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Recentemente, vivenciamos o surgimento de diversos regulamentos garantindo direitos à proteção de dados ao longo do
mundo. Desde o Regulamento Geral de Proteção de Dados (GDPR), na Europa, até a Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais
(LGPD) brasileira, a preocupação dos legisladores ao redor do mundo acerca da proteção desses direitos tem sido evidente.
Da mesma forma, no início de julho, foi aprovada pelo Plenário do Senado a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) nº 17,
de 2019, que agora aguarda votação pela Câmara dos Deputados. Neste texto, buscaremos discutir a importância dessa
adição ao texto constitucional, apontando as vantagens dessa garantia para o ecossistema de proteção de dados pessoais
brasileiro.
A PEC 17/2019 propõe a inserção da proteção de dados pessoais como direito fundamental em nossa Constituição. Mais
especi camente, prevê a alteração do inciso XII do art. 5º para a garantia, “nos termos da lei, do direito à proteção dos dados
pessoais, inclusive nos meios digitais”. Além disso, o projeto insere o inciso XXX ao art. 22, estabelecendo que a competência
para legislar sobre proteção e tratamento de dados pessoais passa a ser privativa da União.
Dessa forma, com a aprovação da PEC, a proteção de dados pessoais passa a vigorar como um direito fundamental garantido
aos cidadãos brasileiros. Essa matéria, ainda, passa a possuir previsão não apenas infraconstitucional, garantindo maior
preservação frente a arbitrariedades, bem como impedindo possíveis confusões e contradições entre legislações federais e
estaduais. Para melhor entendermos o que muda na realidade com essa adição ao texto constitucional, contudo, vale uma
breve digressão sobre o que são dados pessoais e o que signi ca a proteção desses dados.
Ao falarmos de dados pessoais, falamos daqueles dados que estão intrinsecamente ligados a cada um de nós: nome, RG, CPF,
tipo sanguíneo, características físicas, ou mesmo informações biométricas. No contexto da internet, também se pode incluir
nesse conceito os dados que geramos todos os dias – o conjunto de curtidas, de postagens, de preferências de compra,
histórico do navegador, dentre outras coisas – que nos de nem enquanto usuários da rede, em qualquer plataforma que
seja. No sentido legal, os dados pessoais são aqueles que identi cam ou podem ser utilizados para identi car uma pessoa
física, conforme a de nição oposta na Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD).
Proteção de dados pessoais, que poderá se tornar um direito constitucionalmente garantido, em outra medida, é algo mais
amplo, que envolve a proteção da intimidade, da privacidade e da garantia de que os dados pessoais que geramos serão
tratados de acordo com uma legislação protetiva adequada.
A legislação europeia, inclusive, já traz desde a Convenção n. 108 a discussão sobre a proteção desse direito, consagrado
posteriormente tanto na Diretiva 45/94 – substituída recentemente -, quanto na Carta dos Direitos Fundamentais da União
Europeia, em 2000. Nesse sentido, a doutrina vem se desenvolvendo com o passar dos anos, tendo inclusive cristalizado a
proteção de dados pessoais na mais recente normativa europeia, cuja vigência é transnacional, o Regulamento Geral de
Proteção de Dados Pessoais (GDPR). No caso, o Recital n. 1 da normativa estabelece a proteção de dados pessoais como um
direito fundamental para o sistema jurídico europeu.
https://irisbh.com.br/a-importancia-da-protecao-de-dados-pessoais-como-direito-fundament/ 1/5
12/11/2020 A importância da proteção de dados pessoais como direito fundamental » IRIS-BH
No Brasil, o Marco Civil da Internet, em 2014, estabeleceu alguns parâmetros para proteger os indivíduos na rede mundial.
Essa lei foi seguida pela Lei Geral de Proteção de Dados, a Lei n. 13.709/18, que entrará em vigor em agosto do ano que vêm,
cerca de 1 ano da data de publicação deste artigo.
Assim, percebe-se que a proteção de dados pessoais é tomada hoje como uma norma, no sentido amplo e no sentido estrito
da palavra – dado que agora é consagrada em legislações não só no Brasil, mas também na Europa e em diversos outros
países ao redor do mundo. Cabe, portanto, questionar o que muda quando tratamos tal proteção como um direito
fundamental.
Falar de direito fundamental costuma causar certa confusão e descrença perante o público em geral, comumente
acostumado a ver discussões no interior do Poder Judiciário sobre se um ato ou uma lei fere determinado preceito
fundamental. Nessa medida, direitos fundamentais se tornaram um “lugar comum” nas discussões, e, para criticarmos ou
aplaudirmos a mudança legislativa que aqui estamos discutindo, precisamos de nir de forma clara o nosso objeto, a m de
evitar eventuais desventuras.
Existe na literatura especializada uma discussão constante sobre o que são realmente os direitos fundamentais, sua
diferenciação perante outros direitos – a exemplo dos direitos humanos -, bem como onde se encontram no texto
constitucional. A respeito disso, o autor constitucionalista Bernardo Gonçalves Fernandes nos expõe a emergência dos
direitos fundamentais associada à ascensão da Constituição como norma superior do ordenamento jurídico brasileiro, de
forma que elege eventuais direitos como dotados de uma proteção especial do Estado brasileiro.
Além disso, diferem dos direitos humanos, sendo que estes são consagrados majoritariamente no plano internacional, como
nas diversas convenções e normas emitidas pela Organização das Nações Unidas. Os direitos fundamentais, por sua vez, se
efetivam primariamente no plano nacional. Dentro da Constituição Federal visualizamos no artigo 5º alguns direitos já
consagrados, como a igualdade entre homens e mulheres, a liberdade de expressão ou de imprensa, entre outros: todos
todos direitos necessários para a persecução de um ideal democrático.
Assim, ainda com base na literatura de Bernardo Gonçalves, a constitucionalização dos direitos, tornando-os direitos
fundamentais, implica reconhecer as pessoas como sujeitos de direito frente aos Estados, com poder para se opor a abusos e
buscar a satisfação de suas necessidades. Direitos fundamentais, portanto, possuem uma dimensão subjetiva – que é a
faculdade de impor uma ação negativa ou positiva -, e uma dimensão objetiva – que signi ca a imposição de garantias
fundamentais para a constituição de um Estado e para a manutenção da democracia.
Conclusão
Com o avanço tecnológico, a garantia de um espaço saudável para o cidadão brasileiro também passa por garantir que sua
esfera digital, no tocante aos seus dados pessoais, seja respeitada. Dessa forma, é importante pensar o direito à proteção de
dados pessoais como fundante para a constituição da personalidade do indivíduo da era contemporânea, cercado de
aplicativos por todos os lados.
Por m, a proposta da PEC 17/2019 é louvável no sentido de elevar a proteção de dados pessoais ao patamar de direito
fundamental, em consonância com a posição da legislação e jurisprudência europeias. Isso porque a nossa lei de proteção de
dados, apesar de mencionar em seu texto os direitos fundamentais, não apresenta a proteção de dados como tal.
Inserir esse direito na Constituição Federal signi ca que iremos consagrar à esfera virtual dos cidadãos brasileiros o mesmo
respeito que consagramos à sua esfera íntima na realidade. Isso implica, por m, considerar que a proteção de dados
pessoais é essencial aos cidadãos e deve ser levada em conta em conjunto com os demais outros preceitos fundamentais do
nosso ordenamento jurídico.
A proteção de dados pessoais, como podemos perceber, é fundamental para a manutenção da cidadania em um regime
democrático. A criptogra a, por sua vez, é uma das diversas técnicas por meio das quais é possível garantir esse direito aos
cidadãos. Para saber mais sobre a importância da proteção de dados por meio da criptogra a, clique aqui!
As opiniões e perspectivas retratadas neste artigo pertencem a seu autor e não necessariamente
re etem as políticas e posicionamentos o ciais do Instituto de Referência em Internet e Sociedade.
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Tag: dados pessoais, data protection, direitos fundamentais, emenda constitucional, fundamental rights, personal data,
proteção de dados
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