Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
2
PABLO STOLZE
USUCAPIÃO
Conceito
Pressupostos
• Posse
• Tempo
• “Animus Domini"
1.243. O possuidor pode, para o fim de contar o tempo exigido pelos artigos antecedentes,
acrescentar à sua posse a dos seus antecessores (art. 1.207), contanto que todas sejam contínuas,
pacíficas e, nos casos do art. 1.242, com justo título e de boa-fé.
Obs. De acordo com o artigo 1.207 do Código Civil Brasileiro, o herdeiro que prossegue na
posse do falecido por determinação da lei é chamado de sucessor a título singular. Isso
significa que ele sucede o falecido em relação a um bem específico, e não em relação a
todo o patrimônio1. A sucessão de posse ocorre quando o herdeiro continua a posse do
falecido, sem interrupção, após a morte deste, e sem que haja qualquer outro herdeiro que
possa reivindicar a posse.
1
UFBA - DIREITO REAIS – 2023.2
PABLO STOLZE
De acordo com a legislação brasileira, existem certos bens que não podem ser usucapidos.
Por exemplo, bens que expressam valores inestimáveis como a honra ou o nome não
podem ser usucapidos. Além disso, os bens públicos também não são passíveis de
usucapião, conforme estabelecido no artigo 183, §3º, e artigo 191, parágrafo único, da
Constituição Federal.
Usucapião extraordinária
O prazo estabelecido no artigo 1.238 pode ser reduzido para dez anos se o possuidor
houver estabelecido no imóvel a sua moradia habitual, ou nele realizado obras ou serviços
de caráter produtivo.
Art. 1.238. Aquele que, por quinze anos, sem interrupção, nem oposição, possuir como seu um
imóvel, adquire-lhe a propriedade, independentemente de título e boa-fé; podendo requerer ao juiz
que assim o declare por sentença, a qual servirá de título para o registro no Cartório de Registro de
Imóveis.
Parágrafo único. O prazo estabelecido neste artigo reduzir-se-á a dez anos se o possuidor houver
estabelecido no imóvel a sua moradia habitual, ou nele realizado obras ou serviços de caráter
produtivo.
Usucapião ordinária
2
UFBA - DIREITO REAIS – 2023.2
PABLO STOLZE
Art. 1.242. Adquire também a propriedade do imóvel aquele que, contínua e incontestadamente, com
justo título e boa-fé, o possuir por dez anos.
Parágrafo único. Será de cinco anos o prazo previsto neste artigo se o imóvel houver sido adquirido,
onerosamente, com base no registro constante do respectivo cartório, cancelada posteriormente,
desde que os possuidores nele tiverem estabelecido a sua moradia, ou realizado investimentos de
interesse social e econômico.
O Enunciado 303 da IV Jornada de Direito Civil estabelece que, para a presunção relativa
da boa-fé do possuidor, considera-se justo título o justo motivo que lhe autoriza a aquisição
derivada da posse, esteja ou não materializado em instrumento público ou particular.
3
UFBA - DIREITO REAIS – 2023.2
PABLO STOLZE
Segundo o art. 1.239 do Código Civil, aquele que, não sendo proprietário de imóvel rural ou
urbano, possua como sua, por 5 anos ininterruptos, sem oposição, área de terra em zona
rural não superior a 50 hectares, tornando-a produtiva por seu trabalho ou de sua família,
tendo nela sua moradia, adquirir-lhe-á a propriedade. A Constituição Federal de 1988, em
seu art. 191, prevê a aquisição de áreas de terras, em zonas rurais, não superior a 50
hectares por aquele que, não sendo proprietário de outro imóvel rural ou urbano, a possua
como sua, por 5 anos ininterruptos, tenha nela a sua moradia e que através do seu
trabalho ou de sua família tenha tornado a terra produtiva.
Art. 1.239. Aquele que, não sendo proprietário de imóvel rural ou urbano, possua como sua, por
cinco anos ininterruptos, sem oposição, área de terra em zona rural não superior a cinqüenta
hectares, tornando-a produtiva por seu trabalho ou de sua família, tendo nela sua moradia,
adquirir-lhe-á a propriedade.
De acordo com o art. 1.240 do Código Civil, aquele que possuir, como sua, área urbana de
até 250 metros quadrados, por 5 anos ininterruptos e sem oposição, utilizando-a para sua
moradia ou de sua família, adquirir-lhe-á a propriedade, desde que não seja proprietário de
outro imóvel urbano ou rural.
4
UFBA - DIREITO REAIS – 2023.2
PABLO STOLZE
Tanto pessoas casadas quanto solteiras podem receber esse título ou concessão, sem
discriminação de gênero ou estado civil. Essa regra promove a igualdade de gênero e o
tratamento justo sob a lei.
Se alguém já usucapiu uma área urbana de até duzentos e cinquenta metros quadrados de
acordo com as condições estabelecidas no artigo 1.240 do CC, essa pessoa não pode usar
o mesmo mecanismo para adquirir outra área urbana sob as mesmas regras.
Art. 1.240. Aquele que possuir, como sua, área urbana de até duzentos e cinqüenta metros
quadrados, por cinco anos ininterruptamente e sem oposição, utilizando-a para sua moradia ou de
sua família, adquirir-lhe-á o domínio, desde que não seja proprietário de outro imóvel urbano ou
rural.
§ 1 O título de domínio e a concessão de uso serão conferidos ao homem ou à mulher, ou a ambos,
independentemente do estado civil.
§ 2 O direito previsto no parágrafo antecedente não será reconhecido ao mesmo possuidor mais de
uma vez.
A usucapião especial urbana coletiva é uma modalidade de usucapião que permite que um
grupo de pessoas que ocupam uma área urbana informal, sem oposição, há mais de 5
anos, possa adquirir a propriedade do imóvel coletivamente, desde que a área total dividida
pelo número de possuidores seja inferior a 250m² por possuidor e que os possuidores não
sejam proprietários de outro imóvel urbano ou rural.
5
UFBA - DIREITO REAIS – 2023.2
PABLO STOLZE
Art. 10. Os núcleos urbanos informais existentes sem oposição há mais de cinco anos e cuja área
total dividida pelo número de possuidores seja inferior a duzentos e cinquenta metros
quadrados por possuidor são suscetíveis de serem usucapidos coletivamente, desde que os
possuidores não sejam proprietários de outro imóvel urbano ou rural.
§1 O possuidor pode, para o fim de contar o prazo exigido por este artigo, acrescentar sua posse à
de seu antecessor, contanto que ambas sejam contínuas. SOMA DE POSSE
§ 2 A usucapião especial coletiva de imóvel urbano será declarada pelo juiz, mediante sentença, a
qual servirá de título para registro no cartório de registro de imóveis. DECLARAÇÃO DO JUIZ
§ 3 Na sentença, o juiz atribuirá igual fração ideal de terreno a cada possuidor, independentemente
da dimensão do terreno que cada um ocupe, salvo hipótese de acordo escrito entre os condôminos,
estabelecendo frações ideais diferenciadas.
A principal diferença entre eles é que a usucapião coletiva especial é um meio de aquisição
de propriedade por particulares, enquanto a desapropriação judicial privada é um meio de
transferência de propriedade para o poder público ou para terceiros. Além disso, a
usucapião coletiva especial é um instituto mais recente e ainda pouco utilizado na prática,
enquanto a desapropriação judicial privada é um instituto mais antigo e mais comum.
6
UFBA - DIREITO REAIS – 2023.2
PABLO STOLZE
propriedade imobiliária por um grupo de pessoas que ocupam um terreno por um período
determinado, desde que atendidos os requisitos legais
Art. 1228
§4 O proprietário também pode ser privado da coisa se o imóvel reivindicado consistir em extensa
área, na posse ininterrupta e de boa-fé, por mais de cinco anos, de considerável número de pessoas,
e estas nela houverem realizado, em conjunto ou separadamente, obras e serviços considerados pelo
juiz de interesse social e econômico relevante.
Usucapião Indígena
Art. 33. O índio, integrado ou não, que ocupe como próprio, por dez anos consecutivos, trecho de
terra inferior a cinqüenta hectares, adquirir-lhe-á a propriedade plena.
Parágrafo único. O disposto neste artigo não se aplica às terras do domínio da União, ocupadas por
grupos tribais, às áreas reservadas de que trata esta Lei, nem às terras de propriedade coletiva de
grupo tribal.
Usucapião familiar
O artigo 1.240-A do Código Civil prevê uma nova modalidade de usucapião, a usucapião
familiar, que permite que um dos ex-cônjuges ou ex-companheiros oponha contra o outro a
pretensão de usucapir a parte que lhe pertence. Para que a usucapião familiar seja
reconhecida, é necessário que o imóvel urbano utilizado como moradia seja de ambos os
7
UFBA - DIREITO REAIS – 2023.2
PABLO STOLZE
cônjuges, com área inferior a 250m² e que haja abandono por um deles do imóvel, por
mais de 02 anos ininterruptos, sem oposição
O possuidor deve exercer, por 2 (dois) anos ininterruptamente e sem oposição, posse
direta, com exclusividade, sobre imóvel urbano de até 250m² (duzentos e cinquenta metros
quadrados) cuja propriedade divida com ex-cônjuge ou ex-companheiro que abandonou o
lar, utilizando-o para sua moradia ou de sua família, adquirir-lhe-á o domínio integral,
desde que não seja proprietário de outro imóvel urbano ou rural.
Os requisitos para a usucapião familiar, prevista no Art. 1.240-A do Código Civil, são os
seguintes:
Art. 1.240-A. Aquele que exercer, por 2 (dois) anos ininterruptamente e sem oposição, posse direta,
com exclusividade, sobre imóvel urbano de até 250m² (duzentos e cinquenta metros quadrados)
cuja propriedade divida com ex-cônjuge ou ex-companheiro que abandonou o lar, utilizando-o
para sua moradia ou de sua família, adquirir-lhe-á o domínio integral, desde que não seja
proprietário de outro imóvel urbano ou rural.
§ 1 O direito previsto no caput não será reconhecido ao mesmo possuidor mais de uma vez.
8
UFBA - DIREITO REAIS – 2023.2
PABLO STOLZE
PROPRIEDADE
A própria Constituição define o que se entende por função social da propriedade: no caso
de propriedade urbana, ela deve cumprir as exigências do plano diretor da cidade; no caso
de propriedade rural, ela deve ter aproveitamento racional e adequado, utilizar
adequadamente os recursos naturais disponíveis e preservar o meio ambiente, observar as
disposições que regulam as relações de trabalho e explorar de modo a favorecer o bem-
estar dos proprietários e dos trabalhadores. Portanto, a propriedade não é mais um direito
absoluto do proprietário, mas sim uma propriedade socializada, que deve atender às
necessidades da sociedade como um todo.
Características da propriedade
O artigo 1.228 do Código Civil brasileiro estabelece que o proprietário tem a faculdade de
usar, gozar e dispor da coisa, e o direito de reavê-la do poder de quem quer que
injustamente a possua ou detenha. Se o proprietário reunir todos esses poderes, ele tem a
propriedade plena.
Art. 1.228. O proprietário tem a faculdade de usar, gozar e dispor da coisa, e o direito de reavê-la do
poder de quem quer que injustamente a possua ou detenha.
9
UFBA - DIREITO REAIS – 2023.2
PABLO STOLZE
Art 1.228
§ 1 o O direito de propriedade deve ser exercido em consonância com as suas finalidades econômicas
e sociais e de modo que sejam preservados, de conformidade com o estabelecido em lei especial, a
flora, a fauna, as belezas naturais, o equilíbrio ecológico e o patrimônio histórico e artístico, bem
como evitada a poluição do ar e das águas.
§ 2 o São defesos os atos que não trazem ao proprietário qualquer comodidade, ou utilidade, e sejam
animados pela intenção de prejudicar outrem.
Desapropriação
O artigo 5º, inciso XXIV, da Constituição Federal, disciplinado pela Lei número 4.132 de
1962, indica os casos de interesse social no artigo 2º e o artigo 182, que cuida de hipótese
nova de desapropriação cujo objetivo é atender a função social da propriedade expressa
no Plano Diretor da cidade embora a Constituição não fale em interesse social, a hipótese
aí prevista melhor se enquadra em seu conceito doutrinário, além de apresentar grande
semelhança com a prevista no artigo 2º, inciso I da lei 4.132 de 1963. O artigo 182,
parágrafo 4, prevê que é cabível quando se tratar de solo urbano não edificado,
10
UFBA - DIREITO REAIS – 2023.2
PABLO STOLZE
subutilizado ou não utilizado e desde que já adotadas, sem resultado as medidas previstas
nos incisos I e II.
O artigo 184 da Constituição Federal prevê a desapropriação por interesse social, para fins
de reforma agrária, disciplinado pela Lei complementar de número 76, de 1993, alterada
pela Medida provisória de número 2.027-42 de 2000.
§ 3 o O proprietário pode ser privado da coisa, nos casos de desapropriação, por necessidade ou
utilidade pública ou interesse social, bem como no de requisição, em caso de perigo público
iminente.
§ 4 o O proprietário também pode ser privado da coisa se o imóvel reivindicado consistir em extensa
área, na posse ininterrupta e de boa-fé, por mais de cinco anos, de considerável número de pessoas, e
estas nela houverem realizado, em conjunto ou separadamente, obras e serviços considerados pelo
juiz de interesse social e econômico relevante.
§ 5 o No caso do parágrafo antecedente, o juiz fixará a justa indenização devida ao proprietário; pago
o preço, valerá a sentença como título para o registro do imóvel em nome dos possuidores.
Extensão da propriedade
Art. 1.229. A propriedade do solo abrange a do espaço aéreo e subsolo correspondentes, em altura e
profundidade úteis ao seu exercício, não podendo o proprietário opor-se a atividades que sejam
realizadas, por terceiros, a uma altura ou profundidade tais, que não tenha ele interesse legítimo em
impedi-las.
Art. 1.230. A propriedade do solo não abrange as jazidas, minas e demais recursos minerais, os
potenciais de energia hidráulica, os monumentos arqueológicos e outros bens referidos por leis
especiais.
Parágrafo único. O proprietário do solo tem o direito de explorar os recursos minerais de emprego
imediato na construção civil, desde que não submetidos a transformação industrial, obedecido o
disposto em lei especial.
11
UFBA - DIREITO REAIS – 2023.2
PABLO STOLZE
Classificação da propriedade
O proprietário de um bem tem o direito de usufruir dele de forma plena e exclusiva, sem a
interferência de terceiros. No entanto, essa presunção pode ser afastada mediante prova
em contrário, ou seja, se alguém conseguir demonstrar que possui algum direito sobre o
bem em questão, a propriedade plena e exclusiva do proprietário pode ser limitada
ORLANDO GOMES:
“A perpetuidade é um dos caracteres do direito de propriedade. Daí se dizer que a propriedade é
irrevogável: “Semel dominus semper dominus”. Normalmente, a propriedade tem duração ilimitada.
É perpétua. Por exceção, admite-se propriedade revogável que se configura quando, no próprio título
de sua constituição, por sua própria natureza ou pela vontade do agente ou das partes, se contém
condição resolutiva. Diz-se, então, que a propriedade é resolúvel como acontece, no fideicomisso,
com a propriedade do fiduciário, e, na retrovenda, com a propriedade do comprador.
O proprietário de um bem tem direito aos frutos e produtos que ele produzir, mesmo que
eles sejam separados do bem principal. No entanto, há casos em que a lei estabelece que
esses frutos e produtos pertencem a outra pessoa, como no caso de uma árvore frutífera
que está em um terreno alugado, por exemplo
12
UFBA - DIREITO REAIS – 2023.2
PABLO STOLZE
Art. 1.232. Os frutos e mais produtos da coisa pertencem, ainda quando separados, ao seu
proprietário, salvo se, por preceito jurídico especial, couberem a outrem
Propriedade resolúvel - é aquela que opera seus efeitos a partir de um termo ou condição
já existentes no negócio jurídico que a transmitiu, ou seja, já existe uma causa antecedente
à resolução, pré-determinada no negócio. Ou seja, é aquela que está sujeita a um evento
futuro e incerto, previsto no negócio jurídico que a constituiu, como uma condição ou um
termo. Por exemplo, se alguém doa um imóvel para outra pessoa, mas estabelece que a
propriedade se resolverá se o donatário se casar, essa é uma propriedade resolúvel
Não são casos de propriedade resolúvel aqueles nos quais a revogação se funda em causa
superveniente à aquisição”.
GOMES, Orlando. Direitos Reais. 19. ed. Atualizada por Luiz Edson Fachin. Rio de Janeiro:
Forense.
Propriedade aparente
Resulta de uma situação de fato em que uma pessoa age, em relação a um bem, como se
sua proprietária fosse, gerando, a partir daí, efeitos jurídicos. Em outras palavras, a
13
UFBA - DIREITO REAIS – 2023.2
PABLO STOLZE
propriedade aparente é aquela que resulta de uma situação de fato em que uma pessoa
age como se fosse a proprietária de um bem, mas não o é juridicamente. Essa situação
pode gerar efeitos jurídicos, como a proteção da boa-fé, a usucapião ou a responsabilidade
civil. Por exemplo, se alguém compra um carro de um vendedor que não é o verdadeiro
dono, mas desconhece esse fato, essa pessoa tem uma propriedade aparente do carro.
O artigo 879 estabelece as consequências para quem recebeu um imóvel por engano e o
alienou (transferiu a propriedade) para outra pessoa. A alienação pode ser por título
oneroso (quando há uma contraprestação, como uma venda) ou por título gratuito (quando
não há uma contraprestação, como uma doação).
Se quem recebeu o imóvel agiu de boa-fé, ou seja, sem saber que o pagamento foi
indevido, ele só precisa devolver o valor que recebeu pela alienação, se foi onerosa. Se foi
gratuita, ele precisa devolver o imóvel ao verdadeiro dono.
Se quem recebeu o imóvel agiu de má-fé, ou seja, sabendo que o pagamento foi indevido,
ele precisa devolver o valor do imóvel e também pagar uma indenização por perdas e
danos, que pode incluir lucros cessantes, danos emergentes e danos morais.
O parágrafo único do artigo 879 prevê o direito de reivindicação, que é a ação judicial para
recuperar a posse de um bem que foi alienado indevidamente. Esse direito cabe ao que
pagou por erro, ou seja, ao verdadeiro dono do imóvel. Ele pode reivindicar o imóvel contra
quem o recebeu por engano ou contra o terceiro adquirente, se este também agiu de má-
fé.
Art. 879. Se aquele que indevidamente recebeu um imóvel o tiver alienado em boa-fé, por título
oneroso, responde somente pela quantia recebida; mas, se agiu de má-fé, além do valor do imóvel,
responde por perdas e danos.
Parágrafo único. Se o imóvel foi alienado por título gratuito, ou se, alienado por título oneroso, o
terceiro adquirente agiu de má-fé, cabe ao que pagou por erro o direito de reivindicação.
14
UFBA - DIREITO REAIS – 2023.2
PABLO STOLZE
Ação reivindicatória, que é o meio pelo qual o proprietário de um imóvel com título legítimo
pode reaver a posse de quem o detém injustamente Em essência, a reivindicatória, é
baseada em um título de propriedade.
15
UFBA - DIREITO REAIS – 2023.2
PABLO STOLZE
Acessão
Formação de ilhas: ocorre quando um terreno ribeirinho é acrescido de uma ilha, que é
um prolongamento do relevo, estando numa depressão absoluta preenchida por
água. Implicará, naturalmente, aumento da propriedade dos proprietários ribeirinhos
fronteiros, nos termos do artigo 1.249 do Código Civil.
Art. 1.249. As ilhas que se formarem em correntes comuns ou particulares pertencem aos
proprietários ribeirinhos fronteiros, observadas as regras seguintes:
II - as que se formarem entre a referida linha e uma das margens consideram-se acréscimos aos
terrenos ribeirinhos fronteiros desse mesmo lado;
III- as que se formarem pelo desdobramento de um novo braço do rio continuam a pertencer aos
proprietários dos terrenos à custa dos quais se constituíram.
Art. 1.250. Os acréscimos formados, sucessiva e imperceptivelmente, por depósitos e aterros naturais
ao longo das margens das correntes, ou pelo desvio das águas destas, pertencem aos donos dos
terrenos marginais, sem indenização.
16
UFBA - DIREITO REAIS – 2023.2
PABLO STOLZE
Parágrafo único. O terreno aluvial, que se formar em frente de prédios de proprietários diferentes,
dividir-se-á entre eles, na proporção da testada de cada um sobre a antiga margem.
Aluvião imprópria: retração de águas. Ex: Lagoa que perde volume de água,
resultando em aumento da margem da fazenda que a tangencia.
Avulsão: ocorre quando, por força natural violenta, uma porção de terra se destacar de um
imóvel e se juntar a outro, o dono deste adquirirá a propriedade do acréscimo, se indenizar
o dono do primeiro ou, sem indenização, se em um ano, ninguém houver reclamado.
Diferentemente da aluvião se se dá lentamente, na avulsão é repentino.
Art. 1.251. Quando, por força natural violenta, uma porção de terra se destacar de um prédio e se
juntar a outro, o dono deste adquirirá a propriedade do acréscimo, se indenizar o dono do
primeiro ou, sem indenização, se, em um ano, ninguém houver reclamado.
Abandono de álveo: ocorre quando um rio muda de curso, deixando a descoberto uma
faixa de terra que antes era submersa. Consiste, então no leito seco do rio. O álveo
abandonado de corrente pertence aos proprietários ribeirinhos das duas margens, sem que
tenham indenização os donos por onde as águas abrirem novo curso, entendendo-se que
os imóveis marginais se estenderam até o meio do álveo.
Art. 1.252. O álveo abandonado (leito seco do rio) de corrente pertence aos proprietários
ribeirinhos das duas margens, sem que tenham indenização os donos dos terrenos por onde as
águas abrirem novo curso, entendendo-se que os prédios marginais se estendem até o meio do álveo.
Art. 1.253. Toda construção ou plantação existente em um terreno presume-se feita pelo
proprietário e à sua custa, até que se prove o contrário. (Presunção Relativa)
17
UFBA - DIREITO REAIS – 2023.2
PABLO STOLZE
Art. 1.254. Aquele que semeia, planta ou edifica em terreno próprio com sementes, plantas ou
materiais alheios, adquire a propriedade destes; mas fica obrigado a pagar-lhes o valor, além de
responder por perdas e danos, se agiu de má-fé.
Aquele que semeia, planta ou edifica em terreno próprio com sementes, plantas ou
materiais alheios, adquire a propriedade destes; mas fica obrigado a pagar-lhes um valor,
além de responder por perdas e danos, se agiu de má fé.
O pagamento das perdas de danos tem, além do dano natural aspecto compensatório, um
viés também punitivo, pois Visa a sancionar a má fé.
Neste caso, a teor do caput do artigo 1.255, aquele que semeia, planta ou edifica em
terreno alheio perde, em proveito do proprietário, as sementes, plantas e construções; se
procedeu de boa fé, terá direito a indenização
Art. 1.255. Aquele que semeia, planta ou edifica em terreno alheio perde, em proveito do
proprietário, as sementes, plantas e construções; se procedeu de boa-fé, terá direito a indenização.
Até então, nesses artigos iniciais, consagrou-se a clássica regra de viz actrativa do solo, ou
seja, o dono do solo se torna dono da acessão. Ocorre que o código de 2002 inovou, ao
admitir a denominada acessão inversa ou invertida, ou seja, a possibilidade de o dono da
construção ou plantação tornar-se dono do solo.
Art. 1.256. Se de ambas as partes houve má-fé, adquirirá o proprietário as sementes, plantas e
construções, devendo ressarcir o valor das acessões.
Art. 1.258. Se a construção, feita parcialmente em solo próprio, invade solo alheio em proporção
não superior à vigésima parte deste, adquire o construtor de boa-fé a propriedade da parte do
solo invadido, se o valor da construção exceder o dessa parte, e responde por indenização que
represente, também, o valor da área perdida e a desvalorização da área remanescente.
Parágrafo único. Pagando em décuplo as perdas e danos previstos neste artigo, o construtor de má-
fé adquire a propriedade da parte do solo que invadiu, se em proporção à vigésima parte deste e o
18
UFBA - DIREITO REAIS – 2023.2
PABLO STOLZE
valor da construção exceder consideravelmente o dessa parte e não se puder demolir a porção
invasora sem grave prejuízo para a construção.
Art. 1.259. Se o construtor estiver de boa-fé, e a invasão do solo alheio exceder a vigésima parte
deste, adquire a propriedade da parte do solo invadido, e responde por perdas e danos que abranjam
o valor que a invasão acrescer à construção, mais o da área perdida e o da desvalorização da área
remanescente; se de má-fé, é obrigado a demolir o que nele construiu, pagando as perdas e danos
apurados, que serão devidos em dobro.
19
UFBA - DIREITO REAIS – 2023.2
PABLO STOLZE
DIREITOS DE VIZINHANÇA
A propriedade, que antes era vista como um direito subjetivo do indivíduo, agora tende a
ser vista como uma função social do detentor da riqueza mobiliária e imobiliária. Isso
implica que todo detentor de uma riqueza tem a obrigação de empregá-la para o
crescimento da riqueza social e para a interdependência social. A propriedade não é, de
modo algum, um direito intangível e sagrado, mas um direito em contínua mudança que
deve ser modelado sobre as necessidades sociais às quais deve responder. Somente o
proprietário pode executar uma certa tarefa social e aumentar a riqueza geral utilizando a
sua própria .
“A propriedade deixou de ser o direito subjetivo do indivíduo e tende a se tornar a função social do
detentor da riqueza mobiliária e imobiliária; a propriedade implica para todo detentor de uma riqueza
a obrigação de empregá-la para o crescimento da riqueza social e para a interdependência social. Só
o proprietário pode executar uma certa tarefa social. Só ele pode aumentar a riqueza geral utilizando
a sua própria; a propriedade não é, de modo algum, um direito intangível e sagrado, mas um direito
em contínua mudança que se deve modelar sobre as necessidades sociais às quais deve responder”.
DUGUIT, Léon apud GOMES, Orlando. Direitos Reais. 19. ed. Atualizada por Luiz Edson Fachin.
Rio de Janeiro: Forense, 2008. p. 126.
Conceito
O Direito de Vizinhança é um conjunto de normas que regulam as relações entre vizinhos,
com o objetivo de reduzir conflitos e garantir a convivência pacífica entre eles. Ele está
disciplinado nos artigos 1.277 ao 1.313 do Código Civil brasileiro e se aplica tanto ao direito
real quanto à posse. De acordo com esses artigos, quem é titular de direito real ou quem é
possuidor tem a obrigação de respeitar os direitos de vizinhança, que incluem, entre
outros, o uso adequado da propriedade, a manutenção da segurança, do sossego e da
saúde dos vizinhos, a preservação do meio ambiente e a prevenção de danos causados
por atividades em sua propriedade.
É importante destacar que o direito de vizinhança não deve ser confundido com a servidão,
que é um direito real que permite a utilização de uma propriedade alheia para um fim
específico, como o acesso a uma estrada ou a passagem de cabos elétricos. O direito de
vizinhança trata de questões mais amplas, como o uso da propriedade, a limitação de
incômodos sonoros, visuais e olfativos, e a preservação da segurança e tranquilidade dos
vizinhos.
20
UFBA - DIREITO REAIS – 2023.2
PABLO STOLZE
Não se confundem com a servidão (direito real na coisa alheia), nem com as limitações públicas ou o
poder de polícia emanados do Direito Administrativo (a exemplo das restrições impostas pelo Plano
Diretor do Município)”.
(Manual de Direito Civil – Pablo Stolze e Rodolfo Pamplona Filho, Ed. Saraiva, 2022).
Passagem forçada
Se ocorrer alienação parcial do prédio, de modo que uma das partes perca o acesso a via
pública, nascente ou porto, o proprietário da outra deve tolerar a passagem. ou seja EM
CASO DE ALIENAÇÃO PARCIAL. se o meu imóvel ficou “preso” ou “encravado” — sem
acesso à via pública, fonte ou porto — após eu haver alienado parte dele, o próprio
21
UFBA - DIREITO REAIS – 2023.2
PABLO STOLZE
Art. 1.285. O dono do prédio que não tiver acesso a via pública, nascente ou porto, pode, mediante
pagamento de indenização cabal, constranger o vizinho a lhe dar passagem, cujo rumo será
judicialmente fixado, se necessário.
§1º Sofrerá o constrangimento o vizinho cujo imóvel mais natural e facilmente se prestar à passagem.
§ 2º Se ocorrer alienação parcial do prédio, de modo que uma das partes perca o acesso a via
pública, nascente ou porto, o proprietário da outra deve tolerar a passagem.
§ 3º Aplica-se o disposto no parágrafo antecedente ainda quando, antes da alienação, existia passagem
através de imóvel vizinho, não estando o proprietário deste constrangido, depois, a dar uma outra.
Obs. O direito de vizinhança, não deve ser confundido com a “servidão de passagem”
(direito real na coisa alheia).
I Jornada de Direito Civil - Enunciado 88 - O direito de passagem forçada, previsto no art. 1.285 do
CC, também é garantido nos casos em que o acesso à via pública for insuficiente ou inadequado,
consideradas, inclusive, as necessidades de exploração econômica.
22
UFBA - DIREITO REAIS – 2023.2
PABLO STOLZE
Art. 1.286. Mediante recebimento de indenização que atenda, também, à desvalorização da área
remanescente, o proprietário é obrigado a tolerar a passagem, através de seu imóvel, de cabos,
tubulações e outros condutos subterrâneos de serviços de utilidade pública, em proveito de
proprietários vizinhos, quando de outro modo for impossível ou excessivamente onerosa.
Parágrafo único. O proprietário prejudicado pode exigir que a instalação seja feita de modo menos
gravoso ao prédio onerado, bem como, depois, seja removida, à sua custa, para outro local do imóvel.
Art. 1.287. Se as instalações oferecerem grave risco, será facultado ao proprietário do prédio onerado
exigir a realização de obras de segurança.
Árvores limítrofes
Assim, a árvore cujo tronco está na linha divisória entre dois terrenos é de propriedade
comum dos donos dos prédios vizinhos. Essa presunção de propriedade compartilhada
visa evitar disputas desnecessárias e estabelece a responsabilidade conjunta pelo cuidado
e manutenção da árvore.
De outro modo, se raízes e dos ramos de árvores que ultrapassam a linha divisória do
terreno. Ele permite que o proprietário do terreno invadido corte as raízes e ramos que
ultrapassam a estrema do prédio, até o plano vertical divisório. Isso serve para proteger a
integridade do terreno vizinho e evitar danos causados pelas raízes, galhos ou folhagens
das árvores.
Ressalta-se também que os frutos que caírem de uma árvore do terreno vizinho pertencem
ao dono do solo onde caíram, desde que esse solo seja de propriedade particular. Isso
significa que os frutos caídos podem ser colhidos e apropriados pelo proprietário do terreno
onde caíram.
23
UFBA - DIREITO REAIS – 2023.2
PABLO STOLZE
Art. 1.282. A árvore, cujo tronco estiver na linha divisória, presume-se pertencer em comum aos
donos dos prédios confinantes.
Art. 1.283. As raízes e os ramos de árvore, que ultrapassarem a estrema do prédio, poderão ser
cortados, até o plano vertical divisório, pelo proprietário do terreno invadido.
Art. 1.284. Os frutos caídos de árvore do terreno vizinho pertencem ao dono do solo onde caíram, se
este for de propriedade particular.
Esse direito não prevalece quando as interferências forem justificadas por interesse
público, caso em que o proprietário ou o possuidor, causador delas, pagará ao vizinho
indenização cabal. Importa salentar também que ainda que por decisão judicial devam ser
toleradas as interferências, poderá o vizinho exigir a sua redução ou eliminação quando
estas se tornarem possíveis.
Art. 1.278. O direito a que se refere o artigo antecedente não prevalece quando as interferências
forem justificadas por interesse público, caso em que o proprietário ou o possuidor, causador delas,
pagará ao vizinho indenização cabal.
Art. 1.279. Ainda que por decisão judicial devam ser toleradas as interferências, poderá o vizinho
exigir a sua redução, ou eliminação, quando estas se tornarem possíveis.
Teoria da pré-ocupação: Direito quem é o mais antigo. Por ela, aquele que primeiramente
se instala em determinado local acaba, de certo modo, estabelecendo a sua destinação.
Porém existem exceções:
Ex.: Um clube, em uma zona predominantemente residencial, costuma realizar festas
barulhentas, que se prolongam pela madrugada, o proprietário do imóvel vizinho — que
24
UFBA - DIREITO REAIS – 2023.2
PABLO STOLZE
pode ser um hospital, a título de exemplo — poderá exigir que o uso nocivo do direito
cesse, mesmo que a construção do clube seja anterior à do hospital.
“... em princípio não teria razão para reclamar quem construísse nas proximidades de
estabelecimentos barulhentos ou perigosos. É o que sustenta a teoria da pré-ocupação.
Por ela, aquele que primeiramente se instala em determinado local acaba, de certo modo,
estabelecendo a sua destinação. Tal teoria não pode, entretanto, ser aceita em todos os
casos e sem reservas”.
(Gonçalves, Carlos Roberto, Direito Civil Brasileiro, Direitos Reais, Ed. Saraiva)
Dano infecto - Este direito traduz-se pela ação de dano infecto, na qual se pede que o
vizinho dê caução do dano iminente, cautio damni infecti, ou pela responsabilidade do autor
do dano, se este se realiza.
A ação de dano infecto é uma medida judicial que serve a quem tem justo receio de sofrer
dano em seu imóvel, em virtude do uso anômalo de propriedade alheia. A ação visa a
fixação de uma caução para garantir eventual indenização caso persista o infortúnio.
Por outro lado, a cautio damni infecti é uma medida preventiva que pode ser solicitada pelo
proprietário ou possuidor que estiver na iminência ou sob ameaça de sofrer prejuízo à
segurança, sossego e a saúde dos ocupantes do imóvel. Já a responsabilidade do autor do
dano se realiza quando o dano já ocorreu e o autor é responsabilizado por repará-lo.
Art. 1.280. O proprietário ou o possuidor tem direito a exigir do dono do prédio vizinho a demolição,
ou a reparação deste, quando ameace ruína, bem como que lhe preste caução pelo dano iminente.
25
UFBA - DIREITO REAIS – 2023.2
PABLO STOLZE
legislação federal.
4. AGRAVO REGIMENTAL DESPROVIDO (AgRg no REsp 1.377.898/MG, Rel. Min. Paulo de
Tarso Sanseverino, 3ª Turma, julgado em 28-4-2015, DJe 7-5-2015).
O proprietário ou possuidor de um prédio, em que alguém tenha direito de fazer obras, pode
exigir do autor delas as necessárias garantias contra o prejuízo eventual, no caso de dano
iminente.
Essa garantia pode ser exigida por meio da ação de dano infecto, que é uma medida
judicial que serve a quem tem justo receio de sofrer dano em seu imóvel, em virtude do uso
anômalo de propriedade alheia. A ação visa a fixação de uma caução para garantir
eventual indenização caso persista o infortúnio.
Além disso, o proprietário pode manejar a ação mesmo que não habite o imóvel, desde que
tenha justo receio de sofrer dano em seu imóvel
Art. 1.281. O proprietário ou o possuidor de um prédio, em que alguém tenha direito de fazer obras,
pode, no caso de dano iminente, exigir do autor delas as necessárias garantias contra o prejuízo
eventual.
Das Águas
Por sua vez, quando as águas, artificialmente levadas ao prédio superior, ou aí colhidas,
correrem dele para o inferior, o dono deste pode reclamar que se desviem, ou se lhe
indenize o prejuízo que sofrer. Da indenização será deduzido o valor do benefício obtido.
Além disso, o proprietário de nascente, ou do solo onde caem águas pluviais, satisfeitas as
necessidades de seu consumo, não pode impedir, ou desviar o curso natural das águas
remanescentes pelos prédios inferiores
Art. 1.288. O dono ou o possuidor do prédio inferior é obrigado a receber as águas que correm
naturalmente do superior, não podendo realizar obras que embaracem o seu fluxo; porém a condição
natural e anterior do prédio inferior não pode ser agravada por obras feitas pelo dono ou possuidor do prédio
superior.
Art. 1.289. Quando as águas, artificialmente levadas ao prédio superior, ou aí colhidas, correrem dele para o
inferior, poderá o dono deste reclamar que se desviem, ou se lhe indenize o prejuízo que sofrer.
Art. 1.290. O proprietário de nascente, ou do solo onde caem águas pluviais, satisfeitas as necessidades
26
UFBA - DIREITO REAIS – 2023.2
PABLO STOLZE
de seu consumo, não pode impedir, ou desviar o curso natural das águas remanescentes pelos prédios
inferiores.
STJ
7. Se não existem outros meios de passagem de água, o vizinho tem o direito de construir aqueduto
no terreno alheio independentemente do consentimento de seu vizinho; trata-se de imposição legal
que atende ao interesse social e na qual só se especifica uma indenização para evitar que seja
sacrificada a propriedade individual.
(REsp 1.616.038/RS)
Os intervalos, muros, cercas e tapumes divisórios, como sebes vivas, cercas de arame ou
de madeira, valas ou banquetas, são presumidos, até que se prove o contrário, como
propriedade compartilhada entre os proprietários confinantes. Isso significa que, a menos
que haja evidência de que um proprietário construiu e mantém sozinho uma cerca ou muro
em sua propriedade, presume-se que ambos os proprietários têm direitos iguais sobre
essas estruturas. De acordo com o costume da localidade, os proprietários confinantes têm
a obrigação de contribuir igualmente nas despesas de construção e conservação dessas
estruturas divisórias
27
UFBA - DIREITO REAIS – 2023.2
PABLO STOLZE
Art. 1.297. O proprietário tem direito a cercar, murar, valar ou tapar de qualquer modo o seu
prédio, urbano ou rural, e pode constranger o seu confinante a proceder com ele à demarcação
entre os dois prédios, a aviventar rumos apagados e a renovar marcos destruídos ou arruinados,
repartindo-se proporcionalmente entre os interessados as respectivas despesas.
§1 Os intervalos, muros, cercas e os tapumes divisórios, tais como sebes vivas, cercas de arame
ou de madeira, valas ou banquetas, presumem-se, até prova em contrário, pertencer a ambos os
proprietários confinantes, sendo estes obrigados, de conformidade com os costumes da localidade,
a concorrer, em partes iguais, para as despesas de sua construção e conservação.
§2 As sebes vivas, as árvores, ou plantas quaisquer, que servem de marco divisório, só podem ser
cortadas, ou arrancadas, de comum acordo entre proprietários.
§3 A construção de tapumes especiais para impedir a passagem de animais de pequeno porte, ou para
outro fim, pode ser exigida de quem provocou a necessidade deles, pelo proprietário, que não está
obrigado a concorrer para as despesas.
Direito de construir
O proprietário tem o direito de construir em seu terreno as edificações que desejar, desde
que não infrinja os direitos de seus vizinhos e cumpra com os regulamentos administrativos
locais. Isso significa que ele tem a liberdade de construir, mas essa liberdade está sujeita a
certas restrições para evitar impactos negativos sobre as propriedades vizinhas e cumprir
com as normas estabelecidas pelas autoridades locais.
Se houver uma violação dessas regras, por exemplo, a construção de uma janela que
despeja água no terreno vizinho, a lei permite que a janela seja demolida ou tampada. Se
isso não for feito e houver danos resultantes dessa situação no prédio vizinho, o
proprietário que causou a violação será responsável pelas consequências cíveis
pertinentes, ou seja, ele terá que reparar os danos causados ao vizinho.
Art. 1.299. O proprietário pode levantar em seu terreno as construções que lhe aprouver, salvo o
direito dos vizinhos e os regulamentos administrativos.
Art. 1.300. O proprietário construirá de maneira que o seu prédio não despeje águas, diretamente,
sobre o prédio vizinho.
28
UFBA - DIREITO REAIS – 2023.2
PABLO STOLZE
O art. 1303 co código Civl é um artigo pouco conhecido e estabelece que proprietário não
pode construir uma edificação a menos de três metros da divisa com o terreno vizinho. A
norma tem como objetivo garantir a privacidade e o sossego dos vizinhos, bem como evitar
conflitos relacionados à construção de edificações próximas às divisas.
Art. 1.303. Na zona rural, não será permitido levantar edificações a menos de três metros do
terreno vizinho.
O vizinho que primeiro construir pode assentar a parede divisória até meia espessura no
terreno contíguo, sem perder por isso o direito a haver meio valor dela se o vizinho a
travejar, caso em que o primeiro fixará a largura e a profundidade do alicerce. O parágrafo
único desse artigo estabelece que se a parede divisória pertencer a um dos vizinhos e não
tiver capacidade para ser travejada pelo outro, este não poderá fazer-lhe alicerce ao pé
sem prestar caução àquele, pelo risco a que expõe a construção anterior.
Art. 1.305. O confinante, que primeiro construir, pode assentar a parede divisória até meia
espessura no terreno contíguo, sem perder por isso o direito a haver meio valor dela se o vizinho a
travejar, caso em que o primeiro fixará a largura e a profundidade do alicerce.
Parágrafo único. Se a parede divisória pertencer a um dos vizinhos, e não tiver capacidade para ser
travejada pelo outro, não poderá este fazer-lhe alicerce ao pé sem prestar caução àquele, pelo
risco a que expõe a construção anterior.
IMPORTANTE!
Entretanto, existe uma exceção para janelas cuja visão não incida sobre a linha divisória
entre as propriedades. Janelas com vista perpendicular também podem ser abertas a
menos de um metro e meio do terreno vizinho, desde que a distância não seja inferior a
setenta e cinco centímetros. Isso permite uma maior flexibilidade na localização de janelas,
desde que não violem a privacidade do vizinho.
29
UFBA - DIREITO REAIS – 2023.2
PABLO STOLZE
Essas regras não se aplicam a aberturas destinadas à entrada de luz ou ventilação, desde
que não tenham mais de dez centímetros de largura por vinte centímetros de comprimento
e sejam construídas a uma altura de mais de dois metros em relação a cada piso. Isso
reconhece a importância da luz e ventilação nos edifícios e permite que pequenas
aberturas sejam feitas para atender a essas necessidades, desde que não violem a
privacidade do vizinho.
Art. 1.301. É defeso (proibido) abrir janelas, ou fazer eirado, terraço ou varanda, a menos de metro
e meio do terreno vizinho.
§ 1 As janelas cuja visão não incida sobre a linha divisória, bem como as perpendiculares, não
poderão ser abertas a menos de setenta e cinco centímetros.
§ 2 As disposições deste artigo não abrangem as aberturas para luz ou ventilação, não maiores de dez
centímetros de largura sobre vinte de comprimento e construídas a mais de dois metros de altura de
cada piso.
Súmula 414 do STF - Não se distingue a visão direta da oblíqua na proibição de abrir janela, ou fazer
terraço, eirado, ou varanda, a menos de metro e meio do prédio de outrem.
Código Civil Brasileiro estabelece que o proprietário de um prédio pode exigir que se desfaça
janela, sacada, terraço ou goteira sobre o seu prédio no lapso de um ano e um dia após a
conclusão da obra. Após esse prazo, o proprietário não poderá edificar sem atender ao disposto no
artigo antecedente, nem impedir ou dificultar o escoamento das águas da goteira, com prejuízo
para o prédio vizinho. Em se tratando de vãos ou aberturas para luz, seja qual for a quantidade,
altura e disposição, o vizinho poderá, a todo tempo, levantar a sua edificação ou contramuro, ainda
que lhes vede a claridade
Art. 1.302. O proprietário pode, no lapso de ano e dia após a conclusão da obra, exigir que se
desfaça janela, sacada, terraço ou goteira sobre o seu prédio; escoado o prazo, não poderá, por sua
vez, edificar sem atender ao disposto no artigo antecedente, nem impedir, ou dificultar, o escoamento
das águas da goteira, com prejuízo para o prédio vizinho.
Parágrafo único. Em se tratando de vãos, ou aberturas para luz, seja qual for a quantidade, altura e
disposição, o vizinho poderá, a todo tempo, levantar a sua edificação, ou contramuro, ainda que lhes
vede a claridade.
TJRS
É defeso abrir janelas, ou fazer eirado, terraço ou varanda, a menos de metro e meio do terreno
vizinho, consoante art. 1.301, do CC (antigo art. 573, do CC anterior). Entretanto, dispõe o art. 1.302,
do CC (corresponde ao art. 576, do CC anterior), que o proprietário pode, no lapso de ano e dia após
a conclusão da obra, exigir que se desfaça janela, sacada, terraço ou goteira sobre o seu prédio;
escoado o prazo, não poderá, por sua vez, edificar sem atender ao disposto no artigo antecedente.
30
UFBA - DIREITO REAIS – 2023.2
PABLO STOLZE
Sem embargo, o parágrafo único do mesmo artigo, estabelece que, em se tratando de vãos, ou
aberturas para luz, seja qual for a quantidade, altura e disposição, o vizinho poderá, a todo tempo,
levantar a sua edificação, ou contramuro, ainda que lhes vede a claridade. Assim, mesmo tendo o
autor construído janela a menos de metro e meio, sem reclamação do réu em ano e dia, possível a
este último levantar contramuro, até o limite de seu terreno. REJEITARAM A PRELIMINAR E, NO
MÉRITO, DERAM PROVIMENTO AO APELO. UNÂNIME. (Apelação Cível n. 70048992416)
STJ
DIREITO DE VIZINHANÇA. Terraço. Ação demolitória.
Contra a construção do terraço a menos de metro e meio do terreno vizinho (art. 573 do CC), cabia
ação de nunciação de obra nova até o momento de sua conclusão, entendendo-se como tal aquela a
que faltem apenas trabalhos secundários.
Uma vez concluída a obra (faltava apenas a pintura), cabível a ação demolitória, com prazo
decadencial de ano e dia (art. 576 do CCivil), que se iniciou a partir da conclusão e não se
interrompeu com a notificação administrativa.
Recurso conhecido e provido.
(REsp 311.507/AL)
Art. 938 (Defenestramento) - Aquele que habitar prédio, ou parte dele, responde pelo dano
proveniente das coisas que dele caírem ou forem lançadas em lugar indevido
Enunciado n. 557 da VI Jornada de Direito Civil: nos termos do art. 938 do CC, se a coisa cair ou
for lançada de condomínio edilício, não sendo possível identificar de qual unidade, responderá o
condomínio, assegurado o direito de regresso.
Interessante notar que se o dano é imputado a condomínio, não se podendo identificar a unidade
habitacional de onde partiu a coisa, a jurisprudência tem adotado o critério de responsabilizar apenas
o bloco de apartamentos de onde se poderia, segundo a lógica dos fatos, partir o objeto. Dessa
31
UFBA - DIREITO REAIS – 2023.2
PABLO STOLZE
maneira, os moradores do bloco ou face do prédio oposto ao local do dano não seriam admitidos
como parte legítima para responderem na demanda indenizatória.
“Para que se exija do condomínio a assunção da responsabilidade pelo lançamento de coisas sobre o
prédio vizinho, necessário se torna que se tenha como presumível a participação no fato de todos os
condôminos. Não se verificando essa probabilidade, à ação devem ser chamados somente os condô-
minos ou moradores dos conjuntos que têm vizinhança e condição para, de cima, lançar coisas sobre
o prédio vizinho” (TAPR, 1.ª C., Ap., Rel. Des. Schiavon Puppi, RT, 530/213).
32
UFBA - DIREITO REAIS – 2023.2
PABLO STOLZE
Indivisibilidade da multipropriedade
33
UFBA - DIREITO REAIS – 2023.2
PABLO STOLZE
Art. 1.358-I. São direitos do multiproprietário, além daqueles previstos no instrumento de instituição
e na convenção de condomínio em multipropriedade:
I - usar e gozar, durante o período correspondente à sua fração de tempo, do imóvel e de suas
instalações, equipamentos e mobiliário;
III - alienar a fração de tempo, por ato entre vivos ou por causa de morte, a título oneroso ou gratuito,
ou onerá-la, devendo a alienação e a qualificação do sucessor, ou a oneração, ser informadas ao
administrador;
34
UFBA - DIREITO REAIS – 2023.2
PABLO STOLZE
II - responder por danos causados ao imóvel, às instalações, aos equipamentos e ao mobiliário por si,
por qualquer de seus acompanhantes, convidados ou prepostos ou por pessoas por ele autorizadas;
III - comunicar imediatamente ao administrador os defeitos, avarias e vícios no imóvel dos quais
tiver ciência durante a utilização;
V - manter o imóvel em estado de conservação e limpeza condizente com os fins a que se destina e
com a natureza da respectiva construção;
VI - usar o imóvel, bem como suas instalações, equipamentos e mobiliário, conforme seu destino e
natureza;
VII - usar o imóvel exclusivamente durante o período correspondente à sua fração de tempo;
VIII - desocupar o imóvel, impreterivelmente, até o dia e hora fixados no instrumento de instituição
ou na convenção de condomínio em multipropriedade, sob pena de multa diária, conforme
convencionado no instrumento pertinente;
35
UFBA - DIREITO REAIS – 2023.2
PABLO STOLZE
§ 2º A responsabilidade pelas despesas referentes a reparos no imóvel, bem como suas instalações,
equipamentos e mobiliário, será:
36