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GUIA DE EXPLORAÇÃO 9 Potsdamer Platz, Berlim, de Kirchner, 1914

Identificação Potsdamer Platz, Berlim, pintado em 1914.


Localização A obra encontra-se na Nationalgalerie, em Berlim.
Contexto histórico e Ernst Ludwig Kirchner (1880-1938) foi a principal figura da primeira
cultural vanguarda expressionista, liderando o grupo Die Brü cke, fundado em Dresden
em 1905. Herdeira da filosofia de Nietzsche, da fenomenologia de Husserl e
do antimaterialismo de Bergson, a poética expressionista estava fortemente
comprometida com a situação psicológica do Homem contemporâneo,
apresentando uma pintura intensa, por vezes dramática, decorrente do
mundo das emoções e das sensações interiores.
Mais do que representar o mundo exterior, as suas telas deviam traduzir a
expressão sensível dos seus mais profundos sentimentos através de cores
vigorosas, de formas violentas e pinceladas bruscas, caracterizando uma
pintura cheia de vitalidade e energia; impelidos a exteriorizar os seus estados
de ansiedade, frustração ou rancor face ao mundo moderno, os
expressionistas alemães converteram a obra num veículo do seu universo
subjetivo, numa evocação do drama humano ou numa interpretação da
relação do Homem com a sociedade. Tratava-se de rejeitar qualquer norma
que impedisse uma fluida e espontânea manifestação da inspiração imediata,
como registaria Kirchner no documento que assinou em 1913, Crónica da
União Artística Die Brü cke: «A pintura é a arte que representa num plano um
fenómeno sensível.»
Materiais e técnicas
Óleo sobre tela, com 2,00 m x 1,50 m.
A fase mais impetuosa do trabalho de Kirchner é a de Berlim, para onde se
Análise formal muda em 1911, não devendo ser totalmente alheia a influência de Munch ali
estabelecido naqueles anos. De facto, as tão características «cenas de rua» que
marcam a sua obra neste tempo estão carregadas de uma idêntica e impulsiva
exacerbação existencial, por vezes alucinada e tenebrosa, explorando ao
limite a força expressiva da cor, a deformação das linhas e a acentuação dos
contrastes cromáticos. Porém, ao contrário do pintor norueguês, aqui as
temáticas inscrevem-se num registo de crítica social, num sentido irónico,
grotesco ou dramático da condição humana.
As figuras distorcidas, os rostos como máscaras, as pinceladas agitadas e as
cores cáusticas acentuam a intensidade dramática da «cena de rua», segundo
Análise temática
o olhar penetrante, impiedoso e cruel de Kirchner. O cosmopolitismo latente
nas linhas modernas da arquitetura, a perspetiva deliberadamente
desajeitada e a violência da luz contrastam com a solidez do retrato humano
de figuras anónimas suspensas no tempo, sem passado nem presente.
Por outro lado, o mundanismo patenteado na pujante elegância das duas
prostitutas que surgem em primeiro plano não deixa de exprimir uma certa
atmosfera emocional destilada da vida moderna que, em última análise, a
obra Potsdamer Platz, Berlim representa.
Leitura de significados A obra Potsdamer Platz, Berlim é paradigmática de um percurso de autêntica
análise do «espaço psicológico» da cidade que caracterizou este período do
trabalho de Kirchner. Numa linguagem plástica tão seca quanto vibrante, a
tela é habitada por figuras desesperadamente silenciosas e solitárias,
entregues a um destino que parece escapar-lhes, quais seres automáticos e
insensíveis vagueando o seu vazio pelas ruas.
Poeta da cidade, Kirchner sublimou uma figuração inovadora e plasticamente
original que haveria mais tarde (1937), e muito significativamente, de ser
considerada «degenerada» pelos nazis, vindo a suicidar-se um ano depois.
Insolitamente, nesta imagem da cidade não deixamos de compreender, em
pano de fundo, uma imagem do próprio artista.
Potsdamer Platz, Berlim, Kirchner,
Nationalgalerie, Berlim, 1914.
Através de uma pincelada curta e fremente, quase
nervosa, Kirchner reflete nos seus quadros a emoção, o
tormento e a inquietação que povoou a sua vida.
Influenciado pelas vibrantes cores «fauvistas», pela
geometrização das formas de origem cubista e pela
carga emotiva patente na obra de Van Gogh e de
Munch, o trabalho de Kirchner pretende «exprimir
direta e sinceramente o seu impulso criador», tal como
enunciara no manifesto Crónica da União Artística Die
Brü cke (1913).
A partir de 1911, o grupo da Die Brü cke muda-se de
Dresden para Berlim, onde vai experimentar as
vicissitudes de uma metrópole moderna.
A partir de então, figuras grotescas e bizarras, formas
distorcidas acentuadas por cores violentas e temáticas
inspiradas no submundo urbano, constituem
metáforas da perturbação, ansiedade e solidão que
caracterizava essa vida pretensamente moderna.

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