Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
o direito penal não tendo outra base de legitimidade que a tutela jurídica, não
pode converter-se em um instrumento de santificação da alma. Não se pune a
violação do dever moral, mas a violação do dever jurídico, que é a ofensa ao
direito.18
Assim, o bem jurídico passa a ser visto como um direito, que é lesionado
quando da ocorrência de um crime, fazendo com que atue a lei penal para a
defesa da ordem externa e não para o aperfeiçoamento interno do indivíduo.
Foi, porém, com Birnbaum, em 1834, que o conceito de bem jurídico
começou a ser formado, ainda que essa expressão não tenha sido por ele
utilizada. O referido autor tinha uma visão jusnaturalista e racionalista,
afirmando que
Portanto, Birnbaum não via o bem jurídico como um direito, mas como
um bem natural garantido pelo poder do Estado, que podia corresponder tanto
ao indivíduo como à comunidade e que foi concebido como vulnerável em
sentido naturalístico. Era com base na lei que se definia o bem jurídico, o
objeto de proteção era escolhido pela lei. O conceito de bem jurídico era,
então, meramente dogmático.
Nessa mesma época, Hegel não reconhecia no bem jurídico o objeto do
crime, mas a “vontade geral” era vista como único objeto do delito.
Zaffaroni, analisando o pensamento de Hegel, vê como natural essa
conclusão, uma vez que para o referido filósofo não havia distinção entre o
ser e o dever ser, ou seja, o que não devia ser não era. Dentro dessa
concepção hegeliana, o critério para o julgamento jurídico-penal não era o
interesse individual, mas um bem de valor coletivo, e, portanto, o sujeito
passivo do delito era o Estado, enquanto o sujeito passivo do fato era o
indivíduo.20
Posteriormente, com a doutrina do positivismo jurídico, Binding diz que
o bem jurídico não é reconhecido pela norma jurídica, mas se encontra
estabelecido nela fazendo parte da mesma. Inexistiria, assim, separação entre
norma jurídica e bens jurídicos, posto que a norma levaria em si seu próprio
bem jurídico. Trata-se de uma visão formal, assentada no conteúdo da norma
e compreendendo-a como uma regra de obediência, constituindo sua
desobediência na lesão ao bem jurídico.21
Para Binding, o crime consiste na lesão de um direito subjetivo do
Estado, mas toda agressão aos direitos subjetivos produz-se mediante uma
agressão aos bens jurídicos. Nos termos dessa posição, o bem jurídico
identifica-se com o sentido e o fim das normas penais, sendo “todo lo que a
los ojos de la ley, en tanto que condición de la vida sana de la comunidad
jurídica, es valioso para ésta”.22
Ainda dentro da visão positivista, Rocco elaborou a teoria do objeto do
crime em obra que influenciou toda a doutrina penal italiana posterior. Para o
citado autor, no crime, deve-se distinguir um objeto formal e um objeto
substancial. O objeto formal é dado pelo direito do Estado de observância dos
preceitos penais. O objeto substancial, por sua vez, distingue-se em genérico
e específico. O objeto substancial genérico é o interesse do Estado de
assegurar as condições da existência da vida em comunidade, isto é, sua
própria conservação. O objeto substancial específico, ao contrário, consiste
no bem (ou interesse) próprio do sujeito passivo do crime, vale dizer, da
pessoa ou ente diretamente ofendido pelo crime.23
Ainda dentro do positivismo, mas discutindo as conclusões de Rocco,
Carnelutti posicionou-se contra a repartição do objeto substancial em
genérico e específico, objetando que o primeiro, ou seja, o interesse do
Estado à própria conservação, não é um interesse protegido pela lei, mas a
razão pela qual são estabelecidos o preceito e a sanção. O Estado protege
determinados bens porque isso é necessário para assegurar as condições da
vida em sociedade e não protege o interesse à observância dos comandos.
Esse interesse é o pressuposto de toda norma jurídica, mas exatamente por ser
pressuposto não pode ser considerado como objeto de tutela, uma vez que a
norma não pode tutelar interesse à tutela, ou seja, não pode tutelar a si
mesmo. Pelo exposto, o renomado autor conclui que o verdadeiro objeto da
tutela jurídico--penal é o bem que é em particular ofendido pelo crime, aquilo
que Rocco considera objeto substancial específico.24
Como reação aos conceitos da doutrina positivista-legalista, outra
concepção, de caráter positivista-naturalista, cujo maior expoente é Von
Liszt, traz um conceito material de bem jurídico, afirmando que este encontra
sua origem em um interesse da vida, existente anteriormente ao Direito, que
surge das relações sociais, ou seja, é uma realidade protegida pelo Direito. O
interesse, portanto, não é gerado pelo ordenamento jurídico, mas pela vida.
Para que o interesse passe a ser um bem jurídico, deverá ser reconhecido pelo
Direito. Então, todos os bens jurídicos são interesses vitais, do indivíduo ou
da comunidade. Ocorre que as decisões sobre quais dos bens existentes nas
relações sociais deverão ser bens jurídicos é tarefa da norma penal.25
Enrico Ferri, representante também da Escola Positivista, mas dentro de
uma perspectiva que podemos chamar de positivista-sociológica, entretanto,
já trouxe em sua obra o embrião da visão social do bem jurídico, nos
seguintes termos:
Afirmar que o crime seja apenas lesão “de um bem-interesse público” e que
os bens jurídicos individuais sejam tutelados pela norma penal “enquanto são
interesses de todos” é atender somente à razão abstrata, em virtude da qual a
norma foi imposta; mas é esquecer que esta protege – e não só “por via
reflexa, mediata” mas por modo concreto e direto – os direitos e bens
pessoais, enquanto são atributos e condições necessárias à vida social de cada
indivíduo.26
Exige-se que um objeto real de bem jurídico esteja afetado para legitimar a
reação penal, porque esta existe para proteger o bem jurídico; agora: se o bem
jurídico já está afetado, que proteção poderia cumprir realmente a sanção?51
circunstâncias dadas ou finalidades que são úteis para o indivíduo e seu livre
desenvolvimento no marco de um sistema global estruturado sobre a base
dessa concepção dos fins e para o funcionamento do próprio sistema.55
Explica o autor que, ao atender às circunstâncias e finalidades, em vez
de interesses de modo geral, quis expressar que o conceito abrange tanto os
estados previamente marcados pelo Direito quanto os deveres de
cumprimento das normas criados pelo mesmo Direito.
Derivam da posição assumida pelo autor as seguintes consequências por
ele mencionadas: 1. as cominações penais arbitrárias não protegem bens
jurídicos, pois não servem à liberdade do indivíduo no Estado Liberal, nem
para a capacidade funcional de um sistema social baseado em tais princípios;
2. as finalidades puramente ideológicas não protegem bens jurídicos, sendo
vedada a proteção de ideologias mediante normas jurídico-penais; 3. as meras
imoralidades não lesionam bens jurídicos e não devem receber qualquer
punição jurídico-penal.56
Prossegue Roxin, analisando se as leis penais que não protegem bens
jurídicos devem ser consideradas nulas. Em sua opinião, não está ainda
suficientemente aclarada a questão se a concretização de um conceito
material de delito calcada na limitação da proteção a bens jurídicos tem
somente efeitos político-criminais, ou também juridicamente vinculantes,
com a consequência de que seja inválida uma norma jurídico-penal que a
infrinja, mas entende que tal nulidade não encontrará nenhuma contradição.
Outra questão tormentosa que aborda é a possibilidade de o legislador
penal estar obrigado a penalizar lesões a bens jurídicos, encontrando apenas o
art. 26, inc. I, da Constituição alemã, que traz um mandato constitucional de
punição, nestes termos:
GG: Art. 26 (...) I – As ações que sejam idôneas para e executadas com a
intenção de perturbar a convivência pacífica dos povos, e especialmente de
preparar a execução de uma guerra de agressão, são inconstitucionais e
devem ser castigadas penalmente.
1
SPINAR, Jose Miguel Zugaldia. Fundamentos de Derecho Penal. 2. ed. Universidad de
Granada. Granada. 1991. p. 26.
2
SHECAIRA, Sérgio S. Criminologia. Editora Revista dos Tribunais. São Paulo. 2006. p.
56.
3
SHECAIRA. Sérgio S. Criminologia. Editora Revista dos Tribunais. São Paulo. 2006. p.
56.
4
MUÑOZ CONDE, Francisco; GARCÍA ARÁN, Mercedes. Derecho penal: parte general.
3. ed. Valência. Tirant lo Blanch. 1998. p. 31.
5
Importante salientar que, conforme lição de Marco Antonio Ferreira Lima, não só o
Direito Penal, mas também o Processo Penal, deve servir como instrumento a serviço dos
indivíduos para proteção de seus bens e de sua liberdade, através do Princípio do Devido
Processo Legal. In. Acesso à Justiça Penal no Estado Democrático de Direito. Editora
Juruá. Curitiba. 2008. p. 104.
6
LISZT, Franz Von. Tratado de Derecho Penal. Traduzido por Quintiliano Saldaña. Tomo
I. 3. ed. Editorial Reus. Madrid. 1929. p. 6.
7
MUÑOZ CONDE, Francisco; GARCÍA ARÁN, Mercedes. Op. cit. p. 64.
8
MIR PUIG, Santiago. Derecho penal: parte general. 5. ed. Barcelona. Reppertor. 1998. p.
66.
9
MIR PUIG, Santiago. Derecho penal: parte general. 5. ed. Barcelona. Reppertor. 1998. p.
65.
10
LISZT, Franz Von. Tratado de Derecho Penal. Traduzido por Quintiliano Saldaña.
Tomo I. 3. ed. Editorial Reus. Madrid. p. 6.
11
LISZT, Franz Von. Tratado de Derecho Penal. Traduzido por Quintiliano Saldaña.
Tomo I. 3. ed. Editorial Reus. Madrid. p. 6.
12
JESCHECK, Hans-Heinrich. Tratado de derecho penal: parte general. 4. ed. Trad. José
Luis Manzanares Samaniego. Granada. Comares. 1993. p. 231.
13
ROXIN, Claus. Derecho penal: parte general. Trad. Diego-Manuel Luzón Peña, Miguel
Díaz y Garcia Conlledo e Javier de Vicente Remesal. Madri. Civitas. 1999. t. 1, p. 71.
14
SCHUNEMANN, Bernard. Obras. Tomo II. Rubinzal-Culzoni Editores. Santa Fe. 2009.
p. 94.
15
ZAFFARONI, Eugenio Raúl. Tratado de derecho penal: parte general. Buenos Aires.
Ediar. 1981. t. 3, p. 248.
16
CEREZO MIR, J. Curso de derecho penal español. Madri. Tecnos. 1985. v. 1, p. 77.
Apud REGIS PRADO, Luiz. Bem jurídico-penal e constituição. 2. ed. São Paulo. Revista
dos Tribunais. 1997. p. 25.
17
BECCARIA, Cesare. Dos delitos e das penas. Trad. GUIMARÃES, Torrieri. São Paulo.
Hemus. p. 15.
18
CARRARA, Francesco. Programma del corso di diritto criminale: parte generale. 1871.
p. 32. Apud MARINUCCI, Giorgio; DOLCINI, Emilio. Corso de diritto penale. 2. ed.
Milão. Giuffrè. 1999. v. 1, p. 291.
19
BIRNBAUM. Apud BUSTOS RAMIREZ, Juan. Manual de derecho penal español:
parte general. Barcelona. Ariel. 1984. p. 5.
20
ZAFFARONI, Eugenio Raúl. Tratado de derecho penal: parte general. Buenos Aires.
Ediar. 1981. t. 3, p. 248.
21
BINDING. Apud BUSTOS RAMIREZ, Juan. Op. cit. p. 52-53.
22
BINDING. Apud JAKOBS, Günther. Derecho penal: parte general. Trad. Joaquin
Cuello Contreras e Jose Luis Serrano Gonzalez de Murillo. Madri. Marcial Pons. 1997. p.
50.
23
ROCCO, Arturo. L ’oggetto del reato e della tutela giuridica penale. Apud ANTOLISEI,
Francesco. Manuale di diritto penale: parte generale. 14. ed. Milão. Giuffrè. 1997. p. 173-
174.
24
CARNELUTTI, F. Il dano e il reato. Padova. 1926. p. 51. Apud ANTOLISEI,
Francesco. Manuale di diritto penale: parte generale. 14. ed. Milão. Giuffrè. 1997. p. 174.
25
LISZT, Franz Von. Tratado de Derecho Penal. Traduzido por Quintiliano Saldaña.
Tomo I. 3. ed. Editorial Reus. Madrid. p. 6 ss.
26
FERRI, Enrico. Princípios de direito criminal: o criminoso e o crime. Trad. Paolo
Capitanio. Campinas. Bookseller. 1996. p. 381.
27
REGIS PRADO, Luiz. Bem jurídico-penal e constituição. 2. ed. São Paulo. Revista dos
Tribunais. 1997. p. 34.
28
JESCHECK, Hans-Heinrich. Op. cit. p. 232.
29
HONIG, Richard. Die einwilligung des verletzen. 1919. p. 94. Apud ZAFFARONI,
Eugenio Raúl. Op. cit. p. 249.
30
REGIS PRADO, Luiz. Bem jurídico-penal e constituição. 2. ed. São Paulo. Revista dos
Tribunais. 1997. p. 36.
31
WELZEL, Hans. Derecho penal aleman: parte general. 11. ed. 1970. p. 15.
32
FERREIRA MONTE, Mário. Da proteção penal do consumidor. Coimbra. Almedina.
1996. p. 273-274.
33
JESCHECK, Hans-Heinrich. Op. cit. p. 6-7.
34
Ibidem. p. 232.
35
MANZINI. Trattato di diritto penale italiano. 5. ed. Milano: UTET, 1981., v. 1, p. 38.
36
MANZINI. Op. cit., p. 278.
37
ZAFFARONI, Eugenio Raúl. Tratado de derecho penal: parte general. Buenos Aires.
Ediar. 1981. t. 3, p. 221.
38
ZAFFARONI, Eugenio Raúl. Tratado de derecho penal: parte general. Buenos Aires.
Ediar. 1981. t. 3, p. 240.
39
ZAFFARONI, Eugenio Raúl. Tratado de derecho penal: parte general. Buenos Aires.
Ediar. 1981. t. 3, p. 240.
40
AMELUNG. Rechtsgüterschutz und schutz der gesellschaft. 1972. Apud ROXIN, Claus.
Op. cit. p. 68.
41
HASSEMER, Einfühurung in die grundlagen des strafrechts. 1981. p. 296. Apud
MARINUC-CI, Giorgio, DOLCINI, Emilio. Op. cit. p. 279-280.
42
LUHMANN. Sociologia del diritto. 1977.
43
MIR PUIG, Santiago. Op. cit. p. 137.
44
MIR PUIG, Santiago. Op. cit. p. 134-135.
45
MUÑOZ CONDE, Francisco; GARCÍA ARÁN, Mercedes. Op. cit. p. 65.
46
ANTOLISEI, Francesco. Manuale di diritto penale: parte generale. 14. ed. atualizada
por CON-TI, Luigi. Milão. Giuffrè. 1997. p. 176.
47
JAKOBS, Günther. Derecho penal: parte general. Trad. Joaquin Cuello Contreras e Jose
Luis Serrano Gonzalez de Murillo. 2. ed. Madri. Marcial Pons. 1997. p. 52.
48
JAKOBS, Günther. La imputación objetiva en derecho penal. Trad. Manuel Cancio
Meliá. Bogotá. Colección de estudios no 1, Universidad Externado de Colombia, 1998. p.
13.
49
JAKOBS, Günther. Derecho penal. Op. cit. p. 55-58.
50
DÍAZ, Cláudia Lopez. Introdución a la imputación objetiva. Bogotá. Universidad
Externado de Colombia. 1996. p. 87. Colección de estudios no 5.
51
SANCINETTI, Marcelo A. ¿Responsabilidad por acciones o responsabilidad por
resultados? Cuadernos de conferencias y artículos. Universidad Externado de Colombia, no
9, 1996. p. 14.
52
SANCINETTI, Marcelo A. ¿Responsabilidad por acciones o responsabilidad por
resultados? Cuadernos de conferencias y artículos, Universidad Externado de Colombia, no
9, 1996. p. 14.
53
ROXIN, Claus. Derecho penal: parte general. Trad. Diego-Manuel Luzón Peña, Miguel
Díaz y Garcia Conlledo e Javier de Vicente Remesal. Madri. Civitas. 1999. t. 1, p. 60-62.
54
ROXIN, Claus. Op. cit. p. 56.
55
ROXIN, Claus. Op. cit. p. 56.
56
ROXIN, Claus. Op. cit. p. 56-57.
57
ROXIN, Claus. Op. cit. p. 63-67.
58
BETTIOL, G. Bene giuridico e reato. Apud ANTOLISEI, Francesco. Op. cit. p. 175.
59
BRICOLA. Teoria generale del reato. Apud ANTOLISEI, Francesco. Op. cit. p. 177.
60
HUNGRIA, Nélson. Comentário ao Código Penal. 2. ed. Rio de Janeiro: Revista
Forense, 1953. t. I, vol. 1.
61
HUNGRIA, Nelson. Comentários ao código penal. 4. ed. Rio de Janeiro. Forense. 1958.
v. 1, t. 2, p. 10-11.
62
BRUNO, Aníbal. Direito penal: parte geral. 2. ed. Rio de Janeiro. Forense. 1959. v. 1, t.
2, p. 212.
63
FREDERICO MARQUES, José. Tratado de direito penal: da infração penal. Atualizado
por Antonio Cláudio Mariz de Oliveira, Guilherme de Souza Nucci e Sérgio Eduardo
Mendonça de Alvarenga. Campinas. Bookseller. 1997. v. 2, p. 37.
64
LISZT, Franz von. Tratado de derecho penal. Trad. Quintiliano Saldaña. 3. ed. Madrid:
Reus. 1929. t. I. p. 38-39.
65
NORONHA, Edgard Magalhães. Direito penal. 11. ed. São Paulo. Saraiva. 1974. v. 1, p.
109.
66
FRAGOSO, Heleno C. Lições de direito penal. Parte Geral. 16. ed. Rio de Janeiro:
Forense, 2003.
67
JESUS, Damásio Evangelista de. Direito penal. 16. ed. São Paulo: Saraiva, 1992. vol. 1,
p. 159.
68
MIRABETE, Julio Fabbrini. Manual de direito penal: parte geral. 13. ed. São Paulo.
Atlas. 1998. p. 123.
69
TOLEDO, Francisco de Assis. Princípios básicos de direito penal. 4. ed. São Paulo:
Saraiva, 1991. p. 16.
70
BITENCOURT, Cezar R. Op. cit., 11. ed., 2007, p. 240.
71
BITENCOURT, Cezar Roberto. Manual de direito penal: parte geral. 5. ed. São Paulo.
Revista dos Tribunais. 1999. p. 238.
72
REGIS PRADO, Luiz. Curso de direito penal brasileiro: parte geral. São Paulo. Revista
dos Tribunais. 1999. p. 79-80.
73
FIGUEIREDO DIAS, Jorge de. Questões fundamentais do direito penal revisitadas. São
Paulo. Revista dos Tribunais. 1999. p. 62.
74
REALE, Miguel. Filosofia do direito. 5. ed. São Paulo. Saraiva. 1969. v. 2, p. 507-511.
75
PAGLIARO, Antonio. Principi di diritto penale: parte generale. 6. ed. Milão. Giuffrè,
1998. p. 229.
76
MUÑOZ CONDE, Francisco; GARCÍA ARÁN, Mercedes. Derecho penal: parte
general. 3. ed. Valencia: Tirant lo Blanch, 1998. p. 91.
77
COSTA ANDRADE, Manuel da. Consentimento e acordo em direito penal. Coimbra.
Coimbra Editora. 1991. p. 37.
78
BINDING. Die Normen. Apud COSTA ANDRADE, Manoel da. Op. cit. p. 39.
79
COSTA ANDRADE, Manuel da. Consentimento e acordo em direito penal. Coimbra:
Coimbra Ed., 1991. p. 41.
80
COSTA ANDRADE, Manuel da. Op. cit. p. 23.
PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS LIMITADORES
DO DIREITO PENAL
É exato ser no sistema social, enquanto tal, que se deve ver em último termo
a fonte legitimadora e produtora da ordem legal dos bens jurídicos. Mas com
apelo direto a um tal sistema é absolutamente impossível emprestar ao
conceito de bem jurídico a indispensável concretização. Com uma via para a
alcançar só se depara quando se pensa que os bens do sistema social se
transformam e se concretizam em bens jurídicos dignos de tutela penal (em
bens jurídico-penais) através da ordenação axiológica jurídico-
constitucional.4
Art. 3o
(Soberania e legalidade)
1. A soberania una e indivisível reside no povo, que a exerce segundo as
formas previstas na Constituição.
2. O estado subordina-se à Constituição e funda-se na legalidade
democrática.
3. A validade das leis e dos demais actos do Estado, das regiões autónomas e
do poder local depende da sua conformidade com a Constituição.
Art. 18o
(Força jurídica)
1. Os preceitos constitucionais respeitantes aos direitos, liberdades e garantias
são directamente aplicáveis e vinculam as entidades públicas e privadas.
2. A lei só pode restringir os direitos, liberdades e garantias nos casos
expressamente previstos na Constituição, devendo as restrições limitar-se ao
necessário para salvaguardar outros direitos ou interesses constitucionalmente
protegidos.
3. As leis restritivas de direitos, liberdades e garantias têm de revestir carácter
geral e abstrato e não podem ter efeito retroativo nem diminuir a extensão e o
alcance do conteúdo essencial dos preceitos constitucionais.
Art. 5o (...)
XLI – a lei punirá qualquer discriminação atentatória dos direitos e liberdades
fundamentais;
XLII – a prática do racismo constitui crime inafiançável e imprescritível,
sujeito à pena de reclusão, nos termos da lei;
XLIII – a lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou
anistia a prática da tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o
terrorismo e os definidos como crimes hediondos, por eles respondendo os
mandantes, os executores e os que, podendo evitá-los, se omitirem;
XLIV – constitui crime inafiançável e imprescritível a ação de grupos
armados, civis ou militares, contra a ordem constitucional e o Estado
Democrático.
Nenhum homem livre será detido, preso ou perderá suas posses, ou proscrito,
ou morto de qualquer forma; nem poderá ser condenado, nem poderá ser
submetido à prisão, senão pelo julgamento de seus iguais ou pelas leis do
país.18
Desse modo, toda pessoa tem o direito de saber não só aquilo que pode
fazer, mas também aquilo que não pode fazer, bem como quais serão as
consequências caso deseje fazer aquilo que a lei não permite.
O princípio da legalidade representa, ao mesmo tempo, uma limitação
formal e uma limitação material ao Estado.
Do ponto de vista formal, significa que somente a lei em sentido estrito,
ou seja, aquela derivada do Poder Legislativo, respeitado todo o trâmite legal,
poderá definir crimes e contravenções, bem como majorar as penas ou de
qualquer forma aumentar o rigor punitivo do Estado limitando a liberdade do
cidadão. O contrário, porém, não é verdadeiro, pois pode o Estado, por meio
de outros atos que não a lei em sentido estrito, diminuir o rigor punitivo e
aumentar a esfera de liberdades do cidadão.
Do ponto de vista material, a limitação ao Estado decorre do próprio
Estado Democrático de Direito, pois se todo poder emana do povo, toda
atividade repressiva deve derivar da “vontade popular” e ser exercida
exatamente nos seus limites. Entretanto, tal não significa que a “vontade
popular” tudo pode, pois assim haveria a possibilidade de uma “ditadura da
maioria”, não admitida em um Estado Democrático de Direito. Não podemos
nos esquecer de que o regime nazista de Adolf Hitler era legal, posto que
construído sob as vigentes leis alemãs da época e, ainda, apoiado pela
maioria da população.
Há sempre uma limitação material ao Estado, mesmo quando este atua
representando a “vontade popular”: os direitos do cidadão enquanto ser
humano.
É importante que se diga que o princípio da legalidade tem um valor
absoluto e não admite qualquer exceção ou flexibilização, em prejuízo do
indivíduo.25
No âmbito nacional, nos termos do art. 22, I, da CF, somente a União
poderá legislar sobre matéria penal por meio de seu corpo legislativo, ou seja,
o Congresso Nacional. Os Estados-membros somente poderão legislar sobre
matéria penal em relação às questões específicas ao seu interesse e desde que
haja autorização por lei complementar, nos termos do art. 22, parágrafo
único, da CF. Não pode, portanto, de maneira alguma, o Poder Executivo, por
intermédio de Medidas Provisórias, criar crimes ou majorar penas.
Nos termos dessa garantia, não basta que a lei preveja a pena, mas
também a forma como a pena será executada, isto é, cumprida pelo
sentenciado.
O cidadão sentenciado não perde, em momento algum, a sua
humanidade. A pena deve ser executada de forma a respeitar todos os direitos
que não foram restringidos pela sentença condenatória.
Nesse sentido é o art. 5o da Declaração Universal dos Direitos Humanos:
“Ninguém será submetido a torturas nem a tratos cruéis, desumanos ou
degradantes”; e o art. 10, item 1, do Pacto Interamericano de Direitos Civis e
Políticos: “Toda pessoa privada de sua liberdade será tratada humanamente e
com respeito à dignidade inerente ao ser humano”.
Nossa Constituição Federal também trata do tema ao prever no art. 5o,
XLVIII, que “a pena será cumprida em estabelecimentos distintos, de acordo
com a natureza do delito, a idade e o sexo do apenado”; no art. 5o, XLIX, “é
assegurado aos presos o respeito à integridade física e moral”.
Não obstante todas essa previsões, é mais que sabida a dramática
situação carcerária brasileira, fato que decorre, diretamente, mas não
exclusivamente, do total desrespeito ao princípio da legalidade, posto que a
Lei de Execução Penal (Lei 7.210/1984), em vigor há mais de 30 anos,
jamais foi aplicada como pretendido pelo Legislador.
Nesse sentido, transcrevemos a crítica realizada por Alexis Augusto
Couto de Brito sobre o desrespeito à Lei de Execução Penal:
Não há crime sem lei anterior que o defina. Não há pena sem prévia
cominação legal. Parágrafo único [sugestão de Cunha Luna]: O crime,
definido em lei anterior, de que trata este artigo, consiste em fato concreto e
determinado.46
A razão pela qual o Direito Penal apenas deve ser empregado quando
fracassam todos os outros meios político-sociais de coibição de um
comportamento social criminoso reside no fato de que a punição pode
prejudicar a existência social do condenado e arrastá-lo para a margem da
sociedade, tendo até mesmo um efeito socialmente nocivo. Por isso, deve-se
preferir, no lugar da punição, todas as medidas que possam evitar uma
perturbação social, mas que tragam para o condenado consequências menos
incisivas. Costuma-se expressar essa ideia dizendo que o Direito Penal seria a
ultima ratio (o último recurso) da política social.59
O Código Penal de 1940 – cuja parte especial está ainda em vigor –, foi
acrescido por uma série vultosa de leis que preveem novos tipos penais, em
sua maioria totalmente desnecessários e em desacordo com reais injunções, e
outros elaborados de modo a comprometer a seriedade da nossa legislação
penal, chegando em alguns casos a conotações paradoxais e hilariantes.80
O juiz, pois, nos limites que a lei impõe realiza uma tarefa de ajustamento da
resposta penal em função não só das circunstâncias objetivas, mas
principalmente da pessoa do denunciado, e, também, do comportamento da
vítima. Trata-se de missão em que o aplicador da lei tem, sem dúvidas, uma
área significativa de discricionariedade.119
para determinar qual a lei que contém disposições mais favoráveis ao réu,
mister se faz considerar tudo aquilo que pode ocasionar resultado menos
rigoroso, em virtude da aplicação de determinada lei, dentro da espécie a ser
decidida. Torna-se, assim, necessário examinar não somente a espécie e
quantidade da pena (o que constitui o caso mais fácil de resolver-se), como
também os requisitos do tipo legal, as condições de punibilidade, as penas
acessórias, os poderes discricionários do juiz etc.: em suma, todas as
disposições aplicáveis ao caso concreto, de acordo com o sistema de uma ou
outra legislação.7
Não obstante todos esses critérios, no caso concreto, não é fácil definir
qual lei é mais benéfica ao réu. Isso ocorre porque as novas leis penais não se
apresentam de forma simples ou modificam um único dispositivo, sendo que,
na maioria das vezes, são complexas e visam a alterar uma gama de artigos,
sendo que só excepcionalmente se apresentam favoráveis em todos os seus
aspectos, sendo mais frequente que se apresentem favoráveis em parte e em
parte não.10
Assim, é plenamente possível que a nova lei, por exemplo, aumente a
pena (no que seria desfavorável), mas crie benefícios inexistentes na lei
anterior (no que seria mais benéfica).
Para exemplificar, poderemos utilizar a atual lei de drogas, que embora
tenha aumentado a pena cominada para o tráfico de droga, que na lei antiga
era de 3 a 12 anos de reclusão e na nova de 5 a 15 anos de reclusão, fez
previsão de um benefício ao réu primário e de bons antecedentes e sem
envolvimento com organização criminosa, que terá a sua pena reduzida de
1/3 a 2/3, sendo que tal redução de pena não existia na lei anterior. Temos,
portanto, num mesmo diploma legal – Lei 11.343/2006, – uma situação que
agrava a do réu (pena mínima e máxima mais altas) e uma situação que
beneficia o réu (causa de diminuição de pena). O resultado é que, se
analisarmos a lei antiga e a lei nova, de forma isolada e comparando-as (sem
que se opere a combinação entre elas), perceberemos que ao réu primário, de
bons antecedentes e que não pertença a uma organização criminosa, a lei
nova é mais benéfica, mas o mesmo não pode ser dito em relação ao réu que
não se enquadra na situação acima descrita, pois para este a lei será mais
grave, fato que por si só demonstra a dificuldade em se determinar quando
uma lei é mais benéfica ou mais severa ao réu.
Se no caso concreto, mesmo após profunda análise, subsistir a dúvida de
qual lei seria mais benéfica, nada impede que se consulte o próprio acusado,
sendo esse o maior interessado e o titular da garantia constitucional. Apesar
de não haver tal previsão no nosso ordenamento jurídico, o Código Penal
Espanhol, em seu art. 2o, no 2, prevê que: “no caso de dúvida sobre a
determinação da lei mais favorável, será ouvido o réu”.11 Hungria também
sustenta que apesar de não haver disposição expressa nesse sentido, não há
qualquer razão para recusá-lo.12
A título de exemplo, cumpre informar que há, no nosso ordenamento
jurídico exemplo de novatio legis in mellius, realizado pela Lei de Drogas
(Lei 11.343/2006), que alterou para melhor a situação do usuário de drogas.
A antiga lei de tóxicos – 6.368/1976 – cuidava do usuário em seu art. 16, que
contava com a seguinte redação:
Art. 16. Adquirir, guardar ou trazer consigo, para o uso próprio, substância
entorpecente ou que determine dependência física ou psíquica, sem
autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar:
Pena – Detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e pagamento de (vinte) a
50 (cinquenta) dias-multa.
Percebe-se, portanto, que a Lei de Drogas não prevê mais para o usuário
pena privativa de liberdade e tampouco pena de multa, mas apenas penas de
advertência, prestação de serviços à comunidade e medida educativa, ou seja,
deu um tratamento mais brando ao usuário.
Apenas a título de esclarecimento, esse abrandamento ao tratamento
dado ao usuário é reflexo da alteração da política de combate às drogas,
efetivada pela atual lei, que não mais vê o usuário como um criminoso, mas
sim como portador de uma doença e uma pessoa que precisa de auxílio no
combate ao seu vício. O usuário não é mais visto como um problema de
polícia, mas sim como um problema de saúde pública.
Dizer que o juiz está fazendo lei nova, ultrapassando assim suas funções
constitucionais, é argumento sem consistência, pois o julgador, em
obediência a princípios de equidade consagrados pela própria Constituição,
está apenas movimentando-se dentro dos quadros legais para uma tarefa de
integração perfeitamente legítima.21
A lei penal em branco pode ser conceituada como aquela em que a descrição
da conduta punível se mostra incompleta ou lacunosa, necessitando de outro
dispositivo legal para sua integração ou complementação. Isso vale dizer: a
hipótese legal ou prótase é formulada de maneira genérica ou indeterminada,
devendo ser colmatada/determinada por ato normativo (legislativo ou
administrativo), em regra, de cunho extrapenal, que fica pertencendo, para
todos os efeitos, à lei penal. Utiliza-se assim do chamado procedimento de
remissão ou de reenvio a outra espécie normativa, sempre em obediência à
estrita necessidade.33
Suponha-se que uma máquina infernal seja enviada, por via marítima, de
Cuba para a Argentina, com destino a pessoa que neste último país o agente
pretendia matar, e o navio é retido, além do tempo previsto, no cais do porto
do Rio, acontecendo que, aqui, antes de ocorrer a explosão, é descoberto e
destruído o mortífero engenho. O agente está sujeito à lei e jurisdição
brasileiras.69
Figure-se que a máquina infernal fosse despachada para o Brasil, mas que,
antes da partida do navio ou em alto-mar, tivesse sido descoberta e
inutilizada. Nada temos com o fato, pois se, subjetivamente, o resultado devia
produzir-se no Brasil, objetivamente nada ocorreu em nosso território. Não
nos atingiu de maneira alguma.70
6.5 EXTRATERRITORIALIDADE
Conforme vimos, a regra em relação à aplicação da lei penal no espaço é
a territorialidade, o que significa que geralmente a lei penal aplica-se aos
crimes praticados no território nacional, nos termos do art. 5o do CP.
Entretanto, como sói acontecer, existem algumas exceções a essa regra.
Essas exceções são as hipóteses de extraterritorialidade, em que a lei
penal brasileira tem eficácia e é aplicada aos crimes cometidos fora do seu
território nacional, isto é, em territórios estrangeiros.
Todas essas hipóteses estão previstas no art. 7o do CP e são divididas em
extraterritorialidade incondicionada e extraterritorialidade condicionada.
São reguladas pelo prazo, espaço de tempo, fixo e determinado, entre dois
momentos: o inicial e o final. Termo é o instante determinado no tempo: fixa
o momento da prática de um ato, designando, também, a ocasião de início do
prazo. O prazo se desenvolve entre dois termos: o termo inicial (termo a quo,
dies a quo) e o termo final (termo ad quem, dies ad quem). Um prazo tem
início em certo dia porque nessa data ele tem o seu termo a quo; termina em
determinado dia porque aí está situado o seu termo ad quem. Assim, um
prazo que começa no dia 1o de janeiro e termina em 31 de dezembro tem
nesses extremos os termos a quo e ad quem.79
No nosso Código Penal, o artigo 10 é que estabelece as regras para contagem
do prazo ao prever que: “O dia do começo inclui-se no cômputo do prazo.
Contam--se os dias, os meses e os anos pelo calendário comum”.80
O problema surge do fato de não haver uma fórmula legal para resolver
o problema, ou seja, o Código Penal não nos oferece qualquer instrumento
para definição da norma a ser aplicada.89
Assim, para solução de tais conflitos, a dogmática penal desenvolveu,
essencialmente, três princípios: especialidade, subsidiariedade e consunção.90
quando o fato previsto por uma norma está compreendido em outra de âmbito
maior e, portanto, só esta se aplica (...) Na consunção, o crime consuntivo é
como que o vértice da montanha que se alcança, passando pela encosta do
crime consumido.94
1
BITENCOURT, Cezar R. Tratado de Direito Penal. 11. ed. Editora Revista dos
Tribunais. São Paulo. 2007. p. 160.
2
ANTOLISEI, Francesco. Manual de Derecho Penal. Tradução de Juan del Rosal e Angel
Torio. Editora U.T.E.H.A. Buenos Aires. 1960. p. 83.
3
Antolisei explica que: “toda conduta não proibida deve considerar-se juridicamente
lícita”. In: ANTOLISEI, Francesco. Manual de Derecho Penal. Tradução de Juan del Rosal
e Angel Torio. Editora U.T.E.H.A. Buenos Aires. 1960. p. 83.
4
ASSIS TOLEDO, Francisco de. Princípios de Direito Penal. 4. ed. Editora Saraiva. São
Paulo. 1991. p. 31.
5
HUNGRIA, Nelson. Comentários ao Código Penal. 2. ed. Tomo 1. Editora Forense. Rio
de Janeiro, 1953. v. 1. p. 100.
6
HUNGRIA, Nelson. Comentários ao Código Penal. 2. ed. Tomo 1. Editora Forense. Rio
de Janeiro. 1953. v. 1. p. 107.
7
BATTLAGINI, Giulio. Direito penal. Trad. de Paulo José da Costa Júnior; Arminda
Bergamini Miotto; Adda Pellegrini Grinover e Euclides Custódio da Silveira. São Paulo:
Saraiva, 1973. vol. 1. p. 85.
8
Importante informar que com a reforma da Parte Geral do Código Penal, efetuada em
1984, não mais existem penas acessórias no nosso ordenamento penal.
9
HUNGRIA, Nelson. Comentários ao Código Penal. 2. ed. Tomo 1. Editora Forense. Rio
de Janeiro. 1953. v. 1. p. 106.
10
SIQUEIRA, Galdino. Tratado de Direito Penal. Parte Geral. Tomo I. 2. ed. 1950. José
Konfino Editor. Rio de Janeiro. p. 163.
11
QUEIROZ, Paulo de S. Direito Penal. 5. ed. Editora Lumen Juris. Rio de Janeiro. 2009.
p. 118.
12
HUNGRIA, Nelson. Comentários ao Código Penal. 2. ed. Tomo 1. Editora Forense. Rio
de Janeiro. 1953. v. 1. p. 118.
13
MARQUES, José F. Curso de Direito Penal. Editora Saraiva. São Paulo. 1954. v. 1. p.
188.
14
SIQUEIRA, Galdino. Tratado de Direito Penal. Parte Geral. Tomo I. 2. ed. 1950. José
Konfino Editor. Rio de Janeiro. p. 163.
15
FRAGOSO, Heleno C. Lições de Direito Penal. Parte Geral. 16. ed. Editora Forense.
Rio de Janeiro. 2003. p. 126.
16
BRUNO, Anibal. Direito Penal. Tomo I. Editora Forense. Rio de Janeiro. 1967. p. 270.
17
HUNGRIA, Nelson. Op. cit.
18
GARCIA, Basileu. Instituições de Direito Penal. Tomo I. 4. ed. Editor Max Limonad.
São Paulo. v. 1. p. 150. Frise-se, entretanto, que esse autor admite a combinação com
reservas.
19
DELMANTO, Celso; DELMANTO, Fábio M. de A.; DELMANTO, Roberto;
DELMANTO JU-NIOR, Roberto. Código Penal Comentado. 6. ed. Editora Renovar. Rio
de Janeiro. 2002. p. 6.
20
ASSIS TOLEDO, Francisco de. Princípios de Direito Penal. 4. ed. Editora Saraiva. São
Paulo. 1991. p. 37.
21
MARQUES, José F. Curso de Direito Penal. Editora Saraiva. São Paulo. 1954. v. 1. p.
192.
22
QUEIROZ, Paulo de S. Direito Penal. 5. ed. Editora Lumen Juris. Rio de Janeiro. 2009.
p. 118.
23
BRANDÃO, Cláudio. Curso de direito penal. Rio de Janeiro: Forense, 2008. p. 71.
24
Habeas Corpus no 85229/SP. Rel. Maria Thereza de Assis Moura. 6ª Turma. Julgado em
20/11/2008.
PENAL. PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS. TRÁFICO DE
ENTORPECENTES. 1. SUBSTITUIÇÃO DA PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE.
INCONSTITUCIONALIDADE DO § 1o DO ARTIGO 2oDA LEI 8.072/90.
POSSIBILIDADE. FATO OCORRIDO ANTES DA LEI 11.343/06. 2. REGIME INICIAL
ABERTO. PENA-BASE FIXADA NO MÍNIMO LEGAL. POSSIBILIDADE. 3.
REDUÇÃO DA PENA. COMBINAÇÃO DE DISPOSIÇÕES DE DUAS LEIS.
CRIAÇÃO DE TERCEIRA NORMA. ENTENDIMENTO MAJORITÁRIO DA TURMA.
VIABILIDADE. 4. APLICAÇÃO DA LEI PENAL POSTERIOR MAIS GRAVOSA.
IMPOSSIBILIDADE. 5. ORDEM CONCEDIDA EM PARTE.
1. Presentes os requisitos do artigo 44 do Código Penal, é possível a substituição da pena
privativa de liberdade por restritiva de direitos, mesmo em crime de tráfico de
entorpecentes, diante da inconstitucionalidade do § 1o do artigo 2o da Lei no 8.072/90. Fato
anterior à Lei no 11.343/2006.
2. Diante da fixação da pena-base no mínimo legal, sendo o réu primário, é possível a
fixação do regime inicial aberto para condenações pela prática do crime de tráfico de
entorpecentes, perpetrado anteriormente à Lei no 11.343/2006.
3. Entende a colenda Sexta Turma do egrégio Superior Tribunal de Justiça, de forma
majoritária, ser viável a combinação de disposições favoráveis de distintas leis a fim de
beneficiar o réu (preceito sancionador do art. 12 da Lei 6.368/76 com a causa de
diminuição do § 4o do art. 33 da Lei 11.343/06).
4. Na espécie, foi aplicado o preceito sancionador da lei nova, sobre a qual incidiu a causa
de diminuição do parágrafo quarto do art. 33. In casu, o Tribunal a quo promoveu a
diminuição de pena. Contudo, fê-lo não com base na pena da lei antiga, mas servindo do
preceito sancionador da lei nova, ou seja, elevou-se a pena-base para cinco anos. Logo, de
rigor é a correção do campo de incidência da causa de diminuição, que deve ser a pena de
três anos, sanção mínima, fixada na sentença. Como a causa de diminuição fora aquilatada
pelo Tribunal a quo em 5/12, a pena deve ser redimensionada para um ano e nove meses de
reclusão.
5. Ordem concedida para diminuir a pena para um ano e nove meses de reclusão, modificar
o regime inicial de cumprimento de pena, do fechado para o aberto e substituir a pena
privativa de liberdade por duas restritivas de direito, sendo uma de prestação de serviços à
comunidade e uma prestação pecuniária, com base no tempo de pena que ainda resta a ser
cumprido, já que presentes os requisitos para tanto, devendo o juízo das execuções
criminais, nos termos do artigo 147 e seguintes da Lei 7.210/84, promover a sua execução.
No mesmo sentido: HC no 105.905-SP.
25
SIQUEIRA, Galdino. Tratado de direito penal. Parte Geral. 2. ed. Rio de Janeiro: José
Konfino Ed., 1950. t. I. p. 162.
26
Idem.
27
BATTLAGINI, Giulio. Direito Penal. Tradução de Paulo José da Costa Junior; Arminda
Bergamini Miotto; Adda Pellegrini Grinover e Euclides Custódio da Silveira. Editora
Saraiva. São Paulo. 1973. v. 1. p. 83.
28
ANTOLISEI, Francesco. Manual de Derecho Penal. Tradução de Juan del Rosal e
Angel Torio. Editora U.T.E.H.A. Buenos Aires. 1960. p. 90.
29
BRUNO, Anibal. Direito Penal. Tomo I. Editora Forense. Rio de Janeiro. 1967. p. 272.
30
COBO DEL ROSAL, Manuel; QUINTANAR DÍEZ, Manuel. Instituciones de Derecho
Penal Español. Parte General. Ediciones CEJEG. Madrid. 2004. p. 99.
31
PEDROSO, Fernando de A. Direito penal. 4. ed. São Paulo: Método, 2008. vol. 1. p. 42.
32
BRANDÃO, Cláudio. Curso de Direito Penal. Editora Forense. Rio de Janeiro. 2008. p.
74.
33
PRADO, Luiz R. Curso de Direito Penal Brasileiro. 7. ed. Editora Revista dos
Tribunais. São Paulo. 2007. v. 1. p. 179.
34
BITENCOURT, Cezar R. Tratado de Direito Penal. 11. ed. Editora Revista dos
Tribunais. São Paulo. 2007. p. 170.
35
COSTA JÚNIOR, Paulo J. Curso de direito penal. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 1992. vol.
1. p. 34.
36
QUEIROZ, Paulo de S. Direito Penal. 5. ed. Editora Lumen Juris. Rio de Janeiro. 2009.
p. 74.
37
Atente-se ao fato de que se a lei fosse alterada em benefício do réu, o exemplo não
serviria, posto que retroagiria para beneficiar o réu.
38
Nos termos da legislação brasileira, os menores de 18 anos são penalmente inimputáveis,
o que significa que não cometem crimes, mas sim atos infracionais. Isso significa que os
menores de idade não estão sujeitos ao Código Penal, mas sim ao Estatuto da Criança e do
Adolescente. Os menores de 18 anos jamais recebem pena, mas sim medida
socioeducativa. Tais diferenciações decorrem diretamente do artigo 228 da Constituição
Federal, que tem a seguinte redação: “São penalmente inimputáveis os menores de dezoito
anos, sujeitos às normas da legislação especial.” A “legislação especial” a que se refere o
artigo é exatamente o ECA.
39
COSTA JUNIOR, Paulo J. Curso de Direito Penal. 2. ed. Editora Saraiva. São Paulo.
1992. v. 1. p. 34.
40
A prescrição nada mais é do que a perda do direito do Estado de punir o criminoso em
virtude do decurso de certo lapso temporal.
41
“Art. 111. A prescrição, antes de transitar em julgado a sentença final, começa a correr: I
– do dia em que o crime se consumou.”
42
“Art. 159. Sequestrar pessoa com o fim de obter, para si ou para outrem, qualquer
vantagem, como condição ou preço do resgate: Pena – reclusão, de 8 (oito) a 15 (quinze)
anos.”
43
“Art. 148. Privar alguém de sua liberdade, mediante sequestro ou cárcere privado: Pena
– reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos.”
44
“Art. 71. Quando o agente, mediante mais de uma ação ou omissão, pratica dois ou mais
crimes da mesma espécie e, pelas condições de tempo, lugar, maneira de execução e outras
semelhantes, devem os subsequentes ser havidos como continuação do primeiro, aplica-se-
lhe a pena de um só dos crimes, se idênticas, ou a mais grave, se diversas, aumentada, em
qualquer caso, de um sexto a dois terços.”
45
Por todos, Cláudio Brandão, Curso de Direito Penal. Editora Forense. Rio de Janeiro.
2008. p. 71, e José Frederico Marques, Curso de Direito Penal. Editora Saraiva. São Paulo.
1954. v. 1. p. 192.
46
QUEIROZ, Paulo de S. Direito Penal. 5. ed. Editora Lumen Juris. Rio de Janeiro. 2009.
p. 127.
47
QUEIROZ, Paulo de S. Direito Penal. 5. ed. Editora Lumen Juris. Rio de Janeiro. 2009.
p. 127.
48
BITENCOURT, Cezar R. Tratado de Direito Penal. 11. ed. Editora Revista dos
Tribunais. São Paulo. 2007. p. 173.
49
BETTIOL, Giuseppe. Direito Penal. Tradução de Paulo José da Costa Junior e Alberto
Silva Franco. 2. ed. São Paulo. Revista dos Tribunais. 1977. v. 1. p. 188.
50
NUVOLONE, Pietro. O Sistema do Direito Penal. Tradução de Ada Pellegrini Grinover
e René Ariel Dotti. São Paulo. Revista dos Tribunais. 1981. v. 1. p. 61.
51
HUNGRIA, Nelson. Comentários ao Código Penal. 2. ed. Tomo 1. Editora Forense. Rio
de Janeiro. 1953. v. 1. p. 138.
52
ANTOLISEI, Francesco. Manual de Derecho Penal. Tradução de Juan del Rosal e
Angel Torio. Editora U.T.E.H.A. Buenos Aires. 1960. p. 93.
53
HUNGRIA, Nelson. Comentários ao Código Penal. 2. ed. Tomo 1. Editora Forense. Rio
de Janeiro. 1953. v. 1. p. 139.
54
BITENCOURT, Cezar R. Tratado de Direito Penal. 11. ed. Editora Revista dos
Tribunais. São Paulo. 2007. p. 175.
55
HUNGRIA, Nelson. Comentários ao Código Penal. 2. ed. Tomo 1. Editora Forense. Rio
de Janeiro. 1953. v. 1. p. 140.
56
BITENCOURT, Cezar R. Tratado de Direito Penal. 11. ed. Editora Revista dos
Tribunais. São Paulo. 2007. p. 176.
57
MESTIERI, João. Teoria Elementar do Direito Penal. Edição do Autor. Rio de Janeiro.
1990. p. 117.
58
HUNGRIA, Nelson. Op. cit., p. 150.
59
Assim define o artigo 1o da Lei 8.617, de 1993: “O mar territorial brasileiro compreende
uma faixa de doze milhas marítimas de largura, medidas a partir da linha de baixa-mar do
litoral continental e insular brasileiro, tal como indicada nas cartas náuticas de grande
escala, reconhecidas oficialmente pelo Brasil.”
60
A Lei 7.565/86, Código Aeronáutico Brasileiro, traz no artigo 11 a seguinte redação: “O
Brasil exerce completa e exclusiva soberania sobre o espaço aéreo acima de seu território e
mar territorial”.
61
Artigo 5o, § 1o: “Para os efeitos penais, consideram-se como extensão do território
nacional as embarcações e aeronaves brasileiras, de natureza pública ou a serviço do
governo brasileiro onde quer que se encontrem, bem como as aeronaves e as embarcações
brasileiras, mercantes ou de propriedade privada, que se achem, respectivamente, no espaço
aéreo correspondente ou em alto-mar”.
62
Artigo 5o, § 2o: “É também aplicável a lei brasileira aos crimes praticados a bordo de
aeronaves ou embarcações estrangeiras de propriedade privada, achando-se aquelas em
pouso no território nacional ou em voo no espaço aéreo correspondente, e estas em porto
ou mar territorial do Brasil”.
63
HUNGRIA, Nélson. Op. cit., p. 144.
64
Segundo Cláudio Brandão, quase todos os ordenamentos jurídicos ocidentais adotam
essa teoria para determinação do lugar do crime. In: BRANDÃO, Cláudio. Curso de
Direito Penal. Editora Forense. Rio de Janeiro. 2008. p. 83.
65
BRUNO, Anibal. Direito Penal. Tomo I. Editora Forense. Rio de Janeiro. 1967. p. 240.
66
HUNGRIA, Nelson. Comentários ao Código Penal. 2. ed. Tomo 1. Editora Forense. Rio
de Janeiro. 1953. v. 1. p. 148.
67
Artigo 14, II, do Código Penal: “Diz-se o crime: II – tentado, quando, iniciada a
execução, não se consuma por circunstâncias alheias à vontade do agente.” (g.n.)
68
HUNGRIA, Nelson. Comentários ao Código Penal. 2. ed. Tomo 1. Editora Forense. Rio
de Janeiro. 1953. v. 1. p. 148, e BRUNO, Anibal. Direito Penal. Tomo I. Editora Forense.
Rio de Janeiro. 1967. p. 240.
69
Idem.
70
Idem.
71
BRUNO, Anibal. Direito Penal. Tomo I. Editora Forense. Rio de Janeiro. 1967. p. 242.
72
BRANDÃO, Cláudio. Curso de Direito Penal. Editora Gen-Forense. Rio de Janeiro.
2008. p. 8.
73
BITENCOURT, Cezar R. Tratado de Direito Penal. 11. ed. Editora Revista dos
Tribunais. São Paulo. 2007. p. 180.
74
MARQUES DA SILVA, Germano. Direito Penal Português. Editorial Verbo. Lisboa.
1997. v. 1. p. 283.
75
JESCHECK, Hans H.; WEIGEND, Thomas. Tratado de Derecho Penal. Tradução de
Miguel Olmedo Cardenete. 5. ed. Comares Editorial. Granada. 2002. p. 180.
76
“Art. 63. Verifica-se a reincidência quando o agente comete novo crime, depois de
transitar em julgado a sentença que, no País ou no estrangeiro, o tenha condenado por
crime anterior.” (g.n.)
77
“Art. 42. Computam-se, na pena privativa de liberdade e na medida de segurança, o
tempo de prisão provisória, no Brasil ou no estrangeiro, o de prisão administrativa e o de
internação em qualquer dos estabelecimentos referidos no artigo anterior.” (g.n.)
78
MIRABETE, Julio F. Código Penal Interpretado. 6. ed. Editora Atlas. São Paulo. 2007.
p. 136.
79
JESUS, Damásio de. Direito Penal. 23. ed. Editora Saraiva. São Paulo. 1999. v. 1. p.
143.
80
JESUS, Damásio Evangelista de. Op. cit.
81
O ano e mês civis foram definidos pela Lei 810, de 1949:
“Art. 1o Considera-se ano o período de doze meses contado do dia do início ao dia e mês
correspondentes do ano seguinte.
Art. 2o Considera-se mês o período de tempo contado do dia do início ao dia
correspondente do mês seguinte.
Art. 3o Quando no ano ou mês do vencimento não houver o dia correspondente ao do início
do prazo, êste findará no primeiro dia subsequente.”
82
HUNGRIA, Nélson. Op. cit.
83
HUNGRIA, Nelson. Comentários ao Código Penal. 2. ed. Tomo 1. Editora Forense. Rio
de Janeiro. 1953. v. 1. p. 194.
84
Art. 1o: “Aplicam-se as contravenções às regras gerais do Código Penal, sempre que a
presente lei não disponha de modo diverso”.
85
Art. 4o: “Não é punível a tentativa de contravenção”.
86
Art. 327. “Considera-se funcionário público, para os efeitos penais, quem, embora
transitoriamente ou sem remuneração, exerce cargo, emprego ou função pública.
§ 1o Equipara-se a funcionário público quem exerce cargo, emprego ou função em entidade
paraestatal, e quem trabalha para empresa prestadora de serviço contratada ou conveniada
para a execução de atividade típica da Administração Pública.
§ 2o A pena será aumentada da terça parte quando os autores dos crimes previstos neste
Capítulo forem ocupantes de cargos em comissão ou de função de direção ou
assessoramento de órgão da administração direta, sociedade de economia mista, empresa
pública ou fundação instituída pelo poder público.”
87
URZÚA, Enrique Cury. Derecho Penal – Parte General. 8. ed. Santiago, Chile.
Ediciones Universidad Católica de Chile. 2005. p. 667.
88
Surge, desde já, um problema terminológico. Percebe-se que o referido autor não
utilizou-se da expressão conflito, mas sim concurso, e agiu com acerto, pois nesses casos
não há que se falar em conflito, sequer aparente, “uma vez que um sistema jurídico é um
todo unitariamente ordenado, onde um contraste entre duas disposições se presume
inadmissível”. BRUNO, Anibal. Direito Penal. Parte Geral. Tomo I. 3. ed. Rio de Janeiro.
Forense. 1967. p. 274.
89
O anteprojeto de Nelson Hungria de 1963 previa em seu artigo 5o forma de solução do
conflito.
90
A Doutrina está longe de chegar a um consenso sobre quantos e quais seriam os
princípios solucionadores do conflito aparente de normas, conforme se depreende do
seguinte trecho de Oscar Stevenson, que apesar de datar de 1968, continua refletindo o
panorama doutrinário atual: “São eles em número de quatro: da especialidade, da
subsidiariedade, da consunção e da alternatividade [...] FROSALI reduz as regras a duas: a
da especialidade e a da subsidiariedade. HAF-TER, às da especialidade e consumação.
SAUER tem por supérflua a da alternatividade. SOLER distingue três modos de
relacionarem as figuras penais em presença, isto é, por subsidiariedade, especialidade e
exclusividade, ocorrendo esta por via alternativa ou consultiva. Essas opiniões permitem
aquilatar as divergências que ao propósito reina entre os penalistas. É que no tema, sem
embargo dos estudos e debates, ainda não se chegou a postulados pacíficos e indubitáveis.”
In: STEVENSON, Oscar. Estudos de Direito e Processo Penal em Homenagem a Nelson
Hungria. Rio de Janeiro. Forense. 1962. p. 37.
91
QUEIROZ, Paulo. Direito Penal – Parte Geral. 3. ed. São Paulo. Ed. Saraiva. 2006. p.
79.
92
Nesse sentido, Bacigalupo: “Tal situación (subsidiariedade) es de apreciar cuando uno de
los tipos penales no implique sino una ampliación de la protección penal de un bien
jurídico a estadios previos respecto de la lesión del mismo bien jurídico”. In:
BACIGALUPO, Enrique. Manual de Derecho Penal – Parte General. Bogotá. Editorial
Temis. 1984. p. 241.
93
QUEIROZ, Paulo. Direito Penal – Parte Geral. – 3. ed. Saraiva. São Paulo. 2006. p. 80.
94
NORONHA, Edgard Magalhães. Direito Penal. 10. ed. Saraiva. São Paulo. 1973. v. 1. p.
273.
95
HUNGRIA, Nelson. Comentários ao Código Penal. Tomo I. 2. ed. Revista Forense. Rio
de Janeiro. 1953. v. 1. p. 132.
96
FRAGOSO, Heleno Claudio. Lições de Direito Penal. Forense. Rio de Janeiro. 1993. p.
359.
97
STEVENSON, Oscar. Estudos de direito e processo penal em homenagem a Nelson
Hungria. Rio de Janeiro: Forense, 1962. p. 40.
98
Informativo 452 do STJ, HC 107.103/GO, Rel. Min. Og Fernandes, 6ª T., j. 19.10.2010.
INTRODUÇÃO À TEORIA GERAL DO CRIME
Entretanto, não se pode pretender que a teoria do crime seja uma mera
junção de elementos teóricos sem qualquer sentido político. Isso porque é a
teoria geral do crime que vai estabelecer critérios delimitadores do poder
punitivo estatal, tendo por finalidade a proteção das pessoas e a manutenção
do Estado Democrático do Direito.2
Nas exatas palavras de Juarez Tavares:
A separação analítica dos elementos do delito tem por objetivo facilitar seu
exame, sob o panorama de uma sequência lógica, mas linear, a partir de uma
dicotomia inicial do objetivo e do subjetivo. A doutrina penal positivista
sempre se pautou por essa concepção analítica, que não é despropositada,
mas é, muitas vezes, inflexível para compreender as necessidades práticas da
ordem jurídica e da realidade empírica. Isso quer dizer que a antecipação de
alguns de seus elementos, ainda que antagônicos, como ocorre com a
oposição entre ação típica e ação justificada (por exemplo, alguém mata
outrem, mas em legítima defesa), não desnatura essa unidade. Justamente a
unidade dos contrários é que sedimenta o sistema do delito, porque está de
conformidade com a estrutura da ordem jurídica e da realidade empírica.
1
PUIG, Santiago M. Derecho penal. Parte General. 8. ed. Montevideo-Buenos Aires:
BdeF, 2009. p. 136.
2
TAVARES, Juarez. Fundamentos de teoria do delito. Florianópolis: Tirant lo Blanch,
2018. p. 27 e ss.
3
TAVARES, Juarez. Fundamentos de teoria do delito. Florianópolis: Tirant lo Blanch,
2018. p. 30.
4
SANTOS, Juarez C. dos. Direito penal. Parte Geral. 3. ed. Curitiba: ICPC, Rio de
Janeiro: Lumen Juris, 2008. p. 74.
5
ROXIN, Claus. Derecho penal. Parte General. Fundamentos. La estructura del delito. 2.
ed. Trad. Diego-Manuel Luzón Peña, Miguel Díaz y García Conlledo e Javier de Vicente
Remesal. Madrid: Civitas, 2008. t. I. p. 193.
6
Para uma lista generosa dos autores brasileiros que se filiam a uma ou outra concepção,
verificar: BRANDÃO, Cláudio. Teoria jurídica do crime. Rio de Janeiro: Forense, 2008. p.
13 e ss.
7
MARTÍNEZ-BUJÁN, Carlos P. A concepção significativa da ação de T.S. Vives e sua
correspondência sistemática com as concepções teleológico-funcionais do delito. Tradução
de Paulo César Busato. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2007. p. 1.
8
BITENCOURT, Cezar Roberto. Teoria geral do delito: uma visão panorâmica da
dogmática penal brasileira. Coimbra: Almedina, 2007. p. 47.
9
TAVARES, Juarez. Fundamentos de teoria do delito. Florianópolis: Tirant lo Blanch,
2018. p. 104 e ss.
10
TAVARES, Juarez. Fundamentos de teoria do delito. Florianópolis: Tirant lo Blanch,
2018. p. 111.
11
TAVARES, Juarez. Fundamentos de teoria do delito. Florianópolis: Tirant lo Blanch,
2018, p. 110.
Conforme já destacado, a conduta é a pedra fundamental para o conceito
analítico de crime, pois é sobre ela que serão erigidos os demais elementos
necessários para a conformação de um crime. Tanto é assim, que no direito
penal existe uma garantia jurídica da necessidade da conduta representada
pelo princípio nullum crimen sine conducta. Essa garantia não tem caráter
apenas jurídico, mas também político, pois caso a conduta fosse
desnecessária para existência do crime, seria possível considerar como crime
qualquer coisa, como, por exemplo: o pensamento, a forma de ser, as
características pessoais etc. A exigência de uma conduta, portanto, é
necessária para se estruturar um direito penal do fato e repelir o odioso direito
penal do autor.
Nesse sentido, Zaffaroni e Pierangeli destacam que
Para explicitar a diferença entre uma ação causal e uma ação final,
Welzel utiliza-se do exemplo de um raio mortal e de um homicídio. Enquanto
a morte causada pelo raio é o resultado de uma série de relações meramente
causais, a morte causada pelo homicídio é resultado de uma série de atos
dirigidos a um fim predeterminado: a compra da arma, a observação da
vítima, o apontar da arma, o apertar o gatilho etc.6
A ação finalista desenvolve-se em duas fases que se entrecruzam: 1. a
primeira transcorre integralmente na esfera do pensamento e começa com: (a)
antecipação do fim que o autor quer realizar; (b) a seleção dos meios
necessários para a realização do fim; c) os efeitos concomitantes
(secundários) necessários para a execução; 2. a segunda ocorre no mundo real
quando o autor leva a cabo sua ação, ou seja, põe em movimento, conforme
seu plano, os meios da ação anteriormente escolhidos, cujo resultado é o fim
proposto, juntamente com os efeitos concomitantes (secundários) que foram
incluídos no plano global.7
Welzel utiliza-se de dois exemplos para explicar a importante diferença
entre a voluntariedade e a intencionalidade, conceitos importantes para
entender sua teoria: a enfermeira que aplica uma injeção, sem suspeitar que a
dose de morfina contida na seringa é mortal, realiza uma ação final de injetar,
mas não uma ação final de matar; o atirador que para treinar sua mira dispara
contra uma árvore sem saber que atrás dela se esconde um homem que é
atingido fatalmente, pratica, sem dúvida, um disparo final de treinamento,
mas não realiza uma ação final de matar. Nas duas hipóteses, a consequência
posterior, não querida (a morte), foi produzida de um modo causal, cego, pela
ação final.
A finalidade, explica, não deve ser confundida com a mera
voluntariedade. A voluntariedade significa que um movimento corporal e
suas consequências podem ser reconduzidos a algum ato voluntário, sendo
indiferente que consequências pretendia produzir o autor dos atos. Assim,
tanto a enfermeira quanto o atirador, se desconsiderarmos suas vontades,
realizam “atos voluntários”. Porém, se se quer compreender a ação para além
de suas características de mera voluntariedade, isto é, em sua forma essencial,
concreta, determinada em seu conteúdo, somente será possível mediante a
referência a um determinado resultado querido/desejado pelo autor. Assim,
voltando aos exemplos, o ato voluntário da enfermeira só será final em
relação à injeção e o do atirador em relação a acertar a árvore, mas em
nenhuma das hipóteses em relação à morte provocada. Para a finalidade, é
essencial a referência a determinadas consequências queridas/desejadas, pois
sem elas fica impossível caracterizar uma ação com conteúdo determinado.8
Percebe-se que, diferentemente da ação causalista, a ação finalista
preocupa-se com a intencionalidade do autor, ou seja, preocupa-se com fim
pretendido. Essa situação vai resultar num rearranjo do conteúdo dos
elementos constitutivos do conceito analítico de crime. A ordem dos
elementos do conceito analítico de crime continua a mesma – ação,
tipicidade, ilicitude e culpabilidade –, porém, o dolo e a culpa que no
causalismo integravam a culpabilidade, no finalismo são deslocados para a
conduta. Para o finalismo, somente interessam ao direito penal as ações
humanas com um conteúdo subjetivo, isto é, as ações humanas dolosas ou
culposas.
A partir desses pressupostos, Vives Antón conclui que não se pode mais
conceber a tradicional doutrina da ação de fundamentação cartesiana segundo
a qual “a ação vinha sendo concebida como um fato composto, como a
reunião de um fato físico (o movimento corporal) e outro mental (a volição)”.
Neste esquema tradicional, a diferença entre as ações e os demais fatos
traçava-se ontologicamente, a partir da contribuição da mente.16
Sendo assim, partindo de contexto comunicacional, Vives Antón
diferencia as ações dos demais fatos a partir das normas, que emprestam
sentido às primeiras. Sustenta Vives que:
A ação não é, pois, um fato específico, nem pode definir-se como substrato
da imputação jurídico-penal, pois definir não é, ainda, julgar. (...) a ação é
um processo simbólico regido por normas, como o significado social da
conduta. Proponho-me, em consequência, conceber as ações como
interpretações que, segundo os distintos tipos de regras sociais, se podem dar
ao comportamento humano. Definirei, pois, a ação, não como substrato
comportamental suscetível de receber um sentido, mas sim como sentido que,
conforme um sistema de normas, se pode atribuir a determinados
comportamentos humanos. Opera-se, assim, um giro copernicano na teoria
da ação: já não é o substrato de um sentido; mas o inverso, o sentido de um
substrato.17
b) Movimentos reflexos;
Os movimentos reflexos são aqueles que não decorrem da vontade, mas
sim de estímulos externos respondidos diretamente pelo sistema nervoso
central, como ocorre no caso de um choque elétrico, de um ataque epilético,
de convulsões, de sustos, de espirros etc.
Por não haver, nestas hipóteses, a intervenção da vontade, não se podem
caracterizar esses movimentos como condutas. Assim, se em virtude de uma
convulsão, o agente acaba por lesionar uma pessoa que o tenta socorrer, não
poderá ser responsabilizado por este resultado, pois não praticou nenhuma
conduta, já que o movimento corporal foi involuntário
c) Estados de inconsciência
Por fim, atuam como hipóteses de ausência de conduta os estados de
inconsciência, que são situações nas quais o agente não está consciente de
suas ações, pois suas funções mentais não funcionam adequadamente. A
doutrina aponta como hipóteses de estado de inconsciência o sonambulismo e
a hipnose.
A embriaguez letárgica involuntária, apesar de ser considerada pela
maioria da doutrina como hipóteses de inimputabilidade, é apontada por
alguns como hipótese de estado de inconsciência, posição com a qual
concordamos.
1
ZAFFARONI, Eugenio Raúl; PIERANGELI, José H. Manual de direito penal brasileiro.
Parte geral. 10. ed. São Paulo: RT, 2013. vol. 1, p. 371.
2
BRANDÃO, Cláudio. Teoria jurídica do crime, cit., p. 20.
3
ZAFFARONI, Eugenio Raúl; PIERANGELI, José H. Op. cit., p. 382.
4
SANTOS, Juarez C. dos. Op. cit., p. 84.
5
FERRÉ OLIVÉ, Juan Carlos; et al. Direito penal brasileiro. Parte Geral. Princípios
fundamentais e sistema. São Paulo: RT, 2001. p. 224 e ss.
6
WELZEL, Hans. El nuevo sistema del derecho penal: una introducción a la doctrina de la
acción finalista. Trad. José Cerezo Mir. Montevideo-Buenos Aires: BdeF, 2006. p. 41 e ss.
7
Idem, p. 42 e ss.
8
Idem, p. 45 e ss.
9
JESCHECK, Hans-H; WEIGEND, Thomas. Tratado de derecho penal. Parte General. 5.
ed. Trad. Miguel Olmedo Cardenete. Granada: Comares, 2002. p. 239 e ss.
10
JESCHECK, Hans-H; WEIGEND, Thomas. Tratado de derecho penal. Parte General. 5.
ed. Trad. Miguel Olmedo Cardenete. Granada: Comares, 2002. p. 238 e ss.
11
Idem, p. 240.
12
ROXIN, Claus. Derecho penal. Parte General. Fundamentos cit., p. 252.
13
VIVES ANTÓN, Tomás S. Fundamentos del sistema penal. Valencia. Tirant lo Blanch.
1996. p. 145 e ss.
14
VIVES ANTÓN, Tomás S. Fundamentos del sistema penal. Valencia. Tirant lo Blanch.
1996. p. 197.
15
SEARLE, John R. Liberdade e neurobiologia: reflexões sobre o livre-arbítrio, a
linguagem e o poder político. Tradução de Constancia Maria Egrejas Morel. São Paulo. Ed.
Unesp, 2007. p. 27.
16
VIVES ANTÓN, Tomás S. Fundamentos del sistema penal. Valencia. Tirant lo Blanch,
1996. p. 145 e ss.
17
VIVES ANTÓN, Tomás S. Fundamentos del sistema penal. Valencia. Tirant lo Blanch,
1996. p. 205 e ss.
18
VIVES ANTÓN, Tomás S. Fundamentos del sistema penal. Valencia. Tirant lo Blanch,
1996. p. 205 e ss.
19
VIVES ANTÓN, Tomás S. Fundamentos del sistema penal. Valencia. Tirant lo Blanch,
1996. p. 320.
20
BRANDÃO, Cláudio. Curso de direito penal... cit., p. 132 e ss.
21
A coação moral irresistível não exclui a conduta/ação, mas sim a culpabilidade, tal como
a demência, pois não se podia exigir do agente conduta diversa.
TIPICIDADE OBJETIVA:
9.1 DO RESULTADO
É preciso atentar para o fato de que existem duas principais teorias sobre
o resultado que o compreendem e explicam a partir de perspectivas
diferentes:
• a normativa;
• a naturalística.
• materiais;
• formais;
• mera conduta.
Corrupção ativa
Art. 333. Oferecer ou prometer vantagem indevida a funcionário público,
para determiná-lo a praticar, omitir ou retardar ato de ofício:
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa.
(...)
praticou uma ação de matar não só aquele que disparou o tiro mortífero, mas
todos os que contribuíram para o resultado com uma conditio sin qua non: o
fabricante e o vendedor do revólver e da munição, aqueles que ocasionaram a
desavença da qual resultou o tiro, até mesmo os pais e outros ascendentes do
criminoso.
E, ainda assim, a causação de uma morte com dolo eventual – que é o que
podemos constatar no traficante – não é uma ação de homicídio. Afinal, de
acordo com o direito alemão, sequer a participação dolosa em um suicídio, ou
seja, no ato doloso de matar-se a si próprio, é punível. Um simples
argumentum a maiore ad minus chega ao resultado de que também não
poderá ser punível a participação em uma autocolocação em perigo, quando
houver por parte da vítima uma completa visão do risco, como no nosso caso,
em que existe um suicídio praticado com dolo eventual. O alcance do tipo
(Reichweite des Tatbestands) não abrange esta hipótese; pois, como
demonstra a impunidade da participação em suicídio, o efeito protetivo da
norma encontra seu limite na autorresponsabilidade da vítima.13
O exemplo utilizado por Claus Roxin, neste caso, não seria aplicável ao
direito brasileiro, posto que em nosso ordenamento jurídico, diferentemente
do alemão, há o tipo penal de induzimento, instigação e auxílio ao suicídio
(art. 122 do CP), de modo que aquele que entregasse a heroína com dolo
eventual de que a vítima a utilizasse e morresse, incidiria neste tipo penal.
Conforme destacam Ferré Olivé et al.:14
Os principais âmbitos nos quais o tipo penal não pode alcançar o resultado e,
portanto, não haverá imputação são, para Roxin: a autocolocação da vítima
em risco, a heterocolocação consentida e a imputação ao âmbito de
responsabilidade de terceiros.
1
ROXIN, Claus. Estudos de direito penal. 2. ed. Trad. Luís Greco. Rio de Janeiro:
Renovar, 2008. p. 101.
2
Idem, p. 102.
3
Idem, ibidem.
4
FERRÉ OLIVÉ, Juan Carlos; et al. Op. cit., p. 224 e ss.
5
ROXIN, Claus. Estudos de direito penal, cit., p. 102 e ss.
6
Idem, p. 102 e ss.
7
Idem, p. 102.
8
Idem, p. 104.
9
Idem, p. 105.
10
Idem, p. 106.
11
Idem, ibidem.
12
ROXIN, Claus. Derecho penal. Parte General. Fundamentos... cit., p. 374.
13
ROXIN, Claus. Estudos de direito penal, cit., p. 108.
14
FERRÉ OLIVÉ. Juan Carlos et al. Op. cit., p. 288.
15
Idem, p. 289.