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O estatuto do conhecimento científico

Filosofia da ciência: Analisa os conceitos fundamentais e os raciocínios enviados na investigação


científica e discute os problemas metafísicos, epistemológicos, éticos e lógicos que lhes estão
associados.
Problemas da filosofia da ciência:
● Problema da demarcação: “O que distingue as teorias científicas das restantes?”
● Problema do método científico: “Em que consiste o método científico?”
● Problema da evolução científica: “Como progride a ciência?
● Problema da objetividade; “Será a ciência objetiva?”

1- O problema da demarcação
Critério da verificabilidade: Uma teoria só é científica se consiste em afirmações
empiricamente verificáveis (afirmação cujo valor pode ser estabelecido através da observação).

Objeções ao critério da verificabilidade:


● As leis da natureza exprimem-se em frases universais, mas não
é possível estabelecer a verdade das leis da natureza através
da observação → A atitude da verificabilidade leva a aceitar
como científicas teorias que não são científicas. (Exemplo:
Astrologia);
● O critério refuta-se a si próprio, pois não satisfaz os seus
próprios requisitos → Este critério não é verdadeiro por
definição nem verificável empiricamente, portanto, não tem
valor de verdade.

Critério de falsificabilidade (defendido por Karl Popper): Uma teoria só é científica se for
empiricamente falsificável (é possível conceber um teste experimental capaz de mostrar que a teoria é
falsa) e muito informativa. Ou seja, se não podemos conceber uma observação para refutar uma dada
teoria,então ela não é falsificável e, portanto , não é científica.

→ Teoria falsificável≠Teoria falsificada


Para Popper, uma teoria científica não tem de ser falsificada, mas tem de ser falsificável.
Não é falsificável quando a formulação é demasiado imprecisa ou vaga, tornando-se imune à
refutação.
Karl Popper- “Uma teoria que não seja falsificável nada diz sobre o mundo!”
Uma afirmação pode ser mais falsificável que outra, ou seja, existem diferentes graus de
falsificabilidade. Uma afirmação é mais falsificável que outra quando corre maiores riscos de ser
refutada, isto é, quanto mais elevado o grau de falsificabilidade é, maior é o seu grau de informação.

Objeções ao critério da falsificabilidade:


● A falsificabilidade não constitui uma condição necessária
para que para que uma teoria seja científica → Há teorias que
se referem a coisas que não são observáveis (exemplo:
neutrões, protões, etc) ;
● Há falsificações inconclusivas → O insucesso empírico de uma
teoria pode ser atribuído a vários fatores exteriores à
experiência, ou seja, nenhuma teoria pode ser abandonada por
causa de uma única observação que aparentemente a refutou;
● O critério não está de acordo com a prática científica → Os
cientistas trabalham de forma a confirmar as suas teorias
para continuar a sustentá-las mesmo quando as previsões não
se confirmam

2- O problema do método científico


Este problema consiste no método científico e de que forma se caracteriza o caráter metódico
do conhecimento científico. Existem duas respostas a este problema: o indutivismo e o dedutivismo.

Indutivismo: A observação é o ponto de partida e a experimentação é fundamental.


O indutivismo desdobra-se em 3 fases:
● A observação dos fenómenos: o cientista observa os factos e regista-os de forma sistematizada
para encontrar as suas causas (a observação é imparcial e rigorosa);
● Descoberta da relação entre os fenómenos: através da comparação e classificação, o
investigador aproxima os factos para descobrir a relação existente entre eles;
● Generalização da relação: através do raciocínio indutivo, o cientista generaliza a relação que
encontrou entre os fenómenos, traduzindo.as em leis.
Objeções ao indutivismo:
● A observação não é o ponto de partida do método científico →
a observação não é totalmente neutra pois ocorre uma dado
contexto;
● O raciocínio indutivo não confere o rigor lógico necessário
às teorias científicas → obriga um salto do conhecido ao
desconhecido;
● Problema da indução (David Hume) → Não é possível provar
empiricamente a existência de uma relação necessária de causa
e efeito entre os fenómenos, ou seja, a generalização
indutiva não passa de uma expectativa.

Dedutivismo (falsificacionismo): Isto é um método conjetural. A ciência faz-se por um processo


de construção criativa de conjecturas para responder a problemas. A observação não é o ponto de
partida e as teorias não resultam de interferências indutivas. A ciência parte de problemas e as teorias
começam por ser hipóteses que são submetidas a testes rigorosos.
O dedutivismo desdobra-se em 3 fases:
● Formulação da conjectura a partir de um facto-problema
(problema que surge de conflitos decorrentes de teorias
prévias) → o cientista formula uma conjetura que possa
candidatar a explicar o facto-problema em questão;
● Dedução das consequências → formulada a hipótese, deduzem-se
as suas principais consequências;
● Teste ou experimentação → a hipótese é testada através da
experiência e os resultados revelam sucesso ou fracasso.

Uma teoria científica que resistiu à tentativa de refutação pode sempre vir a ser derrubada. É
muito importante confrontar a teoria com experiência para testar a sua resistência.
Para Popper, o teste experimental é a procura de fenómenos que possam invalidar a hipótese.
Uma teoria científica é válida enquanto for resistindo às tentativas de falsificação.

Objeções ao dedutivismo:
● Não é razoável abandonar uma hipótese ou teoria apenas porque foi refutada por um teste
experimental, pois há vários fatores envolvidos na ciência
● O dedutivismo torna irracional a nossa confiança nas teorias científicas. (Exemplo: se os aviões
foram construídos segundo teorias que ainda não foram refutadas mas que podem vir a ser, não
seria razoável andar de avião.)

3- Problema da evolução da ciência


Este problema fala sobre de que forma a ciência evolui e se será que a história da ciência é
linear rumo à verdade ou está repleta de rupturas.

Para essas perguntas existem duas respostas:


- A perspetiva de Popper: a ciência progride (de forma irregular) com rumo à verdade;
- A perspetiva de Kuhn: a ciência progride (de forma descontínua) sem um fim definido.

Perspetiva de Popper:
A ciência progride por aproximação à verdade, mas a verdade última é inalcançável. Uma teoria
é melhor que a anterior se resistir aos testes de falsificabilidade que a outra não resistiu. Ou seja, para
Popper, embora nunca possamos dizer que alcançamos a verdade, podemos saber que certas
conjecturas ou teorias são falsas, o que significa que as teorias atuais têm um grau de verossimilhança
maior do que aquelas que já foram refutadas.
Perspetiva de Kuhn:
A ciência não tem de progredir em direção ao fim previamente estabelecido. Rejeita a ideia de
que a ciência progride em direção à verdade. A história da ciência é simplesmente uma sucessão de
paradigmas.

Paradigma: Estrutura teórica que oferece uma visão do mundo, uma perspectiva e uma forma
específica de fazer ciência numa dada área. Centra-se numa teoria que proporciona problemas e
soluções exemplares a uma certa comunidade de investigadores da comunidade científica.
Etapas do processo pelo qual se passa de um paradigma para outro:
-Ciência normal: fase da atividade científica que ocorre no âmbito de um dado paradigma aceite
pela comunidade científica;
-Anomalias: factos a que o paradigma não consegue responder, que não são vistas como
refutações;
-Crise: tomada de consciência da insuficiência do paradigma vigente para explicar todos os
factos ou anomalias;
-Ciência extraordinária: questionamento dos e fundamentos do paradigma vigente, em que há
um debate sobre a manutenção do paradigma antigo ou a escolha de um paradigma novo;
-Revolução científica: fase de mudança e aceitação de um novo paradigma pela comunidade
científica;
-Novo paradigma: conjuntos de crenças e valores aceites por uma comunidade científica e que
orientam a sua atividade; ou seja, modo de fazer ciência.

Para Kuhn há dois momentos fundamentais de progresso no interior da ciência:


-Ciência normal: a resolução de novos enigmas significa a possibilidade de validar novos
resultados sem pôr em causa as teorias do paradigma vigente;
-Resoluções científicas: ocorrem novas descobertas, que não se ajustam ao paradigma anterior.
A evolução da ciência dá-se pela substituição de teorias por outras que resolvem melhor as
anomalias que vão surgindo.
A mudança de um paradigma para outro não é cumulativa, não se vão acumulando paradigmas
de um para o outro.
A verdade das teorias científicas está sempre dependente do paradigma em que elas se
inserem.
Os paradigmas são incomparáveis e incompatíveis, são formas totalmente diferentes de explicar
fenómenos.
A escolha de um novo paradigma é marcada por fatores de ordem histórica, sociológica e
psicológica.
A escolha entre teorias rivais obedece a critérios objetivos e subjetivos.

Para Kuhn, o progresso científico não é um processo cumulativo de teorias e paradigmas cada
vez em direção a uma meta ou fim. Não podemos dizer que a ciência progride de modo cumulativo e
contínuo. Podemos dizer que, durante a ciência normal, o desenvolvimento da ciência é cumulativo, mas
as revoluções (que resultam na mudança de paradigma) são episódios de desenvolvimento não
cumulativo.
Portanto, as mudanças de paradigma não implicam aproximação à verdade. A verdade não é
uma meta para qual se orienta a ciência, é relativa a cada paradigma.

4-Problema da objetividade da ciência


Este baseia-se na pergunta: Será a ciência inteiramente objetiva ou não? E para essa pergunta
existem 2 respostas: a perspetiva de Popper e a perspetiva de Kuhn.
Perspetiva de Popper: A ciência é inteiramente objetiva, pois cada
teoria científica é avaliada por meio de testes cada vez mais
severos de falsificação. Objeções → se nunca podemos dizer que
alcançamos a verdade, então não podemos confiar na ciência.
Perspetiva de Kuhn: A ciência não é inteiramente objetiva, pois os critérios objetivos de escolha
de teorias são insuficientes, havendo também fatores subjetivos que influenciam a ciência. Objeções: a
ideia de que nos paradigmas são incomensuráveis é implausível, pois é possível advogar que as teorias
científicas atuais são mais rigorosas e exatas que as anteriores.

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