Você está na página 1de 75

DIREITO PENAL

CP e CPP

DIREITO PENAL

ART. 1º - APLICAÇÃO DA LEI PENAL

Houve abolitio criminis em relação às condutas previstas na


revogada lei de segurança nacional?

Quando determinada conduta típica (e suas elementares) permanece


descrita na nova lei penal, com a manutenção do caráter proibido da conduta, há a
configuração do fenômeno processual penal da continuidade normativo-típica.

Na hipótese, o legislador não pretendeu abolir as condutas atentatórias à


democracia, ao Estado de Direito e ao livre exercício dos poderes. Na realidade,
aprimorou, sob o manto democrático, a defesa do Estado, de suas instituições e de
seus poderes.

Observa-se, assim, a ocorrência de continuidade normativo-típica entre as


condutas previstas nos arts. 18 e 23, IV, da Lei 7.170/1983 e a conduta prevista no art.
359-L do CP (com redação dada pela Lei 14.197/2021), bem como entre a conduta
prevista no art. 23, II, da Lei 7.170/1983 e o conduta típica prevista no art. 286,
parágrafo único, do CP, com redação dada pela Lei 14.197/2021.

STF. Plenário. AP 1044/DF, relator Min. Alexandre de Moraes, julgamento


em 20.4.2022 (Info 1.051).

ART. 16, CP – ARREPENDIMENTO POSTERIOR

Art. 16 Nos crimes cometidos sem violência ou grave ameaça à pessoa,


reparado o dano ou restituída a coisa, até o recebimento da denúncia ou da
queixa, por ato voluntário do agente, a pena será reduzida de um a dois terços.

1) É possível reconhecer o arrependimento posterior com a


reparação parcial do dano?

A incidência do arrependimento posterior, contido no art. 16 do CP


prescinde da reparação total do dano e o balizamento, quanto à diminuição da pena
decorrente da aplicação do instituto, está na extensão do ressarcimento, bem como na
presteza com que ele ocorre.

ATENÇÃO: Doutrina e STJ entendem que a reparação deve ser integral.

1
STF. 1ª Turma. HC 98.658/PR, rel. Min. Marco Aurélio, julgado em
9/11/2010 (Info 608).

--

2) O Réu que faz o pagamento da parte principal do dano antes do


recebimento da denúncia, mas dos encargos acessórios (juros e correção)
durante o trâmite da ação faz jus ao arrependimento posterior?

É possível o reconhecimento da causa de diminuição de pena prevista no


art. 16 do Código Penal (arrependimento posterior) para o caso em que o agente fez o
ressarcimento da dívida principal (efetuou a reparação da parte principal do dano)
antes do recebimento da denúncia, mas somente pagou os valores referentes aos juros
e correção monetária durante a tramitação da ação penal.

Nas exatas palavras do STF: “É suficiente que ocorra arrependimento,


uma vez reparada parte principal do dano, até o recebimento da inicial acusatória,
sendo inviável potencializar a amplitude da restituição.”

STF. 1ª Turma. HC 165312, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em


14/04/2020 (Info 973).

ART. 33, CP

Art. 33. A pena de reclusão deve ser cumprida em regime fechado, semiaberto
ou aberto. A de detenção, em regime semiaberto, ou aberto, salvo necessidade
de transferência a regime fechado. § 1º - Considera-se: a) regime fechado a
execução da pena em estabelecimento de segurança máxima ou média; b)
regime semiaberto a execução da pena em colônia agrícola, industrial ou
estabelecimento similar; c) regime aberto a execução da pena em casa de
albergado ou estabelecimento adequado. § 2º - As penas privativas de
liberdade deverão ser executadas em forma progressiva, segundo o mérito do
condenado, observados os seguintes critérios e ressalvadas as hipóteses de
transferência a regime mais rigoroso: a) o condenado a pena superior a 8 (oito)
anos deverá começar a cumpri-la em regime fechado; b) o condenado não
reincidente, cuja pena seja superior a 4 (quatro) anos e não exceda a 8 (oito),
poderá, desde o princípio, cumpri-la em regime semiaberto; c) o condenado
não reincidente, cuja pena seja igual ou inferior a 4 (quatro) anos, poderá,
desde o início, cumpri-la em regime aberto. § 3º - A determinação do regime
inicial de cumprimento da pena far-se-á com observância dos critérios previstos
no art. 59 deste Código.

Fixação de regime menos gravoso: princípio da insignificância e


reincidência

A Primeira Turma, por maioria, concedeu ordem de “habeas corpus” para


fixar o regime de cumprimento de pena semiaberto a condenado reincidente por crime
de furto simples. O paciente foi condenado por furto simples a um ano e quatro meses
de reclusão, em regime inicial fechado. A defesa postulou a aplicação do regime aberto
2
com base no princípio da insignificância, considerado o objeto furtado ter sido apenas
uma garrafa de licor.

Para o colegiado, o regime semiaberto é o mais plausível para o paciente.


De um lado, o regime fechado deve ser afastado. Por outro, o aberto não beneficia
condenado reincidente, uma vez que esse regime pode se tornar um incentivo à
criminalidade, mais ainda em cidades menores, onde o furto é, via de regra, perpetrado
no mesmo estabelecimento. A reincidência delitiva do paciente, que praticou o quinto
furto em pequeno município, eleva a gravidade subjetiva de sua conduta.

HC 136385/SC, rel. Min. Alexandre de Moraes, julgamento em 7/8/2018.


(Info 910).

ART. 51, CP

Art. 51 - Transitada em julgado a sentença condenatória, a multa será


considerada dívida de valor, aplicando-se-lhes as normas da legislação relativa
à dívida ativa da Fazenda Pública, inclusive no que concerne às causas
interruptivas e suspensivas da prescrição.

De quem é a legitimidade para execução da multa decorrente de


sentença penal condenatória?

O STF, julgou parcialmente procedente o pedido formulado em ação


direta de inconstitucionalidade ajuizada em face do art. 51 do CP e resolveu questão de
ordem em ação penal no sentido de assentar a legitimidade do MP para propor a
cobrança de multa decorrente de sentença penal condenatória transitada em julgado,
com a possibilidade subsidiária de cobrança pela Fazenda Pública, em interpretação
conforme à constituição.

3
A legitimação prioritária para a execução da multa penal é do MP,
perante a vara de execuções penais. Entretanto, caso o titular da ação penal,
devidamente intimado, não proponha a execução da multa no prazo de noventa
dias, o juiz da execução criminal deverá dar ciência do feito ao órgão competente
da Fazenda Pública (federal ou estadual, conforme o caso) para a respectiva
cobrança na própria vara de execução fiscal, com a observância do rito da Lei
6.830/1980.

A Súmula 521 do STJ, após a decisão, deve cair (A legitimidade para a


execução fiscal de multa pendente de pagamento imposta em sentença condenatória é
exclusiva da Procuradoria da Fazenda Pública).

ADI 3150/DF, rel. Min. Marco Aurélio, julgamento em 12 e 13.12.2018


(Info 927).

ART. 59, CP – DOSIMETRIA DA PENA

1) A circunstância “consequências do crime” pode ser aumentada


em decorrência dos custos da investigação do crime pelo Estado e
enriquecimento do Réu?

Os elevados custos da atuação estatal para apuração da conduta


criminosa e o enriquecimento ilícito obtido pelo agente não constituem motivação
idônea para a valoração negativa do vetor "consequências do crime" na 1ª fase da
dosimetria da pena. Em outras palavras, o fato de o Estado ter gasto muitos recursos
para investigar os crimes (no caso, era uma grande operação policial) e de o réu ter
obtido enriquecimento ilícito com as práticas delituosas não servem como motivo para
aumentar a pena-base.

STF. 2ª Turma. HC 134193/GO, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em


26/10/2016 (Info 845).

--

2) Condenações anteriores podem ser utilizadas como conduta


social desfavorável?

A circunstância judicial "conduta social", prevista no art. 59 do Código


Penal, representa o comportamento do agente no meio familiar, no ambiente de
trabalho e no relacionamento com outros indivíduos. Os antecedentes sociais do réu
não se confundem com os seus antecedentes criminais. São circunstâncias distintas,
com regramentos próprios. Assim, não se mostra correto o magistrado utilizar as
condenações anteriores transitadas em julgado como "conduta social desfavorável".

4
STF. 2ª Turma. RHC 130132, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em
10/5/2016 (Info 825).

ART. 63, CP - REINCIDÊNCIA

Admite-se a extração de informações de sítios eletrônicos de sites


de tribunais para aferição da reincidência?

Para fins de comprovação da reincidência, é necessária documentação


hábil que traduza o cometimento de novo crime depois de transitar em julgado a
sentença condenatória por crime anterior, mas não se exige, contudo, forma específica
para a comprovação. Desse modo, é possível que a reincidência do réu seja
demonstrada com informações processuais extraídas dos sítios eletrônicos dos
tribunais.

S. 636, STJ: A folha de antecedentes criminais é documento suficiente a


comprovar os maus antecedentes e a reincidência. O julgado foi além da súmula.

STJ. 5ª Turma. AgRg no HC 448.972/SP, Rel. Min. Reynaldo Soares da


Fonseca, julgado em 16/08/2018.

STF. 1ª Turma. HC 162548 AgR/SP, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em


16/6/2020 (Info 982).

ART. 71, CP – CONTINUIDADE DELITIVA

Art. 71. Quando o agente, mediante mais de uma ação ou omissão, pratica dois
ou mais crimes da mesma espécie e, pelas condições de tempo, lugar, maneira
de execução e outras semelhantes, devem os subsequentes ser havidos como
continuação do primeiro, aplica-se-lhe a pena de um só dos crimes, se
idênticas, ou a mais grave, se diversas, aumentada, em qualquer caso, de um
sexto a dois terços.

Há continuidade delitiva entre roubo e extorsão?

Não há continuidade delitiva entre os crimes de roubo e extorsão, ainda


que praticados em conjunto. Isso porque, os referidos crimes, apesar de serem da
mesma natureza, são de espécies diversas. STJ. 5ª Turma. HC 435.792/SP, Rel. Min.
Ribeiro Dantas, julgado em 24/05/2018.

Para que haja continuidade é indispensável que os crimes sejam


previstos no mesmo dispositivo legal e protejam o mesmo bem jurídico.

STF. 1ª Turma. HC 114667/SP, rel. Min. Roberto Barroso, julgado em


24/4/2018 (Info 899).

5
Não há como reconhecer a continuidade delitiva entre os crimes de roubo
e o de latrocínio porquanto são delitos de espécies diversas, já que tutelam bens
jurídicos diferentes.

STJ. 5ª Turma. AgInt no AREsp 908.786/PB, Rel. Min. Felix Fischer,


julgado em 06/12/2016.

PRESCRIÇÃO

Art. 112 - No caso do art. 110 deste Código, a prescrição começa a correr: I -
do dia em que transita em julgado a sentença condenatória, para a acusação,
ou a que revoga a suspensão condicional da pena ou o livramento condicional;
II - do dia em que se interrompe a execução, salvo quando o tempo da
interrupção deva computar-se na pena. 

1) Qual o marco interruptivo da prescrição: TJ para a acusação ou


para ambas as partes?

A prescrição da pretensão executória, no que pressupõe quadro a revelar


a possibilidade de execução da pena, tem como marco inicial o trânsito em julgado,
para ambas as partes, da condenação. Logo, enquanto não proclamada a inadmissão
de recurso de natureza excepcional, tem-se o curso da prescrição da pretensão
punitiva, e não a da pretensão executória.

ATENÇÃO: Há afetação da discussão à sistemática da repercussão geral


(Tema 788).

STF. Plenário. AI n. 794.971/RJ-AgR, rel. Min. Marco Aurélio, julgado em


28/06/21.

STF. 1ª Turma. ARE 1301223 AgR-ED, rel. Min. Dias Toffoli, julgado em
28/03/2022.

--

2) Qual o momento de aferição da idade de 70 anos para redução do


prazo prescricional?

Art. 115. São reduzidos de metade os prazos de prescrição quando o criminoso


era, ao tempo do crime, menor de 21 (vinte e um) anos, ou, na data da
sentença, maior de 70 (setenta) anos.

Para que incida a redução do prazo prescricional prevista no art. 115 do


CP, é necessário que, no momento da sentença, o condenado possua mais de 70
anos. Se ele só completou a idade após a sentença, não terá direito ao benefício,
mesmo que isso tenha ocorrido antes do julgamento de apelação interposta contra a
sentença. Existe, no entanto, uma situação em que o condenado será beneficiado pela
6
redução do art. 115 do CP mesmo tendo completado 70 anos após a sentença: isso
ocorre quando o condenado opõe embargos de declaração contra o acórdão
condenatório e esses embargos são conhecidos. Nesse caso, o prazo prescricional
será reduzido pela metade se o réu completar 70 anos até a data do julgamento dos
embargos. Nesse sentido: STF. Plenário. AP 516 ED/DF, rel. orig. Min. Ayres Britto,
red. p/ o acórdão Min. Luiz Fux, julgado em 5/12/2013 (Info 731).

Ex.: João, com 69 anos, foi condenado, em 1ª instância, no dia


02/02/2010. O condenado opôs embargos de declaração. O juiz conheceu dos
embargos, mas os julgou improvidos em 05/05/2010, mantendo a sentença. Nesta
data, o condenado já tinha mais de 70 anos. O réu terá direito ao art. 115 do CP? SIM.
O STF admite a redução do prazo prescricional pela metade quando o réu completa 70
anos após a sentença condenatória, mas antes de terem sido julgados os embargos de
declaração opostos contra a decisão (se conhecidos). Isso porque se entende que a
decisão dos embargos íntegra a sentença.

STF. 2ª Turma. HC 129696/SP, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em


19/4/2016 (Info 822).

--

3) Acórdão que confirma ou reduz a condenação gera a interrupção


da prescrição?

Nos termos do inciso IV do artigo 117 do Código Penal, o acórdão


condenatório sempre interrompe a prescrição, inclusive quando confirmatório da
sentença de 1º grau, seja mantendo, reduzindo ou aumentando a pena anteriormente
imposta.

O acórdão confirmatório da sentença implica a interrupção da prescrição.


A prescrição é, como se sabe, o perecimento da pretensão punitiva ou da pretensão
executória pela inércia do próprio Estado. No art. 117 do Código Penal que deve ser
interpretado de forma sistemática todas as causas interruptivas da prescrição
demonstram, em cada inciso, que o Estado não está inerte. Não obstante a posição de
parte da doutrina, o Código Penal não faz distinção entre acórdão condenatório inicial e
acórdão condenatório confirmatório da decisão. Não há, sistematicamente, justificativa
para tratamentos díspares. A ideia de prescrição está vinculada à inércia estatal e o
que existe na confirmação da condenação é a atuação do Tribunal.
Consequentemente, se o Estado não está inerte, há necessidade de se interromper a
prescrição para o cumprimento do devido processo legal.

STF. Plenário. HC 176473/RR, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado


em 27/04/2020.

7
STJ. 3ª Seção. REsp 1.930.130-MG, Rel. Min. João Otávio de Noronha,
por unanimidade, julgado em 10/08/2022 (Recurso Repetitivo - Tema 1.100) (Info 744).

ART. 121, CP

1) Dirigir alcoolizado na contramão caracteriza dolo eventual?

Verifica-se a existência de dolo eventual no ato de dirigir veículo


automotor sob a influência de álcool, além de fazê-lo na contramão. Esse é, portanto,
um caso específico que evidencia a diferença entre a culpa consciente e o dolo
eventual. O condutor assumiu o risco ou, no mínimo, não se preocupou com o risco de,
eventualmente, causar lesões ou mesmo a morte de outrem.

STF. 1ª Turma. HC 124687/MS, rel. Min. Roberto Barroso, julgado em


29/5/2018 (Info 904).

IMPORTANTE: Vale ressaltar, no entanto, que o simples fato do condutor


do veículo estar embriagado não gera a presunção de que tenha havido dolo eventual:
A embriaguez do agente condutor do automóvel, por si só, não pode servir de premissa
bastante para a afirmação do dolo eventual em acidente de trânsito com resultado
morte. STJ. 6ª Turma. REsp 1.689.173-SC, Rel. Min. Rogério Schietti Cruz, julgado em
21/11/2017 (Info 623).

--

2) Dolo eventual é compatível com a qualificadora da traição,


emboscada?

O dolo eventual não se compatibiliza com a qualificadora do art. 121, § 2º,


IV (traição, emboscada, dissimulação).

STF. 2ª Turma. HC 111.442/RS, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em


28/8/2012 (Info 677).

ARTS. 138 A 145 - CRIMES CONTRA A HONRA

Configura difamação a conduta de editar um vídeo com o discurso


da vítima?

Configura difamação a conduta do agente que publica vídeo de um


discurso no qual a frase completa do orador é editada, transmitindo a falsa ideia de que
ele estava falando mal de negros e pobres. A edição de um vídeo ou áudio tem como
objetivo guiar o espectador e, quando feita com o objetivo de difamar a honra de uma
pessoa, configura dolo da prática criminosa. Vale ressaltar que esta conduta do agente,
8
ainda que praticada por Deputado Federal, não estará protegida pela imunidade
parlamentar.

STF. 1ª Turma. AP 1021/DF, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 18/8/2020


(Info 987).

ART. 140 – INJÚRIA RACIAL

O crime de injúria racial é prescritível?

O crime de injúria racial, espécie do gênero racismo, é imprescritível.

A prática de injuria racial, prevista no art. 140, § 3º, do CP, traz em seu
bojo o emprego de elementos associados aos que se definem como raça, cor, etnia,
religião ou origem para se ofender ou insultar alguém. Consistindo o racismo em
processo sistemático de discriminação que elege a raça como critério distintivo para
estabelecer desvantagens valorativas e materiais, a injúria racial consuma os objetivos
concretos da circulação de estereótipos e estigmas raciais.

Nesse sentido, é insubsistente a alegação de que há distinção ontológica


entre as condutas previstas na Lei 7.716/1989 e aquela constante do art. 140, § 3º, do
CP. Em ambos os casos, há o emprego de elementos discriminatórios baseados
naquilo que sociopoliticamente constitui raça, para a violação, o ataque, a supressão
de direitos fundamentais do ofendido. Sendo assim, excluir o crime de injúria racial do
âmbito do mandado constitucional de criminalização por meras considerações
formalistas desprovidas de substância, por uma leitura geográfica apartada da busca
da compreensão do sentido e do alcance do mandado constitucional de criminalização,
é restringir-lhe indevidamente a aplicabilidade, negando-lhe vigência.

STF. Plenário. HC 154248/DF, relator Min. Edson Fachin, julgamento em


28.10.2021 (Info 1.036).

ART. 148, CP – SEQUESTRO OU CÁRCERE PRIVADO

Qual é o marco inicial do prazo prescricional do crime de sequestro?

O crime de sequestro, por ser permanente, não prescreve enquanto não


for encontrada a pessoa ou o corpo. Assim, se o Estado requerer a extradição de
determinado indivíduo pelo crime de sequestro, se a vítima ou o corpo nunca foi
encontrado, não terá começado a correr o prazo prescricional.

STF. 1ª Turma. Ext 1270/DF, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em


12/12/2017 (Info 888).

9
ART. 157 - ROUBO

Qual crime cometido pelo agente que é funcionário de uma empresa


e combina com outro indivíduo para que este simule que o assalta com uma arma
de fogo e, dessa forma, leve o dinheiro da empresa?

João trabalhava em uma empresa, sendo responsável por receber


pagamentos em dinheiro e levá-los para depósito no banco. João combinou com Pedro
um plano criminoso. No dia do pagamento, Pedro entraria na empresa, supostamente
ameaçaria João (seu comparsa oculto), que a ele entregaria o dinheiro. Depois, os dois
dividiriam a quantia subtraída. Assim, no dia dos fatos, Pedro, já sabendo que havia
entrado uma grande soma em dinheiro, chegou na empresa e, simulando portar arma
de fogo, exigiu que João e Ricardo (outro funcionário da empresa que não sabia do
plano) entregassem o dinheiro, o que foi feito. Posteriormente, a polícia conseguiu
prender Pedro, que confessou todo o plano criminoso. João e Pedro praticaram roubo
majorado, e não estelionato.

O roubo é um crime complexo, cuja estrutura típica exige a realização da


subtração patrimonial mediante violência ou grave ameaça à pessoa. O fato de o
assalto envolver situação forjada entre a suposta vítima e o corréu não viabiliza a
ocorrência de estelionato, pois a caracterização do roubo não pressupõe a efetiva
intenção do agente de realizar o mal prometido. Basta que a forma utilizada para a
subtração da coisa alheia móvel seja revestida de aptidão a causar fundado temor ao
ofendido. Nesse sentido, a ameaça praticada pela simulação do porte de arma de fogo
constitui meio idôneo a aterrorizar. A circunstância de não ter o réu João feito grave
ameaça contra a vítima não é relevante, considerando a vinculação subjetiva com o
corréu, a configurar o concurso de agentes, legitimando sejam os fatos, em relação a
ambos os acusados, enquadrados no tipo de penal de roubo, observado o art. 29 do
CP.

STF. 1ª Turma. HC 147584/RJ, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em


2/6/2020 (Info 980).

ART. 157, §3º - LATROCÍNIO

Art. 157 (...) § 3º Se da violência resulta lesão corporal grave, a pena é de


reclusão, de sete a dezoito anos, além da multa; se resulta morte, a reclusão é
de vinte a trinta anos, sem prejuízo da multa.

1) Agente que não disparou o tiro responde pelo latrocínio cometido


pelo comparsa?
10
Aquele que se associa a comparsa para a prática de roubo, sobrevindo a
morte da vítima, responde pelo crime de latrocínio, ainda que não tenha sido o autor do
disparo fatal ou que sua participação se revele de menor importância. Ex: João e Pedro
combinaram de roubar um carro utilizando arma de fogo. Eles abordaram, então,
Ricardo e Maria quando o casal entrava no veículo que estava estacionado. Os
assaltantes levaram as vítimas para um barraco no morro. Pedro ficou responsável por
vigiar o casal no cativeiro enquanto João realizaria outros crimes utilizando o carro
subtraído. Depois de João ter saído, Ricardo e Maria tentaram fugir e Pedro atirou nas
vítimas, que acabaram morrendo. João pretendia responder apenas por roubo
majorado (art. 157, § 2º, I e II) alegando que não participou nem queria a morte das
vítimas, devendo, portanto, ser aplicado o art. 29, § 2º do CP. O STF, contudo, não
acatou a tese. Isso porque João assumiu o risco de produzir resultado mais grave,
ciente de que atuava em crime de roubo, no qual as vítimas foram mantidas em cárcere
sob a mira de arma de fogo.

STF. 1ª Turma. RHC 133575/PR, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em


21/2/2017 (Info 855).

--

2) Qual a tipificação quando houver uma subtração e mais de um


resultado morte?

Carlos e Luiza estão entrando no carro quando são rendidos por João,
assaltante armado, que deseja subtrair o veículo. Carlos acaba reagindo e João atira
contra ele e Luiza, matando o casal. João foge levando o carro. Haverá dois crimes de
latrocínio em concurso formal de ou um único crime de latrocínio? STJ: concurso formal
impróprio. STF e doutrina majoritária: um único crime de latrocínio.

STJ: ocorrendo uma única subtração, porém com duas ou mais mortes,
haverá concurso formal impróprio de latrocínios.

STF: sendo atingido um único patrimônio, haverá apenas um crime de


latrocínio, independentemente do número de pessoas mortas. O número de vítimas
deve ser levado em consideração na fixação da pena-base (art. 59 do CP). É a posição
também da doutrina majoritária.

Consumação latrocínio

Subtração Morte Latrocínio

Consumada Consumada Consumado

Tentada Tentada Tentado

Consumada Tentada Tentado


11
Tentada Consumada Consumado

STJ. 5ª Turma. HC 336.680/PR, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em


17/11/2015.

STF. 1ª Turma. RHC 133575/PR, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em


21/2/2017 (Info 855).

ART. 171, CP - ESTELIONATO

A exigência de representação da vítima inserida pelo pacote


anticrime retroage para as ações já em curso?

Não retroage a norma prevista no § 5º do art. 171 do CP, incluída pela Lei
13.964/2019 (“Pacote Anticrime”), que passou a exigir a representação da vítima como
condição de procedibilidade para a instauração de ação penal, nas hipóteses em que o
Ministério Público tiver oferecido a denúncia antes da entrada em vigor do novo
diploma legal.

STF. 1ª Turma. HC 187.341/SP, rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado


em 13/10/2020 (Info 995).

DIVERGÊNCIA com a 2ª Turma:

A alteração promovida pela Lei 13.964/2019, que introduziu o § 5º ao art.


171 do CP, ao condicionar o exercício da pretensão punitiva do Estado à
representação da pessoa ofendida, deve ser aplicada de forma retroativa a abranger
tanto as ações penais não iniciadas quanto as ações penais em curso até o trânsito em
julgado.

STF. 2ª Turma. HC 180421 AgR/SP, relator Min. Edson Fachin,


julgamento em 22.6.2021 (Info 1.023).

ART. 273, CP - IMPORTAÇÃO DE MEDICAMENTO SEM REGISTRO

É constitucional o preceito secundário do art. 273 na hipótese do seu


§1º-B, I?

É inconstitucional a aplicação do preceito secundário do art. 273 do


Código Penal, com redação dada pela Lei 9.677/1998 (reclusão, de 10 a 15 anos, e
multa), à hipótese prevista no seu § 1º-B, I, que versa sobre a importação de
medicamento sem registro no órgão de vigilância sanitária. Para esta situação
específica, fica repristinado o preceito secundário do art. 273, na redação originária
(reclusão, de 1 a 3 anos, e multa).
12
É inconstitucional a cominação da pena em abstrato atualmente prevista
no art. 273 do CP — reclusão, de dez a quinze anos, e multa — para a importação de
medicamentos sem registro no órgão de vigilância sanitária competente, conduta
tipificada no art. 273, § 1º-B, I, do CP. O vício decorre da ofensa à vedação de penas
cruéis e da afronta a princípios constitucionais, como o da proporcionalidade e o da
individualização da pena.

STF. Plenário. RE 979962/RS, relator Min. Roberto Barroso, julgamento


em 24.3.2021 (Repercussão Geral - Tema 1.003) (Info 1.011).

ART. 297, CP – FALSIFICAÇÃO DE DOCUMENTO PÚBLICO

Art. 297 - Falsificar, no todo ou em parte, documento público, ou alterar


documento público verdadeiro: Pena - reclusão, de dois a seis anos, e multa. §
1º - Se o agente é funcionário público, e comete o crime prevalecendo-se do
cargo, aumenta-se a pena de sexta parte.

Qual o crime praticado por prefeito que insere um artigo em projeto


de lei aprovado pelo parlamento?

Prefeito que, ao sancionar lei aprovada pela Câmara dos Vereadores,


inclui artigo que não constava originalmente no projeto votado pratica o crime de
falsificação de documento público (art. 297, § 1º do CP). No momento da dosimetria, o
fato de o réu ser Prefeito não pode ser utilizado como circunstância desfavorável para
aumentar a pena-base na primeira fase e, em seguida, ser empregado como causa de
aumento do § 1º do art. 297 do CP. Se ele for utilizado duas vezes, haverá bis in idem.
Assim, essa circunstância (condição de Prefeito) deve ser considerada apenas uma
vez, na terceira fase da pena, como majorante (causa de aumento).

STF. 1ª Turma. AP 971/RJ, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 28/6/2016


(Info 832).

ART. 327, CP – CAUSA DE AUMENTO PARA CRIMES FUNCIONAIS

Art. 327 - Considera-se funcionário público, para os efeitos penais, quem,


embora transitoriamente ou sem remuneração, exerce cargo, emprego ou
função pública. §1º - Equipara-se a funcionário público quem exerce cargo,
emprego ou função em entidade paraestatal, e quem trabalha para empresa
prestadora de serviço contratada ou conveniada para a execução de atividade
típica da Administração Pública. §2º - A pena será aumentada da terça parte
quando os autores dos crimes previstos neste Capítulo forem ocupantes de
cargos em comissão ou de função de direção ou assessoramento de órgão da
administração direta, sociedade de economia mista, empresa pública ou
fundação instituída pelo poder público.

13
1) Cabe a causa de aumento pelo simples fato de o Réu exercer
mandato eletivo?

O simples fato de o réu exercer um mandato popular não é suficiente para


fazer incidir a causa de aumento do art. 327, § 2º, do CP. É necessário que ele ocupe
uma posição de superior hierárquico (o STF chamou de "imposição hierárquica").

Essa causa de aumento aplica-se também para agentes políticos


detentores de mandato eletivo? SIM. É o caso, por exemplo, de um Governador do
Estado que, valendo-se de seu cargo, pratique crime contra a Administração Pública.
Como ele desempenha uma função de direção do Estado, contra ele incidirá a causa
de aumento do § 2º do art. 327 do CP. Todavia, deve haver imposição hierárquica e
não simples mandato eletivo.

STF. Plenário. Inq 3983/DF, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 02 e


03/03/2016 (Info 816).

A mera afirmação de que o denunciado ocupa o cargo de desembargador


é insuficiente para a incidência da causa de aumento de pena prevista no art. 327, § 2º,
do CP.

STJ. Corte Especial. AgRg na APn 970-DF, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti,
por unanimidade, julgado em 04/05/2022 (Info 735).

--

2) Cabe a causa de aumento no caso de autarquias?

A causa de aumento prevista no § 2º do art. 327 do Código Penal não


pode ser aplicada aos dirigentes de autarquias (ex: a maioria dos Detrans) porque esse
dispositivo menciona apenas órgãos, sociedades de economia mista, empresas
públicas e fundações.

STF. 2ª Turma. AO 2093/RN, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em


3/9/2019 (Info 950).

ART. 330, CP – DESOBEDIÊNCIA

Art. 330. Desobedecer a ordem legal de funcionário público: Pena - detenção,


de quinze dias a seis meses, e multa.

Comete crime o agente que não atende a ordem exarada por oficial
de justiça para entrega de veículo?

Comete crime de desobediência (art. 330 do CP) o indivíduo que não


atende a ordem dada pelo oficial de justiça na ocasião do cumprimento de mandado de
14
entrega de veículo, expedido no juízo cível. O indivíduo, depositário do bem, recusou-
se a entregar o veículo ou a indicar sua localização. Essa conduta configura ato
atentatório à dignidade da justiça (art. 77, IV, do CPC/2015), havendo a previsão de
multa processual (art. 77, § 2º). Ocorre que a Lei afirma expressamente que a
aplicação da multa ocorre sem prejuízo de responsabilização na esfera penal.

STF. 1ª Turma. HC 169417/SP, rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado


em 28/4/2020 (Info 975).

ART. 331, CP – DESACATO

Art. 331. Desacatar funcionário público no exercício da função ou em razão


dela: Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou multa.

O desacato ainda é crime?

O crime de desacato é compatível com a Constituição Federal e com o


Pacto de São José da Costa Rica. A figura penal do desacato não tolhe o direito à
liberdade de expressão, não retirando da cidadania o direito à livre manifestação,
desde que exercida nos limites de marcos civilizatórios bem definidos, punindo-se os
excessos.

STF. 2ª Turma. HC 141949/DF, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em


13/3/2018 (Info 894).

ART. 334, CP - DESCAMINHO

Art. 334. Iludir, no todo ou em parte, o pagamento de direito ou imposto devido


pela entrada, pela saída ou pelo consumo de mercadoria:

Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos.

§ 3o A pena aplica-se em dobro se o crime de descaminho é praticado em


transporte aéreo, marítimo ou fluvial.

1) O descaminho é crime tributário formal ou material?

Para que seja proposta ação penal por descaminho não é necessária a
prévia constituição definitiva do crédito tributário. Não se aplica a Súmula Vinculante 24
do STF. O crime se consuma com a simples conduta de iludir o Estado quanto ao
pagamento dos tributos devidos quando da importação ou exportação de mercadorias.
STJ. 6ª Turma. REsp 1.343.463-BA, Rel. para acórdão Min. Rogerio Schietti Cruz,
julgado em 20/3/2014 (Info 548). STF. 2ª Turma. HC 122325, Rel. Min. Gilmar Mendes,
julgado em 27/05/2014.

15
É dispensada a existência de procedimento administrativo fiscal com a
posterior constituição do crédito tributário para a configuração do crime de descaminho
(art. 334 do CP), tendo em conta sua natureza formal.

STF. 1ª Turma. HC 121798/BA, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em


29/5/2018 (Info 904).

--

2) Para aplicação da causa de aumento do §3º, é necessária a


clandestinidade?

Para aplicação da majorante prevista no art. 334, § 3º, do Código Penal, é


necessária a condição de clandestinidade. O aumento expressivo da pena, em face da
aplicação da majorante, precisa ser justificado em razão de um maior desvalor da ação.

No cenário atual, não há sentido lógico que justifique um aumento de


pena tão expressivo pelo simples fato de ser o crime praticado em transporte regular.
Essa posição tornaria a majorante quase a regra na aplicação do tipo penal na
realidade prática, o que findaria por desvirtuar a estruturação normativa da norma
incriminadora.

STF. 2ª Turma. HC 162553 AgR/CE, redator Min. Gilmar Mendes,


julgamento em 14.9.2021 (Info 1.030).

ART. 334-A – CONTRABANDO

Art. 334-A. Importar ou exportar mercadoria proibida: Pena - reclusão, de 2


(dois) a 5 (cinco) anos. § 1 o Incorre na mesma pena quem: I - pratica fato
assimilado, em lei especial, a contrabando; II - importa ou exporta
clandestinamente mercadoria que dependa de registro, análise ou autorização
de órgão público competente; III - reinsere no território nacional mercadoria
brasileira destinada à exportação; IV - vende, expõe à venda, mantém em
depósito ou, de qualquer forma, utiliza em proveito próprio ou alheio, no
exercício de atividade comercial ou industrial, mercadoria proibida pela lei
brasileira; V - adquire, recebe ou oculta, em proveito próprio ou alheio, no
exercício de atividade comercial ou industrial, mercadoria proibida pela lei
brasileira. § 2º - Equipara-se às atividades comerciais, para os efeitos deste
artigo, qualquer forma de comércio irregular ou clandestino de mercadorias
estrangeiras, inclusive o exercido em residências. § 3 o A pena aplica-se em
dobro se o crime de contrabando é praticado em transporte aéreo, marítimo ou
fluvial.

A importação de arma de pressão configura qual crime?

A importação de arma de pressão por ação de gás comprimido, ainda que


de calibre inferior a 6 mm, configura o crime de contrabando, sendo inaplicável o
princípio da insignificância.

16
STF. 2ª Turma. HC 131943/RS, rel. Min. Edson Fachin, julgado em
7/5/2019 (Info 939).

INSIGNIFICÂNCIA

1) Princípio bagatelar e possibilidade de conversão da PPL em PRD,


mesmo que haja reincidência

Em regra, o reconhecimento do princípio da insignificância gera a


absolvição do réu pela atipicidade material. Em outras palavras, o agente não responde
por nada. Em um caso concreto, contudo, o STF reconheceu o princípio da
insignificância, mas, como o réu era reincidente, em vez de absolvê-lo, o Tribunal
utilizou esse reconhecimento para conceder a substituição da pena privativa de
liberdade por restritiva de direitos, afastando o óbice do art. 44, II, do CP: Art. 44. As
penas restritivas de direitos são autônomas e substituem as privativas de liberdade,
quando: (...) II – o réu não for reincidente em crime doloso; Situação concreta: Antônio
foi denunciado por tentar furtar quatro frascos de xampu de um supermercado, bens
avaliados em R$ 31,20. O réu foi condenado pelo art. 155 c/c art. 14, II, do CP a uma
pena de 8 meses de reclusão. Foi aplicado o regime inicial semiaberto e negada a
substituição por pena restritiva de direitos em virtude de ele ser reincidente (já possuía
uma condenação anterior por furto), atraindo a vedação do art. 44, II, do CP. Em razão
da reincidência, o STF entendeu que não era o caso de absolver o condenado, mas,
em compensação, determinou que a pena privativa de liberdade fosse substituída por
restritiva de direitos, afastando a proibição do art. 44, II, do CP.

STF. 1ª Turma. HC 137217/MG, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado


em 28/8/2018 (Info 913).

--

2) É possível aplicar a insignificância ao furto cometido por agente


reincidente e no período noturno?

Devem ser analisadas as circunstâncias objetivas em que se deu a


prática delituosa e não os atributos inerentes ao agente. Reincidência ou maus
antecedentes não impedem, por si sós, a aplicação do postulado da insignificância.

Na espécie, trata-se de furto de R$ 4,15 em moedas, uma garrafa


pequena de refrigerante, duas garrafas de 600 ml de cerveja e uma de 1 litro de pinga,
tudo avaliado em R$ 29,15. Nas outras instâncias, o princípio da insignificância não foi
aplicado em razão da reincidência do paciente e do fato de o furto ter sido cometido no
período noturno.

17
STF. 2ª Turma. HC 181389 AgR/SP, rel. Min. Gilmar Mendes, julgamento
em 14.4.2020 (Info 973).

ESTATUTO DESARMAMENTO

Integrantes das guardas municipais possuem direito ao porte de


arma?

É inconstitucional a restrição do porte de arma de fogo aos integrantes de


guardas municipais das capitais dos estados e dos municípios com mais de 500.000
(quinhentos mil) habitantes e de guardas municipais dos municípios com mais de
50.000 (cinquenta mil) e menos de 500.000 (quinhentos mil) habitantes, quando em
serviço. Com a decisão do STF todos os integrantes das guardas municipais possuem
direito a porte de arma de fogo, em serviço ou mesmo fora de serviço. Não interessa o
número de habitantes do Município.

STF. Plenário. ADC 38/DF, ADI 5538/DF e ADI 5948/DF, Rel. Min.
Alexandre de Moraes, julgados em 27/2/2021 (Info 1.007).

LEI DE DROGAS

1) Qual o regime inicial a condenado a pena inferior a 4 anos com


circunstâncias judiciais favoráveis?

Se o réu, não reincidente, for condenado, por tráfico de drogas, a pena de


até 4 anos, e se as circunstâncias judiciais do art. 59 do CP forem positivas
(favoráveis), o juiz deverá fixar o regime aberto e deverá conceder a substituição da
pena privativa de liberdade por restritiva de direitos, preenchidos os requisitos do art.
44 do CP. A gravidade em abstrato do crime não constitui motivação idônea para
justificar a fixação do regime mais gravoso.

STF. 1ª Turma. HC 129714/SP, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em


11/10/2016 (Info 843).

STF. 1ª Turma. HC 130411/SP, red. p/ o acórdão Min. Edson Fachin,


julgado em 12/4/2016 (Info 821).

--

2) A grande quantidade de droga, isoladamente, constitui motivação


idônea para afastar o tráfico privilegiado?

O tema é polêmico.

18
1ª Turma do STF: encontramos precedentes afirmando que a grande
quantidade de droga pode ser utilizada como circunstância para afastar o benefício.
Nesse sentido: não é crível que o réu, surpreendido com mais de 500 kg de maconha,
não esteja integrado, de alguma forma, a organização criminosa, circunstância que
justifica o afastamento da causa de diminuição prevista no art. 33, §4º, da Lei de
Drogas (HC 130981/MS, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 18/10/2016. Info 844).

2ª Turma do STF: a quantidade de drogas encontrada não constitui,


isoladamente, fundamento idôneo para negar o benefício da redução da pena previsto
no art. 33, § 4º, da Lei nº 11.343/2006 (HC 138138/SP, Rel. Min. Ricardo Lewandowski,
julgado em 29/11/2016. Info 849). STF. 2ª Turma. HC 138138/SP, Rel. Min. Ricardo
Lewandowski, julgado em 29/11/2016 (Info 849).

Segundo Márcio André, a 2ª corrente é majoritária.

--

3) Para incidência da causa de aumento do tráfico nas imediações de


presídios, importa quem seja o comprador?

A aplicação da causa de aumento prevista no art. 40, III, da Lei nº


11.343/2006 se justifica quando constatada a comercialização de drogas nas
dependências ou imediações de estabelecimentos prisionais, sendo irrelevante se o
agente infrator visa ou não aos frequentadores daquele local. Assim, se o tráfico de
drogas ocorrer nas imediações de um estabelecimento prisional, incidirá a causa de
aumento, não importando quem seja o comprador do entorpecente.

STF. 2ª Turma. HC 138944/SC, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em


21/3/2017 (Info 858).

--

4) A pureza da droga deve ser ponderada na dosimetria?

O grau de pureza da droga é irrelevante para fins de dosimetria da pena.


De acordo com a Lei nº 11.343/2006, preponderam apenas a natureza e a quantidade
da droga apreendida para o cálculo da dosimetria da pena.

STF. 2ª Turma. HC 132909/SP, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em


15/3/2016 (Info 818).

--

5) É possível que o juiz negue o benefício do §4º do art. 33 pelo fato


de o réu ser investigado em IP ou réu em outra ação penal?

19
Não se pode negar a aplicação da causa de diminuição pelo tráfico
privilegiado, prevista no art. 33, § 4º, da Lei nº 11.343/2006, com fundamento no fato
de o réu responder a inquéritos policiais ou processos criminais em andamento, mesmo
que estejam em fase recursal, sob pena de violação ao art. 5º, LIV (princípio da
presunção de não culpabilidade).

STF. 1ª Turma. HC 173806/MG, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em


18/2/2020 (Info 967).

STF. 2ª Turma. HC 144309 AgR, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado


em 19/11/2018.

--

6) A causa de diminuição de pena do §4º do art. 33 pode ser afastada


com base em condenações anteriores sem trânsito em julgado?

Não cabe afastar a causa de diminuição prevista no art. 33, § 4º, da Lei
11.343/2006 com base em condenações não alcançadas pela preclusão maior.

STF. 1ª Turma. HC 166385/MG, rel. Min. Marco Aurélio, julgamento em


14.4.2020 (Info 973).

--

7) O magistrado pode lavrar o TCO no caso do crime do art. 28?


Art. 48. O procedimento relativo aos processos por crimes definidos
neste Título rege-se pelo disposto neste Capítulo, aplicando-se,
subsidiariamente, as disposições do Código de Processo Penal e da Lei
de Execução Penal.

§ 1º O agente de qualquer das condutas previstas no art. 28 desta Lei,


salvo se houver concurso com os crimes previstos nos arts. 33 a 37
desta Lei, será processado e julgado na forma dos arts. 60 e seguintes
da Lei nº 9.099, de 26 de setembro de 1995, que dispõe sobre os
Juizados Especiais Criminais.

§ 2º Tratando-se da conduta prevista no art. 28 desta Lei, não se imporá


prisão em flagrante, devendo o autor do fato ser imediatamente
encaminhado ao juízo competente ou, na falta deste, assumir o
compromisso de a ele comparecer, lavrando-se termo circunstanciado e
providenciando-se as requisições dos exames e perícias necessários.

§ 3º Se ausente a autoridade judicial, as providências previstas no § 2º


deste artigo serão tomadas de imediato pela autoridade policial, no local
em que se encontrar, vedada a detenção do agente.

§ 4º Concluídos os procedimentos de que trata o § 2º deste artigo, o


agente será submetido a exame de corpo de delito, se o requerer ou se a

20
autoridade de polícia judiciária entender conveniente, e em seguida
liberado.

O STF, interpretando os §§ 2º e 3º do art. 48 da Lei nº 11.343/2006,


afirmou que o autor do crime previsto no art. 28 da Lei nº 11.343/2006 deve ser
encaminhado imediatamente ao juiz e o próprio magistrado irá lavrar o termo
circunstanciado e requisitar os exames e perícias necessários. Se não houver
disponibilidade do juízo competente, deve o autor ser encaminhado à autoridade
policial, que então adotará essas providências (termo circunstanciado e requisição).
Não há qualquer inconstitucionalidade nessa previsão. Isso porque a lavratura de termo
circunstanciado e a requisição de exames e perícias não são atividades de
investigação.

Considerando-se que o termo circunstanciado não é procedimento


investigativo, mas sim uma mera peça informativa com descrição detalhada do fato e
as declarações do condutor do flagrante e do autor do fato, deve-se reconhecer que a
possibilidade de sua lavratura pela autoridade judicial (magistrado) não ofende os §§ 1º
e 4º do art. 144 da Constituição, nem interfere na imparcialidade do julgador.

As normas dos §§ 2º e 3º do art. 48 da Lei nº 11.343/2006 foram editadas


em benefício do usuário de drogas, visando afastá-lo do ambiente policial quando
possível e evitar que seja indevidamente detido pela autoridade policial.

STF. Plenário. ADI 3807, Rel. Cármen Lúcia, julgado em 29/06/2020 (Info
986).

--

8) A quantidade e natureza da droga podem ser utilizadas tanto para


fixação da pena base quanto para ajuste da minorante do §4º?

As circunstâncias da natureza e da quantidade da droga apreendida


devem ser levadas em consideração apenas em uma das fases do cálculo da pena.

STF. Plenário. ARE 666.334/SP, Rel. Gilmar Mendes, julgado em


03/04/2014 (Repercussão Geral – Tema 712).

LEI CRIMES AMBIENTAIS

ART. 34 – PESCA ILEGAL

Art. 34. Pescar em período no qual a pesca seja proibida ou em lugares


interditados por órgão competente: Pena - detenção de um ano a três anos ou
multa, ou ambas as penas cumulativamente.

21
Pessoa presa, sem peixes, mas com equipamentos, em local onde a
pesca é proibida comete crime?

Se a pessoa é flagrada sem nenhum peixe, mas portando consigo


equipamentos de pesca, em um local onde esta atividade é proibida, ela poderá ser
absolvida do delito do art. 34 da Lei de Crimes com base no princípio da
insignificância? A 2ª Turma do STF possui decisões conflitantes sobre o tema:

SIM. Inq 3788/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 1°/3/2016 (Info
816).

NÃO. RHC 125566/PR e HC 127926/SC, Rel. Min. Dias Toffoli, julgados


em 26/10/2016 (Info 845).

OBS: O STJ, no Info 602 (20/04/2017), aplicou o princípio da


insignificância na hipótese de devolução do único peixe, ainda vivo, ao rio em que foi
pescado.

LAVAGEM DE CAPITAIS – LEI 9.613/98

1) Qual a natureza do crime de lavagem na modalidade “ocultar”?

O delito de lavagem de bens, direitos ou valores (“lavagem de dinheiro”),


previsto no art. 1º da Lei nº 9.613/98, quando praticado na modalidade de ocultação,
tem natureza de crime permanente. A característica básica dos delitos permanentes
está na circunstância de que a execução desses crimes não se dá em um momento
definido e específico, mas em um alongar temporal. Quem oculta e mantém oculto
algo, prolonga a ação até que o fato se torne conhecido. Assim, o prazo prescricional
somente tem início quando as autoridades tomam conhecimento da conduta do agente.

STF. 1ª Turma. AP 863/SP, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 23/5/2017


(Info 866).

--

2) Configura crime de lavagem a conduta de esconder dinheiro nos


bolsos e dentro de meias?

Não configura o crime de lavagem de dinheiro (art. 1º da Lei nº 9.613/98)


a conduta do agente que recebe propina decorrente de corrupção passiva e tenta viajar
com ele, em voo doméstico, escondendo as notas de dinheiro nos bolsos do paletó, na
cintura e dentro das meias. Também não configura o crime de lavagem de dinheiro o
fato de, após ter sido descoberto, dissimular (“mentir”) a natureza, a origem e a
propriedade dos valores.

22
O ato de receber valores ilícitos integra o tipo previsto no art. 317 do CP,
de modo que a conduta de esconder as notas pelo corpo, sob as vestes, nos bolsos do
paletó, junto à cintura e dentro das meias, não se reveste da indispensável autonomia
em relação ao crime antecedente, não se ajustando à infração versada no art. 1º da Lei
nº 9.613/98.

STF. 1ª Turma. Inq 3515/SP, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em


8/10/2019 (Info 955).

--

3) É constitucional a previsão legal que impõe o afastamento


automático do servidor indiciado?

É inconstitucional a determinação de afastamento automático de servidor


público indiciado em inquérito policial instaurado para apuração de crimes de lavagem
ou ocultação de bens, direitos e valores.

STF. Plenário. ADI 4911/DF, rel. Min. Alexandre de Moraes, julgamento


em 20.11.2020 (Info 1.000).

CRIMES LICITAÇÕES – LEI 8.666/93

1) O crime do art. 89 exige dano ao erário? Trata-se de delito formal


ou material?

Art. 89. Dispensar ou inexigir licitação fora das hipóteses previstas em lei, ou
deixar de observar as formalidades pertinentes à dispensa ou à inexigibilidade:
Pena — detenção, de 3 (três) a 5 (cinco) anos, e multa. Parágrafo único. Na
mesma pena incorre aquele que, tendo comprovadamente concorrido para a
consumação da ilegalidade, beneficiou-se da dispensa ou inexigibilidade ilegal,
para celebrar contrato com o Poder Público.

1ª corrente: SIM. Posição do STJ e da 2ª Turma do STF.

2ª corrente: NÃO. Entendimento da 1ª Turma do STF. O objetivo do art.


89 não é punir o administrador público despreparado, inábil, mas sim o desonesto, que
tinha a intenção de causar dano ao erário ou obter vantagem indevida. Por essa razão,
é necessário sempre analisar se a conduta do agente foi apenas um ilícito civil e
administrativo ou se chegou a configurar realmente crime. Deverão ser analisados três
critérios para se verificar se o ilícito administrativo configurou também o crime do art.
89: 1º) existência ou não de parecer jurídico autorizando a dispensa ou a
inexigibilidade. A existência de parecer jurídico é um indicativo da ausência de dolo do
agente, salvo se houver circunstâncias que demonstrem o contrário. 2º) a denúncia
deverá indicar a existência de especial finalidade do agente de lesar o erário ou de

23
promover enriquecimento ilícito. 3º) a denúncia deverá descrever o vínculo subjetivo
entre os agentes.

STF. 1ª Turma. Inq 3674/RJ, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 7/3/2017 (Info
856).

--

2) Qual o elemento subjetivo do tipo do art. 89?

Para a configuração da tipicidade subjetiva do crime previsto no art. 89 da


Lei 8.666/93, exige-se o especial fim de agir, consistente na intenção específica de
lesar o erário ou obter vantagem indevida.

O tipo penal previsto no art. 89 não criminaliza o mero fato de o


administrador público ter descumprido formalidades. Para que haja o crime, é
necessário que, além do descumprimento das formalidades, também se verifique que
ocorreu, no caso concreto, a violação de princípios cardeais (fundamentais) da
Administração Pública. Se houve apenas irregularidades pontuais relacionadas com a
burocracia estatal, isso não deve, por si só, gerar a criminalização da conduta. Assim,
para que ocorra o crime, é necessária uma ofensa ao bem jurídico tutelado, que é o
procedimento licitatório. Sem isso, não há tipicidade material.

Não haverá crime se a decisão do administrador de deixar de instaurar


licitação para a contratação de determinado serviço foi amparada por argumentos
previstos em pareceres (técnicos e jurídicos) que atenderam aos requisitos legais,
fornecendo justificativas plausíveis sobre a escolha do executante e do preço cobrado
e não houver indícios de conluio entre o gestor e os pareceristas com o objetivo de
fraudar o procedimento de contratação direta.

STF. 1ª Turma. Inq 3962/DF, Rel. Min Rosa Weber, julgado em 20/2/2018
(Info 891).

CRIMES TRIBUTÁRIOS – LEI 8.137/90

Art. 12. São circunstâncias que podem agravar de 1/3 (um terço) até a metade
as penas previstas nos arts. 1°, 2° e 4° a 7°: I - ocasionar grave dano à
coletividade.

1) Devedores de tributos acima de 10 milhões podem ser


enquadrados no inciso I do art. 12?

O art. 12, I, da Lei nº 8.137/90 prevê que a pena do crime de sonegação


fiscal (art. 1º, I, da Lei nº 8.137/90) deverá ser aumentada no caso de o delito
“ocasionar grave dano à coletividade”. A jurisprudência entende que se configura a
24
referida causa de aumento quando o agente deixa de recolher aos cofres públicos uma
vultosa quantia. Em outras palavras, se o valor sonegado foi alto, incide a causa de
aumento do art. 12, I. A Portaria nº 320, editada pela Procuradoria Geral da Fazenda
Nacional, prevê que os contribuintes que estão devendo acima de R$ 10 milhões são
considerados “grandes devedores” e devem receber tratamento prioritário na atuação
dos Procuradores. Diante disso, surgiu uma tese defensiva dizendo que somente as
dívidas acima de R$ 10 milhões poderiam ser consideradas de grande porte,
justificando a incidência da causa de aumento do art. 12, I. Essa tese não foi acolhida
pelo STF e STJ. Não é razoável dizer que somente deverá incidir a causa de aumento
de pena do art. 12, I, se o valor dos tributos sonegados for superior a R$ 10 milhões,
previsto no art. 2º da Portaria nº 320/PGFN. Isso porque este dispositivo define
"quantia vultosa" para fins internos de acompanhamento prioritário pela Fazenda
Nacional dos processos de cobrança, não limitando ou definindo o que seja grave dano
à coletividade.

STJ. 5ª Turma. AgRg no REsp 1274989/RS, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado
em 19/08/2014.

STF. 2ª Turma. HC 129284/PE, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado


em 17/10/2017 (Info 882).

--

2) O crime do art. 2º, II, exige dolo para sua consumação?

Art. 2° Constitui crime da mesma natureza: I - fazer declaração falsa ou omitir


declaração sobre rendas, bens ou fatos, ou empregar outra fraude, para eximir-
se, total ou parcialmente, de pagamento de tributo; II - deixar de recolher, no
prazo legal, valor de tributo ou de contribuição social, descontado ou cobrado,
na qualidade de sujeito passivo de obrigação e que deveria recolher aos cofres
públicos; III - exigir, pagar ou receber, para si ou para o contribuinte
beneficiário, qualquer percentagem sobre a parcela dedutível ou deduzida de
imposto ou de contribuição como incentivo fiscal; IV - deixar de aplicar, ou
aplicar em desacordo com o estatuído, incentivo fiscal ou parcelas de imposto
liberadas por órgão ou entidade de desenvolvimento; V - utilizar ou divulgar
programa de processamento de dados que permita ao sujeito passivo da
obrigação tributária possuir informação contábil diversa daquela que é, por lei,
fornecida à Fazenda Pública.

Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa.

O contribuinte que, de forma contumaz e com dolo de apropriação, deixa


de recolher o ICMS cobrado do adquirente da mercadoria ou serviço, incide no tipo
penal do art. 2º, II, da Lei nº 8.137/90. O valor do ICMS cobrado do consumidor não
integra o patrimônio do comerciante, o qual é mero depositário desse ingresso de caixa
que, depois de devidamente compensado, deve ser recolhido aos cofres públicos.

25
Vale ressaltar, contudo, que, para caracterizar o delito, é preciso
comprovar a existência de intenção de praticar o ilícito (dolo).

Nada impede que o sujeito ativo deste crime possa ser: a) o contribuinte
(sujeito passivo direto da obrigação tributária); ou b) o responsável tributário (sujeito
passivo indireto da obrigação tributária). Assim, o termo “sujeito passivo de obrigação”,
previsto no tipo penal, abrange o contribuinte e o responsável (substituição tributária).

STF. Plenário. RHC 163334/SC, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em


18/12/2019 (Info 964).

CTB – LEI 9.503/97

ART. 302

Art. 302. Praticar homicídio culposo na direção de veículo automotor: Penas -


detenção, de dois a quatro anos, e suspensão ou proibição de se obter a
permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor.

É constitucional a suspensão da habilitação para o condenado por


homicídio culposo no trânsito?

É constitucional a imposição da pena de suspensão de habilitação para


dirigir veículo automotor ao motorista profissional condenado por homicídio culposo no
trânsito. O direito ao exercício de atividades profissionais (art. 5º, XIII) não é absoluto e
a restrição imposta pelo legislador se mostra razoável.

STF. Plenário. RE 607.107. Rel.: Min. Roberto Barroso, julgado em


12/02/20 (Repercussão Geral – Tema 486) (Info 966).

ART. 305

Art. 305. Afastar-se o condutor do veículo do local do acidente, para fugir à


responsabilidade penal ou civil que lhe possa ser atribuída: Penas - detenção,
de seis meses a um ano, ou multa.

É constitucional o crime de fuga?

A regra que prevê o crime do art. 305 do CTN é constitucional, posto não
infirmar o princípio da não incriminação, garantido o direito ao silêncio e ressalvadas as
hipóteses de exclusão da tipicidade e da antijuridicidade (Tema 907 da repercussão
geral). Exemplo de causa excludente de ilícito do delito: fuga para evitar linchamento
ou fuga para busca de socorro médico).

Para o STF, é admissível a flexibilização do princípio da vedação à


autoincriminação proporcionada pela opção do legislador de criminalizar a conduta de
26
fugir do local do acidente. De fato, tal procedimento não afeta o núcleo irredutível
daquela garantia enquanto direito fundamental, qual seja, jamais obrigar o investigado
ou réu a agir ativamente na produção de prova contra si próprio. O tipo penal do art.
305 do CTB apenas obriga a permanência do agente no local para garantir a
identificação dos envolvidos no sinistro e o devido registro da ocorrência pela
autoridade competente.

O bem jurídico tutelado é a administração da justiça, prejudicada pela


fuga do agente do local do evento, uma vez que tal atitude impede sua identificação e a
consequente apuração do ilícito, para fins de se promover a responsabilização cível ou
penal de quem, eventualmente, provocar um acidente de trânsito, dolosa ou
culposamente. Essa diligência administrativa, aliás, transforma-se em meio de defesa
do próprio acusado.

A exigência de permanência no local do acidente e de identificação


perante a autoridade de trânsito não obriga o condutor a assumir eventual
responsabilidade cível ou penal pelo sinistro nem, tampouco, enseja que contra ele se
aplique qualquer penalidade caso não o faça. O condutor, após sua identificação pela
autoridade de trânsito, pode optar, quando indagado, por permanecer em silêncio e não
prestar nenhum esclarecimento acerca das circunstâncias do acidente.

STF, RE 971.959/RS, rel. Min. Luiz Fux, julgamento em 14.11.2018 (Info


923).

CRIMES DE PRECONCEITO – LEI 7.716/89

Homofobia é equiparada ao crime de racismo?

1. Até que sobrevenha lei emanada do Congresso Nacional destinada a


implementar os mandados de criminalização definidos nos incisos XLI e XLII do art. 5º
da Constituição da República, as condutas homofóbicas e transfóbicas, reais ou
supostas, que envolvem aversão odiosa à orientação sexual ou à identidade de gênero
de alguém, por traduzirem expressões de racismo, compreendido este em sua
dimensão social, ajustam-se, por identidade de razão e mediante adequação típica, aos
preceitos primários de incriminação definidos na Lei nº 7.716, de 08.01.1989,
constituindo, também, na hipótese de homicídio doloso, circunstância que o qualifica,
por configurar motivo torpe (Código Penal, art. 121, § 2º, I, “in fine”);

2. A repressão penal à prática da homotransfobia não alcança nem


restringe ou limita o exercício da liberdade religiosa, qualquer que seja a denominação
confessional professada, a cujos fiéis e ministros (sacerdotes, pastores, rabinos, mulás
ou clérigos muçulmanos e líderes ou celebrantes das religiões afro-brasileiras, entre
27
outros) é assegurado o direito de pregar e de divulgar, livremente, pela palavra, pela
imagem ou por qualquer outro meio, o seu pensamento e de externar suas convicções
de acordo com o que se contiver em seus livros e códigos sagrados, bem assim o de
ensinar segundo sua orientação doutrinária e/ou teológica, podendo buscar e
conquistar prosélitos e praticar os atos de culto e respectiva liturgia,
independentemente do espaço, público ou privado, de sua atuação individual ou
coletiva, desde que tais manifestações não configurem discurso de ódio, assim
entendidas aquelas exteriorizações que incitem a discriminação, a hostilidade ou a
violência contra pessoas em razão de sua orientação sexual ou de sua identidade de
gênero;

3. O conceito de racismo, compreendido em sua dimensão social, projeta-


se para além de aspectos estritamente biológicos ou fenotípicos, pois resulta, enquanto
manifestação de poder, de uma construção de índole histórico-cultural motivada pelo
objetivo de justificar a desigualdade e destinada ao controle ideológico, à dominação
política, à subjugação social e à negação da alteridade, da dignidade e da humanidade
daqueles que, por integrarem grupo vulnerável (LGBTI+) e por não pertencerem ao
estamento que detém posição de hegemonia em uma dada estrutura social, são
considerados estranhos e diferentes, degradados à condição de marginais do
ordenamento jurídico, expostos, em consequência de odiosa inferiorização e de
perversa estigmatização, a uma injusta e lesiva situação de exclusão do sistema geral
de proteção do direito.

STF. Plenário. ADO 26/DF, rel. Min. Celso de Mello, julgamento em


13.6.2019 (Info 944).

28
DIREITO PROCESSUAL PENAL

INQUÉRITO POLICIAL E INVESTIGAÇÃO

1) É necessária, após o advento da lei 13.245/16, a intimação prévia


da defesa técnica do investigado para colheita de depoimentos?

Não é necessária a intimação prévia da defesa técnica do investigado


para a tomada de depoimentos orais na fase de inquérito policial. Não haverá nulidade
dos atos processuais caso essa intimação não ocorra. O inquérito policial é um
procedimento informativo, de natureza inquisitorial, destinado precipuamente à
formação da opinio delicti do órgão acusatório. Logo, no inquérito há uma regular
mitigação das garantias do contraditório e da ampla defesa. Esse entendimento
justifica-se porque os elementos de informação colhidos no inquérito não se prestam,
por si sós, a fundamentar uma condenação criminal. A Lei nº 13.245/2016 implicou um
reforço das prerrogativas da defesa técnica, sem, contudo, conferir ao advogado o
direito subjetivo de intimação prévia e tempestiva do calendário de inquirições a ser
definido pela autoridade policial.

STF. 2ª Turma. Pet 7612/DF, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em


12/03/2019 (Info 933).

--

2) É possível o compartilhamento de informações entre órgãos de


persecução penal?

É constitucional o compartilhamento dos relatórios de inteligência


financeira da UIF e da íntegra do procedimento fiscalizatório da Receita Federal do
Brasil (RFB), que define o lançamento do tributo, com os órgãos de persecução penal
para fins criminais, sem a obrigatoriedade de prévia autorização judicial, devendo ser
resguardado o sigilo das informações em procedimentos formalmente instaurados e
sujeitos a posterior controle jurisdicional. O compartilhamento pela UIF e pela RFB,
referente ao item anterior, deve ser feito unicamente por meio de comunicações
formais, com garantia de sigilo, certificação do destinatário e estabelecimento de
instrumentos efetivos de apuração e correção de eventuais desvios.

STF. Plenário. RE 1055941/SP, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em


4/12/2019 (Repercussão Geral – Tema 990) (Info 962).

--

3) É constitucional o inquérito instaurado no STF para apuração de


fake news?
29
É constitucional a Portaria GP 69/2019, por meio da qual o Presidente do
STF determinou a instauração do Inquérito 4781, com o intuito de apurar a existência
de notícias fraudulentas (fake news), denunciações caluniosas, ameaças e atos que
podem configurar crimes contra a honra e atingir a honorabilidade e a segurança do
STF, de seus membros e familiares. Também é constitucional o art. 43 do Regimento
Interno do STF, que foi recepcionado pela CF/88 como lei ordinária.

O STF, contudo, afirmou que o referido inquérito, para ser constitucional,


deve cumprir as seguintes condicionantes: a) o procedimento deve ser acompanhado
pelo Ministério Público; b) deve ser integralmente observado o Enunciado 14 da
Súmula Vinculante. c) o objeto do inquérito deve se limitar a investigar manifestações
que acarretem risco efetivo à independência do Poder Judiciário (art. 2º da CF/88). Isso
pode ocorrer por meio de ameaças aos membros do STF e a seus familiares ou por
atos que atentem contra os Poderes instituídos, contra o Estado de Direito e contra a
democracia; e, por fim, d) a investigação deve respeitar a proteção da liberdade de
expressão e de imprensa, excluindo do escopo do inquérito matérias jornalísticas e
postagens, compartilhamentos ou outras manifestações (inclusive pessoais) na
internet, feitas anonimamente ou não, desde que não integrem esquemas de
financiamento e divulgação em massa nas redes sociais.

O art. 43 do RISTF prevê o seguinte: “Art. 43. Ocorrendo infração à lei


penal na sede ou dependência do Tribunal, o Presidente instaurará inquérito, se
envolver autoridade ou pessoa sujeita à sua jurisdição, ou delegará esta atribuição a
outro Ministro.” Muito embora o dispositivo exija que os fatos apurados ocorram na
“sede ou dependência” do próprio STF, o caráter difuso dos crimes cometidos por meio
da internet permite estender (ampliar) o conceito de “sede”, uma vez que o STF exerce
jurisdição em todo o território nacional. Logo, os crimes objeto do inquérito, contra a
honra e, portanto, formais, cometidos em ambiente virtual, podem ser considerados
como cometidos na sede ou dependência do STF.

STF. Plenário. ADPF 572 MC/DF, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 17
e 18/6/2020 (Info 982).

--

4) Polícia Militar ou Bombeiros podem lavrar termo circunstanciado?

É constitucional norma estadual que prevê a possibilidade da lavratura de


termos circunstanciados pela Polícia Militar e pelo Corpo de Bombeiro Militar.

O termo circunstanciado é o instrumento legal que se limita a constatar a


ocorrência de crimes de menor potencial ofensivo, motivo pelo qual não configura

30
atividade investigativa e, por via de consequência, não se revela como função privativa
de polícia judiciária.

STF. Plenário. ADI 5637/MG, relator Min. Edson Fachin, julgamento em


11.3.2022 (Info 1.046).

--

5) É constitucional a atuação supletiva e excepcional de delegados e


policiais para afastar o agressor do lar, como medida cautelar?

É válida a atuação supletiva e excepcional de delegados de polícia e de


policiais a fim de afastar o agressor do lar, domicílio ou local de convivência com a
ofendida, quando constatado risco atual ou iminente à vida ou à integridade da mulher
em situação de violência doméstica e familiar, ou de seus dependentes, conforme o art.
12-C inserido na Lei 11.340/2006.

A inclusão dos dispositivos questionados na Lei Maria da Penha — art.


12-C, II, III e § 1º — é razoável, proporcional e adequada.

Ademais, a opção do legislador não contraria a cláusula da inviolabilidade


de domicílio, tampouco ofende o devido processo legal (CF, art. 5º, XI e LIV). As
mudanças estão em consonância com o texto constitucional, que não exige ordem
judicial prévia para o afastamento, bem como determina a criação de mecanismos para
coibir a violência no âmbito das relações familiares (CF, art. 226, § 8º).

Além disso, a legislação está de acordo com o sistema internacional de


proteção aos direitos humanos das mulheres e de combate à violência contra a mulher,
que evoluiu no sentido de recomendar a criação de mecanismos preventivos e
repressivos eficazes e, dentre outras considerações, a outorga de prioridade à
segurança sobre os direitos de propriedade.

STF. Plenário. ADI 6138/DF, relator Min. Alexandre de Moraes,


julgamento em 23.3.2022 (Info 1.048).

ART. 28, CPP

Art. 28.  Se o órgão do Ministério Público, ao invés de apresentar a denúncia,


requerer o arquivamento do inquérito policial ou de quaisquer peças de
informação, o juiz, no caso de considerar improcedentes as razões invocadas,
fará remessa do inquérito ou peças de informação ao procurador-geral, e este
oferecerá a denúncia, designará outro órgão do Ministério Público para
oferecê-la, ou insistirá no pedido de arquivamento, ao qual só então estará o
juiz obrigado a atender.

Possibilidade de arquivamento de ofício de IP, quando esgotados os


prazos de diligências e não foram reunidos indícios de autoria/materialidade
31
O STF pode, de ofício, arquivar inquérito quando verificar que, mesmo
após terem sido feitas diligências de investigação e terem sido descumpridos os prazos
para a instrução do inquérito, não foram reunidos indícios mínimos de autoria ou
materialidade (art. 231, § 4º, “e”, do RISTF). A pendência de investigação, por prazo
irrazoável, sem amparo em suspeita contundente, ofende o direito à razoável duração
do processo (art. 5º, LXXVIII, da CF/88) e a dignidade da pessoa humana (art. 1º, III,
da CF/88).

STF. 2ª Turma. Inq 4420/DF, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em


21/8/2018 (Info 912).

Essa decisão ofende o sistema acusatório e o art. 129, I, da CF, que


confere ao Ministério Público a titularidade da ação penal pública? Ao se arquivar, de
ofício, um inquérito policial, viola-se a atribuição conferida pela CF/88 ao Ministério
Público de decidir se oferece ou não a denúncia? NÃO.

“Nessas hipóteses excepcionais, não obstante nosso sistema acusatório


consagrar constitucionalmente a titularidade privativa da ação penal ao Ministério
Público (CF, art. 129, I), a quem compete decidir pelo oferecimento da denúncia ou
solicitação de arquivamento do inquérito ou peças de informação, é dever do Poder
Judiciário exercer sua “atividade de supervisão judicial” (STF, Pet. 3825/MT, rel. Min.
GILMAR MENDES), fazendo cessar toda e qualquer ilegal coação por parte do Estado-
acusador, quando o Parquet insiste em manter procedimento investigatório mesmo
ausentes indícios de autoria e materialidade das infrações penais imputadas (...)

A manutenção da investigação criminal sem justa causa, ainda que em


fase de inquérito, constitui injusto e grave constrangimento aos investigados (...)” (INQ
4.429, Rel. Min. Alexandre de Moraes, DJe 13/06/2018).

ART. 28-A, CPP - ANPP

O Judiciário pode impor ao MP a obrigatoriedade de ofertar o ANPP?

O Poder Judiciário não pode impor ao Ministério Público a obrigação de


ofertar acordo de não persecução penal (ANPP). Não cabe ao Poder Judiciário, que
não detém atribuição para participar de negociações na seara investigatória, impor ao
MP a celebração de acordos.

Não se tratando de hipótese de manifesta inadmissibilidade do ANPP, a


defesa pode requerer o reexame de sua negativa, nos termos do art. 28-A, § 14, do
CPP, não sendo legítimo, em regra, que o Judiciário controle o ato de recusa, quanto
ao mérito, a fim de impedir a remessa ao órgão superior no MP. Isso porque a redação

32
do art. 28-A, § 14, do CPP determina a iniciativa da defesa para requerer a sua
aplicação.

STF. 2ª Turma. HC 194677/SP, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em


11/5/2021 (Info 1.017).

ART. 78 – COMPETÊNCIA

Art. 78. Na determinação da competência por conexão ou continência, serão


observadas as seguintes regras: (...) IV - no concurso entre a jurisdição comum
e a especial, prevalecerá esta.

1) Qual é o órgão competente para julgar o crime de caixa 2 conexo


com corrupção passiva e lavagem?

A doação eleitoral por meio de “caixa 2” é uma conduta que configura


crime eleitoral de falsidade ideológica (art. 350 do Código Eleitoral). A competência
para processar e julgar este delito é da Justiça Eleitoral. A existência de crimes
conexos de competência da Justiça Comum, como corrupção passiva e lavagem de
capitais, não afasta a competência da Justiça Eleitoral, por força do art. 35, II, do CE e
do art. 78, IV, do CPP.

STF. 2ª Turma. PET 7319/DF, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em


27/3/2018 (Info 895).

--

2) De quem é a competência para julgamento de crime eleitoral


praticado por deputado federal candidato à reeleição e que tenha sido reeleito?

Pedro, Deputado Federal, recebeu doação ilegal de uma empresa com o


objetivo de financiar a sua campanha para reeleição. Esta doação não foi contabilizada
na prestação de contas, configurando o chamado “caixa 2” (art. 350 do Código
Eleitoral). Pedro foi reeleito para um novo mandato de 2019 até 2022. O STF será
competente para julgar este crime eleitoral? SIM. O foro por prerrogativa de função
aplica-se apenas aos crimes cometidos durante o exercício do cargo e relacionados às
funções desempenhadas. O STF entende que o recebimento de doação ilegal
destinado à campanha de reeleição ao cargo de Deputado Federal é um crime
relacionado com o mandato parlamentar. Logo, a competência é do STF. Além disso,
mostra-se desimportante a circunstância de este delito ter sido praticado durante o
mandato anterior, bastando que a atual diplomação decorra de sucessiva e ininterrupta
reeleição.

STF. Plenário. Inq 4435 AgR-quarto/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado
em 13 e 14/3/2019 (Info 933).
33
--

3) De quem é a competência para julgar policial rodoviário federal em


deslocamento ao trabalho que comete crime?

A competência da JF pressupõe a demonstração concreta das situações


veiculadas no art. 109 da CF. A mera condição de servidor público não basta para
atraí-la, na medida em que o interesse da União há de sobressair das funções
institucionais, não da pessoa do paciente.

Além disso, a circunstância de receber, em decorrência da condição de


policial rodoviário federal, verba a título de auxílio-transporte mostra-se neutra,
considerada a competência da JF. Embora tenham sido cometidas infrações penais no
deslocamento até o local de trabalho, estas não guardam qualquer vinculação com o
exercício das funções de policial rodoviário federal.

STF. 1ª Turma. HC 157012/MS, rel. Min. Marco Aurélio, julgamento em


10.12.2019 (Info 963).

--

4) A justiça eleitoral é competente para julgar o crime conexo,


mesmo quando o crime eleitoral for declarado prescrito?

A Justiça Eleitoral é competente para processar e julgar crime comum


conexo com crime eleitoral, ainda que haja o reconhecimento da prescrição da
pretensão punitiva do delito eleitoral.

Isso porque, fixada a competência da Justiça Eleitoral por conexão ou


continência, essa permanece para os demais feitos — mesmo quando não mais
subsistirem processos de sua competência própria em razão de sentença absolutória
ou de desclassificação da infração.

STF. 2ª Turma. RHC 177243/MG, relator Min. Gilmar Mendes, julgamento


em 29.6.2021 (Info 1.024).

--

5) O júri é competente para julgar o crime de remoção ilegal de


órgãos com resultado morte?

É do juízo criminal singular a competência para julgar o crime de remoção


ilegal de órgãos, praticado em pessoa viva e que resulta morte, previsto no art. 14, §
4º, da Lei 9.434/1997 (Lei de Transplantes).

O objeto jurídico tutelado pelo tipo penal em questão é a incolumidade


pública, a ética e a moralidade, no contexto da doação e do transplante de órgãos e

34
tecidos, e a preservação da integridade física das pessoas e respeito à memória dos
mortos.

STF. Plenário. RE 1313494/MG, relator Min. Dias Toffoli, julgamento em


14.9.2021 (Info 1.030).

--

6) Na hipótese de mandatos cruzados em casas legislativas federais


diversas, há competência do STF?

A competência penal originária do STF para processar e julgar


parlamentares alcança os congressistas federais no exercício de mandato em casa
parlamentar diversa daquela em que consumada a hipotética conduta delitiva, desde
que não haja solução de continuidade.

Uma vez presentes as balizas estabelecidas no julgamento da AP 937


QO, o foro por prerrogativa de função alcança os casos denominados “mandatos
cruzados” de parlamentar federal, quando não houver interrupção ou término do
mandato.

Dessa forma, quando o investigado ou acusado não tiver sido novamente


eleito para os cargos de deputado federal ou senador, a competência do STF deve ser
declinada.

STF. Plenário. Inq 4342 QO/PR, relator Min. Edson Fachin, julgamento
em 1º.4.2022 (Info 1.049).

--

7) É constitucional norma do regimento de Tribunal que condiciona a


instauração de IP à autorização do relator?

É constitucional a norma de Regimento Interno de Tribunal de Justiça que


condiciona a instauração de inquérito à autorização do desembargador-relator nos
feitos de competência originária daquele órgão.

Na hipótese, não há ofensa ao sistema acusatório, pois a previsão


regimental decorre da normativa constitucional que determina o foro específico,
sujeitando investigações contra determinadas autoridades a maior controle judicial,
pela importância das funções que exercem.

STF. Plenário. ADI 7083/AP, relatora Min. Cármen Lúcia, julgamento em


13.5.2022 (Info 1.054).

--

35
8) É constitucional norma estadual de organização judiciária que
condiciona a abertura de investigação contra juiz à aprovação de órgão
colegiado?

É inconstitucional norma estadual de acordo com a qual compete a órgão


colegiado do tribunal autorizar o prosseguimento de investigações contra magistrados,
por criar prerrogativa não prevista na Lei Orgânica da Magistratura Nacional e não
extensível a outras autoridades com foro por prerrogativa de função.

Cabe a lei complementar de iniciativa do Supremo Tribunal Federal


disciplinar as matérias institucionais relativas à magistratura nacional (art. 93 da
Constituição Federal). O dispositivo impugnado é formalmente inconstitucional ao
instituir prerrogativa não prevista na Lei Orgânica da Magistratura Nacional. Tal norma
determina, nas investigações contra magistrado, a remessa do inquérito ao Tribunal ou
órgão competente, mas não condiciona o prosseguimento à autorização do órgão
colegiado. A norma questionada é materialmente inconstitucional por violação ao
princípio da isonomia, já que confere garantia mais extensa aos magistrados mineiros
do que a prevista para os demais membros da magistratura e autoridades com foro por
prerrogativa de função.

Há relevante distinção entre o presente caso e o que decidido na ADI


7083, Rel. Min. Carmen Lúcia. Em tal oportunidade, esta Corte destacou que “a mesma
razão jurídica apontada para justificar a necessidade de supervisão judicial dos atos
investigatórios de autoridades com prerrogativa de foro neste Supremo Tribunal
Federal aplica-se às autoridades com prerrogativa de foro em outros Tribunais”. No
entanto, o Regimento Interno do STF não exige que o prosseguimento da investigação
seja autorizado por órgão colegiado, bastando que o relator decida a respeito.

STF. Plenário. ADI 5331, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em


06/06/2022.

ARRESTO – ARTS. 136 e 137

Art. 136.  O arresto do imóvel poderá ser decretado de início, revogando-se,


porém, se no prazo de 15 (quinze) dias não for promovido o processo de
inscrição da hipoteca legal.

Art. 137.  Se o responsável não possuir bens imóveis ou os possuir de valor


insuficiente, poderão ser arrestados bens móveis suscetíveis de penhora, nos
termos em que é facultada a hipoteca legal dos imóveis.

§ 1o Se esses bens forem coisas fungíveis e facilmente deterioráveis, proceder-


se-á na forma do § 5o do art. 120.

§ 2o Das rendas dos bens móveis poderão ser fornecidos recursos arbitrados
pelo juiz, para a manutenção do indiciado e de sua família.
36
Quais são os requisitos para determinação da medida de arresto?

Para que seja autorizada a decretação da medida de arresto, não é


necessário que fique demonstrado que o réu está praticando atos concretos de
desfazimento de bens. Porém, é imperiosa a demonstração da plausibilidade do
direito e do perigo na demora. A indisponibilidade dos bens não traz prejuízos
desarrazoados ao réu, pois ele terá seus bens desbloqueados, se absolvido ao fim do
processo. Assim, é possível o arresto prévio de bens de acusados por suposta prática
de crime único de corrupção passiva em concurso de agentes.

STF. 1ª Turma. Pet 7.069/DF, Rel. Min. Luís Roberto Barroso, julgado em
13/3/2019 (Info 933).

ART. 149 – INCIDENTE DE INSANIDADE MENTAL

Art. 149. Quando houver dúvida sobre a integridade mental do acusado, o juiz
ordenará, de ofício ou a requerimento do Ministério Público, do defensor, do
curador, do ascendente, descendente, irmão ou cônjuge do acusado, seja este
submetido a exame médico-legal.

O acusado é obrigado a participar do exame de sanidade?

O incidente de insanidade mental é prova pericial constituída em favor da


defesa. Logo, não é possível determiná-lo compulsoriamente na hipótese em que a
defesa se oponha à sua realização.

STF. 2ª Turma. HC 133.078/RJ, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em


6/9/2016 (Info 838).

ART. 157 – PROVAS ILÍCITAS E PROVAS EM GERAL

1) As peças processuais que fazem referências à prova ilícita


precisam ser desentranhadas dos autos?

Se determinada prova é considerada ilícita, ela deverá ser desentranhada


do processo. Por outro lado, as peças do processo que fazem referência a essa prova
(exs: denúncia, pronúncia etc.) não devem ser desentranhadas e substituídas. A
denúncia, a sentença de pronúncia e as demais peças judiciais não são "provas" do
crime e, por essa razão, estão fora da regra que determina a exclusão das provas
obtidas por meios ilícitos prevista art. 157 do CPP. Assim, a legislação, ao tratar das
provas ilícitas e derivadas, não determina a exclusão de "peças processuais" que
a elas façam referência.

37
STF. 2ª Turma. RHC 137368/PR, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em
29/11/2016 (Info 849).

--

2) É válida entrevista informal realizada por autoridade durante


busca e apreensão, sem assistência de advogado e sem comunicação dos
direitos?

Houve violação do direito ao silêncio e à não autoincriminação na


realização desse “interrogatório travestido de entrevista”. Não se assegurou ao
investigado o direito à prévia consulta a seu advogado. Além disso, ele não foi
comunicado sobre seu direito ao silêncio e de não produzir provas contra si mesmo.

É relevante, ademais, mencionar o chamado aviso de Miranda


(advertência de Miranda, Miranda warning ou Miranda rights), originado do julgamento
Miranda vs. Arizona, onde a Suprema Corte dos Estados Unidos (384 U.S 436, de
1966), pelo voto do juiz Earl Warren, absolveu o réu confesso Ernesto Miranda,
acusado de estupro, sequestro e roubo, pois a polícia não havia lhe informado o direito
de ser assistido por um advogado e de não produzir prova contra si. Desde então, toda
pessoa presa nos EUA tem os seguintes direitos: (i) de permanecer calado; (ii) de ser
alertado de que tudo o que disser poderá ser usado contra si; e (iii) à assistência de um
advogado ou, na impossibilidade, um defensor público custeado pelo Estado.

Interrogatório sub-reptício.

STF. 2ª Turma. Rcl 33711/SP, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em


11/6/2019 (Info 944).

--

3) Viola a SV n. 14 a negativa de que o investigado tenha acesso a


peças de informação que digam respeito a dados sigilosos de terceiros?

SV n. 14: É direito do defensor, no interesse do representado, ter acesso amplo


aos elementos de prova que, já documentados em procedimento investigatório
realizado por órgão com competência de polícia judiciária, digam respeito ao
exercício do direito de defesa.

Mesmo que a investigação criminal tramite em segredo de justiça será


possível que o investigado tenha acesso amplo aos autos, inclusive a eventual relatório
de inteligência financeira do COAF, sendo permitido, contudo, que se negue o acesso a
peças que digam respeito a dados de terceiros protegidos pelo segredo de justiça.
Essa restrição parcial não viola a súmula vinculante 14. Isso porque é excessivo o
acesso de um dos investigados a informações, de caráter privado de diversas pessoas,
que não dizem respeito ao direito de defesa dele.
38
STF. 1ª Turma. Rcl 25872 AgR-AgR/SP, Rel. Min. Rosa Weber, julgado
em 17/12/2019 (Info 964).

--

4) É lícita a prova obtida mediante abertura de cartas ou meio


análogo?

Sem autorização judicial ou fora das hipóteses legais, é ilícita a prova


obtida mediante abertura de carta, telegrama, pacote ou meio análogo.

STF. Plenário. RE 1.116.949/PR, rel. Min. Edson Fachin, julgado em


02/10/2020 (Repercussão Geral - Tema 1.041) (Info 993).

--

5) O descumprimento do procedimento do reconhecimento de


pessoas acarreta que tipo de vício processual?

A desconformidade ao regime procedimental determinado no art. 226 do


CPP deve acarretar a nulidade do ato e sua desconsideração para fins decisórios,
justificando-se eventual condenação somente se houver elementos independentes para
superar a presunção de inocência.

O reconhecimento de pessoas, presencial ou por fotografia, deve


observar o procedimento previsto no art. 226 do CPP, cujas formalidades constituem
garantia mínima para quem se encontra na condição de suspeito da prática de um
crime e para uma verificação dos fatos mais justa e precisa.

A inobservância do procedimento descrito na referida norma processual


torna inválido o reconhecimento da pessoa suspeita, de modo que tal elemento não
poderá fundamentar eventual condenação ou decretação de prisão cautelar, mesmo se
refeito e confirmado o reconhecimento em juízo. Se declarada a irregularidade do ato,
eventual condenação já proferida poderá ser mantida, se fundamentada em provas
independentes e não contaminadas.

STF. 2ª Turma. RHC 206846/SP, relator Min. Gilmar Mendes, julgamento


em 22.2.2022 (Info 1.045).

--

6) É possível a prorrogação sucessiva da interceptação telefônica?

São lícitas as sucessivas renovações de interceptação telefônica, desde


que, verificados os requisitos do artigo 2º da Lei 9.296/1996 e demonstrada a
necessidade da medida diante de elementos concretos e a complexidade da
investigação, a decisão judicial inicial e as prorrogações sejam devidamente motivadas,

39
com justificativa legítima, ainda que sucinta, a embasar a continuidade das
investigações.

São ilegais as motivações padronizadas ou reproduções de modelos


genéricos sem relação com o caso concreto.

Quanto à duração total de medida de interceptação telefônica, atualmente


não se reconhece a existência de um limite máximo de prazo global a ser
abstratamente imposto. Por oportuno, o prazo máximo de duração do estado defesa
(CF, art. 136, § 2º) não é fundamento para limitar a viabilidade de renovações
sucessivas.

STF. Plenário. RE 625263/PR, relator Min. Alexandre de Moraes,


julgamento em 17.3.2022 (Repercussão Geral – Tema 661) (Info 1.047).

ART. 212 – PROVA TESTEMUNHAL

Há alguma ordem para inquirição das testemunhas?

Segundo a redação atual do art. 212 do CPP, quem primeiro começa


fazendo perguntas à testemunha é a parte que teve a iniciativa de arrolá-la. Em
seguida, a outra parte terá direito de perguntar e, por fim, o magistrado. Assim, a
inquirição de testemunhas pelas partes deve preceder à realizada pelo juízo. Em um
caso concreto, durante a audiência de instrução, a magistrada primeiro inquiriu as
testemunhas e, somente então, permitiu que as partes formulassem perguntas. O STF
entendeu que houve violação ao art. 212 do CPP e, em razão disso, determinou que
fosse realizada uma nova inquirição das testemunhas, observada a ordem prevista no
CPP.

STF. 1ª Turma. HC 111815/SP, rel. Min. Luiz Fux, julgado em 14/11/2017


(Info 885).

ART. 240, CPP – BUSCA E APREENSÃO

1) Busca em veículo equipara-se à busca pessoal ou domiciliar?

A apreensão de documentos no interior de veículo automotor constitui


uma espécie de "busca pessoal" e, portanto, não necessita de autorização judicial
quando houver fundada suspeita de que em seu interior estão escondidos elementos
necessários à elucidação dos fatos investigados. Exceção: será necessária
autorização judicial quando o veículo é destinado à habitação do indivíduo, como
no caso de trailers, cabines de caminhão, barcos, entre outros, quando, então, se
inserem no conceito jurídico de domicílio.
40
STF. 2ª Turma. RHC 117767/DF, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em
11/10/2016 (Info 843).

--

2) Qualquer medida de busca e apreensão no Senado ou na Câmara


deverá obrigatoriamente ser determinada pelo STF?

A Constituição, ao disciplinar as imunidades e prerrogativas dos


parlamentares, não conferiu exclusividade ao STF para determinar medidas de busca e
apreensão nas dependências da Câmara dos Deputados ou do Senado Federal.

Assim, a determinação de busca e apreensão nas dependências do


Senado Federal, desde que não direcionada a apurar conduta de congressista, não se
relaciona com as imunidades e prerrogativas parlamentares. Isso porque, ao contrário
do que ocorre com as imunidades diplomáticas, as prerrogativas e imunidades
parlamentares não se estendem aos locais onde os parlamentares exercem suas
atividades nem ao corpo auxiliar.

O fato de o endereço de cumprimento da medida coincidir com as


dependências do Congresso Nacional não atrai, de modo automático e necessário, a
competência do STF. É necessário examinar, no caso concreto, se a investigação tinha
congressista como alvo.

Se a prova produzida não precisava de autorização judicial, não há motivo


para que ela seja anulada. A inobservância das regras do juiz natural não acarreta a
nulidade da prova colhida na hipótese em que isso não se constituir em fator decisivo à
sua produção. Não estão contaminados os elementos probatórios cuja produção
prescindem de prévia autorização judicial. Em suma: mesmo que tenha sido usurpada
a competência do STF para supervisionar o inquérito, não deverão ser desconstituídos
(anulados) os atos de investigação que não precisavam de autorização judicial, como é
o caso da tomada de depoimentos.

Duplo juízo de validade de uma mesma prova: É possível fazer uma


“separação” dos efeitos da declaração de nulidade de uma mesma prova. Em outras
palavras, é possível que uma mesma prova seja declarada inválida para alguns
investigados e que, por outro lado, seja utilizada contra outros. Ex.: Quando um dos
investigados tiver foro por prerrogativa e o, outro, não. Ex: Polícia Federal investiga 5
pessoas que não têm foro por prerrogativa de função; ocorre que havia indícios da
participação de 3 Senadores; logo, essa investigação criminal deveria ter a supervisão
do STF, a quem competiria autorizar as medidas cautelares; isso, contudo, não
acontece; o juiz de 1ª instância autoriza a interceptação telefônica das 5 pessoas
formalmente investigadas; essa interceptação será considerada nula em relação aos 3

41
Senadores (por usurpação da competência do STF), mas será válida para os 2
investigados sem foro. Assim, a usurpação da competência do STF não contamina os
elementos probatórios colhidos no que se refere aos investigados que não possuem
foro por prerrogativa de função. Podem ser utilizadas contra eles.

STF. Plenário. Rcl 25537/DF e AC 4297/DF, Rel. Min. Edson Fachin,


julgados em 26/6/2019 (Info 945).

ART. 252 – IMPEDIMENTOS

Art. 252.  O juiz não poderá exercer jurisdição no processo em que: I - tiver


funcionado seu cônjuge ou parente, consanguíneo ou afim, em linha reta ou
colateral até o terceiro grau, inclusive, como defensor ou advogado, órgão do
Ministério Público, autoridade policial, auxiliar da justiça ou perito; II - ele
próprio houver desempenhado qualquer dessas funções ou servido como
testemunha; III - tiver funcionado como juiz de outra instância, pronunciando-
se, de fato ou de direito, sobre a questão;  IV - ele próprio ou seu cônjuge ou
parente, consanguíneo ou afim em linha reta ou colateral até o terceiro grau,
inclusive, for parte ou diretamente interessado no feito.

Magistrado que atuou como corregedor em PAD está impedido de


atuar no processo judicial?

O magistrado que atuou como corregedor em processo administrativo


instaurado contra o réu não está impedido de participar como julgador no processo
criminal que tramita contra o acusado. A situação não se amolda em nenhuma das
hipóteses do art. 252 do CPP. O STF entende que não é possível criar, por meio de
interpretação, novas causas de impedimento que não estejam descritas expressamente
nesse dispositivo.

O inciso III, quando se refere à “outra instância”, quer dizer outra instância
JUDICIAL, e não administrativa.

STF. 2ª Turma. RHC 131735/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em


3/5/2016 (Info 824).

ART. 260, CPP

Art. 260.  Se o acusado não atender à intimação para o interrogatório,


reconhecimento ou qualquer outro ato que, sem ele, não possa ser realizado, a
autoridade poderá mandar conduzi-lo à sua presença.

É constitucional a condução coercitiva para interrogatório?

O STF declarou que a expressão “para o interrogatório”, prevista no art.


260 do CPP, não foi recepcionada pela Constituição Federal. Assim, caso seja
determinada a condução coercitiva de investigados ou de réus para interrogatório, tal
42
conduta poderá ensejar: a) a responsabilidade disciplinar, civil e penal do agente ou da
autoridade; b) a ilicitude das provas obtidas; c) a responsabilidade civil do Estado.
Modulação dos efeitos: o STF afirmou que o entendimento acima não desconstitui (não
invalida) os interrogatórios que foram realizados até a data do julgamento, ainda que os
interrogados tenham sido coercitivamente conduzidos para o referido ato processual.

STF. Plenário. ADPF 395/DF e ADPF 444/DF, Rel. Min. Gilmar Mendes,
julgados em 13 e 14/6/2018 (Info 906).

IMPORTANTE: Antes da CF/88, não existia o direito ao silêncio no


ordenamento jurídico brasileiro. Ao contrário, o CPP previa que o silêncio do
acusado seria interpretado em seu desfavor. Era a redação originária do art. 186.
Vale ressaltar que, além da CF/88, o direito ao silêncio foi consagrado também em
tratados de direitos humanos dos quais o Brasil é signatário. Nesse sentido: Pacto
Internacional sobre Direitos Civis e Políticos e Pacto de San José da Costa Rica.

Vale ressaltar que a condução coercitiva é ilegítima mesmo que o


investigado tenha sido previamente intimado para comparecer à Delegacia para
interrogatório e tenha se recusado. Assim, mesmo que seja obedecida rigorosamente a
cautela do art. 260, ainda assim a condução coercitiva para interrogatório será
indevida. Isso porque a CF/88 e os tratados internacionais, ao preverem o direito do
investigado ao silêncio, asseguram também a ele, como decorrência, o direito de
ausência ao interrogatório. Ora, se o investigado não é obrigado a falar no
interrogatório, ele também não pode ser obrigado a comparecer ao interrogatório.
Pode-se dizer, portanto, que existe um direito de ausência do investigado ao
interrogatório. O direito de ausência, por sua vez, afasta a possibilidade de condução
coercitiva.

Condução coercitiva pode ser adotada para outras hipóteses. Para


que a condução coercitiva seja legítima, ela deve destinar-se à prática de um ato ao
qual a pessoa tem o dever de comparecer, ou, ao menos, que possa ser legitimamente
obrigada a comparecer. Exemplo 1: condução coercitiva quando houver dúvida sobre a
identidade civil do investigado; Exemplo 2: condução coercitiva para fazer a
qualificação do investigado (1ª fase do interrogatório).

Síntese: a condução coercitiva para interrogatório representa uma


restrição da liberdade de locomoção e da presunção de não culpabilidade, para obrigar
a presença em um ato ao qual o investigado não é obrigado a comparecer. Daí sua
incompatibilidade com a Constituição Federal.

IMPORTANTE: Testemunha pode ser conduzida coercitivamente para


comparecer à sessão de CPI?

43
Sim.

A CPI pode determinar?

Não, a condução coercitiva se submete à cláusula de reserva de


jurisdição, de modo que apenas autoridade judicial tem competência para fazê-lo.
Assim, o presidente da CPI solicita ao juiz da localidade em que reside a testemunha a
sua condução, na forma do art. 3º, §1º, da L1.579/52 (mesma providência caso seja
necessária a adoção de alguma medida cautelar – art. 3º-A).

ART. 265 - MULTA POR ABANDONO DO PROCESSO

Art. 265. O defensor não poderá abandonar o processo senão por


motivo imperioso, comunicado previamente o juiz, sob pena de multa de
10 (dez) a 100 (cem) salários mínimos, sem prejuízo das demais
sanções cabíveis.

§1o A audiência poderá ser adiada se, por motivo justificado, o defensor
não puder comparecer.

§2o Incumbe ao defensor provar o impedimento até a abertura da


audiência. Não o fazendo, o juiz não determinará o adiamento de ato
algum do processo, devendo nomear defensor substituto, ainda que
provisoriamente ou só para o efeito do ato.

É constitucional o dispositivo que fixa multa para o defensor que


abandona o processo?

A previsão da multa afigura-se compatível com os princípios da


razoabilidade e da proporcionalidade. A multa não se mostra inadequada nem
desnecessária. Ao contrário, mostra-se razoável como meio prévio para evitar o
comportamento prejudicial à administração da justiça e ao direito de defesa do réu,
tendo em vista a imprescindibilidade da atuação do profissional da advocacia para o
regular andamento do processo penal. A multa do art. 265 do CPP não ofende o
contraditório, a ampla defesa, o devido processo legal ou a presunção de não
culpabilidade. Não há necessidade de instauração de processo autônomo e de
manifestação prévia do defensor, no entanto, é possível que ele, posteriormente, se
justifique por meio de pedido de reconsideração. Outra alternativa é a impetração de
mandado de segurança.

STF. Plenário. ADI 4398/DF, rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em


02/10/2020 (Info 993).

ART. 301 a 310 – PRISÃO EM FLAGRANTE


44
É constitucional provimento de Tribunal que impede que o juiz
converta o auto de flagrante em diligência?

É inconstitucional norma do provimento do Conselho da Magistratura


estadual que proíbe o juiz de converter os autos de prisão em flagrante em diligência.
Isso porque, a norma, além de desbordar dos limites do poder regulamentar, invade a
competência privativa da União para legislar sobre Direito Processual Penal (CF/1988,
art. 21, I).

Ademais, não há na lei processual, mesmo após as alterações


introduzidas pela Lei 13.964/2019, qualquer proibição à conversão do auto de prisão
em flagrante em diligência. Dessa forma, o Conselho Superior da Magistratura, a
pretexto de disciplinar o bom funcionamento do plantão judiciário, indevidamente,
inovou em matéria processual penal.

A possibilidade de ordenar diligências prévias consiste em prerrogativa


inafastável do magistrado. A norma impugnada também vulnera, diretamente, o
princípio da independência funcional do juiz, motivo pelo qual está eivada de vício
material.

STF. Plenário. ADI 4662/SP, relator Min. Dias Toffoli, julgamento em


15.8.2022 (Info 1.063).

ART. 311 e ss. - PRISÃO PREVENTIVA E CAUTELARES

1) A inobservância do prazo de revisão da preventiva em 90 dias


implica na sua automática revogação?

A inobservância do prazo nonagesimal do art. 316 do Código de Processo


Penal não implica automática revogação da prisão preventiva, devendo o juízo
competente ser instado a reavaliar a legalidade e a atualidade de seus fundamentos.

Isso porque não houve, por parte da lei, a previsão de automaticidade. O


parágrafo único do art. 316 do CPP não dispõe que a prisão preventiva passa a ter 90
dias de duração. Estabelece, tão somente, a necessidade de uma reanálise, que
pressupõe a reavaliação da subsistência, ou não, dos requisitos que fundamentaram o
decreto prisional.

STF. Plenário. SL 135/SP, rel. Min. Luiz Fux, julgado em 15/10/2020 (Info
995).

--

2) Quais são os requisitos para decretação da prisão temporária?

45
A decretação de prisão temporária somente é cabível quando (i) for
imprescindível para as investigações do inquérito policial; (ii) houver fundadas razões
de autoria ou participação do indiciado; (iii) for justificada em fatos novos ou
contemporâneos; (iv) for adequada à gravidade concreta do crime, às circunstâncias do
fato e às condições pessoais do indiciado; e (v) não for suficiente a imposição de
medidas cautelares diversas.

STF. Plenário. ADI 3360/DF, rel. Min. Edson Fachin, julgamento em


11.2.2022 (Info 1.043).

ART. 318 – PRISÃO DOMICILIAR

Art. 318.  Poderá o juiz substituir a prisão preventiva pela domiciliar quando o
agente for: I - maior de 80 (oitenta) anos; II - extremamente debilitado por
motivo de doença grave; III - imprescindível aos cuidados especiais de pessoa
menor de 6 (seis) anos de idade ou com deficiência; IV - gestante; V - mulher
com filho de até 12 (doze) anos de idade incompletos; VI - homem, caso seja o
único responsável pelos cuidados do filho de até 12 (doze) anos de idade
incompletos. Parágrafo único.  Para a substituição, o juiz exigirá prova idônea
dos requisitos estabelecidos neste artigo. 

1) A prisão domiciliar do art. 318 pode se aplicar aos casos de


execução definitiva da condenação?

Não é possível a concessão de prisão domiciliar para condenada gestante


ou que seja mãe ou responsável por crianças ou pessoas com deficiência se já houver
sentença condenatória transitada em julgado e ela não preencher os requisitos do art.
117 da LEP.

STF. 1ª Turma. HC 177164/PA, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em


18/2/2020 (Info 967).

--

2) Quais as hipóteses cabíveis para substituição da preventiva pela


domiciliar?

Tem direito à substituição da prisão preventiva pela prisão domiciliar —


desde que observados os requisitos do art. 318 do CPP e não praticados crimes
mediante violência ou grave ameaça ou contra os próprios filhos ou dependentes — os
pais, caso sejam os únicos responsáveis pelos cuidados de menor de 12 anos ou de
pessoa com deficiência, bem como outras pessoas presas, que não sejam a mãe ou o
pai, se forem imprescindíveis aos cuidados especiais de pessoa menor de 6 anos ou
com deficiência.

46
STF. Plenário. HC 165704/DF, rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em
20/10/2020. (Info 996).

ART. 366 - SUSPENSÃO PRAZO PRESCRICIONAL

No caso de citação por edital, qual o limite de suspensão do prazo


prescricional?

Em caso de inatividade processual decorrente de citação por edital,


ressalvados os crimes previstos na CF como imprescritíveis, é constitucional limitar o
período de suspensão do prazo prescricional ao tempo de prescrição da pena máxima
em abstrato cominada ao crime, a despeito de o processo permanecer suspenso.

É compatível com a Constituição a interpretação conjunta do art. 366 do


CPP com o art. 109, “caput”, do CP, limitando o prazo de suspensão da prescrição ao
tempo de prescrição do máximo da pena em abstrato prevista para o delito.

Finda a suspensão do prazo prescricional pelo decurso do tempo


estabelecido no art. 109 do CP, será retomado o curso da prescrição, permanecendo
suspenso o processo penal.

STF. Plenário. RE 600851/DF, rel. Min. Edson Fachin, julgamento em


4.12.2020 (Repercussão Geral - Tema 438) (Info 1.001).

SENTENÇA

1) O juiz pode reconhecer causa de aumento que, embora narrada,


não foi expressamente indicada?

O princípio da congruência preconiza que o acusado defende-se dos fatos


descritos na denúncia e não da capitulação jurídica nela estabelecida. Assim, para que
esse princípio seja respeitado é necessário apenas que haja a correlação entre o fato
descrito na peça acusatória e o fato pelo qual o réu foi condenado, sendo irrelevante a
menção expressa na denúncia de eventuais causas de aumento ou diminuição de
pena. Ex: o MP ajuizou ação penal contra o réu por sonegação fiscal (art. 1º, I, da Lei
nº 8.137/90). Na denúncia, o MP não pediu expressamente que fosse reconhecida a
majorante do art. 12, I. Pediu-se apenas a condenação do acusado pelo crime do art.
1º, I. No entanto, apesar disso, na exordial o membro do MP narrou que o réu sonegou
tributos em montante superior a R$ 4 milhões. O juiz, na sentença, ao condenar o réu,
poderá reconhecer a incidência da causa de aumento de pena prevista no art. 12, I,
porque o fato que ela representa (vultosa quantia sonegada que gera dano à
coletividade) foi narrado, apesar de não haver menção expressa ao dispositivo legal.
47
STF. 2ª Turma. HC 129284/PE, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado
em 17/10/2017 (Info 882).

--

2) Na sentença penal condenatória, o juiz pode condenar o réu ao


pagamento de danos morais coletivos?

O réu que praticou corrupção passiva pode ser condenado, no âmbito do


próprio processo penal, a pagar danos morais coletivos. O ordenamento jurídico tutela,
no âmbito da responsabilidade, o dano moral não apenas na esfera individual como
também na coletiva, conforme previsto no inciso X do art. 5º da Constituição Federal e
no art. 186 do Código Civil. Destaque-se ainda a previsão do inciso VIII do art. 1º da Lei
nº 7.347/85 (Lei de Ação Civil Pública).

O art. 387, IV, não limita a indenização apenas aos danos materiais e a
legislação penal deve sempre priorizar o ressarcimento da vítima em relação a todos os
prejuízos sofridos.

STF. 2ª Turma. AP 1002/DF, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 9/6/2020


(Info 981).

JÚRI

1) Em caso de condenação pelo júri, é possível a execução


provisória da pena antes do julgamento da apelação?

Em caso de condenação pelo Tribunal do Júri, é possível a execução


provisória da pena mesmo antes de o Tribunal julgar a apelação interposta pela
defesa?

1ª corrente: SIM.

É possível a execução da condenação pelo Juiz Presidente do Tribunal


do Júri, independentemente do julgamento da apelação ou de qualquer outro recurso,
em face do princípio da soberania dos veredictos. Assim, nas condenações pelo
Tribunal do Júri não é necessário aguardar julgamento de recurso em segundo grau de
jurisdição para a execução da pena. STF. 1ª Turma. HC 140449/RJ, rel. orig. Min.
Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Roberto Barroso, julgado em 6/11/2018 (Info 922).

STF. 1ª Turma. HC 118770 ED, Redator do acórdão Min. Roberto


Barroso, julgado em 04/06/2018.

2ª corrente: NÃO.

48
Não é possível a execução provisória da pena em face de decisão do júri
sem que haja o exaurimento em grau recursal das instâncias ordinárias, sob pena de
macular o princípio constitucional da presunção de inocência. A execução provisória da
pena somente é admitida se o recurso pendente de julgamento não tiver efeito
suspensivo. STF. 2ª Turma. HC 136223, Rel. Min. Dias Toffoli, Segunda Turma,
julgado em 25/04/2017.

STJ. 5ª Turma. HC 438088, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca,


julgado em 24/05/2018.

STJ. Presidente Min. Laurita Vaz, em decisão monocrática no HC


458.249, julgado em 12/07/2018.

Em uma prova de concurso, você deve expor que existe divergência entre
a jurisprudência dos Tribunais Superiores. Penso, contudo, que a segunda corrente
é majoritária e que a primeira é mais uma posição isolada do Min. Roberto
Barroso. De qualquer modo, o cenário atual é o seguinte: É possível executar
provisoriamente a condenação pelo Tribunal do Júri após a leitura da sentença
sem que ofenda o princípio constitucional da presunção de inocência?

SIM. Precedentes da 1ª Turma do STF.

NÃO. Posição da 2ª Turma do STF e 5ª Turma do STJ.

--

2) O efeito prodrômico aplica-se à decisão proferida no júri ou vale a


soberania dos vereditos?

Se a condenação proferida pelo júri foi anulada pelo Tribunal em recurso


exclusivo da defesa, isso significa que deverá ser realizado um novo júri, mas, em caso
de nova condenação, a pena imposta neste segundo julgamento não poderá ser
superior àquela fixada na sentença do primeiro júri. Em outras palavras, se apenas o
réu recorreu contra a sentença que o condenou e o Tribunal decidiu anular a sentença,
determinando que outra seja prolatada, esta nova sentença, se também for
condenatória, não pode ter uma pena superior à que foi aplicada na primeira. Isso é
chamado de princípio da ne reformatio in pejus indireta, que tem aplicação também no
Tribunal do Júri. A soberania do veredicto dos jurados (art. 5º, XXXVIII, “c”, da CF/88)
não autoriza a reformatio in pejus indireta.

Atenção: Os jurados, no segundo julgamento, podem reconhecer novas


qualificadoras que não haviam sido observadas na primeira decisão. Ex: no primeiro
julgamento, Gustavo foi condenado por homicídio simples. No segundo, poderá ser
condenado por homicídio qualificado. No entanto, mesmo que os jurados, no segundo
julgamento, condenem o réu por uma nova qualificadora que não havia sido
49
reconhecida no primeiro julgamento, ainda assim a pena fixada pelo juiz-presidente não
pode ser superior à pena estabelecida no primeiro julgado.

STF. 2ª Turma. HC 165376/SP, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em


11/12/2018 (Info 927).

--

3) É nulo o julgamento pelo júri por ausência de defesa quando o


advogado faz uma sustentação oral de apenas 3 minutos?

Na sessão plenária do Tribunal do Júri, na fase de sustentações orais, o


Ministério Público falou durante 1h e 30min e, ao final de sua exposição, pediu a
absolvição do réu. Em seguida, o advogado constituído fez sustentação oral apenas
concordando com o Ministério Público e pedindo igualmente a absolvição. A
manifestação da defesa durou apenas 3 minutos. Mesmo com a manifestação do MP
pedindo a absolvição, os jurados decidiram condenar o réu.

O STJ e o STF afirmaram que não houve nulidade por ausência de


defesa e mantiveram a condenação.

O réu foi acompanhado pela sua defesa na sessão de julgamento pelo


Tribunal do Júri, tendo reiterado o mandato conferido ao seu advogado na interposição
da apelação. Assim, o próprio paciente não se insurgiu contra a atuação de seu
advogado, tanto assim que com ele permaneceu, inclusive para fins de apelação
criminal. Além disso, no caso, não houve ausência de defesa, de modo que não se
pode falar em nulidade absoluta. Se houve nulidade, esta teria sido apenas relativa, a
qual depende da demonstração de efetivo prejuízo, o que não ocorreu. Consolidou-se
no âmbito dos Tribunais Superiores o entendimento de que apenas a absoluta falta de
defesa constitui nulidade absoluta da ação penal. Se a alegação é a de que a defesa
foi insuficiente, o julgamento só deverá ser anulado e ficar demonstrado o efetivo
prejuízo. Isso porque a defesa insuficiente é hipótese de nulidade relativa. Nesse
sentido é a Súmula 523 do STF. Não se pode classificar como insatisfatória a atuação
do advogado, que exerceu a defesa de acordo com a estratégia que considerou melhor
no caso.

STF. 2ª Turma. HC 164535 AgR/RJ, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em


17/3/2020 (Info 970).

NULIDADES

1) Há nulidade quando o advogado constituído, devidamente


intimado, deixa de apresentar contrarrazões?

50
Não há que se falar em nulidade do julgamento da apelação interposta
pelo Ministério Público se a defesa, regularmente intimada para a apresentação de
contrarrazões, permanece inerte. Em outras palavras, a ausência de contrarrazões à
apelação do Ministério Público não é causa de nulidade por cerceamento de defesa se
o defensor constituído pelo réu foi devidamente intimado para apresentá-las, mas não o
fez.

STF. 1ª Turma. RHC 133121/DF, rel. Min. Edson Fachin julgado em


30/8/2016 (Info 837).

--

2) É necessário intimar a DP do julgamento do HC?

A intimação pessoal da Defensoria Pública quanto à data de julgamento


de habeas corpus só é necessária se houver pedido expresso para a realização de
sustentação oral.

Súmula 431/STF: É nulo o julgamento de recurso criminal, na segunda


instância, sem prévia intimação, ou publicação da pauta, salvo em HC.

STF. 2ª Turma. HC 134.904/SP, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em


13/9/2016 (Info 839).

--

3) Há nulidade em caso de julgamento por órgão colegiado formado


por maioria de juízes convocados?

Não viola o princípio do juiz natural o julgamento de apelação por órgão


colegiado presidido por desembargador, sendo os demais integrantes juízes
convocados.

STF. 1ª Turma. HC 101473/SP, rel. Min. Roberto Barroso, julgado em


16/2/2016 (Info 814).

--

4) O indeferimento da oitiva do ofendido acarreta cerceamento de


defesa?

Não há direito absoluto à produção de prova. Em casos complexos, há


que se confiar no prudente arbítrio do juiz da causa, mais próximo dos fatos, quanto à
avaliação da pertinência e relevância das provas requeridas pelas partes. Assim, não
há nulidade se o juiz indefere, de modo fundamentado, a oitiva das vítimas do crime.
Em regra, o ofendido deverá ser ouvido na audiência de instrução. No entanto, a

51
obrigatoriedade de oitiva da vítima deve ser compreendida à luz da razoabilidade e da
utilidade prática da colheita da referida prova.

STF. 1ª Turma. HC 131158/RS, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em


26/4/2016 (Info 823).

--

5) Qual o momento para a DP alegar nulidade em vista da ausência


de intimação pessoal?

A não observância da intimação pessoal da Defensoria Pública deve ser


impugnada imediatamente, na primeira oportunidade processual, sob pena de
preclusão.

STF. 2ª Turma. HC 133476, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em


14/6/2016 (Info 830).

--

6) A ausência de defensor, devidamente intimado, à sessão de


julgamento é causa de nulidade?

A ausência de defensor, devidamente intimado, à sessão de julgamento


não implica, por si só, nulidade processual.

Caso concreto: em ação penal originária que tramitava no TJ, o defensor


foi intimado da sessão de julgamento, mas deixou de comparecer e de fazer a
sustentação oral; não há nulidade. Intimada a defesa para a sessão de julgamento da
ação penal originária, a ausência da sustentação oral prevista no art. 12 da Lei nº
8.038/90 não invalida a condenação.

STF. 1ª Turma. HC 165534/RJ, rel. Min. Roberto Barroso, julgado em


3/9/2019 (Info 950).

--

7) Advogado do réu delatado deverá comparecer ao interrogatório do


réu delator?

O advogado de um réu deverá, obrigatoriamente, estar presente no


interrogatório do corréu que com ele responde o mesmo processo criminal? REGRA:
não. A presença da defesa técnica é imprescindível durante o interrogatório do réu por
ela representado, não quanto aos demais. Assim, é obrigatória a presença do
advogado no interrogatório do seu cliente. No interrogatório dos demais réus, essa
presença é, em regra, facultativa.

52
EXCEÇÃO: se o interrogatório é de um corréu delator, a presença do
advogado dos réus delatados é indispensável. Neste caso, deve-se exigir a presença
dos advogados dos réus delatados, pois, na colaboração premiada, o delator adere à
acusação em troca de um benefício acordado entre as partes e homologado pelo
julgador natural. Normalmente, o delator presta contribuições à persecução penal
incriminando eventuais corréus, razão pela qual seus advogados devem acompanhar o
ato. Se o advogado do corréu não comparece ao interrogatório do réu delator, haverá
nulidade? Depende: a) Se o corréu foi delatado no interrogatório e seu advogado não
compareceu: sim, haverá nulidade; b) Se o corréu não foi delatado no interrogatório:
não. Isso porque não houve prejuízo.

STF. 2ª Turma. AO 2093/RN, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em


3/9/2019 (Info 955).

RECURSOS

1) Apelação: inclusão de circunstâncias judiciais sem incremento da


pena. Há “reformatio in pejus”?

Não viola o princípio da proibição da reformatio in pejus a reavaliação das


circunstâncias judiciais em recurso de apelação penal defensiva, no âmbito do efeito
devolutivo, desde que essa não incorra em aumento de pena.

No julgamento em primeira instância, a pena-base foi fixada em dois anos


e seis meses acima do mínimo legal devido à avaliação de três circunstâncias
negativas: antecedentes, consequências do crime e culpabilidade.

O tribunal de justiça local, ao reavaliar as circunstâncias em face de


apelação defensiva, retirou a relativa aos antecedentes, por falta de sentença
transitada em julgado; acrescentou fundamentação, antes omissa, às
consequências do crime; reafirmou a culpabilidade; e incluiu um terceiro fator,
circunstâncias do crime, não mencionado anteriormente. Dessa forma, manteve a
pena-base.

A defesa aduziu a ausência de embasamento fático em relação aos


aspectos culpabilidade e consequências do crime e afirmou o caráter desfavorável da
reanálise da sentença ao réu, apesar da não alteração da pena. O STF entendeu que
não houve violação do princípio, uma vez que a pena não foi alterada.

STF, HC 126.457/PA, rel. Min. Alexandre de Moraes, julgamento em


6.11.2018 (Info 922).

--

53
2) Qual o prazo do agravo contra decisão do Tribunal de origem que
nega seguimento a RE criminal?

Se o Presidente do tribunal de origem nega seguimento ao RE ou Resp


(em matéria criminal) e a parte deseja interpor agravo contra esta decisão, ela terá o
prazo de 15 dias (art. 1.003, § 5º, do CPC/2015). Antes do CPC/2015, este prazo era
de 5 dias, conforme previa o art. 38 da Lei nº 8.038/90. Com o novo CPC e a
revogação do art. 38 da Lei nº 8.038/90, ficou superada a Súmula 699-STF. Vale
ressaltar que o prazo deste agravo acima mencionado é contado em dias CORRIDOS
(não são dias úteis). Não se aplica o art. 219 do CPC/2015, considerando que existe
regra específica no processo penal determinando que todos os prazos serão contínuos,
não se interrompendo por férias, domingo ou dia feriado (art. 798 do CPP). Resumindo:
se o Presidente do tribunal de origem nega seguimento ao RE ou Resp (em matéria
criminal) e a parte deseja interpor agravo contra esta decisão, ela terá o prazo de 15
dias CORRIDOS (não são dias úteis).

STF. 1ª Turma. ARE 993407/DF, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em


25/10/2016 (Info 845).

--

3) Réu que não seja parte da mesma demanda pode requerer a


extensão dos efeitos da decisão com base no art. 580?

Art. 580. No caso de concurso de agentes (Código Penal, art. 25), a decisão do
recurso interposto por um dos réus, se fundado em motivos que não sejam de
caráter exclusivamente pessoal, aproveitará aos outros.

O art. 580 do CPP afirma que, no caso de concurso de agentes, a decisão


favorável que um dos réus conseguir no julgamento do seu recurso poderá ser
aproveitada pelos demais acusados, salvo se a decisão tiver se fundamentado em
motivos que sejam de caráter exclusivamente pessoal. Esse dispositivo não pode ser
aplicado quando:

a) o réu que estiver requerendo a extensão da decisão não participar da


mesma relação jurídico-processual daquele que foi beneficiado. O requerente será,
neste caso, parte ilegítima;

b) se invoca extensão da decisão para outros processos que não foram


examinados pelo órgão julgador. Isso porque, neste caso, o que o requerente está
pretendendo é obter a transcendência dos motivos determinantes para outro processo,
o que não é admitido pela jurisprudência do STF.

STF. 1ª Turma. HC 137728 EXTN/PR, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em


30/5/2017 (Info 867).
54
--

4) MP tem direito a prazo em dobro no processo penal?

O prazo para interposição de agravo regimental no STF, em processos


criminais, é de 5 dias corridos (não são dias úteis, como no CPC). O MP e a Defensoria
Pública possuem prazo em dobro para interpor esse agravo?

MP: NÃO. Em matéria penal, o Ministério Público não goza da


prerrogativa da contagem dos prazos recursais em dobro. Logo, o prazo para
interposição de agravo pelo Estado-acusador em processo criminal é de 5 dias.

Defensoria Pública: SIM. Mesmo em matéria penal, são contados em


dobro todos os prazos da Defensoria Pública. Logo, o prazo para a Defensoria Pública
interpor agravo regimental é de 10 dias.

STF. 1ª Turma. HC 120275/PR, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em


15/5/2018 (Info 902).

--

5) Qual é o prazo do agravo interno contra decisão monocrática de


ministro relator no STF/STJ?

O agravo interposto contra decisão monocrática do Ministro Relator no


STF e STJ, em recursos ou ações originárias que versem sobre matéria penal ou
processual penal NÃO obedece às regras no novo CPC. Isso significa que:

a) o prazo deste agravo é de 5 dias, nos termos do art. 39 da Lei nº


8.038/90 (não se aplicando o art. 1.070 do CPC/2015);

b) este prazo é contado em dias corridos, conforme prevê o art. 798 do


CPP (não se aplicando a regra da contagem em dias úteis do art. 219 do CPC/2015).

STF. Decisão monocrática. HC 134554 Rcon, Rel. Min. Celso de Mello,


julgado em 10/06/2016 (Info 830).

STJ. 3ª Seção. AgRg na Rcl 30.714/PB, Rel. Min. Reynaldo Soares da


Fonseca, julgado em 27/04/2016.

RECLAMAÇÃO

O ato impugnado na reclamação deve ser posterior à decisão


paradigma que se alega violada?

Na reclamação fundada no descumprimento de decisão emanada pelo


STF, o ato alvo de controle deve ser posterior ao paradigma.

55
Ex: em 2016, o Juiz proferiu decisão negando a homologação do acordo
de colaboração premiada celebrado com o Delegado de Polícia sob o argumento de
que a autoridade policial não poderia firmar esse pacto. Em 2018, o STF proferiu
decisão afirmando que o Delegado de Polícia pode formalizar acordos de colaboração
premiada,na fase de inquérito policial. Não cabe reclamação contra esta decisão do
Juiz de 2016 sob o argumento de que ela teria violado o acórdão do STF de 2018. Isso
porque só há que se falar em reclamação se o ato impugnado por meio desta ação é
posterior à decisão paradigma.

STF. 2ª Turma. Rcl 32655 AgR/PR, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em
23/4/2019 (Info 938).

ART. 609, CPP – EMBARGOS INFRINGENTES

Art. 609. (...) Parágrafo único. Quando não for unânime a decisão de segunda
instância, desfavorável ao réu, admitem-se embargos infringentes e de
nulidade, que poderão ser opostos dentro de 10 (dez) dias, a contar da
publicação de acórdão, na forma do art. 613. Se o desacordo for parcial, os
embargos serão restritos à matéria objeto de divergência.

1) Se a Turma, ao condenar o réu, estiver com quórum incompleto,


será possível o cabimento dos EI mesmo se houver apenas 1 voto absolutório?

Em regra, cabem embargos infringentes para o Plenário do STF contra


decisão condenatória proferida pelas Turmas do STF, desde que 2 Ministros tenham
votado pela absolvição. Neste caso, o placar terá sido 3 x 2, ou seja, 3 Ministros
votaram para condenar e 2 votaram para absolver. Excepcionalmente, se a Turma, ao
condenar o réu, estiver com quórum incompleto, será possível aceitar o cabimento dos
embargos infringentes mesmo que tenha havido apenas 1 voto absolutório. Isso porque
o réu não pode ser prejudicado pela ausência do quórum completo.

STF. Plenário. AP 929 ED-2º julg-EI/AL, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em
17/10/2018 (Info 920).

--

2) Cabem Embargos Infringentes para o plenário do STF contra


decisão condenatória de Turma do Tribunal?

Cabem embargos infringentes para o Plenário do STF contra decisão


condenatória proferida em sede de ação penal de competência originária das Turmas
do STF. O requisito de cabimento desse recurso é a existência de (2) dois votos
minoritários absolutórios em sentido próprio. Voto absolutório em sentido próprio:
significa que o Ministro deve ter expressado juízo de improcedência da pretensão

56
executória. Voto que reconhece a prescrição não é considerado absolutório em sentido
próprio, mas sim meramente declaratório da extinção da punibilidade.

STF. Plenário. HC 152707/DF, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 18 e


19/4/2018 (Info 898).

REVISÃO CRIMINAL

Art. 621. A revisão dos processos findos será admitida: I – quando a sentença
condenatória for contrária ao texto expresso da lei penal ou à evidência dos
autos; II – quando a sentença condenatória se fundar em depoimentos, exames
ou documentos comprovadamente falsos; III – quando, após a sentença, se
descobrirem novas provas de inocência do condenado ou de circunstância que
determine ou autorize diminuição especial da pena.

Cabe revisão criminal contra decisão que inadmite recurso?

A revisão criminal expressa um processo reparatório do erro judiciário, em


que situações excepcionais, assim reconhecidas pelo legislador, podem, em tese,
autorizar a desconstrução do pronunciamento jurisdicional acobertado pelo manto da
coisa julgada.

Nesse cenário, o condenado não tem o direito subjetivo de, fora da


destinação legal do meio de impugnação, perseguir a desconstituição de decisões
desfavoráveis que tenham sido proferidas em processos penais. A coisa julgada penal
admite desfazimento, desde que preenchidas as hipóteses taxativamente previstas no
art. 621 do CPP. Assim, no âmbito da revisão criminal, é ônus processual do autor ater-
se às hipóteses taxativamente previstas em lei e demonstrar que o conjunto probatório
amealhado autoriza o juízo revisional ou absolutório.

Nesse sentido, pronunciamentos como inadmissão de recursos são


despidos de efeito substitutivo, de modo que o édito condenatório, em tais casos,
deriva precisamente da decisão de mérito anteriormente proferida. Por sua vez, a
decisão suscetível de impugnação pela via revisional consiste no ato jurisdicional que
impõe ou chancela o mérito de pronunciamento condenatório, e não decisões
posteriores que, correta ou incorretamente, tenham inadmitido ou negado provimento a
recursos, visto que essas manifestações jurisdicionais não compõem o título
condenatório.

STF. Plenário. RvC 5480 AgR/AM, rel. Min. Edson Fachin, julgamento em
12/9/2019 (Info 951).

HABEAS CORPUS

57
1) Sustentação oral e divergência do parecer do MP

A sustentação oral do representante do Ministério Público que diverge do


parecer juntado ao processo, com posterior ratificação, não viola a ampla defesa.

STF, HC 140.780/DF, rel. Min. Marco Aurélio, julgamento em 30.10.2018


(Info 922).

--

2) É possível que o STF determine que o STJ julgue recurso em


decorrência da violação da razoável duração do processo?

Em virtude do grande volume de trabalho que assoberba o STJ, é


necessário flexibilizar o princípio constitucional da razoável duração do processo.
Dessa forma, em regra, tolera-se que haja uma natural demora no julgamento dos
recursos que tramitam naquele Tribunal. Além disso, o STF entende que se a demora
no julgamento do recurso pelo STJ deveu-se ao fato de que houve a troca do Ministro
Relator do caso, isso, em regra, justifica o atraso. No entanto, no caso concreto, o
Resp estava aguardando julgamento no STJ há 5 anos, demora muito grande, o que
caracteriza evidente constrangimento ilegal e negativa de prestação jurisdicional.
Diante disso, o STF determinou ao STJ que apresente o recurso especial para ser
julgado em, no máximo, cinco sessões daquele Tribunal, prazo a ser contado da
comunicação da ordem.

STF. 2ª Turma. HC 136435/PR, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado


em 22/11/2016 (Info 848).

--

3) Admite-se HC para reexame dos pressupostos de admissibilidade


de recurso?

Não cabe habeas corpus para reexame dos pressupostos de


admissibilidade de recurso interposto no STJ. Ex: o STJ deu provimento ao recurso
interposto pelo MP e, com isso, piorou a situação do réu; a defesa impetra HC no STF
contra o acórdão alegando que o STJ, no recurso especial, reexaminou provas, o que é
vedado pela Súmula 7 da Corte (A pretensão de simples reexame de prova não enseja
recurso especial.). Esse HC não será conhecido pelo STF porque o impetrante busca
questionar os pressupostos de admissibilidade do Resp.

STF. 2ª Turma. HC 138944/SC, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em


21/3/2017 (Info 858).

--

4) Cabe HC para pedir autorização de visita?


58
Não cabe habeas corpus para tutelar o direito à visita em presídio.

STF. 1ª Turma. HC 128057/SP, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado


em 1º/8/2017 (Info 871).

--

5) Cabe HC para discutir processo criminal envolvendo o art. 28 da


Lei de Drogas?

O art. 28 da LD não prevê a possibilidade de o condenado receber pena


privativa de liberdade. Assim, não existe possibilidade de que o indivíduo que responda
processo por este delito sofra restrição em sua liberdade de locomoção. Diante disso,
não é possível que a pessoa que responda processo criminal envolvendo o art. 28 da
LD impetre habeas corpus para discutir a imputação. Não havendo ameaça à liberdade
de locomoção, não cabe habeas corpus. Em suma, o habeas corpus não é o meio
adequado para discutir crime que não enseja pena privativa de liberdade.

STF. 1ª Turma. HC 127834/MG, rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado


em 05/12/2017 (Info 887).

--

6) Cabe HC para questionar a imposição de medidas cautelares


diversas da prisão?

O habeas corpus pode ser empregado para impugnar medidas cautelares


de natureza criminal diversas da prisão.

O habeas corpus deve ser admitido para impugnar medidas criminais que,
embora diversas da prisão, afetem interesses não patrimoniais importantes da pessoa
física. Se, por um lado, essas medidas são menos gravosas do que a prisão, por outro,
são também onerosas ao investigado/réu. Além disso, se essas medidas forem
descumpridas, podem ser convertidas em prisão processual, de forma que existe o
risco à liberdade de locomoção.

STF. 2ª Turma. HC 147426/AP e HC 147303/AP, Rel. Min. Gilmar


Mendes, julgados em 18/12/2017 (Info 888).

STF. 1ª Turma. HC 170735/RJ, Rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min.
Alexandre de Moraes, julgado em 30/6/2020 (Info 984).

--

7) Cabe HC contra decisão transitada em julgado?

1ª corrente): SIM. Foi o que decidiu a 2ª Turma no RHC 146327/RS, Rel.


Min. Gilmar Mendes, julgado em 27/2/2018 (Info 892).
59
2ª corrente): NÃO. É a posição majoritária no STF e no STJ. Vale
ressaltar que se houver alguma ilegalidade flagrante, o Tribunal poderá conceder a
ordem de ofício.

STF. 2ª Turma. RHC 146327/RS, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em


27/2/2018 (Info 892).

--

8) A superveniência de sentença condenatória acarreta a perda de


objeto do HC?

A superveniência de sentença condenatória que mantém a prisão


preventiva prejudica a análise do habeas corpus que havia sido impetrado contra o
título originário da custódia. Se, após o habeas corpus ser impetrado contra a prisão
preventiva, o juiz ou Tribunal prolata sentença/acórdão condenatório e mantém a prisão
anteriormente decretada, haverá uma alteração do título prisional e, portanto, o habeas
corpus impetrado contra prisão antes do julgamento não deverá ser conhecido.

O tema acima tem importância teórica, mas pouca relevância prática. Isso
porque o fato de o Tribunal reconhecer que o habeas corpus não deve ser conhecido,
não impede que seja concedida a ordem de ofício. Em outras palavras, o Tribunal
reconhece que o writ impetrado está prejudicado (não deve ser conhecido) e, apesar
disso, pode determinar, de ofício, a liberdade do paciente se verificar que existe
ilegalidade flagrante ou teratologia.

STF. Plenário. HC 143333/PR, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 11 e


12/4/2018 (Info 897).

--

9) Cabe HC contra decisão monocrática de ministro do STF?

NÃO é cabível habeas corpus em face de decisão monocrática proferida


por Ministro do STF. O recurso cabível é o agravo regimental.

STF. Plenário. HC 105959/DF, rel. Min. Edson Fachin, julgado em


17/2/2016 (Info 814).

--

10) Cabe HC para questionar decisão de magistrado que não permite


que o réu delatado apresente alegações finais após o réu delator?

Cabe habeas corpus mesmo nas hipóteses que não envolvem risco
imediato de prisão, como na análise da licitude de determinada prova ou no pedido
para que a defesa apresente por último as alegações finais, se houver a possibilidade

60
de condenação do paciente. Isso porque neste caso a discussão envolve liberdade de
ir e vir.

STF. 2ª Turma. HC 157627 AgR/PR, rel. Min. Ricardo Lewandowski,


julgado em 27/8/2019 (Info 949).

--

11) É cabível HC para discutir a fixação da competência?

O habeas corpus não é sede processual adequada para discussão sobre


a correta fixação da competência, bem como sobre a existência de transnacionalidade
do delito imputado.

STF. 1ª Turma. HC 151881 AgR/SP, rel. Min. Rosa Weber, julgamento em


12/11/2019 (Info 959).

--

12) Cabe HC contra decisão de ministro do STF que decreta a prisão


preventiva de investigado ou réu?

Não cabe habeas corpus contra decisão de Ministro do STF que decreta a
prisão preventiva de investigado ou réu. Aplica-se, aqui, por analogia, o entendimento
exposto no enunciado 606 da Súmula do STF.

S. 606, STF: Não cabe habeas corpus originário para o Tribunal Pleno de
decisão de turma, ou do plenário, proferida em habeas corpus ou no respectivo
recurso.

STF. Plenário. HC 162285 AgR/DF, Rel. Min. Alexandre de Moraes,


julgado em 19/12/2019 (Info 964).

--

13) A concessão de transação penal impede a impetração de HC?

A realização de acordo de transação penal não enseja a perda de objeto


de habeas corpus anteriormente impetrado. A aceitação do acordo de transação penal
não impede o exame de habeas corpus para questionar a legitimidade da persecução
penal. Embora o sistema negocial possa trazer aprimoramentos positivos em casos de
delitos de menor gravidade, a barganha no processo penal pode levar a riscos
consideráveis aos direitos fundamentais do acusado. Assim, o controle judicial é
fundamental para a proteção efetiva dos direitos fundamentais do imputado e para
evitar possíveis abusos que comprometam a decisão voluntária de aceitar a transação.
Não há qualquer disposição em lei que imponha a desistência de recursos ou ações
em andamento ou determine a renúncia ao direito de acesso à Justiça.

61
STF. 2ª Turma. HC 176785/DF, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em
17/12/2019 (Info 964).

ATENÇÃO: Divergência com o STJ (Info 657).

AUDIÊNCIA DE CUSTÓDIA

1) Reconhecimento de atipicidade na audiência de custódia forma


coisa julgada?

Para a 1ª Turma do STF, a decisão proferida em audiência de custódia,


que determina a soltura do preso em flagrante por considerar a conduta atípica, não faz
coisa julgada.

STF, HC 157.306/SP, rel. Min. Luiz Fux, julgamento em 25.9.2018 (Info


917).

A Turma denegou a ordem por entender que a audiência de custódia


envolve apenas juízo preliminar acerca da legitimidade da prisão preventiva, da
necessidade de sua manutenção, da possibilidade de seu relaxamento ou de sua
substituição por medidas alternativas. Portanto, não se equipara à decisão de mérito
para efeito de coisa julgada.

A atipicidade da conduta apontada pelo juiz plantonista, em sede de


audiência de custódia, foi utilizada como fundamento para o relaxamento da prisão.
Entretanto, esse magistrado não possui competência para determinar o arquivamento
dos autos, já que sua atuação está limitada à regularidade da prisão.

--

2) A realização da audiência de custódia constitui direito subjetivo


do acusado?

A audiência de custódia (ou de apresentação) constitui direito público


subjetivo, de caráter fundamental, assegurado por convenções internacionais de
direitos humanos a que o Estado brasileiro aderiu, já incorporadas ao direito positivo
interno (Convenção Americana de Direitos Humanos e Pacto Internacional sobre
Direitos Civis e Políticos). Traduz prerrogativa não suprimível assegurada a qualquer
pessoa. Sua imprescindibilidade tem o beneplácito do magistério jurisprudencial (ADPF
347 MC) e do ordenamento positivo doméstico (Lei nº 13.964/2019 e Resolução
213/2015 do CNJ).

A ausência da realização da audiência de custódia qualifica-se como


causa geradora da ilegalidade da própria prisão em flagrante, com o consequente
relaxamento da privação cautelar da liberdade. Se o magistrado deixar de realizar a
62
audiência de custódia e não apresentar uma motivação idônea para essa conduta, ele
estará sujeito à tríplice responsabilidade, nos termos do art. 310, § 3º do CPP.

STF. HC 188888/MG, Rel. Min. Celso de Mello, julgado em 6/10/2020


(Info 994).

JUIZADO ESPECIAL CRIMINAL

A competência dos JECrim é absoluta ou relativa?

Os Juizados Especiais Criminais são dotados de competência relativa


para julgamento das infrações penais de menor potencial ofensivo, razão pela qual se
permite que essas infrações sejam julgadas por outro juízo com vis atractiva para o
crime de maior gravidade, pela conexão ou continência, observados, quanto àqueles,
os institutos despenalizadores, quando cabíveis.

Há no §2º do art. 77 e no parágrafo único do art. 66 da Lei 9.099/1995


outras duas causas modificativas da competência dos Juizados Especiais para o Juízo
comum, a saber, a complexidade ou circunstâncias da causa que dificultem a
formulação oral da peça acusatória e o réu não ser encontrado para a citação pessoal.
Fosse absoluta a competência do Juizado Especial Criminal em razão da matéria,
aquelas previsões legais, não impugnadas por esta ação direta, ofenderiam o princípio
do juiz natural, pois permitiriam o julgamento por órgão materialmente incompetente.

Nesse sentido, os institutos despenalizadores dos juizados constituem


garantias individuais do acusado e devem ser asseguradas, independente do juízo em
que tramitarem as infrações penais.

STF. Plenário. ADI 5264/DF, rel. Min. Cármen Lúcia, julgamento em


4.12.2020 (Info 1.001).

LEI EXECUÇÃO PENAL - L. 7.210/84

Art. 29 - Remuneração preso


Art. 29. O trabalho do preso será remunerado, mediante prévia tabela,
não podendo ser inferior a 3/4 (três quartos) do salário mínimo.

É constitucional a fixação de remuneração inferior ao salário mínimo


ao preso?

O patamar mínimo diferenciado de remuneração aos presos previsto no


artigo 29, “caput”, da LEP não representa violação aos princípios da dignidade humana

63
e da isonomia, sendo inaplicável à hipótese a garantia de salário mínimo prevista no
artigo 7º, IV, da CF.

O preso não se sujeita ao regime da CLT e seu trabalho possui


finalidades educativa e produtiva, não podendo ser comparado com o trabalho das
pessoas que não cumprem pena. Essas têm garantido o salário mínimo para satisfação
de necessidades vitais básicas do trabalhador e de sua família com moradia,
alimentação, educação, saúde, lazer, vestuário, higiene, transporte e previdência
social. Por outro lado, o preso já tem atendidas pelo Estado boa parte das
necessidades vitais básicas que o salário-mínimo almeja satisfazer, tais como
educação, alojamento, saúde, alimentação, vestuário e higiene. Além disso, o preso
recebe o benefício da remição da pena, na proporção de 1 dia de redução da sanção
criminal para cada 3 dias de trabalho e o produto da remuneração deve ser direcionado
para a indenização dos danos causados pelo crime, a assistência à família, para
pequenas despesas pessoais e para promover o ressarcimento ao Estado das
despesas realizadas com a sua manutenção.

STF. Plenário. ADPF 336/DF, relator Min. Luiz Fux, julgamento em


27.2.2021 (Info 1.007).

ARTS. 49 E SS - FALTAS DISCIPLINARES

1) O reconhecimento da prática de falta grave sempre depende da


instauração de PAD?
A oitiva do condenado pelo Juízo da Execução Penal, em audiência de
justificação realizada na presença do defensor e do Ministério Público, afasta a
necessidade de prévio Procedimento Administrativo Disciplinar (PAD), assim como
supre eventual ausência ou insuficiência de defesa técnica no PAD instaurado para
apurar a prática de falta grave durante o cumprimento da pena.
Mitigação da S. 533 do STJ, que exigia invariavelmente a instauração do
PAD.
STF. Plenário. RE 972598/RS, Rel. Roberto Barroso, julgado em
04/05/2020 (Repercussão Geral – Tema 941) (Info 985).
--
2) O reconhecimento de falta grave pela prática de crime depende do
trânsito em julgado da condenação criminal?
O reconhecimento de falta grave consistente na prática de fato definido
como crime doloso no curso da execução penal dispensa o trânsito em julgado da
condenação criminal no juízo do conhecimento, desde que a apuração do ilícito
disciplinar ocorra com observância do devido processo legal, do contraditório e da
64
ampla defesa, podendo a instrução em sede executiva ser suprida por sentença
criminal condenatória que verse sobre a materialidade, a autoria e as circunstâncias do
crime correspondente à falta grave.
Inexiste razão para se condicionar o reconhecimento de falta grave no
curso de execução penal, consistente na prática de crime doloso, ao trânsito em
julgado de condenação criminal no juízo de conhecimento.
STF. Plenário. RE 776823/RS, rel. Min. Edson Fachin, julgamento em
4.12.2020 (Repercussão Geral - Tema 758) (Info 1.001).

ART. 112, LEP – PROGRESSÃO DE REGIME

1) Pode progredir de regime condenado que cumpre pena em


presídio federal?

O cumprimento de pena em penitenciária federal de segurança máxima


por motivo de segurança pública não é compatível com a progressão de regime
prisional.

STF. 2ª Turma. HC 131.649/RJ, rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 6/9/2016


(Info 838).

--

2) A data da prisão preventiva conta como marco inicial do tempo


para progressão do regime?

Se o condenado estava preso preventivamente, a data da prisão


preventiva deve ser considerada como termo inicial para fins de obtenção de
progressão de regime e demais benefícios da execução penal, desde que não ocorra
condenação posterior por outro crime apta a configurar falta grave.

STF. 1ª Turma. RHC 142463/MG, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em


12/9/2017 (Info 877).

--

3) Critérios para observância do magistrado no momento da


constatação de faltas de vagas nos regimes semiaberto e aberto

a) A falta de estabelecimento penal adequado não autoriza a manutenção


do condenado em regime prisional mais gravoso;

b) Os juízes da execução penal poderão avaliar os estabelecimentos


destinados aos regimes semiaberto e aberto, para qualificação como adequados a tais
regimes. São aceitáveis estabelecimentos que não se qualifiquem como “colônia

65
agrícola, industrial” (regime semiaberto – deve ser estabelecimento SIMILAR) ou “casa
de albergado ou estabelecimento adequado” (regime aberto – deve ser
estabelecimento ADEQUADO) (art. 33, §1º, alíneas “b” e “c”, do CP);

c) Havendo déficit de vagas, deverá determinar-se: (i) a saída antecipada


de sentenciado no regime com falta de vagas; (ii) a liberdade eletronicamente
monitorada ao sentenciado que sai antecipadamente ou é posto em prisão domiciliar
por falta de vagas; (iii) o cumprimento de penas restritivas de direito e/ou estudo ao
sentenciado que progride ao regime aberto;

d) Até que sejam estruturadas as medidas alternativas propostas, poderá


ser deferida a prisão domiciliar ao sentenciado.

STF. Plenário. RE 641320/RS, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em


11/5/2016 (Repercussão Geral – Tema 423) (Info 825).

--

4) Como se dá a progressão de regime ao condenado por crime


hediondo reincidente não específico?

Tendo em vista a legalidade e a taxatividade da norma penal (art. 5º,


XXXIX, CF), a alteração promovida pela Lei 13.964/2019 no art. 112 da LEP não
autoriza a incidência do percentual de 60% (inc. VII) aos condenados reincidentes não
específicos para o fim de progressão de regime. Diante da omissão legislativa, impõe-
se a analogia in bonam partem, para aplicação, inclusive retroativa, do inciso V do
artigo 112 da LEP (lapso temporal de 40%) ao condenado por crime hediondo ou
equiparado sem resultado morte reincidente não específico.

Ao reincidente não específico em crime hediondo, aplica-se, inclusive


retroativamente, o inciso V do artigo 112 da LEP para fins de progressão de regime.

STF. Plenário. ARE 1327963/SP, relator Min. Gilmar Mendes, julgamento


em 17.9.2021 (Repercussão Geral – Tema 1.169) (Info 1.032).

ART. 118, LEP – REGRESSÃO DE REGIME

Art. 118. A execução da pena privativa de liberdade ficará sujeita à forma


regressiva, com a transferência para qualquer dos regimes mais rigorosos,
quando o condenado: I - praticar fato definido como crime doloso ou falta
grave; II - sofrer condenação, por crime anterior, cuja pena, somada ao
restante da pena em execução, torne incabível o regime (artigo 111). § 1° O
condenado será transferido do regime aberto se, além das hipóteses referidas
nos incisos anteriores, frustrar os fins da execução ou não pagar, podendo, a
multa cumulativamente imposta. § 2º Nas hipóteses do inciso I e do parágrafo
anterior, deverá ser ouvido previamente o condenado.

66
1) Inadimplemento injustificado das parcelas da multa autoriza a
regressão de regime?

Como regra, o inadimplemento deliberado da pena de multa


cumulativamente aplicada ao sentenciado impede a progressão no regime prisional.
Em outras palavras, a pessoa só poderá progredir se pagar a pena de multa . Exceção:
mesmo sem ter pago, pode ser permitida a progressão de regime se ficar comprovada
a absoluta impossibilidade econômica do apenado em quitar a multa, ainda que
parceladamente. Se o juiz autorizar que o condenado pague a pena de multa
parceladamente, o apenado poderá progredir de regime, assumindo o compromisso de
quitar todas as prestações da multa. Caso deixe de pagar injustificadamente o
parcelamento, haverá a regressão de regime. O inadimplemento injustificado das
parcelas da pena de multa autoriza a regressão no regime prisional.

O pagamento da multa não está previsto expressamente no art. 112 como


um dos requisitos necessários para a progressão de regime. Apesar disso, o STF
entendeu que esse pagamento poderá ser exigido porque a análise dos requisitos
necessários para a progressão de regime não se restringe ao referido art. 112 da LEP .
Em outras palavras, outros elementos podem, e devem, ser considerados pelo julgador
na decisão quanto à progressão.

STF. Plenário. EP 16 ProgReg-AgR/DF, Rel. Min. Roberto Barroso,


julgado em 1º/7/2016 (Info 832).

--

2) É necessário o trânsito em julgado para que haja regressão do


regime em virtude da prática de crime doloso?

O inciso I do art. 118 da LEP afirma que o apenado deverá regredir de


regime se "praticar fato definido como crime doloso". Não é necessário que o juiz das
execuções penais aguarde que a pessoa seja condenada com trânsito em julgado para
determinar a sua regressão. A regressão de regime pela prática de fato definido como
crime doloso, durante a execução da pena, não depende do trânsito em julgado da
condenação. STJ. 5ª Turma. HC 333.615/SC, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca,
julgado em 15/10/2015.

STF. Plenário. EP 8 ProgReg-AgR/DF, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado


em 1º/7/2016 (Info 832).

ARTS. 122 a 125, LEP – SAÍDA TEMPORÁRIA

1) É possível a fixação de calendário de saídas temporárias?

67
É legítima a decisão judicial que estabelece calendário anual de saídas
temporárias para visita à família do preso.

STJ também tem o mesmo entendimento (Info 590).

STF. 1ª Turma. HC 130502/RJ, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em


21/6/2016 (Info 831).

--

2) A contagem da saída temporária é feita em dias ou em horas?

A contagem do prazo do benefício de saída temporária de preso é feita


em dias e não em horas. O apenado pedia que o prazo para a saída temporária fosse
computado em horas. Segundo alegou, ele só é liberado do presídio às 12 horas do
primeiro dia do benefício, o que lhe é prejudicial, já que assim ele perde algumas horas
e, na prática, usufrui de apenas 6 dias e meio. A 2ª Turma do STF entendeu que, na
esfera penal, a contagem do prazo é feita em dias (art. 10 do CP), não sendo possível
fazê-la em horas. CP/Art. 10. O dia do começo inclui-se no cômputo do prazo. Contam-
se os dias, os meses e os anos pelo calendário comum.

STF. 2ª Turma. HC 130883/SC, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em


31/5/2016 (Info 828).

ARTS. 126 A 130, LEP - REMIÇÃO

Art. 126. O condenado que cumpre a pena em regime fechado ou semiaberto


poderá remir, por trabalho ou por estudo, parte do tempo de execução da pena.

É possível a remição FICTA da pena?

Embora o Estado tenha o dever de prover trabalho aos internos que


desejem laborar, reconhecer a remição ficta da pena, nesse caso, faria com que todas
as pessoas do sistema prisional obtivessem o benefício, fato que causaria substancial
mudança na política pública do sistema carcerário, além de invadir a esfera do Poder
Executivo. O instituto da remição exige, necessariamente, a prática de atividade laboral
ou educacional. Trata-se de reconhecimento pelo Estado do direito à diminuição da
pena em virtude de trabalho efetuado pelo detento. Não sendo realizado trabalho,
estudo ou leitura, não há que se falar em direito à remição. STF. 1ª Turma. HC
124520/RO, rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ ac. Min. Roberto Barroso, julgado em
29/5/2018 (Info 904). STJ. 5ª Turma. HC 421.425/MG, Rel. Min. Felix Fischer, julgado
em 27/02/2018. STJ. 6ª Turma. HC 425.155/MG, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em
06/03/2018.

68
ART. 4º, §§2º e 6º, LEI 12.850/13 – COLABORAÇÃO PREMIADA

Art. 4o O juiz poderá, a requerimento das partes, conceder o perdão judicial,
reduzir em até 2/3 (dois terços) a pena privativa de liberdade ou substituí-la por
restritiva de direitos daquele que tenha colaborado efetiva e voluntariamente
com a investigação e com o processo criminal, desde que dessa colaboração
advenha um ou mais dos seguintes resultados: (...)

§2o Considerando a relevância da colaboração prestada, o Ministério Público, a


qualquer tempo, e o delegado de polícia, nos autos do inquérito policial, com a
manifestação do Ministério Público, poderão requerer ou representar ao juiz
pela concessão de perdão judicial ao colaborador, ainda que esse benefício
não tenha sido previsto na proposta inicial, aplicando-se, no que couber, o art.
28 do Decreto-Lei nº 3.689, de 3 de outubro de 1941 (Código de Processo
Penal).

§6o O juiz não participará das negociações realizadas entre as partes para a
formalização do acordo de colaboração, que ocorrerá entre o delegado de
polícia, o investigado e o defensor, com a manifestação do Ministério Público,
ou, conforme o caso, entre o Ministério Público e o investigado ou acusado e
seu defensor.

1) Delegado de polícia pode celebrar acordo de colaboração


premiada?

O delegado de polícia pode formalizar acordos de colaboração premiada,


na fase de inquérito policial, respeitadas as prerrogativas do Ministério Público, o qual
deverá se manifestar, sem caráter vinculante, previamente à decisão judicial. Os §§
2º e 6º do art. 4º da Lei nº 12.850/13, que preveem essa possibilidade, são
constitucionais e não ofendem a titularidade da ação penal pública conferida ao
Ministério Público pela Constituição (art. 129, I).

STF. Plenário. ADI 5508/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em


20/6/2018 (Info 907).

69
Natureza jurídica colaboração premiada: MEIO DE OBTENÇÃO DE
PROVA (art. 3º, I).

A colaboração premiada e a concessão dos benefícios dela decorrentes


podem ocorrer em três momentos: a) Na fase de investigação criminal (inquérito policial
ou investigação conduzida pelo MP); b) Durante o curso do processo penal (ainda que
já em instância recursal); c) Após o trânsito em julgado da sentença penal
condenatória.

Se a colaboração ocorrer antes da sentença, ou seja, se a pessoa decidir


colaborar antes de ser julgada: sua pena poderá ser reduzida em até 2/3. Se a
colaboração ocorrer após a sentença, ou seja, se a pessoa decidir colaborar apenas
depois de ser condenada: sua pena poderá ser reduzida em até metade (1/2).

IMPORTANTE: O juiz poderá substituir a pena privativa de liberdade do


colaborador por pena restritiva de direitos mesmo que não estejam presentes os
requisitos do art. 44 do CP.

--

2) Qual a natureza jurídica do acordo de colaboração e qual o papel


do juiz?

A colaboração premiada é um negócio jurídico processual entre o


Ministério Público e o colaborador, sendo vedada a participação do magistrado na
celebração do ajuste entre as partes.

A colaboração é um meio de obtenção de prova cuja iniciativa não se


submete à reserva de jurisdição (não exige autorização judicial), diferentemente do que
ocorre nas interceptações telefônicas ou na quebra de sigilo bancário ou fiscal.

A decisão do magistrado que homologa o acordo de colaboração


premiada não julga o mérito da pretensão acusatória, mas apenas resolve uma questão
incidente. Por isso, esta decisão tem natureza meramente homologatória, limitando-se

70
ao pronunciamento sobre a regularidade, legalidade e voluntariedade do acordo (art.
4º, § 7º, da Lei nº 12.850/2013).

No ato de homologação da colaboração premiada, não cabe ao


magistrado, de forma antecipada e extemporânea, tecer juízo de valor sobre o
conteúdo das cláusulas avençadas, exceto nos casos de flagrante ofensa ao
ordenamento jurídico vigente.

O direito subjetivo do colaborador nasce e se perfectibiliza na exata


medida em que ele cumpre seus deveres. Assim, o cumprimento dos deveres pelo
colaborador é condição sine qua non para que ele possa gozar dos direitos decorrentes
do acordo. Por isso diz-se que o acordo homologado como regular, voluntário e legal
gera vinculação condicionada ao cumprimento dos deveres assumidos pela
colaboração, salvo ilegalidade superveniente apta a justificar nulidade ou anulação do
negócio jurídico.

STF. Plenário. Pet 7074/DF, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 21, 22,
28 e 29/6/2017 (Info 870).

--

3) Qual o limite máximo do sigilo da colaboração premiada?

O sigilo sobre o conteúdo de colaboração premiada deve perdurar, no


máximo, até o recebimento da denúncia (art. 7º, § 3º da Lei nº 12.850/2013). Esse
dispositivo não traz uma regra de observância absoluta, mas sim um termo final
máximo. Para que o sigilo seja mantido até o recebimento da denúncia, deve-se
demonstrar a existência de uma necessidade concreta. Não havendo essa
necessidade, deve-se garantir a publicidade do acordo.

STF. 1ª Turma. Inq 4435 AgR/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em
12/9/2017 (Info 877).

--

4) Qual o Tribunal competente para homologar acordo de


colaboração cujo delatado possui prerrogativa de foro?

Se a delação do colaborador mencionar fatos criminosos que teriam sido


praticados por autoridade (ex: Governador) e que teriam que ser julgados por foro
privativo (ex: STJ), este acordo de colaboração deverá, obrigatoriamente, ser celebrado
pelo Ministério Público respectivo (PGR), com homologação pelo Tribunal competente
(STJ). Assim, se os fatos delatados tiverem que ser julgados originariamente por um
Tribunal (foro por prerrogativa de função), o próprio acordo de colaboração premiada
deverá ser homologado por este respectivo Tribunal, mesmo que o delator não tenha

71
foro privilegiado. A delação de autoridade com prerrogativa de foro atrai a competência
do respectivo Tribunal para a respectiva homologação e, em consequência, do órgão
do Ministério Público que atua perante a Corte. Se o delator ou se o delatado tiverem
foro por prerrogativa de função, a homologação da colaboração premiada será de
competência do respectivo Tribunal.

Em regra, o delatado não tem legitimidade para impugnar o acordo de


colaboração premiada. Assim, em regra, a pessoa que foi delatada não poderá
impetrar um habeas corpus alegando que esse acordo possui algum vício. Isso porque
se trata de negócio jurídico personalíssimo. Esse entendimento, contudo, não se aplica
em caso de homologação sem respeito à prerrogativa de foro.

STF. 2ª Turma. HC 151605/PR, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em


20/3/2018 (Info 895).

--

5) Há direito líquido certo para celebração de acordo de colaboração


premiada?

A 2ª Turma entendeu inexistir direito líquido e certo a compelir o ministério


público à celebração do acordo de delação premiada, diante das características do
acordo de colaboração premiada e da necessidade de distanciamento do Estado-juiz
do cenário investigativo.

Na linha do que decidido no HC 127.483, o acordo de colaboração


premiada, além de meio de obtenção de prova, constitui negócio jurídico processual
personalíssimo, cuja conveniência e oportunidade não se submetem ao escrutínio do
Estado-juiz. Trata-se, portanto, de ato voluntário por essência, insuscetível de
imposição judicial. Ademais, no âmbito da formação do acordo de colaboração
premiada, o juiz não pode participar das negociações realizadas entre as partes, por
expressa vedação legal (Lei 12.850/2013, art. 4º, § 6º). Isso decorre do sistema
acusatório, que desmembra os papéis de investigar e acusar e aqueles de
defender e julgar e atribui missão própria a cada sujeito processual.

É até possível cogitar que o acusado ostente direito subjetivo à


colaboração (atividade, e não negócio jurídico), comportamento processual sujeito ao
oportuno exame do Poder Judiciário, por ocasião da sentença. Essa compreensão, no
entanto, não se estende, necessariamente, ao âmbito negocial.

STF. 2ª Turma. MS 35693 AgR/DF, rel. Min. Edson Fachin, julgado em


28/5/2019 (Info 942).

--

72
6) Qual a ordem na apresentação de alegações finais nos processos
em que houver réu delator e réu delatado?

O direito fundamental ao contraditório e à ampla defesa deve permear


todo o processo legal, garantindo-se sempre a possibilidade de manifestações
oportunas da defesa, bem como a possibilidade de se fazer ouvir no julgamento e de
oferecer, por último, os memoriais de alegações finais. Pouco importa, na espécie, a
qualificação jurídica do agente acusador: Ministério Público ou corréu colaborador.

A colaboração premiada possui natureza jurídica de meio de obtenção de


prova (Lei 12.850/2013, art. 3º, I). Permitir, pois, o oferecimento de memoriais escritos
de réus colaboradores, de forma simultânea ou depois da defesa — sobretudo no caso
de utilização desse meio de prova para prolação de édito condenatório —
comprometeria o pleno exercício do contraditório, que pressupõe o direito de a defesa
falar por último, a fim de poder reagir às manifestações acusatórias.

STF. 2ª Turma. HC 157627 AgR/PR, rel. orig. Min. Edson Fachin, red. p/ o
ac. Min. Ricardo Lewandowski, julgamento em 27.8.2019 (Info 949).

--

7) Quais os requisitos para que terceiro delatado em colaboração


premiada tenha acesso ao seu teor?

Requisito positivo: o acesso deve abranger somente documentos em que


o requerente é de fato mencionado como tendo praticado crime (o ato de colaboração
deve apontar a responsabilidade criminal do requerente).

Requisito negativo: o ato de colaboração não se deve referir a diligência


em andamento (devem ser excluídos os atos investigativos e diligências que ainda se
encontram em andamento e não foram consubstanciados e relatados no inquérito ou
na ação penal em tramitação).

STF. 2ª Turma. Pet 7494 AgR/DF, rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em
19/5/2020 (Info 978).

--

8) A colaboração premiada constitui critério para definição da


competência por prevenção, em vista do encontro de provas?

Os elementos de informação trazidos pelo colaborador a respeito de


crimes que não sejam conexos ao objeto da investigação primária devem receber o
mesmo tratamento conferido à descoberta fortuita ou ao encontro fortuito de provas em
outros meios de obtenção de prova, como a busca e apreensão e a interceptação
telefônica. A colaboração premiada, como meio de obtenção de prova, não constitui
73
critério de determinação, de modificação ou de concentração da competência. Assim,
ainda que o agente colaborador aponte a existência de outros crimes e que o juízo
perante o qual foram prestados seus depoimentos ou apresentadas as provas que
corroborem suas declarações ordene a realização de diligências (interceptação
telefônica, busca e apreensão etc.) para sua apuração, esses fatos, por si sós, não
firmam sua prevenção.

STF. 2ª Turma. HC 181978 AgR/RJ, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em


10/11/2020 (Info 999).

--

9) Qual o juízo competente para homologar o acordo de colaboração


celebrado após a sentença e antes do julgamento no Tribunal?

A homologação de acordo de colaboração, em regra, terá que se dar


perante o juízo competente para autorizar as medidas de produção de prova e para
processar e julgar os fatos delituosos cometidos pelo colaborador. Caso a proposta de
acordo aconteça entre a sentença e o julgamento pelo órgão recursal, a homologação
ocorrerá no julgamento pelo Tribunal e constará do acórdão.

E no caso de acordo celebrado antes da sentença, mas que não foi


apreciado pelo juiz, quem seria competente para homologá-lo? O próprio juiz.

STF. 2ª Turma. HC 192063/RJ, relator Min. Gilmar Mendes, julgamento


em 2.2.2021 (Info 1.004).

--

10) Cabe HC contra decisão que não homologa ou homologa


parcialmente acordo de colaboração?

Atualmente, não existe previsão legal de recurso cabível em face de não


homologação ou de homologação parcial de acordo. Logo, deve ser possível a
impetração de habeas corpus. A homologação do acordo de colaboração premiada é
etapa fundamental da sistemática negocial regulada pela Lei nº 12.850/2013, estando
diretamente relacionada com o exercício do poder punitivo estatal, considerando que
nesse acordo estão regulados os benefícios concedidos ao imputado e os limites à
persecução penal.

STF. 2ª Turma. HC 192063/RJ, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em


2/2/2021 (Info 1.004).

ART. 7º, LEI 8.038/90 – AÇÃO ORIGINÁRIA STF/STJ

74
Art. 7º: Recebida a denúncia ou a queixa, o relator designará dia e hora para o
interrogatório, mandando citar o acusado ou querelado e intimar o órgão do
Ministério Público, bem como o querelante ou o assistente, se for o caso.

Qual é o momento do interrogatório na ação penal originária de


Tribunal Superior?

A 1ª Turma, a despeito do art. 7º da Lei 8.038, com base no CPP,


entendeu que interrogatório é um ato de defesa, mais bem exercido depois de toda a
instrução, porque há possibilidade do contraditório mais amplo. Assim, determinou que
a instrução processual penal se inicie com a oitiva das testemunhas arroladas pela
acusação. STF, AP 1027/DF, rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Luís Roberto
Barroso, julgamento em 2.10.2018 (Info 918).

Nos processos criminais que tramitam perante o STF e o STJ, cujo


procedimento é regido pela Lei nº 8.038/90, o interrogatório também é o último ato de
instrução. Apesar de não ter havido uma alteração específica do art. 7º da Lei 8.038/90,
com base no CPP, entende-se que o interrogatório é um ato de defesa, mais bem
exercido depois de toda a instrução, porque há possibilidade do contraditório mais
amplo. Assim, primeiro devem ser ouvidas todas as testemunhas arroladas pela
acusação e pela defesa para, só então, ser realizado o interrogatório.

A Lei nº 11.719/2008 alterou o CPP e deslocou o interrogatório do


acusado para a última etapa da instrução, ou seja, antes o interrogatório era previsto
como MEIO DE PROVA e, após a aludida lei, passou a ser considerado como MEIO
DE DEFESA. Todavia, a legislação alterou unicamente o CPP, nada prevendo acerca
das demais legislações extravagantes, que ainda previam o interrogatório do acusado
como primeiro ato do processo, como a Lei de Drogas, Lei de Licitações e Lei 8.038/90.
A partir da edição da Lei 11/719/08, a doutrina defendeu que a previsão do
interrogatório como primeiro ato nas leis extravagantes (Lei de Drogas, Lei nº Lei
nº 8.038/90, Lei de Licitações) foi também derrogada (ainda que não
expressamente). Logo, o interrogatório deveria ser considerado como o último
ato da audiência de instrução em todo e qualquer processo penal. Essa tese foi
acolhida pela jurisprudência? SIM. A exigência de realização do interrogatório ao
final da instrução criminal, conforme o art. 400 do CPP é aplicável: a) aos processos
penais eleitorais e b) a todos os procedimentos penais regidos por legislação especial
(ex: lei de drogas, lei licitações).

STF. Plenário. HC 127900/AM, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 3/3/2016


(Info 816).

75

Você também pode gostar