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A finalidade do Direito Penal é a proteção dos bens mais importantes e necessários para
a própria sobrevivência da sociedade, ou nas palavras de LUIZ RÉGIS PRADO, "o
pensamento jurídico moderno reconhece que o escopo imediato e primordial do Direito
Penal radica na proteção de bens jurídicos – essenciais ao indivíduo e à comunidade". A
pena é simplesmente uma conseqüência pelo descumprimento de um imperativo legal
(norma implícita), não consistindo, assim, na sua finalidade.
Com o Direito Penal, visa-se tutelar todos os bens que, segundo um critério político, que
varia de acordo com as mutações experimentadas pela própria sociedade, merecem fazer
parte daquele pequeno círculo que, por serem extremamente valiosos, não sob o ponto
de vista econômico, mas sim sob o enfoque político, não podem ser suficientemente
protegidos pelos demais ramos do Direito.
Segundo CLAUS ROXIN: "só pode ser castigado aquele comportamento que lesione
direitos de outras pessoas e que não seja simplesmente pecaminoso ou imoral. À
conduta puramente interna, puramente individual – seja pecaminosa, imoral,
escandalosa ou diferente -, falta a lesividade que pode legitimar a intervenção penal".
Por derradeiro, sendo fundamental para a aplicação da lei penal, temos o princípio da
legalidade, que vem insculpido no inciso XXXIX do art. 5º da Constituição Federal,
verbis: "Não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação
legal", redação semelhante àquela contida no art. 1º do Código Penal.
É o princípio da legalidade, sem dúvida, o mais importante do Direito Penal, não se fala
na existência de crime se não houver uma lei definindo-o como tal.
Tudo o que não for expressamente proibido é lícito em Direito Penal, por essa razão,
VON LISZT afirmou que o "Código Penal era a Carta Magna do delinqüente".
O legislador não nos forneceu um conceito de crime, restando tal tarefa aos
doutrinadores, dentre eles, BETTIOL: "crime é todo o fato humano lesivo de um
interesse capaz de comprometer as condições de existência, de conservação e de
desenvolvimento da sociedade".
ORIGENS
Por força do impulso da associação, que marca de maneira tão profunda o destino dos
homens, o que encontramos na história e na pré-história da humanidade são grupos
humanos e não indivíduos isolados, e dentro desses grupos, desde logo, normas de
comportamento social. Grupos que se formam natural e precocemente e conjunto de
normas de limitação das atividades de cada socius, dos seus interesses e apetite, no
sentido de paz social.
A esse conjunto normativo se poderia dar por extensão o nome de Direito, segundo a
velha fórmula ubi societas ibi jus, embora não apresente as notas essenciais que a
ciência moderna atribui ao jurídico e seja ainda um complexo indiferenciado, no qual só
mais tarde irão definir-se, como corpos distintos, a Moral, o Direito, a Religião,
apoiadas todas essas normas, de caráter costumeiro, anônimas, criadas e crescidas por
impulso espontâneo da consciência coletiva, na religião e na magia. Por essas normas,
ajusta-se a conduta dos socii a um padrão comum, o padrão que convém à unidade e
coesão do grupo.
Tempos Primitivos
A pena, em sua origem, nada mais foi que vindita, pois é mais que compreensível que
naquela criatura, dominada pelos instintos, o revide à agressão sofrida devia ser fatal,
não havendo preocupações com a proporção, nem mesmo com sua justiça. Em regra, os
historiadores consideram várias fases da pena: a vingança privada, a vingança divina, e
vingança pública e o período humanitário. Todavia, deve advertir-se que esses períodos
não se sucedem integralmente, ou melhor, advindo um, nem por isso o outro desaparece
logo, ocorrendo então, a existência concomitante dos princípios característicos de cada
um: uma fase penetra a outra e, durante tempos, esta ainda permanece ao seu lado.
- Fase da Vingança Privada – nesta fase quando um crime era cometido, ocorria a
reação da vítima, dos parentes e do grupos social, que agiam sem proporção à ofensa,
atingindo não só o ofensor como também todo o seu grupo. Se o transgressor fosse
membro da tribo, poderia ser punido com a “expulsão da paz” (banimento), que
invariavelmente levava à morte. Caso a violação fosse praticada por um elemento
estranho à tribo, a reação era a “vingança de sangue”, considerada como obrigação
religiosa e sagrada, verdadeira guerra movida pelo grupo ofendido àquele que pertencia
o ofensor, culminando, não raro, com a eliminação completa de um dos grupos.
Surge neste período a Lei do Talião, que limita a reação à ofensa a um mal idêntico
praticado (sangue por sangue, dente por dente, olho por olho). Adotado no Código de
Hamurábi (Babilônia), no Êxodo (povo hebraico) e na Lei das XII Tábuas (Roma), foi
um grande avanço na História do Direito Penal, por reduzir abrangência da pena.
- Fase da Vingança Pública – foi através da maior organização social que se atingiu esta
fase. No sentido de se dar maior estabilidade ao Estado, visou-se à segurança do
príncipe ou soberano pela aplicação da pena, ainda severa e cruel. Também em
obediência ao sentido religioso, o Estado justificava a proteção ao soberano que na
Grécia, por exemplo, governava em nome de Zeus, e era seu intérprete e mandatário. O
mesmo ocorreu em Roma, com a aplicação da Lei das XII Tábuas. Em fase posterior,
porém, libertou-se a pena de seu caráter religioso, transformando-se a responsabilidade
do grupo em individual (do autor do fato), impositiva contribuição ao aperfeiçoamento
de humanização dos costumes penais.
Dominado profundamente pela razão religiosa é o sistema penal dos hebreus, como,
aliás, todas as manifestações da cultura nesse povo, a vida privada como a vida pública.
Mas na sua longa história podemos colher exemplos de várias transformações que foi
sofrendo a pena, desde vingança primitiva até, que encontramos nos mais antigos
costumeiros incluídos no Pentateuco, até as práticas mais apuradas dos últimos tempos.
Vemos isso no livro da Bíblia e em particular no Êxodo, no Levítico e sobretudo no
Deuteronômio e, por fim, na elaboração jurídica final do Talmud.
Faltam notícias seguras, de fontes jurídicas, sobre o Direito Punitivo entre os gregos. O
mais importante que sabemos nos veio da sua literatura – dos seus poetas, oradores, ou
filósofos. Na Grécia, num primeiro momento dominou a vingança privada e a pena ia
além da pessoa do delinqüente, atingindo sua família. Após surge o período religioso
onde o Estado, em nome de Júpiter, teria por fim delegar a pena, qualquer que seja ela,
substituindo-se ao ofendido.
Num período denominado histórico, a pena era baseada na moral enquanto os delitos
comuns eram castigados individualmente as ofensas de caráter religioso e político
davam margem a expiações coletivas.
Conjunto de normas do povo romano, desde a origem de Roma até a morte de Jutiniano
em 565 a.C. É uma das fontes mais importantes do Direito Civil moderno.
Os Romanos construíram uma monumental obra jurídica, cujos institutos, práticas e
entendimentos doutrinários perduram através dos tempos, sendo ainda hoje a base dos
sistemas jurídicos modernos (Lei das XVII Tábuas).
No campo do Direito Penal evoluiu-se das fases de vingança, por meio do Talião e da
composição, bem como da vingança divina na época da realeza, Direito e Religião
separaram-se. Divide-se o delito, em Roma, em crimina pública (segurança da cidade,
parricidium), ou crimes majestatis e delicta privata (infrações consideradas menos
graves, reprimidas por particulares). Seguiu-se
a eles a criação dos crimina extraordinárias (entre as outras duas categorias) finalmente,
a pena torna-se, em regra, pública. As sanções são mitigadas, e é praticamente abolida a
pena de morte, substituídas pelo exílio e pela deportação.
O uso primitivo de resolver pela força as questões criminais não desapareceu: a prática
da vingança recrudesceu com a queda da monarquia franca, quando a influência do
Direito Romano cedeu novamente espaço aos velhos costumes germânicos, sendo
preciso para combatê-la a instituição das tréguas de Deus, do asilo religioso, das pazes
territoriais. Penetrou mesmo nas práticas do processo penal. Depois das ordálias, o juízo
de Deus acabou prevalecendo sob a forma do duelo judiciário, que reaparece, levando o
julgador a reconhecer a razão do mais forte, na realidade tomando a sorte das armas e ,
portanto, a força como prova do Direito. Era uma conseqüência, talvez, da
predominância do individualismo no Direito germânico, que levou a fazer persistir nos
regimes jurídicos sob sua influência, como o dominante no maior trecho da Idade-
Média, a vingança privada e a composição entre as partes, ou acentuando a pena
pecuniária e tomando em consideração, na apreciação do crime, mais o dano do que o
elemento subjetivo do crime.
DIREITO CANÔNICO
Na idade média, a Igreja, à proporção que crescia em domínio e poder, estendia a sua
disciplina a fatos considerados crimes de ordem a princípio meramente espiritual e
depois mista, praticados por eclesiásticos ou profanos. O conjunto dessas normas,
emanadas do poder pontifício, sobretudo do século XII, veio a construir o Direito Penal
canônico, que teve influência na prática da justiça punitiva, principalmente por decisões
eclesiásticas recebiam execução por tribunais civis e muitas daquelas normas tornaram-
se obrigatórias, com a
conquista do poder temporal pela Igreja, mesmo para a autoridade civil. Desde seu
reconhecimento pelo Império Romano em 325 d.C a Igreja começou a exercer poderosa
influência no Direito Penal.
DIREITO MEDIEVAL
A queda do Império Romano no ano de 476 é vista como o início de uma nova era
histórica, esperava-se que a Idade Média trouxesse uma nova concepção punitiva,
fazendo transparecer a nova estrutura sócio-econômica e política que ia substituir aquela
vivente entre os romanos e os germânicos. Mas este período se caracterizou por ser de
intolerância, de crueldade, de guerras, ódios, perseguições e torturas que sem dúvidas
repercutiram no campo jurídico.
PERÍODO HUMANITÁRIO
Césare Bonesana Beccaria, foi uma das primeiras vozes a repercutir na consciência
pública para a reforma da sistemática penal operada no fim do século XVIII,
estendendo-se até o início do século XIX, culminando com a consolidação da Escola
Clássica. Seus princípios básicos foram: a legalidade dos crimes e das penas, a
indistinção das pessoas perante a lei penal, a lei penal deveria ser tão completa e
minuciosa que ao juiz não restasse lugar para interpretações ou criações de tipos
incriminadores ou de penas não-cominadas e proporcionalidade das penas aos delitos,
propondo também um novo fundamento à justiça penal. Firmo também Beccaria muitos
dos princípios adotados pela Declaração dos Direitos do Homem, da Revolução
Francesa: 1. Os cidadãos, por viverem em sociedade, cedem apenas uma parcela de sua
liberdade e direitos. Por essa razão, não se podem aplicar penas que atinjam direitos não
cedidos, como acontece nos casos da pena de morte e das sanções cruéis.
3. As leis devem ser conhecidas pelo povo, redigidas com clareza, para que possam ser
compreendidas e obedecidas por todos os cidadãos.
5. Devem ser admitidas em Juízo todas as provas, inclusive a palavra dos condenados
(mortos civis).
8. A pena deve ser utilizada como profilaxia social, não só para intimidar o cidadão,
mas também recuperar o delinqüente.
ESCOLAS PENAIS
ESCOLA CLÁSSICA
A denominação clássica se deve a suas figuras representativas, não sem um certo desejo
de sarcasmo, posto que clássico é algo consagrado, o ilustre, o excelso.
César Bonesana Beccaria, no dizer de João Farias Júnior (1990), foi uma das primeiras
vozes a repercutir na consciência pública para a reforma da sistemática penal operada
no fim do século XVIII, estendendo-se até o início do século XIX, culminando com a
consolidação da Escola Clássica. Seus princípios básicos foram: a legalidade dos crimes
e das penas, a indistinção das pessoas perante a lei penal, a lei penal deveria ser tão
completa e minuciosa que ao juiz não restasse lugar para interpretações ou criações de
tipos incriminadores ou de penas não-cominadas e proporcionalidade das penas aos
delitos. Francesco Carrara, outro precursor dessa Escola, disserta que "o homem é
submetido às leis criminais, por causa de sua natureza moral; por conseguinte, ninguém
pode ser socialmente responsável por seu ato se não moralmente responsável".
O crime não é propriamente "um fato, mas uma entidade jurídica, não uma ação, mas
uma infração (Carrara, 1876).
Para Carrara, delito é a infração da lei do Estado, promulgada para proteger a segurança
dos cidadãos, resultante de um ato externo do homem, positivo ou negativo, moralmente
imputável e politicamente danoso.
ESCOLA POSITIVA
A escola foi chamada positiva, não porque aceitasse o sistema filosófico de Comte, mas
pelo seu mérito. A escola sofreu a influência de Charles Darwin, Spencer e Haeckel,
com as novas concepções da natureza e do homem.
Porém a grande figura da Escola Positiva foi Enrique Ferri, com seus livros Sociologia
criminal e Princípios do direito criminal, inaugurando a fase sociológica da Escola.
Pelos estudos de Ferri, as análises do crime e do criminoso passaram do plano
antropológico para o plano sociológico.
Completando os pioneiros desta Escola, citamos Rafael Garófalo, que dividiu seu livro,
Criminologia, dividido em três partes: o delito, o delinqüente e a repressão penal.
Garófalo trouxe para a Escola Positiva o conteúdo jurídico, definindo como crime
natural a ofensa feita à parte do senso moral formada pelos sentimentos altruístas de
piedade e probidade.