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A ÉTICA DOS ADVOGADOS DENTRO DAS REDES SOCIAIS, DESTACANDO O


TIKTOK, O CÓDIGO DE ÉTICA DA OAB E PROVIMENTOS

Vanessa Cristina Dasko1


Yasmin Gonçalves Bittar2
André Wambier Campos3

RESUMO

As redes sociais exercem um papel importante na sociedade e nos negócios.


Atualmente, muitos profissionais utilizam as redes para divulgar o trabalho que
exercem, inserindo conteúdos sobre a área de atuação, em variados formatos. Na
advocacia isso não é diferente. E uma das redes sociais que vem sendo utilizada pelos
profissionais da área jurídica é o TikTok, que vem ganhando cada vez mais público
nos últimos anos, pela sua forma interativa de apresentar conteúdos em vídeos. A
rede social chinesa, ainda voltada para um público mais jovem, que varia entre 16 e
24 anos, vem conquistando mais adeptos e muitas vezes é utilizada como
espelhamento de conteúdo para disseminação entre mais redes sociais, como o
Instagram. Ou seja, os conteúdos são criados na rede TikTok e espelhados em outras
redes sociais pelo próprio profissional. Pessoas do mundo inteiro assistem ao Tik Tok.
A rede social introduzida na sociedade no ano de 2020, possui mais de 1 bilhão de
usuários cadastrados, entre estes advogados, políticos, nutricionistas, médicos,
personal trainers, crianças, jovens, entre outros. Ou seja, é uma plataforma que expõe
diversos estilos de conteúdo, para diversos públicos. Assim, o TikTok entrega vídeos
postados por uma pessoa X, para pessoa Y ou Z, sem que estas se conheçam.
Advogados e Advogadas de todo o Brasil vêm utilizando a rede social para divulgar
conteúdos sobre a área de atuação. A problemática que este artigo visa relatar é que
os profissionais da área jurídica possuem um Código de Ética Profissional, Estatuto e
Provimentos, que especificam o que é permitido ou não em relação a divulgação ou
marketing profissional. Neste contexto, tem-se percebido, inclusive por meio de
exemplos que serão aqui tratados, que muitos profissionais da área jurídica não estão
seguindo as instruções e provimentos da Ordem dos Advogados do Brasil. Publicam
diariamente vídeos com conteúdos considerados delicados, com formatos que não
são autorizados/permitidos e deixam de assim seguir as diretrizes apontadas no
Código de Ética da OAB e Provimentos.

Palavras-chave: Código de Ética da OAB. Advogados. Redes Sociais. TikTok.


Marketing Jurídico. Ética Profissional.

1 Jornalista pela UNIVERSIDADE POSITIVO, Tecnóloga em Comunicação Empresarial e Institucional


pela UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ, Especialista em Produção e Avaliação
de Conteúdos para Mídias Digitais pela UNIVERSIDADE POSITIVO e Graduanda em Direito pela
UNIVERSIDADE POSITIVO.
2 Corretora de Seguros pela Escola Nacional de Seguros - FUNENSEG; Graduanda em Direito pela

UNIVERSIDADE POSITIVO.
3 Docente da Escola de Direito e Ciências Sociais da Universidade Positivo (EDCS/UP).
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ABSTRACT

Social networks play an important role in society and business. Currently, many
professionals use networks to publicize the work they carry out, inserting content about
their area of expertise, in different formats. In law, this is no different. And one of the
social networks that has been used by legal professionals is TikTok, which has been
gaining more and more public attention in recent years, due to its interactive way of
presenting content in videos. The Chinese social network, which is still aimed at a
younger audience, ranging from 16 to 24 years old, has been gaining more followers
and is often used to mirror content for dissemination among more social networks,
such as Instagram. That is, the contents are created on the TikTok network and
mirrored on other social networks by the professional himself. People all over the world
watch Tik Tok. The social network introduced in society in 2020, has more than 1 billion
registered users, including lawyers, politicians, nutritionists, doctors, personal trainers,
children and young people who are just doing dances or dubbing in front of the camera.
That is a platform that exposes different styles of content. Thus, TikTok delivers videos
posted by person X, to person Y or Z, without them knowing each other. Lawyers from
all over Brazil have been using the social network to disseminate content about their
practice area. The problem that this article aims to report is that legal professionals
have a Code of Professional Ethics, Statute and Provisions, which specify what is
allowed or not in relation to professional disclosure or marketing. In this context, we
have noticed, including through examples that will be discussed here, that many
professionals in the legal area are not following the instructions and provisions of the
Brazilian Lawyers Ethical Code.

Keywords: Brazilian Lawyers Ethical Code. Lawyers. Social Networks. TikTok. Legal
Marketing. Professional Ethic.

1 INTRODUÇÃO

As redes sociais trouxeram mudanças na forma de comunicação na sociedade.


Milhares de pessoas estão presentes nas plataformas virtuais, utilizando-as como
meios de interação social, mas também de informação. E dentro do uso das redes
sociais, profissionais divulgam trabalhos ou informam sobre suas áreas de atuação.
Os profissionais da área jurídica estão dentro das redes sociais e também as
utilizam como meio de divulgação e publicidade. No entanto, é preciso se atentar aos
limites da publicidade que as regulamentações da área jurídica permitem, em
especial o Estatuto da Advocacia, o Código de Ética e Disciplina da OAB e
Provimentos, que os profissionais da área jurídica devem seguir.
Neste sentido, profissionais da área de advocacia estão nas redes sociais. O
TikTok é uma delas, uma rede social na qual são postados vídeos de diversas
naturezas e ao procurar a palavra “advogado”, é possível encontrar diversos
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profissionais falando sobre assuntos jurídicos. O que chama a atenção é que, em


muitos casos, não são respeitadas as regulamentações e o que é permitido na
publicidade ou marketing, por regulamentações da advocacia. Na área jurídica, uma
das principais orientações é que a publicidade deve seguir caráter informativo, mas
muitos profissionais ultrapassam os limites das regulamentações, com uso de
expressões, formatos e informações vedadas pela Ordem dos Advogados do Brasil.
É preciso se atentar para os limites de divulgação. Mesmo com o Provimento
nº205/2021, publicado pela Ordem dos Advogados e novas orientações sobre o uso
da publicidade e do marketing no meio jurídico, o que encontra-se são muitos
exemplos com entendimentos de violação direta ao Código de Ética e Disciplina,
Estatuto e Provimentos da OAB.
A metodologia aplicada no presente trabalho foi pesquisa bibliográfica e
pesquisa documental, do tipo exploratória, descritiva e qualitativa buscando identificar
elementos vedados pelas regulamentações, no qual depara-se com exemplos nos
quais fica evidente a falta de atenção às mesmas. Uma amostra pequena de um
universo enorme de possibilidade de encontrar mais e mais profissionais utilizando
da rede social sem seguir atentamente para o que é permitido. O objetivo do presente
trabalho é gerar uma reflexão sobre os caminhos da advocacia nas redes sociais,
destacando o TikTok, e até necessidade de mais detalhamento ou novos provimentos
diante do que já existe de regulamentação, visando chamar para a atualização
destes, sempre que necessário.
Será realizada uma apresentação dos regulamentos da publicidade na
advocacia e mostrando o que é vedado pelos mesmos, apresentando, por meio de
pesquisa qualitativa, exemplos que, de acordo com as regulamentações, infringiram
suas orientações. Em seguida, será abordado o que os tribunais de ética já estão
considerando e será mostrado casos julgados, envolvendo a publicidade da
advocacia, em especial nas redes sociais. E ao analisar todo este cenário, e a
interligação entre regulamentações e publicidade da advocacia nas redes sociais,
precisa-se destacar a importância de uma atualização constante e até de um
detalhamento, em especial, dos provimentos, com publicação mais recente em 2021.

2 ANÁLISE DOS REGULAMENTOS EM RELAÇÃO AOS ADVOGADOS

A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) foi criada com a promulgação do


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decreto nº19.408, de 18 de novembro de 1930 e regulamentada pelo Decreto nº


20.764, com alterações posteriores. Segundo José Cretella Júnior e José Cretella
Neto (2005, p.1). “A Ordem dos Advogados do Brasil, criada pelo referido Decreto
nº19.408/30, foi juridicamente estruturada pela Lei nº4.125, de 27/04/1963, que criou
o primeiro Estatuto da OAB, de abrangência nacional”.
Além deste importante documento, que faz parte do rol de regulamentação da
profissão, a OAB criou o Código de Ética e Disciplina. Segundo José Cretella Júnior e
José Cretella Neto, a ética está relacionada à “conduta humana” e comportamento
“moral”.

Ética (do grego ethikós, pelo latim ethicu, que significa costume) é o estudo
dos juízos de apreciação que se referem à conduta humana suscetível de
qualificação do ponto de vista do bem e do mal, em determinada sociedade.
É, portanto, a ciência do comportamento moral dos homens em sociedade.
(CRETELLA JÚNIOR; CRETELLA NETO, 2005, p.127).

Os autores, em sua obra de perguntas e respostas sobre o Estatuto da OAB e


Código de Ética e Disciplina, abordam que a Ética e o Direito coincidem, na medida
em que vem em conjunto com uma norma jurídica. “Por exemplo, o mandamento não
matarás pertence ao campo da Ética. Ao ser transformado em artigo 121 do Código
Penal, passa a pertencer ao campo do Direito, ou seja, coincidem as normas éticas e
jurídicas” (CRETELLA JÚNIOR; CRETELLA NETO, 2005, p. 128). E continuando
neste pensamento, segundo os autores, o Código de Ética do advogado deve
apresentar regras ou aspirações do que se espera desses profissionais.

Um código de ética do advogado deve constituir em um corpo de regras de


conduta que traduzam a aspiração da sociedade sobre o que seja um
advogado consciencioso, proficiente, capaz de mostrar bom desempenho no
campo profissional e no relacionamento com clientes, adversários e
magistrados. (CRETELLA JÚNIOR; CRETELLA NETO, 2005, p. 131).

Assim sendo, consegue-se entender a importância desses regulamentos, tanto


o Estatuto da OAB, como o Código de Ética, para a profissão. A publicidade na
advocacia, com o que é permitido na divulgação do trabalho de profissionais da área
jurídica, integra o Código de Ética da OAB e seus recentes provimentos sobre
publicidade e marketing jurídico. Segundo Paulo Lôbo (2017), no livro Comentários ao
Estatuto da Advocacia e da OAB, fica claro que essas regulações não são meras
orientações ou recomendações de comportamento, mas sim “normas” que precisam
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ser seguidas.

A ética profissional impõe -se ao advogado em todas as circunstâncias e


vicissitudes de sua vida profissional e pessoal que possam repercutir no
conceito público e na dignidade da advocacia. Os deveres éticos consignados
no Código não são recomendações de bom comportamento, mas sim normas
jurídicas dotadas de obrigatoriedade que devem ser cumpridas com rigor, sob
pena de cometimento de infração disciplinar punível com a sanção de censura
(art. 36 da Lei n. 8.906/94) se outra mais grave não for aplicável. (LÔBO,
2017, p. 164).

Ainda, em comentários ao Estatuto, Paulo Lôbo destaca que:

O primeiro comando do Estatuto dirige -se à conduta pessoal do advogado.


Onde quer que resida e se relacione, deve proceder de forma a merecer o
respeito de todos, porque seu comportamento contribui para o prestígio ou
desprestígio da classe. (LÔBO, 2017, p. 165).

Assim, não resta dúvida de que essas regulamentações devem ser seguidas,
para que também a advocacia seja respeitada pela sociedade e pelos próprios
profissionais que nela atuam. A publicidade na advocacia é regulada pelo Código de
Ética da OAB, e possui um capítulo próprio para tratar do tema. Ainda, está em
sinergia com o mais recente provimento da OAB que aborda a publicidade no meio
jurídico, divulgado no ano de 2021, e com ele o desenvolvimento de uma cartilha
denominada “Marketing e Publicidade na Advocacia - Novo Provimento”, disponível
em formato online para todos os advogados e advogadas do país.
A cartilha inicia o seu conteúdo com a seguinte frase: “um dos assuntos mais
polêmicos enfrentados no meio jurídico é o Marketing na advocacia”. O tema
realmente vem sendo cada vez mais debatido, já que as divulgações dos profissionais
da área só crescem com o avanço das plataformas de comunicação e marketing.
O último provimento era de mais de 20 anos, com publicação realizada pela
entidade de representação de classe no ano 2000, sendo revogado pelo Provimento
205/2021, do Conselho Federal da OAB. A cartilha é fruto do trabalho conjunto das
Comissões de Sociedades de Advogados e de Gestão e Inovação.

Com alicerce firme no artigo 39 do Código de Ética e Disciplina, o novo


Provimento surgiu após muito estudo, pesquisa, debate e a realização de
várias audiências públicas. No artigo 2º do Provimento nº 205/2021 constam
algumas definições e conceitos relacionados a marketing e publicidade e a
partir daí desenvolve-se o raciocínio do que pode ou não ser permitido em
nível de publicidade na advocacia. O Provimento nº 205/2021 também
promoveu a criação de Comitê Regulador do Marketing Jurídico, de caráter
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consultivo, vinculado à Diretoria do Conselho Federal, que nomeia seus


membros, com mandato concomitante ao da gestão, sendo que as
Seccionais, por meio das Comissões de Fiscalização, podem expedir
notificações com a finalidade de dar efetividade às normas de Publicidade.
(CARTILHA OAB PÁGINA 1)

Então, a mais recente regulamentação é o Provimento número 205/2021, que


visa orientar sobre o marketing jurídico. O documento é enxuto, mas apresenta o que
é permitido e o que é vedado aos advogados(as) no marketing, abordando as redes
sociais em geral.
Nota-se que os três regulamentos que devem ser observados com muita
atenção pelos profissionais da área jurídica são: Estatuto da Advocacia e Código de
Ética e Disciplina, em consonância com o Provimento nº205/2021.

3 (IM) POSSIBILIDADE DE DIVULGAÇÃO E PROMOÇÃO DE CONTEÚDOS


PELOS ADVOGADOS

Mais do que se atentar ao que é permitido no Provimento 205 e Código de Ética


e Disciplina da OAB, vale destacar o que é proibido, visto que o presente artigo
abordará, na sequência, situações que aparecem em Rede Social TikTok, que são
vedadas do ponto de vista de conteúdo e ainda, consideradas antiéticas, ao verificar
qual deve ser a conduta esperada dos advogados e advogadas em seus meios de
divulgação, marketing ou publicidade.
Um dos pontos que chama a atenção no veto é que é proibido “a publicação de
conteúdos que possam atingir a reputação da classe à qual o profissional pertence” e
“divulgação de informações que possam induzir a erro ou causar danos ao cliente e à
sociedade" (BRASIL, Provimento 205/2021).
A fim de compreender acerca da publicidade ou marketing jurídico, bem como
entender o que está permitido dentro dos regulamentos da OAB, é preciso destacar
primeiramente o Código de Ética da Ordem dos Advogados do Brasil, que regula as
ações dos advogados(as) na publicidade, em conjunto com o atual provimento
nº205/2021, o documento mais atual. No artigo 1º do capítulo dos princípios
fundamentais, o Código de Ética deixa claro que é preciso que o advogado(a), para o
exercício de sua profissão, siga “conduta compatível” com os regulamentos, conforme
segue:
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Art. 1º O exercício da advocacia exige conduta compatível com os preceitos


deste Código, do Estatuto, do Regulamento Geral, dos Provimentos e com os
princípios da moral individual, social e profissional. (BRASIL, 2021).

Desta forma, o Código de Ética da OAB é instrumento de conhecimento


obrigatório dos advogados(as), em conjunto com o Estatuto e Provimentos. Passa-se
agora a analisar os artigos que, em especial, tratam da publicidade na advocacia, que
integram o capítulo VIII do Código. São ao todo nove artigos (nº39 ao nº47) que
regulam a publicidade, já destacando em primeiro momento o “caráter meramente
informativo” das divulgações no âmbito da advocacia.

Art. 39. A publicidade profissional do advogado tem caráter meramente


informativo e deve primar pela discrição e sobriedade, não podendo
configurar captação de clientela ou mercantilização da profissão. (BRASIL,
2015).

Um dos artigos que vale destacar no conjunto trazido pelo referido capítulo é o
artigo nº42, que traz exatamente o que é vedado pelo Código de Ética ao advogado,
em relação à publicidade. No inciso I tem-se que é vedado “responder com
habitualidade a consulta sobre matéria jurídica, nos meios de comunicação social” e
no inciso III, que é vedado “abordar tema de modo a comprometer a dignidade da
profissão e da instituição que o congrega”. (BRASIL, 2015).
Destacados os artigos do Código de Ética e Disciplina da OAB, importante
salientar os aspectos do Provimento nº205/2021, da Ordem dos Advogados do Brasil,
que aprofunda mais sobre o marketing na advocacia, justamente pela necessidade de
atualização do tema, com as mudanças rápidas trazidas pela internet e pelas redes
sociais. O provimento já aborda, em seu artigo 1º, que é “permitido o marketing
jurídico, desde que exercido de forma compatível com os preceitos éticos e
respeitadas as limitações impostas pelo Estatuto da Advocacia, Regulamento Geral,
Código de Ética e Disciplina e por este Provimento”. (BRASIL, 2015).
Ou seja, o próprio Provimento faz menção às regulamentações já citadas neste
artigo, sendo necessário então seguir os preceitos em todos eles e não em apenas
um ou outro. Estão relacionados, e não podem ser seguidos separados pelos
profissionais da advocacia.
O novo Provimento, publicado no ano passado (2021), ou seja, bem recente,
fez-se necessário pela mudança que vem acontecendo na divulgação da advocacia,
em especial nas redes sociais e na internet. Assim, em seu artigo nº 3, o provimento
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continua em sinergia com o Código de Ética da OAB, ao tratar a publicidade com “deve
ter caráter meramente informativo e primar pela discrição e sobriedade, não podendo
configurar captação de clientela ou mercantilização da profissão”. (BRASIL, 2021). E
neste mesmo artigo veda as seguintes situações:

I - referência, direta ou indireta, a valores de honorários, forma de pagamento,


gratuidade ou descontos e reduções de preços como forma de captação de
clientes; II - divulgação de informações que possam induzir a erro ou
causar dano a clientes, a outros(as) advogados(as) ou à sociedade; III -
anúncio de especialidades para as quais não possua título certificado ou
notória especialização, nos termos do parágrafo único do art. 3º-A do Estatuto
da Advocacia; IV - utilização de orações ou expressões persuasivas, de
autoengrandecimento ou de comparação; V - distribuição de brindes,
cartões de visita, material impresso e digital, apresentações dos serviços ou
afins de maneira indiscriminada em locais públicos, presenciais ou virtuais,
salvo em eventos de interesse jurídico. (BRASIL, 2021).

Nota-se aqui, novamente, as vedações às formas de publicidade para


advogados(as), em especial ao conteúdo que pode ser abordado. O artigo 5º do
referido Provimento permite que advogados(as) realizem vídeos nas redes sociais,
mas seguindo o disposto nos artigos 42 e 43 do Código de Ética e Disciplina da OAB,
conforme exposto:

Art. 5º A publicidade profissional permite a utilização de anúncios, pagos ou


não, nos meios de comunicação não vedados pelo art. 40 do Código de Ética
e Disciplina. § […].
3º É permitida a participação do advogado ou da advogada em vídeos ao vivo
ou gravados, na internet ou nas redes sociais, assim como em debates e
palestras virtuais, desde que observadas as regras dos arts. 42 e 43 do CED,
sendo vedada a utilização de casos concretos ou apresentação de
resultados. (BRASIL, 2015).

Seguindo assim, complementam os artigos do Código de Ética e Disciplina da


OAB, os quais, em conjunto com o artigo nº5 do Provimento nº205/2021, que regulam
em especial, a participação em vídeos que incluem os das redes sociais. Faz menção
ao tipo de tema que é vedado e a resposta a consulta jurídica em meios de
comunicação:

Art. 42. É vedado ao advogado: I – responder com habitualidade a


consulta sobre matéria jurídica, nos meios de comunicação social; II –
debater, em qualquer meio de comunicação, causa sob o patrocínio de outro
advogado; III – abordar tema de modo a comprometer a dignidade da
profissão e da instituição que o congrega; IV – divulgar ou deixar que
sejam divulgadas listas de clientes e demandas; V – insinuar-se para
reportagens e declarações públicas. (BRASIL, 2021).
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Art. 43. O advogado que eventualmente participar de programa de televisão


ou de rádio, de entrevista na imprensa, de reportagem televisionada ou
veiculada por qualquer outro meio, para manifestação profissional, deve visar
a objetivos exclusivamente ilustrativos, educacionais e instrutivos, sem
propósito de promoção pessoal ou profissional, vedados
pronunciamentos sobre métodos de trabalho usados por seus colegas de
profissão. Parágrafo único. Quando convidado para manifestação pública, por
qualquer modo e forma, visando ao esclarecimento de tema jurídico de
interesse geral, deve o advogado evitar insinuações com o sentido de
promoção pessoal ou profissional, bem como o debate de caráter
sensacionalista. (BRASIL, 2021).

Ainda, o Provimento nº205/2021, traz em anexo único, outras questões que são
de extrema importância quando o assunto é o tratamento da publicidade para o
exercício da advocacia e apresenta um quadro com variadas orientações entre elas
sobre aplicativos para responder consultas jurídicas. Não específica ou dá exemplos
sobre quais são, mas descreve que não podem ser realizadas consultas jurídicas para
não clientes destacando que:

Não é admitida a utilização de aplicativos de forma indiscriminada para


responder automaticamente consultas jurídicas a não clientes por suprimir a
imagem, o poder decisório e as responsabilidades do profissional,
representando mercantilização dos serviços jurídicos. (BRASIL, 2021, p. 6).

Sobre a presença em redes sociais, o Provimento traz de forma simples,


também no Anexo Único, que “É permitida a presença nas redes sociais, desde que
seu conteúdo respeite as normas do Código de Ética e Disciplina e do presente
provimento” (BRASIL, 2021) e encerra, sem mais detalhes. Cita novamente as normas
do Código de Ética e Disciplina e do referido Provimento para que os advogados(as)
possam orientar-se sobre as divulgações e publicidade, permitidas ou não.

4 METODOLOGIA

A metodologia de pesquisa utilizada neste trabalho foi a pesquisa bibliográfica


e pesquisa documental, do tipo exploratória, descritiva e qualitativa, buscando
identificar elementos da publicidade na advocacia que são vedados pelas
regulamentações Código de Ética e Disciplina e Provimento nº205/2021, da Ordem
dos Advogados do Brasil.
Deste modo, os resultados obtidos na pesquisa são frutos da análise das
regulamentações e também da pesquisa de campo aqui abordada, no qual o objeto
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principal são as descrições de conteúdo dos vídeos de profissionais da advocacia,


divulgados na rede social TikTok, que não seguem as regulamentações existentes.
Na pesquisa exploratória, uma vez pesquisado na rede social tiktok o termo
"advocacia", o algoritmo da rede entrega vídeos para o usuário deste mesmo tema, e
quanto mais o usuário assiste a esses vídeos, mais vídeos parecidos preenchem sua
timeline.
Desta forma, no presente trabalho, a coleta do conteúdo descritivo dos vídeos
exemplificativos não foi diferente. Foi criado um usuário nestas redes para realizar a
busca e seleção de vídeos que impactam o tema abordado. Entre o mês de março de
2022 até junho de 2022, foram analisados mais de 50 vídeos, dos quais obtivemos
bons e maus exemplos de comportamento dentro das redes sociais, e assim, após a
análise destes, 10 foram salvos por infringirem de forma grave o Código de Ética da
OAB. No entanto, apenas dois foram selecionados para serem expostos aqui, uma
vez que estes possuem explicitamente expressões ou informações que compõe o rol
taxativo de vedações nas regulamentações da publicidade na advocacia.
O que foi considerado nesta análise são pontos do próprio Código de Ética e
Disciplina da OAB e Provimento nº 205/2021 já abordados no capítulo anterior.
Buscou-se analisar, para a seleção dos vídeos, pontos vedados pelas
regulamentações, a exemplo do artigo nº39 do Código de Ética, que trata do caráter
informativo, e discrição e sobriedade da publicidade na advocacia, além de artigos do
Provimento, a exemplo o nº3, inciso II e IV, que tratam de informações que possam
induzir a erro ou causar danos aos clientes e ainda sobre uso de orações ou
expressões persuasivas ou de comparações.
Ainda, considera-se a vedação do artigo nº 42 do Código de Ética e Disciplina,
em seu inciso III, sobre a abordagem de tema que comprometa a “dignidade da
profissão” e ainda da instituição da qual o profissional faz parte. Além de ter como
base os preceitos do Código de Ética com relação à conduta profissional compatível
com os preceitos das regulamentações aqui já expostas. O artigo nº43 do Código de
Ética e Disciplina, conforme já exposto, aborda vedações, como insinuações para
promoção pessoal ou profissional e debates de caráter sensacionalistas.
Assim, nos dois vídeos do Tik Tok selecionados para compor o presente
trabalho e que serão descritos no próximo capítulo, observa-se a falta de atenção a
estes elementos que são vedados na publicidade da advocacia.
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Ademais, ressalta-se que os perfis dos descritivos dos vídeos aqui expostos
serão mantidos em sigilo no presente artigo, uma vez que pretende-se exemplificar o
teor do conteúdo que infringe as regulamentações da publicidade na advocacia na
rede social, em especial no TikTok, e não expor o profissional da área jurídica,
cabendo essa questão aos órgãos competentes de fiscalização profissional.

5 VIOLAÇÕES AO CÓDIGO DE ÉTICA DA OAB E PROVIMENTO N 205/2021 NO


TIK TOK.

Se fez necessário no presente artigo apresentar com detalhes as espécies de


divulgação de que são vedadas pelo Código de Ética da OAB e pelo mais novo
Provimento, o de número 205, publicado no ano de 2021, para abordar situações de
desrespeito a essas regulamentações.
Paulo Lôbo (2017) afirma que a internet, a web e os meios eletrônicos acabam
“favorecendo” violações as regulações existentes, em especial em algumas situações,
e quando traz as redes sociais, em especial o TikTok, ao qual trata a análise deste
artigo, é possível perceber essas violações ainda mais explícitas.
Paulo Lôbo destaca algumas situações em que essas violações ocorrem com
mais frequência.

A Internet, a web e outros meios eletrônicos de comunicação favorecem


violação e das regras deontológicas sobre publicidade da advocacia, nas
quais se enquadram as seguinte s condutas: a)envio habitual de boletins
informativos, que encobrem o intuito de divulgação do escritório ou sociedade
de advogados; b) oferta de patrocínio ou assessoria jurídica em página da
Internet; c)estampa de relações de cliente s; d) utilização de e-mail ou página
da Internet para envio de mensagem eletrônica voltada à captação de
clientela; e ) divulgação de páginas da Internet com artigos jurídicos e
opiniãos virtuais, com intuito de captação de clientela, salvo em revistas
jurídicas eletrônicas; f) prestação de consultas a cliente as eventuais,
mediante pagamento, inclusive com cartão de crédito. (LÔBO, 2017, p.176)

A rede social Tik Tok apresenta vídeos de diversos formatos, de pessoas e


profissionais. E advogados(as) estão inseridos neste meio, também fazendo vídeos
sobre temas relacionados à advocacia. Basta fazer uma busca pela palavra
“advogado” e surgem diversos exemplos. Sabe-se, pelas regulamentações já
abordadas anteriormente, o que é vedado ao profissional da área jurídica na presença
nas redes sociais, e que os mesmos devem seguir e respeitar as normas do Código
de Ética e Provimentos. Mas o que tem-se percebido, com o crescimento das novas
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formas de comunicação, que incluem as redes sociais, é justamente violações às


normas presentes nestas regulações, ferindo a ética profissional.
Realizou-se uma pesquisa qualitativa, na qual buscou em vídeos publicados
por profissionais da advocacia na rede social TikTok, exemplos que pudessem conter
expressões ou conteúdo vedado pelos artigos do Código de Ética e Disciplina da OAB
e o novo Provimento 205. Encontrou-se vários formatos e selecionando-se alguns
principais, que demonstram em seus discursos, o que não é indicado fazer, segundo
as regulamentações já expostas. Foram selecionados estes exemplos considerando
a grave violação aos preceitos do Código de Ética da OAB e Provimentos.
Exemplo nº 1
Na rede social TikTok, o indivíduo - advogado - publicou em sua página um
vídeo em resposta a uma pergunta feita por um seguidor, "você defenderia alguém
que matou alguém da sua família?”. Ele respondeu da seguinte forma: “é claro que
não, se for alguém da minha família, assim que eu tomar conhecimento eu vou até
essa pessoa e vou matá-la com as minhas próprias mãos, não estou armado, não
ando armado, mas eu sou faixa preta no Jiu Jitsu, vou estrangulá-lo até ele dormir,
dormiu, continuo estrangulando até ele morrer. Isto é legítima defesa? Não é, mas é
o crime previsto no art. 121, §1º do CP que diz homicídio privilegiado” (VÍDEO,
TIKTOK, 2022).
Ainda, no mesmo vídeo, o advogado explica que ao cometer esse crime, a pena
seria simples, de 6 a 20 anos, visto que ele é réu primário, possui bons antecedentes,
e, portanto, teria o 6. Ademais, com diminuição de 1Ú6 a 1/3, podendo cair para 4
(quatro) anos e progredir com ⅙ a pena, portanto ficaria menos de 1 (um) ano preso,
já iria para o semi-aberto e depois para o aberto - palavras do profissional.
Nada obstante, o advogado afirma que ele cometeria este crime, e uma das
suas teses de defesa seria “inexigibilidade de conduta diversa”, alegando que por vez
o jurado poderia absolvê-lo pelo mesmo. Ainda, reafirma que é o que o seguidor
deveria fazer, que “se ele tomar conhecimento logo após, deve ir até o ofensor e agir
de acordo com a proporcionalidade, vá até aquele ofensor e aja de acordo com a
proporcionalidade” (VÍDEO TIKTOK, 2022).
No exemplo citado, no qual manteve-se a identidade do advogado em questão
em sigilo, resta evidente que, segundo o Código de Ética da OAB e o que orienta o
Provimento nº205/2021, existe um conteúdo que é vedado, em especial no que tange
a consulta e utilização de expressão persuasiva, violando o Artigo nº 03 do
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Provimento. Sem contar a violação sob aspectos do Código de Ética da OAB no que
tange ao exercício da profissão, ao passar uma orientação de tal natureza, para
seguidores em uma rede social, ao incitar violência e ainda relacioná-la com penas
punitivas. Resta claro que não existe aqui nenhum caráter meramente informativo,
mas preocupante, com discurso violento e capaz de expor de forma danosa a
profissão da advocacia.
Exemplo nº 2
Outro exemplo de resposta inapropriada aos seguidores das redes sociais e
que foge do que é permitido nas regulamentações de publicidade para advogados(as),
é o de uma advogada que publicou um “reels” na rede social Instagram - vídeo
espelhado na rede social TikTok -, onde enfatiza: “pare agora de implorar pela pensão.
Na separação o genitor combina de pagar um valor e você TOLA acredita que não
precisa formalizar porque ele vai pagar, mas aí chega no dia do pagamento e o que
acontece? Você tem que pedir e ficar implorando para ele pagar a pensão, mas agora
chega, a pensão é direito do seu filho, a partir de hoje você não vai implorar por
pensão, você vai fazer diferente, vai procurar um advogado de sua confiança, vai
ingressar com ação de alimentos para nunca mais precisar pedir algo que não é ajuda,
é responsabilidade” (VÍDEO INSTAGRAM, 2022).
Nota-se que no exemplo acima, é usada a expressão “tola”, de forma grosseira,
para com a pergunta realizada pelo seguidor. Além de caracterizar uma consulta,
respondendo a uma pergunta de seguidor, ainda utiliza expressão inadequada.
Novamente, mais um exemplo no qual o caráter informativo deixa de existir, para dar
espaço a uma linguagem grosseira, com expressão de xingamento na rede social.

3.1 A FALTA DA ÉTICA NOS EXEMPLOS CITADOS NA PESQUISA E FALTA DE


LIMITES CLAROS, IMPOSTOS PELAS REGULAMENTAÇÕES

Percebe-se nos exemplos citados no capítulo anterior que questões do Estatuto


e Código de Ética e Provimentos não estão sendo cumpridos. No primeiro exemplo, o
autor do vídeo está abordando um crime de homicídio e informado sobre penas,
alegando que se estes tiverem boa antecedência criminal, não possuirão uma pena
grave pelo cometimento do ato. Mas o que chama a atenção é a forma como o
advogado expressa essa informação, com insinuações de incentivo ao crime e
violência.
14

Já no segundo exemplo, por mais que a autora tenha apresentado esse vídeo
com um caráter informativo, ela ultrapassou os limites impostos pelo código de ética
da OAB, uma vez que ofendeu a seguidora que lhe fez a pergunta, a chamando de
“TOLA” por acreditar que o marido iria cumprir um contrato verbal.
Nada obstante, além da falta de ética dos advogados ao passarem informação
aos telespectadores, é válido ressaltar que muitos não sabem o limite do “caráter
informativo” proposto pelo Código de Ética e Disciplina, uma vez que não está explícito
de fato o teto aceito pela Ordem dos Advogados do Brasil.
Sendo assim, Mariana França Nobre Pinto (2019, p.2.) elucida em seu artigo:

A Ética e disciplina dos advogados nas mídias sociais” que: “sabemos que,
atualmente, com as mídias sociais, há falta de informação dos advogados
quanto ao limite e a forma de publicidade pelos profissionais. Registra-se que
a publicidade, nos parâmetros do Código de Ética, tem como finalidade a
informação e proibição de mercantilização da profissão.

No entanto, em contrapartida ao exposto anteriormente neste artigo, onde


enfatizou-se a publicação através de cartilha do novo provimento da Ordem dos
Advogados do Brasil - “Marketing e Publicidade na Advocacia - Novo Provimento” -,
restou claro que este não foi o suficiente para a atualização da forma como os
profissionais do direito devem se comportar em redes sociais, levando em
consideração que neste provimento publicado, não consta os limites de
comportamento dentro das mídias sociais, somente reafirma que é permitida a
presença nas redes sociais, desde que o conteúdo respeite as normas do Código de
Ética e Disciplina e repete o caráter informativo da publicidade.
Vale também ressaltar aqui o art. 33, inciso I, do Código de Ética e Disciplina
da OAB que aborda que o advogado deve abster-se de responder com habitualidade
consulta sobre matéria jurídica, nos meios de comunicação social, com intuito de
promover-se profissionalmente.

6 AS INFRAÇÕES APLICADAS À PUBLICIDADE IRREGULAR

Lôbo (2007, p. 205) instrui "cometem infrações disciplinares os que estão


inscritos na OAB. Para os não inscritos, aplica-se a legislação penal comum, por se
tratar de exercício ilegal da profissão". Desta forma, o art. 34 do Estatuto do Advogado
(L8906) alega ser infração disciplinar: “Art. 34. Constitui infração disciplinar: XXV -
15

manter conduta incompatível com a advocacia”;


Complementado o artigo nº34 do Estatuto da OAB, a conduta incompatível com
a advocacia é também comentada por Paulo Lobo, referenciando em especial que a
conduta incompatível reflete diretamente na reputação da advocacia. Traz ainda no
conceito a questão dos comportamentos, que são valiosos no que ele chama de
“comunidade profissional''. Ou seja, apesar do Estatuto não especificar no artigo em
questão quais são as condutas incompatíveis com a advocacia, é possível aferir por
meios desses comportamentos “valiosos”, conforme segue:

A vigésima quinta hipótese pune a conduta incompatível com a advocacia. O


Estatuto não a define, utilizando-se de conceito indeterminado, cujo conteúdo
será concretizado, caso a caso. De maneira geral, a conduta incompatível é
toda aquela que se reflete prejudicialmente na reputação e na dignidade da
advocacia. O conceito indeterminado não se compadece com juízos
subjetivos de valor. Toda conduta é aferível objetivamente, porque se remete
a standards de comportamento padrão ou médio, considerados valiosos pela
comunidade profissional, em determinada época. (LÔBO, 2017, p. 199).

Como consequência de determinadas infrações ao exercício da advocacia, as


sanções disciplinares são impostas de acordo com a gravidade da infração do
profissional jurídico, estando especificadas no art. 35 deste mesmo Estatuto.
Portanto, são consideradas sanções disciplinares a censura; a suspensão; a
exclusão e; a multa:

Art. 35. As sanções disciplinares consistem em:


I - censura;
II – suspensão;
III - exclusão;
IV - multa.
Parágrafo único. As sanções devem constar dos assentamentos do inscrito,
após o trânsito em julgado da decisão, não podendo ser objeto de publicidade
a de censura. (BRASIL, 1994).

Assim sendo, tendo em vista esta breve explicação a respeito das sanções
disciplinares impostas às infrações disciplinares dos advogados, é possível entender
como o Tribunal de Ética e Disciplina irá punir o profissional da advocacia que infringir
algum dos incisos citados no art. 34, nos permitindo passar às análises das posições
passadas do Tribunal aqui responsável.

Para o Estatuto, nenhuma forma de captação de clientela é admissível; o


advogado deve ser procurado pelo cliente, nunca procurá-lo. A inculcação dá-
se sempre de modo prejudicial judicial à dignidade da profissão, seja quando
16

o advogado se oferece diretamente ao cliente em ambiente sociais,


autopromovendo-se , se já quando critica o desempenho de colega que esteja
com o patrocínio de alguma causa, seja, ainda, quando se utiliza dos meios
de comunicação social para manifestações habituais sobre assuntos
jurídicos. Decidiu a Segunda Câmara do CFOAB (Proc. 2.299/2001/SCA) que
essa infração é “de natureza formal, que independe da ocorrência do
resultado para a sua consumação. (LÔBO, 2017, p. 183)

Assim, percebe-se que as regulamentações se entrelaçam e se comunicam, e


que o marketing jurídico, em especial o realizado nas redes sociais, pode gerar
infrações aos advogados(as) que não cumprirem os preceitos expostos no Estatuto,
Código de Ética e Disciplina da OAB e Provimento nº205/2021.

7 POSIÇÕES DO TRIBUNAL DE ÉTICA E DISCIPLINA

Conforme o exposto no Ementário 5.843/2022 da OAB/SP, resta claro a licitude


da publicidade de advogado em redes sociais, desde que estejam de acordo com as
diretrizes impostas pelo CED e pelo provimento nº 205/2021, dentre os quais
ressaltam-se a discrição, moderação e o caráter meramente informativo.
Assim sendo, ainda neste Ementário, é frisado que o advogado pode fazer
postagens em redes sociais, desde que discretas, moderadas e puramente
informativas, sem responder, com habitualidade, consultas sobre matéria jurídica e
sem induzir ao litígio (BRASIL, E 5.843/2022 OAB/SP).
Desta forma, o Tribunal de Ética e Disciplina se posicionou em relação a uma
advogada que os consultou a respeito do que era considerado permitido ou não pelo
Tribunal, lhes questionando se é permitido mencionar uma situação do caso concreto
para trazer informação didática aos leigos. Teve, portanto, a seguinte resposta: "é
também vedada a menção a casos concretos para oferta e divulgação da atuação
profissional do advogado (art. 6º do Provimento 205/2021)". (BRASIL, 2021).
No entanto, por mais que a pergunta da advogada tenha sido objetiva, a
resposta concedida pelos precedentes do Tribunal foi subjetiva. Já é sabido que é
vedada a menção de casos concretos, porém se o teto para publicação em redes
sociais é de caráter informativo, são necessários exemplos ou detalhamentos sobre o
que é meramente informativo, meramente informar.
Nada obstante, o Tribunal de Ética e Disciplina do Estado de Espírito Santo
posicionou-se em relação à consulta realizada por advogado:
17

29. CONSULTA Nº 130512020-0 - Consulta. Advogado emitir comentários


e recomendações em redes sociais Solicitante: Presidente do Tribunal de
Ética e Disciplina da OAB/ES – Dr. Alberto Nemer Neto Relator(a): Dr. Bruno
Richa Menegatti . EMENTA N.º 30/1ªTURMA JULGADORA/2020.
CONSULTA – EXPOSIÇÃO DO ADVOGADO EM REDES SOCIAIS –
POSTAGEM DE VÍDEOS E IMAGENS COM RECOMENDAÇÕES ETC. -
CONSULTA CONHECIDA E RESPONDIDA. (i) Admite-se a consulta, tendo
em vista tratar-se de reflexão sobre situação hipotética e não se verificar, ao
menos de princípio, interesse de obtenção de prejulgamento para caso
específico (CED, art. 71, inciso II; RITED-OAB/ES, art. 45); (ii) Trata-se de
consulta onde indaga se “...dentro do atual panorama que estamos
vivenciando hoje, com a deflagração da pandemia do COVID-19, é
admissível, aos advogados, postar em redes sociais e semelhantes, como
Instagram, Facebook, Youtube, etc., vídeos emitindo recomendações a
sociedade, tirando dúvidas sobre questões jurídicas, emitindo comentários
sobre as medidas implementadas pelos Governos Federal e local, etc.”; (iii)
A exposição, e, ainda, a publicidade, não é vedada/proibida ao advogado.
Todavia, por um rigor das normas de regência (EAOAB e CED), o advogado
deve sempre adotar máxima cautela em sua exposição (seja ela em redes
sociais ou não), para que ela, a exposição, não viole a “discrição” e
“sobriedade”, e, ainda, não seja encarada como “captação de clientela” ou
“mercantilização da profissão”, condutas vedadas pelo art. 39 do Código de
Ética e Disciplina da OAB; (iv) Não há vedação para que o advogado, dentro
do atual panorama que estamos vivenciando, poste em suas redes sociais e
semelhantes, como Instagram, Facebook, Youtube etc., vídeos com
recomendações a sociedade, tire dúvidas sobre questões jurídicas,
emitacomentários sobre as medidas im- 54 Tribunal de Ética e Disciplina da
Ordem dos Advogados do Espírito Santo plementadas pelos Governos
Federal e local etc. Todavia, o advogado não poderá, sem pedido expresso
da pessoa, indicar seu nome para eventual demanda jurídica, assim como
não poderá indicar seus dados de comunicação quando da emissão do vídeo
ou imagem, devendo ser ela informativa/de esclarecimento. Ainda, as
dúvidas a serem respondidas, devem ser quando indagado no ato ou
posterior, não podendo o advogado abrir um “canal” de dúvidas. Deve-
se, também, observar o Provimento n.º 94/2000 e o disposto no art. 41 do
CED; (v) Consulta conhecida e respondida. A C Ó R D Ã O Vistos, relatados
e discutidos os autos do processo em referência, em ambiente virtual,
acordam os membros julgadores integrantes da 1.ª Turma Julgadora do
Tribunal de Ética e Disciplina do Conselho Seccional da OAB/ ES, por
unanimidade de votos, observado o quórum exigido pelo RITED/ OAB-ES,
em conhecer da consulta e respondê-la, nos termos do voto do(a) Relator(a).
Vitória (ES), 25 de março de 2020. Marlilson Machado Sueiro de Carvalho
Presidente da Turma Julgadora Bruno Richa Menegatti Relator(a). DEOAB,
05.05.2020.

Dado o exposto acima, a posição do Tribunal de Ética e Disciplina da OAB-ES,


enfatiza que é permitido sim a publicação em redes sociais pelos advogados, porém
fica explícito que estes devem seguir à risca o exposto no provimento 94/2000 -
revogado pelo provimento 205/2021 - e Estatuto do Advogado e Código de Ética da
OAB, e também que está vedada a criação de um "canal" de dúvidas, prática exercida
por diversos advogados nas redes sociais, intituladas como "caixinha de perguntas".
Ademais, após realizada busca de sanções aplicadas pelos tribunais de ética e
disciplina da OAB, o Tribunal de Ética da OAB- SC se destacou ao alegar:
18

Processo de Representação nº 537/2019.Repte: R. P. LTDA., representada


por P. R. D. R. Repdo: V. G. B. Relator: Maurício Souza de Oliveira. Acórdão
nº 272/2021. Ementa: “PUBLICAÇÃO DE CONTEÚDO informativo EM REDE
SOCIAL PRIVADA NÃO CONFIGURA PUBLICIDADE IRREGULAR, BEM
COMO CAPTAÇÃO DE CLIENTELA. IMPROCEDÊNCIA DA
REPRESENTAÇÃO. Para a configuração da captação de clientela por meio
de publicidade deve ficar clara a oferta de serviços ou o uso de expressões
que induzam à litigância. Caso em que a publicação possuía apenas caráter
informativo e foi redigida em termos genéricos. Infração não configurada”.
Vistos, relatados e discutidos os presentes autos, ACORDAM os Membros da
7ª Turma do Tribunal de Ética e Disciplina, por unanimidade, julgar
improcedente a representação, nos termos do voto do Relator. Lages, 03 de
setembro de 2021. Artemio Antoninho Miola, Presidente. Maurício Souza de
Oliveira, Relator.

Ainda, em especial as infrações do marketing jurídico, a OAB divulgou


recentemente (Novembro 2022) o Comitê de Marketing Jurídico em suas redes
sociais, informando que as “regras do marketing jurídico nos tribunais de ética e
disciplina e comissões de fiscalização das seccionais foram unificadas” (OAB, 2022).
Na página de divulgação oficial do Comitê, feita pela Ordem dos Advogados do
Brasil, nota-se que os esforços são para atualização das normas em relação ao último
Provimento nº205/2021 divulgado pela instituição. Ao entrar na página é possível que
o advogado(a) envie dúvidas ou sugestões sobre a publicidade na Advocacia, na qual
é possível inserir texto ou imagem. Assim está descrito no site:

O Comitê Regulador do Marketing Jurídico foi criado pelo art. 9º


Provimento n. 205/2021, que atualizou as regras de publicidade da
advocacia. Trata-se de um órgão consultivo vinculado à Diretoria do
Conselho Federal da OAB, com poderes para propor a atualização das
normas, a alteração, a supressão ou a inclusão de novos critérios e
propostas de alteração do provimento 205/2021. Ainda, objetivando a
pacificação e a unificação da interpretação das regras atinentes ao
marketing jurídico perante os Tribunais de Ética e Disciplina e
Comissões de Fiscalização das Seccionais, o novo Comitê Regulador
poderá propor sugestões de interpretação dos dispositivos sobre
publicidade e informação ao Órgão Especial. (OAB NACIONAL, 2022).

Apesar da comunicação realizada pela OAB ser direta e sem grandes detalhes
sobre o Comitê de Marketing Jurídico, não apresentando quem o compõe, e não
trazendo mais informações de como será essa unificação nos tribunais de ética e
disciplina, ou ainda se o site é apenas um canal de dúvida ou tem caráter de denúncia,
nota-se que já é percebido a necessidade de atualização do Provimento nº205/2021
e suas interpretações por parte da Ordem dos Advogados do Brasil.
Resta acompanhar os canais de comunicação da OAB para obter atualizações
19

sobre o Comitê de Marketing Jurídico.

8 CONSIDERAÇÕES FINAIS

No presente trabalho buscou-se apresentar o que de mais recente existe em


questão de regulamentação da publicidade na advocacia, em especial sob o prisma
das redes sociais, destacando comunicações de advogados(s) na rede TikTok.
Passou-se pelas regulamentações e como elas se complementam, sendo necessário
olhar para o Estatuto da Advocacia, Código de Ética e Disciplina e Provimentos.
Notou-se pela pesquisa realizada, que advogados(as) divulgam o trabalho nas
redes sociais e em amostra do TikTok, foram levantados exemplos que não seguem
os preceitos das regulamentações citadas, violando provimentos e o Código de Ética
e Disciplina.
A reflexão gerada por meio da pesquisa realizada é de que as próprias
regulamentações necessitam de atualizações e detalhamentos, em especial o
Provimento 205/2021, o mais atualizado até o momento de fechamento deste artigo.
Na medida em que, ao deixar conceitos de permissão da publicidade na advocacia
sem detalhamentos, como é o caso do que cita o Código de Ética e Provimento -
“conteúdo meramente informativo” -, sem exemplificar, sem estabelecer limites mais
claros, a publicidade na advocacia vai continuar gerando dúvidas por parte dos
profissionais e existe a possibilidade de vermos mais e mais casos infringindo
preceitos éticos da profissão da advocacia.
Outra questão importante é que é preciso zelar pela boa reputação da profissão
em qualquer meio de divulgação escolhido pelos advogados(as), seguindo as
regulamentações da carreira jurídica. Isso mostra que a rede social é uma ferramenta
de comunicação e se o advogado(a) optar por este meio, deve respeitar as normas
gerais e específicas que regulam a profissão.
Percebe-se nos exemplos citados e nas sanções dos tribunais de ética e
disciplina, que é grande a necessidade de um olhar especial para a publicidade na
advocacia nas redes sociais e uma atualização no detalhamento de questões
abordadas pelo Provimento nº205/202, em especial no quesito conteúdo meramente
informativo e redes sociais.
É necessário e urgente um canal de fiscalização junto ao Comitê de Marketing
20

Jurídico, com uma comunicação clara e objetiva da existência do mesmo. Mas como
fazer esse canal, sem antes atualizar e detalhar o Provimento nº205/2021? Então,
outra urgência que surge com o avanço das redes sociais além da atualização da
regulamentação, são campanhas de orientação e conscientização da importância da
tríade Estatuto da Advocacia, Código de Ética e Disciplina e Provimento nº205/2021.
Em recente divulgação da Ordem dos Advogados do Brasil (Novembro de
2022) em rede social Instagram, o Comitê de Marketing Jurídico abriu um canal de
dúvidas e apresentou um descritivo da função do Comitê, entre elas a de atualização
e interpretação das normas. Nota-se que o tema está no alerta dos órgãos
competentes, mas que também é necessário um agir mais rápido, visto que, como
apresentou-se no presente trabalho, o último provimento foi publicado há mais de 20
anos.
Desta forma, diante do exposto, entende-se que é fundamental que os
advogados(as) se atentem para as regulamentações existentes e que independente
do meio que escolham para a divulgação de seus trabalhos, que as normas da
profissão sejam respeitadas para uma boa reputação que a advocacia sempre exigiu
e sempre seguiu, diante da função social que exerce na sociedade.
Os profissionais do ramo jurídico, como bem cita a Carta Magna, a Constituição
Federal do Brasil, em seu artigo nº133, exercem “função indispensável à
administração da justiça”. O advogado(a) está a serviço da sociedade e é fundamental
na manutenção do Estado Democrática de Direito. Sendo assim, zelar pela boa
reputação profissional, seguindo preceitos éticos e respeitando as normas de
regulamentação, continuará possibilitando a prática de uma advocacia que está a
serviço da sociedade e em prol do desenvolvimento do país.
21

REFERÊNCIAS

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Federativa do Brasil. Brasília, DF, 19 out. 2015. Disponível em: AbrirPDF (oab.org.br).
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Oficial da República Federativa do Brasil. Brasília, DF, 19 out. 2015. Disponível em:
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BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Diário Oficial da


República Federativa do Brasil. Brasília: DF, 5 out. 2022. Disponível em: Constituição
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BRASIL. Provimento nº 5. Dispõe sobre a Comissão de Reestruturação e


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CRETELLA JÚNIOR, José. 1000 Perguntas sobre o Estatuto da OAB e o Código


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LÔBO, Paulo. Comentários ao Estatuto da Advocacia e da OAB. São Paulo:


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OAB NACIONAL. Comitê regulador do marketing jurídico cria canal de requerimento


22

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Disponível em: https://revistaeletronica.oabrj.org.br/. Acesso em: 17 nov. 2022

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