantemente desrespeita o disposto no art. 41 do CPP, pois a denúncia
deve expor, de forma pormenorizada, descrever o fato criminoso e as circunstancias em que
este ocorreu.

Bem como apontar a nulidade por falta de exame do corpo de delito, visto que o
suposto crime cometido deixou vestígios presentes, o que sequer houve qualquer tipo de
perícia realizada.

Dessa forma, outra sorte não resta senão declarar a nulidade arguida, nos termos do
art. 564, incisos III, “b” e IV, do CPP.

III) DO MÉRITO
a. DA ABSOLVIÇÃO POR AUSÊNCIA DE PROVAS

Superada as preliminares, aponta-se para a absolvição do requerente pela falta de


provas, pois, mesmo após a instrução processual, não restou suficientemente demonstrado,
com a certeza necessária que o requerente praticou o delito imputado.

No caso, o requerente foi denunciado pela suposta pratica do delito do art. 157, § 2º,
incisos II, V e VII, do Código Penal, no entanto, discorda integralmente dos termos da
denúncia.

Isto porque inexistem provas da autoria delitiva, de modo que impõe sua absolvição.

O fato de estar em local diverso não comprova que o requerente teria cometido tal
fato.

Neste aspecto, com a presunção de inocência, o princípio do in dubio pro reo,


pressupõe a atribuição de carga probatória ao acusador e fortalecer a regra fundamental do
processo penal brasileiro, ou seja, a de não condenar alguém sem que sua culpa tenha sido
suficientemente demonstrada.

“ROUBO. MAJORADO. EMPREGO E ARMA E CONCURSO DE AGENTE.


INSUFICIENCIA PROBATORIA. ABSOLVIÇÃO. A palavra da vítima depende de
apoio no demais da prova. reconhecimento policial precário e dubio. PROVA
INCONSISTENTE. Conjunto probatório insuficiente a amparar a condenação dos
apelantes. In dubio pro reo. Absolvição que se impõe com base no art. 386, IV, do
Código de Processo Penal. RECURSO PROVIDO.” (Apelação Crime nº
70040421486, 5ª Câmara Criminal do TJRS, Rel. Aramis Nassif. J. 09.02.2011, DJ
16.03.2011).

No Boletim de Ocorrência e na denúncia apresentada, não há qualquer menção de que


fora encontrado na posse do suposto autor, quaisquer instrumentos, armas, objetos ou
papéis que façam presumir ser o infrator, como a suposta arma branca utilizada, bem como
quaisquer bens materiais da vítima, visto que, de acordo com os autos, o requerente fora
encontrado em uma mata, não havendo citação de posse de qualquer bem da vítima.

Vale destacar também que a única testemunha presente no Auto de Prisão em


Flagrante, fora o condutor, é um Policial Militar que narra em seu testemunho “que a
diligencia empreendida se deu nas circunstancias relatadas no histórico do boletim de
ocorrência lavrado sendo os envolvidos e o material arrecadado apresentado nesta
Delegacia de Plantão.”

Ora, para que a ação penal seja deflagrada, a acusação necessita apresentar provas
capazes de apontar os indícios de autoria e materialidade, além da constatação da ocorrência
de infração penal, não podendo uma denúncia ser baseada apenas na palavra da vítima, de
uma testemunha não-ocular que apenas descreve que o fato ocorreu de acordo com o histórico
apresentado pelo Boletim de Ocorrência e de uma suposta arma, considerada fraca, em
decorrência de não houver tido qualquer perícia no processo.

Em audiência, o Policial Militar Sidney Pereira alegou que dentro do veículo


perseguido, haviam 3 ou 4 pessoas. Alegou também que “o local era escuro, e não deu para
precisar nada”.

Alegou também que os suspeitos, “um foi para o lado das casas, o outro foi sentido
reto, para os carros abandonados, e os outros, alguns outros, correram para a mata.”

Como pode o Policial Militar, alegando o local estar escuro e não dando para
precisar nada, ter certeza de que o suspeito apreendido realmente estivera presente no
suposto delito?

Além do mais, não fora encontrado, na posse do suspeito, qualquer documento da


vítima, que o presuma ser o infrator do delito, visto que, conforme o próprio policial Sidney
disse, “não deu para precisar nada”, não havendo como corroborar com denúncia oferecida
pelo ilustríssimo membro do Parquet.
Perceba V. Exa., a contradição entre os depoimentos presentes nos autos, onde o
Condutor apenas aponta que “os suspeitos evadiram por uma mata” e o discorrido em
audiência pelo Policial Militar Sidney.

Assim, não bastam meros indícios. A prova de autoria deve ser logica e livre de
dúvida, pois só a certeza autoriza a condenação no juízo criminal. não havendo provas
suficientes, a absolvição do réu deve prevalecer.

Assim, não há provas que induzem ser Christopher o suposto autor do fato, devendo
este ser absolvido segundo o art. 386, II, V e VII do Código de Processo Penal.

IV) DA SUBSIDIARIEDADE

Caso V. Exa. não entenda ser caso de absolvição do requerente, requer


subsidiariamente:

a. DA DESQUALIFICAÇÃO DO INCISO VII, DO § 2º, DO ART. 157

Inexistem provas de autoria delitiva, de modo que imperando dúvida, o princípio


constitucional in dubio pro reo impõe a absolvição, visto que, segundo disposto no Auto de
Prisão em Flagrante, os Policiais Militares “’arrecadaram uma faca’ provavelmente a
referida pela vítima.”

Ora, se a vítima em si não viu qualquer arma branca, pois, como dito nos autos, uma
suposta arma estaria na posse dos indivíduos no banco de trás, não houve outra testemunha
nos autos, senão outro próprio policial militar não-ocular dos fatos envolvido na prisão e não
houve qualquer perícia realizada em tal suposta arma branca, como pode esta ser classificada
como a suposta arma do crime?

Deste modo, não bastam meros indícios, a prova que tal arma branca fora utilizada no
suposto crime deve ser logica e livre de dúvidas. Assim, não há provas de que esta foi
realmente a utilizada. Ademais, não fora realizada qualquer pericia em cima da suposta arma
branca do delito, de tal modo que não há como constatar que esta fora a utilizada.

Assim, requer a desqualificação do inciso VII, § 2º, do art. 157.

b. DA DESQUALIFICAÇÃO INCISO V, DO § 2º, DO ART. 157

Em relação a restrição de liberdade da vítima, o lapso temporal deve ser significante.


O pouco tempo não aponta tal qualificação.

O próprio STJ, no HC 428617 SP 2017/0322170-9 discorre que “para a configuração


da majorante de restrição de liberdade das vítimas no delito de roubo, a vítima deve ser
mantida por tempo juridicamente relevante em poder do réu, sob pena de que sua aplicação
seja uma constante em todos os roubos.”

O tempo que a vítima teve sua restrição de liberdade até sua liberdade na Rodovia MG
424, é considerado mínimo e irrelevante, não podendo configurar então tal restrição.

Deste modo, requer a desqualificação do inciso V, do § 2º, do art. 157.

V) DA FIXAÇÃO DA PENA

Inicialmente, vale ressaltar que o réu possui residência fixa, residindo com sua
genitora.

Assim, em relação a quantidade da pena-base, afastadas as qualificadoras, a aplicação


da pena mínima de 4 anos de reclusão.

Se não reconhecida as desqualificações, a aplicação mínima de 1/3 do aumento da


pena.

VI) DA POSSIBILIDADE DE APELAR EM LIBERDADE

Na busca do caráter ressocializador da pena, a justiça deve trabalhar para aplicar


aquilo que se coaduna com a realidade social.

Hoje, o Sistema Prisional é cercado de incertezas sobre verdadeira função de


ressocialização dos indivíduos que lá são mantidos.

Com base no princípio da presunção de inocência, requer que o requerente responda


ao processo em liberdade, até o trânsito em julgado, pois há circunstancias e condições
pessoais que lhe são favoráveis.

VII) DOS PEDIDOS

Ante o exposto, espera-se o recebimento desta Alegação Final em forma de memorial,


e assim requer:

a) Preliminarmente, a anulação dos atos praticados até então


b) Caso superada as preliminares, a ABSOLVIÇÃO DO REQUERENTE, com
fulcro no art. 386, II, V e VII do Código de Processo Penal
c) Subsidiariamente, a desqualificação dos incisos V e VII, do § 2º, do art. 157.
d) Para possível fixação da pena, requer que a pena seja fixada no mínimo legal e
que o requerente possa apelar em liberdade.
Nestes termos,
Pede deferimento.
Belo Horizonte, 31 de outubro de 2020.

ANDRÉ FERREIRA DE OLIVEIRA


OAB/MG 198.647

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