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DIREITO PENAL

CP III B
1º PERÍODO 2021
TEMA 08

Tema 08:
A Execução Penal e seus Incidentes II.
1) As medidas de segurança: diferenças para a pena. Requisitos e espécies.
Verificação de cessação de periculosidade.
2) Das conversões. Do excesso ou desvio. Características.

1ª QUESTÃO:
JOÃO CARLOS foi condenado pela prática de homicídio qualificado e ameaça (arts. 121,
§ 2º, II e 147, CP) às penas de 20 anos, 7 meses e 21 dias de reclusão pelo primeiro e 6
meses de detenção pelo segundo delito.
Transitada em julgado a sentença condenatória e iniciada a execução da pena, sobreveio
doença mental, e foi determinado o recolhimento de JOÃO CARLOS em hospital de
custódia e tratamento psiquiátrico pelo tempo de desconto restante.
O Ministério Público interpôs agravo objetivando que a medida de segurança fosse
limitada à cessação de periculosidade do condenado.
O Tribunal a quo deu provimento ao recurso para fixar o prazo mínimo de 2 anos para a
medida de segurança imposta ao agravado, após o qual deveria o mesmo ser submetido,
anualmente, à perícia médica.
A defesa de JOÃO CARLOS impetra habeas corpus, pugnando pela limitação da medida
de segurança ao tempo que restava da pena privativa de liberdade substituída, sob pena
de ofensa à coisa julgada.
Deve a ordem ser concedida? Fundamente.

RESPOSTA:
STJ
Processo HC 373405 / SP
HABEAS CORPUS 2016/0258480-8
Relator(a) Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA (1131)
Órgão Julgador T6 - SEXTA TURMA
Data do Julgamento 06/10/2016
Data da Publicação/Fonte DJe 21/10/2016
Ementa PENAL E PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS. EXECUÇÃO.
SUPERVENIÊNCIA DE DOENÇA MENTAL. CONVERSÃO DE PENA PRIVATIVA
DE LIBERDADE EM MEDIDA DE SEGURANÇA. INTERNAÇÃO.
MANUTENÇÃO. TEMPO DE CUMPRIMENTO DA PENA EXTRAPOLADO.
CONSTRANGIMENTO ILEGAL. ORDEM CONCEDIDA.
1. Em se tratando de medida de segurança aplicada em substituição à pena corporal,
prevista no art. 183 da Lei de Execução Penal, sua duração está adstrita ao tempo
que resta para o cumprimento da pena privativa de liberdade estabelecida na
sentença condenatória. Precedentes desta Corte.
2. Ordem concedida.

Caso a doença mental fosse preexistente ao cometimento dos crimes, seria aplicável a
Súmula 527 do STJ: “O tempo de duração da medida de segurança não deve
ultrapassar o limite máximo da pena abstratamente cominada ao delito praticado.”

*Gabarito alterado no dia 29/04/2019 em razão do RDA12/2019

2ª QUESTÃO:
CAIO, inimputável, tendo praticado injusto penal punido com detenção, foi absolvido no
Juízo Criminal, que aplicou medida de segurança de internação por um período mínimo
de três anos. Dois anos após o início da execução da medida de segurança, seu advogado
ingressou no Juízo da Execução, pretendendo o seguinte:
- Extinção da punibilidade, tendo em vista que a pena máxima cominada ao injusto penal
praticado era de dois anos, já tendo ele, portanto, cumprido o tempo da pena;
- A antecipação da perícia para verificar a periculosidade do agente.
Pergunta-se:
a) Merecem ser acolhidas tais pretensões?
b) A situação seria diferente se ele fosse semi-imputável?
c) Poderia o Juiz converter a internação em tratamento ambulatorial?
d) Se tivesse cumprido mais tempo de medida de segurança do que a pena máxima
cominada haveria excesso ou desvio na execução?
e) Se CAIO fosse semi-imputável e o juiz tivesse aplicado pena privativa de liberdade, na
fase de execução, poderia haver conversão de pena privativa de liberdade em restritiva de
direitos?

RESPOSTA:
a) A primeira pretensão não deverá ser acolhida, nos termos da Súmula 527; “O tempo
de duração da medida de segurança não deve ultrapassar o limite máximo da pena
abstratamente cominada ao delito praticado”.
Quanto ao segundo requerimento, há previsão na lei, mas exige-se o mínimo de prova de
que realmente não haveria mais necessidade da medida (artigo 176, LEP), e não
simplesmente pelo decurso do tempo da pena privativa de liberdade.
b) Seria. Proceder-se-ia à aplicação da pena pelo crime praticado e, em face da semi-
imputabilidade, seria ela reduzida de 1/3 a 2/3, concretizando-se assim neste patamar.
Caso o condenado necessitasse de especial tratamento curativo, esta pena poderia ser
substituída por internação, a tratamento ambulatorial, pelo prazo mínimo de 1 a 3 anos
(confira-se arts. 26, parágrafo único e 98 do CP).
c) No capítulo das conversões, só há previsão expressa de conversão de tratamento
ambulatorial para internação (artigo 184 da LEP). Ao juiz, no momento da aplicação da
medida de segurança, é facultado não aplicar a internação, mas tratamento ambulatorial,
se o injusto penal é punido com detenção (artigo 97 do CP). No entanto, a doutrina admite
que, se o juiz do processo de conhecimento com base nos autos, pode fazer esta aplicação,
com muito maior razão, o juiz da execução, que acompanha a evolução da internação
pode verificar que não há mais necessidade de permanecer o paciente internado,
convertendo a medida em tratamento ambulatorial.
d) O excesso ou desvio na execução se aplica quando houver a prática de qualquer ato
fora dos limites fixados pela sentença condenatória (artigo 185 da LEP), ou seja, a
sentença que aplica pena (seja qual for a espécie). Se a hipótese é de medida de segurança,
que não segue o mesmo tempo da pena, não cabe este incidente na execução.
e) O juiz da execução pode converter a pena privativa de liberdade em restritiva de
direitos, de acordo com o artigo 180 da LEP. No entanto, analisando os requisitos deste
artigo, chega-se à conclusão de que este dispositivo ficou praticamente sem aplicação
com a nova redação dada ao CP no que toca às penas restritivas de direito, tendo em vista
a ampliação de sua aplicação.
É importante também lembrar:
Que a conversão da pena restritiva de direitos em privativa de liberdade da LEP sofreu
alteração com a Lei 9714/98.
Que a conversão da pena em medida de segurança (artigo 183 da LEP) é extremamente
prejudicial ao réu, uma vez que havendo superveniência de doença mental, é possível
simplesmente a transferência para hospital de tratamento psiquiátrico, aplicando-se a
detração (artigo 108 da LEP e 41 do CP).
*Gabarito da letra "a" alterado em razão do RDA08/2018
DIREITO PENAL
CP III B
1º PERÍODO 2021
TEMA 09

Tema 09:
Extinção da Punibilidade I.
1) Considerações gerais: conceito de punibilidade. A extinção da punibilidade e as
condições objetivas de punibilidade.
2) Causas extintivas da punibilidade:
a) A morte do agente;
b) A anistia, a graça e o indulto;
c) Abolitio Criminis;
d) A retratação do agente;
e) A perempção;
f) O perdão judicial;
g) Outras causas não previstas no artigo 107 do CP.

1ª QUESTÃO:
No dia 15 de julho de 2010, o juiz de uma determinada Vara Criminal da Comarca da
Capital recebeu petição do advogado de um réu em processo por crime de roubo com
emprego de arma. Em anexo, cópia autenticada de uma certidão atestou o óbito do
acusado.
Em razão da notícia, o juiz, após remessa dos autos ao Ministério Público, declarou
extinta a punibilidade do agente, nos termos do artigo 62 do Código de Processo Penal,
em conjugação com o artigo 107, I do Código Penal.
Semanas depois, já transitada em julgado a decisão, o juiz recebeu ofício da Chefia da
Polícia Civil em que se relatava relatando que o "morto" havia sido preso, em flagrante,
pelo crime de tráfico de entorpecentes, durante uma operação de inteligência policial.
Você, como juiz, e seguindo a orientação dos Tribunais Superiores, o que faria? Por quê?
RESPOSTA:
STJ
Processo: HC 286575 / MG HABEAS CORPUS 2014/0004632-4
Relator(a): Ministro FELIX FISCHER (1109)
Órgão Julgador: T5 - QUINTA TURMA
Data do Julgamento: 04/11/2014
Data da Publicação/Fonte: DJe 17/11/2014
Ementa: PENAL. HABEAS CORPUS SUBSTITUTIVO DE RECURSO ESPECIAL.
NÃO CABIMENTO. NE REFORMATIO IN PEJUS INDIRETA. INOCORRÊNCIA.
REGIME PRISIONAL IDÊNTICO AO FIXADO NA PRIMEIRA SENTENÇA.
NOVOS FUNDAMENTOS. POSSIBILIDADE. APLICAÇÃO DO REDUTOR DO § 4º,
DO ART. 33, DA LEI N. 11.343/06. IMPOSSIBILIDADE. REINCIDÊNCIA. HABEAS
CORPUS NÃO CONHECIDO.
I - A Primeira Turma do col. Pretório Excelso firmou orientação no sentido de não admitir
a impetração de habeas corpus substitutivo ante a previsão legal de cabimento de recurso
ordinário (v.g.: HC n. 109.956/PR, Rel. Min. Marco Aurélio, DJe de 11/9/2012; RHC n.
121.399/SP, Rel. Min. Dias Toffoli, DJe de 1º/8/2014 e RHC n. 117.268/SP, Rel. Ministra
Rosa Weber, DJe de 13/5/2014). As Turmas que integram a Terceira Seção desta Corte
alinharam-se a esta dicção, e, desse modo, também passaram a repudiar a utilização
desmedida do writ substitutivo em detrimento do recurso adequado (v.g.: HC n.
284.176/RJ, Quinta Turma, Rel. Ministra Laurita Vaz, DJe de 2/9/2014; HC n.
297.931/MG, Quinta Turma, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, DJe de 28/8/2014; HC n.
293.528/SP, Sexta Turma, Rel. Min. Nefi Cordeiro, DJe de 4/9/2014 e HC n.
253.802/MG, Sexta Turma, Rel. Ministra Maria Thereza de Assis Moura, DJe de
4/6/2014).
II - Portanto, não se admite mais, perfilhando esse entendimento, a utilização de habeas
corpus substitutivo quando cabível o recurso próprio, situação que implica o não-
conhecimento da impetração. Contudo, no caso de se verificar configurada flagrante
ilegalidade apta a gerar constrangimento ilegal, recomenda a jurisprudência a concessão
da ordem de ofício.
III - Não há que se falar, in casu, em violação ao princípio da ne reformatio in pejus
indireta, haja vista que a pena estabelecida na primeira sentença foi reproduzida no
terceiro decisum, além de mantido o regime inicial lá estabelecido, qual seja, o fechado,
com novo fundamento, dada a reincidência do paciente.
IV - No caso, o paciente teve reconhecida em seu favor a primariedade e a minorante
do § 4º do art. 33, da Lei n. 11.343/06, na primeira sentença, em razão de ter se
identificado como Jeferson Vieira Gonzaga, cidadão primário e de bons
antecedentes, embora de fato fosse Ricardo Dumont Braga Júnior. Tal
circunstância, referente ao estado da pessoa, assemelha-se em tudo e por tudo com
a hipótese da declaração de extinção da punibilidade fundada em certidão de óbito
falsa, situação em que a jurisprudência remansosa do Pretório Excelso reconhece
ser inexistente a decisão que a decreta. (Precedentes do STF).
V - O paciente utilizou-se de nome falso para ocultar seus antecedentes criminais e
obter uma situação mais favorável quando da prolação da sentença. Revelado o
ardil, não pode ele invocar em seu favor o princípio da ne reformatio in pejus, uma
vez que a primeira sentença, cujos fundamentos foram estabelecidos tomando-se por
base a pessoa de Jeferson Vieira Gonzaga, é inexistente. Habeas corpus não conhecido.

STF
HC 104998/ SP - SÃO PAULO
HABEAS CORPUS
Relator(a): Min. DIAS TOFFOLI
Julgamento: 14/12/2010
Órgão Julgador: Primeira Turma
Publicação: DJe-085 DIVULG 06-05-2011 PUBLIC 09-05-2011
EMENT VOL-02517-01 PP-00083
RTJ VOL-00223-01 PP-00401
Parte(s)
RELATOR : MIN. DIAS TOFFOLI
PACTE.(S) : IVANILDO CANUTO SOARES
IMPTE.(S) : MARCELO MARTINS FERREIRA E OUTRO(A/S)
COATOR(A/S)(ES) : SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
Ementa
EMENTA "HABEAS CORPUS. PROCESSUAL PENAL. EXTINÇÃO DA
PUNIBILIDADE AMPARADA EM CERTIDÃO DE ÓBITO FALSA. DECISÃO
QUE RECONHECE A NULIDADE ABSOLUTA DO DECRETO E DETERMINA
O PROSSEGUIMENTO DA AÇÃO PENAL. INOCORRÊNCIA DE REVISÃO
PRO SOCIETATE E DE OFENSA À COISA JULGADA. PRONÚNCIA.
ALEGADA INEXISTÊNCIA DE PROVAS OU INDÍCIOS SUFICIENTES DE
AUTORIA EM RELAÇÃO A CORRÉU. INVIABILIDADE DE REEXAME DE
FATOS E PROVAS NA VIA ESTREITA DO WRIT CONSTITUCIONAL.
CONSTRANGIMENTO ILEGAL INEXISTENTE. ORDEM DENEGADA.
1. A decisão que, com base em certidão de óbito falsa, julga extinta a punibilidade
do réu pode ser revogada, dado que não gera coisa julgada em sentido estrito.
2. Não é o habeas corpus meio idôneo para o reexame aprofundado dos fatos e da
prova, necessário, no caso, para a verificação da existência ou não de provas ou
indícios suficientes à pronúncia do paciente por crimes de homicídios que lhe são
imputados na denúncia. 3. Habeas corpus denegado.

2ª QUESTÃO:
Em 2008, SAULO foi condenado pela conduta tipificada no artigo 214, caput, combinado
com o art. 224, "a", ambos do Código Penal (*).
Com o advento da Lei n.º 12.015, de 07 de agosto de 2009, que excluiu do texto legal
esses dispositivos, SAULO pretende o reconhecimento da abolitio criminis.
A referida pretensão deverá ser acolhida? Fundamente a sua resposta.

(*) Art. 214, caput do CP: "Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a
praticar ou permitir que com ele se pratique ato libidinoso diverso da conjunção carnal".
Art. 224, "a" do CP: "Art. 224 - Presume-se a violência, se a vítima: a) não é maior de
catorze anos".

RESPOSTA:
STJ
Processo: HC 253963 / RS HABEAS CORPUS 2012/0191835-0
Relator(a): Ministra LAURITA VAZ (1120)
Órgão Julgador: T5 - QUINTA TURMA
Data do Julgamento: 11/03/2014
Data da Publicação/Fonte: DJe 26/03/2014
Ementa: HABEAS CORPUS SUBSTITUTIVO DE RECURSO ESPECIAL.
RESSALVA DO ENTENDIMENTO PESSOAL DA RELATORA. PENAL. CRIME DE
ATENTADO VIOLENTO AO PUDOR. VIOLÊNCIA PRESUMIDA. VÍTIMAS
MENORES DE 14 ANOS. SUPERVENIÊNCIA DA LEI N.º 12.015/2009. ABOLITIO
CRIMINIS. INEXISTÊNCIA. PRINCÍPIO DA CONTINUIDADE NORMATIVA.
PLEITO DE APLICAÇÃO RETROATIVA DA NOVA LEI. CARÊNCIA DE OBJETO.
CAUSA ESPECIAL DE AUMENTO DE PENA DO ART. 226, INCISO II, DO
CÓDIGO PENAL. RELAÇÃO BASEADA NA AUTORIDADE DO SUJEITO ATIVO
SOBRE AS VÍTIMAS. INCIDÊNCIA DA MAJORANTE. ORDEM DE HABEAS
CORPUS NÃO CONHECIDA.
1. A Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal e ambas as Turmas desta Corte, após
evolução jurisprudencial, passaram a não mais admitir a impetração de habeas corpus em
substituição ao recurso ordinário, nas hipóteses em que esse último é cabível, em razão
da competência do Pretório Excelso e deste Superior Tribunal tratar-se de matéria de
direito estrito, prevista taxativamente na Constituição da República.
2. Esse entendimento tem sido adotado pela Quinta Turma do Superior Tribunal de
Justiça, com a ressalva da posição pessoal desta Relatora, também nos casos de utilização
do habeas corpus em substituição ao recurso especial, sem prejuízo de, eventualmente, se
for o caso, deferir-se a ordem de ofício, em caso de flagrante ilegalidade.
3. Diante do princípio da continuidade normativa, descabe falar em abolitio criminis
do delito de estupro com presunção de violência, anteriormente previsto no art. 213,
c.c. o art. 224, ambos do Código Penal. Com efeito, o advento da Lei n.º 12.015/2009
apenas condensou a tipificação das condutas de estupro e atentado violento ao pudor
no art. 213 do Estatuto repressivo. Outrossim, a anterior combinação com o art. 224
agora denomina-se "estupro de vulnerável", capitulada no art. 217-A do Código
Penal.
4. A aplicação retroativa da Lei n.º 12.015/2009 em nada beneficia o Paciente, pois ao
delito de estupro de vulnerável prevista no art. 217-A do Código Penal é prevista a pena
mínima de 08 anos de reclusão, mais severa do que aquela cominada ao Paciente em razão
da aplicação do art. 213, c.c. o art. 224 do Estatuto repressivo.
5. A causa especial de aumento de pena do art. 226, inciso II, do Código Penal, mesmo
antes da edição da Lei n.º 11.106/05, deve incidir sempre que restar comprovada a relação
de autoridade, por qualquer motivo, entre o Réu e a vítima.
6. No caso restou incontroversa a autoridade que o Paciente possuía sobre as vítimas, bem
como a relação entre os sujeitos ativo e passivo do crime, uma vez que ele exercia
socialmente a função de padrasto dos menores.
7. Ordem de habeas corpus não conhecida.

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