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Universidade Metodista de Angola – U.M.

A
Faculdade de Ciências Jurídicas e Sociais
Curso de Direito

Direito de Process

O Litisconsórcio

Paulo Gustavo Marcos de Almeida Cardoso;


Número 24252;
Turno da manhã.

Docente
Judith Vieira
Manuel

Luanda
Novembro de 2020.
Paulo Gustavo Marcos de Almeida Cardoso

O Litisconsórcio

Trabalho apresentado ao curso de Ciências


Jurídicas e Sociais da Universidade Metodista
de Angola, como requisito para a obtenção da
nota da primeira frequência.

Luanda
Novembro de 2020.
Ora bem, a priori, antes de adentrar propriamente no mérito da questão em apresso, é
necessário que se faça o devido enquadramento, sendo assim, será indispensável frisar
certos aspectos em jeito de introdução.

Legitimidade das partes


Conceito
O autor vem a ser parte legítima quando tem interesse directo em demandar, já o réu,
vem a ser parte legítima quando tem interesse directo em contradizer. – Tem a sua
tipificação nos termos do artigo 26 nr° 1 do Código de Processo Civil.
Sobre o autor, é importante que se acrescente que, o interesse em demandar exprime-se
pela utilidade derivada da procedência da acção; e sobre o réu, é essência que se lhe
diga que o seu interesse em contradizer, exprime-se pelo prejuízo que daquela
procedência possa advir. – Tendo o seu respaldo legal nos termos do nr.° 2 do já
referido artigo 26.
Legitimidade esta que, segundo Antunes Varela, divide-se em duas vertentes, que são:
1. Legitimidade processual singular;
2. Legitimidade nas relações com pluralidade de interessados.

Legitimidade processual singular


Para que o juiz se possa pronunciar sobre o mérito da questão, julgando a ação
procedente ou improcedente, não basta que as partes tenham personalidade judiciária e
gozem de capacidade judiciária. É preciso, além disso, que gozem de legitimidade para
a ação.
A legitimidade processual consiste na suscetibilidade de, numa instância (ação)
concreta, ser a parte certa do lado ativo ou passivo da relação processual.

Legitimidade nas relações com pluralidade de interessados


Interessa-nos falar propriamente da legitimidade nas relações com pluralidade de
interessados, onde encontraremos:
1. Litisconsórcio;
2. Coligação.
Mas, neste caso, interessa-nos apenas falar sobre o Litisconsórcio.

Litisconsórcio
Na maioria dos casos são apenas duas as partes que se defrontam integrando com o juiz
a relação processual (trilateral). em Ou seja, a regra é a da dualidade das partes.
É o proprietário que, como autor numa acção de reivindicação, demanda o possuidor ou
o detentor da coisa como réu. É o portador da letra que acciona o aceitante para obter o
pagamento. É o marido que requer o divórcio contra a mulher.
A regra do processo, é, por conseguinte, a da dualidade das partes (autor e réu;
exequente e executado; requerente e requerido), embora no mesmo processo ou autor
possa cumular dois ou mais pedidos contra o réu, nos termos do artigo 470.° do Código
de Processo Civil (Cumulação objectiva).
Muitas vezes, porém, em lugar de um só autor ou só réu, a acção tem vários autores ou é
proposta por dois ou mais réus.
À dualidade das partes, substitui-se nesses casos a pluralidade das partes:
 Pluralidade activa;
 Pluralidade passiva;
 Pluralidade mista.

Pluralidade activa
Se a acção é proposta por dois ou mais autores contra o mesmo réu.

Pluralidade passiva
Se o autor demanda simultaneamente vários réus.

Pluralidade mista
Quando a acção é instaurada por dois ou mais autores contra o mesmo réu.
Nem sempre a cumulação subjectiva reveste a mesma natureza, procede da mesma fonte
ou se constitui no mesmo momento.

No tocante ao primeiro ponto, a lei distingue, nos artigos 27. ° e seguintes do Código
de Processo Civil, entre o Litisconsórcio e a Coligação, podendo acrescentar-se entre
estas duas figuras, os casos de pluralidade de partes proveniente da intervenção de
terceiros (artigos 320. ° e seguintes do já referido Código de Processo Civil.)
Se os vários credores de uma obrigação plural (seja ela solidária ou conjunta),
demandar em o mesmo ou os mesmos réus, haverá um caso de Litisconsórcio, visto o
pedido se fundar numa relação material respeitante a várias pessoas.
No Litisconsórcio há pluralidade de partes, mas unicidade de relação material
controvertida.
A intervenção de terceiros pode conduzir nalguns casos ao Litisconsórcio ou à coligação
mas delas podem brotar também figuras distintas e autónomas de pluralidade. É o caso
típico da assistência, onde não há Litisconsórcio porque não há comunhão e partes
principais, mas em que, ao lado delas passa a figurar na acção uma parte acessória
(secundária ou dependente).
E é ainda o caso especial da oposição em que uma terceira parte se enxertia na acção
com uma pretensão que não coincide, nem com o autor, nem com o réu (artigo 344.° do
Código de Processo Civil.)
No âmbito da figura geral do Litisconsórcio a Lei refere ainda duas modalidades
diferentes:
 Litisconsórcio voluntário;
 Litisconsórcio necessário.

Litisconsórcio voluntário
A cumulação depende exclusivamente da vontade das partes (artigo 27.° do Código de
Processo Civil).

Litisconsórcio necessário
A cumulação resulta da determinação da Lei, de prévia estipulação ou da natureza da
relação jurídica (artigo 28 do Código de Processo Civil).
Sendo necessário o Litisconsórcio, entende-se que há uma só acção com pluralidade de
sujeitos (artigo 29) – tendo esta unidade de acção, reflexos profundos, não só na
questão de legitimidade das partes, mas também nos efeitos praticados por uma das
partes sobre o seu litisconsorte.
Se for voluntário, entende-se que o Litisconsórcio gera apenas uma acumulação de
acções e que cada um dos consortes actua com independência em relação aos outros.
Quanto à sua fonte, a pluralidade das partes pode ser:
 Voluntária: sucede nos casos de coligação e Litisconsórcio da iniciativa das
partes;
 Legal: quando imposta por lei;
 Provocada: quando o terceiro intervém no processo por chamamento do autor
ou do réu (artigos 347.° e 356.° do Código de Processo Civil);
 Não conhecendo o direito processual vigente o Litisconsórcio ou à coligação
judicial, isto é, o chamamento das partes: a fim de integrarem o contraditório
por determinação ou iniciativa do juiz.
Quanto ao momento da sua formação, a pluralidade das partes, nomeadamente o
Litisconsórcio, pode ser: Inicial ou sucessiva.
Pluralidade inicial
Diz-se inicial, a pluralidade que nasce com a propositura da acção: seja porque a acção é
proposta por vários autores ou contra mais de um réu, seja porque é instaurada por
favoritos autores contra vários réus.

Pluralidade sucessiva
Quando só surge após a proposição da acção, como sucede nos casos de intervenção de
terceiros, de chamamento de alguém ao processo como autor ou como réu, a fim de
sanar a ilegitimidade de uma das partes (artigos 23.°, 269.°, 1.°, 288.°, 2.° e 494.°).

O Litisconsórcio e a pluralidade das partes


Conhecidas as diversas formas que assume a pluralidade das partes, interessa saber que
relação existe entre a mais importante dessas formas de pluralidade, que é o
Litisconsórcio e a legitimidade das partes.
Convém para esse efeito distinguir entre os casos de Litisconsórcio voluntário e os
casos de sinal oposto (Litisconsórcio necessário).
Litisconsórcio voluntário – o regime regra, válido para a generalidade das relações
Jurídicas com pluralidade de sujeitos é o Litisconsórcio voluntário.
Os sujeitos da relação plural não têm que intervir em conjunto na acção, embora possam
fazê-lo se quiserem, só que, intervindo isoladamente, o juiz apenas pode e deve
conhecer da quota-parte que o sujeira tenha no direito ou no dever litigado. Tratando-se
por exemplo, de uma obrigação conjunta com pluralidade de credores, estes podem, se
quiserem, demandar em conjunto o credor (comum) para dele exigirem judicialmente o
cumprimento da dívida. Mas nada obsta a que qualquer deles instaure isoladamente a
cobrança da dívida, não podendo nessa altura o tribunal conhecer, senão da quota-parte
que o demandante tenha no crédito comum, mesmo que o autor tenha requerido a
cobrança e toda a dívida.
Se a lei (ou a estipulação das partes) permitir, como sucede em alguns casos de
contitularidade de direitos reais, que o direito (comum) seja exercido contra terceiros
por um dos seus contitulares, ou que a prestação devida seja exigida de um só dos
obrigado, continuará a haver Litisconsórcio voluntário se dois ou mais deles
propusessem a acção contra terceiros ou se dois ou mais devedores forem
simultaneamente demandados.
Se porém, só um deles instaurar a acção, o tribunal poderá nesse caso, conhecer de todo
o objecto do direito ou da obrigação.
É o que ocorre por exemplo, no caso da obrigação com vários devedores, sujeitas ao
regime da solidariedade. Se o credor no uso da Faculdade que este define lhe confere,
exigir do único devedor demandado a totalidade da prestação, o tribunal nem pode
considerar parte ilegítima o réu do qual a dívida foi cobrada, nem sequer pode limitar-se
a conhecer da quota-parte da responsabilidade dele na dívida comum.
Litisconsórcio necessário: diversamente se passam as coisas nos casos de
Litisconsórcio necessário, em que, a falta de qualquer dos interessados determina a
ilegitimidade dos intervenientes da acção.
Há Litisconsórcio necessário sempre que a Lei ou o negócio jurídico exijam a
intervenção de todos os interessados, seja para o exercício de direito, seja para a
reclamação do dever correlativo.
Entre os casos de Litisconsórcio necessário prescritos na Lei, destacam-se os seguintes:
 As acções de que possa resultar a perda ou a oneração que só por ambos os
cônjuges possam ser alienados ou a perda de direitos que sonoro ambos
possam ser exercidos e as acções emergentes de facto praticados por ambos
os cônjuges ou apenas por um deles, mas em que pretenda obter-se decisão
capaz de ser executada sobre bens comuns ou sobre bens próprios do outro
cônjuge (artigos 18.° e 19.° do Código de Processo Civil e artigo único da
Lei n.° 35/81, de 27-8) ;
 Acção de preferência baseada em Direito de preferência pertencente a
vários contitulares, nos termos do artigo 419.° do Código civil;
 Acção de venda e adjudicação de penhor, no caso de a garantia ter sido
constituída por terceiro (artigo 1008 do Código de Processo Civil.)
Como exemplo típico de Litisconsórcio necessário proveniente de negócio jurídico,
pode citar-se o da acção destinada a exigir a restituição da coisa depositada por duas ou
mais pessoa, tendo-se estipulado que a coisa só poderia ser levantada por todos os
depositantes em conjunto (e não apenas por algum ou alguns deles).
Além dos casos em que seja directamente imposto por lei ou por negócio jurídico, o
Litisconsórcio torna-se ainda necessário sempre que, pela natureza da relação
material controvertida, a intervenção de todos os interessados seja essencial para que a
decisão a obter produza efeito útil normal.
São os casos, que, numa formulação bastante mais imperfeita, o artigo 62 do Código
de Processo alemão pretende atingir, quando se refere às relações Jurídicas
controvertidas que têm de ser decididas unitariamente em face de todos os interessados.
Há realmente situações em que, pela natureza da relação substantiva sobre a qual recai a
acção, a falta de algum ou alguns impede praticamente a decisão que nela se proferisse
de produzir qualquer efeito útil. É esse o caso típico da acção de divisão de coisa
comum (artigo 1052.° do Código de Processo Civil).
Suponhamos que o imóvel cuja divisão é requerida na acção pertencente a quatro
comproprietários e que o autor demanda apenas um dos seus contitulares. A decisão
que, em semelhantes circunstâncias, fixasse a parte concreta de cada um dos dois
restantes comproprietários poderia requerer mais tarde nova divisão e esta não teria que
respeitar a divisão anteriormente efectuada.
Noutros casos de contitularidade, a falta de um ou de alguns dos interessados já não
obstaria que a decisão proferida na acção produzisse algum efeito útil, consubstanciado
em certo efeito normal. O efeito normal da decisão, quando transitada em julgado,
consiste na ordenação definitiva da situação concreta debatida entre as partes.
Suponhamos assim que o dono de certo prédio, que se arroga a titularidade de uma
servidão de passagem, sobre o prédio vizinho, pertencente a três comproprietários,
sendo a servidão estorvada ou contestada, propor acção confessória de servidão apenas
contra um dos seus vizinhos.
Nesse caso, a decisão que desse ganho da causa ao autor já produziria algum efeito útil,
não medida em que os demandados já não poderiam negar validamente a existência do
direito que ao vendedor fora reconhecido; mas não produziria o seu efeito normal,
porquanto o comproprietário que não foi demandado e a quem a decisão proferida não
vinculava, poderia continuar a negar a existência da servidão.
Nestes dois núcleos de situações, em que a presença de todos os contitulares é essencial
ao efeito útil normal da decisão a proferir na acção, falta de qualquer deles provoca a
ilegitimidade dos restantes (para intervirem na proposição ou contestação da causa).
Ficam deliberadamente para aquém da linha divisória traçada na lei entre o
Litisconsórcio voluntário e o Litisconsórcio necessário os casos em que a falta ou
alguns dos interessados na relação material não impede a decisão de regular
definitivamente a situação concreta entre litigantes, embora possa dar lugar a decisões
ilógicas, contraditórias nos seis fundamentos relativamente a situações nascidas da
mesma relação.
Suponhamos, para exemplificar, que o sucessível mais próximo do de cuius, falecido
com testamento, propõe em juízo uma acção anulatória deste negócio jurídico, baseada
na incapacidade acidental do testador, mas demandando apenas alguns dos
contemplados na disposições testamentárias (legatórios ou herdeiros instituídos).

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