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DIREITO REAIS

AULA 9
PERDA DA PROPRIEDADE
Prof. Dr. Thiago Serrano
CONTEÚDO
• Compreender as formas de perda
da propriedade.
• Compreender a estrutura da
propriedade fiduciária.
INTRODUÇÃO
• O direito de propriedade, sendo perpétuo, só
poderá ser perdido pelo vontade do dono
(alienação, renúncia ou abandono), ou por
alguma outra causa legal, como o perecimento,
a usucapião ou a desapropriação.
• O simples não-uso, sem as características do
abandono, não determina a sua perda, se não
foi usucapido por outrem.
MODOS DE PERDA DA PROPRIEDADE NO CC/02

• Art. 1.275. Além das causas consideradas neste


Código, perde-se a propriedade:
• I - por alienação.
• II - pela renúncia.
• III - por abandono.
• IV - por perecimento da coisa.
• V - por desapropriação.
• Rol meramente exemplificativo
ALIENAÇÃO
• Ocorre por meio de um contrato, isto é, um negócio jurídico
bilateral, gratuito ou oneroso, que causa a transferência de
direito próprio sobre bem móvel ou imóvel a outrem.
• É forma derivada de aquisição da propriedade para aquele
que recebe o bem.
• O termo alienação deve ser reservado apenas às transmissões
voluntárias, provenientes de negócio jurídico bilateral.
• A perda da propriedade pela alienação sempre estará
subordinada à tradição, no caso de bens móveis (exceto navios e
aviões, que demandam registro) e ao registro do título
aquisitivo, quando versar sobre bens imóveis.
ESPÉCIES DE ALIENAÇÃO
• À título oneroso: compra e venda
• À título gratuito: doação
• Voluntária: dação em pagamento
• Involuntária: arrematação ou
exercício de um direito potestativo,
como na retrovenda.
ALIENAÇÃO
• Em regra, a alienação necessita da vontade do titular
do bem para se perfazer. Todavia, há casos em que a
alienação poderá ocorrer sem o consentimento do
titular atual, como, por exemplo, na compra e venda
com cláusula de retrovenda.
• Art. 505, CC: O vendedor de coisa imóvel pode
reservar-se o direito de recobrá-la no prazo máximo
de decadência de três anos, restituindo o preço
recebido e reembolsando as despesas do
comprador, inclusive as que, durante o período de
resgate, se efetuaram com a sua autorização escrita,
ou para a realização de benfeitorias necessárias.
RENÚNCIA
• Renúncia é o negócio jurídico unilateral pelo
qual o proprietário declara formal e
explicitamente o propósito de despojar-se do
direito de propriedade.

• Na renúncia não ocorre transmissão para


ninguém, simplesmente o titular abdica do
direito real, que nesse instante se converte em
res nullius.
INTERPRETAÇÃO DA RENÚNCIA
• A renúncia é negócio jurídico que deve ser
interpretado restritivamente.
• Por esse motivo, a lei não admite renúncia tácita,
sobretudo quando se tratar de bens imóveis,
devendo, nesse caso, o ato ser registrado no
Cartório de Registro de Imóveis, por escritura
pública (art. 108, CC).
• A maioria da doutrina entende que não se aplica
aos bens móveis, haja vista a formalidade exigida
para a validade da renúncia.
RENÚNCIA E REGISTRO
• Art. 108, CC: Não dispondo a lei em contrário,
a escritura pública é essencial à validade dos
negócios jurídicos que visem à constituição,
transferência, modificação ou renúncia de
direitos reais sobre imóveis de valor superior a
trinta vezes o maior salário mínimo vigente no
País.
ABANDONO
• O abandono também implica em perda da
propriedade por ato voluntário do seu titular,
com a diferença que, nesse caso, o animus de
abandonar a coisa é interpretado pela
cessação dos atos de posse.
• Conceito: “É ATO UNILATERAL, PELO QUAL SEU
TITULAR ABRE MÃO DOS SEUS DIREITOS
SOBRE A COISA, MAS SEM MANIFESTAÇÃO
EXPRESSA.”
ABANDONO

• Surgindo a coisa abandonada, qualquer pessoa pode


adquiri-la, seja por meio da ocupação (bem móvel),
seja por meio da usucapião (bem móvel ou imóvel),
sendo ambas formas de aquisição originária da
propriedade.

• Quando a coisa abandonada for imóvel, o Município,


o Distrito Federal ou a União poderão arrecadar o
bem, e após três anos adquirir a propriedade.
ABANDONO

• Art. 1.276, CC: O imóvel urbano que o


proprietário abandonar, com a intenção de
não mais o conservar em seu patrimônio, e
que se não encontrar na posse de outrem,
poderá ser arrecadado, como bem vago, e
passar, três anos depois, à propriedade do
Município ou à do Distrito Federal, se se achar
nas respectivas circunscrições.
ABANDONO DE IMÓVEL RURAL

• Art. 1.276, § 1º, CC: O imóvel situado na


zona rural, abandonado nas mesmas
circunstâncias, poderá ser arrecadado,
como bem vago, e passar, três anos
depois, à propriedade da União, onde
quer que ele se localize.
PRESUNÇÃO DE ABANDONO
• Art. 1.276, § 2º, CC: Presumir-se-á de modo
absoluto a intenção a que se refere este
artigo, quando, cessados os atos de posse,
deixar o proprietário de satisfazer os ônus
fiscais.
• Enunciado 242, III Jornada de Direito Civil: A
aplicação do art. 1.276 depende do devido
processo legal, em que seja assegurado ao
interessado demonstrar a não-cessação da
posse.
PERECIMENTO DO OBJETO
• Perecimento material ou real: destruição da coisa.
• Perecimento jurídico: a coisa continua a existir, mas
uma situação jurídica superveniente faz com que se
torne impossível o exercício do direito pelo seu
titular. A doutrina diverge quanto a reconhecer o
perecimento jurídico como modalidade de perda da
propriedade.
• Ex.: impossibilidade do proprietário exercer seu
direito sobre um imóvel em que foi erguida uma
favela, antes da ocorrência do prazo da usucapião.
PERDA PELA DESAPROPRIAÇÃO
• Trata-se de modo involuntário de perda do
domínio.
• É instituto de direito público, fundado no
Direito Constitucional e regulado pelo Direito
Administrativo, mas com reflexos no Direito
Civil, por determinar a perda da propriedade
do imóvel, de modo unilateral, com a ressalva
da prévia e justa indenização em dinheiro.
PERDA PELA DESAPROPRIAÇÃO
• É UM MODO DE TRANSFERÊNCIA COMPULSÓRIA DA
PROPRIEDADE, FORÇADA, DO DOMÍNIO PARTICULAR OU
DO DOMÍNIO PÚBLICO (de outra entidade pública de
grau inferior) PARA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA.
• Dispensa registro anterior.
• É modo originário de aquisição da propriedade, em
virtude do qual o Estado chama a si o imóvel
diretamente, livre de qualquer ônus.
• Momento consumativo: pagamento ou depósito judicial
da indenização fixada pela sentença ou estabelecida em
acordo.
RETROCESSÃO

• Art. 519, CC: Se a coisa expropriada para


fins de necessidade ou utilidade pública,
ou por interesse social, não tiver o
destino para que se desapropriou, ou
não for utilizada em obras ou serviços
públicos, caberá ao expropriado direito
de preferência, pelo preço atual da coisa.
DESAPROPRIAÇÃO

• Art. 5º, XXIV, CRFB: a lei estabelecerá o


procedimento para desapropriação por
necessidade ou utilidade pública, ou por
interesse social, mediante justa e prévia
indenização em dinheiro, ressalvados os casos
previstos nesta Constituição.
EXCEÇÃO: NÃO HAVERÁ PAGAMENTO DE
INDENIZAÇÃO
• Art. 243, CRFB: As propriedades rurais e urbanas
de qualquer região do País onde forem
localizadas culturas ilegais de plantas
psicotrópicas ou a exploração de trabalho
escravo na forma da lei serão expropriadas e
destinadas à reforma agrária e a programas de
habitação popular, sem qualquer indenização ao
proprietário e sem prejuízo de outras sanções
previstas em lei, observado, no que couber, o
disposto no art. 5º.     
DESAPROPRIAÇÃO NO CC/02
• Art. 1.228, § 3º: O proprietário pode ser
privado da coisa, nos casos de
desapropriação, por necessidade ou
utilidade pública ou interesse social, bem
como no de requisição, em caso de
perigo público iminente.
Segundo Di Pietro
• 1. “existe necessidade pública quando a Administração está diante
de um problema inadiável e premente, isto é, que não pode ser
removido, nem procrastinado, e para cuja solução é indispensável
incorporar, no domínio do Estado, o bem particular”;
• 2. “há utilidade pública quando a utilização da propriedade é
conveniente e vantajosa ao interesse coletivo, mas não constitui um
imperativo irremovível”;
• 3. “ocorre interesse social quando o Estado esteja diante dos
chamados interesses sociais, isto é, daqueles diretamente atinentes
às camadas mais pobres da população e à massa do povo em geral,
concernentes à melhoria nas condições de vida, à mais equitativa
distribuição da riqueza, à atenuação das desigualdades em
sociedade” (cf. M. Seabra Fagundes, 1984:287-288).
PROPRIEDADE FIDUCIÁRIA
PROPRIEDADE FIDUCIÁRIA
Na alienação fiduciária, o devedor fiduciante recebe a pecúnia do
credor fiduciário para aquisição do bem e, em troca, lhe transfere
a propriedade e a posse indireta com a função de garantia,
permanecendo ele, devedor, com a posse direta do bem. Ao
credor se atribui uma propriedade resolúvel pois, embora, titular
de uma propriedade plena, seu direito está sujeito a condição
resolutiva com escopo de garantia.
Devedor Fiduciante: posse direta com o direito de ao quitar o
valor do empréstimo adquirir a propriedade plena do bem.
Credor Fiduciário: só terá a propriedade plena efetiva do bem no
caso de operada a condição resolutiva, qual seja, o
inadimplemento do pagamento do valor do empréstimo.
OBJETO DA PROPRIEDADE FIDUCIÁRIA NO CC

• Objeto: BEM MÓVEL INFUNGÍVEL


• DL 911/69, com alterações das Leis nº 10.931/04 e Lei nº
13.043/2014
• Há possibilidade de propriedade fiduciária incidente em
bem imóvel na hipótese da alienação fiduciária da Lei
9.154/97. No entanto, a essas propriedades especiais,
aplica-se a legislação específica, sendo o Código Civil
mera fonte subsidiária naquilo que não for incompatível,
consoante disposto no art. 1.368-A, CC.
• A súmula 28 do STJ autoriza que a propriedade fiduciária
incida sobre bens já pertencentes ao próprio devedor.
ESPÉCIES DE PROPRIEDADE FIDUCIÁRIA
• Art. 1.368-A. As demais espécies de propriedade
fiduciária ou de titularidade fiduciária submetem-se
à disciplina específica das respectivas leis especiais,
somente se aplicando as disposições deste Código
naquilo que não for incompatível com a legislação
especial.
• Art. 1.368-B. A alienação fiduciária em garantia de
bem móvel ou imóvel confere direito real de
aquisição ao fiduciante, seu cessionário ou sucessor.
EFEITOS JURÍDICOS
• Art.1.368-A, CC:
• Parágrafo único. O credor fiduciário que se tornar
proprietário pleno do bem, por efeito de realização da
garantia, mediante consolidação da propriedade,
adjudicação, dação ou outra forma pela qual lhe tenha
sido transmitida a propriedade plena, passa a
responder pelo pagamento dos tributos sobre a
propriedade e a posse, taxas, despesas condominiais e
quaisquer outros encargos, tributários ou não,
incidentes sobre o bem objeto da garantia, a partir da
data em que vier a ser imitido na posse direta do bem.
PROPRIEDADE FIDUCIÁRIA É UMA ESPÉCIE DE
PROPRIEDADE RESOLÚVEL
• PROPRIEDADE RESOLÚVEL = é aquela que pode ser
extinta pelo advento de condição (evento futuro e
incerto) ou pelo termo (evento futuro e certo).
• Art. 1.359, CC: Resolvida a propriedade pelo
implemento da condição ou pelo advento do termo,
entendem-se também resolvidos os direitos reais
concedidos na sua pendência, e o proprietário, em
cujo favor se opera a resolução, pode reivindicar a
coisa do poder de quem a possua ou detenha.
CARACTERÍSTICAS DA PROPRIEDADE FIDUCIÁRIA

a) Resolubilidade (condição: inadimplemento do


contrato).
b) Transmissão da propriedade ao credor do negócio
fiduciário.
c) Transmissão da posse indireta ao credor fiduciário.
d) Permanência do devedor fiduciante como possuidor
direto.
e) O bem objeto da propriedade fiduciária é utilizado
como garantia ao adimplemento do negócio fiduciário.
f) Devolução da propriedade e da posse indireta ao
devedor uma vez adimplida a obrigação principal.
USO DA COISA
• Art. 1.363, CC: Antes de vencida a dívida, o
devedor, a suas expensas e risco, pode usar a
coisa segundo sua destinação, sendo
obrigado, como depositário:
• I - a empregar na guarda da coisa a diligência
exigida por sua natureza;
• II - a entregá-la ao credor, se a dívida não for
paga no vencimento.
INADIMPLEMENTO

• OBRIGAÇÕES DO CREDOR:
• A) VENDER A COISA.
• B) APLICAR O PREÇO NO PAGAMENTO DO SEU
CRÉDITO E DAS DESPESAS DE COBRANÇA.
• C) ENTREGAR O SALDO, SE HOUVER, AO
DEVEDOR.
VENCIMENTO DA DÍVIDA

• Art. 1.364, CC: Vencida a dívida, e não paga,


fica o credor obrigado a vender, judicial ou
extrajudicialmente, a coisa a terceiros, a
aplicar o preço no pagamento de seu crédito e
das despesas de cobrança, e a entregar o
saldo, se houver, ao devedor.
Art. 53 do CDC
Vedação da Cláusula de Decaimento
• Art. 53. Nos contratos de compra e venda de
móveis ou imóveis mediante pagamento em
prestações, bem como nas alienações
fiduciárias em garantia, consideram-se nulas
de pleno direito as cláusulas que estabeleçam
a perda total das prestações pagas em
benefício do credor que, em razão do
inadimplemento, pleitear a resolução do
contrato e a retomada do produto alienado.
NULIDADE DE CLÁUSULA

• Art. 1.365, CC: É nula a cláusula que autoriza o


proprietário fiduciário a ficar com a coisa alienada
em garantia, se a dívida não for paga no
vencimento.
• Parágrafo único. O devedor pode, com a anuência
do credor, dar seu direito eventual à coisa em
pagamento da dívida, após o vencimento desta.
• Assim, o devedor fiduciante precisa ser constituído
em mora, cuja a finalidade seria o de purga-la.
VENDA E SALDO DEVEDOR
• Art. 1.366, CC: Quando, vendida a coisa, o produto
não bastar para o pagamento da dívida e das
despesas de cobrança, continuará o devedor obrigado
pelo restante.
• A Teoria do Adimplemento Substancial promove uma
relação entre a conservação do negócio jurídico e a
função social da contrato.
• Enunciado 361, IV Jornada de Direito Civil: O
adimplemento substancial decorre dos princípios
gerais contratuais, de modo a fazer preponderar a
função social do contrato e o princípio da boa-fé
objetiva, balizando a aplicação do art. 475, CC.

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