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1.

Esclarecer o problema da demarcação


O problema da demarcação, como proposto por Karl Popper, é essencialmente a busca por
critérios que possam distinguir de forma clara e objetiva o que é considerado científico do que
não é. A ideia é estabelecer fronteiras entre as disciplinas que podem ser consideradas parte
da ciência e aquelas que não podem.

Karl Popper propôs a falsificabilidade como critério de demarcação. Segundo ele, uma teoria
ou hipótese é científica se puder ser formulada de tal maneira que existam testes empíricos
específicos capazes de refutá-la. Ou seja, uma teoria deve ser passível de ser falsificada por
meio de experimentos ou observações. Se uma teoria não puder ser refutada dessa maneira,
ela não seria considerada científica, mas sim pseudocientífica ou metafísica.

2. Comparar o critério de demarcação de Popper com o critério da


verificabilidade
Embora Karl Popper e o critério da verificabilidade compartilhem o objetivo de estabelecer
critérios para distinguir entre afirmações científicas e não científicas, eles propõem abordagens
diferentes para resolver o problema da demarcação.

Falsificabilidade de Popper:

Ideia principal: Uma teoria é considerada científica se for formulada de maneira a ser
falsificável, ou seja, se existirem condições sob as quais ela poderia ser refutada por meio de
evidências empíricas.

Ênfase: Popper argumenta que o teste crucial para a validade científica de uma teoria é a
possibilidade de rejeitá-la com base em dados observacionais. Se uma teoria não puder ser
falsificada, ela é considerada não científica.

Verificabilidade:

Ideia principal: A verificabilidade, proposta por filósofos como o Círculo de Viena e positivistas
lógicos, sugere que uma afirmação ou teoria é científica se puder ser verificada empiricamente
por meio da observação ou experimentação.

Ênfase: A ênfase aqui está na capacidade de verificar as afirmações por meio de evidências
positivas. No entanto, o positivismo lógico enfrentou desafios, principalmente devido ao
problema da indução e à constatação de que nem todas as afirmações científicas podem ser
empiricamente verificadas de maneira direta.

Comparação:

Falsificabilidade vs. Verificabilidade: A principal diferença entre as duas abordagens é que


Popper defende a importância da falsificabilidade, enquanto os positivistas lógicos enfatizam a
verificabilidade.
Desafios da Verificabilidade: Popper criticou a verificabilidade, argumentando que a exigência
de verificação direta torna muitas afirmações científicas não científicas. Ele introduziu a
falsificabilidade como uma resposta a essas limitações, permitindo que teorias fossem
consideradas científicas mesmo que não pudessem ser diretamente verificadas.

Flexibilidade da Falsificabilidade: Popper reconheceu que uma teoria pode ser modificada para
enfrentar novas evidências, mas o critério da falsificabilidade permanece como um guia para a
demarcação.

Ambas as abordagens visam superar o problema da demarcação, mas a falsificabilidade de


Popper tornou-se mais influente e é frequentemente considerada uma resposta mais robusta e
flexível ao desafio de distinguir entre ciência e não ciência.

3.Expor a perspetiva indutivista do método científico


De acordo com o método científico a investigação em ciência começa pela observação, que
tem como objetivo a recolha e registo de dados, de forma imparcial e isenta de preconceitos.
Depois da observação de um número significativo de casos particulares, ou seja, depois de
termos uma amostra representativa do universo investigado, passa-se á etapa seguinte,
formulação de uma hipótese que corresponde á criação de uma suposição, teoria ou conjetura
capaz de explicar os fenómenos observados e simultaneamente prever casos idênticos. De
seguida, a suposição é testada em ambiente controlado, realizam-se novas observações para
testar uma hipótese, a esta etapa chamamos experimentação.

Se as observações da experimentação permitirem a verificação ou confirmação daquilo que a


hipótese prevê é então estabelecida por generalização uma lei ou teoria.

4. Apresentar críticas a esta perspetiva indutivista


1. o ponto de partida da ciência não é a observação

Segundo popper e outros críticos do indutivismo a observação não é o ponto de partida da


investigação científica e não há observação neutra e imparcial, isenta de preconceitos porque
quando observamos o mundo a nossa volta já estamos munidos de teorias que interferem com
o juízo que fazemos acerca do que vemos, ou seja, o conhecimento, as expectativas, o
enquadramento cultural e mental de quem observa, condiciona o juízo que esta fórmula sobre
o facto observado. A teoria vem sempre primeiro.

2. A indução não é a única forma de produzir conhecimento acerca do mundo

Esta critica prende-se com o facto de o método científico se basear na indução e não na
dedução, o que nos conduz ao problema da indução, defendido por Hume. Confiar na
uniformidade da natureza e raciocinar indutivamente em ciência é correr permanentemente o
risco de sermos surpreendidos pela nossa credulidade. Popper considera que Hume tinha
razão, o problema da indução não tem solução, mas é inútil preocuparmo-nos com isso porque
a ciência e o método científico passam bem sem a indução.
3. A experimentação não tem como papel confirmar ou verificar hipóteses

Segundo Popper as hipóteses ou teorias (enunciados empíricos universais) não podem ser
verificadas ou confirmadas por enunciados particulares, mas, no entanto, podem ser refutadas
ou falsificadas caso se verifique que a lei ou teoria está em desacordo com as observações
bastando apenas um contraexemplo. Argumentar indutivamente dos factos para as teorias,
está condenado porque seria necessário observar todos os casos possíveis, não há qualquer
número de observações que nos permita estarmos 100% seguros da verdade de uma hipótese
porem basta um único contraexemplo para refutar ou falsificar uma teoria.

5. Distinguir teorias falsificáveis de teorias falsificadas


A distinção entre teorias falsificáveis e teorias falsificadas está relacionada ao conceito
proposto pelo filósofo da ciência Karl Popper, conhecido como falsificacionismo. Vamos
entender cada termo:

Teorias Falsificáveis:

Definição: Uma teoria é considerada falsificável se existirem condições sob as quais ela poderia
ser contradita ou refutada por meio de observações empíricas ou experimentos.

Exemplo: Se uma teoria afirma que todos os cisnes são brancos, ela é falsificável porque a
observação de um único cisne negro seria suficiente para contradizê-la. A capacidade de
sujeitar uma teoria à possibilidade de falsificação é crucial para a demarcação entre o que é
considerado científico e não científico, segundo Popper.

Teorias Falsificadas:

Definição: Uma teoria é considerada falsificada quando foi testada empiricamente e os


resultados observacionais ou experimentais contradizem as previsões ou afirmações da teoria.

Exemplo: Se uma teoria afirma que uma bola de chumbo cai mais rápido do que uma bola de
algodão no vácuo, e um experimento mostra que ambas caem à mesma taxa, então a teoria foi
falsificada pelos dados observacionais.

Distinção:

Falsificabilidade vs. Falsificação:

A falsificabilidade refere-se à capacidade intrínseca de uma teoria ser testada e potencialmente


refutada.

A falsificação ocorre quando uma teoria é efetivamente testada e os resultados observacionais


a contradizem, indicando que a teoria pode ser falsa ou requer ajustes.
6. Explicar os diferentes graus de falsificabilidade segundo Popper.
Para Popper há teorias falsificáveis (científicas) e teorias não falsificáveis (não científicas ou
pseudocientíficas), mas há também diferentes graus de falsificabilidade ou de testabilidade.

Teorias com maior grau de falsificabilidade:

Quanto mais precisa e mais audaciosa for uma teoria, mais arrisca e mais interessante é.

Mais informação ou maior conteúdo empírico

Menor probabilidade.

Maior exposição á refutação.

Teorias com menor grau de falsificabilidade:

Quanto menos precisa e menos audaciosa for uma teoria, menos arrisca e menos interessante
é.

Menos informação ou menor conteúdo empírico

Maior probabilidade.

Menor exposição á refutação.

7. Desenvolver o método das conjeturas e refutações de Popper


Pooper defende que a ciência é um empreendimento hipotético-dedutivo e começa e termina
com problemas.

O método de Pooper, método critico das conjeturas e refutações defende que o ponto de
partida são os problemas e não a observação.

P1 – de que cor são as penas dos kiwis?

A procura de respostas para o problema origina uma hipótese /suposição/conjetura ou


tentativa de teoria TT. Submete-se a teoria ao exame critico e a rigorosos testes experimentais
de falsificação, cujo objetivo não é demonstrar que a teoria é verdadeira, mas detetar e
eliminar erros EE.

Quando a teoria apresenta erros, ou seja, quando a conjetura colide com as observações e é
refutada a hipótese é eliminada ou corrigida.

Quando apesar dos rigorosos testes a que é submetida, a teoria resiste, para Popper as teorias
permanecem para todo o sempre hipóteses/suposições/conjeturas. Uma teoria que resiste aos
testes a que foi submetida diz-se corroborada pela experiência, o que é muito diferente de
dizer que é verdadeira/verdade estabelecida.
A corroboração é temporal, e atesta apenas a sobrevivência da teoria aos testes a que foi
submetida no presente, mas tudo se pode alterar nos testes a que for submetida no futuro,
poderá ser falsificada ou substituída por outra teoria.

8. Desenvolver a perspetiva falsificacionista de um modo geral

Para Popper, o mais importante não é provar a verdade de uma teoria (verificacionismo), mas
tentar mostrar que é falsa: neste método não se procura verificar a verdade de uma teoria,
mas falsificá-la.

Por mais provas que tenhamos, nunca podemos afirmar que uma teoria é absolutamente
verdadeira, mas podemos provar que é falsa: os testes têm essa função.

Apenas um único teste (face a milhares deles) pode desmentir uma teoria e mostrar que é
falsa. Basta um contraexemplo para mostrar que uma teoria é falsa.

O erro é motor do avanço da ciência: se uma teoria não resiste à falsificação, é abandonada e
substituída por outra ou retificada (caráter revisível da ciência). Segundo Popper de deteção de
erro em deteção de erro avançamos em direção à verdade.

Uma teoria que passou nos testes e não foi falsificada não é uma teoria verdadeira, segundo
Popper, mas sim corroborada.

Corroboração: corroborar uma teoria não é o mesmo que afirmar que ela é verdadeira. A
corroboração não atribui nenhum valor de verdade à teoria que passa nos testes a que foi
sujeita, isto é, não diz que ela é verdadeira. A corroboração consiste em aceitar uma teoria no
momento em que ela ultrapassou com sucesso os testes de falsificação. Mas, na próxima
bateria de testes a que for sujeita pode não passar, sendo falsificada. A corroboração é um
indicador temporal apenas, coisa que a verdade e a falsidade não são.

10. Expor críticas a Popper.

Críticas Gerais

O processo de falsificação não é o procedimento mais comum entre os cientistas.

Os cientistas não seguem na atividade científica a proposta metodológica de Popper: quando


descobrem erros nas teorias, procedem a ajustes e reformulações das teorias e não à sua
falsificação ou refutação (revisibilidade em ciência).
O falsificacionismo de Popper não é falsificável.

É apenas a perspetiva pessoal de Popper impossível de submeter a testes e ser falsificada.


Pode-se aceitar ou criticar esta teoria, mas não sujeitá-la a um processo de falsificação ou
afirmar que é falsa.

Popper desenvolve uma visão formalista de ciência:

A perspetiva de Popper centra-se mais em aspetos formais do desenvolvimento da ciência e


esquece o seu desenvolvimento prático e as suas aplicações tecnológicas.

Por exemplo: não interessa que a teoria química subjacente à produção da aspirina não seja
falsificada, o que interessa é que a aspirina seja eficaz.

Considerando a História da Ciência, não parece que ela possa evoluir por um processo
assente nas falsificações.

Por exemplo, Copérnico, Galileu ou Newton não abandonaram as suas teorias perante factos
que as poderiam falsificar. Pelo contrário, tentaram verificá-las e confirmá-las. Por exemplo: os
astrónomos procuram sinais de água e de vida em Marte e não a refutação dessas conjeturas.

Críticas de T. Kuhn a Popper

Popper defendeu que a ciência progride em direção à verdade. E também que a ciência é um
conhecimento objetivo.

T. Kuhn critica afirmando que:

- Não há objetividade científica.

- O desenvolvimento da ciência não é uma aproximação à verdade.

A prática científica não consiste em refutar ou falsificar teorias:

Consiste em desenvolver teorias científicas, obter novos resultados e conclusões e procurar


continuamente novas aplicações práticas da ciência e desenvolver novas tecnologias.
11.- Esclarecer os conceitos estruturantes da filosofia de Kuhn.

Paradigma

Modelo científico que constitui uma visão do mundo. Inclui uma teoria científica dominante,
princípios filosóficos, conceções metodológicas, leis e procedimentos técnicos padronizados
para resolver problemas. Estabelece a base da investigação científica em cada época histórica.

Exemplos: na Astronomia, paradigma aristotélico-ptolomaico e paradigma coperniciano; na


Física, paradigma newtoniano e paradigma einsteiniano.

Ciência normal

Momento do desenvolvimento científico de acordo com um paradigma estabelecido. Neste


período, há um acordo entre os cientistas quanto à aceitação do paradigma. Os cientistas não
têm como objetivo descobrir novos factos nem inventar teorias: a sua tarefa principal é
resolver enigmas ou puzzles.

Enigma ou puzzle

Problema especializado que surge num paradigma. Factos e resultados que não se integram no
modelo de problemas e soluções reconhecido pela comunidade científica.

O paradigma determina que enigmas a comunidade científica deve reconhecer como


científicos ou merecedores de atenção.

Anomalias

Surgem quando fracassam as tentativas de resolver enigmas. São casos problemáticos que a
comunidade científica não resolve tendo por base o paradigma estabelecido.

São falhanços na prática científica que quando em grande grau ou número põem em causa o
paradigma.

Crise paradigmática (crise científica)

Surge com a acumulação de anomalias sem resolução. Descobrem-se cada vez mais factos que
contrariam as regras do paradigma estabelecido.

Neste período de crise, há um desacordo e uma divisão na comunidade científica, entre


cientistas conservadores (pretendem manter o paradigma estabelecido) e cientistas
renovadores (pretendem substituir o paradigma estabelecido). Esta crise é uma condição
fundamental de emergência de novas teorias científicas. A crise na ciência, conduz a uma
revolução científica.
Ciência extraordinária

Período crítico e revolucionário da ciência. Surgem novas teorias, conceitos, metodologias e


técnicas de investigação. É a tentativa de solucionar, com outros meios, as anomalias que
surgiram. Este período de ciência extraordinária manter-se-á até se estabelecer um novo
paradigma que substitua o que está estabelecido.

Nota: quando o novo paradigma substitui o antigo, retorna-se a um período de ciência normal
(evolução cíclica da ciência).

Revolução científica

Consiste na passagem de um a outro paradigma.

Nota: as revoluções científicas implicam uma rutura epistemológica de um paradigma com o


anterior que ele substitui (evolução descontínua no progresso da ciência).

12.- Explicitar o processo de desenvolvimento da ciência segundo Kuhn.


Para Thomas Kuhn, as transições em ciência acontecem segundo um processo cíclico, em que
se alternam três fases sucessivas: fase normal, fase crítica e fase revolucionária.

Podemos afirmar que, segundo Kuhn, o desenvolvimento da ciência processa-se do seguinte


modo:

Pré-ciência → Paradigma → Ciência normal → Crise do paradigma/Ciência extraordinária →


Revolução científica → Paradigma → …

Ciência normal é a ciência que a maioria dos cientistas pratica no seu dia a dia. É a ciência em
que o paradigma é encarado como um dado adquirido, que não deve ser desafiado. A ciência
normal articula e desenvolve o paradigma. Kuhn descreve a ciência normal como a atividade de
resolver enigmas, dirigida pelas regras do paradigma. Durante a atividade científica normal, a
comunidade científica procede a reajustamentos e ao aumento da abrangência e precisão do
paradigma. Trata-se, por esta razão, de uma atividade essencialmente cumulativa,
conservadora e, por conseguinte, pouca dada à inovação.

O paradigma é muito importante para a prática da ciência normal, a existência de um


paradigma é o que distingue a ciência da não ciência. É o paradigma que dá os suportes
teóricos e práticos gerais da atividade da ciência normal.

Do mesmo modo, o paradigma estabelece as normas necessárias para tornar legítimo o


trabalho dentro dessa ciência e forja a comunidade científica. Por fim, ele é também
fundamental, pois coordena e dirige a atividade de resolver os problemas com que os cientistas
se deparam na fase de ciência normal, fornecendo um critério para escolher aqueles que sejam
solucionáveis. Em boa medida, como diz Kuhn, estes são os únicos problemas que a
comunidade considerará científicos ou merecedores de atenção.

A crise é uma pré-condição necessária para a emergência de novas teorias e paradigmas.


Começam a formar-se quando se dá um acumular de anomalias que, pela sua quantidade e
grau, põem em causa os fundamentos do paradigma. As anomalias levam a um esforço
suplementar, por parte da comunidade científica, para tentar preservar a visão do mundo que
o paradigma lhes garante.

Ciência extraordinária, a crise provocada pela acumulação de anomalias pode originar


alterações na prática científica, entrando-se num período de ciência extraordinária. Aqui, os
cientistas procuram encontrar soluções para as anomalias, uns dentro do paradigma vigente
(ciência normal), outros fora desse modelo (ciência extraordinária). A ciência extraordinária é,
portanto, a prática científica que acontece à margem do paradigma dominante.

Todas as crises terminam, segundo Kuhn, de uma de três maneiras:

- A ciência normal acaba por ser capaz de lidar com o problema que gerou a crise.

- O problema é etiquetado, mas abandonado e deixado para uma geração futura.

- Emerge um novo candidato a paradigma e batalha-se pela sua aceitação.


Revolução científica corresponde a uma mudança profunda nas convicções e no trabalho dos
cientistas. Trata-se de um episódio não cumulativo, no qual a comunidade científica abandona
o caminho até então seguido a favor de outra abordagem da sua disciplina, em geral
incompatível com a anterior, alterando-se a forma como olha para o mundo e pratica ciência.

As grandes mudanças no desenvolvimento científico associadas a nomes como Copérnico,


Newton, Lavoisier ou Einstein são episódios que espelham revoluções científicas. As alterações
revolucionárias de uma dada tradição científica são relativamente raras.

A principal consequência de uma revolução científica é a mudança de paradigma, com tudo o


que isso implica: novas práticas da ciência normal, porque novos serão os problemas e as
soluções avançadas, novos pressupostos, novas teorias, etc. O novo paradigma será muito
diferente do velho e incompatível com ele. No fundo, o que a revolução científica impõe é uma
nova visão do mundo.

Os paradigmas são incomensuráveis entre si, Kuhn pretende dizer que eles não são
comparáveis, nem tão-pouco podem servir de medida um para o outro, pois o novo paradigma
não é melhor do que o anterior, é apenas diferente. Os proponentes de paradigmas rivais
praticam a sua atividade em mundos completamente distintos, discordam sobre a lista de
problemas a resolver e sobre os critérios a adotar e comunicam de forma forçosamente parcial:
termos idênticos ganham novos significados e novos termos são adotados. A nova
representação do real que o novo paradigma traz consigo não se acrescenta à precedente, pelo
contrário, substitui-a. O que antes se via como um coelho passa a ser visto como um pato.
13- Explicar a resposta de Kuhn ao problema da objetividade científica.
Os critérios que Kuhn considera para avaliar uma teoria são de dois tipos: objetivos e
subjetivos. Os critérios objetivos são partilhados por toda a comunidade científica e são os
seguintes: exatidão, consistência, alcance, simplicidade e fecundidade. Os critérios subjetivos,
dada a natureza humana dos cientistas, também existem e devem ser considerados, pois,
perante uma mesma realidade, a interpretação e as convicções podem fazer dois cientistas
trabalharem de maneira diversa e adotarem paradigmas diferentes. Pelo facto de a escolha
entre paradigmas estar sujeita a critérios subjetivos relevantes, não é possível falar em
objetividade em ciência. Esta posição foi alvo de duras críticas, tendo sido frequentemente
classificada como sendo, além do mais, contraditória.

14.- Expor críticas a Kuhn.


Kuhn foi frequentemente acusado de defender uma posição relativista. Kunh rejeitou a crítica,
considerando-a injusta e redutora. Todavia, não há dúvida de que algumas das suas afirmações
a propósito do progresso científico parecem aproximar Kuhn da tentação relativista. Se os
paradigmas são incomensuráveis, se não podemos comparar paradigmas nem concluir que um
é superior ao outro, se não podemos estar certos de que nos aproximamos da verdade, o que
nos resta? Para alguns, apenas o relativismo.

15.- Comparar Popper e Kuhn quanto ao progresso e à objetividade em


ciência.

Temas/Problemas Karl Popper Thomas Khun


Como entende a Processo contínuo Processo descontínuo
ciência?
Como progride a A ciência evolui por conjeturas e A ciência evolui por conjeturas e
ciência? refutações; refutações;
Qualquer conclusão obtida por indução Qualquer conclusão obtida por indução
pode ser sempre revelar-se falsa; pode ser sempre revelar-se falsa;

A melhoria das teorias dá-se por A melhoria das teorias dá-se por
eliminação de erros; eliminação de erros;

Uma teoria é tanto melhor quanto mais Uma teoria é tanto melhor quanto mais
suscetível for de falsificação; suscetível for de falsificação;

O erro é o motor de progresso em O erro é o motor de progresso em ciência;


ciência;
A ciência é uma aproximação sucessiva à
A ciência é uma aproximação sucessiva verdade;
à verdade;
Não temos forma de saber se alguma vez
Não temos forma de saber se alguma alcançaremos a verdade;
vez alcançaremos a verdade;
A verdade é um ideal regulador da ciência;
A verdade é um ideal regulador da
ciência; O conhecimento é possível através de um
método de falsificação de teorias
O conhecimento é possível através de (Falsificacionismo);
um método de falsificação de teorias
(Falsificacionismo);
Elaboração de uma analogia com o
Elaboração de uma analogia com o evolucionismo e a ideia de seleção natural
evolucionismo e a ideia de seleção
natural
As teorias que melhor resistirem ao erro
As teorias que melhor resistirem ao erro são as que se mantêm.
são as que se mantêm.

Será a ciência é Não. Não.


objetiva?
Uma teoria não corresponde à verdade A ciência não é imune à subjetividade;
absoluta;
O consenso entre cientistas e a partilha de
A teoria científica é apenas uma crenças e ideias definem a verdade de uma
conjetura temporária; teoria num determinado período;

Só sobrevive enquanto for corroborada Os cientistas não se libertam da realidade


e resista aos testes de falsificação; criada pelo paradigma;

Uma teoria, mesmo quando Uma mesma realidade pode fazer cientistas
corroborada, deve ser sempre posta à trabalharem de maneira diferente e adotar
prova pela comunidade científica. paradigmas diferentes;

A subjetividade está presente na escolha


dos paradigmas;
Os paradigmas não são comparáveis, só se
substituem e só podemos afirmar que são
distintos um do outro.

O que separa Popper de Kuhn, Popper e Kuhn respondem de forma divergente ao problema do
progresso em ciência.

Popper crê que a eliminação de erros conduz, por aproximação, à verdade. O autor estabelece,
neste ponto, uma analogia com o evolucionismo e a ideia de seleção natural: as teorias que
melhor resistirem ao erro são as que se mantêm. Já para Kuhn, não existe progresso em
ciência, nem por acumulação, nem por eliminação de erros. A transição sucessiva de um
paradigma para outro ocorre por meio de revoluções científicas, nada garantindo que o novo
paradigma seja mais verdadeiro que o anterior. Popper e Kuhn respondem também de forma
relativamente distinta ao problema da objetividade em ciência. Popper crê que a ciência é
objetiva, na medida em que se afasta progressivamente do erro e dado que existe um método
que nos permite comparar teorias e afirmar que a teoria X está mais próxima da verdade do
que a teoria Y. Para Kuhn, embora existam critérios objetivos na escolha de teorias, a ciência
não é imune à subjetividade, já que esta desempenha um papel decisivo na escolha de um
determinado modelo em detrimento de outro.

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