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EXMO. SR. DR.

JUIZ DE DIREITO DA VARA ÚNICA E DE EXECUÇÕES PENAIS


DA COMARCA DE CURVELO/MG

Execução penal nº: 0008234-16.2018.8.13.0191

CHRISTOPHER RAMIS SOUSA, já qualificado nos autos em epigrafe, por seu


procurador infra-assinado, vem, respeitosamente, à presença de V. Exa., apresentar as
presentes CONTRARAZÕES DE AGRAVO EM EXECUÇÃO, com base no art. 588 do
CPP, requerendo que sejam recebidas, mantendo-se a decisão agravada, com posterior
remessa dos autos ao Egrégio Tribunal de Justiça de Minas Gerais.

Nestes termos,

Pede deferimento.

Belo Horizonte, 15 de abril de 2020.

ANDRÉ FERREIRA DE OLIVEIRA

OAB/MG 198.647
EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE MINAS GERAIS

Agravante: Ministério Publico

Agravado: Christopher Ramis Sousa

Processo nº 0008234-16.2018.8.13.0191

CONTRARRAZÕES DE AGRAVO EM EXECUÇÃO

Egrégio Tribunal de Justiça

Colenda Câmara Criminal

I – Dos fatos

O agravado fora condenado em relação ao art. 157 do CP.

A culta magistrada a quo reconheceu o benefício da progressão do regime para o


semiaberto, bem como, conforme a Recomendação nº 62/2020 do CNJ, a prisão domiciliar.

Sucede-se que, inconformado com a referida decisão, o representante do Ministério


Publico interpôs o Agravo em Execução, no sentido de que inexiste previsão legal para a
concessão de prisão domiciliar para presos em regime semiaberto.

II – Do direito

Em que pese as razões expendidas pelo agravante, a referida decisão merece ser
mantida por seus próprios fundamentos.

Vivemos em uma situação praticamente única, é uma exceção, um vírus que causa
doenças infecciosas, causando problemas respiratórios graves e gerando morte de milhões de
pessoas ao redor do globo.

O CNJ recomenda aos tribunais e magistrados para adoção de medidas preventivas à


propagação do COVID-19 no sistema de justiça penal. Recomenda-se a manutenção da saúde
das pessoas privadas de liberdade, especialmente devido à situação de confinamento e
superlotação nos presídios brasileiros, é essencial para a garantia da saúde coletiva e da
segurança pública. A adoção de medidas para zelar pela saúde dos profissionais que atuam no
sistema de justiça penal e dos condenados que ali estão, vem para manter a continuidade da
prestação de Justiça e contribuir com o combate à pandemia.

O Ministro do STF, Dias Toffoli, ressaltou a importância da medida para atender à


urgência e atipicidade da situação, com parâmetros que podem ser replicados. “Estamos
diante de uma pandemia com efeitos ainda desconhecidos. Mas não há dúvidas quanto à
urgência de medidas imediatas e de natureza preventiva para os sistemas prisional e
socioeducativo, considerando o potencial de contaminação em situação de confinamento de
pessoas que se encontram sob a tutela do Estado. É imperativo que o Judiciário não se
omita e adote uma resposta rápida e uniforme, evitando danos irremediáveis.”

O membro do Parquet aponta que o TJMG e o CNJ não possuem respaldo para
realizar tal ato. Ora, percebe-se o descaso do Ministério Público com a população carcerária,
ao assim declarar.

Data vênia, o Conselho Nacional de Justiça foi consagrado pelo STF, na ADI
3.367/DF, como órgão integrante do Poder Judiciário. A Constituição Federal estabeleceu em
seu art. 103-B, § 4º, I a seguinte atribuição para o CNJ: “zelar pela autonomia do Poder
Judiciário e pelo cumprimento do Estatuto da Magistratura, podendo expedir atos
regulamentares, no âmbito de sua competência, ou recomendar providências”.

Neste mesmo sentido, a ADC 12/DF considerou que “Se o Conselho Nacional de
Justiça, como proclamado pelos integrantes da Corte me antecederam, legislou [...] ele o fez
totalmente à margem das atribuições previstas de forma exaustiva, na Constituição Federal”.

Os ilustríssimos autores Marcos Vinícius Martins Castro e Mariana Mello Santos


acrescentam:

“Ora, analisando o quanto exposto no art. 103-B e o conceito de


poder regulamentar, claro está que os atos expedidos pelo Conselho
deverão explicitar o que já está previsto em lei. Ocorre que não foi
esta a interpretação feita pelo Supremo. Para os Ministros da
Suprema Corte, o ato expedido pelo Conselho detém a mesma força
normativa das leis não havendo assim que se falar em ato meramente
regulamentar, mas em ato normativo primário, já que, assim como
aquelas, extrai seu fundamento diretamente da Constituição”
Conferindo assim, poder normativo primário ao CNJ, pois esclareceu que a
Constituição assim o tinha feito.

Além, o próprio ato de recomendação não é impositivo, sendo de escolha do


magistrado acatar ou não tal recomendação, devendo analisar cada caso. Dentro desta época
de crise em que vivemos, são adotadas medidas atípicas, não havendo qualquer problema com
tal recomendação disponibilizada pelo CNJ. É um vírus que está mudando o mundo.

De acordo com a recomendação do CNJ, o juízo da Execução deverá conceder prisão


domiciliar aos presos do regime aberto e semiaberto a fim de reduzir os riscos de
contaminação e disseminação do vírus COVID-19, em estabelecimentos penais com
ocupação superior à capacidade, que não disponham de equipe de saúde lotada no
estabelecimento, sob ordem de interdição, com medidas cautelares determinadas por
órgão de sistema de Poder Judiciário Conselho Nacional de Justiça jurisdição
internacional, ou que disponham de instalações que favoreçam a propagação do COVID-
19, devendo-se analisar cada caso para conceder o benefício.

Não podemos esquecer que o ambiente prisional que não tem condições
adequadas de higiene, como é o caso do Presídio de Curvelo, se tornando um local apto a
rápida propagação de doenças infecciosas. Os presos do regime semiaberto, em sua maioria,
possuem trabalho externo e podem contrair a doença enquanto laboram e transmiti-la aos
demais acautelados quando se recolhem dentro do estabelecimento prisional. Não podemos
esquecer também dos agentes penitenciários, que possuem um trafego intenso ao entrar e sair
do presidio. Devemos ressaltar que o presídio de Curvelo atualmente sequer conta com
médico para atendimento dentro daquele estabelecimento e que está superlotado. O presídio,
que possui capacidade de lotação de 104 detentos, estava abrigando, na data da inspeção, mais
de 300 presos. Além do mais o Presídio de Curvelo ainda se encontra parcialmente interditado
pelo juízo de Execução Penal.

Segundo entendimento do STJ, o cumprimento de pena em prisão domiciliar por causa


de doença grave pode ser concedido a condenado submetido ao regime aberto e, em casos
especiais, a réu condenado em regime fechado ou semiaberto. Para que o segundo caso
seja possível (réu em regime fechado ou semiaberto), é imprescindível que a defesa do
condenado comprove a impossibilidade da prestação da assistência médica no
estabelecimento prisional.

Ora, Excelências, quer CASO MAIS ESPECIAL DO QUE A PANDEMIA VIVIDO


POR TODOS NÓS? Quer que comprovemos a impossibilidade de assistência medica, já
persistente no atual processo, visto os inúmeros psicotrópicos ingeridos pelo agravado, e a
incompetência médica do Presidio de Curvelo em sanar os problemas psicológicos e físicos
enfrentados pelo agravado.

No informativo 504 do STF, asseverou-se que "a transferência de condenado não


sujeito a regime aberto para cumprimento da pena em regime domiciliar é medida
excepcional, que se apoia no postulado da dignidade da pessoa humana, o qual representa,
considerada a centralidade desse princípio essencial, significativo vetor interpretativo,
verdadeiro valor-fonte que conforma e inspira todo o ordenamento constitucional vigente no
país e que traduz, de modo expressivo, um dos fundamentos em que se assenta a ordem
republicana e democrática consagrada pelo sistema de direito constitucional positivo".

Assim, para se evitar o contágio de uma doença grave e que atingiu patamar de
pandemia, vem requerer a concessão de prisão domiciliar aos presos do regime semiaberto
por tempo indeterminado até que se tenha o mínimo de segurança em relação ao contágio do
Corona vírus.

III – Do pedido

Ante o exposto, pugna a defesa pelo NÃO PROVIMENTO do recurso de agravo,


mantendo a referida decisão que concedeu a prisão domiciliar em razão à pandemia que
vivemos em consequência do COVID-19.

Nestes termos,

Pede deferimento.

Belo Horizonte, 15 de abril de 2020.

ANDRÉ FERREIRA DE OLIVEIRA

OAB/MG 198.647

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