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A PROTEÇÃO DE DADOS PESSOAS COMO UMA EFETIVAÇÃO DOS

DIREITOS HUMANOS NO CONTEXTO BRASILEIRO E INTERNACIONAL

Alexia do Carmo Zeferino Garcia1


Matheus Benevides Vieira2
Roberto Jesus Teixeira3

RESUMO: O presente artigo tem por escopo fazer uma abordagem da proteção
de dados pessoais a nível internacional e nacional, bem como apontando à
legislação vigente, como uma forma de assegurar os direitos humanos das
violações causadas pelos detentores dos dados pessoais. Outrossim, a proteção
dos dados tem o seu alicerce primariamente nos documentos internacionais no
que tange ao direito à vida como uma garantia fundamental de qualquer
indivíduo. Nesta senda, as legislações dos países que promovem a proteção dos
dados têm imposto diretrizes e princípios sobre a proteção, resguardando o
indivíduo e penalizando as empresas que violam este direito.

Palavras-chave: Proteção de Dados, LGPD, Direitos Humanos, Direito


Internacional, Autoridade Nacional de Proteção de Dados.

ABSTRACT: The purpose of this article is to approach the protection of personal


data at an international and national level, as well as pointing to the current
legislation, as a way to ensure the human rights of violations caused by the
holders of personal data. Furthermore, data protection has its foundation
primarily in international documents regarding the right to life as a fundamental
guarantee of any individual. In this regard, the laws of countries that promote data
protection have imposed guidelines and principles on protection, safeguarding
the individual and penalizing companies that violate this right.

1
Graduanda em Direito pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, pesquisadora na área
Penal, e-mail: carmoalexia@hotmail.com
2
Graduanda em Direito pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, pesquisador na área Direito
Internacional e Direitos Humanos, e-mail: theus_benevides@hotmail.com
3
Graduando em Direito pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, e-mail:
robert.teixeira53@gmail.com
Keywords: Data Protection, LGPD, Human Rights, International Law, National
Data Protection Authority.

1. INTRODUÇÃO

O advento da internet trouxe vários benefícios e desafios à sociedade em


suas diversas áreas. Se por um lado, as informações correm com mais
celeridade facilitando com que as informações sejam mais acessíveis, por outro
lado há uma superexposição dessas informações, muitas delas sensíveis,
prejudicando a coletividade.

Em meio aos impactos trazidos pela rede no tocante a vultuosa


quantidade de dados, as big datas utilizam esses dados em um processo de
extração e modificação, análise e construção de algoritmos e visualização de
grandes quantidades de dados, conforme aponta Saldanha, Barcellos e Pedroso
(2021, p. 52), ou seja, a big data nada mais é do que a ciência da manipulação
de volumes de dados grandes a fim de serem usados em técnicas
convencionais.

Nesta senda, as grandes empresas de tecnologia têm aproveitado para


rastrear e coletar esses dados privados para fins próprios, como por exemplo, a
publicidade direcionada, bem como um mapeamento direcionado de
informações tendenciosas. Em uma análise da Stockapps.com, a empresa
Google é líder o que tange à coleta de dados, rastreando 39 diferentes fontes de
dados, enquanto o Twitter 24 tipos, a Amazon 23 tipos, o Facebook 14 tipos e a
Apple 12 tipos de dados.

Já que essas empresas são as cinco maiores empresas digitais, a


discussão fomentou o ordenamento jurídico brasileiro promulgando a Emenda
Constitucional (EC 115) incluindo a proteção de dados pessoais entre os direitos
e garantias fundamentais e a competência da União para legislar sobre o
tratamento e a proteção desses dados.

2. DIREITO À PRIVACIDADE NO CONTEXTO INTERNACIONAL

No contexto internacional, a Declaração Universal dos Direitos Humanos


dispõe sobre a privacidade como um direito essencial e individual. Em que pese
não ser um tratado, mas sim uma declaração, ela não coage ou institui que os
Estados cumpram suas disposições, como afirma o Rezek (2018, p.263-234).
Assim, por mais que seus dispositivos são meramente substanciais e não impõe
os Estados Participantes da Assembleia Geral da Nações Unidas a aderirem, ela
tem servido como um alicerce teórico para vários tratados internacionais de
direitos humanos, no entendimento de Mazzuoli (2018, p. 807-808).

Outrossim, insta salientar que esses documentos internacionais


constituem o que a doutrina nomeia de Bill of Rights, compondo a base normativa
do Sistema Global de Direitos Humanos, capitaneado pela Organização das
Nações Unidas.

Artigo 12.
Ninguém será sujeito à interferência na sua vida privada, na sua
família, no seu lar ou na sua correspondência, nem a ataque à sua
honra e reputação. Todo ser humano tem direito à proteção da lei
contra tais interferências ou ataques. (DECLARAÇÃO UNIVERSAL
DOS DIREITOS HUMANOS)
ARTIGO 17
1. Ninguém poderá ser objeto de ingerência arbitrárias ou ilegais em
sua vida privada, em sua família, em seu domicílio ou em sua
correspondência, nem de ofensas ilegais à sua honra e reputação. 2.
Toda pessoa terá direito à proteção da lei contra essas ingerências ou
ofensas.

Em 1966 as Nações Unidas lançam o Pacto das Nações Unidas sobre


Direitos Civis e Políticos com o alvo de assegurar várias liberdades
fundamentais, inclusive o direito à privacidade no artigo 17, com a criação e
comitês a fim de os direitos nela elencados sejam garantidos.

In verbis o artigo 17 do Pacto Internacional:

ARTIGO 17
1. Ninguém poderá ser objeto de ingerência arbitrárias ou ilegais em
sua vida privada, em sua família, em seu domicílio ou em sua
correspondência, nem de ofensas ilegais às suas honra e reputação.
2. Toda pessoa terá direito à proteção da lei contra essas ingerências
ou ofensas.

Por mais importante que seja o Pacto, ele também não tinha caráter
impositivo não gerando obrigação aos estados-membros, ou seja, eles não
garantiam uma proteção adequada à privacidade dos cidadãos.
Assim, Barreto Júnior (2007, p. 62) aduz:

(...) a sociedade contemporânea atravessa uma verdadeira revolução


digital em que são dissolvidas as fronteiras entre telecomunicações,
meios de comunicação em massa e informática. Convencionou-se
nomear esse “ciclo histórico” de Sociedade da Informação, cuja
principal marca é o surgimento de complexas redes profissionais e
tecnológicas voltadas à produção e ao uso da informação (que
alcançam, ainda, sua distribuição através do mercado; bem como, a
utilização desse bem para gerar conhecimento e riqueza).

Assim, frente aos avanços tecnológicos, discutiu-se a necessidade de


estabelecer normativas no espaço cibernético sobre o tratamento de dados, a
fim de que os direitos à privacidade seja mantido, visando preservar o foro íntimo
dos usuários.

Nesta senda, a Suécia foi o país pioneiro na proteção de dados pessoais,


em 1973, no qual promulgou a primeira lei de proteção de dados do mundo,
conhecida como "Data Act", que tinha como objetivo cercear uma à preocupação
crescente com a privacidade dos cidadãos em relação ao uso e tratamento de
dados pessoais, através de princípios básicos para a coleta, armazenamento e
processamento de dados pessoais, além de criar uma autoridade de supervisão
responsável pela aplicação da lei, servindo assim como um marco para o
desenvolvimento de legislações de proteção de dados em todo o mundo.

A União Europeia adotou algumas medidas no que tange ao tratamento


dos dados assim como a sua circulação. Em maio de 2016, o Regulamento (EU)
2016/679, conhecido como Regulamento Geral de Proteção de Dados (GDPR,
na sigla em inglês), estabeleceu as diretrizes e medidas para assegurar a
proteção dos direitos fundamentais dos indivíduos no meio cibernético e facilitar
as atividades mercantis determinando normas às empresas e aos organismos
públicos no meio digital, incluindo o consentimento explícito dos indivíduos, a
transparência no uso dos dados e a obrigação de garantir a segurança e a
privacidade das informações pessoais (UNIÃO EUROPEIA, 2016).

Além disso, GDPR também prevê penalidades significativas para o não


cumprimento das disposições da lei, com multas que podem chegar a até 4% do
faturamento global anual da empresa infratora. O objetivo principal do GDPR é
fortalecer a proteção de dados e dar aos cidadãos europeus maior controle sobre
suas informações pessoais no ambiente digital.
Estes históricos de ações incumbidos de proteger dados pessoais
influenciou outros países a iniciarem a demanda de tratamento de dados, visto
que existe uma abrangência global de seus dispositivos, considerando que por
conta de transações internacionais que envolvam países da União Europeia os
demais países precisam cumprir as disposições do GDPR se desejarem operar
no mercado europeu. Ou seja, isso significa que empresas de todo o mundo com
a influência extraterritorial do GDPR foram incentivados a adotarem leis
semelhantes para garantir uma proteção adequada dos dados pessoais de seus
cidadãos, bem como, reconheceram a importância de garantir a privacidade e a
segurança destes dados pessoais.

3. DIREITO À PRIVACIDADE NO CONTEXTO NACIONAL

Tendo em vista às informações apresentadas em tela, este interesse pela


privacidade e proteção de dados chegou ao Brasil através da Lei Geral de
Proteção de Dados Pessoais – LGPD, Lei n° 13.709/2018, que foi promulgada
com o alvo de proteger os direitos fundamentais de privacidade e liberdade, e a
livre informação da personalidade de cada indivíduo.

Art. 1° Esta Lei dispõe sobre o tratamento de dados pessoais, inclusive


nos meios digitais, por pessoa natural ou por pessoa jurídica de direito
público ou privado, com o objetivo de proteger os direitos fundamentais
de liberdade e de privacidade e o livre desenvolvimento da
personalidade da pessoa natural.

Embora tenha sido promulgada em 2018, passou a ser válida somente à


partir de setembro de 2020. Esta data de entrada em vigor foi estabelecida para
permitir um período de transição e adequação das empresas às novas
exigências e práticas previstas na lei. Durante esse período, as empresas
tiveram a oportunidade de se adaptar e implementar medidas adequadas para
garantir a proteção dos dados pessoais, o consentimento adequado e a
conformidade com as disposições da LGPD.

Ao garantir a proteção dos dados pessoais, a LGPD fortalece a autonomia


e a autodeterminação das pessoas sobre suas informações, permitindo que
tenham maior controle e poder de decisão sobre como seus dados são utilizados.
Haja vista que isso seja essencial para respeitar a individualidade e a liberdade
de cada indivíduo, bem como para prevenir abusos, discriminação e violações
de direitos com o uso indevidos de dados.

Visto que esta proteção de dados pessoais contribui para a promoção da


igualdade dos indivíduos, considerando que evita-se que ocorra uma utilização
indevida de informações sensíveis, como origem étnica, orientação sexual,
religião etc., que poderiam ser usadas para discriminação ou violações de
direitos fundamentais garantidos na carta magna brasileira.

Além de que a proteção adequada dos dados pessoais também pode


ajudar a prevenir crimes cibernéticos, como o roubo de identidade e a invasão
de privacidade.

Que, embora com a LGPD e o Marco Civil da Internet em vigor no Brasil,


muitas empresas se aproveitam desta coleta de dados para fins próprios,
inclusive, rastreio de consumo, publicidade direcionada, vendas de dados
pessoais.

Ainda assim, uma empresa de tecnologia estrangeira não respeite a


LGPD e viole os direitos de privacidade e proteção de dados dos cidadãos
brasileiros, a ANPD tem a autoridade para aplicar sanções e penalidades,
mesmo que a empresa não esteja fisicamente presente no Brasil. Essas
penalidades podem variar de advertências e multas a proibições de atividades
relacionadas ao tratamento de dados pessoais.

Além disso, a cooperação internacional em questões de proteção de


dados tem se tornado cada vez mais importante. Acordos e tratados
internacionais, como a Convenção 108 do Conselho da Europa e a colaboração
entre autoridades de proteção de dados de diferentes países, são fundamentais
para garantir a efetividade das leis de proteção de dados em um cenário
globalizado.

No contexto brasileiro, a efetivação dos direitos humanos por meio da


proteção de dados pessoais é fundamental para construir uma sociedade mais
justa, inclusiva e democrática. A implementação efetiva da LGPD, juntamente
com a atuação da Autoridade Nacional de Proteção de Dados (ANPD) e a
conscientização da sociedade, desempenham um papel crucial na garantia
desses direitos e no fortalecimento da privacidade e da proteção dos dados
pessoais no país.

4. CONCLUSÃO

Os dados e as informações sensíveis dos indivíduos têm gerado fomento


nas relações jurídicas não só à nível internacional como também nacional.
Ademais, devido à exposição dos dados no tocante à exposição e bem como
seu mercantil, mobilizou a legislação internacional para estabelecer diretrizes e
tratativas sobre o respectivo uso com o alicerce no direito à intimidade e à
privacidade nos documentos internacionais.

Outrossim, essas legislações não só protegem os indivíduos contra os


abusos das big datas como também prevê sanções e penalidades às empresas
que não se adequarem às regras e tratativas estabelecidas.

No Brasil, a proteção de dados ganhou status constitucional por meio da


Emenda Constitucional n° 115, alterando a Constituição Federal incluindo a
proteção dos dados pessoas entre os direitos e garantias fundamentais como
competência privativa da União. Logo, tem-se uma promoção dos direitos
fundamentais, respeitando a intimidade de cada indivíduo e resguardo-os de
qualquer violação por parte de qualquer pessoa ou empresa.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRASIL. Lei N° 13.709, de 14 de agosto de 2018. Lei Geral de Proteção de


Dados Pessoais (LGPD). Brasília, DF. Disponível em:
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2018/lei/l13709.htm.
Acesso em: 19 maio de 23.
EDITH. Google Tracks 39 Types of Private Data, the Highest Among Big Tech
Companies. Stockapps, 2022. Disponível em:
https://stockapps.com/blog/google-tracks-39-types-of-private-data-the-highest-
among-big-tech-companies/. Acesso em: 18 maio 23.
MAZZUOLI, Valério de Oliveira. Curso de Direito Internacional Público. 11.
ed. Rio de Janeiro: Forense, 2018.
ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. Declaração Universal dos Direitos
humanos, de 1948. Disponível em:
<http://www.mp.go.gov.br/portalweb/hp/7/docs/declaracao_universal_dos_direit
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ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. Pacto Internacional sobre os
direitos Civis e Políticos, de 1966. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1990-1994/d0592.htm. Acesso em:
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REZEK, Francisco. Direito Internacional Público: Curso Elementar. 17. ed.
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SALDANHA, Raphael de Freitas; BARCELLOS, Christovam. PEDROSO, Marcel
de Moraes. Ciência de dados e big data: o que isso significa para estudos
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UNIÃO EUROPEIA. Regulamento (EU) 2016/679 do Parlamento Europeu e
do conselho da União Europeia, de 27 de abril de 2016, relativo à proteção
das pessoas singulares no que diz respeito ao tratamento de dados pessoais e
à livre circulação desses dados e que revoga a Diretiva 95/46/CD (Regulamento
Geral sobre a Proteção de Dados). Disponível em: https://eur-
lex.europa.eu/legal-content/PT/TXT/?uri=celex%3A32016R0679. Acesso em:
19 maio 23.

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