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Anais da XVI Semana de Iniciação Científica: resumos dos grupos de trabalho

Nova Lima, 20 a 22 de novembro de 2019


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VIOLAÇÃO A DIREITOS DA PERSONALIDADE NA INTERNET

Jeferson Ferreira Gonçalves 1

1 INTRODUÇÃO

O presente trabalho visa analisar as violações a direitos da personalidade na internet,


bem como apresentar hipóteses de esclarecimento quando das resoluções de conflito, exibir a
evolução normativa brasileira acerca do tema, e mostrar as implicações e/ou reflexos da Lei
Geral de Proteção de Dados como escopo de proteção destes direitos.
Um novo modelo de relações sociais toma conta do mundo, a evolução da internet
fez com que as relações sociais se tornassem cada vez mais virtualizadas, e, em decorrência
desta conectividade latente, novos direitos e novos problemas vão emergir principalmente no
que toca a direitos relacionados às pessoas que utilizam a internet, pois há a recente
modificação dos padrões de condutas exigidos dos usuários. Se antes a ideia de virtualização
era voltada a máquinas e robôs, agora esta está voltada a sujeitos componentes desta rede. E
como parte integrante deste novo modelo de interação, o sujeito deve ser respeitado como
pessoa, seja através da proteção de elementos intrínsecos a sua personalidade como o sigilo, a
liberdade e a intimidade, seja através da proteção de elementos atributivos deste sujeito na
sociedade como a honra, a identidade, o nome e as manifestações do intelecto (BITTAR,
2015).

2 DESENVOLVIMENTO

Os direitos da personalidade são direitos subjetivos e caracterizados pelo verbo ser,


podem ser entendidos como direitos inatos e direitos históricos a depender da corrente
adotada pelo autor, tem autores que adotam a teoria naturalista e assim, entendem que são
direitos inatos, enquanto aqueles que adotam a teoria positivista entendem que são direitos
históricos. Os direitos inatos são aqueles direitos inerentes ao homem e que não dependem de
qualquer positivação pelo Estado, sendo apenas declarados por este. Já os direitos históricos
são aqueles constituídos pelo Estado, decorrentes de lutas sociais; são direitos batalhados
(BITTAR, 2015).

1
Email: fgoncalvesjeferson@gmail.com, Graduando em Direito na Faculdade Milton Campos.
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Por conseguinte, partindo da premissa da corrente positivista dos direitos da


personalidade mencionada, cabe dizer que o rol dos direitos da personalidade não é numerus
clausus, e deste modo, como defluência das relações na internet, o positivismo toma vital
importância no reconhecimento destes novos direitos pelo Estado.
Contudo, cabe fazer uma diferenciação necessária entre os termos mundo real e
mundo virtual. É inadequado fazer esta separação entre mundo real e mundo virtual, pois
apesar de violações ocorrerem no mundo virtual, estas possuem reflexos no mundo real,
atingindo concretamente a vida de pessoas. Sendo adequada a utilização da terminologia real-
real para o mundo físico e a real-virtual para o meio digital (COLOMBO; FACCHINI NETO,
2019).
O mundo digital permitiu com que pessoas acessem ilimitadamente vasto conteúdo
de informações, podendo ser vista como uma revolução a qual a sociedade está em constante
submissão e que carrega em si reflexos que impactam todos os aspectos da vida social e da
vida individual.
Ante as agressões as vítimas tem buscado proteção ao Judiciário, tanto para que
cesse a prática lesiva, bem como para solicitar uma forma de reparação aos danos sofridos.
Entretanto, os demandantes se surpreendem com a ubiquidade dos atos ilícitos, uma vez que o
servidor está no país A, o terminal utilizado para executar a ofensa encontra-se no país B,
enquanto o sítio da internet se encontra no país C, e os efeitos danosos vão emergir no país D,
onde o ofendido tem domicílio e ali é o seu centro de interesses (COLOMBO; FACCHINI
NETO, 2019, p. 11).
O centro de interesses seria o local do fato danoso, ou seja, onde estão presentes os
interesses do indivíduo que sofreu lesão aos direitos da personalidade e onde a pessoa é
conhecida. Este critério foi utilizado por Tribunais da União Europeia na fixação de
jurisdição. No meio ambiente digital o termo “lugar” toma outro significado, pois este não se
restringe a uma porção física do território. O ciberespaço é desvinculado a qualquer questão
geográfica ou mesmo divisões político- territoriais. Assim, surge deste espaço uma
ubiquidade, pois o direito aqui se encontra desenraizado, podendo ocupar qualquer posição no
espaço (COLOMBO; FACCHINI NETO, 2019).
No mundo real- virtual há uma intensificação de violações que maculam o nome, a
imagem, a privacidade, a identidade social, a exposição e comercialização de dados sensíveis
(COLOMBO; FACCHINI NETO, 2019). A Lei Geral de Proteção de Dados trata da
diferenciação entre dado pessoal e dado sensível, dado pessoal seria toda e qualquer
informação relacionada à identificação da pessoa, enquanto dado sensível seriam os dados
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relacionados à origem étnica, convicção religiosa, opinião política, dado referente à saúde ou
à vida sexual, dado genético ou biométrico, etc., vinculados a uma pessoa natural (BRASIL,
2018).
Estes dados são um conjunto de informações que compõe um perfil digital de um
usuário, e, dada a era do informacionalismo, este perfil possuirá um valor econômico, tendo
em vista que na atualidade os dados são fonte de poder e patrimonialidade, podendo ser
considerado como a nova “mina de petróleo”.
Não se estaria violando a pessoa através da utilização dos seus dados? Tendo em
vista que os dados compõem uma identidade digital que vai se hospedar no mundo real-
virtual, entretanto, reflete caracteres de um sujeito que compõe o mundo real-real. Isto posto,
cabe indagar como será feita a proteção destes dados (somente a tutela inibitória e a
compensatória resolveria este problema?) e qual será a forma de responsabilização (Como
punir? Quanto punir? Somente mecanismo administrativo?) e os tipos de danos a serem
tutelados (Danos materiais ou Danos morais). Para responder estas questões o levantamento
bibliográfico, doutrinário e jurisprudencial, serão a base para esta indagação.
Dada à dimensão e o grau de importância que as relações tecnológicas tomam, estas
vão carecer de um arcabouço normativo que reequilibre a harmonia da convivência em rede,
como já mencionado. No que concerne à positivação, esta segue três etapas, como se fosse
uma escada. Então, conforme evolui a sociedade da informação, cada vez mais decorre
problemas de violação de novos direitos da personalidade, que chegará primeiro à prática
judicial, posteriormente ao legislativo e por fim até a doutrina.
Atualmente, nos encontramos no segundo degrau desta escada, e em relação a
recente Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), destaca-se que apesar de ser um tema atual,
este não começou a ser discutido hoje. No contexto mundial têm-se registros da década de 60,
com o National Data Bank nos Estados Unidos, até chegar ao ano de 2018, com a entrada em
vigor da GDPR. Já no contexto brasileiro, também têm início na mesma época, em meados de
1962 com o código das telecomunicações. Contudo, as primeiras discussões brasileiras
começam a tomar força no ano de 2010, com a possibilidade de estabelecer um tripé
normativo regulador, que funcionaria da seguinte forma: elaboração do Marco Civil da
Internet, da Lei Geral de Proteção de Dados e a atualização da Lei de Direitos Autorais
(PARENTONI; LIMA, 2019).
Todavia, percebe-se um desalinhamento temporal na edição dos diplomas, uma vez
que o Marco Civil da Internet entrou em vigor no ano de 2014, a LGPD apesar de publicada
entrará em vigor em agosto de 2020 e a Lei de Direitos Autorais permanece com sua versão
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do ano de 1998. A LGPD nasce para regular o tratamento de dados no Brasil: coleta,
armazenamento e descarte.

3 CONCLUSÃO

Com base nas considerações feitas acima, percebe-se que o arcabouço normativo
acerca do tema está em constante evolução, o que demonstra a relevância das interações
tecnológicas na vida das pessoas. No entanto, tais regulamentações ainda se parecem
generalistas, uma vez que não consegue traçar, ao menos caminhos para resolução de
problemas oriundos da internet, como por exemplo, a fixação de jurisdição. Caberá ao
judiciário através de um esforço interpretativo das leis criadas e analógico de julgados
internacionais fixar as diretrizes para solução de violações a direitos da personalidade na
internet.

REFERÊNCIAS

BITTAR, Carlos Alberto. Os direitos da personalidade. 8. ed., rev., aum. e mod. por
Eduardo C. B. Bittar. São Paulo: Saraiva, 2015.

BRASIL. Presidência da República. Lei 9.610 de 19 de Fevereiro de 1998: [Lei de Direitos


Autorais]. Brasília: Presidência da República, 1998. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9610.htm. Acesso em: 05/11/2019.

BRASIL. Presidência da República. Lei 12.965 de 23 de Abril de 2014: [Marco Civil da


Internet]. Brasília: Presidência da República, 2014. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2014/lei/l12965.htm. Acesso em:
05/11/2019.

BRASIL. Presidência da República. Lei 13.709 de 14 de Agosto de 2018: [Lei Geral de


Proteção de Dados]. Brasília: Presidência de República, 2018. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2018/lei/L13709.htm. Acesso em:
05/11/2019.

COLOMBO, Cristiano; FACCHINI NETO, Eugênio. Violação dos direitos de personalidade


no meio ambiente digital: a influência da jurisprudência europeia na fixação da
jurisdição/competência dos tribunais brasileiros. Civilistica.com. Rio de Janeiro, a. 8, n. 1,
2019. Disponível em: http://civilistica.com/violacao-dos-direitos-de-personalidade/. Acesso
em 10/10/2019.

PARENTONI, Leonardo; LIMA, Henrique. Protection of Personal Data in Brazil: Internal


Antinomies and International Aspects. SSRN Electronic Journal. January, 2019. Disponível
em:
https://www.researchgate.net/publication/332890732_Protection_of_Personal_Data_in_Brazil
_Internal_Antinomies_and_International_Aspects. Acesso em: 15/10/2019.
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SARLET, Gabrielle Bezerra Sales; CALDEIRA, Cristina. O consentimento informado e a


proteção de dados pessoais de saúde na internet: uma análise das experiências legislativas de
Portugal e do Brasil para a proteção integral da pessoa humana. Civilistica.com. Rio de
Janeiro, a. 8, n. 1, 2019. Disponível em: http://civilistica.com/o-consentimento-informado-e-
a-protecao/. Acesso em: 21/10/2019.

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