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A Revolução Industrial (século XVIII) permitiu um rápido crescimento das economias nos
dois séculos que se lhe seguiram, até ao período imediatamente após a Segunda Guerra
Mundial (1945).
Durante esse período, não se falava em desenvolvimento, confundindo -se este conceito
com o de crescimento económico, avaliado este em termos do crescimento da produção
de bens e de serviços de um determinado país ou região. Esta situação decorre do facto
de, nesta época, se considerar que o crescimento era uma condição necessária e
suficiente para o desenvolvimento, pois iria automaticamente permitir melhorar o bem -
estar da população. Neste sentido, não se tomavam medidas com o objetivo de melhorar
a qualidade de vida das populações.
Esta sobreposição dos dois conceitos teve como consequência o facto de, no âmbito da
avaliação quantitativa do nível de desenvolvimento dos países, se utilizarem de forma
sistemática os indicadores de crescimento económico, em particular o nível de
rendimento per capita.
Depois da Segunda Guerra Mundial e com o acesso à independência dos países que até aí
haviam sido colonizados, fora m postas em relevo as grandes desigualdades de
desenvolvimento entre os países que se haviam industrializado, Estados Unidos e países
da Europa, e as ex-colónias, o que levou a que a segunda metade do século XX fosse
marcada pelas questões do desenvolvimento.
Em termos de senso comum, quando algo cresce, ou decresce, significa que se verificou um aumento
ou uma diminuição dessa variável. Por exemplo, uma empresa pode crescer, porque contratou mais
empregados ou porque construiu novas instalações. Do mesmo modo, também o crescimento
económico quantifica, através de um dado valor, o que aumentou ou diminuiu. Geralmente utiliza-se
o PIB e a taxa de variação do PIB para quantificar esse crescimento.
O crescimento diz, assim, respeito a um aspeto quantitativo da atividade económica, por exemplo, o
aumento (ou a diminuição) de resultados ou das quantidades produzidas.
Muitas vezes, o termo crescimento é utilizado para avaliar o desempenho de uma economia no curto
prazo. Contudo, no contexto da teoria económica, o conceito de crescimento refere-se geralmente a
um aumento (ou a diminuição) da produção durante um período prolongado de tempo.
Assim, quando falamos em desenvolvimento de uma comunidade ou de um país, isto significa que
conduz a melhores padrões de vida e a maiores e melhores oportunidades para todos os seus
cidadãos.
Embora o crescimento e o desenvolvimento estejam relacionados, pode ocorrer crescimento sem que
se verifique qualquer desenvolvimento. Quer isto dizer que pode existir crescimento económico,
verificando-se um aumento quantitativo do Produto, mas não existir desenvolvimento, pois esse
crescimento não deu origem a mudanças qualitativas no modo de vida das pessoas e das instituições.
É, no entanto, de realçar que para haver desenvolvimento tem de se verificar algum crescimento, pois
é necessário que a economia disponha de mais bens e serviços ou de mais emprego para poder
distribuir, de forma a melhorar o nível de vida de toda a população.
Dada a complexidade do conceito de desenvolvimento, este não pode ser reduzido
apenas à sua dimensão económica, pois os indicadores de crescimento, como o PIB ou
o aumento do Rendimento per capita, apenas permitem caraterizar o processo d e
desenvolvimento na sua perspetiva quantitativa. Ora, o conceito de desenvolvimento é
mais abrangente, pois engloba as transformações de ordem mental e so cial de uma
população que possibilitam o aumento cumulativo e duradouro do seu bem -estar.
Convém realçar que, por si só, um indicador não é suficiente para conhecer a realidade, pois esse
indicador apenas nos dá a conhecer uma pequena parte do todo social. Por exemplo, a utilização
do indicador taxa de natalidade apenas nos dá a conhecer aspetos da demografia de um dado
país.
Tipos de indicadores
Os indicadores utilizados na medição do desenvolvimento podem ser simples ou compostos.
Os indicadores simples cobrem aspetos parciais da realidade, ou seja, dizem respeito a cada uma
das dimensões da realidade: económica, demográfica, social ou política.
Estas dimensões são interdependentes, o que torna difícil afirmar que um indicador diz
exclusivamente respeito a uma dessas dimensões.
Os indicadores compostos são indicadores mais completos e que ultrapassam algumas das
limitações apresentadas pelos indicadores simples, sendo compostos por um conjunto de
indicadores simples
•indicadores económicos, que englobam, por exemplo, o PIB per capita, as taxas de
desemprego, de crescimento do PIB, de inflação, de poupança ou a repartição dos Rendimentos
(remunerações do trabalho e do capital em percentagem do PIB).
Os indicadores compostos (ou sintéticos) combinam vários indicadores simples num índice. A
escolha dos indicadores a utilizar depende da sua representatividade face à situação que se
pretende ilustrar, como no caso do desenvolvimento humano ou da desigualdade de género.
•Rendimento Nacional Bruto per capita em dólares PPC (paridade de poder de compra).
Os valores deste índice variam entre 0 e 1 e quanto mais próximo o seu valor está da unidade
melhor é a situação do país. O Índice de Desenvolvimento Humano Ajustado à Desigualdade
(IDHAD) é uma medida de desigualdade que não contempla apenas as desigualdades com
base no rendimento, pois este índice permite avaliar a perda do valor do IDH devido à
desigualdade em todas as suas dimensões – esperança de vida, anos de escolaridade e
rendimento.
O Índice de Pobreza Multidimensional (IPM) regista as múltiplas privações a que as pessoas estão
sujeitas, pois estas privações podem ir muito além do rendimento. Assim, este indicador mede as
privações em três dimensões do IDH: saúde, educação e padrão de vida. Por outro lado, o IPM,
além de medir a percentagem de indivíduos que vivem privações, também mede a intensidade da
privação para cada agregado familiar pobre. T7
Entre 2005 e 2012, muitos países registaram um decréscimo do IPM e da pobreza de rendimentos,
mas a ritmos muito variáveis. F3
O Índice de Desenvolvimento Humano por Género (IDHG) utiliza os mesmos indicadores que o
IDH, medindo as suas disparidades relativamente ao género. Assim, os valores de IDH são
estimados separadamente para mulheres e para homens, calculando-se em seguida o seu rácio
(varia entre 0 e 1), que é o IDHG. As disparidades entre mulheres e homens são menores quanto
mais próximo da unidade estiver esse rácio.
•saúde reprodutiva, medida pela taxa de mortalidade materna e pela taxa de fertilidade
adolescente;
•capacitação, medida pela percentagem de assentos parlamentares detidos por cada sexo e
pela percentagem de homens e de mulheres que concluíram o ensino secundário e superior;
Um valor baixo do IDG indica uma reduzida desigualdade entre mulheres e homens, e vice-versa,
ou seja, quanto mais próximo de zero, melhor será a situação do país.
Os indicadores quantitativos são, em alguns casos, relativamente fáceis de medir, como no caso do
PIB, das taxas de natalidade ou da escolarização da população. Contudo, quando se passa para
análises de ordem qualitativa, as dificuldades começam a surgir. Por exemplo, como se avalia a
realização dos direitos humanos?
Também a leitura/interpretação dos resultados obtidos coloca alguns pro-blemas. Por exemplo,
quais as informações que o PIB nos dá efetivamente sobre a realidade de um país? E o que é esta
medida incapaz de traduzir?
O PIB é um indicador que nos dá a conhecer o valor dos bens e serviços que a economia produz
num dado período de tempo e que potencialmente podem contribuir para o bem-estar das
populações. Contudo, nem sempre aquilo que tem maior valor económico é aquilo que mais
contribui para satisfazer as necessidades ou garantir um maior nível de bem-estar. Ou seja, o PIB
não traduz efetivamente todos os aspetos sobre a qualidade de vida da sociedade, apenas o que
tem efeitos sobre as quantidades, os preços ou os valores da produção. Por exemplo, o Produto
não contabiliza a importância social dos bens produzidos (armas ou bens alimentares?).
O PIB, sendo também uma medida agregada, pode esconder maiores ou menores desigualdades
de rendimento e de acesso a bens e serviços básicos por parte de uma fração da população.
Considerando o PIB per capita, indicador que é muito utilizado para comparar os níveis de
desenvolvimento entre países, quando utilizado isoladamente, a informação que fornece sobre a
qualidade de vida de uma população também é insuficiente. Por exemplo, alguns países podem
apresentar um PIB per capita semelhante, contudo, podem apresentar valores muito diferentes
para indicadores socioculturais (taxa de alfabetização ou de frequência do ensino primário) ou
demográficos (a esperança média de vida à nascença ou taxa de mortalidade infantil), o que
significa que as condições de vida nesses países são diferentes.
Para tentar ultrapassar estas dificuldades, resultantes da utilização de indicadores simples,
nomeadamente do PIB, e para medir as realidades multidimensionais e complexas associadas ao
problema do desenvolvimento, construíram-se índices como o IDH, que procuram efetuar uma
análise detalhada, utilizando vários indicadores, aplicados a vários conjuntos de países, e que
permitem ainda estabelecer comparações entre os países.
Contudo, utilizar na análise do desenvolvimento o indicador IDH, que tenta sintetizar dimensões
complexas, multidimensionais e qualitativas, continua a ser um pouco redutor, pois este indicador,
apesar de ultrapassar algumas limitações dos indicadores simples, não tem capacidade para
explicar toda a complexidade do desenvolvimento humano.
Por outro lado, o IDH, sendo um valor médio, esconde desigualdades existentes quer entre grupos
sociais quer entre géneros.
Para fazer face a estas insuficiências do IDH, foram introduzidos novos índices, como:
Um aspeto positivo destes índices resulta do facto de todos eles integrarem tanto indicadores
económicos, por exemplo, o PIB per capita e as taxas de atividade por sexo, como indicadores
socioculturais (média de anos de escolaridade e percentagem de homens e de mulheres que
concluiu o ensino secundário e superior), demográficos (esperança de vida à nascença, taxas de
mortalidade materna e de fertilidade adolescente) e políticos (percentagem de assentos
parlamentares detidos por cada sexo).