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FILOSOFIA – Capítulo 10

Kant

ILUMINISMO 01
KANT 02
EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO 08
EXERCÍCIOS PROPOSTOS 09
SEÇÃO ENEM 11
FRENTE

Kant A
ILUMINISMO Apesar de ter sua origem como um movimento tipicamente
filosófico de busca da liberdade de pensamento, o Iluminismo
manifestou-se também em outros campos da vida humana,
Kant resume, de forma simples e extraordinária,
como na literatura, na arte e na política. Nesses campos,
o espírito e o objetivo do Iluminismo, na sua magistral obra
o Iluminismo representou a luta do homem contra o abuso
Resposta à pergunta: o que é esclarecimento? (1784), do poder por parte das autoridades, de forma que todo tipo
da seguinte forma: de autoritarismo deveria ser combatido como algo irracional
e, portanto, inaceitável. A razão, para o Iluminismo,
Esclarecimento (Aufklärung) é a saída do homem de sua era mais que uma faculdade humana, era uma força que
menoridade, da qual ele próprio é culpado. A menoridade todos possuiam e que poderia levar o homem à plena
é a incapacidade de fazer uso de seu entendimento sem a liberdade de ser e de pensar. Ao se referir à “menoridade
direção de outro indivíduo. O homem é o próprio culpado da razão”, Kant está dizendo que o homem deve abandonar
dessa menoridade se a causa dela não se encontra na falta qualquer tipo de tutela que o impeça de pensar de forma
de entendimento, mas na falta de decisão e coragem de autônoma e livre, livrando-se da tutela da religião cega,
servir-se de si mesmo sem a direção de outrem. Sapere aude! da subserviência que leva à escravidão do espírito e
(Ousa pensar!) Tem coragem de fazer uso de teu próprio da mente, de forma a desenvolver um pensamento livre.
entendimento, tal é o lema do esclarecimento.
KANT, I. Resposta à pergunta: o que é esclarecimento?. Para este Esclarecimento (Aufklärung) porém nada mais
In: Textos Seletos. Tradução de Floriano de S. Fernandes. se exige senão liberdade. E a mais inofensiva entre tudo
Petrópolis: Vozes, 1974. p. 103. aquilo que se possa chamar liberdade, a saber: a de fazer
uso público de sua razão em todas as questões.
O Iluminismo foi um movimento filosófico do século XVIII, KANT, I. Resposta à pergunta: o que é esclarecimento?
desenvolvido particularmente na França, na Alemanha e In: Textos Seletos. 2. ed. Tradução de Raimundo Vier.
Petrópolis: Vozes, 1985. p. 104.
na Inglaterra, que teve como objetivo retirar o homem da
escuridão da ignorância e levá-lo ao esclarecimento, tornando
Segundo Schopenhauer, filósofo alemão do século XIX,
tudo claro à razão humana. Por isso, esse movimento
o Iluminismo teve por órganon (órgão, instrumento) a luz
recebeu também o nome de Século das Luzes, Ilustração ou
interior, a intuição intelectual, a única que pode libertar
Esclarecimento. O ideal iluminista consistia, assim, em tornar
o homem e fazê-lo construtor de um mundo racional e,
tudo perfeitamente claro e compreensível para o homem,
sobretudo, humano.
de forma que somente ele pudesse ser o grande artífice e
protagonista dessas conquistas. O Iluminismo denunciou É importante ressaltar que, quando o Iluminismo fala da
tudo aquilo que era obscuro, supersticioso e dogmático, razão e de uma busca racional do conhecimento do Universo,
acreditando que a luz da razão crítica deveria romper com ele não está se referindo ao racionalismo enquanto teoria
as amarras da autoridade e da força, transformando o mundo epistemológica, mas sim à característica universal dos
homens que pensam, ou seja, à racionalidade humana.
pelo conhecimento.
A razão, para o Iluminismo, seria o caminho natural ao
qual todos os homens poderiam recorrer, com o intuito de
se libertarem dos grilhões da ignorância, a qual perpetuava
a razão da força e não a força da razão.
Esse movimento filosófico encontrou suas raízes nas
concepções mecanicistas dos séculos XVI e XVII e na
Revolução Científica do século XVII. Essas concepções
mostraram ao homem que a natureza não agia por meio
de uma vontade externa acessível somente a poucos
iluminados, mas que o Universo era um grande mecanismo
que podia ser conhecido por todos. Dessa maneira, pode-se
compreender o papel dos enciclopedistas, que tentavam
O Iluminismo é marcado pela busca da verdade pelos homens, reunir o conhecimento sobre o mundo de forma a torná-lo
os quais devem iluminar as trevas da ignorância. acessível a todos os homens que dele quisessem se aproximar.

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O I l umi n i smo ma n i fe st o u -se , n a e sf e ra s o c i a l , Seus últimos anos de vida foram marcados por dois
no “despotismo esclarecido”. Na esfera das Ciências terríveis acontecimentos. O primeiro foi a perseguição por
e da Filosofia, esse movimento apresentou-se como parte do rei Guilherme II, que, adepto de ideias reacionárias,
uma tentativa de conhecer a natureza com a intenção ordenou que Kant se calasse, ainda que, a essa altura,
de dominá-la e de transformá-la a favor do homem. o filósofo já tivesse reconhecimento internacional. O segundo
No campo da moral e da religião, o Iluminismo atuou como foi a interpretação errada de suas obras, fato contra o qual
instrumento de conhecimento das origens dos dogmas Kant lutou por muito tempo, mas que, por fim, acabou
e das leis que regiam a vida humana, rompendo com toda por vencê-lo.
forma de autoritarismo. Na vida política, o Iluminismo
influenciou a Revolução Francesa de 1789 e os movimentos Kant morreu em 1804, aos 80 anos, cego, sem lucidez

de emancipação no continente americano a partir de 1776. intelectual e sem memória. Sem dúvida, um triste fim

No Brasil, os ideais iluministas tiveram fundamental papel para aquele que ficou conhecido como “o maior filósofo
na Inconfidência Mineira em 1789. Na Alemanha, um dos da Modernidade”.
berços do pensamento iluminista, o movimento recebeu
o nome de Aufklärung, ou Esclarecimento, e teve como
principal representante Immanuel Kant.

KANT
Immanuel Kant nasceu na cidade de Königsberg, hoje
Kaliningrado, Alemanha, em 1724. Membro de uma família
muito simples, recebeu uma educação exemplar que foi
crucial para o desenvolvimento de suas obras. Em um
de seus escritos, Kant lembra com gratidão a educação

Eugène Delacroix
recebida de seus pais, principalmente de sua mãe, por
quem nutria profundo carinho e admiração. Tanto na
escola do pastor F. A. Schultz, local onde estudou por
Os ideais iluministas guiaram grandes movimentos de
certo tempo, quanto em casa, Kant recebeu uma educação
contestação ao Antigo Regime, entre eles a Revolução Francesa
muito severa, marcada pelo rigor religioso protestante,
de 1789.
o que influenciou notadamente sua filosofia moral.

Kant ingressou na Universidade de Königsberg em 1740,


terminando seus estudos em Filosofia em 1747. Esse período A filosofia kantiana
foi de extrema miséria para o filósofo e sua família. Em 1755, É possível dividir o pensamento de Kant em dois períodos:
iniciou o doutorado e tornou-se professor livre-docente na a fase pré-crítica e a fase crítica.
Universidade de Königsberg, assumindo o cargo de professor
efetivo somente em 1770. Seu caráter e personalidade Na fase pré-crítica, a filosofia kantiana tem como

foram características de destaque em sua vida. Todos os característica um racionalismo dogmático, com bases
seus biógrafos afirmam que Kant era um homem íntegro, na tradição cartesiana e, principalmente, com influência
extremamente digno, sistemático, disciplinado, desprendido dos alemães Leibniz e Wolff.
e determinado.
Porém, após a leitura das obras de Hume, que
Os anos que se seguiram à sua entrada como professor desenvolveu um pensamento cético em relação à
efetivo foram muito importantes para a filosofia kantiana. possibilidade de se obter um verdadeiro conhecimento do
De 1770 a 1781, o filósofo não produziu nenhuma obra. mundo, as concepções e certezas que Kant trazia foram
Até então, Kant já havia escrito 17 livros, denominados escritos abaladas, principalmente em relação à forma de conhecer
pré-críticos. A partir de 1781, iniciando a sua fase crítica, o mundo. Kant percebeu que os questionamentos dos
Kant produz suas mais importantes obras, começando com empiristas tinham fundamento e precisavam ser levados em
a Crítica da razão pura (1781), Crítica da razão prática (1788) consideração. O filósofo chegou a afirmar que foi a partir da
e Crítica do juízo (1790), para citar somente algumas. leitura de Hume que ele despertou de seu “sono dogmático”.

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É a partir desse “despertar”, portanto, que sua filosofia 3 – O que posso esperar?
passa à fase crítica, entendendo por crítica a tentativa
Essa questão diz respeito à problemática da esperança,
de superação da dicotomia empirismo-racionalismo que
da religião.
deve ser realizada exatamente pela crítica. Nesse sentido,
a crítica kantiana tinha como último objetivo superar 4 – O que é o homem?
o dogmatismo, buscando, pela investigação, os fundamentos
do conhecimento e da ação. Kant busca responder a essa última pergunta em seu
tratado antropológico, no qual procura compreender
É nesse contexto de crítica que fica clara a ideia kantiana
a natureza do homem e suas possibilidades de
de colocar a razão diante de seu próprio tribunal:
agir e de conhecer. De certo modo, essa última
problemática abarca todas as anteriores, sendo,
Um tribunal que, ao mesmo tempo que assegure suas
portanto, a mais importante.
legítimas aspirações, rechace todas as que sejam infundadas.

Crítica da razão pura


KANT, Immanuel. Crítica da razão pura. 4. ed. Tradução de
Manuela Pinto dos Santos e Alexandre Fradique Morujão Lisboa.
Fundação Calouste Gulbenkian, 1997. A IX.
A Crítica da razão pura, obra fundamental de Kant,
consiste em sua teoria do conhecimento ou Epistemologia.
Ao se propor o desafio da crítica, Kant fez antes de mais
nada um exercício de reflexão, ou seja, a volta do pensamento Nessa obra, o filósofo elabora a filosofia transcendental,
para si mesmo. Assim, para o filósofo, antes de o homem que consiste na teoria sobre as causas da possibilidade do
colocar-se a conhecer o mundo, ele deveria dedicar-se a homem para conhecer o mundo, livrando o entendimento
olhar para dentro de si mesmo e verificar suas possibilidades das falsidades das concepções incorretas acerca da verdade
e limites de conhecer. e levando o homem ao conhecimento verdadeiro e confiável,

FILOSOFIA
o qual não é simples especulação, mas, ao contrário,
Kant define a Filosofia como “a ciência da relação de todo
é aquele que alcança a verdade por meio da Ciência.
o conhecimento e de todo uso da razão com o fim último
da razão humana”.1 Assim, a Filosofia tem como objetivo
responder a quatro questões essenciais, que dizem respeito à Juízos analíticos e juízos sintéticos
vida do homem e ao seu modo de conhecer, correspondendo,
Juízos analíticos ou explicativos: são os juízos lógicos,
cada uma, a uma parte específica da Filosofia:
os quais estão ligados à razão humana e que não produzem
1 – O que posso saber? nenhum conhecimento, apenas reconhecendo alguma
característica no objeto do juízo, e, por isso, são a priori,
Essa pergunta diz respeito diretamente à seguinte
questão: como acontece o conhecimento e como o existindo antes de qualquer experiência daquilo que está
homem pode alcançar a verdade? Esse é o problema sendo analisado.
epistemológico da filosofia kantiana, chamada Um exemplo é a afirmação “um triângulo é uma figura
por ele de metafísica. Para Kant, a metafísica,
de três ângulos”. Essa asserção é universal e necessária e,
temática tratada em sua obra Crítica da razão pura,
portanto, é uma verdade incontestável. Para alcançar tal
é a investigação acerca dos limites e dos caminhos
definição, basta analisar a figura do triângulo. Assim, os
para o conhecimento humano. Buscando solucionar
juízos analíticos nascem da simples análise do objeto,
o problema da possibilidade de se obter o conhecimento,
baseando-se exclusivamente na razão – pensamento
Kant realiza a chamada Nova Revolução Copernicana do
Pensamento, unindo empirismo e racionalismo em uma humano –, sem que seja necessária qualquer interferência
nova teoria do conhecimento, o criticismo, e inaugura, dos sentidos – experiência.
assim, sua fase crítica. Juízos sintéticos ou ampliativos: ao contrário dos juízos
2 – O que devo fazer? analíticos, os juízos sintéticos são construídos depois da
experiência, sendo, portanto, a posteriori. Eles produzem um
Essa pergunta refere-se à temática tratada na obra
conhecimento que está além daquilo que o objeto nos demonstra
Crítica da razão prática. Nela, Kant busca compreender
imediatamente, acrescentando uma informação nova a ele.
quais são os fundamentos que orientam o homem
em suas ações particulares e, assim, definir sua Um exemplo de juízo sintético é a afirmação “todo homem
concepção de moral, que, para ele, baseia-se é um ser político”. Para alcançar tal juízo, é necessário
fundamentalmente na ideia do imperativo categórico. observar a realidade e fazer experiências. Porém, apenas
KANT, Immanuel. Lógica. Tradução de Guido Antônio de Almeida.
1 a observação imediata e instantânea do homem não
Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1997. Cap. III, Ak25. é suficiente para se chegar a tal definição sobre ele.

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O conhecimento produzido por esses juízos, por ser Para exemplificar suas ideias, Kant utilizou-se da imagem
originado de generalizações – que podem ser associações da Revolução Copernicana, dizendo que, da mesma maneira
de ideias e não corresponderem à verdade dos fatos e que o modelo tradicional de cosmos considerava que o Sol
das coisas – não é universal e necessário e, portanto, não girava ao redor da Terra, e Copérnico sugeriu que o movimento
é incontestável. Esses juízos se baseiam nas experiências era inverso, sendo que a Terra é que girava ao redor do Sol,
humanas, nos sentidos, no empirismo. não é o homem que deveria se adaptar ao objeto a ser
conhecido, mas sim o objeto a ser conhecido é que deveria
Percebe-se, assim, a diferenciação entre juízos analíticos
se adaptar às condições que o homem tem de conhecê-lo.
e sintéticos. Enquanto os juízos analíticos são universais
Segundo Kant, sujeito conhecedor e objeto conhecido
e necessários, mas não produzem conhecimento novo,
se relacionam. Não há, portanto, uma predominância do
os juízos sintéticos ampliam o conhecimento, mas criam
sujeito sobre o objeto, como defende o racionalismo, e nem
contestações, já que são contingentes, ou seja, podem
do objeto sobre o sujeito, como defende o empirismo, mas
mudar, e são frutos de generalizações.
é na relação entre os dois que se alcança o conhecimento.
Para Kant, a Ciência baseia-se em um desses dois
Para Kant, as condições das quais o homem lança mão para
juízos, sendo ele insuficiente para se ter um conhecimento
conhecer o mundo são capacidades ou faculdades inerentes
completo sobre o mundo. Por essa razão, o filósofo
à natureza humana e que lhe permitem experimentar
almeja alcançar juízos sintéticos a priori, ou seja,
o objeto e pensar aquilo que experimentou, chegando,
juízos que ampliem o conhecimento, correspondam
portanto, ao conhecimento verdadeiro. Essas faculdades
à realidade, mas que, ao mesmo tempo, sejam universais e
não são subjetivas, não estando, portanto, em um homem
necessários. Esses juízos teriam valor científico e filosófico,
particular, mas fazendo parte da natureza humana. Buscando
sendo indubitáveis, ao mesmo tempo que poderiam
definir quais as condições universais que permitem ao
produzir ideias ou conhecimentos novos sobre o mundo.
homem obter o conhecimento, Kant estabelece, então,
Tais juízos seriam, assim, as condições de possibilidade
a definição de sujeito transcendental, o qual, segundo
de toda e qualquer verdade, independentemente da área
o filósofo, consiste na própria condição humana, comum
na qual eles sejam aplicados. Para que esses juízos sejam
a todos, a qual fornece as condições ou ferramentas
alcançados, Kant considera necessário, portanto, unir razão
que são as causas de possibilidade para a experiência
e experiência, racionalismo e empirismo, em um mesmo e
e o pensamento. A essas condições Kant denomina formas
único conhecimento.
da sensibilidade e formas do entendimento.

A Nova Revolução Copernicana


do Pensamento As formas da sensibilidade
e do entendimento
Para que fosse possível alcançar os juízos sintéticos
a priori, Kant propôs uma Nova Revolução Copernicana Para Kant, o conhecimento nasce do trabalho conjunto
do Pensamento. Para o filósofo, era necessário que entre o entendimento – a razão – e a sensibilidade
a Filosofia, antes de buscar conhecer o mundo, procurasse – os sentidos.
conhecer o homem, buscando descobrir quais são os seus
atributos, características e condições enquanto sujeito
Formas a priori da sensibilidade
conhecedor do mundo, ou seja, quais os aspectos que As formas a priori da sensibilidade chamadas pelo filósofo
permitem ao homem conhecer aquilo que está à sua volta. também de intuições puras, são o tempo e o espaço.
Essas formas não existem como realidades em si mesmas,
Dessa forma, Kant ressalta que a razão, antes de se colocar
assim, não seria possível dizer que o espaço e o tempo
a conhecer o mundo, precisa pensar em si própria, verificando
têm realidades fora do próprio homem, assim como outros
seus limites, instrumentos e possibilidades de conhecer.
objetos do mundo físico. Tais formas existem no homem
Com isso, o filósofo propõe uma mudança radical de
como ferramentas que tornam possíveis as experiências.
perspectiva, segundo a qual o homem deixaria de olhar
para fora de si, para os objetos do mundo, voltando-se Quando percebemos um objeto, por exemplo uma
para dentro de si, para sua própria razão, tentando mesa, e pensamos em determinadas situações – em
compreender quais as condições que ele tem para conhecer, cima da mesa, embaixo, ao lado, antes, depois –, só é
como é possível conhecer e como se dá o seu conhecimento possível fazer tais afirmações porque experimentamos tal
sobre o mundo. objeto, porque temos as condições do tempo e do espaço.

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Outro exemplo: quando observamos uma maçã, só podemos Resolvido esse primeiro problema, surge então a questão
fazê-lo porque a maçã se “encaixa” nas condições que acerca da delimitação daquilo que podemos conhecer do
temos de experimentá-la. Só podemos dizer que a maçã mundo e se é possível conhecer a essência das coisas ou
está longe de mim, é grande ou pequena, é maior que somente aquilo que pode ser experimentado. A resposta
uma uva e menor do que um abacaxi porque temos o tempo para essa questão está na diferença entre o nôumeno
e o espaço como formas que nos permitem percebê-la. e o fenômeno, discutidos a seguir.
Assim, os objetos adaptam-se nessas formas – tempo e
espaço – e só assim posso experimentá-los, logo, sem
tempo e espaço, o homem não poderia experimentar
absolutamente nada.

Formas a priori do entendimento


As formas a priori do entendimento, o qual consiste na
capacidade do intelecto humano de julgar, são também
chamadas por Kant de categorias. Estas são ferramentas
das quais o homem dispõe para pensar aquilo que foi
experimentado, ou seja, são as diversas formas que o
homem tem para alcançar o conhecimento sobre o mundo.
As categorias, juntamente com o tempo e com o espaço,
constituem o sujeito transcendental.

FILOSOFIA
Kant apresenta 12 categorias:

• Quanto à quantidade: unidade, pluralidade


e totalidade.

• Quanto à qualidade: realidade, negação e limitação.

• Quanto à relação: inerência e acidente (substância


e acidente), causalidade e dependência (causa e efeito), Capa da obra Crítica da razão pura, que figura entre as mais
reciprocidade (ação recíproca entre agente e paciente) importantes obras de Kant.

• Quanto à modalidade: possibilidade – impossibilidade,


existência – inexistência, necessidade – contingência.
Nôumeno e fenômeno
Para Kant, o homem só pode ter experiências sensíveis
As categorias consistem nos modos de funcionamento
devido ao tempo e ao espaço, e, uma vez tidas essas
do pensamento; são as leis do intelecto às quais as
experiências, ele é capaz, por meio das categorias
coisas que foram experimentadas devem se submeter.
do pensamento, de criar conexões com aquilo que
O homem ordena as coisas e determina-as de acordo com
foi experimentado. O conhecimento é resultado,
as categorias, que funcionam como ferramentas com as
quais o homem pensa aquilo que os sentidos trazem como portanto, da ação ocorrida entre experiência (empírico)

informações sensitivas. Assim, através das categorias, e razão (racional).

é possível criar relações entre tais informações, chegando, A essa teoria do conhecimento, na qual há uma
então, ao conhecimento (juízo). interdependência entre experiência e razão, chama-se
Ao definir as formas a priori da sensibilidade e as formas criticismo kantiano. Essa nova epistemologia é uma síntese
a priori do entendimento, Kant buscou tornar possível entre empirismo e racionalismo, pois, segundo Kant,
a formulação de juízos sintéticos a priori. Para o filósofo, o conhecimento começa com a experiência e termina
se o homem tem em si as faculdades de tempo e de espaço com a razão, sendo que a ação de uma sem a outra não
que lhe permitem processar os dados dessa experiência, permite ao homem chegar a um conhecimento verdadeiro
dados estes pensados pelas categorias – lembrando que do mundo. Logo, se o conhecimento depende da experiência
tanto tempo e espaço quanto as categorias fazem parte da e da razão, então aquilo que não pode ser experimentado
natureza de todos os homens –, é possível, então, alcançar não pode ser conhecido, e, com isso, tudo aquilo que não
verdades que ampliem o conhecimento humano e ao mesmo pode ser acessado pelos cinco sentidos não pode ser objeto
tempo sejam universais e necessárias. do conhecimento verdadeiro.

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Fenômeno: são as características do ser que podem tentando compreender, por exemplo, Deus, a imortalidade
ser percebidas pelos sentidos. Não é possível ao homem da alma ou a liberdade humana, criam-se antinomias
conhecer nada além do fenômeno (aquilo que aparece) (anti-nomía: contradição das leis, conflito entre as leis).
de determinada coisa, o qual pode ser experimentado a Estas são “verdades” passíveis de serem defendidas e
partir das formas do tempo e do espaço para, depois, ser ao mesmo tempo refutadas por argumentos igualmente
pensado pelas categorias. Para Kant, só há ciência verdadeira robustos, constituindo-se, assim, um uso ilegítimo da razão.
(conhecimento universal e necessário) no fenômeno.
Um bom exemplo de antinomia é a discussão acerca da
Nôumeno: consiste na realidade última do ser, ou seja, existência ou não de Deus. É possível defender tanto que
é a ideia imaterial de uma coisa, aquilo que ela é em si
Deus existe e é a causa necessária do Universo quanto que
mesma e que ultrapassa a sua materialidade ou aparência,
ele não existe, no entanto, não é possível determinar quem
não podendo ser experimentado, mas somente pensado.
esteja de fato certo sobre esse assunto. Porém, não poder
O nôumeno é a essência, é aquilo que é dado ao pensamento
determinar alguma verdade sobre a existência de Deus,
puro sem qualquer relação com a experiência. Como, para
a imortalidade da alma ou a liberdade do homem não
Kant, se algo não pode ser experimentado, não pode ser
significa que tais coisas não existam ou que não tenham
conhecido, o homem, por não ter acesso a essa realidade
papel na vida humana. Se elas não encontram espaço na
pelos sentidos, não pode, portanto, conhecê-la.
Crítica da razão pura, em que Kant se dedica a discutir como
Para Kant, o que se conhece do ser é o que aparece o homem alcança o conhecimento verdadeiro, essas ideias
dele aos nossos sentidos. Dessa forma, a ideia de que encontram um papel essencial na Crítica da razão prática,
é possível conhecer o ser em si mesmo, a sua essência
em que Kant reflete sobre as ações humanas.
última e imutável, não condiz com a filosofia kantiana.
Para o filósofo, a metafísica, a busca de um conhecimento
das coisas que estão além da aparência e daquilo que A moral kantiana
pode ser experimentado, não é legítima. Se o nôumeno A metafísica kantiana, além de ter se preocupado com
é o objeto da metafísica e ele não pode ser alcançado a possibilidade de o sujeito conhecer o mundo, ocupou-se
ou conhecido, logo a metafísica não é possível enquanto também do campo prático da moral humana, buscando
conhecimento. Porém, ainda que a metafísica não possa responder à seguinte pergunta: como o homem pode agir
ser conhecida, impossibilitando, assim, um conhecimento
com liberdade?
universal e necessário do nôumeno, o filósofo considera que
ela pode ser pensada. Para Kant, o mundo exterior ao homem constitui o campo
da necessidade, pois todas as coisas da natureza seguem

A metafísica kantiana leis naturais de causalidade, estando inseridas em relações


de causa e efeito. O homem, ao contrário, enquanto um ser
Segundo Kant, a metafísica consistiu em uma insensatez de vontade, tem liberdade para fazer suas escolhas de acordo
dogmática, por tentar conhecer aquilo que é impossível com os fins que deseja alcançar, não sendo determinado por
ser conhecido, escapando de toda possibilidade de leis naturais ou instintivas que guiam suas ações.
conhecimento humano, uma vez que o homem não dispõe
de ferramentas para conhecer aquilo que não pode ser Segundo Kant, no campo da razão teórica, as possibilidades
experimentado. No entanto, isso não significa que a naturais humanas (formas da sensibilidade e do entendimento)
metafísica não exista. Para Kant, a verdadeira Metafísica limitam seu conhecimento da natureza. O homem não é,
não deveria buscar conhecer o nôumeno, a coisa em então, realmente livre nesse terreno. Contudo, no campo
si mesma, o “ser enquanto ser”, mas sim buscar conhecer da ação moral, o homem pode agir guiado pela razão
o homem, debruçando-se sobre o sujeito conhecedor para absolutamente livre de qualquer determinação natural.
compreender como o conhecimento acontece.
Kant trabalha essa problemática moral em suas obras
A metafísica teria, para Kant, o objetivo de estudar as Fundamentação da metafísica dos costumes (1785), Crítica
maneiras como o sujeito encontra o conhecimento; logo, da razão prática (1788) e Metafísica dos costumes (1797).
seus objetos de estudo são as condições de possibilidade Nelas, o filósofo procura compreender como a ação humana
do conhecimento e da experiência humana, preocupando-se pode ser verdadeiramente livre, sendo uma ação por
com as condições a priori do sujeito conhecedor de “dever”. Por “dever”, Kant compreende a ação ética que deve
experimentar e pensar o que foi experimentado. guiar-se única e exclusivamente pela racionalidade
Todas as vezes que o homem atreve-se a tentar alcançar humana, a qual busca princípios ou valores racionais que
verdades sobre aquilo que não pode ser experimentado, fundamentarão a ação, livrando-se de todo e qualquer desejo
ou seja, quando ele se envereda pela metafísica tradicional subjetivo que possa desvirtuar a ação correta.

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A razão nos leva a concluir que não. Se todos os homens
Tudo na natureza age segundo leis. Só um ser racional
do mundo tomassem a mentira como um princípio, o mundo
tem a capacidade de agir segundo a representação das
tornaria-se caótico, uma vez que não haveria mais confiança
leis, isto é, segundo princípios, ou: só ele tem uma
vontade. Como para derivar as ações das leis é necessária entre os homens. Logo, se a razão nos levou a concluir que
a razão, a vontade não é outra coisa senão razão prática. a mentira não pode ser utilizada como princípio da ação,
Se a razão determina infalivelmente a vontade, as ações o homem não deve mentir, nem mesmo para não magoar
de um tal ser, que são conhecidas como objetivamente alguém, uma vez que, se fossem admitidas exceções,
necessárias, são também subjetivamente necessárias, os homens agiriam sempre por interesses próprios,
isto é, a vontade é a faculdade de escolher só aquilo que atendendo ou não ao princípio moral racional de acordo com
a razão, independentemente da inclinação, reconhece seus interesses particulares.
como praticamente necessário, quer dizer bom.
KANT, Immanuel. Fundamentação da metafísica [...] uma pessoa vê-se forçada pela necessidade a pedir
dos costumes. Tradução de Paulo Quintela.
dinheiro emprestado. Sabe muito bem que não poderá
Lisboa: Edições 70, 1995. p. 47.
pagar, mas vê também que não lhe emprestarão nada se
não prometer firmemente pagar em prazo determinado.
Sendo o homem um ser racional, ele deve utilizar sua
Sente a tentação de fazer a promessa; mas tem ainda
racionalidade para buscar os princípios que serão a base
consciência bastante para perguntar a si mesma:
da ação e nada mais. Esses princípios estão acima de
toda e qualquer particularidade, devendo servir a todos Não é proibido e contrário ao dever livrar-se de apuros desta

os homens sem exceção, uma vez que a racionalidade maneira? Admitindo que se decida a fazê-lo, a sua máxima
humana d etermin ará o s mesmo s princípios p ara de ação seria: Quando julgo estar em apuros de dinheiro,
todos eles. Essa é a ética do dever que, em sua natureza, vou pedi-lo emprestado e prometo pagá-lo, embora saiba
é tanto prescritiva quanto normativa: a ação correta que tal nunca sucederá.

FILOSOFIA
é determinada pela razão e o homem deve segui-la. KANT, Immanuel. Fundamentação da metafísica
Não há circunstâncias pessoais ou relativismo moral que dos costumes. Tradução de Paulo Quintela.
diga que o homem deva agir de outra forma. São Paulo: Abril Cultural, 1980. p. 130.

Assim, para Kant, o homem é essencialmente livre porque


Kant, ao propor o imperativo categórico, não afirmou o que
é racional. Enquanto todos os outros seres seguem leis
determinadas pela sua própria natureza, o homem é o único deveria ou não ser feito, fornecendo somente o caminho
capaz de tomar decisões utilizando sua razão. A moral é, racional que deveria ser utilizado para alcançar o princípio
portanto, independente do mundo natural. universal. Se qualquer homem, de qualquer cultura e
em qualquer situação, aplicar o imperativo categórico,
Kant afirma que existem princípios a priori de moralidade,
ele chegará à mesma conclusão de todos os outros homens
o que significa que o homem não precisa experimentar certa
do mundo. Isso consiste no que Kant chamou de ação
coisa ou viver uma situação concreta para saber o que deve
ou não fazer. Utilizando sua razão, o homem é capaz de por dever, uma ação que não admite exceções e que não
encontrar os princípios morais que devem ser colocados em leva em consideração necessidades, apetites, interesses,
prática. Para encontrar esses princípios, o homem deve partir desejos ou circunstâncias pessoais. A razão ordenou por
de outro, em uma espécie de “fórmula” racional que Kant meio do imperativo categórico e o homem deve sempre
denomina imperativo categórico ou imperativo absoluto. obedecê-la, ainda que as consequências dessa ação lhe
sejam ruins. A lei moral é universal, invariável, insubstituível
O imperativo categórico é portanto, só um único, que é este: e determinante das ações. Essa liberdade de qualquer
Age apenas segundo uma máxima tal que possas ao mesmo determinação, exceto a razão para a escolha da ação
tempo querer que ela se torne lei universal. humana, foi chamada por Kant de vontade autônoma.
KANT, Immanuel. Fundamentação da metafísica
dos costumes. Tradução de Paulo Quintela.
Quando a vontade é autônoma, ela pode ser vista como
Lisboa: Edições 70, 1995. p. 59.
outorgando a si mesma a lei, pois, querendo o imperativo
categórico, ela é puramente racional e não dependente
Diante de qualquer questão moral, o homem, utilizando-se
de qualquer desejo ou inclinação exterior à razão. [...]
do imperativo categórico, chegará inevitavelmente
Na medida em que sou autônomo, legislo para mim mesmo
à resposta do princípio que deve guiar sua ação. Por
exatamente a mesma lei que todo outro ser racional
exemplo, ao perguntar: o homem deve mentir para
autônomo legisla para si.
não magoar alguma pessoa? O sujeito, aplicando
o imperativo categórico, deve pensar o seguinte: será WALKER, Ralph. Kant: Kant e a lei moral.
que mentir pode tornar-se uma lei moral universal, ou Tradução de Oswaldo Giacóia Júnior.
seja, será que todos os homens do mundo podem mentir? São Paulo: Unesp, 1999. p. 41.

Pág 07
Há uma diferença fundamental entre ação por dever e ação Para Kant, o homem só é realmente feliz e livre quando
correta. O homem pode agir corretamente, sem, no entanto, segue sua razão e, por conseguinte, a lei moral determinada
a ação ser por dever. Se a ação correta é realizada porque pelo imperativo categórico. A razão é o que separa o homem
do mundo natural e é o que nos diferencia dos animais,
o sujeito tem interesses próprios, ele então ganhará alguma
os quais seguem determinações naturais. Se a razão
vantagem, será bem visto pelos outros homens, tendo
determina um princípio moral, o homem deve segui-lo.
agido corretamente, mas não por dever. A ação por dever Se, pelo contrário, o homem nega esse princípio racional
é totalmente desinteressada, não havendo nela qualquer e decide agir de acordo com seus desejos e necessidades
influência a não ser a da simples racionalidade, a qual particulares, ele está abandonando aquilo que o diferencia
determina que o sujeito deva agir de determinada maneira. dos outros seres, perdendo, assim, sua própria dignidade.

É na verdade conforme ao dever que o merceeiro não


suba os preços ao comprador inexperiente, e quando
o movimento do negócio é grande, o comerciante esperto
também não faz semelhante coisa, mas mantém um preço
fixo geral para toda a gente, de forma que uma criança pode
comprar em sua casa tão bem como qualquer outra pessoa.
É-se, pois, servido honradamente; mas isto ainda não
é bastante para acreditar que o comerciante tenha assim
procedido por dever e princípios de honradez; o seu interesse
assim o exigia; mas não é de aceitar que ele, além disso,
tenha tido uma inclinação imediata para os seus fregueses,
de maneira a não fazer, por amor deles, preço mais vantajoso
a um do que outro.
KANT, Immanuel. Fundamentação da metafísica
Túmulo de Kant, onde estão escritas as seguintes palavras:
dos costumes. Tradução de Paulo Quintela.
“Duas coisas enchem o ânimo de admiração e veneração sempre
São Paulo: Abril Cultural, 1980. p. 112. nova e crescente, quanto mais frequente e persistentemente
a reflexão ocupa-se com elas: o céu estrelado acima de mim
Para Kant, a ação digna é apenas aquela que ocorre por e a lei moral dentro de mim.”
dever. Veja o fragmento a seguir, em que o filósofo discorre
acerca desse caráter digno da ação.
EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO
No Reino dos fins, tudo tem um preço ou uma dignidade.
Quando uma coisa tem um preço, pode-se pôr em vez 01. Ser caritativo quando se pode sê-lo é um dever, e há além
dela qualquer outra como equivalente; mas quando uma disso muitas almas de disposição tão compassivas
coisa está acima de todo o preço, e portanto não permite que, mesmo sem nenhum outro motivo de vaidade
equivalente, então tem ela dignidade. O que se relaciona com ou interesse, acham íntimo prazer em espalhar alegria
à sua volta, e se podem alegrar com o contentamento
as inclinações e necessidades gerais do homem tem um preço
dos outros, enquanto este é obra sua. Eu afirmo,
venal; aquilo que, mesmo sem pressupor uma necessidade,
porém, que, neste caso, uma tal ação, por conforme
é conforme a um certo gosto, isto é a uma satisfação no ao dever, por amável que ela seja, não tem contudo
jogo livre e sem finalidade das nossas faculdades anímicas, nenhum verdadeiro valor moral, mas vai emparelhar
tem um preço de afeição ou de sentimento; aquilo porém com outras inclinações, por exemplo o amor das
que constitui a condição só graças à qual qualquer coisa honras que, quando por feliz acaso, topa aquilo que
pode ser um fim em si mesma, não tem somente um efetivamente é de interesse geral e conforme ao dever,
é conseqüentemente honroso e merece louvor e estímulo,
valor relativo, isto é um preço, mas um valor íntimo, isto é
mas não estima; pois à sua máxima falta o conteúdo
dignidade. Ora a moralidade é a única condição que pode
moral que manda que tais ações se pratiquem não por
fazer de um ser racional um fim em si mesmo, pois só por
inclinação, mas por dever.
ela lhe é possível ser membro legislador no reino dos fins.
KANT, Immanuel. Fundamentação da metafísica
Portanto a moralidade e a humanidade enquanto capaz dos costumes. Tradução de Paulo Quintela.
de moralidade, são as únicas coisas que têm dignidade. São Paulo: Abril Cultural, 1980. p. 113.
KANT, Immanuel. Fundamentação da metafísica
De acordo com a moral kantiana, REDIJA um texto
dos costumes. Tradução de Paulo Quintela.
explicando por que uma ação por dever não pode ter
Lisboa: Edições 70, 1988. p. 77.
qualquer influência que não seja a da razão.

Pág 08
02. É, pois, difícil para cada homem em particular conseguir isto é um preço, mas um valor íntimo, isto é dignidade.
livrar-se desta menoridade tornada quase uma natureza. Ora a moralidade é a única condição que pode fazer
de um ser racional um fim em si mesmo, pois só por ela
Mas que um público se esclareça a si mesmo, isso é bem
lhe é possível ser membro legislador no reino dos fins.
mais possível e, mais, se é deixado em liberdade, então
Portanto a moralidade e a humanidade enquanto capaz
é quase inevitável. de moralidade, são as únicas coisas que têm dignidade.
KANT, Immanuel. Resposta à pergunta: KANT, Immanuel. Fundamentação da metafísica
que é esclarecimento? In: Textos Seletos. dos costumes. Tradução de Paulo Quintela.
2. ed. Tradução de Raimundo Vier. Lisboa: Edições 70, 1988. p. 77.

Petrópolis: Vozes, 1985. De acordo com o texto e com outros conhecimentos

REDIJA um texto explicando por que, segundo Kant, sobre o assunto, REDIJA um texto diferenciando a noção
de preço e de dignidade das ações que tendem a um fim.
o esclarecimento é consequência da liberdade.

02. (UFMG–2008)
03. É na verdade conforme ao dever que o merceeiro não
suba os preços ao comprador inexperiente, e quando o Leia estes quadrinhos:

movimento do negócio é grande, o comerciante esperto


também não faz semelhante coisa, mas mantém um preço
fixo geral para toda a gente, de forma que uma criança
pode comprar em sua casa tão bem como qualquer outra
pessoa. É-se, pois, servido honradamente; mas isto ainda
não é bastante para acreditar que o comerciante tenha

FILOSOFIA
assim procedido por dever e princípios de honradez; o seu
interesse assim o exigia; mas não é de aceitar que ele,
além disso, tenha tido uma inclinação imediata para os
seus fregueses, de maneira a não fazer, por amor deles,
preço mais vantajoso a um do que outro.
KANT, Immanuel. Fundamentação da metafísica
dos costumes. Tradução de Paulo Quintela.
São Paulo: Abril Cultural, 1980. p. 112.

De acordo com o trecho anterior e com outros


conhecimentos sobre o assunto, REDIJA um texto
explicando por que uma ação por dever deve prescindir
de interesses pessoais.

EXERCÍCIOS PROPOSTOS
01. No Reino dos fins, tudo tem um preço ou uma dignidade. WATTERSON, Bill. A vingança da babá.
Quando uma coisa tem um preço, pode-se pôr em vez Editora Best News, 1997. v. I. p. 78.
dela qualquer outra como equivalente; mas quando Kant estabelece que as ações das pessoas, para serem
uma coisa está acima de todo o preço, e portanto não realmente éticas, devem pautar-se no seguinte princípio,
permite equivalente, então tem ela dignidade. O que se denominado imperativo categórico:
relaciona com as inclinações e necessidades gerais do Age apenas segundo uma máxima tal que possas
homem tem um preço venal; aquilo que, mesmo sem ao mesmo tempo querer que ela se torne lei universal.
pressupor uma necessidade, é conforme a um certo KANT, Immanuel. Fundamentação da metafísica
gosto, isto é a uma satisfação no jogo livre e sem dos costumes. Tradução de Paulo Quintela.
finalidade das nossas faculdades anímicas, tem um preço São Paulo: Abril Cultural, 1974. p. 224.

de afeição ou de sentimento; aquilo porém que constitui REDIJA um texto relacionando as declarações do garoto
a condição só graças à qual qualquer coisa pode ser um Calvin ao imperativo categórico kantiano. JUSTIFIQUE
fim em si mesma, não tem somente um valor relativo, sua resposta.

Pág 09
03. O imperativo categórico é portanto só um único, A partir da leitura desses trechos e de outras ideias
que é este: Age apenas segundo uma máxima tal presentes nessa obra de Kant, REDIJA um texto
que possas ao mesmo tempo querer que ela se torne justificando por que, para o autor, a saída da menoridade
lei universal. é difícil para os homens na esfera privada e bem mais
KANT, Immanuel. Fundamentação da metafísica possível para os homens como membros de uma
dos costumes. Tradução de Paulo Quintela. comunidade total.
Lisboa: Edições 70, 1995. p. 59.

REDIJA um texto explicando a relação entre dever 07. Um rapaz de 23 anos, cozinheiro de uma empresa
e razão, segundo Kant. terceirizada do restaurante da Infraero em São Paulo,
havia sido preso por “roubar” três coxas de frango
04. Tudo na natureza age segundo leis. Só um ser racional do restaurante onde trabalhava. Detalhe: o alimento
tem a capacidade de agir segundo a representação iria para o lixo, e o rapaz, que tem em sua ficha bons
das leis, isto é, segundo princípios, ou: só ele tem
antecedentes, foi preso acusado de furto. Agora me
uma vontade. Como para derivar as ações das
respondam: neste país então é permitido fraudar
leis é necessária a razão, a vontade não é outra
a previdência, como a tal Georgina fez, praticar as
coisa senão razão prática. Se a razão determina
falcatruas como faz o Renan Calheiros, superfaturar
infalivelmente a vontade, as ações de um tal ser,
obras como o Maluf, assassinar covardemente como
que são conhecidas como objetivamente necessárias,
fez o Pimenta Neves. Como tantos Lalaus, Suzanes,
são também subjetivamente necessárias, isto é,
universitárias “filhinhas de papai” que participam de
a vontade é a faculdade de escolher só aquilo que
roubos e sequestros ficam impunes? Dá pra ver que
a razão independentemente da inclinação, reconhece
neste país quem rouba um pote de manteiga, uma
como praticamente necessário, quer dizer bom.
coxinha, um leite para dar ao filho comete crime
KANT, Immanuel. Fundamentação da metafísica
inafiançável. Agora, quem sangra os cofres públicos
dos costumes. Tradução de Paulo Quintela.
Lisboa: Edições 70, 1995. p. 47. goza de um bem-estar enorme. O que acham disto?

Disponível em: <http://br.answers.yahoo.com/question/


A partir do trecho anterior, REDIJA um texto respondendo
index?qid=20070821105600AATLjr3>.
à seguinte questão: a razão realmente determina
Acesso em: 15 maio 2010 (Adaptação).
infalivelmente a vontade?
O texto anterior parece justificar as ações humanas
05. De acordo com Kant, o ato de conhecer é efetuado por pela sua gravidade ou potencialidade de lesar
meio da relação entre sujeito e objeto, em que se fixam mais. De acordo com o estudado sobre a ética
dois pressupostos fundamentais. Por um lado, objetos que kantiana como o trecho anterior, REDIJA um texto
possam ser percebidos; por outro, o sujeito que assimila posicionando-se contra ou a favor do conceito
a representação dos objetos. de dever para Kant.
De acordo com a epistemologia kantiana, REDIJA um
texto explicando a Nova Revolução do Pensamento
08. A razão humana, num determinado domínio dos seus
operada por Kant.
conhecimentos, possui o singular destino de se ver

06. (UFMG–2004) atormentada por questões, que não pode evitar, pois
lhe são impostas pela sua natureza, mas às quais
Leia estes trechos:
também não pode dar respostas por ultrapassarem
É, pois, difícil para cada homem em particular conseguir
completamente as suas possibilidades.
livrar-se desta menoridade tornada quase uma natureza.
KANT, Immanuel. Crítica da razão pura (Prefácio
Mas que um público se esclareça a si mesmo, isso
da primeira edição, 1781). Tradução de Manuela Pinto
é bem mais possível e, mais, se é deixado em liberdade,
dos Santos e Alexandre Fradique Morujão. Lisboa:
então é quase inevitável.
Fundação Calouste Gulbenkian, 1994. p. 3.
KANT, Immanuel. Resposta à pergunta:
que é ilustração? In: Textos Seletos.
Segundo a teoria do conhecimento de Kant, quais

Tradução de Floriano de S. Fernandes. as questões impostas pela natureza humana que não
Petrópolis: Vozes, 1974. podem ser respondidas? JUSTIFIQUE sua resposta.

Pág 10
SEÇÃO ENEM
02. Por esclarecimento, entende-se a atitude
humana de sair da menoridade da razão
01. Esclarecimento (Aufklãrung) é a saída do homem
e ir para a maioridade da razão, processo
de sua menoridade, da qual ele próprio é culpado.
pelo qual o homem pode pensar por
A menoridade é a incapacidade de fazer uso de seu
si mesmo, sem tutela de outrem, para
entendimento sem a direção de outro indivíduo.
alcançar a autonomia sobre suas ações
O homem é o próprio culpado dessa menoridade se a
e pensamentos. De forma mais simples:
causa dela não se encontra na falta de entendimento,
seria a saída do senso comum rumo ao
mas na falta de decisão e coragem de servir-se de
si mesmo sem a direção de outrem. Sapere aude! pensamento crítico e individual sobre as

(Ousa pensar!) Tem coragem de fazer uso de teu próprio ideias e atitudes humanas. Kant afirma,

entendimento, tal é o lema do esclarecimento. em seu texto “Resposta à pergunta: o que

KANT, Immanuel. Resposta à pergunta: o que é esclarecimento?. é esclarecimento?”, que, para o homem sair
In: Textos Seletos. Tradução de Floriano de S. Fernandes. de sua condição de tutelado, de menoridade
Petrópolis: Vozes, 1974. p. 103.
da razão, uma única coisa é necessária:
Em seu texto “Resposta à pergunta: o que é esclarecimento?”, a liberdade. Ele afirma também que
Kant utiliza o termo “menoridade” para se referir à condição tal libertação do senso comum é quase
daqueles que se submetem ao poder de outros. Nesse inevitável se um povo é livre, pois
sentido, podemos compreender essa menoridade como a liberdade do pensamento se manifesta na

FILOSOFIA
A) a falta de coragem dos homens que se acostumam possibilidade da crítica e, consequentemente,
à vida e não buscam melhorar de condição.
na reavaliação daquilo que até então
B) a atitude do indivíduo que tenta tornar-se diretor
constituía os valores e ideias dos homens
e guia de outros indivíduos que a ele recorrem.
particulares.
C) a situação daqueles que se deixam guiar por outras
pessoas e abrem mão de ter ideias próprias.
03. A ação por dever é aquela que não tem
D) a coragem do homem de ousar pensar sem a direção
nenhuma outra fonte a não ser a razão
de ninguém, desprezando as outras pessoas.
humana. O imperativo categórico determina
E) o desprezo pela ajuda de outras pessoas na direção
da própria vida, pois estas sempre atrapalharão. o que é certo, e tal determinação tem
força de lei, sendo, portanto, uma ação
por dever. Dois homens podem agir

GABARITO exatamente
que um age
da
por
mesma
dever
forma,
e outro
sendo
não.

Fixação As motivações internas, os desejos e


os interesses desfiguram a ação por
01. Kant propõe em sua filosofia um princípio
dever, pois, segundo Kant, quando
moral denominado imperativo categórico.
se age, deve-se agir tão-somente a partir
Por esse princípio, o homem racional pode
das premissas determinadas pela razão.
encontrar princípios morais a priori, que
Dessa forma, os interesses pessoais não
devem, em toda ocasião e independentemente
podem influenciar na decisão humana
das circunstâncias, guiar as ações humanas.
de agir conforme o dever, pois, mesmo
Dessa forma, a ação por dever não pode ser
influenciada por nenhum interesse particular, que o merceeiro da citação da questão

por menor que seja, pois perderia, então, a vendesse para todos as mesmas

sua dignidade. A ação correta é aquela que mercadorias pelo mesmo preço, se o faz
obedece exclusivamente à razão que alcançou com interesses pessoais de ser considerado,
o princípio, a lei moral, fazendo dela o princípio por exemplo, honesto, tal motivação
absoluto de toda e qualquer ação. desfigura a ação por dever.

Editora Bernoulli
37

Pág 11
Propostos Portanto, a ação por dever, que deve ser
totalmente desinteressada e livre de fatores
01. O argumento kantiano considera o valor externos à própria razão, só é de fato por dever
das coisas e a dignidade delas. Se, quando se for produto da razão livre que pensa a partir
uma ação é realizada, ela puder ser avaliada do imperativo categórico.
quanto ao seu valor, essa ação não é digna,
04. Resposta subjetiva (espera-se que o aluno seja
já que, para o filósofo, ação digna é aquela
capaz de posicionar-se argumentativamente
que dispensa qualquer avaliação externa para
contra ou a favor dessa ideia.)
ser cumprida. Portanto, uma ação que pode
ser valorada o é a partir de seu resultado. Segundo Kant, a razão tem o poder de
Ao contrário, uma ação digna o é por si mesma, determinar, pelo imperativo categórico, o
pois não espera absolutamente nenhuma que deve ser feito. Para o filósofo, as ações
valoração de quem quer que seja. As ações humanas devem refletir a racionalidade, uma
humanas devem estar no reino da dignidade vez que correto é tudo aquilo que corresponde
e não no do valor. Se estiverem no reino da à capacidade racional humana, e não aos
valoração, elas serão realizadas ou não com apetites ou inclinações.
fins a uma avaliação externa interessada.
A favor: Concordo com o pensamento
Ao contrário, se estiverem no reino da
kantiano e argumento a favor de que a
dignidade, elas não necessitarão de qualquer
razão deve ser, por si, a legisladora da
valoração, mas serão realizadas por si mesmas,
moral humana. Se o que nos diferencia
de forma completamente desinteressada,
constituindo, portanto, ações por dever. fundamentalmente dos animais irracionais é a
nossa capacidade de nos autodeterminarmos
02. Segundo a posição kantiana, toda ação se faz
com o uso da razão, seria um retrocesso
a partir do imperativo categórico, que consiste
admitirmos que a razão não deve preceder
na máxima de que o indivíduo age para toda
as ações, uma vez que o homem pode
a humanidade em todo o tempo, tendo como
base que a sua ação se torne lei universal. controlar seus desejos e impulsos imediatos

Ao analisarmos as declarações do garoto por sua capacidade racional. Ser dono de si

Calvin, notamos que elas vão contra a posição mesmo significa, em última instância, não
defendida por Kant, pois partem de uma ação ser escravo dos instintos ou pulsões e
de característica individual para o universal: poder controlar tais desejos, tornando-se
“Então eu vou fazer o que eu tiver de fazer, verdadeiramente autônomo.
e deixar os outros discutirem se é certo ou não”. Contra: Dizer que a razão é importante
De acordo com Kant, o imperativo categórico
para a determinação das ações humanas
funda-se no momento em que a ação não
é um dado irrefutável, mas dizer que ela
é voltada ao indivíduo, consistindo na máxima
determina infalivelmente as ações humanas
de que uma ação particular possa servir de
é uma ilusão. O homem não é constituído
espelho para toda a humanidade. Logo, aquele
somente de racionalidade, mas também de
que realiza a ação deve querer que essa ação
paixões, vontades, sentimentos, afetos, etc.
sirva para o outro a todo o momento.
Sendo uma síntese entre paixões e razão,
03. Segundo Kant, a ação por dever é
a racionalidade não é capaz de determinar
essencialmente racional. Toda ação baseia-se
todas as ações humanas. Santo Agostinho
em valores ou máximas que a fundamentam.
dizia que a razão é incapaz de comandar a
Tais máximas devem ser racionais e deduzidas
vida humana, uma vez que o homem é mau
a partir do imperativo categórico. Esse
e sua maldade determina muitas de suas
imperativo funcionaria tal como uma fórmula
ações. Freud dirá que a maior parte das ações
para que o homem pudesse, pela razão,
determinar o que é certo ou errado. Diante humanas é fruto de nosso inconsciente e,

de uma situação específica, a razão humana por isso, fazemos coisas que não estão sob as

diria o que deve ou não ser realizado a rédeas de nossa racionalidade, mas as quais
partir de máximas que determinarão a ação. são frutos da busca pelo prazer.

Pág 12
05. Kant apresenta em sua teoria do conhecimento A favor: Concordo com a ética kantiana, uma
uma síntese entre racionalismo e empirismo. vez que o homem deve agir guiado pela razão
Segundo o filósofo, tanto a experiência quanto e esta é capaz de determinar o que é correto
a razão são responsáveis pelo conhecimento e o que não é. Se assim não fosse, cairíamos
verdadeiro sobre o mundo. Porém, o homem deve, no total subjetivismo das circunstâncias, uma vez
antes de se colocar a conhecer o mundo, pensar que cada homem agiria levado por aquilo que
sobre as suas possibilidades de conhecê-lo. acha mais certo ou conveniente para si. A ação
É nesse contexto que se insere sua Nova por dever, correspondendo à razão, determina
Revolução Copernicana do Pensamento, em as máximas pelas quais as ações devem ser
que a atenção se volta antes para o sujeito erigidas, impedindo o consequencialismo
conhecedor que deve investigar quais são as das ações e levando os homens a uma maior
suas possibilidades de conhecer, aquilo que ele harmonia, pois todos, sendo igualmente
tem a priori que o capacita a conhecer o mundo. racionais, deveriam agir de acordo com essa
É nesse contexto que Kant vai falar das razão universal.
formas da sensibilidade, que permitem ao Contra: Não concordo absolutamente com
homem experimentar o mundo e as formas do a ética kantiana. Sua ética do dever não
entendimento, que permitem que o homem considera as situações particulares dos
pense e forme ideias a partir dos dados homens. Dessa forma, torna-se necessário
fornecidos pelos sentidos.
pensar que todos os homens são iguais e
06. Ao trabalharmos o texto de Kant, não podemos vivem nas mesmas circunstâncias. Como
nos esquecer de que, para que ocorra

FILOSOFIA
não acreditar que é legítimo que um pai em
a ilustração, é necessário o uso da razão em situação de extrema pobreza furte do quintal
condições públicas. Assim, para o homem vizinho frutas ou qualquer outra coisa com
sair do princípio da menoridade, ele terá que o objetivo de alimentar seu filho? Nivelar o
ter contato com novas ideias, as quais serão homem a partir da razão parece fácil para
expostas para o público por pessoas letradas, aqueles que têm um mínimo de conforto e
que necessitam usar sua razão na esfera não estão em nenhuma situação conflitiva.
pública. Dessa forma, o homem teria contato Ao contrário, para aqueles que sofrem, que
com inúmeras formas de pensamento que iriam se encontram sob uma série de dificuldades,
levá-lo a uma possibilidade para ir à maioridade. esta pretensa ação por dever não passa
Se tais fundamentos se dão na esfera particular, de uma abstração que não corresponde
o processo da ilustração se dará de forma lenta. à realidade humana.
07. Resposta subjetiva (espera-se que o aluno seja
08. Segundo a filosofia kantiana, o conhecimento
capaz de posiciona-se argumentativamente
é fruto do trabalho conjunto da experiência
contra ou a favor desta ideia.)
e da razão. Desse modo, os juízos sobre
Segundo Kant, a ação por dever é uma ação o mundo são resultados daquilo que se
deliberadamente racional, isto é, uma ação experimentou e que servirá de matéria-prima
cujo fundamento encontra-se na racionalidade para o pensamento. Nada que não possa ser
humana ao aplicar o imperativo categórico. experimentado pode ser conhecido. Algumas
Dessa forma, não interessa à ação por dever questões, como a existência de Deus,
as consequências da ação, se estas serão mais a liberdade humana e a imortalidade da alma,
graves ou menos graves. O que é correto é são dúvidas que se colocam ao homem e que
correto em toda e qualquer circunstância, a própria natureza humana busca responder.
e o que é errado, ou contra o dever, Porém, um conhecimento verdadeiro sobre
o é em toda e qualquer circunstância. Desse essas questões é impossível uma vez que elas
modo, tomando como exemplo a citação não podem ser experimentadas pelos sentidos,
da questão, não importa, para terceiros,
mas somente pensadas pela razão.
a gravidade da ação do rapaz que furtou
a comida ou a da ação dos políticos que sangram
os cofres públicos, ambas as ações são contra
Seção Enem
o dever e, portanto, não devem ser realizadas. 01. C

Pág 13

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