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A Comunhão de Direitos Reais

1. A Comunhão no Ensino Português dos Direitos Reais


Duas grandes orientações:

 Maioritária: não autonomiza a comunhão, reduzindo o seu estudo à


compropriedade no contexto do regime jurídico do direito de propriedade
o Uma mais antiga: refere-se à compropriedade nas classificações atinente
à propriedade  José Tavares
o Atual: desenvolve a compropriedade como ponto autónomo do regime
jurídico da propriedade  Pires Lima
 Minoritária: O estudo da comunhão aparece deslocado da propriedade e não
confundido com a compropriedade  Paulo Cunha
 OA: Integra a comunhão do âmbito das relações jurídicas de direitos reais e,
dentro destas, nos conflitos de sobreposição paralela, que incluem ainda os
conflitos de sobreposição hierárquica e prevalecente
o A comunhão seria uma relação jurídica real na modalidade de conflitos
de sobreposição
o MC: adota esta teoria, coloca a comunhão no estudo do direito real, a
par da posse, da delimitação negativa e do direito de vizinhança
JAV: A comunhão representa um situação de concurso de direitos reais da mesma
espécie, todos eles tendo a mesma coisa por objeto

 Este concurso projeta-se no conteúdo de cada um dos direitos dos


comunheiros,
2. A Comunhão dos Direitos Reais em Portugal
Art.º 1404: o regime jurídico da comunhão de direitos reais para todos os direitos
aplicável diretamente
A compropriedade respeita à comunhão de direitos reais de propriedade, podendo
haver comunhão em outros direitos reais, de gozo, de garantia e de aquisição
3. A Distinção de Figuras Afins
Comunhão de mão comum

 Na comunhão conjugal dos conjugues casados em regime de comunhão de


bens
Sociedade civil sem personalidade jurídica:

 Representa a prossecução de uma atividade económica lucrativa por várias


pessoas que acordaram fazê-lo pondo bens em comum
4. A Comunhão Geral e as Comunhões Especiais
Disposições gerais de comunhão:
 Art.º 1403
Disposições especiais de comunhão:

 Paredes e muros de meação: art.º 1370-1375


 Condomínio das águas: art.º 1398-1402
 Partes comuns do edifício constituído em propriedade horizontal: art.º 1420 ss.
5. A Constituição da Comunhão de Direitos Reais
A comunhão pode resultar dos mesmos factos jurídicos que desencadeiam a
constituição dos vários direitos reais. Esta comunhão advém do concurso de vários
direitos reais da mesma espécie sobre a mesma coisa.
A comunhão pode constituir-se por:

 Facto jurídico negocial


 Facto jurídico contratual
 Facto jurídico unilateral
 Facto jurídico não negocial (usucapião, acessão)
 Força da lei ou decisão judicial
6. O Conteúdo do Direito do Comunheiro
Cada comunheiro é o titular de um direito independente dos demais
Art.º 1403/2, 1º parte e art.º 1405/1, 1º parte: o conteúdo positivo do direito do
comunheiro é o mesmo do direito singular que está em comunhão
O comproprietário tem o conteúdo do direito que a lei fixa para a propriedade:

 Art.º 1305: uso, fruição, transformação material, a disposição, a reivindicação,


etc.
 O conteúdo do direito real do comunheiro corresponde ao aproveitamento
permitido pelo tipo legal de direito real que estiver em comunhão
Especificidade do conteúdo do direito do comunheiro:

 Quota: disposição do comunheiro numa porção ideal ou abstrata da coisa


comum
o A quota não faz variar o conteúdo do direito do comunheiro
 Mas diferencia a posição dos comunheiros no exercício de alguns
dos poderes e deveres que fazem parte dele  feição
quantitativa que é desconhecida na conformação singular do
tipo de direito real
 Deveres: conteúdo negativo  o regime jurídico da comunhão impõe deveres
recíprocos de atuação, os quais, visando possibilitar o aproveitamento da coisa
por todos, acabando por limitar negativamente a extensão do seu
aproveitamento
o O comproprietário não pode privar os outros comunheiros do uso a que
também têm direito (art.º 1406/1)
 Todos os comunheiros que tenham direito ao uso da coisa
sofrem a incidência deste dever, que limita a extensão do gozo
admitida pelo tipo de direito real em comunhão
O regime da comum importa diferenças relativamente ao conteúdo do direito real
aquando de um titularidade singular.
7. A Quota do Comunheiro

Cada comunheiro tem uma posição quantitativamente determinada na comunhão 


quota
Quota:

 Resulta do título constitutivo  se for omisso, a lei presume que são iguais
(art.º 1403/2, fim)
 A indicação não tem de ser expressa
o Pode resultar do contexto do negócio ou de circunstâncias relevantes
o Pires Lima e Antunes Varela: com um diferente preço pago pelos
compradores em contrato de compra e venda, seria indicativo de uma
quota proporcional ao montante do preço suportado por cada um deles
 A quota não tem de permanecer sempre igual:
o O valor da quota do comunheiro pode variar por força da eficácia de
factos supervenientes que tenham justamente o efeito de alterar o valor
da quota
 Cada comunheiro pode dispor da sua parte (art.º 1408) ou por
sucessão
 Usucapião: a posse da coisa nos termos de uma quota de valor
superior (por exemplo, por inversão do título da posse, art.º
1406/2)  possibilita ao possuidor a usucapião do direito do
comunheiro preterido na posse
 Em caso de extinção do direito do comunheiro  por renúncia, o
direito acresce aos outros comunheiros na proporção das quotas
respetivas
 Renuncia liberatória (Art.º 1411/3)
 Renuncia abdicativa
Efeitos da quota:

 A fruição do comunheiro e o recebimento de outros réditos ou proveitos


gerados pela coisa (art.º 1405)
 O montante a pagar pelas despesas com a coisa e nos encargo devidos por ela
(art.º 1405)
 O valor do voto do comunheiro nas deliberações sobre a administração da coisa
comum (art.º 1407)
 O direito de preferência do comunheiro no caso de venda ou dação em
cumprimento a estranhos do direito do outro comunheiro (art.º 1409/3)
 A proporção do acrescer, em caso de renúncia de um dos cominheiros ao seu
direito (art.º 1411/3: renúncia liberatória)
8. O Poder de Usar a Coisa
Art.º 1406/1: poder de uso do comunheiro

 Cada comunheiro pode usar livremente a coisa, independentemente do valor


da sua quota e ainda que esta seja mínima
 O uso a que os comunheiros têm direito é o uso integral da coisa, de toda a
coisa, e todos podem usar a coisa simultaneamente, contando que tal seja
possível
O uso da coisa está sujeito a limites, que equivalem aos deveres e fazem parte do
conteúdo negativo do direito do comunheiro:

 Não privar os outros comunheiros do uso integral da coisa


 Não empregar a coisa para fim diferente do que ela se destina
o Não deve introduzir nela inovações ou reparações sem o consentimento
dos restantes comunheiros
o Ao comunheiro é dado somente utilizar a coisa como ela se encontra
o O fim da coisa a que o uso se deve conformar deve resultar do título
constitutivo ou haja sido acordado entre os comunheiros
o Se o comunheiro extravasar o uso permitido da coisa em comum,
qualquer um dos comunheiros deve desencadear a sua posição
 Devendo o comunheiro conformar-se com ela, reconstituindo a
situação anterior, e sem prejuízo do dever de indemnizar que ao
caso caiba
A regra do uso integral tem natureza supletiva:

 Art.º 1406/1: ressalva o acordo dos comunheiros sobre o uso da coisa comum
 Os comunheiros podem fazer o regulamento de uso da coisa (eficácia
obrigacional e vincula apenas os comunheiros que o hajam celebrado)
o Se o regulamento envolver a perda definitiva do uso viola o princípio da
tipicidade do art.º 1306/1
 Se o tipo de direito real contempla o uso da coisa, a renúncia a
este aspeto do conteúdo o direito arrasta necessariamente a
criação de um direito real atípico
o Pires Lima e Antunes Varela: a maioria pode deliberar sobre o uso da
coisa, nos mesmos termos em que decide sobe a administração dela,
embora mitiguem a sua posição afirmando que os comunheiros não
podem ser privados do uso da coisa
o JAV: não concorda
 A maioria dos comunheiros não pode decidir sobre um poder de
exercício individual como é o poder de usar a coisa
 Porque senão, a maioria podia determinar a seu belo prazer o
uso da coisa comum, frustrando o fim do art.º 1406
 O acordo sobre o uso deve resultar do consentimento de todos
os comunheiros e não da imposição da maioria  se não houver
consenso aplica-se a regra geral
 Havendo uma impossibilidade de uso integral, e na falta de consenso, não resta
outra alternativa senão o recurso à via judicial
 Hipóteses de partilha:
o Pode ser atribuída um fração específica da coisa pra esse efeito,
estabelecendo a rotatividade entre todos
o Pode haver a locação da coisa a terceiro, beneficiando os comunheiros
dos frutos provenientes da renda paga pelo locatário
9. O Poder de Fruir e de Beneficiar dos Outros Réditos ou Vantagens da Coisa
Contando que o direito real em comunhão atribua o poder de fruir (propriedade,
usufruto, uso e habitação, direito de habitação periódica), cada comunheiro tem
direito aos frutos na proporção da sua quota (art.º 1405/1, 2º parte)

 O poder de fruir é de exercício individual


o Deve ser articulado no seu exercício com o poder de administração da
coisa comum
 O comunheiro pode fazer seus os frutos gerados pela coisa na proporção da sua
quota
10. O Poder de Transformar a Coisa
O poder de transformação da coisa envolve a alteração da substância da coisa, o seu
exercício cabe conjuntamente a todos os comunheiros
As obras de conservação não constituem o exercício de um direito de transformação,
mas sim a mera administração da coisa comum

Na falta de acordo parece que se torna imperativo o recurso ao tribunal, para que
este decida das pretensões divergentes dos comunheiros
11. O Poder de Dispor do seu Direito
Atos de disposição do direito do comunheiro ≠ Atos de disposição obre a coisa comum,
de toda ou parte dela

 Art.º 1408
o Direito do comunheiro: princípio da livre disponibilidade (art.º 1408/1,
1º parte)
 O comunheiro pode alienar o seu direito a terceiro
 Vender, doar, permutar
 O comunheiro pode onerá-lo, constituindo outros direitos reais
 De gozo, garantia ou aquisição
o O poder de disposição envolve a renuncia ao direito:
 Renúncia liberatória (art.º 1411/1)
 O comunheiro pode renunciar o seu direito como meio
de se exonerar das despesas e encargos com a coisa
comum, contando que não os haja aprovado
previamente
o Nesse caso a eficácia da renúncia depende do
consentimento de todos os comunheiros (art.º
1411/2)
 Renúncia abdicativa
 Não existe nenhuma referência no âmbito da comunhão
 Ao abrigo do poder de disposição incluído no direito real,
o comunheiro pode válida e eficazmente renunciar o seu
direito
 Não depende também do consentimento dos restantes
comunheiros
 Numa situação de renúncia existe o acrescer da posição dos
outros comunheiros e o direito dos outros comunheiros
expande-se
12. O Poder de Preferir na Venda ou na Dação em Cumprimento a Terceiro do Direito
do Comunheiro
Art.º 1409:

 O comunheiro tem o poder de preferir no caso de venda ou dação em


cumprimento a estranhos do direito de outro comunheiro
o Lei procura evitar a intromissão de terceiros no âmbito do
aproveitamento da coisa, que pode gerar tensão e conflitos
 Este poder de preferir abrange somente os negócios de compra e venda e de
dação em cumprimento
o Em qualquer outro negócio jurídico (doação, permuta, etc.) o
comunheiro não tem preferência
 Todos os comunheiros têm um poder de preferir no conteúdo do seu direito
o A harmonização do seu conflito faz-se permitindo que cada um exerça o
seu poder na proporção da sua quota (art.º 1409/3)
13. O Poder de Administrar a Coisa Comum
Cada comunheiro tem no conteúdo do seu direito o poder de administrar a coisa
comum (art.º 1407+ 985)

 Todos os comunheiros têm igual poder para administrar a coisa comum,


independentemente do valor da sua quota
 O comunheiro tem o poder de administrar a coisa comum, ele pode opor-se ao
ato de administração levado a cabo por um ou mais dos outros comunheiros
(art.º 985/2)
o A oposição visa impedir a prática do ato de administração com o qual o
comunheiro não está de acordo
o Se houver conflito entre os comunheiros, cabe a maioria decidir
 Art.º 1407/1/2º parte: a formação da maioria requer, pelo
menos, a metade do valor das quotas, não sendo suficiente a
maioria dos votos dos comunheiros
 Evita a imposição da administração da coisa pela minoria pessoal
dos comunheiros
 Mostra-se propício a impasses, que têm de ser resolvidos com
recurso aos tribunais, que decidirão segundo juízos de equidade
(art.º 1407/2)
O art.º 985 abre a possibilidade de a administração da coisa comum se entregue a
algum ou a alguns dos comunheiros no regulamento de administração

 Neste caso as decisões cabem aos comunheiros que têm a administração


 Na falta de acordo, deve entender-se que as deliberações são tomadas pela
maioria deles  independentemente do facto de representarem ou não
metade do valor das quotas (art.º 985/4)
 JAV: é contra o facto do art.º 1407/1 dispor que a maioria requer metade do
valor das quotas
o Tal disposição apenas vale se os comunheiros não houverem acordado
um regulamento de administração da coisa comum com a entrega da
administração a um ou alguns deles
 De outro modo, o alcance do regulamento de administração
ficaria grandemente diminuído, assim como a tentativa legítima
de evitar os impasses propiciados pelo sistema acolhido de
formação de maioria
Os atos praticados pelo comunheiro sem decisão da maioria são anuláveis a
requerimento de qualquer dos comunheiros que não tenham intervindo.

 O que acontece se a oposição da deliberação se gera depois da prática do ato?


o Se a maioria dos comunheiros decide em sentido contrário fica em
causa a eficácia do ato
o O ato jurídico será eficaz perante todos os comunheiros
o Os atos materiais de administração praticados pelo comunheiro contra a
decisão da maioria podem ser desfeitos repondo-se a situação anterior
o O comunheiro será civilmente responsável pelos danos causados aos
restantes (art.º 1407/3)
14. O Poder de Disposição da Coisa Comum
Art.º 1408/1/2º parte

 A explicação está no facto de, havendo comunhão, a coisa ser simultaneamente


objeto de vários direitos reais de igual natureza
 Pode dispor do seu direito livremente, mas quanto à coisa não pode dispor
coisa que não é sua
 Este poder integra a transmissão, oneração e a renúncia  poder de exercício
conjunto e sujeito à regra de unanimidade
O ato de disposição de parte especificada da coisa ou de toda ela:

 Tem de ser celebrado por todos comunheiros


o A não ser que haja consentimento prévio do ou dos comunheiros que
não o praticam
 A falta de consentimento de um dos comunheiros, independentemente da sua
quota, provoca o vício da ilegitimidade
o Sendo havido como disposição de coisa alheia (art.º 1408/2)
o É nulo:
 Para compra e venda (art.º 892), que o art.º 939 estende para
outros negócio onerosos
 Para doação (art.º 956)
 OA: defende que se trata de uma ineficácia jurídica
 Pretende assegurar que o comunheiro que não o
consentiu tenha de requer a nulidade do mesmo, mas
não impede de que o faça caso tal lhe convenha
 JAV: acha que nulidade ou ineficácia jurídica são compatíveis
 A ineficácia jurídica do ato de disposição relativamente
aos outros comunheiros
 Os comunheiros ficam dispensados de fazer declarar a
nulidade do ato que não os atinge
 O ato é ineficaz quanto aos comunheiros que não
celebraram e o negócio jurídico de disposição sem
legitimidade é nulo
o A nulidade projeta-se no âmbito da relação
interna entre as partes do negócio jurídico e entre
estas e os terceiros que não sejam comunheiros
 A nulidade por falta de liberdade do disponente permite o
aproveitamento do ato pela redução (art.º 292) e da conversão
(art.º 293):
 Caso ocorra a disposição de parte especificada da coisa
comum e ela possua valor inferior ou igual à quota do
disponente, caso em que poderá haver conversão para o
negócio relativo à quota (art.º 293)
 A disposição respeitante a toda a coisa comum ou a uma
parte especificada dela de valor superior à quota do
disponente, hipótese em que poderia haver lugar,
sucessivamente a uma redução e conversão
o Art.º 292 e 293
o De modo que o negócio apenas produza efeitos
relativamente à quota ou quotas dos comunheiros
disponentes
 Sendo uma venda ou dação em cumprimento a terceiros
estranhos à comunhão, a conversão do negócio não prejudica as
preferências legais dos comunheiros (art.º 1409/1)
 Consentimento posterior do comunheiro
o A legitimidade, como requisito de validade do negócio jurídico, tem de
existir no momento da sua celebração, sob pena de nulidade
o A lei admite a convalidação posterior do negócio jurídico por falta de
legitimidade do disponente  compra e venda e outros negócios
onerosos (art.º 939)
o Art.º 895: logo que o vendedor adquira a propriedade da coisa ou o
direito vendido o contrato torna-se válido
 Se o comunheiro adquire o direito do comunheiros que não
prestou o seu consentimento ao negócio de disposição, a venda
convalida-se
 JAV: acha que este regime pode ser estendido à hipótese de
consentimento posterior do comunheiro, contando que pode ser
prestado na forma legal do negócio em causa
 O consentimento posterior supre a ilegalidade originário do
comunheiro disponente, convalidando o negócio pela sanação
do vício
15. O Poder de Suscitar a Divisão da Coisa Comum
A lei desfavorece qualquer tendência de prolongar por muito tempo a indivisão da
coisa por diferentes titulares, estimulando a sua divisão a favor de uma titularidade
singular:

 Ideia de que o aproveitamento da coisa é mais profícuo havendo um só titular


do direito e de que isso corresponde a um interesse público tem sido feito
subsistir o carácter provisório da comunhão
Art.º 1412/1: O comunheiro tem o poder potestativo de, a qualquer momento, pedir a
divisão da coisa
Esta divisão é feita nos termos do acordo a que todos os comunheiros cheguem, à qual
está sujeito à forma da compra e venda (art.º 1312/2), que será a escritura pública
tratando-se de um imóvel (art.º 875), ou uma forma livre, tratando-se de uma coisa
móvel (art.º 219).
Art.º 1413/1: caso os comunheiros não cheguem a acordo sobre a divisão da coisa, a
qualquer deles é lícito o recurso ao tribunal para o efeito
Art.º 1412/1: os comunheiros podem convencionar a indivisão da coisa, no próprio
título constitutivo ou posteriormente

 Prazo máximo de 5 anos para a eficácia do acordo de indivisão (nº2)


 É possível a renovação deste prazo
16. O Poder de Reivindicação
O comunheiro pode efetuar a defesa do seu direito

 Recurso a todos os meios de tutela admitidos pelo ordenamento


 A única diferença para a titularidade singular que a lei exige uma atuação
conjunta dos comunheiros em algumas formas de defesa da coisa comum
Defesa da coisa comum:

 Recuperação da mesma quando esteja ilicitamente na posse ou detenção de


terceiro  reivindicação a coisa de terceiro (art.º 1405/2)
o Estende a todos os comunheiros de direitos reais de gozo
o O comunheiro pode sozinho reivindicar a coisa de terceiro, o qual, não
pode excecionar que a coisa não lhe pertence por inteiro para evitar a
condenação na entrega
Art.º 1405/2: para a defesa da coisa comum por reivindicação reflete a regra geral
nesta matéria

 Salvo havendo disposição em contrário, quer seja judicial quer seja extrajudicial
O comunheiro pode recorrer à ação direta para evitar o esbulho da coisa, como pode
interpor uma ação de simples apreciação negativa para impugnar a alegação da
existência de um direito real menor sobre a coisa comum.
17. O Dever de Pagar as Despesas e de Participar nos Encargos Gerados pela Coisa
Art.º 1405/1 + 1211: regra geral, cada comunheiro participa nas despesas e encargos
da coisa na proporção da sua quota

 As despesas para reparação, conservação ou outras são suportadas por todos


os comunheiros, embora o montante dessa participação possa ser distinto se
forem diferentes as quotas dos comunheiros
Carvalho Fernandes: os comunheiros podem acordar entre si o pagamento das
despesas em proporção diferente das suas quotas

 O mero acordo sobre o uso a favor de algum dos comunheiros não implica, por
si só, uma diferente atribuição das despesas e dos encargos da coisa, sendo
necessária uma convenção, expressa ou tácita, nesse sentido
 JAV: não entende como na falta de acordo entre os comunheiros, se pode
ultrapassar o critério normativo do art.º 1415/1
 O comunheiro pode exonerar-se do dever de pagar as despesas e encargos
gerados pela coisa renunciando ao seu direito (art.º 1411/1, no fim)
o É o caso de uma renúncia liberatória
o O comunheiro não pode renunciar ao seu direito como forma de se ver
livre das despesas com a coisa, se aprovou as mesmas
 Renúncia, neste caso, só é eficaz se todos os comunheiros derem
o consentimento (art.º 1411/2)
18. A Extinção da Comunhão
Extinção da comunhão:

 Quando a coisa perece


o A extinção da coisa faz cessar todos os direitos reais que sobre ela
incidam  princípio da inerência
 Os direitos são adquiridos por uma única pessoa
o A extinção dos direitos reais dos comunheiros pode resultar de um facto
extintivo com essa eficácia
 Expropriação
 Renúncia ao direito
 Decurso do prazo
 Usucapião
o Sendo direitos reais menores em comunhão, a extinção dos mesmos
tem como efeito paralelo a desoneração do direito real maior
o A aquisição por uma única pessoa pode acontecer quando beneficia de
um facto aquisitivo de todos os direitos dos comunheiros (sucessão,
venda, doação, etc.)
 Ou quando os restantes renunciam os seus direitos
 Quando é dividida pelos comunheiros
o Art.º 209
o O fracionamento pode levar a que cada comunheiro fique a pertencer
uma parte da coisa, autonomizada agora
o Art.º 1413: a cessação da indivisão da coisa tanto pode ter lugar
extrajudicial como judicialmente
19. Natureza jurídica e Construção Dogmática da Compropriedade
Teorias que procuram definir a natureza jurídica da compropriedade:
19.1. A Teoria da Personalidade Coletiva
Teoria residual
Defende que na compropriedade existe uma pessoa coletiva:

 Essa pessoa coletiva seria a titular do direito real


 Os comunheiros teriam apenas uma posição na pessoa coletiva
Criticas:

 Nenhuma disposição na lei atribui direitos e deveres a alguém que não seja
comunheiro, não permitindo, por isso, sustentar a tese de uma nova pessoa
jurídica
19.2. A Teoria da Propriedade Coletiva
A compropriedade como uma propriedade coletiva
Críticas:

 O comunheiro é titular de um direito próprio, que concorre simultaneamente


com os direitos dos outros comunheiros
o Sendo esse direito de livre disposição por cada um dos comunheiros
 Não só não é possível sustentar a existência de um único direito, havendo
tantos direitos como os comunheiros, como cada um deles pode ser
transmitido separada a independentemente dos demais
19.3. A Teoria de um Direito sobre uma Quota Ideal
Cada comunheiro é titular de um direito próprio, que incide sobre a coisa comum

 Cada direito encontra-se limitado em extensão pela quota do comunheiro


 Mota Pinto
Criticas:

 Apesar da afirmação de princípio de que o objeto da comunhão é a coisa, a


referência do direito a uma quota ideal e abstrata torna-a inverosímil
 Se é a quota p objeto do direito do comproprietário, a quem pertence a coisa
comum?
19.4. A Teoria de um Único Direito com vários (Com)Titulares
Na comunhão existe um único direito com pluralidade de titulares:

 Haveria um direito de propriedade com a titularidade repartida pelo


comproprietários
 Apoio literal no art.º 1403/1
 A lei recorta para cada um dos comunheiros um conteúdo específico de
aproveitamento, que, sendo qualitativamente igual aos dos outros, é próprio de
cada direito real
o Porém no que toca à feição quantitativa representada pela quota:
 Na propriedade singular, a fruição pertence ao proprietário
 Quando olhamos para a compropriedade vemos que a fruição se
pode repartir de modo diferente por todos os comproprietários
 Crítica: se houvesse um direito de compropriedade, como
pretende esta teoria, ficaria explica, como, no âmbito de um
mesmo direito, pode haver fruições distintas , quando o poder
de fruição é unitário
 Antunes Varela e Pires Lima
Criticas:

 Não pode haver uma propriedade não exclusiva


o Aponta a existência de um único direito em contitularidade
 Oliveira Ascensão: dificuldades na definição da natureza técnica ligada à
construção dogmática e ideológica do direito subjetivo como posição jurídica
individual da pessoa  toda a situação encabeçada por um sujeito traduz-se
numa situação jurídica individual
19.5. A Teoria do Concurso Vários Direitos Reais da mesma Natureza
A compropriedade representa um concurso de vários direitos de propriedade sobre
todos os bens, direito que, justamente pela concorrência, se limitam reciprocamente
no seu exercício:

 Existem na comunhão tantos direitos como os comunheiros


 Estes direitos são independentes entre si e têm a natureza do direito a que se
referirem
 Na compropriedade, cada comproprietário é titular de um autêntico direito de
propriedade
 O objeto do direito do comunheiro é a coisa, a totalidade da coisa e não uma
porção ideal representada pela quota
 A incidência do direito de propriedade sobre a mesma coisa cria um concurso
de direitos reais que ficam limitados na sua extensão
 O art.º 1408/1 deixa claro que o comunheiro não tem legitimidade para,
sozinho, dispor de parte especificada da coisa, ainda que esta, em concreto, se
contenha dentro do valor da quota
 Oliveira Ascensão, José Alberto Vieira e Menezes Cordeiro

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