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O reconhecimento facial na segurança pública e a

proteção de dados pessoais como garantia fundamental

O RECONHECIMENTO FACIAL NA SEGURANÇA PÚBLICA E A PROTEÇÃO DE


DADOS PESSOAIS COMO GARANTIA FUNDAMENTAL
The facial recognition in public safety and the personal data protection as a fundamental guarantee
Revista de Direito e as Novas Tecnologias | vol. 16/2022 | Jul - Set / 2022
DTR\2022\15114

Beatriz Daguer
Mestranda em Direito Penal (UERJ). Especialista em Direito Penal Econômico (PUCPR). Especialista
em Teoria Jurídica do Delito (USAL/ES). Professora de Direito Penal (FACCAR). Advogada. Lattes:
[http://lattes.cnpq.br/4428577232570781_]. beatrizdaguer.adv@gmail.com

Luiz Antonio Borri


Doutorando em Direito (PUC/RS). Professor de Direito Penal (UNICESUMAR). Advogado. Lattes:
[http://lattes.cnpq.br/1414046440611495_]. luiz@advocaciabittar.adv.br

Rafael Junior Soares


Doutorando em Direito (PUC/PR). Mestre em Direito Penal (PUC/SP). Professor de Direito Penal
(PUC/PR). Advogado. Lattes: [http://lattes.cnpq.br/7645805665092232_].
rafael@advocaciabittar.adv.br

Área do Direito: Direitos Humanos; Digital


Resumo: O presente artigo examina a questão dos direitos fundamentais e das novas tecnologias
ante a necessidade de proteção dos dados pessoais em razão de sua atual importância para a
sociedade. O reconhecimento facial tem sido amplamente empregado no âmbito da segurança
pública no Brasil, sem que exista uma regulamentação sobre o assunto. Sendo assim, a partir do
método dedutivo e da revisão bibliográfica, pretende-se demonstrar a urgente necessidade de
criação de uma legislação que aborde suficientemente o tema, a fim de oferecer ao cidadão critérios
transparentes e seguros quanto ao funcionamento do sistema de reconhecimento facial, visando
tutelar o direito fundamental de inviolabilidade da intimidade, da privacidade, da honra e da imagem
das pessoas.

Palavras-chave: Reconhecimento facial – Proteção de dados – Segurança pública


Abstract: This article examines the issue of fundamental rights and new technologies, given the need
to protect personal data due to its current importance to society. Facial recognition has been widely
used in the context of public security in Brazil, without any regulation on the subject. In this way, from
the deductive method and the bibliographical review, it is intended to demonstrate the urgent need to
create a legislation that addresses the subject, in order to offer the citizen transparent and safe
criteria regarding the functioning of the facial recognition system, aiming to protect the fundamental
right of inviolability of intimacy, privacy, honor and image of people.

Keywords: Facial recognition – Data protection – Public security


Para citar este artigo: DAGUER, Beatriz; BORRI, Luiz Antonio; SOARES, Rafael Junior. O
reconhecimento facial na segurança pública e a proteção de dados pessoais como garantia
fundamental. Revista de Direito e as Novas Tecnologias. vol. 16. ano 5. São Paulo: Ed. RT, jul.-set.
2022. Disponível em: inserir link consultado. Acesso em: DD.MM.AAAA.

Sumário:

1.Introdução - 2.Os direitos fundamentais e as novas tecnologias - 3.O reconhecimento facial no


contexto da legislação - 4.A necessidade de transparência dos dados pessoais para evitação da
discriminação no reconhecimento facial - 5.Considerações finais - 6.Referências bibliográficas

1.Introdução

O emprego da tecnologia na segurança pública não é uma novidade no país, tendo recebido cada
vez mais atenção e espaço diante dos benefícios que pode resultar ao Poder Público e à sociedade.
No entanto, o tema não é tão simples em razão do constante confronto entre direitos fundamentais e
a segurança pública. Assim, a privacidade e, por sua vez, os dados pessoais são classificados
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O reconhecimento facial na segurança pública e a
proteção de dados pessoais como garantia fundamental

atualmente como direitos fundamentais do cidadão, valendo salientar que a Emenda à Constituição
115, de 2022, inseriu a proteção dos dados pessoais no rol dos direitos e garantias individuais do art.
5º da Constituição Federal.

Diante disso, no campo da segurança pública existem diversas formas de validação biométrica como
instrumento de acesso e segurança, como, por exemplo, impressão digital, retina, voz, geometria das
mãos e, o que de fato interessa ao presente artigo, o reconhecimento facial.

O referido mecanismo tem sido adotado recorrentemente no país por diversos entes públicos e
privados, em especial nas cidades de Salvador, Rio de Janeiro, São Paulo e Porto Alegre. No
entanto, embora em uma primeira reflexão isso possa parecer algo benéfico, faz-se necessário
aprofundar o estudo do tema para se verificar a questão legal, ou seja, se existe base legislativa
suficiente para o tratamento e emprego dos dados pessoais coletados pelo Estado.

Além disso, é imprescindível analisar o reconhecimento facial dentro de uma perspectiva de


vigilância em massa, assim como a existência de uma tendência preconceituosa contra
determinados grupos da sociedade, o que já vem sendo denunciado há algum tempo por estudiosos
do tema.

Desse modo, especificamente quanto ao referencial teórico, o presente trabalho investiga como a
nova tecnologia do reconhecimento facial pode gerar violações à privacidade e à proteção de dados,
além de abordar a discriminação no sistema de justiça criminal como um dos problemas identificados
durante a pesquisa, ante a possibilidade de vieses nos algoritmos para atingir determinados setores
da sociedade.

Por fim, trata-se de uma pesquisa exploratória, que busca oferecer uma compreensão mais ampla e
sistemática sobre o assunto. Outrossim, será empregado o método dedutivo para propor a
elaboração de legislação que aborde o tema de forma suficiente. Por sua vez, a revisão bibliográfica
e análise de julgados sobre o tema serão empregadas para se chegar aos objetivos traçados no
estudo quanto ao reconhecimento facial na área da segurança pública.

2.Os direitos fundamentais e as novas tecnologias

A Constituição Federal estipula no art. 5º, X, a inviolabilidade da intimidade, a privacidade, da honra


e a imagem das pessoas. Segundo a doutrina, “os direitos à intimidade e à própria imagem formam a
proteção constitucional à vida privada, salvaguardando um espaço íntimo intransponível por
intromissões ilícitas externas1”.

Com efeito, “a privacidade surge com contornos jurídicos relacionados à defesa de características
manifestas dos indivíduos garantindo ao mesmo tempo a não intervenção indevida e a esfera de
abrigo para o exercício de demais direitos fundantes” 2. Por outro lado, quando se trata da proteção
de dados, ainda que seja decorrente da privacidade, busca-se garantir individual e coletivamente a
proteção da pessoa das formas de controle da discriminação3.

O tema é tão atual que recentemente foi promulgada a Emenda Constitucional 115, em sessão
solene no Congresso Nacional, a qual incluiu a proteção de dados pessoais no rol de direitos
fundamentais4, tal como havia sido decidido pelo Supremo Tribunal Federal em decisão prolatada no
ano de 20205. Dito isso, trata-se de instituto que merece atenção da comunidade acadêmica, em
razão dos impactos jurídicos que terá a partir de agora.

Ao mesmo tempo, o texto constitucional assegura no art. 144 que a segurança pública é dever do
Estado e direito e responsabilidade de todos, sendo exercida para a preservação da ordem pública e
da incolumidade das pessoas e do patrimônio. Assim, “a segurança constitui o núcleo dos direitos
fundamentais da pessoa humana, sem a qual o homem não passa de um prisioneiro da sua própria
insegurança, e o Estado de direito, um ente virtual, incapaz de cumprir com seus objetivos
institucionais”6.

Na difícil compatibilização entre intimidade e/ou privacidade e segurança pública, cabe ao Estado
estabelecer o equilíbrio para o livre desenvolvimento da sociedade. Em outras palavras, é indubitável
que as novas tecnologias têm impactado inúmeros atores sociais como segurança, educação, saúde
e outras instituições da vida social. Com isso, afirma-se que “a utilização de algoritmos e grandes
montantes de dados para gerir e gerenciar a vida social marca o chamado gerenciamento
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proteção de dados pessoais como garantia fundamental

algorítmico, em que se vigia cada indivíduo, assim como a multidão, os gerenciando na Era Big Data”
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.

Por conseguinte, no âmbito da segurança pública brasileira, o fenômeno de expansão de


mecanismos tecnológicos aqui retratado não poderia ser distinto, surgindo novas formas de atuação
das autoridades públicas, a partir do emprego de reconhecimento facial, predição, drones, sensores
de ambientes que configuram as novas formas de atuação frente à criminalidade, assim como são
utilizados em larga escala em outros países do mundo, como é o caso da China, considerada a
sociedade mais vigiada do mundo8. A realidade tecnológica produz efeitos em todas as searas,
exigindo-se no campo jurídico novas formas de regulação e enfrentamento às questões trazidas.

Observa-se, inclusive, entusiasmo de alguns em relação ao uso dos novos instrumentos, tendo em
vista o alto potencial advindo do emprego de câmeras e do sistema de reconhecimento, os quais vão
muito além do monitoramento de foragidos, ante sua capacidade “de criar a associação de pessoas
com outras pessoas e pessoas com objetos, gerando metadados, dados diversos que são guardados
junto a uma identificação da pessoa, que podem ser utilizados para a investigação” 9, possibilitando,
com isso, uma visão muito mais ampla das conexões entre as pessoas envolvidas na prática
criminosa.

Sabe-se que um dos acontecimentos ocorridos no Brasil é o uso indiscriminado do reconhecimento


facial na segurança pública, sem que exista uma legislação específica a respeito do assunto e muito
menos um debate maduro quanto aos limites do seu uso e eventuais problemas dele decorrentes,
haja vista que sua implementação se deu de forma desordenada e pouco sistemática ao redor do
país. É certo que os sistemas de reconhecimento facial estão inseridos tanto no âmbito público como
privado, mas, até o momento, não há definição, por exemplo, a respeito do controle, destinação e
uso dessas informações pessoais.

Antes de adentrar efetivamente ao tema proposto, é importante compreender que conceitualmente o


reconhecimento facial é entendido como “uma técnica de identificação biométrica, assim como a
impressão digital, em que um software mapeia as linhas faciais e, através de algoritmos, compara-os
a uma imagem digital, reconhecendo (ou negando) sua identidade”10 .

Em complemento, há

“um banco de dados com várias imagens para extrair características específicas [...] consegue
identificar características biométricas das faces com base em padrões definidos. Depois de pronto, a
ideia é que o algoritmo consiga reconhecer e identificar um rosto com uma foto ou um vídeo”11 .

Por fim, trata-se de uma “‘tecnologia de reconhecimento facial’ nada mais é que um software
programado para reconhecer e identificar rostos humanos específicos a partir de fotos ou vídeos”12 .

Com isso, o computador que utiliza um sistema de inteligência artificial consegue analisar diversas
características do rosto gravado/fotografado, como a distância entre os olhos, o tamanho do nariz e
da boca, a linha da mandíbula, entre outros aspectos, na medida em que essas transformações
ficam armazenadas para eventual necessidade de comparação futura desses dados com outros13 . É
interessante mencionar que, na prática, esses dados do reconhecimento facial frequentemente
derivam de imagens de pessoas detidas em delegacias, antes mesmo de um magistrado ter a
chance de determinar a sua culpabilidade ou inocência14 .

No contexto da evolução das cidades inteligentes vistas mundo a fora, “instrumentos de


reconhecimento facial também servem como alternativas para tornar factível a tutela da saúde e
proteção dos cidadãos. A adoção desses sistemas aumenta a capacidade de vigilância em setores
urbanos e oportuniza um poder de polícia mais efetivo”15 .

Com efeito, o uso do reconhecimento facial é uma realidade no Brasil e no mundo, muito embora
encontre maiores ou menores resistências em determinados locais. Por exemplo, muito embora a
China conte com grande parte do apoio popular para utilização dessas tecnologias, em meados de
2019, Hong Kong assistiu a uma série de protestos contra a instalação massiva de câmeras de
reconhecimento facial, ocasião em que os cidadãos destruíram alguns aparelhos tecnológicos16 .

No Brasil, um homem com mandado de prisão aberto foi preso no carnaval de Salvador em 2019
após identificação feita pelo sistema de reconhecimento facial17 , e, no ano de 2020, por meio do
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O reconhecimento facial na segurança pública e a
proteção de dados pessoais como garantia fundamental

Sistema de Reconhecimento Facial da Secretaria da Segurança da Bahia (SSP-BA), a Secretaria


informou que reconheceu e auxiliou na captura de 42 duas pessoas foragidas da Justiça durante o
carnaval, de modo que a ferramenta do reconhecimento facial indicou semelhança acima de 90%,
tendo sido utilizada a tecnologia do Face Check, que estava na fase de testes e é ligada ao banco de
dados do IIPM (Instituto de Identificação Pedro Mello), possibilitando a identificação de um indivíduo
foragido no período máximo de um minuto.

De qualquer sorte, a preocupação consiste na forma como a tecnologia será utilizada, tendo em vista
a sua destinação inimaginável, tanto no ambiente público como no privado, uma vez que as
repercussões de sua utilização já têm se mostrado grandiosas. Não há dúvidas, portanto, que
instrumentos de vigilância e controle, como é o caso do reconhecimento facial, podem redundar em
benefícios à sociedade.

No entanto, a preocupação que se tem até o momento diz respeito à forma e a ausência de critérios
para o seu implemento, tendo em vista as inúmeras possibilidades – benéficas ou maléficas – quanto
ao seu efetivo uso, ficando à margem da deliberação de cada estado ou órgão público que se vale
desses mecanismos.

3.O reconhecimento facial no contexto da legislação

Segundo dados obtidos pelo Instituto Igarapé no Brasil, identificou-se quatro setores principais para a
implementação de reconhecimento facial pelo setor público, sendo eles: (i) educação, (ii) transporte,
(iii) controle de fronteiras e (iv) segurança pública18 . Além disso, existem ao menos 47 casos
publicamente reportados de adoção do reconhecimento facial por autoridades públicas desde 2011
até 2019 nos Estados.

Por sua vez, os dispositivos de reconhecimento facial na área de segurança pública foram
oficialmente inaugurados no Brasil em 2019. Isso ocorreu por meio da Portaria 793, de outubro de
2019, na qual se autorizou o uso de recursos do Fundo Nacional de Segurança Pública visando a
criação do videomonitoramento com soluções de reconhecimento facial a fim de se enfrentar a
criminalidade no país19 .

Sucede que não há legislação específica sobre o assunto até o momento, o que pode ocasionar
grande discricionaridade quanto ao seu uso, bem como afronta aos princípios constitucionais da
inviolabilidade da intimidade, da privacidade, da honra e da imagem das pessoas. Muito embora se
identifique um debate efervescente sobre a questão da regulamentação, inexiste, por enquanto, lei
que aborde a sua regulamentação. A Câmara dos Deputados20 e o Ministério Público do Distrito
Federal e Territórios realizaram audiências públicas visando discutir a tecnologia de reconhecimento
facial e seu emprego na segurança pública.

Da mesma forma, existem diversos projetos de lei na esfera estadual que pretendem tratar do
assunto diante do uso recorrente do reconhecimento facial (PL 391/2019-MG; PL 148/2019-PR; PL
342/2019-RJ; PL 341/2019-RJ, PL 607/2019-RJ, PL 853/2019-RJ e PL 865/2019-SP). Coexistem,
ainda, projetos de lei federais sobre o tema (PL 9736/201821 ; e PL 4612/201922 ). Por fim, é relevante
citar a Portaria 4.617/202123 , que institui a Estratégia Brasileira de Inteligência Artificial24 , com o
intuito de nortear as ações do Estado brasileiro em prol do fortalecimento da pesquisa,
desenvolvimento e inovações de soluções em inteligência artificial, bem como garantir a inovação no
ambiente produtivo e social nessa área.

A Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD – Lei 13.709/2018 (LGL\2018\7222)) e até mesmo o
Código de Defesa do Consumidor (Lei 8.078/90 (LGL\1990\40)) fixam um rol extenso de direitos e
princípios referentes à coleta e ao tratamento de dados pessoais, incluindo-se, naturalmente, o
reconhecimento facial25 .

Desde o art. 2º da LGPD, há uma importante orientação quanto aos fundamentos que norteiam a
disciplina da proteção de dados, quais sejam: o respeito à privacidade; a autodeterminação
informativa; a liberdade de expressão, de informação, de comunicação e de opinião; a inviolabilidade
da intimidade, da honra e da imagem; o desenvolvimento econômico e tecnológico e a inovação; a
livre iniciativa, a livre concorrência e a defesa do consumidor; os direitos humanos, o livre
desenvolvimento da personalidade, a dignidade e o exercício da cidadania pelas pessoas naturais.

Todavia, é importante destacar que a LGPD não se aplica à coleta e ao processamento de dados
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O reconhecimento facial na segurança pública e a
proteção de dados pessoais como garantia fundamental

para fins de segurança pública, tendo em vista que o art. 4º, II, § 1º, assevera a necessidade que
seja criada uma lei própria e pontual, nos seguintes termos: “será regido por legislação específica,
que deverá providenciar medidas proporcionais e estritamente necessárias a fim de servir ao
interesse público”26 .

Apesar da ressalva da LGPD, quanto aos dados e a segurança pública, existem autores que afirmam
não se tratar de vedação absoluta, visto que o § 1º do mesmo dispositivo “determina que os
princípios gerais de proteção ao titular de dados continuarão norteando qualquer esfera de
tratamento, até mesmo em contextos de interesse público”27 .

Não obstante, fato é que a legislação específica ainda não foi criada pelo Congresso Nacional,
verificando-se o evidente vazio legislativo, apesar do crescente uso do reconhecimento facial no país
e as implicações e consequências práticas vivenciadas pela sociedade.

Nesse contexto, Heloísa Estellita busca discutir possíveis limites à persecução penal no contexto da
transferência de dados entre o COAF e as agências de investigação penal, para tanto discute em
item específico da proteção de dados como direito fundamental, arrematando que “como direito
fundamental, também está sujeito a intervenções (restrições), mas que devem estar previstas em lei
e serem proporcionais28 .” Assim, tomando por base o art. 5º, X, da LGPD, a autora sustenta que,
cada fase do tratamento de dados (obtenção, tratamento, transferência etc.) constitui em uma
intervenção autônoma na autodeterminação informacional a exigir autorização legal autônoma para
cada forma de tratamento. Essa observação é interessante porque “tanto a coleta de um dado para
fins de inteligência ou segurança pública (uma finalidade) como, por exemplo, a sua transmissão e
utilização para fins de persecução penal (outra finalidade) têm de estar autorizadas em lei”29 .

Em sentido similar, tem-se advertido que o desenvolvimento tecnológico e a utilização de dados


pessoais “não podem ser inseridos no funcionamento institucional à margem do Direito, sobretudo
tendo em vista o contexto democrático de proteção às garantias fundamentais” 30 . O assunto
conecta-se ao estabelecimento de balizas e parâmetros de controle da atividade estatal no acesso e
utilização de dados pessoais, mormente num contexto de facilidade de obtenção dessas informações
e disso resulta que “a simples menção ao interesse público ou à segurança nacional como
justificativa para o tratamento de grande volume de dados pessoais pode ser facilmente alvo de
abusos por ser extremamente subjetiva”31 .

Por conseguinte, constata-se a existência de uma nítida relação entre os dados pessoais sensíveis,
a proteção de dados e a segurança pública no que diz respeito ao reconhecimento facial. Entretanto,
apesar da importância do marco legal estabelecido pela LGPD, não houve tratamento jurídico do
assunto até então, porque, como já destacado, a lei não se aplica para fins exclusivos de segurança
pública, defesa nacional, segurança do Estado e atividades de investigação e repressão de infrações
penais32 .

Tanto é assim que já se alertava que “mesmo no estado da arte dos sistemas biométricos, ainda não
há um método automatizado de reconhecimento facial que possa ser usado como prova pericial em
um processo criminal” 33 . Ou seja, a falta de contornos legais mais seguros prejudica o emprego da
técnica em várias vertentes da segurança pública, incluindo-se investigação, processo penal,
execução penal etc., sem contar as interferências na esfera privada, tendo em vista as varreduras
realizadas dos rostos de pessoas que circulam em vias públicas.

Por outro lado, como forma de complementar a LGPD exatamente no ponto aqui abordado,
apresentou-se o anteprojeto da Lei de Proteção de Dados para segurança pública e persecução
penal, o qual pretende “demonstrar a necessidade, a estrutura e os principais conceitos da proposta
legislativa para regular o tratamento de dados no âmbito da segurança pública e de atividades de
persecução e repressão de infrações penais”34 .

Nesse percurso, “a chamada LGPD Penal busca apresentar normas gerais sobre o tratamento de
dados para fins de segurança pública e investigação penal por meio dos seus 12 (doze) capítulos
divididos em 68 (sessenta e oito) artigos” 35 , criando-se um microssistema legislativo de tratamento
de dados.

Especificamente o Capítulo VII, que compreende os arts. 42 a 44, foi intitulado de “Tecnologias de
monitoramento e tratamento de dados de elevado risco”, de modo que engloba o uso do
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O reconhecimento facial na segurança pública e a
proteção de dados pessoais como garantia fundamental

reconhecimento facial para a segurança pública, prevendo, em suma:

“A utilização de tecnologias de monitoramento deve ser prevista por lei específica que autorize a sua
utilização elencando os direitos dos titulares e fundamentadas em relatório de impacto de vigilância,
sendo que, o relatório de vigilância mencionado deve ser composto por uma avaliação de risco da
atividade englobando a descrição da natureza dos dados envolvidos, as finalidades específicas do
tratamento e a quantidade de titulares de dados potencialmente atingidos, entre outros aspectos.
Inclusive, a lei específica deve ser acompanhada de uma avaliação de impacto regulatório. A LGPD
Penal estabelece que o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) emita recomendações sobre o uso
dessas tecnologias, inclusive o CNJ deve publicar relatório anual sobre o uso de tecnologias de
monitoramento pelas autoridades e realizar auditoria diante de denúncia de descumprimento da
legislação. Assim, segundo a proposta do anteprojeto, o reconhecimento facial utilizado para fins de
segurança pública deve ser previsto em lei específica para tal e com a apresentação de relatório de
impacto de vigilância, sendo que, o CNJ faz o controle do uso desta tecnologia”36 .

Observa-se que as tecnologias de monitoramento ou o tratamento de dados pessoais, de acordo


com a LGPD Penal, que representem elevado risco para direitos, liberdades e garantias dos titulares,
serão orientados a partir de critérios como: a natureza dos dados pessoais envolvidos; as finalidades
específicas do tratamento; a quantidade de agentes de tratamento de dados envolvidos; a
quantidade de titulares de dados potencialmente atingidos; se é utilizado algum tipo de nova
tecnologia; as expectativas legítimas do titular de dados, em especial a possibilidade de tratamento
discriminatório.

Para melhor compreensão do assunto de forma global e com semelhança ao modelo brasileiro
proposto, é necessário destacar que a Comissão Europeia apresentou uma sugestão intermediária
de regulação ao Parlamento Europeu. A comissão estabelece uma abordagem regulatória
proporcional ao nível dos riscos de cada uso de sistemas de inteligência artificial aos direitos
fundamentais, classificando-os como: i) risco inaceitável, ii) alto risco e iii) risco baixo ou mínimo37 .

Como explica a doutrina, há que se trabalhar com cenários diferentes quando diz respeito
reconhecimento facial, com permissões e vedações a partir do caso concreto, da seguinte forma:

“[...] duas dessas categorias: de risco inaceitável e de alto risco. Essa distinção perpassa pelo
entendimento de que a obtenção de dados biométricos se desdobra em captura: i) “real time”, em
tempo real, e ii) “post”, posterior. Nos sistemas “real time” - também denominados “live facial
recognition”, conforme supracitado – “a captura dos dados biométricos, a comparação e identificação
ocorrem instantaneamente, quase que instantaneamente ou em qualquer período sem um atraso
significante [...] Esses sistemas envolvem a análise de material ao vivo. Nos sistemas “post”,
diferentemente, o material analisado é preexistente, os dados biométricos foram previamente
capturados, e a comparação e identificação ocorre apenas após um período significativo [...]. A
Comissão Europeia caracteriza os SRFs “real time” para fins de segurança pública como de risco
inaceitável e defende a sua proibição, exceto em três definidas e limitadas situações, diante de
interesses públicos substanciais, a saber: busca por vítimas de crimes, certas ameaças à vida ou à
integridade física, localização identificação ou persecução de perpetradores de cometer crimes,
ataques terroristas”38 .

Portanto, o tratamento dos dados pessoais receberá cada vez mais importância nas investigações
criminais, em especial para o desvendamento do crime, incluindo-se aqui o reconhecimento facial.
Assim, “há um interesse público para que a persecução penal tenha acesso a essa nova tecnologia
(inclusive, para fornecer uma resposta penal adequada e atual)” 39 . Da mesma forma, espera-se o
correto uso dos dados coletados para que o sistema de justiça criminal possa operar da forma mais
correta e à luz dos direitos fundamentais.

4.A necessidade de transparência dos dados pessoais para evitação da discriminação no


reconhecimento facial

A nova realidade tecnológica no âmbito da segurança pública faz com que “a vigilância passa de
excepcional a quotidiana, das classes ‘perigosas’ à generalidade das pessoas, do interior dos
Estados ao mundo global. A multidão não é mais ‘solitária’ e anônima: está nua”40 . Assim sendo, “as
técnicas de reconhecimento facial consentem extrair o indivíduo da massa, identificá-lo e segui-lo”41 ,
gerando a todo o momento a produção de perfis individuais, familiares, territoriais, entre outros, os
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O reconhecimento facial na segurança pública e a
proteção de dados pessoais como garantia fundamental

quais, em tese, facilitam a atuação do Estado.

Para melhor compreensão do desafio a ser enfrentado nos próximos anos, estima-se que o
Facebook possua mais de 1,35 bilhões de usuários, com mais de 250 bilhões de fotos postadas, ou
seja, um vasto arsenal de informações pessoais coletadas, em especial as fotografias dos usuários
que estão disponíveis para fins de uso da rede social das mais diversas formas possíveis. Nesse
aspecto, “ainda não se consegue esgotar todas as repercussões que seu desenvolvimento pode
desencadear, existindo um esboço do seu potencial benéfico ou maléfico, como a identificação de
terroristas em uma multidão, possibilidade de fraudes e estelionato, entre outros”42 .

Já no âmbito do sistema de justiça criminal, é possível enumerar casos de dados pessoais que foram
empregados para o exame de casos reais, verificando-se um leque infindável de alternativas de uso
dos recursos:

“[...] interceptação ou requisição de dados para investigações criminais; polícia preditiva (big data
policing); utilização de novas tecnologias de vigilância (como reconhecimento facial); gerenciamento
de decisões no sistema de justiça criminal (decisões do Poder Judiciário tomadas por algoritmos) e,
ainda, técnicas de data mining em situações de dragnet policing, ou seja: quando há um tratamento
de dados pessoais de um sem-número de pessoas para buscar a autoria de determinado delito.
Dragnet policing são ações coordenadas da polícia para a captura de suspeitos (por exemplo,
barricadas em estradas), os quais já atingem também meios tecnológicos, como é, justamente, o
caso de Marielle Franco: obtenção de uma série de dados pessoais, de um sem-número de
cidadãos, a fim de tentar individualizar uma conduta”43 .

À vista disso, é inegável que o uso de dados pessoais pode trazer benefícios ao sistema de justiça
criminal, possibilitando a resolução de casos tanto em fase de investigação policial quanto àqueles
submetidos ao crivo do Poder Judiciário. Por outro lado, diversas em que foram constatados graves
problemas de discriminação podem ser citadas, conforme disserta Bruno Calabrich:

“Outros casos bastante conhecidos – e reveladores de tratamentos discriminatórios – são os


seguintes: (a) o caso do algoritmo de recrutamento da área de recursos humanos da Amazon, que
facilitava a contratação de homens em detrimento de mulheres; (b) do algoritmo de categorização de
imagens do aplicativo Google Photos, que identificava fotos de pessoas negras como ‘gorilas’ –
sendo digno de nota que a ‘solução’ da empresa para contornar o problema foi simplesmente
bloquear a palavra ‘gorila’ dos critérios de indexação; e (c) o caso do algoritmo do programa
COMPAS (Correctional Offender Management Profiling for Alternative Sanctions), software de auxílio
a juízes norte-americanos na avaliação da probabilidade de reincidência para fins de dosimetria da
pena, criticado (i) por errar quase duas vezes mais prognósticos de reincidência ao identificar réus
negros como futuros criminosos que quando assim identifica réus brancos, e (ii) por errar com muito
mais frequência prognósticos de não reincidência ao rotular réus brancos como de baixo risco do que
ao rotular réus negros como de baixo risco de reincidência”44 .

Nesse contexto, após definir policiamento preditivo como mecanismo consistente na “análise de
dados previamente coletados, como relatórios policiais e registros de ocorrências, visando prever
crimes, traçar estratégias de segurança pública e otimizar a utilização dos recursos disponíveis” 45 , a
doutrina assinala o risco de resultados discriminatórios na operacionalização de softwares lastreados
em ampla base de dados46 .

De qualquer sorte, observa-se que atualmente a sociedade está sob total controle em razão do
avanço tecnológico, seja na forma voluntária, porque são cedidos os dados pessoais ao governo e
às corporações privadas para uso de diversos aplicativos ou programas de computadores, seja na
forma involuntária, em decorrência da vigilância (pública ou privada) ostensiva sem que se tenha
autorizado47 .

Verifica-se que não é de hoje que se apresentam manifestações específicas a respeito de vieses nos
sistemas de reconhecimento facial, existindo diversas situações já divulgadas quanto ao problema.
Logo, os possíveis erros do reconhecimento facial podem gerar situações de constrangimento,
prisões arbitrárias e violações de direitos humanos mais graves48 .

No mesmo caminho do que foi trabalhado anteriormente, é possível asseverar que a tecnologia tem
sido empregada sem restrições legais ou maiores considerações da sociedade, muito embora o seu
impacto possa ser significativo na esfera de direitos do cidadão49 :
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O reconhecimento facial na segurança pública e a
proteção de dados pessoais como garantia fundamental

“Para além de distorções que podem ser automatizadas, deve-se pensar que a adoção dos modelos
de reconhecimento facial, por parte do governo, carece de notada atenção, posto que o uso arbitrário
dessas tecnologias pode dificultar garantias individuais. Uma intepretação deformada de que o uso
desses instrumentos serve unicamente para preservar a segurança pública pode justificar uma maior
vigilância e repressão para grupos vulneráveis que reivindicam seus direitos por meio de protestos
civis: ao passo que essa visão prejudica grupos vulneráveis, a privacidade as empodera – esses
sistemas não podem ser utilizados para inibir a privacidade como direito fundamental”.

Um dos casos que recebeu atenção dos estudiosos foi um experimento no qual a pesquisadora, que
era negra, percebeu que o algoritmo não reconhecia o seu rosto “mas, quando ela colocava uma
máscara branca, o software reconhecia que uma pessoa estava ali. Esse problema acontecia por
conta da forma que é feito o treinamento da machine learning”50 .

O que se busca questionar é o fato de que a tecnologia depende necessariamente da atuação


humana, de modo que sua formatação é fator essencial para o correto funcionamento daquilo que
será veiculado no programa de reconhecimento facial. Em outras palavras, e somente à título de
exemplo, “se o dispositivo de reconhecimento facial seguir a lógica da criminalização adotada pelo
Estado, em que negros são sempre culpados, uma parcela majoritária da população enfrentará
novos desafios para sobreviver”51 .

A tecnologia não possui o caráter automático de neutralidade que se espera, por se tratar de uma
representação humana, ou seja, programada pelo ser humano. Dito isso, “trata-se de um dispositivo
em uma rede de relações estratégicas e sobredeterminadas que, por meio de sistemas matemáticos
ou de inteligência artificial, mediam informações que alimentam e regem seu funcionamento de
disciplinaridade dos corpos”52 .

O mais grave de tudo isso é que no Brasil, historicamente conhecido por não observar as premissas
de transparência de dados sobre segurança pública, inexiste qualquer preocupação dos governos
em “elaborar mecanismos de accountability voltados para as tecnologias de reconhecimento facial e
nem protocolos para segurança dos dados coletados”53 .

Ou seja, apesar da falta de base legal para adoção do reconhecimento facial, o emprego da
tecnologia prossegue de forma ostensiva, sendo cada vez mais utilizado na área de segurança
pública, com diversos projetos de lei visando à aquisição dos sistemas de reconhecimento facial. A
Rede de Observatórios da Segurança monitorou os casos de prisões e abordagem com o uso de
reconhecimento facial, bem como projetos e planos de adoção da tecnologia no país54 . Nos meses
de março a outubro de 2019, somente nos estados da Bahia, Rio de Janeiro, Santa Catarina e
Paraíba foram identificados casos de prisões que alcançaram 151 pessoas presas. Esclarece-se que
monitoramento é baseado nas matérias publicadas por dezenas de veículos de imprensa e se utiliza
das informações veiculadas nas contas oficiais das polícias e de outros órgãos nas redes sociais55 .

No contexto de uma sociedade que possui inúmeros problemas de discriminação e injustiça, o uso
não controlado da inteligência artificial na esfera pública “tem a capacidade de impactar
negativamente toda a população, amplificando possíveis discriminações sob o discurso de uma
pretensa imparcialidade algorítmica que dificulta a identificação dessas injustiças” 56 . Ou seja, é
criado um ar de neutralidade, quando, na verdade, o algoritmo possui vieses para suas decisões e
manutenção do estado de coisas violador de direitos fundamentais para determinados segmentos
sociais.

Destaque-se que:

“[C]om uma tecnologia em que o próprio algoritmo cumprirá este papel de indicar pessoas negras,
equivocadamente, como potenciais suspeitas de um crime, novamente elas estarão ‘sujeitas à
automatização de constrangimentos e violências, como abordagens policiais indevidas e atribuição
inverídica de antecedentes criminais’”57 .

Assim, indicando um papel pontecializador da seletividade penal por parte da tecnologia.

Diante disso, há uma necessidade de remodelação quanto ao tratamento jurídico da privacidade e da


proteção dos dados pessoais, em face da sua atual importância e impactos na vida da sociedade.
Isso porque, a correta e legítima preocupação político-institucional quanto à proteção dos dados e
informações é cada vez mais pressionada em nome de exigências de segurança pública, os
Página 8
O reconhecimento facial na segurança pública e a
proteção de dados pessoais como garantia fundamental

interesses de mercado e a reorganização da Administração Pública, tudo em prejuízo do cidadão e


de seus direitos fundamentais58 .

Embora seja inevitável o aumento das máquinas de reconhecimento facial, é necessária forte
regulação em face da questão da utilização tendo em vista que adotam decisões automatizadas.
Ademais, no campo da segurança pública e da investigação criminal, é necessário ter ainda mais
rigor, “a fim de que seus detentores e executores sejam responsabilizados diante de um sistema que
possa ser usado contra os indivíduos e de possível instrumentalização para perseguição e de
criminalização, em atuação desviada da prevista em lei”59 .

Por isso, considera-se que o direito penal brasileiro falhou em termos de “bases democráticas de
enfrentamento à questão criminal sendo notoriamente seletivo, repressivo e estigmatizador. Seja
qual for a medida da crítica apresentada, é certo que o uso de dados pessoais pode amplificar essa
situação”60 .

A conclusão é importante porque é preciso avançar no controle do reconhecimento facial no âmbito


legal, em especial porque:

“[...] não havendo no Brasil atual uma normativa específica que garanta a neutralidade dos softwares
e ofereça diretrizes e limites aos programadores e ao Estado no uso dos dados, bem como que
permita aos cidadãos terem acesso às informações claras e precisas sobre o tratamento de seus
dados, a utilização do sistema de reconhecimento facial na segurança pública passa a ser permeada
de incerteza jurídica, da seletividade de um sistema que segrega e da consequente punição de
pessoas vulneráveis e por vezes inocentes, como já se observa atualmente”61 .

O que se pretende, portanto, é discutir a necessidade de aprimoramento da forma como ocorre o


reconhecimento facial, a fim de que se possa avançar no uso da tecnologia, mas com
responsabilidade para que não sobrevenham prejuízos à sociedade. Em cidades como São
Francisco62 , Somerville e Oakland houve o banimento do uso de sistemas de reconhecimento facial
por parte do poder público, além de Boston e Portland, que também decidiram da mesma forma, sob
os argumentos de que os erros de identificação social podem levar a maior injustiça social e também
à violação contínua da vida privada. Desse modo, as “tecnologias emergentes devem ser reguladas
e balizadas pelo Poder Legislativo e pelas agências reguladoras, isto é, o Direito deve se empenhar
em obstaculizar as externalidades negativas e não inibir as novas tecnologias”63 .

Como destacado pela doutrina, os únicos com acesso total aos dados são os programadores, de
modo que “a reflexão disso no contexto em que o racismo estrutural é a regra é, naturalmente, que
os modelos desenvolvidos sejam enviesados a partir das concepções racistas de seus criadores”64 .

Infere-se que “a transparência surge como um elemento que possibilita o titular dos dados, além de
requisitar a exclusão, saber como ocorre o tratamento de suas informações”65 . A prioridade é que as
novas tecnologias, em especial o reconhecimento facial, sejam empregadas da forma mais
transparente possível, permitindo-se que o cidadão compreenda quais são os critérios de decisão
para o seu uso em respeito ao direito fundamental de proteção de dados pessoais.

5.Considerações finais

Feitas as considerações anteriores, pretendeu-se demonstrar que, muito embora as novas formas de
tecnologia tenham diversos aspectos positivos no âmbito da segurança pública, em especial o
reconhecimento facial, a sua utilização também tem se mostrado extremamente problemática
quando se realiza o cotejo em relação à privacidade do cidadão.

Por sua vez, a LGPD já constitui importante instrumento legal para o avanço da tutela legal na
proteção de dados pessoais, no entanto, ao menos no tocante ao reconhecimento facial, é
importante que se aprimore o plano legislativo, a fim de se obter maior transparência nos dados
coletados, armazenados e usados pelo ente estatal. A LGPD Penal traz maiores detalhes a respeito
da proteção de dados pessoais na esfera da segurança pública, devendo ser priorizada pelo
legislador em razão da urgência em razão do franco desenvolvimento da tecnologia.

Portanto, concluiu-se que o reconhecimento facial é um importante instrumento na segurança pública


e receberá cada vez maior espaço na esfera estatal e também na seara penal. Todavia, entende-se
que a tecnologia deve ser empregada com cautela, tendo em vista a necessidade de aprimoramento
Página 9
O reconhecimento facial na segurança pública e a
proteção de dados pessoais como garantia fundamental

legal do instituto no tocante aos limites na relação com direitos fundamentais, a fim de se evitar
medidas discriminatórias em desfavor dos cidadãos e ofensa aos direitos fundamentais dos
indivíduos.

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21.02.2022.

1 MORAES, Alexandre de. Direito constitucional. 37. ed. São Paulo: Atlas, 2021. p. 89.

2 SANTOS, Jéssica Guedes. Reconhecimento facial entre a criminologia, a mídia e a LGPD penal.
Internet & Sociedade, v. 2, n. 1, jun. 2021. p. 218.

3 Idem.

4 CÂMARA DOS DEPUTADOS. Promulgada PEC que inclui a proteção de dados pessoais entre
direitos fundamentais do cidadão. Disponível em:
[https://www.camara.leg.br/noticias/850028-promulgada-pec-que-inclui-a-protecao-de-dados-pessoais-entre-direitos-fu
Acesso em: 18.02.2022.

5 MENDES, Laura Schertel. Decisão histórica do STF reconhece direito fundamental à proteção de
dados pessoais. Jota. Disponível em: [https://bit.ly/3Ha2YdH]. Acesso em: 20.01.2022.

6 GERÔNIMO, Gislene Donizetti. Segurança pública: dever do Estado: garantia do exercício da


cidadania.. Dissertação (Mestrado). Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, 2011. p. 50.

7 AZEVEDO, Rodrigo Ghiringelli; DUTRA, Luíza Correta de Magalhães. Inteligência artificial, big data
e algoritmos: policiamento e as novas roupagens de um agir discriminatório. Revista Brasileira de
Ciências Criminais, v. 183, p. 247-268, set. 2021.

8 De acordo com notícia veiculada no site UOL, os documentos públicos da empresa chinesa de
tecnologia artificial MegVii, uma única câmera é capaz de analisar até mil pessoas por frame
capturado, identificar seus rostos e checar, em base de dados públicas, se há entre os monitorados
pessoas procuradas pela Justiça. Ao comparar a distância entre os olhos, o tamanho do osso do
nariz ou o desenho do queixo, a tecnologia da MegVii pode dizer, com 99,98% de chances de
acertar, quem é você, desde que seus dados biométricos estejam no banco acessado pela empresa.
Importante mencionar que o uso do reconhecimento facial é aprovado pela maior parte da população
chinesa (cerca de 83% dos cidadãos), que associa o uso de novas tecnologias a uma maior
sensação de segurança. ZMOGINSKI, Felipe. A sociedade mais vigiada do mundo: como a China
usa o reconhecimento facial. Tilt. Disponível em: [https://bit.ly/3LP12Lp]. Acesso em: 18.02.2022.

9 OLIVEIRA, Gabriel Fialho; SANTANA, Isabella da Penha Lopes. Softwares de combate e


prevenção ao crime sob a perspectiva do direito brasileiro. Revista de Direito e as Novas Tecnologias
, v. 4, jul.-set. 2019.

10 MAGNO, Madja Elayne da Silva Penha; BEZERRA, Josenildo Soares. Vigilância negra: O
dispositivo de reconhecimento facial e a disciplinaridade dos corpos. Novos Olhares, [S. l.], v. 9, n. 2,
2020. p. 46.

11 SANTOS, Jéssica Guedes. Reconhecimento facial entre a criminologia, a mídia e a LGPD penal.
Internet & Sociedade, v. 2, n. 1, jun. 2021, p. 219.

Página 12
O reconhecimento facial na segurança pública e a
proteção de dados pessoais como garantia fundamental

12 NEGRI, Sérgio Marcos Carvalho de Ávila; OLIVEIRA, Samuel Rodrigues de. COSTA; Ramon
Silva. O uso de tecnologias de reconhecimento facial baseadas em inteligência artificial e o direito à
proteção de dados. Revista de Direito Público, Brasília, v. 17, n. 93, maio-jun. 2020. p. 86.

13 FILHO, Pedro Zucchetti. Reconhecimento facial: compreendendo os limites de uso. Conjur.


Disponível em: [https://bit.ly/36uSOrH]. Acesso em: 20.01.2022.

14 Idem.

15 MONTEIRO, Guilherme Ornelas. Instrumentos de reconhecimento facial e os contornos da lei


geral de proteção de dados ante a privacidade nas cidades (in)inteligentes. Revista de Direito e
Atualidades, v. 1, n. 1, jan.-mar. 2021, p. 23.

16 MOZUR, Paul. Manifestantes e policiais escondem identidades nos protestos em Hong Kong. O
Globo. Disponível em: [https://glo.bo/3s7yzZo]. Acesso em: 18.01.2022.

17 GARCIA, Rafael de Deus; DUARTE, Evandro Piza. Compreendendo algoritmos aplicados ao


sistema de justiça criminal – ilegibilidade, acesso, compreensão, verdade e computabilidade no ‘eu’
identificado por algoritmos. Revista Brasileira de Ciências Criminais, v. 183, p. 199-226, set. 2021.

18 INSTITUTO IGARAPÉ. Reconhecimento facial no Brasil. Disponível em: [https://bit.ly/3hiihXD].


Acesso em: 20.01.2022.

19 MAGNO, Madja Elayne da Silva Penha; BEZERRA, Josenildo Soares. Vigilância negra: O
dispositivo de reconhecimento facial e a disciplinaridade dos corpos. Novos Olhares, [S. l.], v. 9, n. 2,
2020, p. 48.

20 CÂMARA DOS DEPUTADOS. A questão das tecnologias de reconhecimento fácil para aplicação
em segurança pública no Brasil. Disponível em:
[https://edemocracia.camara.leg.br/audiencias/sala/840]. Acesso em: 27 jan. 2022.

21 CÂMARA DOS DEPUTADOS. PL 9736/2018. Disponível em: [https://bit.ly/3h6SQbj]. Acesso em:


21.02.2022.

22 CÂMARA DOS DEPUTADOS. PL 4612/2019. Disponível em: [https://bit.ly/3sXGnvT]. Acesso em:


21.02.2022.

23 GOVERNO FEDERAL. Portaria GM 4.617, de 06 de abril de 2021. Disponível em:


[https://bit.ly/3v6NEfx]. Acesso em: 21.02.2022.

24 MAGALHÃES, Alice Azevedo; GOMES, Tércio Spínola. Regulação de sistemas de


reconhecimento facial para fins de segurança pública no Brasil: riscos e desafios. Revista
Humanidades & Inovação, v. 8, n. 47, 2021. p. 170.

25 INSTITUTO IGARAPÉ. Regulação do reconhecimento facial no setor público. Junho 2020.


Disponível em: [https://bit.ly/3I4RnOs]. Acesso em: 20.01.2022. p. 13.

26 CANTO, Mariana. Made in Surveillance: A regulação da importação e do uso de tecnologias de


vigilância estrangeiras e a relativização dos direitos fundamentais e da soberania estatal. IV
Simpósio internacional Lavits 2019 – Salvador. Disponível em: [https://bit.ly/3BAlJpw]. Acesso em:
20.01.2022. p. 11.

27 NEGRI, Sérgio Marcos Carvalho de Ávila; OLIVEIRA, Samuel Rodrigues de. COSTA; Ramon
Silva. O uso de tecnologias de reconhecimento facial baseadas em inteligência artificial e o direito à
proteção de dados. Revista de Direito Público, Brasília, v. 17, n. 93, maio-jun. 2020. p. 97.

28 ESTELLITA, Heloisa. O RE 1.055.941: um Pretexto para Explorar Alguns Limites à Transmissão,


Distribuição, Comunicação, Transferência e Difusão de Dados Pessoais pelo COAF, Revista de
Direito Público, Brasília, v. 18, n. 100, out.-dez. 2021. p. 613.

Página 13
O reconhecimento facial na segurança pública e a
proteção de dados pessoais como garantia fundamental

29 Idem.

30 ARRUDA, Ana Julia Pozzi; RESENDE, Ana Paula Bougleux Andrade; FERNANDES, Fernando
Andrade. Sistemas de Policiamento Preditivo e Afetação de Direitos Humanos à Luz da Criminologia
Crítica, Revista de Direito Público, Brasília, v. 18, n. 100, out.-dez. 2021. p. 665-666.

31 Ibidem, p. 670.

32 SANTOS, Jéssica Guedes. Reconhecimento facial entre a criminologia, a mídia e a LGPD penal.
Internet & Sociedade, v. 2, n. 1, jun. 2021. p. 220.

33 ARRUDA, Gustavo H. M. de Arruda; MORRISON, André L. da C. Exames de reconhecimento


facial na Polícia Federal. ICMedia: Conferência internacional de ciências forenses e multimídia e
segurança eletrônica. Anais da conferência internacional de ciências forenses em multimídia e
segurança eletrônica. Disponível em: [https://bit.ly/3JFpey2]. Acesso em: 21.01.2022. p. 78.

34 Exposição de motivos do anteprojeto de lei. Disponível em:


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35 SANTOS, Jéssica Guedes. Reconhecimento facial entre a criminologia, a mídia e a LGPD penal.
Internet & Sociedade, v. 2, n. 1, jun. 2021. p. 220.

36 Idem.

37 MAGALHÃES, Alice Azevedo; GOMES, Tércio Spínola. Regulação de sistemas de


reconhecimento facial para fins de segurança pública no Brasil: riscos e desafios. Revista
Humanidades & Inovação, v. 8, n. 47, 2021. p. 175.

38 Idem.

39 FERREIRA, André da Rocha. Tratamento de dados pessoais em investigações criminais: o direito


fundamental à autodeterminação informativa como limite constitucional. Revista Brasileira de
Ciências Criminais, São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, v. 185, ano 29, p. 115-159, nov. 2021.

40 MALHEIRO, Emerson Penha. A inclusão digital como direito fundamental na sociedade da


informação. Revista dos Tribunais, v. 987, p. 39-54, jan. 2018.

41 MALHEIRO, Emerson Penha. A inclusão digital como direito fundamental na sociedade da


informação. Revista dos Tribunais, v. 987, p. 39-54, jan. 2018.

42 MISUGI, Guilherme; FREITAS, Cinthia Obladen de Almendra; EFING, Antonio Carlos. Releitura
da privacidade diante das novas tecnologias: realidade aumentada, reconhecimento facial e internet
das coisas. Revista Jurídica Cesumar, v. 16, n. 2, mai.-ago. 2016. p. 437.

43 FERREIRA, André da Rocha. Tratamento de dados pessoais em investigações criminais: o direito


fundamental à autodeterminação informativa como limite constitucional. Revista Brasileira de
Ciências Criminais, São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, v. 185, ano 29, p. 115-159, nov./2021.

44 CALABRICH, Bruno Freire de Carvalho. Discriminação algorítmica e transparência na lei geral de


proteção de dados pessoais. Revista de Direito e as Novas Tecnologias, v. 8, jul.-set. 2020.

45 ARRUDA, Gustavo H. M. de Arruda; MORRISON, André L. da C. Exames de reconhecimento


facial na Polícia Federal. ICMedia: Conferência internacional de ciências forenses e multimídia e
segurança eletrônica. Anais da conferência internacional de ciências forenses em multimídia e
segurança eletrônica. Disponível em: [https://bit.ly/3JFpey2]. Acesso em: 21.01.2022.

46 Ibidem, p. 672.

47 NEGRI, Sérgio Marcos Carvalho de Ávila; OLIVEIRA, Samuel Rodrigues de. COSTA; Ramon
Página 14
O reconhecimento facial na segurança pública e a
proteção de dados pessoais como garantia fundamental

Silva. O uso de tecnologias de reconhecimento facial baseadas em inteligência artificial e o direito à


proteção de dados. Revista de Direito Público, Brasília, v. 17, n. 93, maio-jun. 2020. p. 91.

48 NUNES, Pablo. Exclusivo: levantamento revela que 90,5% dos presos por monitoramento facial
no Brasil são negros. The Intercept Brasil, 21 nov. 2019. Disponível em: [https://bit.ly/3LMb6Vk].
Acesso em: 20.01.2022.

49 MONTEIRO, Guilherme Ornelas. Instrumentos de reconhecimento facial e os contornos da lei


geral de proteção de dados ante a privacidade nas cidades (in)inteligentes. Revista de Direito e
Atualidades, v. 1, n. 1, jan.-mar. 2021. p. 34.

50 SANTOS, Jéssica Guedes. Reconhecimento facial entre a criminologia, a mídia e a LGPD penal.
Internet & Sociedade, v. 2, n. 1, jun. 2021, p. 219.

51 MAGNO, Madja Elayne da Silva Penha; BEZERRA, Josenildo Soares. Vigilância negra: O
dispositivo de reconhecimento facial e a disciplinaridade dos corpos. Novos Olhares, [S. l.], v. 9, n. 2,
2020. p. 49.

52 MAGNO, Madja Elayne da Silva Penha; BEZERRA, Josenildo Soares. Vigilância negra: O
dispositivo de reconhecimento facial e a disciplinaridade dos corpos. Novos Olhares, [S. l.], v. 9, n. 2,
2020. p. 51.

53 NUNES, Pablo. Novas ferramentas, velhas práticas: reconhecimento facial e policiamento no


Brasil. In: Centro de estudos de segurança e cidadania; rede de observatório da segurança. Relatos
da violência: cinco meses de monitoramento, análises e descobertas. São Paulo: Universidade
Candido Mendes, 2019. Disponível em: [https://bit.ly/3s4Pwnq]. Acesso em: 20.01.2022. p. 70.

54 Idem.

55 Idem.

56 MAGALHÃES, Alice Azevedo; GOMES, Tércio Spínola. Regulação de sistemas de


reconhecimento facial para fins de segurança pública no Brasil: riscos e desafios. Revista
Humanidades & Inovação, v. 8, n. 47, 2021. p. 174.

57 DA SILVA, Rosane Leal; DA SILVA, Fernanda dos Santos Rodrigues. Anais do 5º Congresso
Internacional de Direito e Contemporaneidade. Edição 2019. Disponível em: [https://bit.ly/3p1xtfZ].
Acesso em: 20.01.2022.

58 NEGRI, Sérgio Marcos Carvalho de Ávila; OLIVEIRA, Samuel Rodrigues de. COSTA; Ramon
Silva. O uso de tecnologias de reconhecimento facial baseadas em inteligência artificial e o direito à
proteção de dados. Revista de Direito Público, Brasília, v. 17, n. 93, maio-jun. 2020. p. 99.

59 PEREIRA, Débora Freitas Mendes. O uso de câmeras de reconhecimento facial em contexto de


pós democracia – uma ferramenta contra o inimigo no direito penal? Disponível em:
[https://bit.ly/3gXu51f]. Acesso em: 28.01.2022. p. 12.

60 FERREIRA, André da Rocha. Tratamento de dados pessoais em investigações criminais: o direito


fundamental à autodeterminação informativa como limite constitucional. Revista Brasileira de
Ciências Criminais, São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, v. 185, ano 29, p. 115-159, nov. 2021.

61 ARAÚJO, Rômulo de Aguiar; CARDOSO, Naiara Deperon; PAULA, Amanda Marcélia. Regulação
e uso do reconhecimento facial na segurança pública do Brasil. Revista de Doutrina Jurídica,
Brasília/DF, v. 112, 2021. p. 5.

62 A cidade de São Francisco editou uma lei proibindo a utilização do reconhecimento facial pelos
departamentos de polícia e por outras agências públicas do município, ressalvando que a restrição
não afeta outros serviços que tenham a matéria de competência afeta ao governo federal. Além
desse efeito proibitivo, a decisão aprovada no Parlamento municipal, em 14.05.2019, contém a
previsão de que a aquisição pública de quaisquer dispositivos capazes de monitorar cidadãos deve
Página 15
O reconhecimento facial na segurança pública e a
proteção de dados pessoais como garantia fundamental

ser aprovada previamente pelos parlamentares, ressaltando que a tecnologia de reconhecimento


facial tem propensão para colocar em perigo os direitos e as liberdades civis. FILHO, Pedro
Zucchetti. Reconhecimento facial: compreendendo os limites de uso. Disponível em:
[https://bit.ly/36uSOrH]. Acesso em: 20.01.2022. GOMES, Helton Simões. Por que uma das maiores
cidades dos EUA baniu o reconhecimento facial? Disponível em: [https://bit.ly/3H8iMxF]. Acesso em:
20.01.2022.

63 MONTEIRO, Guilherme Ornelas. Instrumentos de reconhecimento facial e os contornos da lei


geral de proteção de dados ante a privacidade nas cidades (in)inteligentes. Revista de Direito e
Atualidades, v. 1, n. 1, jan.-mar. 2021. p. 35.

64 ARAÚJO, Rômulo de Aguiar; CARDOSO, Naiara Deperon; PAULA, Amanda Marcélia. Regulação
e uso do reconhecimento facial na segurança pública do Brasil. Revista de Doutrina Jurídica, v. 112,
Brasília/DF, 2021. p. 7.

65 MONTEIRO, Guilherme Ornelas. Instrumentos de reconhecimento facial e os contornos da lei


geral de proteção de dados ante a privacidade nas cidades (in)inteligentes. Revista de Direito e
Atualidades, v. 1, n. 1, jan.-mar. 2021. p. 34.

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