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A literatura existencialista
Uma sensação de destruição e vazio, que reflete a crise do antropocentrismo
ocidental, atravessou a literatura dos anos 40 e 50. Em pouco mais de vinte anos, o
mundo vivera o absurdo de duas guerras, as experiências totalitárias e as crueldades
do Holocausto e sobre ele pairava o terror da bomba atómica. Como acreditar no
homem?
Sob o impulso da filosofia existencialista, colocava-se, agora, a tónica o
sentido da existência humana4. É o Homem um ser responsável? Pode escolher
livremente e sem constrangimentos o seu caminho? Onde está a realidade da
liberdade humana? A resposta a estas questões conduziu filósofos como Karl Jaspers
(1883-1969), Martin Heidegger (1889-1976) ou Jean-Paul Sartre (1905-1980) a
inverterem o racionalismo cartesiano. Afirmaram que, antes de pensar, o indivíduo
existe e que é em torno da sua existência como homem de carne e osso que surgem
o desejo de saber, a vontade de comunicar e a procura da verdade.
Para Sartre, figura de proa do existencialismo, o Homem é obra de si próprio,
produto das suas ações, um ser absolutamente livre que constrói o seu projeto
pessoal não como resposta a uma essência, a um ideal ou em nome de uma moral
universal, mas simplesmente como reação aos seus problemas concretos: "A
existência precede a essência" - assim sintetizou Sartre o existencialismo.
Sartre considerava que, num mundo hostil e sem Deus, onde o progresso dera
lugar ao fracasso e a segurança a precariedade, o Homem estava inexoravelmente
condenado à liberdade de encontrar por si próprio um sentido para a vida. Dessa sua
busca permanente nascia a angústia existencial (a náusea, que forneceu o título a
um romance de Sartre), que mais não é do que uma manifestação da liberdade da
condição humana.
Nos anos 40 e 50, o existencialismo tornou-se particularmente atraente. A
contingência da existência, o nada, a culpa, a morte, o absurdo preencheram páginas
de obras literárias (ensaios, romances, peças de teatro) de Sartre, Simone de
Beauvoir (1908-1986) e Albert Camus (1913-1960) (Doc. 133).
A Psicologia e a Psiquiatria sofreram, também, a influência do pensamento
existencialista, tal como o cinema com as suas figuras dos homens revoltados e anti-
heróis, o jazz com as suas improvisações, as artes plásticas com a projeção criadora
do expressionismo abstrato. Até do ponto de vista social, o impacto do
existencialismo revelou-se marcante. Afetou os hábitos de vida dos jovens no pós-
guerra, incentivando a crítica aos valores tradicionais e a busca da liberdade pessoal.
Gerou, em suma, uma atmosfera reconhecível na moda e nos estilos de vida.
A energia nuclear
A produção de energia nuclear remonta às investigações de grandes nomes da
Física, como Max Planck, Einstein, Niels Bohr, E. Fermi. Sabemos como foi trágica a
sua primeira aplicação, com as bombas atómicas lançadas sobre o Japão, em agosto
de 1945.
Na década de 50, a energia nuclear conheceu fins pacíficos, permitindo
produzir eletricidade, acionar submarinos e navios, revolucionar os sistemas de
diagnóstico na Medicina sem o perigo de absorção de raios X no corpo humano,
como é o caso da tomografia axial computadorizada (TAC).
A música
O protagonismo dos jovens nas sociedades ocidentais do pós-guerra10 e as
maravilhas da eletrónica contribuíram para a popularidade da música Iigeira a partir
dos anos 50. Em particular o rock and roll, com o seu gestual erótico e o seu ritmo
enérgico e vibrante, em tudo afastado da linha melódica e adocicada da canção dos
anos 40, parecia ser a música que melhor exprimia a rebeldia e o anticonformismo
de uma nova juventude, apostada em se demarcar das gerações paternas.
O rock and roll, que combinava os ritmos afro-americanos com a música
country branca, conheceu o seu primeiro grande êxito nos EUA, em 1955, com Rock
Around the Clock, cantado por Bill Haley. Um ano depois, também nos EUA, emergiu
a primeira superestrela do rock and roll: Elvis Presley. O “rei do rock”: como ficou
conhecido, cantava com notável vigor físico e, fazendo rodar as ancas, produzia um
resultado sexualmente eletrizante.
Até 1962, as estrelas americanas brilharam no panorama do rock and roll.
Naquele ano, a situação mudou com o aparecimento dos Beatles, um grupo britânico
de Liverpool que, durante 8 anos, construiu uma das mais fulgurantes carreiras de
que há memória na música ligeira. Influenciados pelos ritmos americanos que ouviam
os marinheiros da sua cidade natal entoar, os Beatles produziram uma música
original, com arranjos diversificados, sons eletrônicos e letras de apreciável
criatividade. No fim do verão de 1963, as suas músicas ocupavam os lugares cimeiros
dos tops britânicos e, no ano seguinte, a juventude americana rendia-se
completamente a beatlemania. No decorrer da tournée efetuada nos EUA, o
quarteto britânico era cercado por multidões de fãs aos gritos, fosse durante os
espetáculos (quase inaudíveis), nos hotéis ou nos aeroportos.
Os Rolling Stones, outro êxito da música britânica, criaram uma imagem de
“perigosos degenerados", que se coadunava com o espírito irreverente do rock.
Ainda no decurso da década de 60, cantores como Bob Dylan, Joan Baez e Donovan,
promoveram, nos EUA, a aproximação do rock a música folk. A canção converteu-se
em instrumento de crítica social e política, denunciando a pobreza, o racismo, a
destruição da Natureza, as armas nucleares e a guerra do Vietname. O rock
continuava a assumir-se como um dos pilares da contestação juvenil.
3.2.3 A hegemonia dos hábitos socioculturais norte-americanos
No pós-Segunda Guerra Mundial, os EUA fascinavam pela prosperidade
económica e pela sociedade da abundância, pelos avanços tecnológicos, pelo
dinamismo artístico e cultural.
Os filmes de Hollywood e os programas de TV difundiam os valores e os
estereótipos do” american way of life”. O rock and roll e as suas estrelas americanas
mereciam do resto do mundo o mesmo entusiasmo que as vedetas de cinema.
Para os pequeno-burgueses, que conheceram as dificuldades dos anos da
guerra, possuir uma casa individual, com uma cozinha apetrechada com
eletrodomésticos, uma sala de estar com TV e ter um carro na garagem eram sonhos
que faziam viver. As donas de casa rendiam-se aos cafés solúveis, às sopas
instantâneas e às comidas previamente cozinhadas que lhes aliviavam a
“escravatura” do lar. Apesar de criticada pelos conservadores, a Coca-Cola tornou-se
a bebida favorita. O "fast-food" expandiu-se pelo mundo.
Até Sartre, como nos conta a sua companheira Simone de Beauvoir,
experimentou uma alegria enorme quando, terminada a Segunda Guerra, lhe foi
oferecida oportunidade de visitar os EUA.