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Factos Constitutivos de Direitos Reais

Fatores com eficácia constitutiva para todos os direitos reais:

 Lei: hipoteca (art.º 704); usufruto (art.º 1440); servidões legais (art.º 1550 ss.)
 Decisão judicial
 Negócio jurídico: propriedade horizontal (art.º 1417); usufruto (art.º 1440); uso
e habitação (art.º 1485)

Usucapião
1. Generalidades
Facto constitutivo apenas com eficácia para direitos reais de gozo.
2. Direitos reais de gozo usucapíveis
Direitos que não são usucapíveis art.º 1293.

Podem sem adquiridos “direitos nus”  pode ser adquirida pelo possuidor formal que
exerce uma posse nos termos de uma propriedade onerada por um usufruto ou por
uma superfície.
3. Requisitos gerais da usucapião

 Posse boa para usucapião


 Decurso do prazo legal de posse
 Invocação da usucapião pelo possuidor
4. A posse boa para usucapião
A posse para ser boa tem que ser pública e pacífica (art.º 1297 – imóveis – art.º 1300 -
moveis)
Se a posse for adquirida com violência o prazo não começa a contar até que esta se
torne pacífica.
Não se exige que a posse seja efetiva.
Apesar de não haver nenhum preceito específico, tem-se que a posse deve ser
contínua e ininterrupta.

 José Alberto Vieira: este não é um terceiro requisito


A detenção não permite ao detentor adquirir qualquer direito real por usucapião (art.º
1290)
5. A duração da posse para efeitos da usucapião
Começar por classificar as coisas em móveis ou imóveis:

 Imóveis (art.º 1293 – 1297)


o Possuidores com título aquisitivo do direito e o hajam registado (art.º
1294):
 Registo de título + boa fé  10 anos, a contar da data do registo
(art.º 1294/a)
 Registo de título + má fé  15 anos, a contar da data do registo
(art.º 1294/b)
 Desde que o registo do facto jurídico tenha sido realizado, ainda
que este seja inválido
o Possuidores que não tenham título aquisitivo ou não o hajam registado
(art.º 1296)
 Sem registo do título + boa fé  15 anos
 Sem registo do título + má fé  20 anos
 Mera posse: o possuidor pode declarar judicialmente que possui
pública e pacificamente uma coisa nos termos de um direito,
desde que a posse tenha, pelo menos, 5 anos
 Registo da decisão judicial que declare a posse + boa fé
 5 anos (art.º 1295/a)
 Registo da decisão judicial que declare a posse + má fé 
10 anos (art.º 1295/b)
 Móveis (art.º 1298 – 1301)
o Coisas móveis sujeitas a registo (art.º 1298)
 Registo de título + boa fé  2 anos (art.º 1298/a)
 Registo de título + má fé  4 anos (art.º 1298/b)
 Caso não haja registo, independentemente de estar de boa ou
má fé, o prazo é sempre 10 anos (art.º 1298)
o Coisa móveis não sujeitas a registo (art.º 1299)
 Boa fé + título justo  3 anos
 Boa/má fé  s/título justo  6 anos
o Posse oculta ou violenta
 Titulada  4 anos
 Não titulada  7 anos
 Contínuo e ininterrupto: inutiliza o tempo de posse já decorrido e obriga a que
o possuidor a necessidade de exercer a posse durante todo o tempo do prazo
legal aplicável
o Presunção do art.º 1254

6. Duração da posse e acessão da posse


Art.º 1256

 Alude ao adquirente da posse que a recebeu por transmissão


o Tradição (art.º 1263/b) ou Constituto possessório (art.º 1263/c + 1264)
o Pires Lima e Antunes Varela: deve existir uma relação jurídica
formalmente válida
o José Alberto Vieira: deve existir um título, mas também uma posse não
titulada permite que o possuidor possa usucapir
 A lei português ignora a existência de um título válido ou
inválido, apenas seria um problema no âmbito da forma (art.º
1259/1 a contrario)
 Sendo que o regime da acessão permite facilitar o usucapião,
não faz sentido exigir mais requisitos
 Assim, o possuidor atual pode juntar a sua posse à posse do seu
antecessor caso tenha adquirido a posse deste por qualquer um
dos modos de transmissão da posse que o direito português
reconhece, independentemente da validade dos títulos de
transmissão.
 Art.º 1256/2: limites à acessão na posse
o Pires Lima e Antunes Varela: as duas posses devem ser consecutivas e
homogéneas
o José Alberto Vieira: permite a soma das posses de diferente natureza,
estabelecendo apenas que a soma só pode ocorrer dentro dos limites
daquela que tem menor âmbito
 Menor âmbito: posse relativa a um direito menor; posse com
piores caracteres
7. Suspensão e interrupção da contagem do prazo de posse para usucapião
Art.º 1292: prescrição

 A interrupção determina a inutilização de todo o tempo de posse decorrido até


aí e o recomeço da contagem do prazo a partir do facto interrompido.
 Factos interrompidos do prazo da posse (art.º 323 - 325)
Art.º 1292: suspensão

 Art.º 318 – 322


 A suspensão não inutiliza o prazo de posse para usucapião decorrido até à
verificação do facto suspensivo
8. Invocação da usucapião pelo possuidor
Para que a usucapião adquira a eficácia o possuidor deve invocá-la, ou seja, manifestar
a sua vontade em usucapir o direito a que se refere a sua posse.
Art.º 303: a usucapião carece de ser invocado pelo possuidor.
O possuidor não precisa de recorrer ao tribunal para obter o efeito aquisitivo ligado à
usucapião.
Se for extrajudicial faz-se mediante declaração (art.º 219)
A usucapião também pode ser invocada pelos credores ou por outros terceiros com
interesse legítimo na sua declaração.
9. O momento da eficácia da usucapião
Art.º 1288: quando invocada a usucapião fixa assim a data do início da posse.
O regime da usucapião faz, assim, remontar ao passado, concretamente ao momento
em que a posse boa para o usucapião se iniciou, o momento de aquisição do direito
real de gozo.
10. A eficácia da usucapião e o direito usucapido
O efeito primário da usucapião é aquisitivo (art.º 1287).
Pela usucapião, o possuidor usucapiente adquire o direito real de gozo a que a sua
posse se reporta

 A usucapião permite ao possuidor adquirir o direito por ele exteriorizado


através daquela, estando excluída a aquisição de outros direitos reais
Qual a amplitude da aquisição?

 Se houver uma posse livre: permite ao possuidor usucapir o direito real de gozo
sem os ónus representados pelos direitos reais menores constituídos
anteriormente
o Art.º 1287
o Se o direito real máximo (propriedade) é afetado, por um argumento de
maioria de razão, todos os outros o serão
 Se houver direitos reais menores constituídos sobre a coisa, a usucapião só
determina a sua extinção caso a posse do usucapiente haja sido mantida em
oposição a eles
A usucapião também pode ter eficácia extintiva

 A usucapião funciona sempre contra o proprietário da coisa sobre o qual ocorre


a aquisição
 Quando o direito usucapido é um direito real menor, a usucapião não
determina a extinção do direito de propriedade existente até aí
11. O poder potestativo de usucapir
O possuidor tem de invocar a posse a seu favor (art.º 303 e 1292)
A usucapião resulta do exercício de um poder potestativo atribuído ao possuidor
Este é atribuído ao possuidor que tenha uma posse boa para usucapião e haja mantido
a mesma ininterruptamente durante o prazo legal estabelecido.
12. Usucapião pelo possuidor causal
Possuidor causal beneficia do direito real de gozo que torna a sua posse causal (do
facto com eficácia real aquisitivo) e da usucapião.

 Porque quereria ser titular duas vezes do mesmo direito?


o Trata-se, em primeiro lugar, de facultar ao titular do direito real de gozo
a demonstração da titularidade do direito por outro facto que não
aquele pelo qual originariamente o adquiriu
o Em segundo lugar, pode haver necessidade e invocar o usucapião para
prevalecer contra outra situação jurídica real que a afete o seu direito
 Como oposição do efeito atributivo do registo predial
13. As funções do usucapião
A usucapião tem uma função consolidativa da situação fáctica em que as coisas se
encontram sempre que o possuidor usucapiente não é o titular do direito a que a
posse se reporta.
A usucapião também tem uma função probatória, podendo ser invocada por alguém
que já é o titular do direito real por força de outro qualquer facto aquisitivo

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