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O fracasso do Estado Novo após 1945

OU
Explicar o 25 de Abril de 1974

O
1 CONTEÚDOS DO PROGRAMA DE 12. ANO

 Módulo 7, Unidade 2 “O agudizar da tensões políticas e sociais a partir dos anos 30”, ponto 2.5.
“Portugal: o Estado Novo” [Manual, Parte 1, pp. 152-181] [recuperação]
 Módulo 8, Unidade 2 “Portugal: do autoritarismo à democracia”, ponto 2.1. “Imobilismo político
e crescimento económico do pós-guerra a 1974” [Manual, Parte 2, pp. 84-114]

2 COMPETÊNCIAS A DESENVOLVER

 Interpretar fontes.
 Caracterizar aspetos relevantes da História de Portugal.
 Aplicar conceitos.
 Elaborar e comunicar, com correção linguística, sínteses.
 Utilizar terminologia específica.

3 PROPOSTA DE METODOLOGIA

 Distribuição dos diapositivos 1 a 9 pelos alunos, organizados em pares ou em minigrupo.


 Trabalho autónomo dos pares ou dos minigrupos, escrito, para explicitação das afirmações e
imagens contidas nos diapositivos [consulta do Manual]. Cada par/minigrupo debruçar-se-á
apenas sobre um dos diapositivos, podendo os diapositivos 1 e 9 caber ao mesmo par/grupo de
alunos.

Um novo Tempo da História, Célia Pinto do Couto e Maria Antónia Rosas


 Apresentação oral à turma, por cada par/minigrupo, do comentário ao diapositivo analisado,
com base no trabalho escrito.
 Troca dos trabalhos escritos entre os pares/minigrupos de alunos.
 Registo dos fatores que conduziram ao fracasso do Estado Novo e, consequentemente, à
Revolução de 25 de Abril de 1974, a saber:
– o carácter ditatorial do Estado Novo e a sua permanência depois do derrube dos fascismos;
– a contestação interna e a repressão das manifestações oposicionistas;
– o atraso económico e social, patente no crescimento da emigração;
– o impacto da Guerra Colonial e o isolamento internacional;
– a incapacidade da “Primavera Marcelista” de promover a abertura política e resolver a questão
colonial.

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4 PROPOSTA DE EXPLICITAÇÃO DOS DIAPOSITIVOS

DIAPOSITIVOS EXPLICITAÇÃO DOS DIAPOSITIVOS

A imagem apresenta a celebração da vitória dos Aliados sobre a


DIAPOSITIVO 1 Alemanha nazi, que capitulou no dia 8 de maio de 1945. A
Segunda Guerra Mundial, em que Portugal manteve posição de
neutralidade, aproximava-se do fim e eram muitos os que
simpatizavam com a causa da liberdade e da democracia
representada pelos Aliados. Confiava-se que a vitória sobre os
fascismos das potências do Eixo proporcionaria as condições para
a queda da ditadura do Estado Novo. Assim se explica o
entusiasmo dos milhares de manifestantes portugueses que se
juntaram à porta da embaixada britânica em Lisboa.
A simbolizar o Estado Novo encontra-se, no canto superior
esquerdo, um postal da propaganda nacionalista com as figuras
carismáticas de Óscar Carmona, Presidente da República entre
1926 e 1951, e de Salazar, Presidente do Conselho entre 1932 e
1968.
No canto superior direito, aparece a imagem do cravo vermelho,
que se tornou um ícone da Revolução de 25 de Abril.

O Estado Novo, personificado na figura de Salazar, foi o período


DIAPOSITIVO 2 da vida política portuguesa situado entre 1933 (ano da
publicação da Constituição que o institucionalizou, a chamada
Constituição de 1933) e 1974 (quando a Revolução de 25 de Abril
o derrubou). Até 1945 decorreu a fase áurea do Estado Novo,
num tempo em que as soluções ditatoriais fascistas submergiram
a Europa.
A ditadura do Estado Novo inspirou-se, especialmente, no
fascismo italiano, nela sobressaindo o forte autoritarismo do
Estado e o condicionamento das liberdades individuais aos
interesses da Nação. O Estado Novo manifestou-se
profundamente conservador, antiliberal, antidemocrático e
antiparlamentar, defendendo um Estado forte, em que o poder
executivo se sobrepunha ao legislativo. Ao Parlamento,
conhecido pelo nome de Assembleia Nacional, onde apenas
estavam representados os deputados da União Nacional, a única
força política autorizada, competia unicamente a discussão das
propostas de lei que o Governo lhe enviava para aprovação. No
seio do poder executivo, era Salazar quem sobressaía,
encarnando o papel do chefe providencial, o chamado “Salvador
da Pátria” alvo do culto ao Chefe, cujo lema “Tudo pela Nação,
nada contra a Nação” se assemelhava ao “Tudo pelo Estado,
nada contra o Estado” de Mussolini.
Tal como o fascismo italiano, também a ditadura do Estado Novo
construiu um aparelho repressivo, baseado na censura e na
polícia política, que impedia a disseminação dos valores
contrários aos ideais do Estado Novo e castigava os seus
opositores.

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A derrota dos fascismos (representados pelas potências do Eixo)
na Segunda Guerra Mundial trouxe, em 1945, a esperança no fim
da ditadura do Estado Novo. Para sobreviver, Salazar ensaiou
uma tentativa de abertura política do regime ao anunciar a
dissolução da Assembleia Nacional e a convocação de eleições
antecipadas, “tão livres como na livre Inglaterra”. Uma onda de
esperança instalou-se no país, com o nascimento do MUD
(Movimento de Unidade Democrática) que congregou as forças
até aí clandestinas da oposição. Nasceu, então, a oposição
democrática. As reivindicações do MUD não seriam satisfeitas,
como a de reformular os cadernos eleitorais que apenas
abrangiam 15% da população, pelo que, à boca das urnas, o
movimento desistiu de participar nas eleições legislativas que
considerou uma farsa. Muitos dos aderentes ao MUD sofreram,
posteriormente, a prisão e o despedimento do seu trabalho.
A ditadura e a repressão permaneciam, Salazar continuava o
chefe indiscutível e perpetuava-se no poder, situação que a capa
da revista norte-americana Time denunciava em 1946. A
representação de uma maçã, bonita por fora mas podre por
dentro, personificava Salazar e o Estado Novo, cujas mudanças
anunciadas não passavam de operações enganadoras de
cosmética. Portugal vivia, pois, sob o signo do imobilismo
político.

O general Humberto Delgado protagonizou um verdadeiro


DIAPOSITIVO 3 “terramoto” político em 1958, convertendo-se na maior ameaça
à sobrevivência do Estado Novo. Candidatou-se às eleições para a
Presidência da República, garantindo que, se fosse eleito,
demitiria Salazar. Com uma personalidade extrovertida e
destemida, o general Delgado reuniu as forças da oposição em
torno da sua candidatura e desencadeou um entusiasmo e uma
mobilização popular sem precedentes. A multidão acorria a ouvi-
-lo e a vitoriá-lo, enfrentando as violentas cargas policiais que
procuravam impedir o contacto com o “General Sem Medo”.
No ato eleitoral, H. Delgado recolheu apenas 25% dos votos,
contra todas as expectativas. As fraudes sucederam-se e ganhou,
com cerca de 75% dos votos, o candidato do regime, o contra-
-almirante Américo Tomás, que o ditador Salazar escolhera. Em
carta ao vencedor, Humberto Delgado não deixou de lamentar a
“farsa eleitoral” ocorrida. Alvo de crescentes perseguições, o
general procurou o exílio no Brasil, sendo assassinado, em 1965,
pela PIDE que o atraiu a uma cilada.
Ainda no rescaldo das eleições, o bispo do Porto, D. António
Ferreira Gomes, atreveu-se a escrever uma dura carta a Salazar,
em que denunciou a miséria do povo português e a falta de
liberdades cívicas demonstradas na campanha eleitoral, pagando
a sua ousadia, também, com o exílio.
Se vitorioso do “episódio Delgado”, o Estado Novo tremeu
efetivamente em 1958. A prova esteve na alteração feita à
Constituição de 1933: acabou o sufrágio universal direto para a
escolha do Presidente da República, que passou a ser eleito por

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um colégio eleitoral restrito, saído da Assembleia Nacional.
Minado na sua credibilidade, o Estado Novo enfrentaria, nos anos
posteriores, crescentes críticas, até de setores católicos, bem
como tentativas de golpe e ações de protesto, de que a mais
carismática foi a do apresamento do navio português “Santa
Maria”, em 1961.

O gráfico apresentado documenta o extraordinário fluxo da


DIAPOSITIVO 4 emigração portuguesa no pós-Segunda Guerra Mundial, que
atingiu o auge no final da década de 60 e refletiu o atraso
económico e social do país. A estagnação do mundo rural e o
precário desenvolvimento industrial – apesar dos esforços feitos
na década de 50 –, não permitiam emprego nem qualidade de
vida a uma população que crescia intensamente. O emigrante-
-tipo era um homem jovem, proveniente maioritariamente do
Norte e ilhas, regiões onde a pressão demográfica mais se fazia
sentir. O contingente emigratório português teve como grande
destino o mundo industrializado e capitalista, que vivia os “Trinta
Gloriosos” e pagava bons salários: países europeus que
recuperavam da guerra e precisavam avidamente de mão-de-
-obra, como a França e a Alemanha; em menor escala, países da
América do Norte e do Sul. Só na França fixou-se cerca de um
milhão de portugueses.
Outros motivos que potenciaram o fluxo emigratório
relacionaram-se com a repressão política e a ameaça do
recrutamento para a Guerra Colonial. De salientar que a
emigração portuguesa se fez em parte clandestinamente devido
à hostilidade das autoridades. Empenhado em manter e valorizar
os territórios do ultramar, onde o domínio português se via
contestado no pós-Segunda Guerra pela comunidade
internacional, o Estado Novo dificultou a saída para o
estrangeiro, pois desejava que, prioritariamente, os portugueses
se fixassem em África. O gráfico é, aliás, revelador do simultâneo
crescimento da emigração portuguesa para África após 1945. À
necessidade de mão-de-obra para desenvolver os territórios
africanos, juntou-se, após 1961, a necessidade de homens para a
Guerra Colonial. Deste contexto resultou ter sido “a salto” que
muita da nossa emigração se fez para a Europa nos inícios da
década de 60.
Tornaram-se, desde cedo, conhecidas as dificuldades por que
passaram muitos dos emigrantes portugueses, que viviam em
condições degradantes nos “bidonvilles”, autênticos bairros de
lata nos subúrbios de Paris, preocupados em poupar os salários e
em enviar as poupanças para Portugal. O Estado procurou, então,
salvaguardar os interesses dos emigrantes, celebrando acordos
com os países de acolhimento, que lhes permitiram regalias
sociais e a livre transferência das remunerações amealhadas. No
início da década de 70, as remessas dos emigrantes
representavam mais de 6% do PIB, contribuindo para o equilíbrio
financeiro do país. Tal facto explica a tolerância com que o Estado
português passou a olhar a emigração.

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Apesar dos ventos da descolonização que sopraram no pós-
DIAPOSITIVO 5 -Segunda Guerra Mundial, sob a influência da Carta das Nações
Unidas e da Declaração dos Direitos do Homem, Portugal
recusou-se a dar a independência aos seus territórios
ultramarinos. Alegava que não tinha colónias mas províncias
ultramarinas, um prolongamento além-mar do território
europeu, uma mudança de estatuto jurídico que ocorrera em
1951 quando o Ato Colonial foi revogado. Portugal continental e
ultramarino assumia-se, desde então, como um único país e
nação multirracial. Esta tese integracionista das autoridades
portuguesas tinha a cobertura da corrente do lusotropicalismo
do brasileiro Gilberto Freire, que afirmava a singularidade da
colonização portuguesa baseada na miscigenação, na ausência de
racismo e na promoção da evangelização e da assimilação, como
nenhum outro povo fizera.
Em dezembro de 1960, a ONU publicou a “Resolução 1514”, que
defendia o direito à autodeterminação dos povos das colónias e
condenava as ações das metrópoles que o negavam. Alguns
setores do regime ousaram propor que Portugal constituísse um
vasto Estado federal com as províncias ultramarinas (tese
federalista), o que foi contrariado por Salazar e pelo setor mais
conservador. Foi neste contexto que os movimentos de
libertação iniciaram a luta armada em África, a chamada guerra
colonial, apelidada de guerra do Ultramar pelas autoridades
portuguesas:
 em 1961, a UPA abriu as hostilidades em Angola, para
onde Salazar enviou contingentes militares “rapidamente
e em força”;
 à UPA (depois transformada em FNLA) juntou-se o MPLA
e a UNITA no ataque à presença portuguesa em Angola;
 em 1963, o PAIGC iniciou a guerra na Guiné;
 em 1964, foi a vez da FRELIMO desencadear a guerra em
Moçambique.
Saliente-se que, em 1961, Portugal perdeu os territórios que
mantinha na Índia (Goa, Damão e Diu), ocupados pela União
Indiana.
Durante os treze anos de guerra nas três frentes africanas,
Portugal mobilizou 7% da sua população ativa e gastou na Defesa
40% do Orçamento Geral do Estado. Pereceram mais de 8 mil
homens e mais de 100 mil ficaram feridos ou incapacitados.

A recusa de Portugal em aceitar a independência dos territórios


DIAPOSITIVO 6 ultramarinos e o posterior início da guerra colonial valeram ao
país a condenação internacional. A ONU, repetidas vezes e por
influência dos países do Terceiro Mundo, condenou o
colonialismo português, como aconteceu em 1965 com a
“Resolução 2017”, e Portugal acabou mesmo excluído de alguns
dos seus organismos, como o Conselho Económico e Social e a
UNESCO. Também os EUA, especialmente durante a
administração do presidente Kennedy, pressionaram o Governo
português a conceder a independência aos territórios africanos,

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oferecendo, inclusive, planos de descolonização e prometendo
ajuda económica a Portugal. Todas estas propostas foram
rechaçadas por Salazar, para quem a “Pátria não se discute” e
“não está à venda”. E ao isolamento a que Portugal era votado
pela comunidade internacional respondia com a certeza de
estarmos “orgulhosamente sós”.
Salazar não deixava de lembrar que os territórios africanos eram
solo português e, como tal, não admitia ingerências na política
interna do país. Vincava, ainda, que não negociava com os
movimentos de libertação que não passavam de terroristas a
soldo do comunismo e de Moscovo. Este último argumento
haveria de provocar alguma complacência das autoridades
americanas, em virtude do contexto da Guerra Fria vivido.
A intransigência do regime, quer com Salazar quer mais tarde
com Marcello Caetano, em negociar com os movimentos de
libertação africanos e o endurecimento da guerra, sem solução
militar à vista, contribuíram para o crescimento do isolamento
português ao abrir a década de 70. A receção do Papa Paulo VI
aos dirigentes daqueles movimentos, em julho de 1970,
expressou bem a hostilidade de que o país era alvo e deixou as
autoridades portuguesas indignadas com a atitude do Vaticano.

Incapacitado por doença, Salazar foi substituído na chefia do


DIAPOSITIVO 7 Governo, em setembro de 1968, por Marcello Caetano, um
conceituado professor de Direito, que já ocupara funções no
Estado Novo e até entrara em discordância com o ditador. O
professor Marcello Caetano apresentava-se como um homem
mais aberto e mais próximo das populações do que o seu
antecessor, como o atestam as idas à televisão para “conversar”
com os portugueses. Embora respeitasse o legado salazarista e
não se atrevesse a romper com as suas linhas condutoras, o novo
Presidente do Conselho propôs-se a uma renovação política que
criou grandes expectativas. M. Caetano chamou-lhe “evolução na
continuidade” e, no país, falava-se em “Primavera marcelista”.
Entre os sinais da renovação política, citam-se:
 a autorização do regresso de célebres exilados, como o
bispo do Porto e o político oposicionista Mário Soares;
 a legalização de movimentos políticos da Oposição (CEUD e
CDE); o abrandamento da atuação da polícia política
(rebatizada de DGS) e da censura (tornada Exame Prévio);
 a abertura das listas da União Nacional (rebatizada de Ação
Nacional Popular – ANP) a elementos mais novos e com
ideias reformistas; a marcação de eleições legislativas para
1969, com o alargamento do sufrágio a todas as mulheres
escolarizadas e a possibilidade de as forças da Oposição se
candidatarem num clima de maior liberdade.
O alcance reformista da “Primavera marcelista” atingiu outras
áreas, com o alargamento da escolaridade obrigatória para 6
anos e da segurança social para os funcionários públicos e
trabalhadores rurais.

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As medidas tomadas pelo governo de Marcello Caetano não
DIAPOSITIVO 8 surtiram o efeito desejado, que era o da sobrevivência do Estado
Novo:
 na Assembleia Nacional, os deputados da ala liberal da ANP
não conseguiam fazer passar as suas propostas perante uma
maioria conservadora e demitiram-se;
 as eleições de 1969 e 1973 continuaram a traduzir-se em
vitórias a 100% por parte da ANP, decorrendo a campanha
eleitoral da Oposição, naquele último ano, em condições
adversas e intimidatórias;
 a contestação estudantil subiu de tom na crise académica
de 1969, com as críticas à guerra colonial, à censura e à
ditadura;
 os atropelos aos direitos individuais sucediam-se, com a
polícia política a violar domicílios, a espancar e prender
pessoas e a censura a recrudescer;
 a política ultramarina do Governo era profundamente
hostilizada pela comunidade internacional, apesar de
Marcello Caetano falar em “autonomia progressiva” dos
territórios africanos. Depois de o Papa Paulo VI ter recebido
os dirigentes dos movimentos de libertação, como atrás foi
referido, a Guiné-Bissau proclamou unilateralmente a
independência, em 1973, e foi reconhecida pela
Assembleia--Geral da ONU.

Não tendo convencido a Oposição, que considerava as reformas


políticas uma mera operação de cosmética, a “Primavera
marcelista” fracassou, principalmente a partir do momento em
que o Governo se ligou aos setores mais à direita e o contra-
-almirante Américo Tomás, representante dos
ultraconservadores, foi reeleito para a Presidência da República.
Saliente-se que Marcello Caetano jamais havia colhido a
aprovação dos setores ultraconservadores do regime que viam
nas reformas sinais de fraqueza.
E foi num contexto de hostilidade interna e de isolamento
internacional que, em fevereiro de 1974, o general António de
Spínola, um alto dirigente militar que fora governador da Guiné,
deu à estampa o livro Portugal e o Futuro, em que defendia uma
solução política para a guerra do Ultramar, exatamente aquilo a
que as autoridades oficiais sempre se negaram. Mais tarde,
Marcello Caetano haveria de confessar que, ao ler o livro,
compreendeu a incapacidade do regime para sobreviver e a
consequente inevitabilidade de um golpe militar.

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Dois meses depois, com efeito, eclodiu a “Revolução de 25 de
DIAPOSITIVO 9 Abril”, desencadeada na madrugada deste dia pelo Movimento
das Forças Armadas. Depois de escutarem na rádio as canções-
-senha “E depois do adeus”, de Paulo de Carvalho, e “Grândola,
Vila Morena”, de José Afonso, os militares saíram dos quartéis e,
cumprindo o meticuloso plano gizado pelo major Otelo Saraiva
de Carvalho, ocuparam as ruas e os centros do poder e de
comunicações em Lisboa. No Terreiro do Paço, o capitão
Salgueiro Maia haveria de distinguir-se pelo sangue-frio com que
conseguiu neutralizar as únicas forças militares que se
dispuseram a defender o Governo.
Desde as primeiras horas da manhã, a população acolheu com
entusiasmo os jovens militares, distribuindo-lhes cravos
vermelhos que eles se apressaram a colocar nas armas, fazendo
ver que, na História de Portugal, a repressão e a violência davam
lugar a um tempo que se queria de paz, de liberdade e de
esperança no futuro.
Ao fim da tarde do dia 25 de abril, Marcello Caetano, que se
havia refugiado no Quartel do Carmo, rendeu-se ao general
António de Spínola, membro da Junta de Salvação Nacional, em
quem o MFA depositou o poder. Estavam criadas as condições
para dar cumprimento aos “3 Dês” que nortearam a revolução:
Democratizar, Descolonizar, Desenvolver.

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