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Popper e o método científico

Uma das características que confere cientificidade ao conhecimento é a utilização de um


método como um conjunto de etapas organizadas para investigar a realidade. Existem
doi modelos de método científico: o indutivo-experimental e o hipotético-dedutivo.

O método experimental parte da observação de casos particulares para chegar a


conclusões gerais e por isso tem na sua base o raciocínio indutivo.

 Observação: recolhe o máximo de informação empírica sobre o fenómeno. Deve ser


rigorosa e imparcial (fora de pressupostos)
 Formulação da hipótese: conjectura baseada na observação e que propõe uma
verdade provisória a partir dos dados recolhidos. É uma antecipação da resposta
 Experimentação: confronto da hipótese com a experiência e que visa confirmar e
verificar a hipótese
 Generalização: a repetição bem-sucedida de testes leva à generalização dos
resultados que tinham sido previstos na hipótese – passa a designar-se por lei
científica.
Popper rejeita o método experimental devido à natureza da observação e ao raciocínio
indutivo não nos poder dar verdades acerca dos factos. A natureza da observação é
contestável, pois a observação nunca é totalmente objectiva e imparcial já que a
subjectividade, as expectativas e as ideologias do cientista influenciam a observação
tornando-a selectiva. Por outro lado, as hipóteses não são mais do que enunciados gerais
que não podem ser confirmados na experiência dos casos particulares. Para além disso,
as hipóteses não são extraídas dos factos: são suposições, produto da cooperação do
raciocínio e da imaginação. As hipóteses são enunciados universais que não podem ser
verificadas na totalidade.
Popper rejeita o método experimental e o seu procedimento verificacionista. Propõe a
utilização do método hipotético-dedutivo cujo procedimento experimental seria o
falsificacionismo em vez do verificacionismo.
As etapas do método são:
- Existência de um facto-problema: lacuna ou problema a explicar
- Formulação da hipótese explicativa: invenção de uma solução coerente que pode ser
confirmada ou rejeitada
- Dedução de consequências da hipótese: deduzir consequências menos gerais que
possam ser testadas, já que a hipótese é um enunciado geral (ex: dois corpos lançados da
mesma altura chegam ao chão ao mesmo tempo. Então, uma bola de chumbo e uma
folha de papel atingirão o chão ao mesmo tempo).
- Experimentação: confronto das consequências deduzidas da hipótese com a
experiência.
- Conclusão: confirmação da hipótese e formulação da teoria científica e caso a hipótese
seja rejeitada, elabora-se uma nova.

Karl Popper foi um defensor do método hipotético-dedutivo e refletiu sobre o papel da


experimentação na validação das hipóteses. O procedimento experimental não poderia
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ser verificacionista, porque as hipóteses são enunciadas gerais impossíveis de
comprovar na experiência e por isso afirmar a verdade de uma hipótese seria uma
falácia da generalização apressada. Para além disso, antes da experimentação, é
necessário deduzir consequências particulares da hipótese, pois são nessas que recairá a
experimentação. Mesmo que as consequências de uma hipótese se verifiquem, não
podemos concluir que a hipótese é verdadeira, pois seria um raciocínio inválido afirmar
a verdade do antecedente através da verdade do consequente (falácia da afirmação do
consequente). Ao contrário, basta negar o consequente (consequências da hipótese),
para sermos logicamente obrigados a concluir a negação do antecedente (hipótese) –
Modus Tollens. Também não é válido considerar que uma hipótese é verdadeira
somente porque não se provou que ela é falsa, pois isso seria cometer a falácia do apelo
à ignorância.
Popper propõe uma alteração de procedimento experimental. A ciência, em vez de
procurar verificar a hipótese, deve tentar falsificá-las.
Popper defende o falsificacionismo como um critério que vem fazer a demarcação entre
teorias científicas e não científicas: uma teoria é científica se for falsificável. Uma vez
que não se pode, de maneira alguma, mostrar a verdade de uma teoria, é preciso
submeter as hipóteses a testes rigorosos onde a possibilidade da hipótese falhar seja
elevada. Se a hipótese não resistir aos testes, então foi falsificada e por isso não e uma
teoria científica. Caso a hipótese resista aos testes de falsificação, então a hipótese diz-
se corroborada, ou seja, ainda não foi falsificada, mas mantém-se, por isso, falsificável.
Por resistir aos testes não podemos dizer que é verdadeira, porque, mais uma vez seria
afirmar a verdade de uma coisa a partir da ausência de prova contrária e isso seria um
apelo falacioso à ignorância.
Uma hipótese corroborada é digna de confiança, porque significa que, ao resistir às
tentativas de falsificação, ela não apresenta erros e por isso é o mais objectiva possível.
No entanto, nada nos garante que não possa vir a tornar-se falsa no futuro.
As melhores hipóteses e teorias científicas são as mais falsificáveis ou com um grau de
falsificabilidade maior e o grau de falsificabilidade de uma hipótese depende do seu
conteúdo empírico (informação sobre o mundo). Quanto maior conteúdo empírico, mais
falsificável e mais científico.

O desenvolvimento científico faz-se por um processo de eliminação do erro e


consequente aproximação à verdade. Não que a verdade possa ser alcançada, mas ela é
um ideal que regula a actividade científica. Assim, o cientista, voluntariamente,
submeteria as suas teorias a testes críticos no sentido de eliminar o erro. As teorias
falsificadas possibilitariam a criação de novas teorias mais objectivas e mais
verdadeiras. As hipóteses corroboradas também, pois ao resistirem aos testes de
falsificação significa que não contêm erros e são, por isso, objectivas. Há uma
continuidade no progresso científico porquanto é uma aproximação à verdade em que há
melhoramento de teorias cada vez mais objectivas. No entanto, há também um elemento
descontinuísta, uma vez que as novas teorias rompem com as anteriores que foram
falsificadas e por isso têm que ser substituídas.

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