Este documento discute a formação de professores de enfermagem no ensino superior brasileiro. Resume a trajetória de docentes do curso de enfermagem da UNIVALE, identificando desafios, estratégias e influências da prática profissional. Entrevistou todas as professoras do curso para compreender como construíram sua identidade docente sem formação específica, apoiando-se no conhecimento técnico-científico mas sentindo falta de formação pedagógica.
Este documento discute a formação de professores de enfermagem no ensino superior brasileiro. Resume a trajetória de docentes do curso de enfermagem da UNIVALE, identificando desafios, estratégias e influências da prática profissional. Entrevistou todas as professoras do curso para compreender como construíram sua identidade docente sem formação específica, apoiando-se no conhecimento técnico-científico mas sentindo falta de formação pedagógica.
Este documento discute a formação de professores de enfermagem no ensino superior brasileiro. Resume a trajetória de docentes do curso de enfermagem da UNIVALE, identificando desafios, estratégias e influências da prática profissional. Entrevistou todas as professoras do curso para compreender como construíram sua identidade docente sem formação específica, apoiando-se no conhecimento técnico-científico mas sentindo falta de formação pedagógica.
FORMAÇÃO DO PROFESSOR DE E NO ENSINO SUPERIOR: TRAJETÓRIAS NO
CURSO DE ENFERMAGEM DA UNIVALE
Valeria de Oliveira Ambrósio
Renata Greco de Oliveira (orientadora)
RESUMO
A formação docente para o ensino superior no Brasil não é um requisito presente na
legislação ou mesmo nos editais para a contratação dos docentes. A seleção se resume muitas vezes na comprovação da competência técnico-científica, em detrimento da comprovação formal da competência didático-pedagógica. A importância da formação pedagógica para o docente dos cursos de graduação é indiscutível, mas fica em segundo plano, o que gera dificuldades em torno do processo ensino-aprendizagem. Este trabalho tem o objetivo de conhecer a trajetória de docentes do curso de enfermagem da UNIVALE, identificar os desafios, estratégias de superação e as influências da prática profissional das mesmas. A metodologia utilizada foi a história oral de vida, sendo entrevistadas todas as enfermeiras docentes do curso de enfermagem. Os dados foram trabalhados segundo a análise de conteúdo de Bardin. Como resultados, identificamos que muitas foram as dificuldades encontradas e estas eram bem específicas de cada ciclo profissional, mas em todos foi percebida a necessidade da formação pedagógica e didática. Concluímos que os docentes do ensino superior adentram a academia sem nenhuma formação específica para a docência, e se apoiam no conhecimento técnico científico da área de conhecimento, porém sentem falta e buscam a formação pedagógica. Acreditam que esta formação se dá principalmente na prática diária da docência, no aprender fazendo e em capacitações realizadas na própria instituição de ensino ou em cursos de pós-graduação na área de educação.
Palavras-chave: Formação docente. Ensino Superior. Docência universitária. Curso de
Enfermagem.
1 INTRODUÇÃO Conhecer a trajetória desses
Os processos construtivos da professores, principalmente o processo trajetória dos docentes que atuam no de construção de sua identidade docente, curso de enfermagem da UNIVALE se faz necessário para compreender, ocorrem, assim como em diversas outras propor alternativas de reflexão sobre a Instituições de Ensino Superior (IES) no sua formação para o desenvolvimento e Brasil, muitas vezes com sua inserção aprimoramento do seu agir pedagógico. abrupta na docência, sem formação Sobretudo, na perspectiva dos pilares da específica. educação para o século XXI descrito em relatório da UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, a superação e as influências da prática Ciência e a Cultura) que envolve profissional dos mesmos, constituiu os aprender a conhecer, aprender fazer, objetivos deste trabalho. aprender ser e aprender a aprender Para alcançar os objetivos da (ROSEMBERG, 2002). pesquisa utilizamos a metodologia Com base nestas colocações qualitativa, que segundo Brètas (2000), realizamos a pesquisa sobre como se dá representa estudos que buscam a construção da trajetória dos docentes compreender questões da realidade que do curso de graduação em enfermagem não podem ser quantificadas, pois são da UNIVALE. Para tal buscamos aquelas que trabalham com o universo respostas para as seguintes questões: de significados, motivos, aspirações, Quais os desafios encontrados na crenças, valores, atitudes, que construção da trajetória docente do correspondem a um espaço profundo das enfermeiro? Como ocorre o processo relações, dos processos. O recurso formativo de sua docência? Quais as metodológico utilizado foi a história oral e facilidades encontradas nesta trajetória? os dados foram trabalhados através da Quais as estratégias utilizadas para análise de conteúdo proposta por Bardin vencer os desafios encontrados? Como o (2009). enfermeiro-docente consolida sua O método utilizado foi a história aprendizagem profissional na vivência da oral de vida temática. A principal prática pedagógica? importância do uso deste método é “dar A relevância desta temática é voz ao docente” (Nóvoa, 1995), apresentada pela constatação utilizando-se da História Oral que evidenciada a partir de estudos dos segundo Meihy, (1991) e Caldas, (1999), autores que compõem o referencial tem como mérito principal a valorização teórico deste trabalho. Os docentes do dizer das pessoas envolvidas com a iniciam suas carreiras pautadas em seus área pesquisada, respeitando os modos conhecimentos profissionais específicos, como cada um/a vê e pensa o mundo e a tendo a consciência da necessidade de profissão por eles/as exercida. Com isto integrá-los ao conhecimento pedagógico procuramos uma maior aproximação da e aprendem a ser professor no dia a dia perspectiva das enfermeiras docentes, da sala de aula. além de permitir a reflexão sobre as Conhecer a trajetória dos docentes questões que as levaram a optar pela do curso de enfermagem da UNIVALE, docência e de como construíram seu ser identificar os desafios, estratégias de docente. O estudo seguiu as normas éticas fronteiras estanques entre categorias preconizadas pelo Conselho Nacional de para um mesmo sujeito. No entanto para Saúde. Foi submetido ao comitê de ética fins de análise é necessária a atribuição em pesquisa, e seguiu todos os trâmites de sentido aos ditos dos sujeitos. O que padronizados. Para a coleta de dados foi requer uma demarcação de utilizada uma entrevista semiestruturada características principais de cada uma composta de 2 partes: Dados das categorias. relacionados à identificação e formação Apresentamos as enfermeiras do corpo docente do curso de docentes participantes deste estudo enfermagem e dados referentes à através de uma breve história contada na condição de docente e sua trajetória visão delas, como aconteceu a nesta profissão desde sua inserção na metamorfose do ser enfermeiro ao ser mesma. docente. Foram identificadas com A análise dos dados seguiu as codinome homenageando as maiores etapas recomentadas por Bardin, sendo autoras brasileiras. Estas autoras foram uma delas a construção das categorias escolhidas aleatoriamente. que apresentamos: Inserção na Docência; Aprendendo a docência na Clarice Lispector: docência; Potencialidades e desafios na É difícil, [...] Não fazia a menor ideia trajetória docente; Empenho diário: do que era aquele espaço, das coisas que ia surgir, tinha melhorias e superação. conhecimento teórico no campo de atuação e um investimento grande O processo de análise inicia com a na sua área de conhecimento, mas apresentação e explicação a partir dos ainda não tinha as habilidades pra transmitir [...] elementos categoriais que emergem das falas docentes e da teoria que embasa a Cecilia Meireles: análise, bem como das reflexões Não sei o que contar da minha história como enfermeira que se produzidas a partir do estudo e à luz do tornou docente..., mas quanto a um momento marcante na minha referencial teórico. carreira quero falar que desde o início com toda pouca habilidade de As falas das docentes não articulação com o público [...] o enceram em si, são um conjunto de posicionamento que a gente tem enquanto profissional na cidade é um características que configuram as facilitador [...].
categorias, permeadas pelo Lygia Fagundes Telles:
entrelaçamento de muitas delas, havendo Era uma vez uma enfermeira que trabalhava, tecnicamente há alguns um constante movimento de ir e vir de anos e surgiu a oportunidade de trabalhar como docente [...] que sentido, de significado, não existindo começou apenas com a sua condição de técnica nada mais sem nenhuma experiência anterior de docência nesta área e também sem Zélia Gattai: nenhuma capacitação [...]. Era uma vez uma enfermeira que se tornou docente, cresceu muito e Raquel de Queiroz: aprendeu a valorizar mais ainda o ensino, o estudo, o crescimento, a Era uma vez a enfermeira que se ligação com as pessoas, com os tornou docente por acaso, mas foi colegas, com as pessoas que está uma construção, não foi de um dia lidando, com o cliente que a gente para o outro, ela foi vencendo etapa vai lidar, eu amadureci muito neste por etapa, desde a graduação lado, [...]. começou como monitora, foi professora de curso técnico, curso Ângela Lago: auxiliar, então percorreu etapas pra chegar até a graduação [...]. Era uma vez [...], eu diria que a gente repete historias, historias vivida e muitas vezes nem pensadas, Cora coralina: a minha mãe foi uma docente que marcou muitas vidas e eu acho que Era uma vez a enfermeira que tornou ela deixou pra gente este legado, a docente e hoje se encontra em uma gente não tem a capacidade de posição de respeito, eu apanhei transformar ninguém, mas muito, não sou uma pessoa de ficar sensibilizar as pessoas para buscar conversando com todo mundo das a transformação, [...]. coisas que eu faço, de dividir, eu costumo carregar as coisas na minha mão, [...]. Hilda Hilst: Era uma vez uma enfermeira que se Adélia Prado: tornou docente e através da docência eu venho fechar com chave Era uma vez uma enfermeira que se de ouro a minha profissão, é passar tornou docente. Ela “ralou” muito no para o aluno toda a minha início, hoje está mais tranquila experiência, é o que eu tenho para porque sabe que ninguém é perfeito, deixar tudo que eu aprendi, é dividir que ninguém pode abraçar o mundo com o outro, para o outro continuar. com o braço, que todos nós temos [...] as nossas limitações, nossos desafios e desafio é bom. [...]. Ana Miranda: Carolina de Jesus: Era uma vez [...], amo o que faço, me entrego de corpo e alma quando Era uma vez uma administradora estou frente ao aluno, [...] eu acredito que fez o curso de enfermagem, se que o movimento que eu fiz para ser descobriu apaixonada por uma docente começou lá, é um grande profissão e depois ficou aficionada momento saber que eu comecei pela docência dentro do curso de simples, frágil e que pessoas hoje enfermagem. Um momento que me são boas pessoas profissionais, [...] marcou muito foi no primeiro ano que eu trabalhei. Ruth Rocha: Ana Cristina Cesar: Era uma vez a enfermeira que Era uma vez uma enfermeira que sempre sonhou em ser enfermeira, quando se formou já tinha o desejo vim para a profissão porque sempre de se tornar docente, não sabia das sonhei mesmo, não me vejo em dificuldades e nem como seria esta outra profissão, não sei fazer outra trajetória, mas uma vez inserida nela, coisa, vim para dar aula me ela só certificou que é realmente isto identifiquei com isto e não quero sair, que eu gostaria para minha vida. não quero mudar e quero que tenha um final bem feliz Ana Maria Machado: cada área do saber, necessário para Era uma vez uma enfermeira que se aquele momento, ficando evidente a tornou docente que agora está querendo crescer mais, que grande valorização dos saberes começou engatinhando que agora já está andando bem melhor do que profissionais. antes e sabendo valorizar cada espaço, cada oportunidade. Esta situação foi evidenciada por Anastasiou (2002) e Pimenta e Ouvindo, lendo, vivendo e sentindo Anastasiou (2010) em relação ao estes relatos de vida e os entrelaçando ingresso do profissional à docência, este com a minha própria vida de docente difere entre instituições pública e privada, percebi que os sujeitos narradores sendo na pública em forma de concurso debruçam sobre suas próprias sombras com valorização de sua titulação e na ao recordar elementos que são do ponto privada em sua maioria na forma de de vista pessoal, intangíveis e de forma convite, onde tradicionalmente é exercida muito beneficente as divide conosco no por profissionais de reconhecida momento de profunda emoção. competência na área que atuam, 2 INSERÇÃO NA DOCÊNCIA geralmente são recrutados e tornam docentes de um dia para o outro. Observando a inserção dos Nesse caso o pressuposto docentes no curso de enfermagem desta institucional é de que, por dominar a área instituição, a literatura e analisando os relacionada à disciplina o profissional já ditos dos sujeitos da pesquisa, possui em si a competência para se identificamos que não houve em qualquer tornar docente. Ao analisarmos os ditos momento uma solicitação protocolar da dos sujeitos é fato a importância que o formação docente, mas sim da próprio docente atribui a sua experiência capacidade técnica destes futuros profissional e a utilização desta como docentes. Alguns foram convidados, ferramenta fundamental no exercício da outros indicados por terceiros e poucos docência, elas afirmam ainda a participaram de bancas de seleção, onde dificuldade que seria o docente ensinar o maior peso era o seu conhecimento em aquilo que não vivenciou. Assim, a ideia relação a área específica de atuação de que "quem sabe fazer sabe ensinar" como enfermeiro. Nota-se que a maioria predomina na contratação dos docentes dos enfermeiros não busca a de nível superior (RODRIGUES E oportunidade de ser docente, mas a SOBRINHO, 2007) universidade que se coloca na busca No que se refere à formação e daqueles que considera importante em preparação do docente universitário para o exercício de ensinar, estudos (Austria carreira, este “fica entregue à própria 2009; Pimenta e Anastasiou, 2002; sorte”. Como Pimenta e Anastasiou Masetto, 2000; Cunha, 2004; Anastasiou, (2005) enfatizam, as associações dos 2002; Bolzan, 2002; Morosini, 2001, elementos citados levam a manutenção dentre outros) sustentam a afirmativa da de uma relação entre alunos, professores pouca atenção dada a este segmento de e conhecimento semelhante ao modelo ensino. Os enfermeiros docentes em sua tradicional de ensino cientificamente maioria chegam para a docência sem ultrapassado. nenhuma formação na área do ensino, A opção pela docência de uma sem cursos prévios para a docência, forma não convencional pode interferir na valorizando sobre maneira a experiência trajetória deste docente. Conforme profissional e a especialização em uma descreve Isáia (2006), pode-se área da sua profissão, conforme compreender que a identidade observamos nas falas dos professores, profissional dos docentes é formada por quando contam sobre sua transformação um contínuo que vai desde a fase de de enfermeiros a docentes. opção pela profissão, passando pela As docentes afirmam que não formação inicial, até os diferentes tinham a pretensão de ser docente, espaços institucionais em que a profissão durante sua graduação, mas serem se desenrola, compreendendo o enfermeiras nas diversas áreas de espaço/tempo em que cada uma atuação, que sua entrada para a continua produzindo sua maneira de ser docência foi circunstancial e por vezes de docente. forma até abrupta. Esta situação também Em geral, dos docentes foi evidenciada em trabalhos anteriores universitários costuma-se esperar certo sobre a docência no ensino superior. conhecimento do campo científico de sua Austria (2009) afirma que não há uma área, alicerçado nos rigores da ciência e escolha consciente destes profissionais em um exercício profissional que legitime para a docência superior, portanto não é seu saber no espaço da prática. Como uma profissão para a qual estão explica Cunha (2006) preparados; embrenham-se na docência em um processo obscuro, levando a A ideia de que quem sabe fazer, sabe ensinar deu sustentação à inúmeros desafios na prática diária. lógica do recrutamento dos docentes. Além disso, a Associados a isto tem o fator da Universidade, pela sua condição de legitimadora do conhecimento universidade não se responsabilizar pela profissional, tornou-se tributária de profissão do docente que ingressa na um poder que tinha raízes nas macroestruturas sociais do campo do trabalho, dominadas, profissional como docente universitário. fundamentalmente, pelas corporações. P. 84 Selbach (2009) reforça esta situação quando afirma que se os docentes Selbach (2009) assegura que trazem consigo uma grande bagagem de ainda que nos deparemos, conhecimentos nas suas respectivas frequentemente com visões distintas áreas de atuação profissional, não será sobre o papel do docente universitário, inquirido, na maior parte do tempo, sobre há razoável consenso em torno da ideia o que é necessário saber para ensinar. de que é do docente a responsabilidade Por outro lado, apresentamos as pela formação do aluno para o exercício qualificações para exercer a docência e de uma profissão. Igualmente é consenso como esta é vista pelas docentes que que a identidade do docente universitário compõem os sujeitos da pesquisa e pelos irá ser dada pelo conhecimento autores e autoras trabalhadas. A específico, isto é, aquele que é típico de requisição de curso específico para sua especialidade. docência no ensino superior não é uma A mesma autora ainda afirma que exigência legal, as IES também não muitos docentes universitários são cobram do futuro docente esta identificados mais no âmbito científico capacitação. A consciência da com o qual trabalham do que como complexidade dessas questões tem docentes universitários. Nessa lógica, ampliado a discussão sobre a formação sua identidade costuma estar centrada do docente universitário no espaço das em suas especialidades científicas e não pesquisas e reflexões educacionais. em suas atividades docentes. Para o Segundo Borba, Ferri e Hostins, docente universitário que atua em áreas (2006), é fato, também, que essas especificas e tem sua carreira discussões têm se centrado na profissional definida, parece ser de difícil constatação de que a maioria dos compreensão a ideia de que a profissão docentes do ensino superior não teve a docente passa a ser também sua possibilidade de se apropriar de saberes carreira, embora, em alguns casos, as e habilidades referentes à docência. instituições de ensino superior e o próprio Dentre as docentes, todas eram profissional não atentem para isso. provenientes de cursos de bacharelado, Nesse cenário a ideia que algumas delas apresentavam na época transparece é que quanto mais da admissão uma especialização em conhecimento específico e experiência pedagogia específica para educação acumular, melhor será seu desempenho profissional. Foi comum nos relatos a Bolzan (2008) é comum que profissionais importância dada aos cursos realizados das diversas áreas, formados em cursos para aprimorar os conhecimentos de bacharelados, tendam a valorizar em científicos, como essenciais para a primeiro lugar os saberes científicos da carreira docente, pois estes ampliavam sua profissão de origem, pois não tiveram os conteúdos para transmitirem aos uma formação voltada para a docência alunos. Conforme descrito: superior que os apresente saberes pedagógicos essenciais para a docência Eu entendo que todos os cursos de universitária. capacitação, mesmo que diretamente não estava envolvido É possível que, como a maioria com a docência mais ajuda, todo o tempo eu estava em sala de aula, não possui curso na área da docência o então em sala de aula você precisa de um domínio, um conhecimento próprio desconhecimento desta área faça que abrange as áreas da com que os docentes se apõem no seu enfermagem, então ao longo dessa trajetória os cursos de capacitação conhecimento especifico. Foi frequente sempre estiveram presentes. (Raquel de Queiroz) encontrar entre as falas a experiência Ao longo destes anos que eu estou profissional como fator preponderante na docência tenho feito sempre com relação aos estágios, quando vou para a docência. fazer algum estágio em uma área que eu não tenho uma assistência Destaco como ponto facilitador o muito grande eu sempre faço, eu conhecimento técnico cientifico. acho interessante fazer sempre na (Lygia Fagundes) questão de aprimorar aquilo o que está executando, então de vez em O grande conhecimento que eu quando eu faço alguns. (Zélia Gattai) tenho na minha área eu realmente sabia principalmente na área de Zabalza (2004) relata em seu Infecção hospitalar. (Adélia Prado) estudo que os docentes universitários Eu penso que o docente tem que ter frequentam congressos, leem livros conhecimento de toda área teórica, administrativa, da assistência ... eu técnicos e conversam com colegas, tive mais facilidade de lidar com aquele assunto, eu tinha vivenciado enfatizando aspectos profissionais aquilo ali. (Ruth Rocha)
relativos à área do seu conhecimento Eu acho muito interessante
aprimorar aquilo que você vai específico. São raras as vezes que executar no momento. (Zélia Gattai) discutem sobre a “didática da sua O conteúdo científico é importante especialidade” ou sobre como ensinar o para lecionar qualquer matéria, seria o conteúdo cientifico que você tem conteúdo do programa de ensino. O que que ter e o processo interativo da prática deste conhecimento. (Ângela foi evidenciado também nesta pesquisa Lago) De acordo com as autoras Pra ser docente de enfermagem eu Anastasiou (2002), Cunha (2004), acho que primeiro muita leitura e conhecimento muito grande daquilo Zabalza (2004), Isaia (2007), Isaia e que faz. (Ana Cristina Cesar) importantes para a docência. Mas Esta característica evidenciada precisamos destacar aqui a perspectiva sobre as experiências e conhecimentos de Zabalza (2004), que diz que não é específicos enquanto enfermeiro como suficiente dominar os conteúdos, nem ser fator essencial para o exercício da um reconhecido pesquisador da área. A docência é comum ser observado em profissionalização docente refere-se aos trabalhos sobre a docência no ensino alunos e ao modo como podemos agir superior, onde o docente considera que é para que aprendam de fato o que preciso saber fazer para saber ensinar. pretendemos ensinar-lhes. Desta forma as docentes da Quando indagados aos docentes pesquisa acreditam que precisam de sobre quais conhecimentos consideram conhecimentos científicos e de importante para ser docente, as conhecimentos práticos da profissão para respostas mais recorrentes foram: serem capazes de oferecer uma boa técnicas de ensino, didática, pedagogia, formação aos alunos, futuros metodologia, conhecimento especifico da profissionais. Colocando em segundo enfermagem, princípios éticos, processo plano o saber pedagógico de comunicação e a relação professor/aluno, leitura e atualidades, 3 APRENDENDO A DOCÊNCIA NA teoria da cognição distributiva e DOCÊNCIA sociologia. Estes dados nos mostram que Nesta categoria descrevemos e existe a percepção da necessidade de discutimos como este enfermeiro que conhecimento da área da docência, o chegou para a academia sem uma que é fundamental. Pois só mudamos capacitação própria para a docência no quando percebemos a necessidade da ensino superior construiu este saber e o mudança. que consideram importante para atuar Diante deste fato não é repetitivo como docente no ensino superior. salientar que o docente universitário Esta realidade de ser um precisa ter necessariamente competência profissional bem avaliado de uma pedagógica e científica. A preocupação determinada área e ser convidado a ser com a qualidade dos resultados da docente é muito comum. A maioria educação superior, principalmente os de considera os cursos específicos da graduação, revela a importância da enfermagem, feitos ao longo da carreira, formação científica, pedagógica e política importantes para a construção do de seus docentes. conhecimento, e por consequência, Esta realidade pode ser relações interpessoais e vivências de evidenciada adiante com algumas falas cunho afetivo, valorativo e ético. São transcritas. essas concepções que orientam o modo como os docentes desenvolvem suas É fundamental ter conhecimento de diferentes atividades. didática, dos princípios éticos, das relações, do processo de relação Nesta pesquisa, as interlocutoras professor alunos, metodologias são estruturas importantíssimas para se afirmam que para tornarem-se docentes, conseguir dá aula. (Cecilia Meireles) precisam adquirir formação específica Bom conhecimento em como ensinar, é o que eu não tive, quando para a docência, elemento importante e eu fiz o curso de enfermagem. (Lygia necessário para o desempenho dessa Fagundes) função. Rodrigues de Sobrinho (2007), Eu acho que para ser um bom docente de enfermagem você em pesquisa também com enfermeiros precisa saber da pedagogia da educação. (Cora Coralina) docentes, descrevem que em suas
Eu acho que uma coisa que deve
narrativas estes demonstram ter ajudar muito, no início é a questão consciência de que o bacharelado os da metodologia, de como fazer, como ser professor, como ministrar torna enfermeiros, e não professores, e aula, como passar isto para o aluno. (Zélia Gattai) que entrar no campo da docência exige formação específica. Segundo Isáia (2001 e 2003b), as Não temos no Brasil um curso concepções sobre a docência envolvem regulamentado para a formação de criação mental, compreensão e professor de nível superior, existe uma dinâmicas em que se articulam regulamentação legal de que nas processos reflexivos e práticas efetivas, universidades no mínimo um terço dos em permanente movimento construtivo docentes do nível superior sejam ao longo da carreira. Elas brotam da titulados em cursos de pós-graduação vivência e apresentam não só stricto sensu, porém, esses cursos não componentes explícitos e implícitos, têm obrigatoriedade de oferecer como saberes advindos do senso comum conteúdos pedagógicos e didáticos. De e do conhecimento sistematicamente um modo geral, a Lei de Diretrizes e elaborado. Bases Nacionais de 1996 admite que os Isáia e Balsan (2004) afirmam que, docentes de nível superior sejam para os docentes, a docência pode preparados pela pós-graduação stricto e constituir-se em um espaço para além da lato sensu, sem outras especificações o dimensão técnica, sendo perpassada não que deixa tanto os docentes quanto as só por conhecimentos, mas também por IES livres para admitir com os sem Foi muito no dia a dia, na tentativa e erro, na sala de aula mesmo, formação pedagógica. trocando experiência com os colegas e também com pedagogos. (Cecilia Pimenta e Anastasiou (2010) Meireles) apresentam que em diversos países têm sido discutidas as finalidades dos cursos Estas falas nos mostram que as
de graduação e as atribuições da docentes não têm formação para a
docência universitária que ultrapassa os docência, utilizam do conhecimento
processos de sala de aula, e isto tem especifico da profissão de enfermeira, de
levado a preocupações sobre a formação sua experiência na prática, de seus
deste profissional. conhecimentos como aluno para
Quanto à capacitação, desempenhar a função de docente.
observarmos através das falas que não Sabendo que só este conhecimento não
aconteceu no momento que eles lhe capacita como docente assim dizem
consideravam mais importante que é no Rodrigues e Sobrinho (2007):
início de suas atividades docentes. No
A formação do docente em entanto, há uma busca constante para enfermagem deve ser consolidada que ocorra durante a sua carreira, com base no domínio de conhecimentos científicos e na conforme se evidencia nas falas a seguir: atuação investigativa no processo de ensinar e aprender, recriando situações de aprendizagem por investigação do conhecimento de Não tive capacitação especifica, forma coletiva com o propósito de ocorreu no dia a dia, depois de um valorizar a avaliação diagnóstica grande tempo de docência fiz a dentro do universo cognitivo e especialização para educação cultural dos acadêmicos como profissional da área da saúde e processos interativos. (RODRIGUES agora fiz as oficinas com a e SOBRINHO, 2007, p. 457) professora Lea Anastasiou. (Clarice Lispector) Embora reconheçamos a Eu não recebi capacitação pra ser docente não, foi a “toque de caixa importância que os docentes atribuem ao mesmo” foi com a vontade de aprender e buscar (Cora Coralina) conhecimento cientifico ao relacionarem A capacitação foi ao longo do curso, como essencial para a docência, também com a experiência dos colegas, livro que alguém lia, de alguma coisa que deixam evidente a falta que a formação a gente procurava para melhorar a docente faz. Além de colocarem como questão da docência. (Zélia Gattai) necessidade iminente a formação na A partir de leitura, busca de conhecimento e interação com os área do saber pedagógico, afirmaram professores aqui na própria universidade e também o curso de ainda a necessidade que esta formação especialização de pedagogia para o ensino profissionalizante na área de seja contínua, observando sua constante enfermagem. (Ângela Lago) atualização por ser uma ciência ainda em construção. Como afirma Cunha (2006), muito a aula dele com exemplo, com a vivência, que a gente tem mesmo, a pedagogia universitária é um campo a aula fica bem mais engrandecida. (Cora Coralina) epistemológico inicial, portanto estabelece certo vazio que favorece o A docente acima reconhece a impacto que as políticas públicas têm na necessidade da formação pedagógica definição dos conhecimentos legitimados aliada à experiência o que podemos que o docente universitário deve alcançar concordar como uma situação muito para ser reconhecido profissionalmente. esperada, pois a docência universitária A pedagogia universitária ainda em sua complexidade pede saberes está galgando o seu espaço na múltiplos entre eles os dois citados pela universidade como uma ciência que docente. fornece meios para que os docentes Este estudo demonstra que é estudem e repensem a sua prática imprescindível a mudança, mas este é docente. Entretanto Veiga et. al (2000, apenas um “pontinho” entre as muitas p.190), afirmam: pesquisas em desenvolvimento em diversos países sobre a docência no Se a especificidade e identidade da profissão docente é o ensino, é ensino superior. inadmissível que professores universitários que detenham o domínio do conhecimento em um 4 DESAFIOS E POTENCIALIDADES NA campo científico não recebam uma formação mais condizente com as TRAJETÓRIA DOCENTE reais necessidades dos alunos e do ser professor. P.190 A fase inicial da profissão docente, classificada como a primeira etapa Entendemos que ser docente identificada por Huberman (1992), é a universitário supõe o domínio de seu entrada na carreira, que inclui as fases campo específico de conhecimento, mas de sobrevivência e de descobrimento. acreditamos na necessidade de Esta é a fase do “Eu”, tanto as apropriar-se de conhecimentos que os facilidades, dificuldades e as estratégias ajudem a ensinar. Como podemos referem, em sua maioria, a um único ator observar na fala seguir: de uma peça constituída por muitos atores, da comunidade acadêmica. Eu acho que pra ser um bom Ao falar desta fase, poucas docente de enfermagem você precisa saber da pedagogia da docentes constatam que o processo foi educação, eu acho que esta questão do aluno, da crítica, de deixar o fácil, que as relações com os estudantes aluno se manifestar de aproveitar as oportunidades pra estar ensinado de foram positivas e que foi considerável o falar da vivencia enriquece muito o conteúdo de uma aula, ele enriquece domínio do ensino. Outras colocações mais recorrentes trouxeram como pontos procedimentos pedagógicos facilitadores o conhecimento científico da ultrapassados e com pouco valor para o área e a experiência na enfermagem. aprendizado. Conforme percebemos nas Nesta fase os fatores facilitadores narrativas a seguir: são a motivação, o fascínio, estimulo pelo desafio e a disponibilidade. Predomina o A minha maior dificuldade é que eu falava, eu transmitia passava gosto pela profissão docente e a atividade acreditava que eles estavam apreendendo e na realidade empolgação pela docência como fatores não estavam ou muito pouco se tinha (Adélia Prado) que podem levar a se envolver em atividades de aprendizagem da docência Dificuldade de um professor que não é capacitado para trabalhar a tornado-se autodidata, na falta de uma didática, não tem conhecimento de como seria a didática, a maneira de formação instituída que dê conta de sua interagir com os alunos. (Carolina de Jesus) atuação prática (ISÁIA, 2005). As A dificuldade é que eu não tinha narrativas que se seguem podem ilustrar conhecimento teórico aprofundado, esse processo. para ser docente, o que eu fazia era um movimento individual de aperfeiçoamento. (Ana Miranda)
A facilidade é a positividade, você
está com o “gás” todo, quer fazer, A formação pedagógica é quer contribuir, quer mudar. (Raquel de Queiroz) essencial no planejar, organizar e O ponto facilitador era o desafio e eu implementar o processo ensino- tinha disponibilidade para estudar. (Clarice Lispector) aprendizagem. Entendemos que encarar o exercício da docência como atividade Um ponto facilitador é o grande desejo, a motivação que tive de fazer profissional torna-se importante na diferente e querer fazer, e o grande desafio do novo que eu quero de medida em que essa lhe concede uma alguma forma romper para que eu consiga chegar a ser uma mestre. identidade profissional. Nesse sentido, é (Zélia Gattai) fundamental o docente perceber que para definir sua identidade profissional As dificuldades são diversas, a ele precisará, além de ter o domínio do falta de preparo, não ser uma escolha conhecimento científico específico, consciente, a universidade que não se considerar a “prática” que desenvolve na responsabilizar pela formação do sala de aula, como condição que também docente. A associação destes elementos exige conhecimentos pedagógicos. De leva a manutenção de uma relação certa forma é bom ouvir destes docentes sofrida entre o ser docente, o aluno e o o reconhecimento destas dificuldades, contexto em que se dá este ensino, levando ao uso de técnicas e pois este é o primeiro passo para buscar na esfera administrativa. Também capacitação para vencê-las. observamos estas facilidades nas falas Em relação à busca de estratégias abaixo: para vencer as dificuldades podemos ver que são comuns, todas descrevem o Há eu acho que a experiência mesmo que eu adquiri em sala de estudo seja ele coletivo, individual, formal aula, eu já tinha um domínio maior deste espaço. (Cecilia Meireles) ou informal como potencialidades para Muitas dificuldades podiam ser uma formação docente na docência. resolvidas de imediato, já conseguia Esta envolve atividades e valores perceber pela experiência, pelo domínio, você já tinha traduzidos em sensibilidade ante o aluno; conhecimentos que antes você não tinha. (Raquel de Queiroz) valorização dos saberes da experiência; ênfase nas relações interpessoais; Cunha (2000) reforça esta aprendizagem compartilhada (docentes e circunstância apresentada quando diz alunos); integração teoria/prática; e, que é importante reconhecer que o também, o ensinar a partir do respeito à docente, para construir sua aprendizagem do aluno. Todos esses profissionalidade, precisa recorrer a desafios são importantes uma vez que saberes de prática e teoria. A prática acreditam no desenvolvimento do aluno cada vez mais vem sendo valorizada como pessoa e profissional (ISAIA, 2002, como um espaço de construção de 2003a, 2003b, ISAIA e BOLZAN, 2004). saberes, quer na formação dos docentes, Na segunda fase chamada de fase quer na aprendizagem dos alunos. mediana citada por Huberman (1992) Nestas falas e em outras podemos como a fase de estabilização, afirmar que os sujeitos da pesquisa caracteriza-se por maior sentimento de aprendem a ser docente na prática, com facilidade ao lidar com as classes, a experiência, ao refletirem sobre estas domínio de um repertório básico de práticas com base nos conhecimentos técnicas de ensino, assim como pela que adquirem nos cursos que fazem, capacidade de selecionar métodos e produzindo a sua docência. materiais mais apropriados em razão dos Já as dificuldades desta fase interesses dos estudantes. Os docentes perpassam pela visão de profissionais sentem-se mais independentes e que tiveram alguma experiência com a razoavelmente bem integrados. Esta fase docência e passam a enxergar de forma pode representar a preocupação do crítica o ensino, a aprendizagem, os docente com sua melhoria na docência métodos e materiais necessários para com promoções, ou seja, com o trabalho que estes aconteçam. Vemos a seguir algumas falas que nos remetem a esta situação: Segundo as autoras Pimenta e Anastasiou (2005), devido a busca pelo A medida que íamos crescendo conhecimento de ser docente, muitos víamos que poderíamos ser melhores e vencíamos as realizam seus cursos de mestrado e dificuldades que surgiam, ficamos mais críticos.(Ana Maria Machado) doutorado na área de educação, tendo
Eu já tinha um determinado tempo o
desta forma, uma oportunidade de que dificultou foi as coisas que aprofundar estudos iniciais em disciplinas alguns alunos falavam, eles não queriam estudar pela minha didática de outros cursos que fizeram e de eles teriam que fazer oficina, as falas machucaram muito, eu quase constituírem subsídios para uma melhor pensei em não ser mais professora. (Adélia Prado) atuação como docente. Observamos esta situação na fala das docentes: Estas falas me reportam a Isáia (2000) quando diz que a docência no Ponto facilitador foram os 02 anos de ensino superior é um exercício solitário mestrado em educação, as leituras sobre didática, currículo e sobre centrado no sentimento de desamparo aprendizagem. (Adélia Prado)
dos docentes ante a ausência de Neste período eu já comecei a fazer
o curso de mestrado. Um ponto que interlocução e de conhecimentos facilitou foi o curso de mestrado, foi onde aprendi na verdade, o meu pedagógicos compartilhados para o mestrado sendo em educação, o que enfrentamento do ato educativo. na verdade são os princípios da docência, eu acredito que ali eu Também observamos nesta etapa comecei a ver o tanto de falha, de aresta que a gente tem enquanto um crescimento destas enfermeiras docente não docente. (Lygia Fagundes) docentes que refletem sobre sua prática e já conseguem avaliar. Observamos agora que as enfermeiras docentes valorizam a teoria Nesse sentido, identificamos uma educacional e buscam em suas pós- trajetória evolutiva para um vir a ser docente que se consolida na medida graduações respaldos para contracenar em que se reelabora o seu vínculo pregresso com o ser enfermeiro com os pensamentos teóricos. Também assistencial, tendo como pontos de transição às mobilizações cognitivo – Cunha (2006) relata que os docentes simbólico – afetivas, reelaborando os investimentos conceituais os buscam a teoria como fundamento da mecanismos de enfrentamento, os pesquisa e reflexão que mediada pela gestos de acolhimento. Esses movimentos poriam em evidência a cultura se torna fundamental para a ordem própria dessa mobilização no sentido questionando a performance prática. atual, inverter em experiências, mediadas por um novo papel Nesta última fase aqui nomeada profissional, caminhando para o tornar – se docente (IDE 1999, p. de atual, pois os sujeitos da pesquisa 190). estão em plena atividade docente, para As dificuldades agora são muito Huberman (1992) fase do diferentes das apresentadas na fase questionamento, que muitas vezes inicial e mediana, agora o cansaço, a proporciona mudanças traumáticas. rotina, a condição do aluno, as Entre as facilidades mais referidas desmotivações são mais frequentes, encontramos a experiência docente, estas características foram apresentadas domínio de sala de aula, relacionamento por Huberman. Destaco aqui a fala da com os alunos, maturidade pessoal e docente “Ana Miranda” profissional, cursos de especialização e Sinto me solitária na busca de conhecimento, um movimento de mestrado na área de educação. individualizado. Pelo movimento que eu fiz eu ainda acho que não é Vamos ver abaixo algumas narrativas coletiva a construção deste tipo de conhecimento, de aprofundamento que descrevem as facilidades desta fase: nas questões teóricas, eu acho que a gente tem um ganho grande demais enquanto técnica, porque eu sou de A experiência, a especialização em acordo que as minhas colegas são formação pedagógica para o ensino boas enfermeiras, mas acredito na profissionalizante, a busca constante fragilidade de não se construir por conhecimento e esta coletivamente a prática docente. necessidade que o professor tem de (Ana Miranda) buscar sempre mais conhecimento. (Carolina de Jesus) Esta solidão conceituada em Isáia A minha experiência a minha maturidade, que é mais que (1992, 2002a) como sentimento de experiência, hoje eu acho que estou no ponto muito rico de maturidade, desamparo dos docentes diante da como vivencia, lidar com as pessoas, ausência de interlocução, de lidar com os alunos entender mais e esta maturidade que é muito conhecimentos pedagógicos importante. (Hilda Hilst) compartilhados para o enfrentamento do O fato de estar mais envolvida dentro do curso isto me ajuda bastante, ato educativo. espaços que eu tenho ocupado hoje dentro da Universidade, tem me Este clima pautado pela solidão, ajudado bastante a crescer como pela angústia pedagógica dificulta o profissional e assim melhorar como docente e isto tem me ajudado compartilhar saberes e experiências que bastante. (Ana Cristina Cesar) poderiam estar voltadas para o aprimoramento docente, dificultando, Nesta etapa podemos observar a assim, a formação de uma identidade existência de vários pressupostos para a tanto individual quanto coletiva de ser docência universitária presente nas falas docente e não apenas a de ser das docentes, entre eles conteúdo das especialista em sua área de diferentes áreas do saber, do ensino da conhecimento (MOROSINI, 2006). ciência e das artes. As estratégias para vencer as encontrada em um trabalho participativo dificuldades não mudaram muito durante entre todos os envolvidos. Os docentes todas as fases, mantendo o estudo, a não formam, nem se formam no vazio, as mudança de metodologia, a busca das possibilidades de desenvolvimento ou próprias forças, apoio dos colegas, como estagnação dependem também do movimentos essenciais para a vitória nos ambiente em que trabalham. As momentos difíceis. instituições, entretanto, não são entidades abstratas, mas dependem do 5 EMPENHO DIÁRIO: MELHORIAS E preparo de seus docentes, da disposição SUPERAÇÃO deles para a auto, hetero e A busca de estratégias para vencer as interformação, também de seus alunos, dificuldades, conscientes da necessidade de em consonância com a realidade do transformar suas práticas, encontra ainda a mundo contemporâneo e com as dúvida de qual caminho percorrer. As necessidades das comunidades para as professoras sentem necessidade de quais formam profissionais continuar sua formação, uma condução comprometidos ou não. (ISAIA, 2006, pedagógica mais efetiva, a fim de que BOLZAN, 2004 e MOROSINI, 2001). possam construir sua docência A perspectiva de desenvolvimento alicerçada em conhecimento pedagógico profissional do docente não se isola única compartilhado, que lhes permitam e exclusivamente na melhoria do trabalho encontrar possíveis alternativas de do indivíduo docente, ou dos docentes transformação docente. como grupo, porém, vê o Dentre todas as estratégias desenvolvimento docente como algo narradas temos como principal o estudo atrelado ao desenvolvimento institucional das mais diversas formas, aquelas como um todo. individuais com leituras de livros Para melhorar o meu desempenho eu suponho que o crescimento indicados, ou em busca aleatória, os coletivo, se crescer a coletividade o meu individual cresce muito mais. Eu cursos de curta duração, as sinto falta da perspectiva do crescimento coletivo. (Ana Miranda) especializações, os mestrados, oficinas e aquelas por vezes proporcionadas pela Esta fala demonstra claramente a própria instituição. As falas que seguem necessidade da docente que o grupo demonstram algumas estratégias usadas cresça para fortalecimento de todos. As para vencer as fragilidades: docentes em suas narrativas descrevem É importante a consciência de que outros pontos importantes a serem a superação das fragilidades só pode ser melhorados em sua função como: habilidade em avaliar, fazer novos pedagógicos mais amplos do campo cursos, especializações, mestrado e teórico da prática educacional; conteúdos doutorado, capacitações, buscar novas ligados à explicitação do sentido da formas de trabalho, aprimorar suas existência humana individual, com metodologias de ensino. Houve quem sensibilidade pessoal e social. citou a questão da própria personalidade Todas as docentes durante toda a que precisa ser trabalhada. Abaixo trajetória demonstram empenho na destacamos a fala de algumas docentes melhoria, partindo do princípio de sobre a necessidade de melhorias: reconhecer a necessidade de melhorar, Eu acho que devia estudar mais, a reconhecer falhas e daí sair da inércia e gente nunca está apta assim preparado de tudo, então estudar procurar com recursos próprios a mais, buscar novas formas de trabalhar, buscar novos campos de melhoria desejada. atuação, acho que tem muito para caminhar ainda. (Cecilia Meireles) 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS Maior conhecimento em relação à questão da própria pedagogia, da licenciatura dentro da própria área da Nessa pesquisa propusemo-nos a didática. (Lygia Fagundes) conhecer a construção da trajetória Eu acredito que uma formação além, um mestrado, um doutorado, isto docente dos enfermeiros de uma faria a diferença, melhoraria muito a minha capacidade de Instituição de ensino superior privada, desenvolvimento em sala de aula. identificar os desafios e facilidades (Carolina de Jesus) encontrados, avaliar a interferência da Pimenta e Anastasiou (2002) prática profissional no exercício da entendem que a melhoria da qualidade docência e discutir teoricamente à docente passa pela necessidade da docência no ensino superior em especial formação de identidade profissional, na enfermagem. Após um longo processo havendo a necessidade que se de estudo, balizado pelo referencial compreenda a docência como um campo teórico, confrontando-o com a realidade de conhecimentos específicos apresentada pelo corpo docente configurados em quatro grandes estudado, consolidamos que a trajetória conjuntos: conteúdo das diferentes áreas da construção docente das enfermeiras do saber e do ensino, ou seja, das constitui-se por um processo de ciências humanas e naturais, da cultura e formação que se baseia na experiência das artes; conteúdos didáticos profissional trazida de suas atividades na pedagógicos, diretamente relacionados profissão de enfermeiros, nos cursos e ao campo da prática profissional; capacitações realizadas durante sua vida conteúdos ligados aos saberes e pelo aprendizado prático em sala de Inicialmente os docentes não se aula tornando este docente um ser único questionam sobre o ofício da docência, com características e identidade própria. entendendo que quem sabe fazer, sabe Para a constituição da trajetória ensinar, partindo do principio que o docente demos voz às enfermeiras docente é quem sabe e o aluno está docentes e não tratamos apenas de disponível para aprender o que lhe for descrever suas falas, mas apreender o passado. Pontuam que os que revelaram, ao mesmo tempo em que conhecimentos técnicos e teóricos tentamos aprender com elas o processo específicos da profissão de enfermeiro que vivenciam como docentes. Foram como essenciais, que cursos congressos, diferentes histórias, distintos estilos, seminários na área de saúde, em percepções e crenças. A essa especial na enfermagem foram diversidade não podemos deixar de significativos para sua docência. acrescentar a condição do olhar da Porém reconhecem que o pesquisadora. bacharelado em Enfermagem não O trabalho docente é permeado fornece a base pedagógica para serem por vários obstáculos didáticos docentes e apontam a necessidade de relacionados ao docente, ao aluno e à formação pedagógica devido a instituição. Assim, evidenciamos alguns complexidade da docência que requer do pontos conclusivos deste estudo: ser enfermeiro domínio não somente do docente não era uma expectativa das conteúdo específico da disciplina que enfermeiras quando estas optaram pela ministra, mas também conhecimentos graduação em enfermagem; elas pedagógicos. ingressaram na docência em decorrência O medo, a insegurança, os de suas atividades, foram convidadas ou conflitos entre os sentimentos a falta de atenderam a editais de seleção por terem capacitação para a docência enchiam as experiência e capacidade técnica na área enfermeiras de dúvidas em como em que iriam ensinar; a não exigência da sustentar naquele momento a nova formação em nível de graduação ou pós- profissão que estavam adentrando. graduação na docência no ingresso à Levando a uma prática pedagógica instituição; a não existência de legislação pautada em uma mistura de paradigmas brasileira que estabeleça formação sem um referencial teórico, que envolvem específica para a docência no ensino a produção do conhecimento, superior. sobressaindo a prática tradicional de ensino. No decorrer da construção da Enfim, podemos dizer que a docência as experiências conquistadas construção da trajetória formativa das em sala de aula lhes davam certo alivio. docentes enfermeiras obedeceu a um Os frutos dos estudos realizados já percurso de desenvolvimento profissional podiam ser notados, apesar de que com diferenciado, levando em conta as os estudos e cursos realizados na área necessidades e preocupações da educação por algumas, vinham características de cada etapa da também críticas de sua própria atuação, formação na carreira, assim como e para muitas delas permaneciam a questões relativas à trajetória de queixa do pouco domínio em sala de aula formação individual e momento de vida e da dificuldade de lidar com as críticas de cada docente. O apoio no dos alunos em relação a seus métodos conhecimento técnico científico da área de ensino. de enfermagem foi evidente, essencial e Com a experiência o não deve está separado da formação conhecimento da estrutura do curso, da pedagógica, que se deu principalmente docência, a capacidade de na prática diária da docência, no direcionamento de prioridades aprender fazendo, na interação mútua e adquiridas, o domínio em sala de aula, a em capacitações realizadas na própria identidade como docente são pontos instituição de ensino. Ainda se constata facilitadores destacados, quanto às que algumas buscaram pós-graduação dificuldades agora temos um novo ponto latu sensu e strictu sensu na área de que é a condição do aluno. Abstrai-se um educação, para tentar minimizar a pouco o olhar de se próprio como carência de conhecimentos teóricos da docente e já vê o aluno como foco docência. principal do processo, evidenciando Cada professora que contribui com neste também algumas dificuldades. Já este estudo mostrou como se tornou a se conhece metodologias e algumas docente de hoje e deixou um pouco de si teorias da docência, mas declaram a para que possamos aprender com suas dificuldade de colocá-las em prática, o experiências e propor soluções para que cansaço e a desmotivação aparecem outros e outras possam construir como dificuldade e para vencer estes caminhos com menos dificuldade e pontos temos além de estudo, mais apoio melhor capacidade. nos colegas, na família e a automotivação como estratégia. REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS BRÊTAS, A. C. P. Pesquisa qualitativa e o método da história oral: aspectos conceituais. Acta Paul Enf., São Paulo. ANASTASIOU,L.G.C. Docência como 2000. v. 13, n.3. profissão no ensino superior e os saberes científicos e pedagógicos. Revista CALDAS, A. L. A noção de cápsula Univille Educação e Cultura v.7, n. 1, narrativa. Caderno de Criação. Porto junho 2002. Velho: UFRO/Centro de Hermenêutica do Presente, no 18,1999. 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