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I
INTRODUÇÃO AO CRESCIMENTO/DESENVOLVIMENTO ECONÓMICO
A taxa de crescimento económico durante os séculos XIX e XX foi mais alta do que em
qualquer outro da Historia da humanidade. Talvez, por isso, Robert Barro e Xavier Sala-
i-Martin tenham afirmado que o crescimento económico é a parte da macroeconomia
que realmente interessa. A partir do século XIX o crescimento económico começou a
gerar mudanças para melhor no padrão de vida das pessoas, conseguindo estas duplicar
o seu rendimento per capita numa só geração.
Em países que não conseguiram a melhoria das condições de vida das suas populações,
isto é, onde o crescimento económico não aconteceu nasce cada vez com maior
pertinência a pergunta - Por quê?
Streeten (1977) defendeu duas maneiras de abordar o desenvolvimento pela via das
necessidades básicas. A primeira, encara as necessidades básicas como o culminar de
um processo de desenvolvimento; Uma outra forma de abordar o conceito de
necessidades básicas consiste na especificidade de cada um dos seus elementos
constitutivos tendo em vista o encontro de complementariedade e suplementariedade
nas estratégias desde já, existentes.
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Torcotte (1977) identifica o crescimento como uma via para o progresso e o
desenvolvimento.
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conjunto extensivo de indicadores como a esperança de vida à nascença, as taxas de
mortalidade de menores de cinco anos que reflectem a capacidade de sobreviver ou
as taxas de alfabetização que reflectem a capacidade de aprender.
Para esse fim, os relatórios do desenvolvimento humano publicam desde o início o IDH,
mais tarde completado índices que contemplam especificamente:
1. O Género
O índice de desenvolvimento humano ajustado ao género; e
A medida de participação segundo o género.
2. A pobreza
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O índice de pobreza humana para países da OCDE seleccionados (IPH2)
O IPH2 mede privações nas mesmas dimensões que o IPH1 e capta também a exclusão
social reflectindo por isso privações em quatro dimensões.
Esta segunda parte surge na sequência dos assuntos previamente apresentados no ponto
anterior, em que se introduziu o tema com a pergunta «Por que estudar o
desenvolvimento económico?»
O principal objectivo dessa segunda parte é apresentar e avaliar a evolução dos modelos
de crescimento económico de Smith a Solow. Ao mesmo tempo que se pretende facultar
aos alunos um entendimento mais pormenorizado da importância do processo de
acumulação na explicação do crescimento e do papel atribuído ao progresso tecnológico
na implementação de políticas de promoção de crescimento e desenvolvimento.
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O modelo de crescimento económico de Adam Smith
Para Smith, tanto a agricultura como a indústria desempenhavam um papel importante
no processo de crescimento económico. A divisão social do trabalho traduz-se em
ambos os sectores de actividade económica em benefícios que se materializam em
aumentos da produção. Estes benefícios foram muito mais evidentes na indústria do que
na agricultura.
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O factor trabalho pode crescer dependendo das taxas de natalidade e
mortalidade; e
O nível de produto é, assim, determinado pela quantidade de trabalho combinada
com um recurso fixo de terra arável.
O que vem a ser a inovação? A ideia essencial é a da introdução de uma nova maneira
de utilizar os recursos produtivos na economia. A actividade económica vem, assim, a
ser essencialmente dividida em dois grandes compartimentos:
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O de criação de novas estruturas, ou melhor dito, a transição no seio do
capitalismo, de um sistema para um outro – problema fundamental do
crescimento/desenvolvimento económico.
A pessoa que inova é o empresário, embora esta terminologia possa ser enganadora uma
vez que determinado indivíduo pode combinar várias funções económicas distintas. O
que é essencial é que, além de funções produtivas normais que implica possuir e prover
dos meios de produção, haja a função de combinar os meios de produção de novas
maneiras.
O modelo de Harrod-Domar
Tal como Keynes, Harrod-Domar partiram do pressuposto de que há um número
ilimitado de desempregados disponíveis e assim a produção poder ser aumentada sem o
recurso ao aumento dos custos, e por conseguinte dos preços.
Nota que este pressuposto, de que a variação do stock de capital é igual ao investimento
implica que o stock de capital existente não sofre depreciação. Isto é, implicitamente
assumem que o capital existente não se deteriora ou torna obsoleto e assim investimento
sempre aumenta o stock total de capital.
O modelo apesar de ser fácil de entender, não foi muito útil, quer para melhorar a
compreensão da forma como as economias cresciam, quer para a definição de políticas
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promotoras de desenvolvimento económico. O modelo não põe limites ao crescimento
da economia pondo como condição única a existência continuada de um dado nível de
investimento.
À primeira vista o modelo de Solow não é mais que uma boa tentativa de fazer variar o
rácio capital-produto evitando a relação linear entre poupança e crescimento,
concluindo que a taxa de poupança e o investimento não têm qualquer efeito a longo
prazo na taxa de crescimento económico.
A estrutura básica do modelo de Solow é muito simples. Para diferenciar seu modelo do
de Harrod e Domar e o seu fixo rácio capital produto, Solow definiu uma função de
produção que permite a contínua substituição de factores um pelo outro. Para Solow
cada factor de produção está sujeito a rendimentos decrescentes. O objectivo de Solow
consiste em demonstrar que o modelo de Harrod e Domar está errado ao concluir
que uma taxa constante de poupança e investimento se traduziria em crescimento
contínuo. Solow mostrou que com rendimentos decrescentes um investimento contínuo
pode não gerar um crescimento permanente porque os rendimentos decrescentes podem
aproximar os ganhos no produto, por via do investimento, de zero.
Contudo, o modelo de Solow entra em conflito com uma realidade enfrentada pela
maioria de países em desenvolvimento porque é extremamente difícil nesses países
gerar a poupança e por conseguinte o investimento, devido sobretudo à existência de
baixos níveis de rendimento per capita que são, quase na totalidade, canalizados ao
consumo. Mas, se o investimento não é determinante para um crescimento a longo
prazo então o que será? De acordo com o modelo de Solow o crescimento a longo
prazo vem de outra fonte – o progresso tecnológico. Se uma economia conseguir
aumentar a produção através de um montante fixo de inputs é que pode evitar os
rendimentos decrescentes e assim conhecer crescimento sustentável e contínuo.
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Solow seguiu o modelo de Harrod-Domar no que diz respeito ao pressuposto de que a
totalidade do produto poupado seria investida. No entanto, nem sempre a poupança é
transformada em investimento produtivo da forma mais eficiente.
Sérgio Rebelo é o autor do modelo que tem como pressuposto que todos os factores são
reproduzíveis. O modelo AK é uma reminiscência do modelo de Harrod-Domar que
também descreve a economia pela equação Y=AK. No entanto, há uma diferença entre
o modelo AK e o de Harrod-Domar é que o modelo AK de Rebelo, à semelhança do
modelo de Solow admite a existência de uma depreciação do capital. O modelo de
Harrod-Domar ignora esta depreciação. A questão da depreciação é importante porque
torna o crescimento económico um pouco mais difícil do que acontece com o caso do
modelo de Harrod-Domar. O investimento tem que ser suficiente para repor o capital
que se depreciou, caso contrário não há crescimento económico.
Não será demais repetir que o modelo AK assume que todos os factores produtivos
podem ser aumentados através do investimento. Por isso, o crescimento económico não
fica sujeito à lei dos rendimentos decrescentes.
O Progresso tecnológico
O modelo neoclássico de Solow mostra que o crescimento económico a longo prazo só
é possível se houver progresso tecnológico que ultrapasse os rendimentos decrescentes
do factor capital e dos outros factores de produção.
Em síntese:
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POUPANÇA E MERCADOS FINANCEIROS
Na revista The Economics apareceu, em Fevereiro de 1999, como título de um dos
artigos, o seguinte: «Para a sustentabilidade das taxas de crescimento económico o
mundo precisa de poupar mais». Muitos dos modelos de crescimento económico
apontam para a mesma conclusão.
David Rodrick (1998), depois de ter analisado a vasta base de dados do Banco Mundial
sobre a evolução da poupança, conclui que «aumentos da poupança são mais um
resultado do crescimento económico do que uma causa».
A educação pode ser encarada como outro factor de produção tal como no
modelo de Solow, que trata um «investimento» com capital humano da mesma forma
que um investimento em capital físico e, por isso, sujeito a rendimentos decrescentes;
A educação pode ser vista também como um factor de produção único que gera
externalidades que permitem que a economia ultrapasse os rendimentos decrescentes e
consiga um contínuo bem-estar;
A educação pode ter um efeito directo no progresso tecnológico como um input
crítico para actividades inovadores, e talvez como um factor utilizado pelos empresários
para criar novas ideias e produtos tal como no modelo schumpeteriano de I/D
CONTROVÉRSIAS E DESAFIOS
Por vezes faz-se apelo de políticas que privam e alterem o processo de
crescimento/desenvolvimento. Pretende-se ir para além da retórica e de abordagens
emocionais na análise dos entraves ao crescimento/desenvolvimento seguindo um dos
seguintes argumentos:
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Crescimento/desenvolvimento traz benefícios mas causa também privações e os
que delas padecem devem ser protegidos;
Crescimento/desenvolvimento não pode continuar para sempre porque há
recursos limitados no mundo e a sua delapidação causa um declínio catastrófico do
bem-estar futuro.
Sem falhas não há crescimento e sem crescimento não há melhorias no nível de vida da
população e, por conseguinte desenvolvimento.
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